Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
02. Umidade Francisco Tarcísio Moraes Mady Engenheiro Florestal, MsC. www.conhecendoamadeira.com UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS Faculdade de Ciências Agrárias Departamento de Ciências Florestais CURSO DE FÍSICA DA MADEIRA Introdução FÍSICA DA MADEIRA 2 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Nós somos sensíveis à umidade. O suor, por exemplo, impede que a temperatura do nosso corpo se eleve. Se o ar possui 90% de umidade relativa, o suor não irá se evaporar. Como resultado, nos sentimos com muito mais calor quando a umidade relativa é alta. Quando a umidade relativa é baixa, nós nos sentimos mais frios, em razão do suor evaporar mais facilmente, resfriando o corpo. Introdução FÍSICA DA MADEIRA 3 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Quanto à madeira, é um material poroso e altamente higroscópico que está sempre condicionado a absorver ou ceder água para o meio ambiente. Quando uma peça de madeira perde água, diminuindo sua umidade, além da perda de massa, ela sofre também uma diminuição em suas dimensões e, conseqüentemente em seu volume. (Rezende, 1997) O estudo do comportamento da madeira e das variações dimensionais decorrentes dos processos de perda e ganho de umidade são essenciais para a sua utilização industrial, assim como na construção civil como na produção de móveis. Apesar da umidade não ser uma característica intrínseca da madeira, seu estudo é indispensável por se tratar de uma propriedade que afeta o seu comportamento, nas fases de processamento, secagem e preservação (Galvão e Jankowsky, 1985). FÍSICA DA MADEIRA 4 A água na atmosfera FÍSICA DA MADEIRA 5 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas A água está presente na atmosfera sob três formas: Calor Latente Absorvido Calor Latente Liberado VAPOR SUBLIMAÇÃO DEPOSIÇÃO Calor Latente Liberado CONDENSAÇÃO ÁGUA Calor Latente Absorvido EVAPORAÇÃO Calor Latente Liberado CONGELAMENTO Calor Latente Absorvido DERRETIMENTO GELO Conceitos de umidade FÍSICA DA MADEIRA 6 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas A Umidade expressa a quantidade de vapor d’água na atmosfera. O teor de vapor d´água na atmosfera varia de 0 a 4% do volume de ar. Isso quer dizer que em uma dada massa de ar, o máximo de vapor d´água que ela pode reter é 4% de seu volume: Caso a umidade corresponda a 0% do volume de ar = AR SECO Caso a umidade esteja entre 0% e 4% do volume de ar = AR ÚMIDO Caso a umidade corresponda a 4% do volume de ar = AR SATURADO Conceitos de umidade FÍSICA DA MADEIRA 7 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas A umidade varia desde 0 % no ar seco e frio das regiões árticas até de 4 a 5% por volume nas regiões quentes próximas ao Equador. Umidade relativa FÍSICA DA MADEIRA 8 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas A umidade relativa é a razão entre a quantidade de vapor d’água presente no ar comparada com a quantidade de vapor d’água que o ar comporta. Umidade Relativa é a máxima quantidade de vapor d’água que pode ser mantida no ar. Depende da pressão de saturação do vapor, que depende da TEMPERATURA. Quanto maior a temperatura do ar maior sua capacidade em reter vapor d`água. Assim, ao longo do dia com o aumento da temperatura do ar maior a razão de mistura do ar e portanto mais distante da saturação. Umidade relativa FÍSICA DA MADEIRA 9 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Assim, considerando a Umidade Relativa, o ar quente consegue manter muito mais vapor do que ar frio. O ar com T = 20º.C mantém até 3 vezes mais vapor d’água que ar com T= 0º.C. Exemplo: se o ar contém a metade do vapor que poderia conter, então a UR é de 50% . Quando a UR é de 100 %, o ar contém a maior quantidade de vapor possível e é dito ar saturado de vapor d’água. Mudanças na UR podem acontecer em razão da evaporação de superfícies expostas. É um processo lento, porque as moléculas de água devem se difundir da superfície para a camada de ar acima. FÍSICA DA MADEIRA 10 Difusão da água contida na madeira para o ar ambiente: primeiro evapora a água nas camadas mais superficiais. A água que está no interior da amostra vai então se difundir para as camadas superficiais , onde o potencial hídrico é menor e também vai evaporar até atingir a umidade de equilíbrio. Umidade relativa FÍSICA DA MADEIRA 11 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Por definição, umidade relativa é a razão entre a razão de Mistura real (w) e a razão de Mistura de saturação (ws): UR = (w/ws).100 Importante: a UR indica o quão próximo o ar está da saturação, ao invés de indicar a real quantidade de vapor d’água no ar. Para ilustrar, considere que a 25° C, ws = 20 g/kg. Se o ar contém 10 g/kg num dia com 25° C, UR = 50%. Quando o ar está saturado, UR = 100%. Umidade relativa FÍSICA DA MADEIRA 12 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas TEMPERATURA (° C) g de H20/kg de ar seco -40 0,1 -30 0,3 -20 0,75 -10 2,0 0 3,5 5 5,0 10 7,0 15 10,0 20 14,0 25 20,0 30 26,5 35 35,0 40 47,0 Razões de mistura de saturação – ws (ao nível do mar). Umidade relativa FÍSICA DA MADEIRA 13 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Se vapor d’água é adicionado ou subtraído do ar, sua UR mudará, se a temperatura permanecer constante. Temperatura 25º. C 25º. C 25º. C Quantidade de vapor d’água 5 g/Kg 10 g/Kg 20 g/Kg Capacidade 20 g/Kg 20 g/Kg 20 g/Kg Umidade Relativa 5/20 = 25% 10/20 = 50% 20/20 = 100% Se o conteúdo de vapor d’água permanecer constante, um decréscimo na