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Magistratura e Ministério Público CARREIRAS JURÍDICAS Damásio Educacional MATERIAL DE APOIO Disciplina: Direito Penal Especial Professor: Victor Gonçalves Aula: 12 | Data: 17/06/2015 ANOTAÇÃO DE AULA SUMÁRIO LESÕES CORPORAIS 1. Lesões Dolosas Leves 2. Lesão Leve Qualificada pela Violência Doméstica 3. Lesão Grave 4. Lesão Gravíssima LESÕES CORPORAIS 1. Lesões Dolosas Leves (Continuação) a) Sujeito Ativo: pode ser qualquer pessoa. Se o crime for praticado por funcionário público no desempenho das funções, o agente responderá por crime de lesões corporais e também por abuso de autoridade porque os bens jurídicos tutelados são distintos/diversos. b) Sujeito Passivo: pode ser qualquer pessoa. O feto e o cadáver só podem ser sujeito passivo respectivamente de crimes de aborto ou destruição de cadáver. A autolesão intencional dolosa não se enquadra no artigo 129 do CP que exige que a ofensa seja à integridade corporal de outrem. A autolesão pode configurar crime de fraude contra a seguradora, desde que o agente queira enganar a seguradora (artigo 171, §2º, V, CP). Neste caso, a vítima é a seguradora. c) Consumação: no momento da lesão; e tentativa é possível se o agente tiver desferido o golpe com intenção de lesionar, mas não conseguiu. d) Absorção e Concurso: existem vários crimes que são praticados mediante violência contra a pessoa. Se o legislador, ao definir a pena do crime fim, nada menciona quanto ao resultado da violência, significa que as lesões leves ficarão absorvidas, tal como ocorre nos crimes de roubo, extorsão, estupro, tortura etc. O fato de ter havido lesão leve deve ser levado em conta pelo juiz na fixação da pena-base do crime fim. Ao contrário, existem muitos delitos em que a própria lei ressalva que o agente responderá pelo crime fim e também pelas lesões leves, sendo somadas as penas. É o que ocorre, por exemplo, em crimes como injúria real, constrangimento ilegal, dano qualificado, resistência, exercício arbitrário das próprias razões, dentre outros. 2. Lesão Leve Qualificada pela Violência Doméstica A pena será de detenção de 3 meses a 3 anos se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro, irmão, pessoa com quem o agente conviva ou tenha convivido, ou ainda, prevalecendo-se o agente de relações domésticas, de hospitalidade ou de coabitação. Artigo 129, §§9º e 10º, CP. Como a pena máxima é de 3 anos, não se enquadra no conceito de infração de pequeno potencial ofensivo, não sendo aplicáveis a transação penal e outros benefícios relativos às infrações de menor potencial. Página 2 de 4 A vítima pode ser homem ou mulher. Caso seja praticado contra a mulher, além de ser cabível a qualificadora em estudo, deverão ser aplicadas as medidas restritivas e preventivas da Lei Maria da Penha (lei 11.340/06). Se a vítima for homem, o julgamento é feito no juízo comum e se a vítima for mulher, na vara especializada da violência doméstica ou familiar contra a mulher. O artigo 41 da Lei Maria da Penha impede a aplicação da lei 9.099/95 aos crimes que envolvam violência contra a mulher. Em razão disso, é incabível a suspensão condicional do processo se a vítima for mulher. Além disso, em tal caso, a ação penal será pública incondicionada, conforme decidiu o plenário do STF no julgamento da ADIN 4424. Na primeira parte do dispositivo, basta que a vítima seja uma das pessoas elencadas no texto legal para que se aplique a qualificadora, ainda que o fato não ocorra no ambienta doméstico (exemplo: numa viagem). Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995. 3. Lesão Grave Artigo 129, §1º, CP. Pena de reclusão de 1 a 5 anos. São hipóteses: I) Se resulta incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias: O texto legal refere-se genericamente às atividades habituais e não apenas ao trabalho, de modo que crianças, desempregados e aposentados também podem ser sujeito passivo. Se a incapacitação for exclusivamente para atividade habitual ilícita, a lesão não é grave, mas, caso se refira à atividade tida como imoral, como a prostituição, a lesão é grave. Este delito se enquadra no conceito de crime à prazo porque depende de um prazo para a sua configuração. Este prazo é de 31 dias, incluída a data da agressão porque este prazo é um prazo de natureza penal. Para comprovar que a incapacitação durou mais de 30 dias, o artigo 168, §2º, CPP exige o chamado exame complementar que deve ser feito no 31º dia, em que o médico deve verificar se a vítima continua ou não incapacitada. Não é suficiente um prognóstico do médico em exame feito no próprio dia da agressão. Art. 168. Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido incompleto, proceder-se-á a exame complementar por determinação da autoridade policial ou judiciária, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público, do ofendido ou do acusado, ou de seu defensor. § 1o No exame complementar, os peritos terão presente o auto de corpo de delito, a fim de suprir-lhe a deficiência ou retificá-lo. § 2o Se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito no art. 129, § 1o, I, do Código Penal, deverá ser feito logo que decorra o prazo de 30 dias, contado da data do crime. Página 3 de 4 § 3o A falta de exame complementar poderá ser suprida pela prova testemunhal. Se a vítima não está incapacitada, mas deixa de realizar suas ocupações habituais por sentir vergonha se sair de casa e de expor a lesão em público, a lesão não é grave. II) Se resulta perigo de vida: não basta que o laudo afirme a existência do perigo de vida, sendo necessário que conste expressamente por qual razão a vítima quase morreu. Se não constar do laudo, o MP deve determinar o seu retorno para que o legista o complemente, pois, se não o fizer, deverá ocorrer a desclassificação para lesão de natureza leve. Esta modalidade de lesão grave é exclusivamente preterdolosa, pois se o sujeito provoca o perigo de vida querendo matar, responde por tentativa de homicídio. III) Se resulta debilidade permanente de membro, sentido ou função: debilidade é o enfraquecimento, a diminuição na capacidade do membro, sentido ou função. São exemplos: agressões que provocam diminuição na força muscular dos braços ou pernas ou que façam com que a vítima passe a andar mancando; ou que fazem a vítima ter alguma dificuldade auditiva ou visual; ou ainda que provoquem desvio de septo com consequente dificuldade respiratória; ou a perda de um ovário com a diminuição da capacidade reprodutora etc. É necessário que a debilidade seja permanente, bastando nesse caso um prognóstico médico de que a vítima não irá se recuperar. IV- Se resulta aceleração do parto: antecipação do parto, a lesão provoca um nascimento prematuro. É necessário que o bebê sobreviva porque a agressão que provoca o aborto é lesão gravíssima. Essa lesão grave é exclusivamente preterdolosa: dolo na lesão + culpa na antecipação do parto. Se o agente agrediu com dolo de provocar aborto e o bebê sobreviveu, o crime é o de tentativa de aborto. 4. Lesão Gravíssima Artigo 129, §2º, CP. Pena de 2 a 8 anos de reclusão. A denominação “lesão gravíssima” não consta no CP, mas toda doutrina e jurisprudência faz uso dessa expressão. São hipóteses: I) Se resulta incapacidade permanente para o trabalho: prevalece o entendimento de que somente a incapacidade genérica, isto é, para o trabalho em geral, é que faz a lesão ser gravíssima (exemplo: se a vítima não pode mais ser jogador de futebol, mas pode ser pedreiro não é lesão gravíssima). II) Seresulta moléstia incurável: é a transmissão intencional de doença sem cura. Após o surgimento dos chamados coquetéis de medicamentos, que na imensa maioria dos casos evita a morte da pessoa soro positivo, passou a existir controvérsia em torno da transmissão intencional de AIDS. Para alguns, ainda se trata de doença fatal e o agente responde por tentativa de homicídio porque os medicamentos são a circunstância alheia à vontade do agente que impedem a morte. Para outros, a AIDS não é mais fatal e o agente pela lesão gravíssima em estudo. Página 4 de 4 III) Se resulta perda ou inutilização de membro, sentido ou função: se a vítima ficar sem os movimentos de algum dos braços ou pernas, ocorre inutilização de membro (deve haver a paralisação do membro). Quando ocorre extirpação, imputação da mão ou do dedo polegar também tem inutilização de membro. Se a extirpação for de outro dedo, a lesão é grave (debilidade de membro). A extirpação do braço todo é perda de membro. Em relação aos sentidos, se a vítima ficar totalmente cega ocorreu perda e só conseguir enxergar vultos ou sombras ocorreu inutilização. Provocar cegueira completa em um só olho, no âmbito penal, é considerado lesão grave (a pessoa que possui “cegueira”, assim está na lei própria, não paga imposto de renda, mesmo se for cega de um olho só). No que pertine à perda de função, só existe compatibilidade com aquelas não vitais, como por exemplo, a perda da função reprodutora. IV) Se resulta deformidade permanente: esta figura está relacionada ao dano estético, como por exemplo, queimadura com líquido fervendo ou com ácido, cortes profundos que deixam cicatrizes permanentes, arrancar a orelha. Lançar ácido em alguém é chamado de vitriolagem. A doutrina e a jurisprudência exigem quatro requisitos para essa lesão gravíssima: a) que o dano estético seja de certa monta (exemplo: se o dano estético provocar uma pequena cicatriz não está configurado); b) deve ser visível: abrange o que pode ser visto em roupa de banho. É possível, portanto, se o dano estético for no rosto, no tórax, na perna, no braço (exemplo: no couro cabeludo em uma pessoa que possui cabelo não configura); c) que seja permanente, ou seja, que não desapareça no passar no tempo. Boa parte dos doutrinadores, entendem, todavia, que se a vítima fizer uma plástica e o dano estético desaparecer, deverá ocorrer desclassificação do delito, não basta, portanto, a possibilidade da cirurgia plástica; d) que seja capaz de provocar impressão vexatória: significa que a cicatriz deve ser considerada feia pelas pessoas em geral e que por isso a vítima tenha vergonha de mostrar em público, não é necessário que a vítima passe a ser um monstro. V) Se resulta aborto: trata-se de figura exclusivamente preterdolosa: dolo na agressão e culpa no aborto. Quem agride a gestante com dolo de provocar aborto pratica crime mais grave: de aborto sem consentimento da gestante (artigo 125, CP). É necessário que o agente saiba da gravidez. Exemplo: se há uma lesão grave e uma lesão gravíssima, o agente não responderá pelas duas lesões e sim somente pela mais grave (lesão gravíssima).
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