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1. Psicologia e psicologia jurídica

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PSICOLOGIA E PSICOLOGIA JURÍDICA
1. NATUREZA x SOCIEDADE
	Segundo estudos sociológicos, antropológicos e psicológicos, não há uma natureza social no animal humano. Portanto, para se fazer humano o homem necessita ser educado a aprender e ser social, a fim de conviver em harmonia nas regras sociais. Para tanto, vai se adaptando, se regulando e se modificando ao transformar a natureza animal em animal social para atender a seus fins de prazer e felicidade.
	Em estado de coletividade social o homem cede de sua liberdade incondicional em favor de uma segurança regulada pela lei moral, ética e formal. Para viver assim, exclui a primazia da lei do mais forte em benefício da lei democrática de direitos iguais e para todos. Com isto, sai da condição de animal irracional para a noção de solidariedade com todos os seus pares. Passa a se relacionar pela razão e menos pela emoção. Sai da ignorância e entra num estado de esclarecimento de si e do mundo que o rodeia. Considera e reconhece o direito do outro em detrimento de si mesmo, desenvolve a noção de “eu” e “outro” como pertencentes da mesma realidade. Abre mão do prazer individual em função da realidade social. Perde o agir pelo instinto animal e age movido por uma pulsão que regula o desejo.
	O ser humano regula a sua possível liberdade pelas leis que o rege e isto não é fácil, pois a realidade nem sempre é satisfatória ou agradável. E ter de se adaptar e aceitá-la moldando a liberdade condicionada às restrições sociais geralmente provoca condutas e comportamentos desajustados, ocasionado alguns problemas em que o Direito será convocado a regular. Assim:
uns se adequam, se ajustam, se enquadram constantemente, porém não sem incômodos ou angústias, desencadeando sintomas de estrutura na neurose, fantasiando outra realidade mais satisfatória;
outros aceitam as leis, as entendem mas sempre tentam burlá-las ou subvertê-las a seu favor, manipulando a realidade em relação ao seu desejo, constituindo-se na estrutura da perversão e podem desencadear distúrbios tanto sociais quanto sexuais;
uns se estruturam de maneira a não se enquadrar nesta lógica “normal”, por isso estarão excluídos da lei e, ao não aceitarem esta realidade repressora do desejo, vão delirar e alucinar outra realidade, se apresentando na estrutura da psicose.
	Este é o campo da Psicologia. Embora o Direito classifique e regule a convivência social, alia-se à Psicologia que explica as formas de o sujeito se constituir socialmente e porque ele se desvia.
2. HISTÓRIA DA PSICOLOGIA
2.1. ANTIGUIDADE CLÁSSICA (século IV a.C.)
	A história do pensamento humano tem um momento áureo na Antiguidade entre os gregos, particularmente no período 700 a.C. até a dominação romana, às vésperas do cristianismo.
	A história da Psicologia tem por volta de dois milênios e se inicia com os gregos. Alguns homens como Sócrates, Platão e Aristóteles dedicaram-se a compreender o espírito empreendedor do ser humano. A filosofia começou a especular o homem e sua interioridade.
	Entre os gregos surge a primeira tentativa de sistematizar a psicologia. O termo psicologia vem do grego (psyché = alma, mente; logos = razão). Então, por psicologia entendemos a compreensão da psique. A psique era concebida como parte imaterial do ser humano e envolvia pensamento, sentimentos de amor e ódio, emoção, desejo, sensação e percepção.
	Sócrates (469-399 a.C.) dá consistência à psicologia. Ele se preocupava com os limites que separam o homem dos animais. A principal característica humana era a razão, que era definida como peculiaridade do homem ou como essência do humano. A razão permite ao homem sobrepor-se ao instinto animal.
	Platão (427-347 a.C.), discípulo de Sócrates procurou definir um lugar para a razão no corpo. Definiu esse lugar como sendo a cabeça, onde se encontrava a alma do homem. A medula seria a ligação da alma e do corpo. Ele entendia a alma como separada do corpo. Com a morte, o corpo-matéria desaparecia e a alma ficava livre para ocupar outro corpo.
	Aristóteles (384-322 a.C.) inovou ao postular que o corpo e a alma não poderiam ser dissociados. A psique seria o princípio ativo da vida. Tudo que cresce, se reproduz e se alimenta possui a sua psique-alma. Vegetais, animais e homens teriam alma.