temperatura aumentará a UR e um aumento na temperatura causa uma diminuição na UR. Temperatura 20º. C 10º. C 0º. C Quantidade de vapor d’água 3,5 g/Kg 3,5 g/Kg 3,5 g/Kg Capacidade 14 g/Kg 7 g/Kg 3,5 g/Kg Umidade Relativa 3,5/14 = 25% 3,5/7 = 50% 3,5/3,5 = 100% FÍSICA DA MADEIRA 14 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas A água nas plantas As plantas estão continuamente absorvendo e perdendo água. A medida que necessitam captar o dióxido de carbono da atmosfera, expondo seus estômatos, sofrem com a evaporação de líquidos. Em um dia de sol, quente e seco, uma folha renovará até 100% de sua água em apenas uma hora (Taiz e Zeiger, 2004). Essa perda de água é chamada de transpiração. O calor proveniente do sol é dissipado através deste fenômeno da transpiração. A transpiração é um componente importante da regulação térmica das plantas. FÍSICA DA MADEIRA 15 Movimentação da água no xilema A água que sai do solo em direção às folhas se movimenta no corpo do vegetal através de diversas estruturas, como parede celular, membranas, espaços aerados, entre outros. Em algumas espécies essa movimentação de água forma gigantescas colunas, num fenômeno colossal. Tome-se como exemplo o Eucalyptus regnans, que chega a atingir 130 metros ou as Sequoia sempervirens em torno de 120 metros. Estas alturas equivalem a edifícios de 40 andares. Além do fato simples de subir, é necessário ainda compensar o atrito causado pelas paredes irregulares das células e a força gravitacional que tende a atrair fortemente uma massa tão grande água em direção ao solo. Imaginar como a água sai do solo e atravessa esta extensão sem uma força motriz de bombeamento sempre intrigou os cientistas. Prof. Francisco TarcísioMoraes Mady Universidade Federal do Amazonas Movimentação da água no xilema FÍSICA DA MADEIRA 16 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Nas árvores o xilema constitui-se na maior porção da rota de transporte de água, chegando a representar mais de 99% desse percurso. O xilema é caracterizado por dois tipos de células condutoras: elementos de vaso (angiospermas, em um grupo de gymnospermas chamado gnetales e em algumas raras pteridófitas) e traqueídeos (gymospermas, em algumas angiopermas e em pteridófitas). A medida que se desenvolvem, as células do xilema tornam-se ocas, desprovidas de organelas e membranas, resultando em tubos lignificados com baixa resistência a passagem de líquidos. A água nas gymnospermas FÍSICA DA MADEIRA 17 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Os traqueídeos são células alongadas, imperfuradas nas extremidades, com pontoações areoladas em suas paredes laterais, pareadas e comuns com as células vizinhas. A água preenche a cavidade celular do traqueídeo e passa para as células adjacentes e assim subsequentemente. Esta passagem se dá pelas pontoações, que são formadas por uma rede de microfibrilas denominada margo e em cujo centro se concentra um espessamento circular chamado toro. FÍSICA DA MADEIRA 18 Traqueídeos: imperfurados, alongados e com pontoações. Detalhe da paridade dos traqueídeos e das pontoações Toro e margo Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas A água nas angiospermas FÍSICA DA MADEIRA 19 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Os elementos de vaso são células mais curtas e mais largas que os traqueídeos, perfuradas nas extremidades, que se unem pela placa de perfuração formando longos tubos chamados vasos. Por causa de sua extremidade perfurada, os vasos oferecem baixa resistência e tornam- se eficientes no transporte de água. FÍSICA DA MADEIRA 20 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Elementos de vaso e placa de perfuração. Transporte de água na madeira FÍSICA DA MADEIRA 21 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas O que basicamente faz a água ser transportada do solo até a copa das árvores são as forças de coesão-tensão e adesão. As tensões necessárias para puxar a água pelo xilema são o resultado da evaporação de água das folhas. A água existente no topo da planta desenvolve uma grande tensão (pressão hidrostática negativa), a qual puxa a água para cima pelo xilema. A forte coesão entre as moléculas de água cria uma coluna contínua no caule até as raízes. Estas, por sua vez, também sofrem a perda de potencial hídrico, o que aumenta sua capacidade em retirar água do solo. FÍSICA DA MADEIRA 22 h tt p :/ /w w w .f lic kr .c o m /p h o to s/ b u lli sh 1 9 7 4 /5 6 4 9 4 3 82 4/ si ze s/ l/ A água percorre um longo caminho após ser absorvida pela raíz até chegar a copa. O xilema apresenta características específicas para permitir o arraste da água do solo até as folhas mais altas da copa, dispondo unicamente como força propulsora a diferença de potencial hídrico. Água Transporte de água na madeira FÍSICA DA MADEIRA 23 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Essas grandes tensões poderiam causar o colapso das células de madeira caso estas fossem maleáveis ou de paredes fracas. A parede secundária espessa e os espessamentos na camada S3 são adaptações naturais que tornam as células do xilema resistentes a tensão. Portanto, o gradiente de potencial hídrico é a força motriz do movimento contínuo da água ao longo do solo-planta-atmosfera (Raven et al, 2001). Esta teoria é também conhecida como tensão-adesão-coesão, devido à forte adesão que se forma entre as moléculas de água e a parede das células condutoras do xilema. A força de adesão na superfície interna dos vasos e traqueídeos é forte o suficiente para sustentar a coluna de água que sobe