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1. Intertextualidade

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Disciplina de Comunicação – Professor Gilberto Fonseca
Intertextualidade
Você já parou para pensar de onde vem a inspiração quando elaboramos um texto, criamos uma história, compomos uma música, fazemos um desenho? Já parou para refletir que tudo o que é elaborado se baseia na experiência de vida, nas coisas que você já viu ou já leu? Além disso, é comum nos deparamos com certos trechos de músicas, de filmes, de poemas e termos a sensação de que já vimos algo parecido antes. Será que cabe aqui aquele velho ditado que diz que “Hoje nada se cria, tudo se copia?”.  Na verdade, há, muitas vezes, uma recriação, uma releitura de textos e isso não quer dizer que a criatividade não seja explorada.
Observe:
A campanha publicitária da Rede de hortifrutigranjeiros Hortifruti é um exemplo de como se pode explorar essa relação entre diferentes obras. Famosos filmes serviram de pano de fundo para a campanha, que criou títulos de filmes, a partir de outros já existentes. Note que a função lúdica da propaganda está aliada ao ato de fazer com que o leitor note esse diálogo. A aproximação de “Hollywood” com “Hortifruti”; o nome “E o coentro levou” fazendo referência ao clássico “E o vento levou”; “Limão impossível 3” brincando com o famoso “Missão impossível 3”; “A incrível rúcula” no lugar de “O incrível Hulk”; além da relação estabelecida com filme o Diabo veste Prada e com o sucesso do cinema nacional Tropa de Elite – tudo isso mostra que os anúncios dialogam com os filmes. A esse diálogo damos o nome de intertextualidade.
Cultura é fundamental!
Muitas vezes, para que uma intertextualidade seja de fato percebida, é importante que o leitor possua um conhecimento prévio de determinadas obras. É muito frequente um texto retomar passagens de outro. Essa intertextualidade pode ser feita de forma implícita, normalmente em textos literários, ou seja, não há necessariamente uma indicação do autor ou da obra de onde foram retiradas determinadas passagens citadas, pois se pressupõe que o leitor compartilhe com o escritor um conjunto de informações a respeito das obras que formam certo universo cultural.
Outros exemplos:
	 Provérbios populares
	Canção de Chico Buarque
	“Uma boa noite de sono combate os males”
“Quem espera sempre alcança”
“Faça o que eu digo, não faça o que eu faço"
“Pense, antes de agir”
“Devagar se vai longe”
“Quem semeia vento, colhe tempestade”
	Bom Conselho
Ouça um bom conselho
Que eu lhe dou de graça
Inútil dormir que a dor não passa
Espere sentado
Ou você se cansa
Está provado, quem espera nunca alcança
Venha, meu amigo
Deixe esse regaço
Brinque com meu fogo
Venha se queimar
Faça como eu digo
Faça como eu faço
Aja duas vezes antes de pensar
Corro atrás do tempo
Vim de não sei onde
Devagar é que não se vai longe
Eu semeio vento na minha cidade
Vou pra rua e bebo a tempestade
(Chico Buarque, 1972)
	Quadrilha
	Quadrilha da sujeira
	João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou-se com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história.
(Carlos Drummond de Andrade)
	João joga um palitinho de sorvete na
rua de Teresa que joga uma latinha de
refrigerante na rua de Raimundo que
joga um saquinho plástico na rua de
Joaquim que joga uma garrafinha
velha na rua de Lili.
Lili joga um pedacinho de isopor na
rua de João que joga uma embalagenzinha
de não sei o quê na rua de Teresa que
joga um lencinho de papel na rua de
Raimundo que joga uma tampinha de
refrigerante na rua de Joaquim que joga
um papelzinho de bala na rua de J.Pinto
Fernandes que ainda nem tinha
entrado na história.
Ricardo Azevedo (”Você Diz Que Sabe Muito, Borboleta Sabe Mais”, Fundação Cargill)
TIPOS DE INTERTEXTUALIDADE
PARÁFRASE
O vocábulo “paráfrase” vem do grego “para-phrasis”, que significa a repetição de uma sentença. Esse tipo de relação intertextual consiste em reproduzir um texto ou parte dele explicitamente, com outras palavras, sem que a ideia original seja alterada. Vejam o exemplo a seguir, do poeta Carlos Drummond de Andrade:
 
	Canção do exílio
Gonçalves Dias
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite–
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
	Nova Canção do Exílio
Carlos Drummond de Andrade
Um sabiá
na palmeira, longe.
Estas aves cantam
um outro canto.
O céu cintila
sobre flores úmidas.
Vozes na mata,
e o maior amor.
 Só, na noite,
seria feliz:
um sabiá,
na palmeira, longe. 
Onde é tudo belo
e fantástico,
só, na noite,
seria feliz.
(Um sabiá,na palmeira, longe.)
 Ainda um grito de vida e voltar
para onde é tudo belo
e fantástico:
a palmeira, o sabiá,
o longe.
Note como há uma semelhança com o texto inicial “Canção do exílio”. O texto de Carlos Drummond de Andrade, intitulado como a “Nova canção do exílio”, retoma a ideia presente no texto de Gonçalves Dias, arrumando-a com outras palavras, porém, sem alterar o sentido original. Dessa forma, podemos afirmar que “Nova canção do exílio” é uma paráfrase do texto “Canção do exílio”.
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PARÓDIA
No caso da paródia, o texto original é retomado, de forma que seu sentido passa a ser alterado. Normalmente, a paródia apresenta um tom crítico, muitas vezes, marcado por ironia. Tendo como texto-base – a “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias, analisemos o texto a seguir, do poeta modernista Murilo Mendes:
Repare como a paródia de Murilo Mendes satiriza o texto original de Gonçalves Dias. A intenção não é mais a de exaltação da pátria; o sentido original foi alterado. Dessa forma, podemos dizer que a paródia é a intertextualidade das diferenças.
	Canção do exílio
Murilo Mendes
Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!
“Intertextualidade” diz respeito a uma ideia situada dentro de outra.”

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