Vegetais – alma vegetativa: alimentação e reprodução.
Animais – alma vegetativa e sensitiva: alimentação, reprodução, percepção e movimento.
Homem – alma vegetativa, sensitiva e racional: além das funções de alimentação, reprodução, percepção e movimento tem também a função pensante.
2.2. PSICOLOGIA NO IMPÉRIO ROMANO
	No Império Romano surge e desenvolve-se o cristianismo. A psicologia, antes matéria da filosofia, passa a ser relacionada ao conhecimento religioso.
	Santo Agostinho (354-430 d.C.), inspirado em Platão, fazia a cisão entre alma e corpo. A alma era a sede da razão e comprovava uma manifestação divina no homem. A alma era imortal porque ligava o homem a Deus e também era a sede do pensamento. A igreja passa a se preocupar com sua compreensão.
	São Tomás de Aquino vive numa época em que nascia o protestantismo. Ele buscou em Aristóteles a distinção entre essência e existência. O homem na sua essência busca a perfeição através de sua existência. Só Deus seria capaz de reunir a essência e a existência igualmente. A busca da perfeição pelo homem seria a busca de Deus. Utiliza-se de argumentos racionais para justificar os dogmas da igreja, garantindo o monopólio dela no estudo do psiquismo.
2.3. PSICOLOGIA NO ILUMINISMO
	Na época do iluminismo ocorreram vários eventos importantes. Descoberta de novas terras (América), o caminho para as Índias, rota do Pacífico, acúmulo de riqueza das nações européias etc. Começa nova organização econômica e social. Ocorre a valorização do homem.
	Na ciência filosófica, René Descartes (1596-1659) postula a separação entre mente e corpo. O homem possui uma substância material e uma substância pensante. O corpo sem espírito é máquina, só tendo noção que existe porque pensa. Esse dualismo permitiu o estudo da anatomia no homem morto, possibilitando o avanço da medicina e da fisiologia, que contribuíram em muito com a psicologia.
2.4. ORIGEM DA PSICOLOGIA CIENTÍFICA
	No século XIX o capitalismo trouxe o processo de industrialização, no qual a ciência deveria dar respostas e soluções práticas. Hegel postula a importância da história para a compreensão do homem. Darwin postula a teoria do evolucionismo. A noção de verdade passa a necessitar do aval da ciência. Auguste Comte, positivista, postula maior rigor científico na construção do conhecimento nas ciências humanas. Para tal, propõe o método das ciências naturais, baseado na física.
	Em meados do século XIX a psicologia, que era estudada pelos filósofos, passa a ser estudada pela fisiologia e neurofisiologia. Realizavam-se formulações sobre o sistema nervoso central; o pensamento, percepções e sentimentos eram produtos desse sistema. Para conhecer o psiquismo tinha que se conhecer o cérebro.
2.5. ALGUMAS TEORIAS DA PSICOLOGIA (século XX)
Comportamento – John Watson inaugura a teoria em 1913. Definiu o fato psicológico de modo concreto a partir da noção de comportamento. Dedicou-se ao estudo do comportamento na relação que este mantém com o meio. Chegou-se aos conceitos de estímulo e resposta. Ênfase na modulação do comportamento através de reforços positivos para emissão de comportamentos desejáveis e punições para os não aceitáveis. Visa a aprendizagem da disciplina e da obediência.
Existencial-Humanismo – fundamentado na filosofia, tendo como foco o fenômeno que se apresenta. Tem como precursores os filósofos Heidegger, Husserl, Carl Rogers, Paul Sartre e Nietzsche. Seu enfoque é na “pessoa” e no “aqui e agora”. Sua ênfase é no estímulo da autoestima e nas emoções. Atua sobre a consciência e sua intenção, pois parte do princípio que o “eu” é um ser no mundo, para o mundo e com o mundo.
Psicanálise – Sigmund Freud, fundador da teoria, recupera para a psicologia a importânciada afetividade e postula o inconsciente como objeto de estudo, quebrando a tradição da psicologia como ciência da consciência e da razão. A ênfase é nas vivências passadas e presentes que controlam e desenvolvem a personalidade. Através da análise das experiências recalcadas no inconsciente, o sujeito se livra de sintomas indesejáveis e organiza seu comportamento social em harmonia com seus desejos libidinais.