contra a gravidade. Influência da umidade nas características da madeira FÍSICA DA MADEIRA 24 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas O teor de água da madeira influi, acentuadamente, nas suas propriedades físico- mecânicas. A resistência da madeira, de uma maneira geral, decresce com o aumento da umidade. É o que ocorre, por exemplo, com a resistência à compressão da madeira de peroba (Aspidosperma peroba), que a 0% de umidade é equivalente a 1250 Kgf/cm2, decrescendo para cerca de 620 kgf/cm2 a 30% de umidade (dados do IPT). A resistência elétrica da madeira também é inversamente proporcional ao seu teor de água, sendo que, de 30% até 0% de umidade, a resistência aumenta cerca de 1 milhão de vezes. A variação do teor de umidade ocasiona alteração nas dimensões da madeira. Esse fenômeno é denominado de retração e inchamento higroscópico, porque as alterações volumétricas ocorrem como conseqüência de variações no teor de água higroscópica. Influência da umidade nas características da madeira FÍSICA DA MADEIRA 25 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas A umidade da madeira influi ainda no seu tratamento com fluidos, curvamento, resistência ao ataque de fungos xilófagos, colagem, fabricação de compensados, aglomerados e processamento mecânico. Para exemplificar, abaixo de 20% de umidade espera-se que a madeira permaneça imune ao ataque dos fungos xilófagos. Seria necessária uma certa quantidade de água capilar no lume das células para favorecer o desenvolvimento de fungos que ocasionam o apodrecimento da madeira. O curvamento da madeira tem melhores possibilidades com umidades de 18% a 20%. Uma umidade maior facilita o curvamento, mas ocasiona o aparecimento de rachaduras devido a redução na resistência da madeira. As lâminas que compõem os compensados devem estar a um mesmo teor de umidade por ocasião da colagem, para evitar tensões que levariam a empenamentos. De uma forma geral, os produtos industrializados da madeira devem ser condicionados a umidades próximas aquelas que deverão alcançar quando em uso. Determinação da umidade FÍSICA DA MADEIRA 26 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Expressões para cálculo da umidade da madeira A umidade da madeira (u) é calculada com relação entre o peso da água (Pa) que ela contém e o peso da madeira seca em estufa a 103o C até um valor constante (Ps). U=Pa/Ps ou u=[(Pu-Ps)/Ps].100 Determinação da umidade FÍSICA DA MADEIRA 27 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Método de secagem em estufa a 103º C O método baseia-se na utilização das fórmulas já vistas, cujos valores são obtidos com o auxílio de estufas dotadas de circulação de ar forçada a termostato, que permitam regular e manter a temperatura entre 101º C e 105º C e balança, possibilitando pesagens com aproximação de 0,1 g. O peso seco é utilizado como referência por ser um valor reprodutível. Por peso seco deve-se entender o peso da amostra da madeira submetida à secagem em estufa, a temperaturas entre 101º C e 105º C, ate que sucessivas pesagens revelem um valor constante. Determinação da umidade FÍSICA DA MADEIRA 28 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Nas determinações de umidade, não se deve utilizar amostras retiradas nas extremidades das peças de madeira porque estas tendem a apresentar menor teor de umidade devido ao gradiente estabelecido durante o processode secagem. Deve-se utilizar amostras localizadas a mais de 30 cm das extremidades das peças. 30cm 30cm Determinação da umidade FÍSICA DA MADEIRA 29 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas É esse um dos métodos mais precisos, mas o que requer maior período de tempo. Não é recomendável a sua utilização para determinar a umidade de madeiras contendo compostos voláteis. Nessas condições, o método de destilação ou o método de titulação de Karl Fisher deve ser preferido. Nota: A titulação de Karl Fischer é um método altamente bem-sucedido usado no mundo todo para determinar o conteúdo de água de uma grande variedade de substâncias em uma variedade de concentrações. A significância é ressaltada pela sua inclusão em grandes farmacopéias e outros exigências oficiais, como ASTM. O método é rápido, seguro e confiável, independente do estado de agregação, tipo de amostra e presença de componentes voláteis. Baseia-se na determinação iodométrica da água que é removida da madeira por destilação. Determinação da umidade FÍSICA DA MADEIRA 30 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Medidores elétricos Os medidores elétricos são aparelhos de grande utilidade pela forma imediata como determinam a umidade na madeira. Características Dentre os medidores elétricos, os mais populares são os de resistência elétrica. São baseados na resistência oferecida pela madeira à passagem de corrente elétrica, que varia inversamente com a umidade. As características da variação da resistência elétrica da madeira com a umidade são reveladas na figura 1, que mostra, também a influencia da temperatura no fenômeno, indicando a necessidade de correções para temperaturas diferentes daquela para a qual o medidor foi calibrado. Determinação da umidade FÍSICA DA MADEIRA 31 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Fig. 1 – Ilustrando a variação na resistência elétrica da madeira em função do teor de umidade e da temperatura (T). FÍSICA DA MADEIRA 32 Determinação da umidade FÍSICA DA MADEIRA 33 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Os medidores dão resultados menos acurados que o método da estufa, porém o teor de