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155 DRENAGEM DE ESTRADAS 1 - Generalidades Os trabalhos complementares necessários para consolidação das obras de terraplenagem envolvem uma série de serviços dos quais os principais são: Drenagem Acabamento e consolidação dos taludes de corte e aterro Implantação da vegetação. Gramação . Vegetação de efeito paisagístico Consolidação dos acostamentos Sinalização A drenagem de uma rodovia a ser pavimentada é de fundamental importância, pois dela vai depender em grande parte o êxito da pavimentação no que se refere ao seu comportamento em serviço. A sua finalidade principal é a de coletar e remover tecnicamente as águas superficiais e subterrâneas, evitando deste modo que as mesmas exerçam o seu efeito nocivo, comprometendo o pavimento. A água que atinge as estradas pode ser devido a: - chuvas direta sobre a plataforma; - fluxo de águas superficiais de terrenos adjacentes; - inundações de cursos de água; - infiltração subterrânea; No projeto de um sistema de drenagem, quer superficial, quer subterrânea, é necessário que se conheçam os valores máximos das descargas superficial e subterrânea. Quando a água proveniente das precipitações pluviométricas cai sobre a superfície da terra, ocorre o seguinte: uma parte se evapora; uma parte corre sobre a superfície e uma parte se infiltra. A quantidade de água que corre sobre a superfície é drenada por um sistema de drenos a que se dá o nome de drenagem superficial e a parte que se infiltra para formar o lençol de água subterrâneo é drenada por um sistema de drenos a que se dá o nome de drenagem subterrânea. 2 – Estudos Hidrológicos O projeto de drenagem é feito com base nos estudos hidrológicos, que fornecerão a vazão a ser atendida pelos dispositivos a serem utilizados. 156 Para o dimensionamento das valetas torna-se necessário o conhecimento do volume de água a ser escoada por ocasião da maior precipitação pluviométrica considerando um período de recorrência de 10 anos (ou 25 anos se possível). 2.1 - Determinação da vazão pelo Método Racional Modificado Este método é em geral empregado para bacias de áreas inferiores a 1.000 há, e se baseia na fórmula: O valor da intensidade de precipitação I é obtido através do emprego das curvas de intensidade x duração do tipo mostrado na figura abaixo, que representa a freqüência representativa da região em que se desenvolve o projeto, ou, também, através de fórmulas empíricas que registram o regime de chuvas de cada local. Entrando nas curvas com os valores do período de retorno, em anos, e com o tempo de concentração, em minutos, obtem-se a correspondente intensidade de precipitação. 3,5 3,0 2,5 T = 50 anos 2,0 T = 10 anos 1,5 T = 5 anos 1,0 0,5 10 20 30 60 120 Duração em minutos (tc) A fórmula empírica do Engo Paulo Sampaio Wilken, permite estimar a intensidade de precipitação (I), considerada válida para o Estado de São Paulo: Q = 360 CIA Q = vazão em m 3 /s C = coeficiente de escoamento superficial I = intensidade da precipitação em mm/h A = área da bacia em ha =coeficiente de dispersão (adimensional) Intensidade (mm/min) 157 Tipos de Superfície C Ruas Asfalto Concreto tijolos 0,70-0,95 0,80-0,95 0,70-0,75 Trajeto de acesso e calçadas Telhados 0,75-0,85 0,75-0,95 Gramados em solo arenoso Plano, i < 2% Médio, 2%< i <7% Ingreme, i > 7% 0,05-0,10 0,10-0,15 0,15-0,20 Gramados em solos coesivos Plano, i < 2% Médio, 2%< i < 7% Ingreme, i > 7% 0,13-0,17 0,18-0,22 0,25-0,35 I = 89,0 181,0 )15( 9,1747 c r t T mm/h O tempo de concentração (tc) depende do tamanho, da forma e do tipo da superfície drenada, da declividade , e de outros fatores. Pode ser definido como o tempo que leva a água para ir do ponto mais afastado da bacia até o local onde se situa o dispositivo em estudo, ou seja, o tempo para que toda a bacia passe a contribuir para a seção de vazão. O tempo de concentração deve ser maior que 5 minutos. Este valor pode ser estimado através de fórmulas elaboradas por diferentes autores e disponíveis em diversas fontes bibliográficas ou através de