2.6. O QUE É PSICOLOGIA?
	É uma ciência que compreende, pesquisa, classifica, analisa e orienta a realidade psíquica NORMAL e PSICOPATOLÓGICA, por entender que todo comportamento humano é movido por impulsos de necessidade, demanda e desejo, ligados ao consciente e inconsciente, comportamentos estes que mantêm saudáveis ou não as sensações e as percepções: atenção; pensamento; raciocínio; memória; afetividade; humor; juízo; nível de consciência; noção de tempo e espaço; entre outras. É uma ciência que atua sobre a SUBJETIVIDADE.
	A subjetividade é a síntese singular e individual que cada um de nós constrói conforme vai se desenvolvendo e vivenciando as experiências da vida social e cultural. De um lado é única porque diferencia e gera uma identidade e, de outro, iguala a todos, na medida em que os elementos que a constituem são experienciados numa mesma cultura. Esta síntese em um sujeito – a subjetividade – é o mundo das ideias, das sensações, das percepções, dos significados e das emoções construído internamente pelo sujeito a partir de suas relações familiares e sociais, de suas vivências e de sua constituição biológica.
3. PSICOLOGIA JURÍDICA
É a associação da psicologia com o Direito, também chamada de Psicologia Forense ou Psicologia Aplicada ao Direito.
Abrange análise de: credibilidade de testemunhas; culpabilidade das pessoas acusadas; capacidade e responsabilidade civil; guarda de menores; conflitos familiares; exame de sanidade mental; ressocialização de pessoas presas; entre outros.
Adota fontes, métodos e instrumentos psicológicos.
A investigação psicológica pode auxiliar a conhecer melhor a extensão do problema psíquico e melhorar a qualidade do exercício do Direito.
Ao Direito importa julgar os propósitos que geram a ação e a conduta e, à Psicologia Jurídica, examinar cientificamente os porquês dos atos psíquicos envolvidos judicialmente.
	A Psicologia Jurídica atua através de acompanhamentos psicológicos em várias áreas no âmbito judicial e emite laudos e pareceres que servem de instrumentos para que o juiz possa aplicar sua sentença. A Psicologia Jurídica é uma área que relaciona diretamente os psicólogos com o sistema de justiça, preferindo o adjetivo jurídico por ser mais abrangente e por referir-se aos preceitos concernentes ao Direito, já que o termo forense parece ser mais relacionado ao foro judicial e aos tribunais.
	Por meio da contribuição da Psicologia Jurídica pode-se esclarecer aos operadores do Direito os casos de imputabilidade, inimputabilidade, interdição, dano psíquico, disputa de guarda de filhos, entre outros. Ainda na avaliação psicológica são investigados aspectos relativos à saúde ou doença mental, capacidade ou incapacidade cognitiva e emocional, efeitos da pena, da medida de segurança e das decisões judiciais.
	Uma das atividades da Psicologia Jurídica é a perícia psicológica, que se define como um exame feito por um especialista de determinado assunto, com o intuito de auxiliar os operadores do Direito no esclarecimento de questões específicas que contribuam em suas decisões e sentenças. A função do perito é a de ser interlocutor entre os conhecimentos atuais do campo de sua especialidade e a situação legislativa que normatiza a sociedade onde atua. No caso da perícia judicial, o psicólogo designado tem a possibilidade de atuar como: perito oficial, nomeado pelo juiz; representante de uma instituição pública; e assistente técnico, designado por uma das partes litigantes.
	Na avaliação psicológica no contexto jurídico, a prática de atuação do psicólogo perito utiliza conceitos e práticas já construídos da psicologia clínica e de outras áreas da psicologia para esclarecimento e investigação dos quesitos necessários ou determinados no processo.
	Entre os diversos ramos que a Psicologia Jurídica pode atuar estão as varas de família, varas de infância e juventude, varas de execução penal, presídios, hospitais de custódia, conselhos tutelares, APACs, unidades sócio-educativas e pesquisas da criminalidade e da vitimologia. Todo o campo do Direito, ou grande parte dele, está impregnado de componentes psicológicos que justificam a colaboração da psicologia com o propósito de obtenção da eficácia jurídica.