umidade pode ser determinado de forma imediata. Normalmente, a escala dos medidores oscila de 7 a 25% de umidade, porque acima da USA a variação da resistência com o teor de água não é tão acentuada, como mostra a figura 2. Por essa razão, dentre outras, os medidores são usados na faixa de umidade mencionada, que é aquela importante quando se trabalha com a madeira. Determinação da umidade FÍSICA DA MADEIRA 34 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Fig. 2 – Características da resistência da madeira em função do teor de umidade, acima e abaixo da USA. Determinação da umidade FÍSICA DA MADEIRA 35 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas As agulhas devem ser cravadas paralelamente à direção das fibras porque, dependendo da espécie da madeira (Stamm 1960) a resistividade pode ser duas ou três vezes maior na direção normal às fibras. Siau (1971) analisa esse fenômeno em termos da influência das características anatômicas da madeira. Para melhores estimativas da umidade de uma peça de madeira, as determinações devem ser efetuadas pelo menos 30 cm afastadas das extremidades. Determinação da umidade FÍSICA DA MADEIRA 36 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Nas determinações em que se utilizam agulhas cravadas na madeira, é oportuno recordar que existe um gradiente de umidade nas peças. Entretanto, os determinadores já vêm dotados de agulhas com comprimento calculado para fornecer um valor correspondente à média para toda a peça. De acordo com Stamm (1964), a avaliação com os determinadores de resistência elétrica fornecem leituras com precisão correspondente a ± 1%, dentro da faixa de 7 a 25% de umidade, desde que eles sejam mantidos em boas condições de conservação e usados cuidadosamente, com as necessárias correções para temperaturas e espécies. Determinação da umidade FÍSICA DA MADEIRA 37 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Fatores que influenciam a precisão das determinações com medidores elétricos Alguns dos fatores que fazem variar os resultados das leituras dos medidores, como a direção da grã e o gradiente de umidade, já foram discutidos. Serão, a seguir, estudados os efeitos da espécie e da temperatura. Espécie – a influência da espécie é atribuída à quantidade de substâncias minerais da madeira que atuariam como eletrólitos. Os determinadores elétricos são calibrados para uma determinada espécie a certa temperatura. Normalmente, os aparelhos norte-americanos são calibrados para a madeira de Douglas-fir (Pseudotsuga menziesii) à temperatura de 70º F (21,1º C). Os fabricantes fornecem, com os aparelhos, as correções que devem ser efetuadas para outras espécies. Determinação da umidade FÍSICA DA MADEIRA 38 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Temperatura – a resistência elétrica varia inversamente com a temperatura como mostra a figura 1. Esse relacionamento pode ser verificado na figura 3, que mostra as curvas de correção para temperatura, baseadas numa calibração a 20º C. Para exemplificar, considere-se uma temperatura da madeira igual a 36º C, com o medidor indicando 16% de umidade. Efetuando-se a correção com o auxilio da figura 3, obter-se-á a umidade real de 18% (slide seguinte). Resta mencionar que a presença de preservativos ou adesivos conduzem a leituras de umidade alteradas. Por exemplo, a umidade dos compensados avaliada com medidores é maior que as obtidas em estufa a 103º C. Determinação da umidade FÍSICA DA MADEIRA 39 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Fig. 3 – Curvas de correção em função da temperatura, para determinadores de umidade do tipo resistência, fabricados pela Keet Eletric Laboratory. Determinação da umidade FÍSICA DA MADEIRA 40 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Outros métodos disponíveis para a determinação do teor de umidade na madeira: Método higrométrico Consiste em introduzir um higrômetro em um orifício aberto na madeira, o qual é em seguida selado. Ocorrerá o equilíbrio entre a umidade da madeira e a do ar contido no orifício, que será correspondente à UE da madeira. Método da radiação nuclear O método utiliza um gerador de nêutrons de alta velocidade, os quais são dirigidos para a madeira. Parte dos nêutrons tem a sua velocidade diminuída pelos hidrogênios das moléculas de água, e a sua contagem é feita por um detector. A densidade é calculada de forma semelhante usando, porém, um detector de raios gama. A radiação refletida através do material, é inversamente proporcional a sua densidade. Os dados dos dois detectores combinados fornecem o teor de umidade da madeira. Pressão do vapor d’água FÍSICA DA MADEIRA 41 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Inicialmente, deve-se considerar que a água ocorre na natureza em três estados ou fases, dependendo das condições de temperatura e pressão. No estudo da secagem da madeira, é importante que se conheça com mais detalhes determinadas propriedades da água nas formas liquida e de vapor. Com o auxílio de um recipiente fechado, parcialmente cheio de água e dotado de dispositivo para medir a pressão de vapor em seu interior, poder-se-ia entender e observar como, a uma temperatura constante, a pressão se elevaà medida que a água evapora até atingir um valor de equilíbrio. Esse valor de equilíbrio corresponde à pressão de saturação de vapor d'água àquela temperatura. Nessas condições, o ar está com a sua umidade absoluta de saturação não tendo capacidade para conter mais umidade, e a água que evaporasse seria condensada nas paredes do recipiente mantendo-se