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Sífilis INTRODUÇÃO Doença infectocontaminante com manifestações cutâneas e sistêmicas, evolução crônica e transmissão, em geral, pela via sexual. Agente etiológico = Treponema pallidum. “A grande imitadora” – pode simular várias doenças e processos autoimunes. Inicia como lesão ulcerosa na genitália ou região anal e pode evoluir até o comprometimento do SNC. A sífilis congênita não tratada pode trazer graves repercussões ao feto. EPIDEMIOLOGIA Adultos sexualmente ativos (20 a 29 anos) > adolescentes > meia-idade. Sem predileção por sexo ou etnia; fatores de risco são socioeconômicos (higiene precária) e comportamento sexual de risco. Transmissão via contato direto ou pela via transplacentária, a partir do 4º mês. PATOGÊNESE E ETIOLOGIA T. pallidum é uma espiroqueta gram-negativa. Penetra na pele pelas mucosas ou pela pele quando há soluções de continuidade, disseminando-se via sangue e linfa. A incubação demora de 10 a 90 dias – média = 3 semanas. Após esse período = cancro duro – lesão primária. Com cerca de 30 dias, regride espontaneamente. Período secundário ocorre 4 a 10 semanas após o início do cancro. Essas manifestações desaparecem sem tratamento. Em média, 6 meses após a involução, entra o período de latência, assintomática, com sorologia positiva, podendo permanecer nesse quadro por toda vida. Outros pacientes podem surgir as manifestações clássicas da sífilis terciária. QUADRO CLÍNICO SÍFILIS RECENTE – SÍFILIS PRIMÁRIA Cancro duro Incubação de 10-90 dias (média = 21-30). Se não tratado – regride espontaneamente, sem deixar cicatriz. Erosão ou ulceração indolor, com bordas elevadas e base dura. O fundo é limpo, eritematoso e seroso. Localização: H – sulco bálano-prepucial, prepúcio e glande; M – grandes e pequenos lábios, uretra e períneo. Extragenital = lábios, língua, ânus. Localização menos óbvia em mulheres, de modo que o cancro pode não ser percebido. Pode ter, após 10 dias, adenopatia satélite – bilateral, não inflamatória, indolor, não fistulizante. SÍFILIS RECENTE – SÍFILIS SECUNDÁRIA Pode surgir na vigência do cancro, mas normalmente é após sua regressão. Manifestações dermatológicas Lesões exantemáticas generalizadas = roséola sifilítica – erupções maculares, de coloração rósea. Sífilides – as máculas evoluem para lesões papulosas, papuloescamosas, placas, e às vezes, pápulotuberosas ou nodulares. Manifestações podem simular hanseníase, psoríase, líquen plano, granuloma anular, sarcoidose, etc. Lesões na superfície palmoplantar são muito frequentes, sendo papuloceratóticas. Condilomas planos – afeta mucosas (áreas úmidas) = pápulas ou placas erosadas altamente contagiosas. Placas mucosas – mucosa genital ou oral Manifestações sistêmicas – astenia, anorexia, febre baixa, micropoliadenopatia, mialgia, cefaleia, etc. SÍFILIS LATENTE Sem manifestações clínicas ou alterações radiológicas. Sorologia positiva – títulos variáveis com o tempo. SÍFILIS TERCIÁRIA (TARDIA) Em 1/3 dos pacientes com sífilis latente não tratada. Lesões tegumentares Goma sifilítica = pelo amolecimento, fistulização e ulceração dos nódulos – processo indolor, no tecido cutâneo, ósseo e/ou muscular; Lesões tubereocircinadas, nódulos justa-articulares de Jeanse, eritema terciário. Lesões cardiovasculares – aortite sifilítica, aneurisma aórtico, estenose coronária, insuficiência aórtica. Neurossífilis Meningovascular – aneurismas; meningite. Parenquimatosa Tabes dorsalis – predomina cordões posteriores, mas pode ser mielite transversa – paralisia. Meningoencefalite crônica – demência Sinal da pupila de