ábacos. KIRPICH desenvolveu a seguinte fórmula empírica para o seu cálculo : tC = 57 . [(L 3/H)1/2]0,77 (min) O coeficiente de escoamento superficial C, ou coeficiente de deflúvio, também conhecido como coeficiente de RUN-OFF, é definido em função do tipo de uso e da ocupação do solo, conforme tabelas encontradas na literatura técnica, as quais contem resumos da experiência de Orgãos que estudam o assunto. O C varia entre 0,10 (matas) até 0,90 (áreas densamente construídas e pavimentadas). O coeficiente de dispersão poderá ser adotado igual a = 1 para áreas inferiores a 20 ha e = A-0,1 para áreas maiores ou iguais a 20 há. Quando a área da bacia for superior a 1.000 ha são em geral utilizados métodos um pouco mais complexos, tais como o do Hidrograma unitário sintético, de Snyder. No caso de obras existentes, deve sempre ser investigado o seu desempenho ao longo do tempo. Para isso são valiosas as informações dos moradores da região e dos feitores da conserva do trecho. As tabelas a seguir apresentam alguns valores de “C Tipos de superfície C Revestimento asfalto Por mistura Por penetração 0,8 – 0,9 0,6 – 0,8 Revestimento primário 0,4 – 0,6 Terra sem revestimento 0,2 – 0,9 Áreas gramadas com declive 2:1 0,5 – 0,7 Prados 0,1 – 0,4 Áreas com matas 0,1 – 0,3 Campos cultivados 0,2 – 0,4 Áreas urbanas -zona residencial, plana, 30% de área impermeável. -Idem, com 60% área impermeável -Idem, moderadamente íngreme, com 50% de área impermeável -Área construída moderadamente íngreme, com 70% área impermeável 0,40 0,55 0,65 ,80 * Water Pollution Control Federation 2.2 – Dimensionamento dos dispositivos. * U.S Bureau of Public Roads Nota: Usar os valores mais baixos para solos mais permeáveis e taludes mais suaves. L – o maior comprimento da bacia (km) H – máxima diferença de cotas na bacia (m 158 O dimensionamento dos dispositivos de drenagem é feito em geral com o emprego da fórmula de Manning, utilizada juntamente com a expressão da continuidade. e V = velocidade de escoamento em m/s RH = P S = raio hidráulico da seção molhada S = área da seção molhada, em m2 P = perímetro hidráulico da seção molhada, em m I = declividade longitudinal do dispositivo de drenagem, em m/m. n = coeficiente de rugosidade adequado à natureza das superfícies da valeta q = capacidade de vazão em m3/s A capacidade de vazão q do dispositivo de drenagem é comparada com a vazão Q de projeto definida pelos estudos hidrológicos. Em geral a declividade longitudinal “i” do dispositivo de drenagem é condicionada pelas condições locais, em cada caso. Assim, o que se costuma fazer é calcular diferentes q, para várias dimensões, para a seção do dispositivo de drenagem e compara-los com o Q necessário. Coeficiente de rugosidade a adotar na fórmula de Manning. Tipo de Superfície n Madeira bem aplainada................................................................. 0,009 Concreto acabado.........................................................................0,012 Tubo de cerâmica vitrificada e de concreto, alvenaria de tijolo média, madeira não aplainada........................................................ 0,015 Concreto lançado em forma rugosa, alvenaria de qualidade inferior (tijolo), boa alvenaria de pedra tosca............................................. 0,017 Terra nua, pedra tosca................................................................... 0,021 Leivas e ervas................................................................................. 0,025 É preciso verificar se a velocidade de escoamento obtida é compatível com o tipo de revestimento adotado, onde, os riscos de erosão e sedimentação serão verificados mediante sua comparação com as indicadas na tabela. V = n IRH 3/2 q = V . S 159 Velocidade abaixo da qual se dá a sedimentação dos elementos sólidos em suspensão na água: Argila 0,08 m/s Areia fina 0,16 m/s Areia grossa 0,21 m/s Cascalho fino 0,32 m/s Cascalho grosso 0,65 m/s Se houver possibilidade de erosão ou de infiltração de água, será previsto o revestimento mais conveniente e econômico da valeta, ou sua construção será em degraus, por meio de barragens adequadas. Para atenuar os efeitos da sedimentação será estudada a possibilidade de modificar a declividade longitudinal da valeta. Importante ainda entrar com a comparação de custos entre as diversas soluções possíveis, para adotar a mais econômica. 