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Legislação Penal Especial Aula 2 01 Material de Apoio Magistratura

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Magistratura e Ministério Público 
CARREIRAS JURÍDICAS 
Damásio Educacional 
MATERIAL DE APOIO 
 
Disciplina: Legislação Penal Especial 
 Professor: Paulo Henrique Fuller 
Aula: 01 | Data: 05/02/2015 
 
 
 
ANOTAÇÃO DE AULA 
SUMÁRIO 
 
LEI MARIA DA PENHA – Lei 11.340/06 
1. Sujeito passivo próprio 
. Sujeito Ativo 
2. Condições para incidência da Lei Maria da Penha 
3. Consequências práticas da aplicação da Lei Maria da Penha 
 
LEI MARIA DA PENHA – Lei 11.340/06 
 
A lei fala em violência doméstica e familiar contra a mulher, mas esse “e” significa “ou”, basta que a violência seja 
apenas doméstica ou apenas familiar para que haja a proteção especial para mulher. Essa lei não tipifica novos 
crimes, ela apenas cria rigores aos crimes já existentes. 
 
1. Sujeito passivo próprio 
O sujeito passivo tem uma qualidade especial, a vítima é um sujeito específico, no caso a MULHER. Se a vítima 
não for mulher, a lei não tem incidência  Trata-se de manifestação do “Fenômeno da Especificação do Sujeito 
Passivo” (proteção específica à vítima específica). É um crime próprio somente quanto ao sujeito passivo, e não 
quanto ao autor. Ex.: O peculato tem sujeito ativo específico, funcionário púbico, aqui é o oposto. 
 
O STF entendeu que a tutela específica da mulher não viola o principio da isonomia (ADC 19), pois se trata de uma 
discriminação positiva, também chamada de ação afirmativa. Trata-se de desigualdade formal (desigualdade 
perante a lei) para alcançar igualdade material ou substancial (igualdade no mundo real). 
 
. Sujeito Ativo 
Pode ser praticado por qualquer pessoal, é um crime comum. Pode existir violência doméstica de mulher contra 
mulher (Ex.: Mãe que agride filha, ou irmã que agride irmã, ou companheira que agride companheira). 
 
2. Condições para incidência da Lei Maria da Penha 
São três condições, cumulativas, para incidência desta Lei. 
 
1ª.Condição.: Que seja praticada a violência nas formas do art. 7º da LMP 
Para lei penal comum a violência é sempre física, mas para a Lei Maria da Penha o conceito de violência é mais 
amplo. São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras: 
 
I) Violência física 
Qualquer conduta que ofenda a integridade ou saúde corporal. É a violência física do Código Penal. 
 
 
 
 
 
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II) Violência psicológica 
É a grave ameaça do Código Penal. É violência sobre a integridade mental e não sobre o físico (corpo). 
 
III) Violência sexual 
Em regra também tem violência física ou grave ameaça. 
 
IV) Violência patrimonial 
Violência patrimonial é onde começa a surgir a diferença em relação ao Código Penal. Configura violência 
patrimonial a simples subtração ou destruição de bens da mulher, no âmbito familiar. Aqui não são apenas os 
crimes patrimoniais do CP, mas a mera subtração de bens, já configura a violência patrimonial (No CP o crime de 
furto não tem violência, mas pela Lei Maria da Penha o fruto tem violência contra a mulher – o furto é “violência 
patrimonial”). Ex.: Namorado que subtrai a carteira da namorada, incide a LMP, pois configura a violência 
patrimonial em relação íntima de afeto. 
 
Obs.: A Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06) afasta a escusa absolutória do Código Penal. Supondo que um filho 
furte a Mãe (crime não violento contra ascendente) em tese incidiria a escusa absolutória do art. 181, inciso II do 
CP. O texto da Lei Maria da Penha não afasta expressamente a incidência das escusas absolutórias. 
 
1ª. Posição.: A incidência da Lei Maria da Penha afasta a aplicação das escusas absolutórias, pois estas não são 
compatíveis com espirito do rigor penal da LMP, é uma incompatibilidade lógica (Professora Maria Berenice Dias). 
 
2ª. Posição (Posição do STJ).: As escusas absolutórias continuam tendo aplicação, porque não são afastadas pela 
lei especial, conforme disposto no artigo 12 do Código Penal. 
 
“Art. 12, CP – As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos 
incriminados por lei especial, se esta não dispuser de modo diverso.” 
 
Obs.: O Estatuto do Idoso afasta expressamente a incidência das escusas absolutórias (Lei 10.741/03, art. 95 e art. 
183, inciso III do CP). Essa posição é mais técnica, pois já foi adotada pelo STJ. 
 
V) Violência moral 
Entendida como qualquer conduta que configure crimes contra a honra (calúnia, difamação ou injúria). Ex.: Irmã 
que ofende irmã configura injúria do CP e a violência moral da LMP, violência moral familiar contra a mulher. 
 
2ª.Condição.: Que a violência seja praticada em uma das situações de vulnerabilidade do art. 5º, LMP 
São situações em que a mulher se encontra em vulnerabilidade ou fragilidade presumida. Não é qualquer 
violência conta à mulher que incide a Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06), é requisito que essa violência seja 
praticada em uma das seguintes situações (situações alternativas, basta uma delas): 
 
“Art. 5o Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e 
familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no 
gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou 
psicológico e dano moral ou patrimonial:” 
 
 
 
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I) Violência doméstica 
O critério estabelecido pela lei é predominantemente espacial, leva em conta o local onde foi praticada a 
violência. Aqui não interessa se existe ou não vínculo familiar, não precisa ser familiar. A violência pode ser 
doméstica, mas não ser violência familiar. Ex.: Agredir a empregada doméstica em casa. Se agredir a emprega no 
shopping não incide a Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06). 
 
