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Magistratura e Ministério Público CARREIRAS JURÍDICAS Damásio Educacional MATERIAL DE APOIO Disciplina: ECA Professor: Paulo Fuller Aula: 01 | Data: 02/02/2015 ANOTAÇÃO DE AULA SUMÁRIO Fases de Evolução do tratamento jurídico da criança e do adolescente 1. Sistema da absoluta indiferença 2. Sistema da imputação criminal 3. Sistema Tutelar 4. Sistema da Proteção Integral Princípios Fundamentais 1. Proteção Integral 2. Prioridade Absoluta Sujeitos do ECA 1. Crianças 2. Adolescente Ato Infracional 1. Criança 2. Adolescente Fases de Evolução do tratamento jurídico da criança e do adolescente 1. Sistema da absoluta indiferença Se caracteriza pela absoluta ausência de normas jurídicas específicas para crianças e adolescentes. O direito se preocupava em regular o mundo dos adultos, que na condição de representantes legais tutelariam de forma reflexa ou indireta os interesses de crianças e adolescentes. 2. Sistema da imputação criminal Do professor Paulo Afonso Garrido de Paula. As legislações começam a reconhecer a responsabilidade de crianças e adolescentes pela prática de infrações penais: eram aplicadas as mesmas penas cominadas para os adultos, apenas com a atenuação. Exemplo: ordenações Filipinas e Afonsinas; código criminal do império (1830); código penal da República (1890). 3. Sistema Tutelar A premissa é a doutrina da situação irregular. Na etapa tutelar, a atuação do juiz é pautada por uma ampla discricionariedade, atuando como “um pai de família”, a ponto de se permitir qualquer medida para promover a integração sócio-familiar (permitia-se a internação para “desvio de conduta”, ainda que não configurada uma infração penal). Exemplo: código Mello Mattos (1827); código de menores (1979 – direito menorista). Página 2 de 4 4. Sistema da Proteção Integral Criança e adolescente são sujeitos de direito. Com o advento da proteção integral, crianças e adolescentes passam a ser sujeitos de direitos, titulares de interesses subordinantes em face do Estado, da família e da sociedade. Exemplo: CF (artigo 227, “caput”); ECA (lei 8.069/90, artigos 1º e 100, parágrafo único, I a III). Proteção integral: tutela feita sem qualquer exclusão, abrange toda criança e adolescente (diferente da situação anterior que deveria estar em situação irregular), abrange também todos aspectos do ser humano, por inteiro e de forma plena (artigo 3º do ECA). A expressão código não é mais utilizada, mas sim estatuto porque remete à direito. Princípios Fundamentais 1. Proteção Integral CF (artigo 227, “caput”); ECA (lei 8.069/90, artigos 1º e 100, parágrafo único, I a III). 2. Prioridade Absoluta Artigo 227, “caput”, CF; artigo 4º, “caput” e parágrafo único, artigo 100, parágrafo único, II e IV, ECA. Os direitos de criança e adolescente devem ser concretizados/aplicados de imediato, sob pena de frustração irreversível. O Poder Público não pode alegar política do possível, é obrigação do Estado, é um dever primário. Por conta da prioridade absoluta, o Poder Judiciário pode impor ao Poder Público a realização dos direitos de crianças e adolescentes, não se podendo opor a denominada cláusula da reserva do possível (deixar de fazer por falta de orçamento) – Agravo em REXT 410.715. STJ - RECURSO ESPECIAL REsp 813408 RS 2006/0018488-3 (STJ) Data de publicação: 15/06/2009 Ementa: ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. ENSINO SUPERIOR. PÓS-GRADUAÇÃO. RESIDÊNCIA MÉDICA. OFERECIMENTO DE ALOJAMENTO E ALIMENTAÇÃO PELO PODER PÚBLICO DURANTE O PERÍODO DA RESIDÊNCIA (AUXÍLIOS IN NATURA). LEI N. 6.932 /81. DIREITO À TUTELA JURISDICIONAL QUE ENVOLVE A ADEQUAÇÃO DOS PROVIMENTOS JUDICIAIS. TUTELA ESPECÍFICA. IMPOSSIBILIDADE. ART. 461 , § 1º , DO CPC . CONVERSÃO EM MEDIDA QUE GARANTA RESULTADO PRÁTICO EQUIVALENTE. AUXÍLIO EM PECÚNIA. 1. Trata- se de recurso especial em que se discute se a Secretaria de Saúde do Estado do Rio Grande do Sul tem o dever legal de oferecer alojamento e alimentação aos residentes de Medicina e, em não o fazendo, se é cabível a conversão da obrigação em pecúnia. 2. É a seguinte a redação do art. 4º , § 4º , da Lei n. 6.932 /81: "As instituições de saúde responsáveis por programas de residência médica oferecerão aos residentes alimentação e moradia no decorrer Página 3 de 4 do período de residência". 3. Há limites para a discricionariedade administrativa, especialmente quando o dispositivo legal é peremptório a respeito da obrigatoriedade no fornecimento de alojamento e alimentação. 