3 - Drenagem superficial Consiste na remoção das águas que correm pela superfície e pode ser conseguida pelo abaulamento da superfície da pista e dos acostamentos. 3.1 - Valetas ou Sarjetas São canais executados nas bordas do pavimento ou do acostamento da estrada. São formadas pela superfície do pavimento ou acostamento e por uma banqueta, ou constituída por uma depressão rasa. - Valetas laterais para drenagem superficial; - Valetas laterais para drenagem subterrânea; - Valetas de proteção ; - Valetas de condução de água ou degraus; - Valas longitudinais; 3.1.1 - Valetas para drenagem superficial Necessárias principalmente nos cortes, em terrenos relativamente planos e, às vezes, em aterro. São construídas lateralmente aos acostamentos e no sentido longitudinal, para encaminhar as águas aos cursos d’água. 160 Valeta ou Sarjeta em banqueta Valeta ou Sarjeta em depressão rasa As sarjetas são geralmente empregadas na drenagem de estradas em zonas urbanas e para prevenir a erosão de aterros altos. Nas regiões em que o enleivamento não tem condições de evitar a erosão nos taludes de aterros altos, deve-se construir uma banqueta na borda externa do acostamento para formar uma sarjeta que confine e conduza a água. A água coletada nessa sarjeta será descarregada pelo aterro através de estruturas denominadas rápidos. Para solos argilosos, normalmente, o enleivamento do talude é suficiente para aterros de até 8 metros de altura. Em casos de aterros de solos arenosos, aterros de 161 menor altura já podem necessitar de uma drenagem com banquetas para evitar a erosão. A banqueta pode ser feita com torrões de terra gramada, material betuminoso, concreto de cimento portland ou cordões de pedra. As entradas d’água ou aberturas nas banquetas, não devem ficar muito distantes, sendo conveniente, tomar-se, sempre, uma distancia menor do que a indicada no cálculo. A distancia máxima recomendada é de 200 metros. Para banquetas em terra e rápidos enleivados essa distancia não deve ser superior a 50 metros. - As valetas em “V” com cobertura vegetal abaixo, podem ser construídas e conservadas pelas motoniveladoras. - Valetas muito profundas não são aconselhadas, devido à possibilidade de acidentes, para os que buscam os acostamentos. Posicionamento de saídas d’ água 162 3.1.2 - Valetas para drenagem subterrânea Por se tratarem de valetas mais ou menos profundas, são pouco recomendadas. 3.1.3 - Valetas de proteção de corte São construídas no terreno natural, 2 a 3,0 m a montante da crista do corte ou pé do aterro e com seção transversal dimensionada para receber e escoar as águas pluviais dos terrenos a montante. A seção transversal pode ser trapezoidal ou retangular e deve-se sempre verificar a erosão e sedimentação; havendo a possibilidade disso ocorrer, procede-se ao revestimento adequado, que pode ser plantação de vegetais rasteiros, empedramento, alvenaria de pedra argamassada e concreto. 3.1.4 - Valetas de condução de água ou degraus Localizadas no talude dos cortes ou saias de aterro, devem ser revestidas com calhas, alvenaria, concreto pobre ou gramíneas. 3.1.5 - Valas longitudinais 163 São empregadas nos casos de terrenos planos ou regiões baixas, paralelas ao eixo da rodovia a uma certa distancia da plataforma. 3.2 – Estruturas de Drenagem Superficial 3.2.1 – Rápidos Os rápidos são canais abertos ou fechados, fortemente inclinados, usados nos taludes de corte ou aterro. As bacias de amortecimento podem ser lisas ou com guarnições (dentes e cunhas). Essas dissipadoras de energia são feitas, normalmente, em concreto ou com pedra jogada. Os rápidos abertos podem ser revestidos em concreto de cimento portland, material betuminoso, solo-cimento e lajotas de pedra argamassada ou grama, dependendo do volume e velocidade da água a ser removida. Nos taludes de corte deve-se usar, preferencialmente, rápidos em cascata (em degraus) que permitem a água chegar a valeta do pé de corte com baixa velocidade. Nos taludes longos deve-se usar os rápidos fechados (tubos) para evitar que a água à alta velocidade salte do canal, cause erosão e destrua o rápido. 