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dissidentes ou marginais, mas sua característica essencial consiste em que sua relação delinqüencial, subversiva ou revolucionária com a ordem dominante os torna indesejáveis, ameaçadores ou francamente perigosos para o instituído-organizado. Reciprocamente, a clandestinidade costuma ser condição de possibilidade de existência para idéias ou segmentos sociais frente às forças e recursos repressivos ou eliminatórios que o sistema no qual atuam pode mobilizar contra eles. CLASSE INSTlTUCIONAL: a Sociopsicanálise de G. Mendel designa o estatuto do conjunto de agentes que são igualmente responsáveis por uma etapa ou um nível dentro do processo de produção de um produto ou serviço. Tal participação fica evidenciada quando a classe institucional se retira do trabalho, interrompendo o curso do processo produtivo em um 140 ▲ ponto determinado. As classes institucionais de uma organização* são despossuídas da parte do poder* que lhes corresponde pela classe suprajacente e despossuem, por sua vez, à classe subjacente. A classe institucional é o segmento organizacional indicado como objeto de intervenção sociopsicanalítica e não se deve misturar seus integrantes com os menlbros de outros segmentos. CO-GESTAO: dá-se este nome a um tipo de gestão organizacional na qual diferentes segmentos – por exemplo, de um estabelecimento – cuja posição formal no organograma implica hierarquias e poderes diversos e, portanto, relações de subordinação em última instância, elaboram um pacto ou acordo de trabalho ou administração conjunto para realizar uma tarefa, sem mnunciar às categorias antes mencionadas. COLABORACIONISMO: costuma-se denominar assim as atitudes e comportamentos de setores oprimidos, explorados e mistificados que prestam subserviência, apoio ou cumplicidade às forças ou t'ntidades que os subordinam ou submetem. COMUNIDADE: este temo é usado com uma grande variedade de sentidos nas ciências naturais e humanas. Em geral refere-se a um conjunto de indivíduos (pequeno, médio ou grande) que está vinculado por algum traço, característica ou atividade compartilhada. Esta peculiaridade pode ser de espécie, gênero, classe, categoria, sexo, idade, raça, lugar, tempo, valores etc. O importante é que atribui uma singularidade e/ou identidade, assumida ou não pelos integrantes que, de uma forma ou de outra, lhes confere uma certa coesão e solidariedade. Para a Sociologia Clássica, é fundamental que essa solidariedade seja orgânica (organizada, diversifica da, hierarquizada e articulada), e não apenas mecânica. J. P. Sartre distingue uma associação serial ou aglutinada da resultante de uma fraternidade do terror, e esta de uma em processo de institucionalização que se vai fazendo a si mesmo. Para o lnstitucionalismo, é essencial que as unificações e totalizações das comunidades sejam invenções provisórias e mutantes, subordinadas às forças instituintes* e organizantes'" durante o curso da institucionalização. CONFLITO: entendendo por conflito a oposição e luta dos contrários (dito em um sentido muito amplo), para algumas tendências do Institucionalismo a contradição é a fonte de todos os transtomos e, ao mesmo tempo, o único motor da mudança nos sujeitos, organizações*, movimentos, sociedades* e civilizações. Todas as forças, estruturas, instâncias e mecanismos que compõem a realidade biossocial-libidinal funcionam de forma conflitiva, e da cristalização ou da resolução de sua dialética * depende o destino produtivo, reprodutivo ou antiprodutivo (ver Produção*, 141 ▲ Reprodução* e Antiprodução*) dos processos históricos. Essa formulação recolhe, entre tantas outras origens teóricas, Os princípios e fundamentos da Psicanálise e do Materialismo Histórico e Dialético, até incluir certas raízes nietzschianas e existencialistas do pensamento institucionalista. Os conflitos entre instituinte* – instituído*, centro-periferia, exploradores-explorados, dominadores-dominados são apenas alguns exemplos da série interminável que se pode imaginar. Contudo, para outras correntes, os conflitos, sua paralisação dilemática ou sua resolução dialética não são do nível determinante do real, porque a substância da realidade é a pura afirmação produtivo-desejante. CÓPIAS: dentro do que interessa ao Institucionalismo, as cópias (segundo o pensamento platônico) são as almas que, havendo tido, nos tempos míticos, uma proximidade, imagem e semelhança com as Idéias Puras* ou Modelos, perderam a semelhança e só conservaram a imagem, esquecendo se dessa "queda". A maiêutica socrática consistiria em um procedimento pelo qual, mediante o raciocínio, se conseguiria que as almas recuperassem a memória, e com ela o acesso às Idéias Puras. O método platônico da clivisão em gêneros, espécies (etec.) seria uma forma de seleção para cliferenciar as "boas" das "más" cópias, sendo que as primeiras estariam aptas para recuperar sua semelhança com as Idéias Puras. As cópias são sinônimos de "representações". Para a interpretação institucionalista desse pensamento, ver Idéias puras*. -CRACIAS: ARISTOCRACIA, BUROCRACIA, LOGOCRAClA, SEXOCRACIA, TEOCRACIA, TECNOCRACIA: optamos por agrupar e tratar em conjunto estes termos porque, com a finalidade de explicitar seu interesse para o Institucionalismo, esta abordagem permitirá resumir a exposição. O sufixo cracia significa governo de ou poder de: aristo (elite supostamente integrada pelos melhores membros de uma sociedade, cuja condição de superioridade está dada por uma linhagem hereditária); buro (categoria ou classe que se ocupa da administração, com freqüência supostamente "científica" das organizações); tecno (categoria ou classe que detém e exercita um saber habitualmente de cunho científico); pluto (alude a classes ou grupos economicamente opulentos); logo (alude aos possuidores da razão como saber discursivo); sexo (alude a uma definição sexual em detrimento das outras);e teo (alude aos supostos representantes da clivindade ou à divindade mesma, "encarnada" em um indivíduo ou grupo). Aqui vale acrescentar a palavra "nepotismo", em que nepo, em sentido restrito, alude aos filhos naturais dos Papas, eufemisticamente denominados "sobrinhos". Em sua acepção ampla, refere-se à designação de parentes de um governante para cargos oficiais. Para o Institucionalismo, que postula o autogoverno dos coletivos (sistema que só admite lideranças provisórias baseadas no afeto, prestígio e 142 ▲ exemplaridade), nenhuma dessas condições e seus respectivos governos são aceitáveis, configurando vícios de condução que são, por sua vez, causa e efeito da impossibilidade ou incapacidade para uma democracia au togestiva. CRISE: em sua origem grega e segundo os campos de atividade nos quais era empregada, a palavra krisis significava: interpretação (por exemplo, dos sonhos), seleção (por exemplo, das vítimas de um sacrifício), juízo (por exemplo, procedimento para chegar a um veredicto), momento crucial das vicissitudes ou do metabolé (por exemplo, cena de apogeu numa tragédia), fase de definição,