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A afro brasilidade na musicalidade contemporânea.

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A afro - brasilidade
Na musica contemporânea.
Prof.: Júlio César dos Anjos.
Como podemos definir a identidade negra na musica brasileira e em que contexto poderíamos entender determinadas músicas como afro-brasileiras? Ou seja, musicas que são brasileiras (e não estamos falando de “tipicamente”), mas que trazem também a diáspora (aqui entendida como conceito de memória).
Entende-se como memória toda a bagagem cultural de ordem imaterial e espiritual (valores simbólicos como a dança, musica, religiosidade, etc.) como também pequenos objetos culturais de devoção ou não, reproduzidos aqui no Brasil por nossos ancestrais africanos. A esse conjunto chamamos de Diáspora.
Vamos levantar a seguinte questão: podemos enquadrar o rap brasileiro como musica afro-brasileira assim como o samba, o axé da Bahia, etc.?
Antes de seguirmos em frente precisamos entender que não se trata de “classificar” ou “por em prateleiras” o assunto, mas simplesmente refletirmos sobre nossa pluralidade cultural que nos conduzirá a uma compreensão mais democrática de nossa diversidade étnica.
Algo que herdamos de nossa ancestralidade africana: a musicalidade! Alguns acadêmicos já defendem que somos muito mais musicais que literários. 
Assim como o continente africano onde as atividades durante milênios de anos eram ritmadas pelas canções e sons para dar impulsão ao corpo em trabalhos pesados isso 
ficou bastante evidente durante o longo período de escravidão em que os africanos foram submetidos longe de sua terra natal. Nunca se precisou tanto da musica, do ritmo para que o corpo suportasse as longas horas de privação de proteínas, trabalhos forçados e castigos de longa exposição.
É esta musicalidade que vemos no Blues norte-americano que por sua vez herdou do canto dos escravos (que cantavam para aliviar a dor dos trabalhos forçados em campos de algodão por exemplo). Esta mesma forma de cantar, tão triste e bela ao mesmo tempo, que observamos ao andarmos em bairros periféricos 
dos Estados unidos onde a maioria da população negra encontra-se em igrejas protestantes entoando esta mesma musicalidade carregada de dor e sofrimento do canto dos escravos entendidas no contexto contemporâneo como musica Gospel.
Se existia algo que o “senhor” de escravos jamais poderia tirar do escravo africano era a sua memória. E é esta memória que suportou a longa viagem pelo oceano que aportou em terras estranhas toda a bagagem imaterial de cultural, religiosidade e musicalidade onde mais tarde, símbolos e ritos seriam reconstituídos graças a esta memória.
Memória esta que chamamos de diáspora. Porque traz todos os valores culturais de uma ou mais etnias).
É por isso que podemos ver o rap como mais um elemento desta diáspora. Assim como todo o movimento hip-hop que só pelo simples fato de ser considerada (ou já foi considerado) uma “sub” cultura ou “cultura marginal” sustenta nossa tese.
É importante observar que a cultura hip-hop é uma cultura urbana. Boa parte de expressões artísticas nessa urbanidade, trazem consigo a africanidade (afro brasilidade no caso daqui e afro americanidade no caso norte-americano).
Em outras palavras: é preciso eliminar o equivoco de que só porque o rap brasileiro tem influências do rap americano não signifique que ele não pertença a raízes da diáspora africana.
Assim como o rap brasileiro o rap americano (como também todo o movimento hip-hop já mencionado), também pertence à diáspora africana. Por isso podemos dizer que o rap norte-americano é também afro-americano porque traz em si memórias da diáspora.
Mas como esta memória se dá no rap que fala apenas em questões raciais e sociais?
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Parece que já temos a resposta: 
O ritmo do rap talvez não seja diretamente ligado a matriz africana por ser de bases eletrônicas e por isso bastante contemporâneo, mas suas letras denunciam isso por que:
Fala de questões raciais:
Como o racismo e a condição do negro nas relações de poder na sociedade contemporânea. 
Assim como uma busca de uma identidade visibilizada e estimada para que ele próprio sinta orgulho de suas origens e história.
Mc Sombra – Rap que funde regionalismo e letras politizadas com doses de ironia.
E de questões sociais:
Como o negro está inserido materialmente e espiritualmente na sociedade capitalista-globalizada-contemporânea e até que ponto a história, arbitrariamente construída pela visão politica ocidental, deixou o negro (mulato, pardo, as várias etnias indígenas pan-americanas e demais etnias consideradas sub-humanas), excluídas desse mesmo sistema de consumo e sobrevivência por não serem europeias, na maioria dos casos em total estado de miséria social e econômica. 
Além do mais, estas letras testemunham a permanente violência urbana na qual o jovem negro é vitima todo o momento em nossa sociedade veladamente racista.
Outros grupos étnicos que são vistos como marginais pela sociedade também vem no rap sua forma de protestar contra as injustiças de seu povo e o descaso das autoridades como o grupo de jovens rappers da etnia indígenas Gurani-Kaiowas pertencentes ao grupo de rap Bro mc’s.
Quando falamos do funk carioca e o de São Paulo a coisa fica ainda mais complexa. 
Geralmente suas letras são explicitas com forte teor sexual, violento e apologético ao reverenciar facções ligadas ao narcotráfico. As mulheres são retratadas (segundo opinião do senso comum) como “objetos” no sentido passivo ou até mesmo ativo quando cantado pelas próprias mulheres.