o equilíbrio. Pressão do vapor d’água FÍSICA DA MADEIRA 42 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Entretanto, se a temperatura for aumentada, a pressão de vapor eleva-se até atingir novo equilíbrio. Utilizando-se outras temperaturas, portanto, com um número suficiente de pontos, a curva que corresponde à umidade relativa (UR) = 1 poderia ser reconstituída, a partir da qual as curvas correspondentes a outras UR poderiam ser obtidas. A Fig. 4 ilustra o relacionamento discutido. Fig. 4 – Relação entre a temperatura, a pressão e a umidade relativa (UR) Pressão do vapor d’água FÍSICA DA MADEIRA 43 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Das considerações anteriores, pode-se concluir que a cada temperatura corresponde uma pressão de saturação de vapor d'água e uma umidade absoluta de saturação, as quais são apresentadas na Tabela 1. A umidade absoluta pode ser definida como a massa de vapor d'água por umidade de volume, (Siau 1971), expressa em g/m3, ou como a massa de vapor d'água por unidade de massa do ar seco (Perry & Chilton 1973), expressa em g/g ou g/kg. A elevação da temperatura em um ambiente com certa massa de vapor d'água, isto é, com determinada umidade relativa, é uma das maneiras de aumentar a capacidade do ar em retirar umidade da madeira durante a sua secagem. Pressão do vapor d’água FÍSICA DA MADEIRA 44 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Para exemplificar, considere-se um ambiente com uma temperatura de 20º C e uma umidade relativa de 70%, que corresponde a uma umidade absoluta de 10,33 g de vapor d'água por kg de ar seco. Nessas condições, 1 kg de ar seco pode conter um máximo de 14,75 g de vapor d'água, que é a sua umidade absoluta de saturação, e poderia receber no máximo mais 14,75 - 10,33 =4,42 g de vapor d'água. Elevando-se a temperatura para 40º C, a umidade absoluta de saturação passaria a ser 49,11 g/kg, e o ar teria então condições de receber até 49,11 - 10,33 = 38,78 g de vapor d'água por kg de ar seco. Quando se considera ainda que uma mesma umidade relativa pode ser obtida a diferentes temperaturas, como se discutirá adiante, conclui-se que o estudo da umidade do ar é de grande importância para a secagem racional da madeira. Pressão do vapor d’água FÍSICA DA MADEIRA 45 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Temperatura 0 C Pressão de saturação de vapor d’água, Ps (cm de mercúrio) Umidade absoluta de saturação g/m3 (g/kg) 00 0,46 4,85 3,79 05 0,65 6,80 5,42 10 0,92 9,41 7,66 12 1,05 10,70 8,76 14 1,20 12,10 9,62 16 1,36 13,60 11,41 18 1,55 15,40 12,99 20 1,75 17,30 14,75 22 1,98 19,40 16,74 24 2,24 21,80 18,96 26 2,52 24,40 21,45 30 3,18 30,40 27,31 35 4,22 39,60 36,76 40 5,53 51,10 49,11 50 9,25 83,20 86,78 60 14,94 131,00 153,40 70 23,37 198,00 278,00 80 35,51 294,00 551,90 90 52,58 424,00 1.416,00 Tabela 1 – pressão de saturação de vapor d’água e umidade absoluta de saturação a diferentes temperaturas (para pressão barométrica de 76,0 cm Hg) Pressão do vapor d’água FÍSICA DA MADEIRA 46 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas A quantidade de vapor d'água existente no ar pode ser avaliada em termos de umidade absoluta, já definida anteriormente; porém, uma umidade absoluta de 16,0 g/m3 (ou 13,6 g/kg) pode representar altas umidades a 200C, mas significa um ambiente ressecado a 40°C, uma vez que os valores de saturação variam com a temperatura. Por isso, a umidade do ar é normalmente expressa em termos de umidade relativa (UR), que é definida como a relação percentual entre a pressão parcial de vapor d'água (p) e a sua pressão de saturação (Ps) à mesma temperatura. UR = (P/Ps). 100 Aproximadamente, a umidade relativa pode ser estimada pela relação entre a umidade absoluta (Ua) e a umidade absoluta de saturação (Uas) à mesma temperatura. UR ≈ (Ua/Uas).100 Pressão do vapor d’água FÍSICA DA MADEIRA 47 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Exemplificando, a 24º C tem-se a Pressão de saturação Ps=2,24 cm Hg e Umidade absoluta de saturação Uas=21,8 g/m3 ou 18,96 g/kg. Sendo a pressão parcial de vapor d'água P=1,36 cm Hg e Ua=13,6 g/m3 ou 11,41 g/kg, isso resulta numa umidade relativa de: UR = (P/Ps).100 = (1,36/2,24).100 = 60,7% ou UR ≈ (Ua/Uas).100 ≈ (13,6/21,8).100 ≈ (11,41/18,96).100 ≈ 61% Pressão do vapor d’água FÍSICA DA MADEIRA 48 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas A umidade relativa ambiental é normalmente inferior a 1, indicando que a pressão existente de vapor, ou pressão parcial, é menor que a pressão de saturação (Ps). Quando a temperatura de um ambiente ou de um objeto é abaixada, chega-se a um ponto em que ocorre a condensação de vapor d'água na superfície do objeto. Esse ponto é denominado temperatura do ponto de orvalho. Do ponto de vista físico, com a diminuição da temperatura há o abaixamento da pressão de saturação de vapor (Ps) até o valor em que ela se torna igual à pressão parcial de vapor (p) à temperatura inicial e, portanto, p = Ps Em outras palavras, pode- se dizer que a pressão de saturação à temperatura do ponto de orvalho corresponde à pressão parcial de vapor à temperatura inicial. Nessas condições, tem-se P/Ps = 1 Pressão do vapor d’água FÍSICA DA MADEIRA 49 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas passando a água do estado gasoso para o líquido. Esse fenômeno permite a medição da umidade relativa do ar, com o auxílio da Tabela 1, conforme o seguinte exemplo: sendo a temperatura ambiente 240C e o ponto de orvalho 18oC, qual a umidade relativa? A pressão de saturação a 240C = 2,24 cm Hg