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Cruzamentos e raças sintéticas em gado de corte

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Gado de Corte
Fábio Luiz Buranelo Toral
Cruzamentos e raças 
sintéticas em gado de corte
Melhoramento genético para seu rebanho
C A P Í T U L O
1
1. Introdução
A cadeia produtiva da carne bovina é constantemente desafiada a melhorar a 
qualidade do produto, seus índices produtivos e sua rentabilidade. Por isso, vá-
rias tecnologias podem ser utilizadas para que a atividade seja sustentável nos 
aspectos econômico, ambiental e social. Entre estas tecnologias, temos aquelas 
relacionadas ao gerenciamento (ferramentas de controle de estoque, treinamen-
to de pessoal, comercialização etc.), à nutrição (intensificação da utilização das 
pastagens, suplementação estratégica etc.), à sanidade do rebanho (vacinações 
e outros mecanismos de prevenção de doenças), ao manejo dos animais (insta-
lações e equipamentos adequados e manejo racional dos animais, por exemplo) 
e ao melhoramento genético do rebanho.
Existem duas ferramentas básicas para o melhoramento genético dos rebanhos: 
a seleção e os sistemas de acasalamentos. A seleção é a escolha dos indivíduos 
que serão pais da próxima geração e deve ser realizada continuamente ao longo 
de todas as gerações. Após a seleção, os casais são formados e os critérios 
considerados na formação dos casais são determinados pelo sistema de acasala-
mento escolhido. Considerando os animais de um rebanho que estejam aptos à 
reprodução, três sistemas de acasalamentos podem ser praticados:
Cruzamentos e raças sintéticas em gado de corte
Melhoramento genético para seu rebanho
14 IEPEC
 » acasalamento ao acaso: qualquer macho tem a mesma chance 
de se acasalar com qualquer fêmea e vice-versa. Essa situação 
acontece quando os reprodutores (machos e fêmeas, independen-
temente de suas composições genéticas) são mantidos em um 
único lote durante a estação de monta;
 » acasalamento de semelhantes: neste tipo de acasalamento, os 
casais são formados com base em suas semelhanças (de ordem fe-
notípica e, ou, genética), de forma que os melhores machos são aca-
salados com as melhores fêmeas e os piores machos são acasalados 
com as piores fêmeas. Quando esta semelhança é de natureza feno-
típica, ela é baseada naquelas características que são medidas nos 
animais, por exemplo: peso, idade ao primeiro parto, conformação 
etc. Quando a semelhança é de ordem genética, ela é baseada na 
composição genética dos animais, ou seja, nos seus valores genéticos 
para aquelas características consideradas. É claro que os animas não 
são agrupados “apenas pelos seus fenótipos” ou “apenas pelo seus 
genótipos” porque, do ponto de vista do melhoramento genético, os 
animais de melhor genótipo também são aqueles de melhores fenó-
tipos, pelo menos numa parcela representativa dos casos. Também é 
importante ressaltar que “piores machos” e “piores fêmeas” referem-
se aos reprodutores que já fazem parte do grupo escolhido para pro-
duzir a próxima geração, sem qualquer relação com a necessidade 
de se escolherem os piores touros e piores vacas para serem pais. 