Outro fator que pesa muito ao se criticar negativamente a musica do funk é relacionado aos “erros da língua portuguesa” em suas letras.
É preciso entender que dada à realidade que estes compositores vivem e na qual a dinâmica cultural machista em que estão inseridos (assim como todos nós) estas letras respondem imediatamente o que estes artistas apreendem do mundo. A violência na qual são obrigados a vivenciar no dia a dia da comunidade. A forma como o corpo feminino é visto como parte de um sistema de consumo assim como é bem retratado nas letras do funk ostentação; a própria liberação sexual dessas mulheres que durante séculos foram oprimidas sexualmente e socialmente obedientes a normas de etiquetas do tipo “menina de família”;
Na web, é comum encontramos reproduções que criticam o funk sem que as pessoas que a postam praticam o mínimo de relativismo cultural onde o que está sendo julgado sem o mínimo respeito é a cultura do Outro e não os próprios gostos e a própria cultura daquele que o posta.
Quanto às letras com seus “graves erros de concordância” e demais erros normativos da língua: bem, é também preciso entender que estamos falando aqui de uma poética e a poética vem antes da escrita, e não de norma culta da língua portuguesa que nada mais é que, se tratando da letra do funk, seus detratores buscam formas de desqualificar essa musicalidade. 
 Afinal, você queria que aquele musico que foi obrigado a se afastar da escola muito cedo para sustentar sua família escrevesse letras como um Chico Buarque, no sentido culto da palavra?
Elas Gostam Assim
Mc Gui
Vida suave, ai que vida tranquila
Ela quer cordão de ouro pra falar que é bandida
Ostentação, nois tá esbanjando
Vem com nóis, parceiro, vem
Oh, vem com nóis tamo folgando
Tá de Veloster, nóis mete aquela Lacoste
O cê tá de i30, nóis põe aquela Hollister
Tô no contato em busca do cifrão
Tô no corre todo dia pra manter a condição
Elas gostam assim
Elas gostam assim
Ela que o camarote pra fogar com os MCs
Elas gostam assim
Elas gostam assim
Ela que o camarote pra fogar com os MCs
De RR de IX35, olha pro nosso bonde
Todo mundo tá sorrindo
E aê, parceiro, se liga no meu papo
Vem com nóis, parceiro vem o
Vem que é o bonde dos bravo
De RR de IX35, olha pro nosso bonde
Todo mundo tá sorrindo
E aê, parceiro, se liga no meu papo
Vem com nóis, parceiro vem o
Vem que é o bonde dos bravo
Vale lembrar que a batida do funk carioca em especial, carrega em si a batida como memória dessa
diáspora africana. Ao isolar estas batidas da musica do funk, percebemos serem as mesmas daquelas batidas feitas pelos ogãs (ou ogans) dos terreiros afro-brasileiros. Muito mais evidente que a própria batida do funk norte-americano.
 É importante ao amante do funk fazer uma pesquisa histórica sobre a história do funk. Ele descobrirá que, tanto como o funk americano como o funk carioca tem muito em comum.
Antes de fecharmos deixo aqui o conceito de um filósofo chamado Martin Heidegger que via na obra de arte um testemunho da ação humana sobre o mundo. E no caso do rap e do funk carioca estas letras não estão no mundo para incentivar o jovem a “levar ao pé da letra” o que está ali, mas justamente o contrário. Seu testemunho é como o holocausto foi. Não se deve repeti-lo. Estas letras existem para dar visibilidade aos invisíveis e só através dessa visibilidade podemos dizer que a igualdade é respeitar as diferenças. Acima de tudo estas letras são politicas e não apologéticas no sentido estrito da palavra.
Em resumo: a musicalidade afro-brasileira na contemporaneidade é entendida assim porque ela trás visibilidade aos invisíveis e é por isso que para muitos ela deveria permanecer invisível porque sua mensagem é também politica. 
Atividades:
1) Pesquisa musical:
 Inicialmente, com orientação do professor, os alunos farão uma pesquisa sobre musicas começando pelos sambas datando a época em que estes foram compostos, juntos com o professor analisarão as letras e traçarão um parâmetro histórico e politico dessas canções assim como tentar entender por este meio como as relações raciais estavam sendo tratadas no período.
No segundo momento, os alunos agora farão pesquisas com letras que fazem parte do mundo do funk (carioca), rap nacional e internacional. Também trarão à discussão estilos musicais e suas letras de fora, como o blues, jazz, rap americano etc.
2) laboratório de produção musical:
Os alunos se dividirão em grupos onde cada grupo produzirá sua própria canção com letras originais compostas pelo próprio grupo. A proposta do professor é que estes alunos tragam experiências de seu cotidiano para a linguagem da musica.
Material de apoio:
Por ser bastante extensivo o professor poderá agregar outros elementos como por exemplo outros grupos de rap e funk. Abaixo apenas deixo relacionado as minhas próprias pesquisas para servir de norte.
 
Bro Mc´s - https://youtu.be/oLbhGYfDmQg
 https://youtu.be/4E8sEPfTz5I
 http://www.tecmundo.com.br/musica/22283-bro-mc-s-grupo-de-rap-indigena-compoe-letras-em-guarani.htm
Câmbio Negro: https://www.vagalume.com.br/cambio-negro/sub-raca.html
 https://youtu.be/pg0xuzcX60k
Facção Central: https://youtu.be/SF35eKjezdA
 https://www.letras.mus.br/faccao-central/183847/
Glory - https://www.vagalume.com.br/john-legend/glory-feat-common-traducao.html
https://youtu.be/HUZOKvYcx_o
História do samba: https://youtu.be/LsukHVgW3x8
 https://youtu.be/N45k0NMBr-A
debate com apoio de artigos: http://www.geledes.org.br/interno-da-fundacao-casa-e-finalista-de-concurso-nacional-de-poemas/
http://www.geledes.org.br/funk-racismo-e-periferia-fica-ligado-que-contagiante-nao-e-batida-mas-tambem-o-instrumento-de-luta/

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