e a pressão de saturação a 180C = 1,55 cm Hg. Este último valor corresponde à pressão parcial de vapor a 240C e, portanto, UR = (Ua/Uas).100 = 1,55/2,24 = 69% Relações entre a umidade do ar e a madeira FÍSICA DA MADEIRA 50 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas A madeira, na dependência da umidade relativa, da temperatura do ambiente e do seu próprio teor de umidade, pode retirar ou ceder água ao meio. Essas relações, assim como outras que têm importância para a secagem da madeira, são discutidas a seguir. A higroscopicidade da madeira é basicamente ocasionada pelos grupos hidroxílicos (OH) que nela ocorrem. Eles atraem e retêm moléculas de água através de pontes de hidrogênio. Relações entre a umidade do ar e a madeira FÍSICA DA MADEIRA 51 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Inicialmente, deve-se considerar que os grupos (OH) são polares, isto é, a sua carga elétrica não é uniforme em toda sua estrutura. Existe uma carga negativa ao lado do átomo de oxigênio e uma carga positiva ao lado do átomo de hidrogênio, conforme é ilustrado na Fig. 6. Os compostos polares formam ligações químicas por meio de atração eletrostática entre os átomos. Apesar dessas ligações ou pontes de hidrogênio não serem fortes como as ligações químicas primárias, elas são bastante importantes na madeira. As moléculas de água são também polares, com cargas residuais positivas ao ladodo hidrogênio e negativas ao lado do átomo de oxigênio, conforme é ilustrado na Fig. 6. Relações entre a umidade do ar e a madeira FÍSICA DA MADEIRA 52 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Fig. 6 – Representação esquemática da hidroxila e da molécula de água mostrando a polaridade. Relações entre a umidade do ar e a madeira FÍSICA DA MADEIRA 53 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Das considerações anteriores, pode-se prever o mecanismo responsável pela cristalinidade observada em certas regiões das microfibrilas e o mecanismo da adsorção das moléculas de água pela madeira. A Fig. 7 ilustra as pontes de hidrogênio que ocorrem nas regiões cristalinas das microfibrilas, onde as cargas residuais das hidroxilas nas moléculas de celulose são mutuamente satisfeitas, o que torna aqueles grupos OH inacessíveis às moléculas de água nas condições naturais da madeira. Entretanto, nas regiões amorfas, as moléculas de celulose dispõem de hidroxilas livres para ligarem-se com moléculas de água através das pontes de hidrogênio. De acordo com Stamm (1964), acredita-se que a água penetre livremente nas regiões amorfas da celulose, onde é adsorvida pelos grupos hidroxílicos disponíveis. Na região cristalina, a água é adsorvida somente na superfície, devido à impossibilidade de penetração nos cristais formados pelas moléculas de celulose. Relações entre a umidade do ar e a madeira FÍSICA DA MADEIRA 54 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Fig. 7 – Representação esquemática das pontes de hidrogênio entre as moléculas de celulose da região cristalina das microfibrilas. Umidade de equilíbrio com o ambiente (UE) FÍSICA DA MADEIRA 55 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas A umidade da madeira tende a atingir um teor onde ocorre o equilíbrio dinâmico com a umidade relativa da atmosfera. As curvas da Fig. 8 mostram como a umidade de equilíbrio da madeira é afetada pela umidade relativa do ambiente e pela temperatura. Entretanto, além desses fatores, a UE é variável com a história da exposição, espécie e extrativos; varia entre alburno e cerne de uma mesma espécie e com tensões mecânicas. Umidade de equilíbrio com o ambiente (UE) FÍSICA DA MADEIRA 56 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Fig. 8 – Isotermas higroscópicas mostrando a relação entre a umidade relativa, a umidade de equilíbrio da madeira e a temperatura. Efeito da temperatura FÍSICA DA MADEIRA 57 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas A temperatura diminui a UE da madeira para uma considerada umidade relativa, conforme pode ser verificado na Fig. 8. Este seria um efeito imediato. Assim, a umidade de saturação do ar, obtida por extrapolação da isoterma de adsorção para 100% de UR, decresce inversamente à temperatura. Esses são, entretanto, efeitos temporários ou reversíveis. De acordo com Kollmann & Côtê (1968), ainda não existe uma explicação satisfatória para o fenômeno. Entretanto, Skaar (1972) relaciona o fato à termodinâmica da adsorção. Um efeito permanente de redução da umidade de equilíbrio pode ser obtido pelo aquecimento da madeira a altas temperaturas, em condições que irão causar uma pequena perda da água de constituição. Kollmann et al. (1975) explicam que as hemiceluloses, que são os componentes mais higroscópicos da madeira, são também as mais sujeitas à degradação térmica, transformando-se em furfural e outros açúcares. Esses açúcares tendem a reagir entre si formando polímeros insolúveis em água, reduzindo, dessa forma, a higroscopicidade da madeira. Efeito da temperatura FÍSICA DA MADEIRA 58 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Deve-se ainda considerar que a madeira, seca em secadores, tem uma UE menor do que aquelas secas ao ar, sendo que a UE tende a decrescer à medida que a temperatura usada na secagem aumenta. Skaar (1972) menciona exemplo de Salomon, em que a madeira seca ao ar a 22,20C e 60% de UR revelou uma UE de 9,65%, ao passo que para amostras secas a 750C - 850C a UE foi de 9,11 %, e para temperatura de termômetro seco equivalente a 1080C registrou- se 8,39%. Embora o efeito da temperatura possa