Na prática, especialmente quando a inseminação artificial é utilizada 
como método de reprodução, este sistema de acasalamento acon-
tece com bastante frequência porque os criadores preferem usar o 
sêmen dos touros com melhor fenótipo (geralmente mais caros) em 
suas melhores vacas (fenotipicamente). Quando a medida de seme-
lhança considerada é de natureza genética, ou seja, os casais são for-
Capítulo 1
Introdução
15O portal do agroconhecimento
mados por animais geneticamente semelhantes, temos um sistema 
de acasalamento chamado endogamia. A endogamia pode ser uma 
opção quando há interesse na formação de grupos de animais homo-
gêneos (familias ou linhagens). Como consequência da endogamia, 
há formação de linhagens divergentes (há homogeneidade dentro 
da linhagem e heterogeneidade entre linhagens) que, dependendo 
do interesse, poderão ser acasaladas posteriormente. Na prática, os 
criadores tendem a evitar a endogamia para reduzir a ocorrência de 
doenças genéticas e principalmente para evitar a redução da perfor-
mance reprodutiva do rebanho;
 » acasalamento de dessemelhantes: nesta situação, os casais são for-
mados com base em suas diferenças, ou seja, o melhor macho será 
acasalado com a pior fêmea e vice-versa. Novamente, esta medida de 
diferença pode ser baseada nos fenótipos ou nos genótipos dos ani-
mais. Este sistema de acasalamento acontece quando uma vaca porta-
dora de um fenótipo indesejável para uma característica (garupa muito 
inclinada ou umbigo muito penduloso, por exemplo) é acasalada com 
um macho portador do fenótipo desejável (garupa menos inclinada 
ou umbigo menos penduloso) para a mesma. Em alguns casos, este 
sistema de acasalamento é conhecido com acasalamento corretivo. Se 
o conceito de diferença genética for levado ao extremo, tem-se o aca-
salamento de indivíduos de espécies diferentes, também chamado de 
hibridação. Se os indivíduos do mesmo casal são de raças, linhagens ou 
grupos genéticos diferentes, tem-se os cruzamentos.
Numa situação comercial, a seleção e os sistemas de acasalamentos devem ser 
utilizados conjuntamente para que ambos contribuam para aumentar a produti-
vidade e a rentabilidade do sistema de produção.
Cruzamentos e raças sintéticas em gado de corte
Melhoramento genético para seu rebanho
16 IEPEC
1.1 Definição
O cruzamento é um dos sistemas de acasalamentos e consiste do acasalamento 
de indivíduos de raças, grupos genéticos ou linhagens diferentes.
1.2 Objetivo
Do ponto de vista econômico, o cruzamento, assim como qualquer outra tecno-
logia aplicada à produção animal, tem por objetivo aumentar a lucratividade e 
garantir a sustentabilidade dos sistemas de produção.
1.3 Vantagens e desvantagens gerais
Considerando os aspectos biológicos, o cruzamento de raças permite formar uma 
base genética ampla para o desenvolvimento de novas raças, combinar carac-
terísticas desejáveis de duas ou mais raças, explorar a complementaridade e a 
heterose (Alencar & Barbosa, 2003). Por outro lado, as exigências nutricionais 
dos animais cruzados podem ser diferentes das exigências dos animais puros em 
função de diferenças de desempenhos, os animais cruzados podem necessitar de 
tratamentos sanitários diferenciados ou podem apresentar problemas de adapta-
ção ao clima tropical e, de modo geral, há necessidade de maior capacidade de 
gerenciamento das atividades nos sistemas de produção que utilizam animais 
de vários grupos genéticos.
As vantagens e desvantagens do cruzamento de raças bovinas dependem muitas 
vezes das condições ambientais (clima, nutrição, sanidade, manejo, gerencia-
mento, etc.) disponíveis para sua aplicação. Então, os aspectos relacionados a 
seguir devem ser vistos com cautela antes de qualquer generalização. 
Capítulo 1
Introdução
17O portal do agroconhecimento
1.3.1 Vantagens
 » O cruzamento de raças permite aumentar a variabilidade genética 
num rebanho para iniciar um processo de seleção ou formar linha-
gens divergentes.
 » Quando não existe um raça já estabelecida com todas as caracte-
rísticas desejáveis para um sistema de produção, é possível utilizar 
o cruzamento para obter o genótipo desejado.
 » A utilização de cruzamentos permite aumentar a eficiência pro-
dutiva de um sistema por meio da utilização racional de raças 
maternas e paternas especializadas. Neste caso, raças maternas 
puras (ou mesmo cruzadas), de tamanho adulto pequeno ou mé-
dio e com pequena exigência de mantença e boas características 
reprodutivas e maternas podem ser acasaladas com machos de 
raças terminais com taxas elevadas de ganho de peso e boas ca-
racterísticas de carcaça.
 » No cruzamentode raças é possível explorar o fenômeno da hetero-
se. Este fenômeno será explicado posteriormente com mais detalhes, 
mas ele consiste basicamente da diferença nas médias dos desem-
penhos da progênie e dos pais, para uma característica específica.