	A “verdade” que o psicólogo jurídico intenciona desvendar nunca é inteira e sim parcial, subjetiva, idiossincrática. Essa intenção da busca pela verdade parece refletir uma “pressão” para que o psicólogo participe do conflito expresso no discurso jurídico. Contudo, o conflito pertence ao Direito, que assume posturas de defesa ou de acusação dos que circulam pela máquina jurídica. Esse discurso do Direito – objetivo e racional – difere do discurso da Psicologia Jurídica, que só pode responder com o discurso do ser humano, em seus aspectos conscientes e inconscientes. O discurso da psicologia, como uma ciência auxiliar ao Direito, precisa ser complementar devendo, portanto, marcar a diferença e jamais julgar. O profissional de psicologia tem uma função determinada junto às instituições de Direito e não tem o papel de julgar.
	Através dessa perspectiva, podemos analisar a disputa pela guarda dos filhos e as denúncias de violência sexual contra crianças como motivos pelos quais as pessoas recorrem ao judiciário. Percebemos que ainda é tendência do sistema judiciário creditar à mãe o direito de manter a guarda após a separação. Se o pai desejar a guarda, tem que solicitá-la e, diante deste pedido, passará a ser avaliado por psicólogos ou assistentes sociais “desconfiados” em sua capacidade de ser um pai competente nos cuidados com os filhos.
	Porém, já é possível notar que os genitores não guardiões têm desejado participar mais ativamente da vida dos filhos, questionando as imposições do sistema judiciário quanto ao regime de visitas a que são submetidos. O desejo desses pais tem gerado mudanças em nossa sociedade e na cultura de gênero de que as mães foram feitas para cuidar dos filhos e da casa e os pais do trabalho e do dinheiro, provocando inquietação e novas propostas para o conceito de parentalidade, casamento, divórcio, guarda dos filhos e paternidade. É nesse sentido que a Psicologia Jurídica e o Direito devem se manter unidos para analisar a situação e, amparados em suas teorias e práticas, liberar essa nova geração de pais do antigo enquadre, onde os filhos são das mães e os pais apenas os provedores e “visitantes”, para estabelecer novos conceitos de família e relacionamento entre pais e filhos.
	A urgência para rever os laços de parentalidade tem implicações em um fenômeno que está surgindo no contexto de divórcio e guarda, onde registros de que falsas denúncias intencionais de abuso sexual de pais contra seus próprios filhos surgem como um método para se impedir a visitação e o pedido de guarda. As falsas denúncias de abuso sexual como um ato deliberado de acusação, seja motivado por vingança, interesses financeiros, distúrbios de caráter ou outros motivos têm, por consequência mais imediata, o afastamento das crianças até que o genitor acusado prove sua inocência. Em razão do afastamento da criança com o propósito de salvaguardá-la do contato com o suposto abusador, o pai falsamente acusado teria seu direito à convivência familiar, normalmente garantido pela Constituição Federal (art. 227), pelo Código Civil (art. 1.634, II) e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (arts. 3° e 4°) transgredido. Para esses pais, o Estado Democrático de Direito passaria a não existir, tendo sua cidadania e sua dignidade vilipendiadas perante todos.
	O trabalho do psicólogo, nestes casos, pode auxiliar e nortear a atuação de advogados,promotores e juízes, através da constatação dos indicadores da situação familiar, reconhecendo a necessidade de uma ação em conjunto com os demais profissionais na construção de um saber que auxilie a expressão da justiça, permitindo ao juiz aplicar a lei.
	A Psicologia Jurídica é hoje tão fundamental para a Justiça como são as evidências materiais para a criminalística. Sem ela, o embasamento jurídico fica mais frágil, podendo produzir uma decisão judicial capaz de provocar rupturas emocionais profundas nas pessoas envolvidas.
	Com as consolidações democráticas, o povo brasileiro passou a ter direitos coletivos e individuais nunca antes experimentados na história do país. Isto exigiu dos poderes democráticos, como o Judiciário, a busca de instrumentos que garantissem a cidadania prescrita pela Constituição. Assegurar os princípios constitucionais gerou demandas que abriram espaços para vários campos do conhecimento, inclusive o da psicologia. O Poder Judiciário, por exemplo, tem recorrido cada vez mais à psicologia para contextualizar e explicar situações que auxiliem o juiz durante o processo e no momento de estabelecer uma sentença. A demanda por este tipo de trabalho é muito grande e envolve questões sociais de diversas complexidades, como problemas decorrentes da transformação da família enquanto instituição, transformação que vem produzindo atualmente desajustes, como o abandono de crianças, a violência infringida ao menor, disputas pela guarda de menores e adoção.