causar uma redução permanente na UE e, conseqüentemente, reduzir as retrações e as expansões da madeira, também podem ocorrer efeitos indesejáveis em algumas das suas propriedades físico-mecânicas, especialmente na resistência à abrasão. Efeito da história da exposição FÍSICA DA MADEIRA 59 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas As isotermas da Fig. 9 ilustram como a maneira pela qual ocorreu a exposição influi na UE alcançada pela madeira exposta a diversas umidades relativas. Inicialmente, a madeira verde foi submetida à secagem pela exposição a umidades relativas decrescentes até obter-se uma UE correspondente a 0%. Obtém-se, assim, uma curva de dessorção inicial. A colocação da amostra sob as mesmas condições anteriores, porém na ordem crescente da UR, dá origem a valores de UE que geram a curva de adsorção, situada mais inferiormente. Finalmente, a curva da segunda dessorção, obtida por meio de UR iguais às anteriores na ordem decrescente, situa-se em posição intermediária. Efeito da história da exposição FÍSICA DA MADEIRA 60 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Fig. 9- Isotermas higroscópicas para madeira de mogno, mostrando a ocorrência da histerese (adaptado de Spalt 1958; e Wangaard & Granados 1967). Efeito da história da exposição FÍSICA DA MADEIRA 61 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas As curvas correspondentes à adsorção e segunda dessorção são reproduzíveis, isto é, um novo ciclo adsorção/dessorção daria resultados semelhantes aos obtidos anteriormente. Entretanto, a curva correspondente à primeira secagem não seria reproduzível. Kollmann & Côtê (1968), baseados em Stam & Harris, discutem o fenômeno. A diferença entre as UE, para uma mesma UR, é denominada histerese. Verifica-se, portanto, que a DE depende do sentido por meio do qual ela foi alcançada. A mais provável causa desse fenômeno seria o rearranjamento das moléculas de celulose e lignina durante a secagem inicial, quando as hidroxilas seriam deslocadas para uma menor distância entre si, estabelecendo pontes de hidrogênio e deixariam, portanto, de estar disponíveis para atrair e reter moléculas de água. Na adsorção, uma parte dessas hidroxilas continuaria a satisfazer-se mutuamente e, conseqüentemente, menor número de locais de adsorção estaria disponível. Apesar de essa ser uma explicação antiga, é ainda a mais aceita. Efeito da história da exposição FÍSICA DA MADEIRA 62 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Skaar (1972) define o coeficiente de histerese (A/D) como a relação das UE para a adsorção e a dessorção a uma umidade relativa considerada. O mesmo autor considerava valores de 0,8 a 0,9 como representativos do fenômeno para as madeiras em geral. O número de etapas através do qual a UE foi alcançada é outro exemplo de como a maneira pela qual se deu a exposição pode influir nos valores de umidade obtidos. A UE tende a decrescer com o aumento do número de etapas, conforme ilustra a Fig. 10. A UE segundo uma adsorção é maior quando uma amostra seca é exposta diretamente a uma UR de 88% do que uma exposição ã mesma UR através de uma série de etapas intermediárias de adsorção. Efeito da história da exposição FÍSICA DA MADEIRA 63 Prof. FranciscoTarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Fig. 10 – Relação entre a umidade de equilíbrio e o número de etapas utilizadas para alcançá-la, em um processo de adsorção de 0% a 88% de umidade relativa (adaptado de Skaar 1972) Efeito da espécie da madeira e extrativos FÍSICA DA MADEIRA 64 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas As isotermas variam de espécie para espécie. Essas diferenças são atribuídas às diferentes proporções em que os constituintes (celulose, hemicelulose e lignina, dentre outros) entram para formar a madeira das diferentes espécies e as possíveis interrelações entre eles nas paredes celulares. A Fig. 11, representando isotermas de adsorção para diversos componentes da madeira, permite entender as razões do efeito em discussão. Efeito da espécie da madeira e extrativos FÍSICA DA MADEIRA 65 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Fig. 11 – Isoterma higroscópica de adsorção para madeira de Eucalyptus regnans e seus componentes (dados de Christhensen e Kelsey, apresentados por Stamm 1964) Efeito da espécie da madeira e extrativos FÍSICA DA MADEIRA 66 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Christhensen & Kelsey, citados por Skaar (1972), trabalhando com E. regnans, estimaram que a celulose contribui com 47%, as hemiceluloses com 27% e a lignina com 16% da capacidade total adsortiva de água pela madeira. Entretanto, Skaar (1972) salienta que a curva correspondente à capacidade adsortiva da madeira pode não corresponder necessariamente à somatória dos seus constituintes, devido aos efeitos provenientes das técnicas usadas na separação e extração dos compostos e também devido às possíveis interrelações entre os constituintes. Efeito da espécie da madeira e extrativos FÍSICA DA MADEIRA 67 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas A presença de extrativos na madeira também contribui para reduzir a sua higroscopicidade. J ankowsky & Galvão (1979) discutem a influência dos extrativos das madeiras de mogno, pinho-do-paraná e Eucalyptus citriodora em função de variações na temperatura e na umidade relativa. Embora seja bastante difundido o conceito de que espécies ricas em extrativos possuem baixa higroscopicidade, Wangaard & Granados (1967) já haviam mostrado que, para umidades relativas baixas e