3.2.3 – Bacias de Amortecimento São pequenas plataformas executadas nos pontos de descarga d’ água com alta velocidade para dissipar a energia e prevenir a erosão. As bacias de amortecimento podem ser lisas ou com guarnições (dentes e cunhas). Essas dissipadoras de energia são feitas, normalmente, em concreto ou com pedra jogada. 3.2.4 – Bacias Centrais São áreas de depressão rasa localizadas no meio do canteiro central, usadas para drenar esta parte da estrada. Devem ter um declive longitudinal para escoamento das águas e a intervalos regulares, caixas coletoras para interceptar e descarregar a água para fora da estrada. A bacia central deve ser projetada para drenar arte ou toda a área pavimentada além do canteiro central nos casos em que não existirem banquetas ou cordões na borda da pista de rolamento. 3.2.5 – Valetas de derivação São canais executados a jusante dos bueiros para afastarem a água dos mesmos. A seção transversal deve ser de forma trapezoidal quando executada em terra, sendo recomendável para a inclinação das paredes do canal os seguintes valores. Material Inclinação Rocha Aprox. vertical Solos turfosos e lodosos 0,25 : 1 Argilas duras ou terra revestida com concreto 0,5 : 1 a 1 : 1 164 Terra revestida com pedras 1 : 1 Solos arenosos fofos 2 : 1 Loam siltoso ou argilas porosas 3 : 1 3.2.6 –Bacias de captação São áreas de depressão rasas construídas à montante dos bueiros com a finalidade de facilitar a entrada d’ água nos mesmos. Devem ser executadas com seus taludes bem suaves e em forma de leque. O material proveniente da escavação deve ser transportado para um local afastado de modo a impedir seu retorno para a bacia. 3.2.7 – Drenos transversais de base São estruturas constituídas de valas transversais abertas sob a base de um pavimento enchidas com um material drenante para escoara água acumulada na base. Sempre que ocorrerem curvas verticais côncavas no greide de uma estrada, se a base é constituída de um material permeável, alguns problemas poderão surgir com a água que se infiltra e tende a acumular numa área limitada pela direção do fluxo e vértice da curva, principalmente, durante a execução dos serviços de base. A execução de um dreno sob a base e em toda a largura da plataforma eliminará essa água. O dreno deve ter caimento para um e outro lado da pista a não ser nos casos de curva com superelevação quando terá caimento para o lado mais baixo. O material de enchimento dos drenos deverá satisfazer os requisitos de permeabilidade não entupimento para Ter-se uma drenagem efetiva. O uso de um tubo perfurado de 15 cm proporcionará, em todos os casos, um escoamento adequado. 4 - Drenagem transversal Quando um curso d’água atravessa uma estrada, é necessário construir uma obra para permitir sua travessia, por baixo da superfície: - bueiros Dispositivos - galerias - pontes - pontilhões 165 4.1 - Bueiros de greide São geralmente espaçados de 100 a 150 m e construídos à meia encosta, destinando-se a permitir que a água atravesse a rodovia de um lado para outro. São geralmente circulares, de manilha de concreto, com diâmetro variando de 0,40 a 0,60 m, devendo ser localizado de preferência em terreno firme, normalmente ao eixo ou no máximo com esconsidade até 30o . A sua declividade varia de 0,5 a 5% no sentido longitudinal (do comprimento do bueiro) . Devem ser sempre assentados a uma profundidade tal que sua parte superior fique no mínimo 0,60 m abaixo do greide, e o aterro em volta do bueiro deve ser compactado a soquete e maço. Quando isto não for possível, deve-se recorrer a outros recursos, tais como colocação em cima do bueiro de uma camada de concreto.
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