 » A utilização do cruzamento de bovinos de corte é uma manei-
ra rápida e flexível de atender a uma demanda mercadológica 
específica. Por exemplo: se o mercado precisa de carcaças mais 
pesadas, é possível aumentar o peso das carcaças produzidas e 
atender a esta demanda realizando o cruzamento do gado zebu-
íno com uma raça europeia de grande porte (Simental, Limousin, 
Cruzamentos e raças sintéticas em gado de corte
Melhoramento genético para seu rebanho
18 IEPEC
Charolês, etc.); por outro lado, se o mercado precisa de carcaças 
com maior quantidade de gordura, de cobertura e de marmoreio, 
o cruzamento com raças britânicas é uma opção interessante (An-
gus, Hereford etc.).
1.3.2 Desvantagens
 » O crescimento de um animal depende de sua composição ge-
nética e das condições ambientais disponíveis (nutrição, manejo, 
sanidade etc). Animais com diferentes composições genéticas po-
dem possuir potenciais de crescimento e exigências nutricionais 
diferenciados. A implicação prática deste fato é a necessidade de 
condições de criação específicas para cada grupo genético, princi-
palmente para aqueles mais divergentes. Por exemplo: bezerros 
F1, filhos de touros Angus x vacas Nelore ganham mais peso do 
nascimento à desmama do que bezerros Nelore, mas necessi-
tam de maior ingestão de energia metabolizável (Calegare et al., 
2009). Portanto, se o sistema de produção não estiver preparado 
para atender a estas particularidades, a superioridade dos animais 
cruzados pode ficar comprometida.
 » Os animais cruzados são mais susceptíveis às infestações naturais 
de carrapatos (Rhipicephalus (Boophilus) microplus), moscas-dos-
chifres (Haematobia irritans) e bernes (larvas de Dermatobia ho-
minis) do que o gado Nelore (Silva et al., 2010a).
 » Num sistema de produção que utiliza animais cruzados (ciclo com-
pleto), é comum a existência de mais de dois grupo genéticos. Se o 
sistema de cruzamento utilizado for o cruzamento industrial (tam-
bém conhecido como cruzamento terminal simples), uma parte 
Capítulo 1
Introdução
19O portal do agroconhecimento
das vacas será acasalada com touros de raças zebuínas (monta 
natural ou inseminação artificial) para a produção dos animais ze-
buínos de reposição (especialmente fêmeas) e a outra parte será 
acasalada com touros de raças europeias (ou mesmo com outra 
raça zebuína, por meio de monta natural ou inseminação artificial, 
dependendo da raça escolhida) para a produção dos bezerros cru-
zados (F1). Nesse caso, haverá acasalamentos de vacas zebuínas 
com touros zebuínos e produção de bezerros zebuínos e acasala-
mentos de vacas zebuínas com touros europeus e produção de be-
zerros cruzados, ou seja, dois tipos de acasalamentos e dois tipos 
de produtos. Esses produtos possuem potenciais de adaptação e 
de crescimento diferentes e, portanto, precisam ser criados de ma-
neiras diferentes. Agora considere que o produtor tenha interesse 
em explorar a precocidade sexual das fêmeas F1 e resolva aca-
salar estas fêmeas com uma macho de uma terceira raça (cruza-
mento terminal clássico), a raça terminal. Este novo acasalamento 
resultará em produtos “three-cross”, com potenciais de crescimen-
to, de adaptação e exigências nutricionais diferenciadas. O mes-
mo acontecerá com o grupo de vacas F1, que também exigem 
condições de criação diferenciadas em relação aquelas das vacas 
zebuínas. No final das contas, no cruzamento terminal clássico, 
existirão dois grupos genéticos de vacas (zebuínas e F1), três tipos 
de acasalamento (vacas zebuínas x touros zebuínos, vacas zebuí-
nas x touros europeus ou zebuínos de raça diferente e vacas F1 x 
touros terminais) e três grupos de produtos (zebuínos, F1 e three-
cross). Se a empresa rural não estiver organizada de maneira sa-
tisfatória para gerenciar as atividades necessárias (administrativas 
e de manejo), a superioridade do cruzamento pode ser subapro-
veitada e a relação custo x benefício pode se tornar desfavorável. 
