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Magistratura e Ministério Público CARREIRAS JURÍDICAS Damásio Educacional MATERIAL DE APOIO Disciplina: Penal Parte Especial Professor: Victor Gonçalves Aula: 03 | Data: 06/05/2015 ANOTAÇÃO DE AULA SUMÁRIO CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 1. Furto Qualificado 2. Roubo CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 1. Furto Qualificado (art. 155, §4º, CP) Inciso II.) Crime praticado com abuso de confiança, ou mediante fraude, ou escalada ou destreza Esse inciso traz quatro figuras: 1ª Figura: Abuso de Confiança (aula 02) 2ª Figura: Emprego de Fraude No furto mediante fraude o agente subtrai o bem, após empregar a fraude. Enquanto no estelionato a fraude é para convencer a vítima a entregar algum bem ou valor. Lembre-se, toda via também existe subtração quando o agente emprega fraude e a vítima lhe entrega a posse vigiada do objeto e ele então leva o bem embora sem autorização. A posse é considerada vigiada quando a vítima entrega o bem e não autoriza o sujeito a ir embora com ele. Quando alguém finge ser manobrista ou se passa por comprador de um veículo usado para receber as chaves para um teste drive, e some com o veículo, o entendimento dos Tribunais Superiores é de que o crime é o de furto mediante fraude, com o argumento de que a posse era restrita, era vigiada. Em relação ao uso de cartão clonado é possível estabelecer a seguinte distinção: Quando o agente efetua saques em caixas eletrônicos ou quando faz transferências pela internet o crime é o de furto, pois não houve autorização da vítima para tais saques e transferências; Por sua vez quando alguém faz compras com um cartão clonado ou com cheque falso enganando o vendedor que efetua a entrega da mercadoria, o crime é de estelionato. 3ª Figura: Escalada É o ingresso no local do furto por via de acesso anormal. Ex.: Pular o muro, entrar pelo telhado ou varanda, etc. A escavação de um túnel é uma via de acesso anormal e configura a escalada. O art. 171 do CPP determina a realização de perícia no local, para constatar como ocorreu a escalada. É pacífico o entendimento de que está qualificadora só se justifica quando o agente teve que fazer um esforço considerado, para entrar no local, ou quando fez uso de instrumentos auxiliares como cordas, escadas e etc. 4ª Figura: Destreza É a habilidade do agente que lhe permite subtrair objetos que a vítima traz consigo sem que ela perceba, tal como faz o batedor de carteira também chamado de punguista. A doutrina e a jurisprudência não aplicam essa qualificadora em outras hipóteses de habilidade especial na prática do furto, como por exemplo, na junção de fios para fazer a ligação direta em um veículo. Página 2 de 4 Quando a vítima não percebe o furto, pois está dormindo ou em avançado estado de embriaguez não se aplica a qualificadora. Quando a vítima não percebe a subtração, mas outra pessoa que estava no local sim e está dá o alarme, aplica-se a qualificadora. Por sua vez se a própria vítima percebeu a ação do ladrão em razão da falta de habilidade demonstrada no caso concreto, não incide a qualificadora. Inciso III.) Emprego de Chave Falsa Considera-se chave falsa: a. Cópia feita clandestinamente, isto é, sem autorização da vítima. b. Qualquer instrumento capaz de abrir a fechadura, quer tenha outra finalidade específica (chave de fenda, grampo de cabelo, clipe de papel), quer tenha sido fabricado para servir de chave falsa (estas últimas são chamadas de mixas). Obs.: Quem emprega fraude para obter a chave verdadeira responde por furto mediante fraude. Inciso IV.) Se o crime for praticado mediante o concurso de duas ou mais pessoas Como o texto legal se refere genericamente ao concurso de pessoas, sem fazer restrição, a qualificadora se aplica tanto em casos de coautoria quanto de participação. O juiz pode aplicar a qualificadora, mesmo que um só ladrão tenha estado no local do crime realizando ato de subtração, dede que tenha contado com a prévia colaboração de um participe. O juiz pode