“I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço 
de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, 
inclusive as esporadicamente agregadas;” 
 
II) Violência familiar 
Aqui o critério é o laço que une agressor e vítima. 
“Laço natural” é o parentesco consanguíneo, biológico. 
“Laços de afinidade” são os laços de um cônjuge com os parentes do outro cônjuge Ex.: Sogra, Cunhada. 
“Laços por vontade expressa” são os parentescos civis, tal como adoção e casamento. 
“Laços de pessoas que se consideram aparentadas” (mas na verdade não são), esse é o vinculo sócio afetivo, tal 
como padrasto e enteada. 
“II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade 
formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, 
unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;” 
 
III) Relação íntima de afeto 
Ainda que a violência não seja praticada no âmbito familiar ou no espaço doméstico, considera-se configurada a 
violência contra mulher quando praticada entre pessoas que convivam ou tenham convivido (relação atual e 
relação pretérita). A lei dispensa a coabitação para configurar a relação íntima de afeto. Trata-se da relação de 
namorados, ex-namorados, ex-companheiros, etc.. 
 
“III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva 
ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de 
coabitação.” 
 
Em caso de relação pretérita, basta que a violência tenha sido praticada em razão do convívio rompido, basta que 
haja nexo de causalidade entre a violência praticada e a relação rompida (não existe limite temporal). 
 
A Lei Maria da Penha defende as relações familiares, domésticas e afetivas, fora destes três contextos a mulher 
não tem proteção especial. Ex.: O STJ já decidiu que a mera ‘relação efêmera’ não configura relação íntima de 
afeto (Ex.: namorinho na balada). 
 
 Orientação Sexual 
Essa lei abrange as relações homoafetivas entre mulheres. 
 
“Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo 
independem de orientação sexual.” 
 
 
 
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3ª.Condição.: Ser mulher 
Sujeito passivo próprio. 
 
 
3. Consequências práticasda aplicação da Lei Maria da Penha 
 
1ª.Consequência.: Modificação da competência do juízo (art. 14, LMP) 
As causas de violência doméstica ou familiar contra a mulher tramitam perante uma vara especial (Juizado de 
violência doméstica ou familiar contra a mulher  Apesar da lei dizer juizado, elas quis dizer vara ou juízo) ou nas 
varas criminais comuns, quando não houver vara especializada, por ainda não ter sido criada (art. 33 da LMP). 
 
“Art. 14, Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06) – Os Juizados de 
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, órgãos da Justiça 
Ordinária com competência cível e criminal, poderão ser criados pela 
União, no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para o 
processo, o julgamento e a execução das causas decorrentes da 
prática de violência doméstica e familiar contra a mulher.” 
 
Atenção  Os casos sujeitos a Lei Maria da Penha nunca tramitam em Juizado Especial Criminal – JECRIM. 
 
Seja na vara criminal comum ou no juizado de violência doméstica e familiar contra a mulher serão cumuladas as 
competências para “Matéria Criminal” e “Matéria Civil de medidas de urgência”. Ex.: Afastamento cautelar do 
agressor, que é o provedor financeiro da casa. O juiz pode decretar como medida protetiva de urgência o 
afastamento cautelar do agressor e os alimentos provisórios ou provisionais em favor da mulher e dos filhos (art. 
22, inciso V, LMP). Os alimentos definitivos serão decididos pelas varas cíveis ou de família. 
 
2ª.Consequência.: Regra especial para “Renúncia” ao direito de representação (art. 16, LMP) 
Só podemos falar em representação nos crimes de ação penal pública condicionada. Ex.: Crime de ameaça (art. 
147 do CP), que depende de representação. Prevalece que o artigo 16 disciplina, em verdade, a figura da 
“retratação” e não tecnicamente a “renúncia”, pois esta é manifestação que antecede o exercício de um direito. 
Para a doutrina a Lei Maria da Penha trata da possibilidade de retratação da representação (se já exerceu o 
direito o que se faz é retratar). 
 
Obs.: O único crime cuja ação penal é modificada pela incidência da Lei Maria da Penha é o crime de “Lesão 
Corporal Leve ou Culposa”, passando a ser crime de ação pública incondicionada para a Lei Maria da Penha. Na 
ADI 4424 o STF deu interpretação conforme ao artigo 16 da Lei Maria da Penha (é constitucional) para esclarecer 
que ele não se aplica ao crime de Lesão Corporal, por este ter se tornado crime de ação penal pública 
incondicionada. 
 
Na Lei Maria da Penha a renúncia (retratação) sua eficácia está subordinada a quatro requisitos: 
 
a) Tem que ser feito perante o juiz 
Só terá validade a retratação feita perante o juiz. 
O intuído da Lei é impedir que a mulher seja coagida, a se retratar, durante a fase policial. 
 
 
 
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b) Em audiência especialmente designada para esse fim. 
O juiz ouve a mulher em uma audiência especialmente designada. 
 
c) Deve ser ouvido o MP 
Nessa audiência especial é obrigatória a presença do MP. 
 
d) Retratação pode ocorrer até antes do RECEBIMENTO DA DENÚNCIA 
Recebimento é a decisão judicial de admissibilidade da denúncia oferecida pelo MP. No regime geral do CP, a 
retratação da representação pode ocorrer até antes do oferecimento da denúncia (CP, 25 e 102), oferecimento é 
o ato do MP que consistente em propor a ação. 
 
 
Próxima aula 
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