4. Se o Poder Público insiste em desconsiderar a norma, fazendo dessa previsão letra morta, caberá controle e intervenção do Judiciário, uma vez que, nestes casos, deixa-se o critério da razoabilidade para adentrar-se a seara da arbitrariedade, fato que, em último grau, caracteriza a omissão como ilegal. 5. A partir do momento em que opta pela inércia não autorizada legalmente, a Administração Pública se sujeita ao controle do Judiciário da mesma forma que estão sujeitas todas as demais omissões ilegais do Poder Público, tais como aquelas que dizem respeito à consecução de políticas públicas (v., p. ex., STF, AgR no RE 410.715/SP , Rel. Min. Celso de Mello, Segunda Turma, DJU 3.2.2006). 6. É óbvio que o Judiciário não tem o condão de determinar que a Secretaria de Estado competente forneça pontualmente moradia e alimentação (i.e., de forçar que este órgão crie). Interpretação do ECA (Artigo 6º do ECA; artigo 127, §3º, V, CF): Respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. Sujeitos do ECA Artigo 2º, “caput” do ECA. Para definição de criança e adolescente o ECA adota um critério etário, biológico ou cronológico puro ou absoluto (não tem exceção, quanto anos tem define se é criança ou adolescente). 1. Crianças Menores de 12 anos. 2. Adolescente Já tem 12 anos completos, mas menor de 18 anos. A emancipação (capacidade civil) em nada afeta a incidência do ECA, por dois motivos: critério etário absoluto (o que interessa é a idade) e proteção integral (abrange todos sem exclusão). Se a pessoa nasceu no dia 29 de fevereiro, ela aniversaria em 1º de março nos anos em que não houver essa data (artigo 3º da lei 810 de 49). Exceção: O ECA pode alcançar pessoas que já completaram 18 anos até no máximo 21 anos (artigo 2º, parágrafo único do ECA), deve ter previsão expressa em lei (artigo 121, §5º e artigo 40 do ECA) tal exceção. O artigo 121, §5º do ECA determina a liberação compulsória aos 21 anos de idade, para pessoa que cumpre medida socioeducativa de internação. Página 4 de 4 Obs: estatuto da juventude (lei 12.852/13, artigo 1º, §§ 1º e 2º) – esta lei define o jovem que é a pessoa que tem 15 anos até os 29 anos. Entre 15 anos e 18 anos a pessoa é jovem e pelo ECA é adolescente, é o chamado adolescente-jovem, a preferência é pela aplicação do ECA e de forma complementar o estatuto da juventude. Obs: Convenção sobre os direitos da criança (decreto 99.710/90, artigo 1º) – criança é a pessoa menor de 18 anos, salvo se o direito interno estabelecer idade inferior para a aquisição da maioridade. Tal faculdade conferida pela Convenção não foi exercida pelo Brasil. Ato Infracional Artigo 103, ECA. É a conduta que, praticada por criança ou adolescente, é definida em lei como crime ou contravenção penal. O ECA adota um sistema de tipicidade remetida, pois incorpora do direito penal comum o preceito primário dos tipos legais (definição da conduta). Tipo penal: a) preceito primário: definição da conduta criminosa – ato infracional no ECA; b) preceito secundário: pena ou medida de segurança – medida socioeducativa no ECA (nunca prisão, artigo 112do ECA). A atipicidade que serve para o adulto também vale para o adolescente. 1. Criança Só está sujeita às medidas de proteção que não tem caráter de sanção (artigo 101, I a VI do ECA). Exemplo: ser encaminhado para os pais; ser matriculado na escola. O ECA adota o sistema de irresponsabilidade por ato infracional (artigo 105 do ECA), nunca se aplica medida socioeducativa para a criança, somente medidas de proteção aplicadas pelo Conselho Tutelar (artigo 136, I, ECA), a criança não é encaminhada à delegacia de polícia. 2. Adolescente Pode receber medidas de proteção e medidas socioeducativas que possuem caráter de sanção (artigo 112 do ECA). Adota-se o sistema de responsabilidade diferenciada ou especial (afinal possui sanção diferente do adulto). O adolescente apesar de penalmente inimputável (não sujeito à sanção penal, artigo 228, CF e artigo 27 do CP) é responsável pelo ato infracional no sistema do ECA, sujeitando-se à sanção diferenciada ou especial (medidas socioeducativas é a sanção de sua responsabilidade). É encaminhado para a autoridade policial (delegado de polícia), artigo 172 do ECA. As medidas socioeducativas e de proteção são aplicadas pelo juiz (artigo 148, I, ECA).
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