condenar uma só pessoa e aplicar a qualificadora, desde que tenha constado na denúncia, e tenha sido provado nos autos, o envolvimento de outro pessoa que por alguma razão não pode ser punida, como por exemplo, comparsa não identificado, menor de idade, filho da vítima, etc. Nossos Tribunais Superiores pacificaram o entendimento de que é possível a condenação concomitante e em concurso material por crimes de associação criminosa (art. 288, CP) e furto qualificado pelo concurso de agentes. O fundamento é de que não existe “bis in idem”, por que a razão dos institutos é diversa. Na associação criminosa o que se pune é o perigo que representa à coletividade a existência de um grupo visando à reiteração delituosa, enquanto a qualificadora do furto tem por fundamento a maior lesividade da conduta em relação à vítima no caso concreto. – Furto Qualificado do art. 155, §5º do Código Penal. § 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior. A pena será de 3 a 8 anos de reclusão se o furto for de veículo automotor, que venha a ser transportado para outro estado ou país. A redação do dispositivo só permite a incidência da qualificadora quando o ladrão consegue cruzar a divisa ou fronteira com o veículo. Se alguém já furtou um automóvel a algumas horas visando leva-lo a outro estado, mas o veículo é apreendido antes disso, trata-se de furto consumado sem a qualificadora do § 5º. Página 3 de 4 2. Roubo (art. 157, CP) I.) Roubo Simples O roubo simples se subdivide em duas espécies, que são chamadas de roubo próprio (“caput”) e roubo impróprio (§1º). Em ambas as modalidades a pena é de reclusão de 4 a 10 anos e multa. Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. § 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro. Caput – Roubo Próprio Consiste em subtrair para si ou para outrem coisa alheia móvel mediante violência contra a pessoa, grave ameaça ou depois de haver reduzido a vítima por qualquer outro meio à impossibilidade de resistência. O roubo próprio possui três formas de execução: a. Violência Contra a Pessoa – É qualquer forma de agressão ou força física, utilizadas contra alguém. Estão aqui abrangidos os atos de agredir com chutes, pontapés, pauladas, bem como o uso de força física para imobilizar a vítima a realizar a subtração. A trombada é uma forma de violência que configura o roubo, enquanto apenas encostar na vítima sorrateiramente configura o furto mediante destreza. O simples ato de puxar a carteira, ou o celular, da mão da vítima, desacompanhado de uma efetiva ameaça ou violência configura furto. Quando o ladrão arrebenta uma pulseira, um cordão ou a alça de uma bolsa provocando lesão, dor, queda ou desequilíbrio o crime é o de roubo. Se nada disso aconteceu o crime é o de furto. b. Grave Ameaça – É a promessa de um mal injusto e grave a ser provocado no próprio dono do bem ou em terceiro. A simulação de arma e o emprego de arma de brinquedo que pareça verdadeira tem poder intimidatório e, por isso caracteriza o crime de roubo. c. Qualquer outro meio que reduza a vítima à impossibilidade de resistência (formula genérica) – Essa forma de execução do roubo é conhecida como violência imprópria. São exemplos: - O emprego de sonífero (golpe do boanoite cinderela) - Hipnose - Superioridade numérica Página 4 de 4 – Objetividade jurídica O roubo simples é um crime complexo porque afeta mais de um bem jurídico: a. O patrimônio b. A incolumidade física (se tiver sido empregada a violência física) ou c. A liberdade individual (nos caso de grave ameaça e violência imprópria). – Sujeito Passivo O sujeito passivo do roubo é o dono do bem (ainda que não esteja no local do crime) e também todas as pessoas que tenham sofrido violência ou grave ameaça, ainda que nada lhes seja subtraído. Quando ladrões dominam 10 pessoas dentro de um Banco, mas só levam os malotes de dinheiro pertencentes à instituição financeira temos um só roubo com 11 vítimas. A pessoa jurídica, dona do dinheiro, também é sujeito passivo.
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