	A Psicologia Jurídica lida com questões onde há o rompimento do tecido social e que são tratadas no sistema da justiça. E quanto mais qualificada a Psicologia Jurídica, mais o profissional do Direito poderá assegurar ao indivíduo seus direitos.
4. AS INTERFACES DA PSICOLOGIA COM O DIREITO
Ambos atuam sobe o mesmo objeto: o homem e suas relações.
Ambos possuem o mesmo instrumento de análise: a sociedade.
O Direito regula a normatização dos comportamentos sociais.
A Psicologia compreende e explica a interrelação de fatores determinantes dos comportamentos patológicos, ou que escapam à norma.
Psicologia e o Crime – trata do fenômeno delinquencial; intervenção junto aos Juizados Especiais Criminais; perícia; exame de sanidade mental; trabalho com egressos; penas alternativas (penas de prestação de serviço à comunidade). Dedica-se ao estudo do comportamento criminoso. Clinicamente, tenta construir o percurso de vida do indivíduo criminoso e todos os processos psicológicos que o possam ter conduzido à criminalidade, contribuindo para verificar as suas causas.
Vitimologia – ramo da criminologia referente à psicologia da vitimação, que estuda a personalidade das vítimas de crimes ou delitos e seu estatuto psicossocial; dá atenção e orientação à vítima; faz atendimentos a vítimas de violência doméstica; auxilia na criação de medidas preventivas.
Psicologia e o Sistema Penitenciário – o psicólogo atua numa equipe multiprofissional como técnico de ressocilização do sujeito preso; intervenção clínica junto ao detento; atenção aos familiares do preso; atenção aos agentes de segurança quanto ao nível de estresse, quando necessário.
Psicologia e as questões da infância e juventude – avaliação psicológica na Vara de Infância e Juventude; Conselho Tutelar; violência contra criança e adolescente; adoção; intervenção junto às crianças abrigadas; prática infratora de adolescentes; infração e medidas sócio-educativas; prevenção e atendimento terapêutico. A partir do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, o menor passa a ser considerado sujeito de direitos. Muda-se o enfoque de menor de rua para menor em situação de risco social.
Psicologia e Direito de Família – atua na Vara de Família em questões como a separação, paternidade, regulamentação e acompanhamento de visitas, perícia, disputa de guarda e destituição do poder familiar. Neste setor, o psicólogo, designado pelo juiz, atua como perito oficial. Entretanto, pode surgir a figura do assistente técnico, contratado por uma das partes, cuja principal função é acompanhar o trabalho do perito oficial.
	A Psicologia Jurídica é o campo da Psicologia Científica que atua na interface com o Direito através da avaliação, prevenção e intervenção na busca do bem-estar do comportamento humano. A atuação do psicólogo junto ao judiciário auxilia a construção da justiça por meio de avaliações psicológicas de envolvidos nos mais diferentes tipos de litígios, através da realização de perícias, emissão de laudos e pareceres e assessorando famílias envolvidas em disputas judiciais.
	Para o operador do Direito, entender a psicologia humana significa estar mais preparado para o exercício de seu saber e implica em conhecer as muitas demandas que entrelaçam os saberes jurídicos e psicossociais. Tal conhecimento propicia o profissional do Direito a posicionar-se criticamente sobre a relação entre os fundamentos epistemológicos, conceitos básicos e práticas do Direito sobre o sujeito humano. Desse modo, pode valorizar e conhecer os subsídios teóricos e práticos do saber psicológico para uma atuação interdisciplinar entre os saberes jurídicos e psicossociais, além de conhecer os conceitos básicos da psicologia que possam contribuir para o melhor exercício da sua prática jurídica, possibilitando analisar as aplicações psicossociais nos sistemas de justiça penal, cível, familiar, da infância e juventude e prisionais. Destarte, pode perceber e exercer seu papel de operador do Direito como importante transformador social na visibilidade à diversidade psicossocial do ser humano.
5. CONSIDERAÇÕES SOBRE O PROCESSO JUDICIAL
O processo judicial é contraditório, não cooperativo.
O método dos julgamentos é como uma luta.
Os julgamentos vieram substituir as disputas particulares, onde espera-se que cada parte pleiteie sua causa.
