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do Movimento Inslitucionalista, além de insistirem na crítica global desses efeitos, pretendem resgatar os valores instituintes* e organizantes*, em resumo, revolucionários, das contribuições científicas. Mas, por outra parte, também visa produzir uma abordagem intersticial que dê conta do não-sabido de cada ciência (enquanto as outras estão ausentes nela), assim como seu conjunto teórico-técnico carece do aporte de outras formas do saber e do fazer (particularmente do saber e fazer dos coletivos populares de usuários e consumidores). EQUIPAMENTO: conglomerados complexos, montagens de diversas materialidades (mais especialmente de recursos técnicos), prevalentemente a serviço da exploração, dominação e mistificação. Os equipamentos podem pertencer ao Estado* ou às entidades dominantes da sociedade civil (empresas, corporações). Podem ser de grande porte (por exemplo, os instrumentos da comunicação de massas) ou de pequena dimensão (por exemplo, arquivos, impressoras, relógios de ponto etc.). 150 ▲ ESQUlZOANÁLISE: soma não totalizável de saberes e afazeres praticáveis por qualquer agente, em qualquer tempo ou lugar. Inventada por Gilles Deleuze e Félix Guattari e exposta pela primeira vez de maneira singularmente sistemática no livro "O Anti-Edipo" (1972), essa corrente não é enquadrável nos gêneros de pensamento e ação até agora conhecidos. Qualquer tentativa de resumir essa amplíssima leitura da realidade natural-histórico-social-libidinal e tecnológica seria estéril. Mencionaremos apenas que, para essa concepção, tais materialidades são imanentes (quer dizer, consubstanciais ou inseparáveis uma da outra), e mais ainda, estão" precedidas" por um campo de materialidades "puras", puras diferenças intensivas. A essência do real é a "produção desejante", ou seja, a incessante metamorfose geradora de diferenças inovadoras que se originam ao acaso*. Nesse sentido, o real é constante e integralmente produzido, podendo-se distinguir nele uma produção de produção, uma de "registro-controle" e uma de "consumo-voluptuosidade". O processo produtivo de produção pode ser pensado segundo a lógica que caracteriza o funcionamento da esquizofrenia (não como patologia, mas como ser do devir), a microfísica e a biologia molecular. Trata-se de um funcionamento absolutamente livre, infinito e imprevisível que consiste em conexões e cortes de fluxos energéticos entre unidades intensivas denominadas "máquinas desejantes", cada uma das quais é uma pura e irrepetível singularidade*. As máquinas desejantes dispõem-se e agenciam sobre uma matriz de gradientes energéticos denominada "corpo sem órgãos". Mas a produção de produção de novidades é capturada pelos estratos, territórios e equipamentos da produção de controle-registro que tende à repetição do mesmo, colocada a serviço de uma entidade centralizadora, totalizante, concentradora e acumulativa, que varia segundo o modo de organização histórica da produção de que se trate ("Corpo Cheio da Terra", "do Déspota" ou do "Capital-Dinheiro"). Na atividade de controle-registro predominam a reprodução e a anti-produção. Uma dessas formas é o que a Psicanálise chama Pulsão de Morte. Segundo a entendemos, a Esquizoanálise compreende toda e qualquer atividade intelectual ou prática que procura liberar o processo produtivo -desejante-revolucionário, demolindo as constrições da parafernália de controle-registro. Esse conjunto não-totalizável de práxis singulares configura a "Micropolítica", em cujo âmbito as inúmeras revoluções são feitas não apenas por necessidade ou dever, mas pelo desejo. Entendida como procedimento para pensar e compreender o real, a Esqllizoanálise compõe-se de tarefas negativas de crítica e desconexão de valores dominantes e outras positivas, destinadas a propiciar o livre fluir da .produção e do desejo na vida biológica, psíquica, comunicacional, política, ecológica etc. A Esquizoanálise também é definida com outras denominações, tais como "Pragmática Universal", "Análise Nômade" etc. 151 ▲ ESTADO: Conglomerado complexo de instituídos*-organizados*-estabelecidos, agente e instrumento de persuasão, repressão, coerção e até eliminação social a serviço prevalentemente das classes, grupos e idiossincrasias dominantes. Opera principalmente através da captura e recuperação* de singularidades e forças produtivas de toda natureza, reinvestindo-as na lógica do sistema ou suprimindo-as. Seu principal instrumento é o Direito, corpo estabelecido de leis* que regulam as relações sociais a favor dos setores privilegiados, apresentando-se aparentemente como expressão da vontade majoritária. Existem muitos diferentes tipos de Estado, mas o Estado moderno precisa de reconhecimento e legitimação, que obtém por meio de sua concordância com a Lei. O Estado não se compõe apenas de grandes organismos, mas também de microagências instaladas no corpo biológico e no psiquismo (Estado contínuo; micropoderes do Estado). Não é que o Institucionalismo negue a existência de forças e processos instituintes organizantes dentro do Estado, mas privilegia a denúncia de seus aspectos de reprodução e antiprodução. ESTRATÉGIA: trata-se da decisão quanto à forma da intervenção. É uma sistematização das metas a serem alcançadas (cuja máxima expressão seriam a auto-análise* e autogestão*), e o planejamento da progressão das manobras, a previsão de curso, as alternativas viáveis, os avanços esperados, os possíveis retrocessos ete. EXPLORAÇÃO: processo de expropriação das forças, meios e resultados dos processos produtivos de toda índole, efetuado pelos setores dominantes sobre os produtores. A exploração é possibilitada e reforçada pelos mecanismos de dominação* e mistificação*. FANTASMA: para a Psicanálise, o fantasma é uma cena latente cujo sentido ou script pode ser decifrado a partir do discurso associativo de um sujeito e que apresenta o desejo inconsciente como imaginariamente "realizado". Os psicanalistas grupalistas encontraram formações fantasmáticas "de grupo" que "realizam" um desejo inconsciente grupal que já não se reduz ao de nenhum dos sujeitos que o integram. Os sociopsicanalistas decifram e interpretam esses fantasmas na classe institucional (que é o grupo organizacional com o qual preferentemente trabalham) e confrontam essa representação imaginária com as condições reais de trabalho, para que a classe recupere a margem real de poder que sua posição objetiva lhe possibilita. A Esquizoanálise sustenta uma complexa teoria do fantasma que o vincula com o sentido e o acontecimento e o distingue do sujeito, do estado de coisas às quais este se relaciona, e ainda do significado do que diz. O fantasma (que sempre é grupal) é uma realidade sui generis em si mesma. 152 ▲ FUNÇÃO: denominação que se dá aos propósitos, procedimentos e objetivos dos instituídos*-organizados*- estabelecidos, seus agentes* e práticas*. A função está sempre, prevalentemente, a serviço das diversas formas históricas da exploração*, dominação* e mistificação*.