intermediárias, esse conceito não é válido, o que foi comprovado por Jankowsky (1979). Efeito Barkas FÍSICA DA MADEIRA 68 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Barkas, citado por Skaar (1972), mostrou que a plasticidade da madeira influi na sua UE. A teoria prevê um abaixamento da UE em relação às condições normais quando a madeira é submetida à compressão (por exemplo, impedida, com anéis de aço, de expandir-se durante a adsorção de água). O fenômeno ocorre em sentido contrário quando a madeira é submetida à tração, isto é, a UE aumenta. Umidade de saturação do ar FÍSICA DA MADEIRA 69 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas A umidade de saturação ao ar (USA) corresponde à umidade da madeira em que toda a água de capilaridade se evaporou, tendo permanecido apenas a água de adesão ou higroscópica saturando as paredes celulares. O ponto de saturação ao ar é caracterizado por ser um ponto de referência, a partir do qual alterações bruscas ocorrem nas características da madeira. Dessa forma, a maioria das resistências mecânicas aumenta com a evaporação da água higroscópica. O inchamento e a retração somente ocorrem abaixo da USA, havendo estabilidade dimensional acima desse ponto. Baseado nesse comportamento da madeira, a USA pode ser determinada indiretamente, como é ilustrado nas Fig. 12 e 13. A USA pode ser também determinada por extrapolação das isotermas higroscópicas de adsorção para a UR de 100%. Umidade de saturação do ar FÍSICA DA MADEIRA 70 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Fig. 12 – Característica da relação entre a condutividade elétrica e a umidade da madeira. O ponto de tangência entre a curva e a parte linear da relação corresponde à USA. Umidade de saturação do ar FÍSICA DA MADEIRA 71 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Fig. 13 – Retração volumétrica (Rv) da madeira de Pinus oocarpa em função de sua umidade (U), possibilitando a determinação da USA (adaptado de Aguiar 1980) Umidade de saturação do ar FÍSICA DA MADEIRA 72 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas De uma maneira geral, a USA está situada entre 25% e 32% de umidade. Stamm (1964) apresenta uma tabela onde a USA de Sitka Spruce é calculada por seis diferentes métodos, cujos resultados apresentam uma boa concordância entre si. Instabilidade dimensional da madeira: retração e inchamento FÍSICA DA MADEIRA 73 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas É fato conhecido que a madeira se movimenta ou trabalha, isto é, retrai ou incha de acordo com a umidade relativa ambiental. As inúmeras implicações de ordem prática do fenômeno fazem o seu estudo de grande importância. Espécies podem ser vetadas em utilizações onde a estabilidade dimensional seja fator importante. Por outro lado, o estudo das características da movimentação da madeira tem permitido o aproveitamento de espécies menos estáveis, para obter produtos de alta estabilidade como compensados. Características da variação dimensional da madeira FÍSICA DA MADEIRA 74 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas De uma maneira geral, à medida que a madeira perde água ela se retrai, ao passo que o inchamento caracteriza a adsorção. Praticamente, toda a movimentação ocorre entre a umidade de saturação do ar e 0% de umidade. Isso significa que as variações dimensionais correspondem à dessorção ou adsorção da água higroscópica localizada nas paredes celulares. As fig. 14 e 15 mostram as características dessa variação de dimensões quando a madeira está perdendo ou ganhando água. O estudo dessas figuras permite verificar que a magnitude da variação depende da direção estrutural considerada na madeira. Observa-se também que a relação entre a variação dimensional e a umidade pode ser considerada linear ate os valores próximos à umidade de saturação ao ar. Características da variação dimensional da madeira FÍSICA DA MADEIRA 75 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Fig. 14 – Característica da retração da madeira (volumétrica e nas direções longitudinal, radial e tangencial) em função da umidade. Características da variação dimensional da madeira FÍSICA DA MADEIRA 76 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Fig. 15 – Característica do inchamento da madeira (volumetrico e nas direções longitudinal, radial e tangencial) em função da umidade. Determinação da instabilidade FÍSICA DA MADEIRA 77 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas A variação dimensional em qualquer das três direções estruturais da madeira é calculada como percentagem da variação em relação à dimensão inicial. Assim, a retração dimensional é calculada em relação às dimensões verdes e o inchamento com base nas dimensões secas, de acordo com as expressões que seguem. Retração = [(Dimensão verde – Dimensão seca)/Dimensão verde] . 100 Inchamento = [(Dimensão verde – Dimensão seca)/Dimensão seca] . 100 A variação volumétrica pode ser obtida a partir do volume dos corpos de prova secos emestufa, secos ao ar e verdes. Entretanto, essa variação pode ser estimada diretamente dos valores das variações transversais e longitudinais como demonstrado a seguir. Determinação da instabilidade FÍSICA DA MADEIRA 78 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas Volume verde (Vv) = rtl Volume seco (V0) = r0t0l0 Retração volumétrica (RV) = [(Vv-V0)/Vv].100 Determinação da instabilidade FÍSICA DA MADEIRA 79 Prof. Francisco Tarcísio Moraes Mady Universidade Federal do Amazonas FÍSICA DA MADEIRA 80 FÍSICA DA MADEIRA 81 Fim da parte 1 . Obrigado.
Compartilhar