O juiz ou o júri decide com base nas provas oferecidas.
As questões são polarizadas.
O advogado é um intermediário.
O perito torna-se um recurso da causa, e age com neutralidade.
O advogado só utilizará o depoimento de um perito ou testemunha se o mesmo fortalecer o interesse do seu cliente.
O advogado da parte contrária pode tentar impugnar a contribuição psicológica.
6. O PSICÓLOGO NO TRIBUNAL
O papel mais comum nos processos judiciais é o de perito, em casos de transtornos mentais e de atrito familiar.
Auxilia o julgador do fato a compreender a prova ou a definir um fato em questão.
O psicólogo pode auxiliar o advogado a preparar-se para lidar com o especialista da parte contrária.
No interrogatório direto o advogado pede ao perito que apresente as bases de sua opinião de forma convincente.
O tribunal pode apresentar seus próprios peritos como testemunhas neutras.
O psicólogo não é obrigado a aceitar uma intimação da corte.
7. PERÍCIA E ASSISTÊNCIA TÉCNICA
	No Direito, a perícia psicológica é considerada como meio de prova. A interface entre Direito e Psicologia fica bastante evidente no direito de família como guarda dos filhos e adoção e no Direito Penal como exame de sanidade mental e capacidade de retorno à sociedade, entre outros.
	A importância da perícia psicológica fundamenta-se na possibilidade de verificar qual a dinâmica familiar e as interações entre os membros daquela família. A análise psicológica realizada pelo processo de psicodiagnóstico (que inclui entrevistas, leitura dos autos, observação, aplicação de testes psicológicos, visita domiciliar ou contato com familiares via telefone, leitura do prontuário de saúde, discussão do caso) tem por objetivo trazer aos autos elementos que auxiliem o magistrado na decisão.
	A atuação dos peritos encontra-se disciplinada nos seguintes artigos do Código de Processo Civil:
Art. 145 - Quando a prova do fato depender de conhecimento técnico ou científico, o juiz será assistido por perito, segundo o disposto no art. 421.
§ 1º Os peritos serão escolhidos entre profissionais de nível universitário, devidamente inscritos no órgão de classe competente, respeitadoo disposto no Capítulo Vl, seção Vll, deste Código.
§ 2º Os peritos comprovarão sua especialidade na matéria sobre que deverão opinar, mediante certidão do órgão profissional em que estiverem inscritos.
§ 3º Nas localidades onde não houver profissionais qualificados que preencham os requisitos dos parágrafos anteriores, a indicação dos peritos será de livre escolha do juiz. 
Art. 146 - O perito tem o dever de cumprir o ofício, no prazo que Ihe assina a lei, empregando toda a sua diligência; pode, todavia, escusar-se do encargo alegando motivo legítimo.
Parágrafo único. A escusa será apresentada dentro de 5 (cinco) dias, contados da intimação ou do impedimento superveniente, sob pena de se reputar renunciado o direito a alegá-la (art. 423).
Art. 147 - O perito que, por dolo ou culpa, prestar informações inverídicas, responderá pelos prejuízos que causar à parte, ficará inabilitado, por 2 (dois) anos, a funcionar em outras perícias e incorrerá na sanção que a lei penal estabelecer.
Art. 421 - O juiz nomeará o perito, fixando de imediato o prazo para a entrega do laudo.
§ 1º Incumbe às partes, dentro em 5 (cinco) dias, contados da intimação do despacho de nomeação do perito:
I - indicar o assistente técnico;
II - apresentar quesitos.
Art. 436 - O juiz não está adstrito ao laudo pericial, podendo formar a sua convicção com outros elementos ou fatos provados nos autos.
	Além do perito, podem atuar no processo o assistente técnico indicado pela parte e o assistente técnico da promotoria. O trabalho realizado pelo assistente técnico reforça o princípio do contraditório, significando que as partes poderão fornecer provas, testemunhas e discutir qualquer etapa da prova conduzida pela perícia.
	A perícia é realizada por técnicos do próprio fórum, como peritos do juízo, e por peritos do Estado, como nos hospitais de custódia e presídios. Há casos em que o juiz pode encaminhar para outros peritos de sua confiança. A perícia pode ser solicitada pelo representante do Ministério Público ou pelos advogados da parte.
(FIORELLI, J. O. Psicologia Jurídica. São Paulo: Atlas, 2009).

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