Argyll-Robertson – atrofia óptica. SÍFILIS CONGÊNITA - RECENTE Sem tratamento, grávidas podem transmitir via transplacentária (↓ transmissão com ↑ estágio da gestação) ou durante o parto. Infecção na gravidez pode fazer parto prematuro, morte intrauterina, neonatal ou sífilis congênita. Manifestações clínicas da sífilis congênita precoce: Cutaneomucosas Pênfigo sifilítico – múltiplas lesões bolhosas de conteúdo hemorrágico ou purulento, ou descamativas. Sifílides – mais infiltradas, com ou sem escamas, principalmente palmoplantares. Rálades ou fissuras; placas mucosas; rinite e coriza sifilítica; lesões ungueais. Ósseas Osteocondrite metaepifisária – pode levar à paralisia postural antálgica = pseudoparalisia (Parrot) Periostite – sinal de Wimberg – tíbia. Viscerais – esplenomegalia, hepatite, pneumonia, alterações renais. Outras – anemia hemolítica, meningite, lesões oculares = coroidorretinite, miocardite, má-absorção SÍFILIS CONGÊNITA - TARDIA Ocorre depois dos 2 anos de idade – penetração do treponema nos últimos meses. Tríade de Hutchinson = ceratite intersticial, surdez labiríntica, dentes de Hutchinson. Oculares e auditivas Ceratite intersticial – acomete geralmente os dois olhos, com fotofobia, dor ocular e ↓acuidade visual. Não influenciada pelo tratamento. Surdez labiríntica – lesão do NC VIII, com envolvimento bilateral. Osteoarticulares – tíbia em lâmina de sabre (sinal de periostite); fronte olímpica; nariz em sela; goma; hidrartrose de Crutton (sinovite indolor, na articulação do joelho. Rx – ↑ espaço intra-articular; sinal de Dubois (5º quirodáctilo). Outros – dentes de Hutchinson (deformidades nos incisivos); cirrose; tabes dorsalis (paralisia geral juvenil), meningite. COINFECÇÃO COM HIV Pacientes HIV+ ou com AIDS podem ter lesões mais extensas, ulceradas e em maior número. Além disso, risco de desenvolver complicações tardias, como neurossífilis, mais precocemente. Possível relação com a baixa contagem de CD4+. Reações sorológicas não-treponêmicas têm respostas incomuns – discordância. AVALIAÇÃO DO PACIENTE E DIAGNÓSTICO SÍFILIS PRIMÁRIA Exame de campo escuro e histopatológico = pesquisa do treponema – padrão-ouro. Não disponível em muitos serviços. VDRL torna-se reagente 4 a 5 semanas após a infecção e o FTA-Abs na 3ª semana. São testes não-treponêmicos. SÍFILIS SECUNDÁRIA, LATENTE E TERCIÁRIA Triagem = VDRL e RPR. Teste menos específicos, pela possibilidade de reação cruzada (hanseníase virchowiana, Lyme, HTLV-1, malária, TB, etc). O VDRL é o mais usado, pela fácil execução e baixo custo. Confirmação = FTA-Abs, TPHA, MHA-TP. São testes específicos (reação treponêmica). Testes que devem ser feitos quando VDRL com títulos baixos (menor ou igual a 1/8) é encontrado em pacientes com suspeita. Quanto mais avançado o estágio clínico da doença, mais baixo será o título sorológico. Suspeita de neurossífilis – fazer exame do líquor. TRATAMENTO Reação de Jarish-Herxheimer – endotoxemia pós-1ª dose – reação que difere da alergia. Como o T. pallidum não tem endotoxina, causa provável = liberação de lipoproteínas ↑ mediadores inflamatórios. Sífilis primária Penicilina G Benzatina (PGB) 2,4 milhões UI (IM) – dose única – 1,2 em cada glúteo. Sífilis secundária PGB 2,4 milhões UI (IM), semanal, por 1-3 semanas. Sífilis terciária PGB 2,4 milhões UI, semanal, 3 semanas. Neurossífilis Tratamento hospitalar – penicilina G cristalina, 4 milhões UI, IV, 4/4h, por 15 dias. Mulheres grávidas e crianças com sífilis adquirida PGB Sífilis congênita Tratamento hospitalar com penicilina cristalina (IV).
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