Cruzamentos e raças sintéticas em gado de corte
Melhoramento genético para seu rebanho
20 IEPEC
1.4 Heterose
O termo heterose foi proposto em 1914 por um geneticista de plantas americano 
chamado George Harrison Shull (1874 – 1954) (Shull, 1948). De forma objetiva, 
este termo representa a diferença da média de desempenho, para uma carac-
terística qualquer, da progênie cruzada em relação à média das raças parentais, 
ou seja: 
H
x 
= X
Cruzados 
- X
puros
 
Onde: 
 » Hx representa a heterose para a característica X;
 » X
Cruzados
 representa a média da característica X no grupo de ani-
mais cruzados;
 » X
puros
 representa a média da característica X no grupo das raças 
parentais. Da forma apresentada anteriormente, a unidade de me-
dida da heterose é a mesma utilizada na mensuração da carate-
rística X. Se X for o peso, avaliado em kg, a heterose também será 
avaliada em kg. Se X for a idade ao primeiro parto, avaliada em 
dias, a heterose também será avaliada em dias.
Também é possível expressar a heterose em percentual, como uma relação da 
diferença dos grupos cruzados e puros em relação à média das raças parentais:
H
x% 
= x 100%
X
Cruzados 
- X
puros
 
X
puros
 
Capítulo 1
Introdução
21O portal do agroconhecimento
Isso facilita as comparações dos efeitos dos cruzamentos sobre diferentes ca-
racterísticas porque permite a expressão das heteroses observadas para várias 
características em uma única unidade, o percentual. Existem três tipos de heterose, 
definidas das seguintes maneiras por Pereira (2008): 
 » heterose individual: alteração na performance em um animal in-
dividualmente (em relação à média das raças parentais) que não é 
atribuível aos efeitos maternos, ou paternos, ou ainda ligados ao sexo. 
É função das combinações alélicas presentes na geração corrente;
 » heterose materna: refere-se à heterose na população atribuível à 
utilização de fêmeas cruzadas ao invés de puras, (como, por exemplo, 
a produção de leite, melhoria do ambiente pré-natal etc);
 » heterose paterna: refere-se a qualquer vantagem na utilização 
de touros cruzados versus touros puros sobre a performance da 
progênie. Tanto a heterose materna como a paterna são funções 
de combinações alélicas presentes na geração anterior.
Na bovinocultura de corte há mais interesse no aproveitamento das heteroses in-
dividual e materna. Para exemplificar o cálculo da heterose individual, considere 
os dados apresentados na tabela 1.1.
Cruzamentos e raças sintéticas em gado de corte
Melhoramento genético para seu rebanho
22 IEPEC
Tabela 1.1 - Médias ajustadas para o peso de carcaça de novilhos 
(em quilogramas), de acordo com as raças parentais
Raça do pai
Raça da mãe
Charolês Nelore
Charolês 241 251
Nelore 250 208
Fonte: adaptado de Vaz & Restle (2001).
A heterose individual para peso de carcaça (PC) pode ser calculada como:
H 
 
= = 250,5 - 224,5 = 26kg-
251 + 250
2
241 + 208
2
I
PC
H 
 
= x 100% = 11,6%
250,5 + 224,5
224,5
I
PC%
Naturalmente, a heterose pode ser positiva quando a média dos animais cruzados é 
numericamente maior que a média dos animais puros, ou negativa quando acontece 
o contrário. O fato da heterose positiva ser favorável ou desfavorável depende da 
característica em questão. Se o interesse for aumentar a média da característica, é 
desejável que a heterose seja positiva (para alguns pesos, ganhos em peso,rendi-
mento de carcaça e taxas de fertilidade, por exemplo). Se o interesse for reduzir a 
média da característica, é desejável que a heterose seja negativa (idade ao primeiro 
parto, intervalo de partos e conversão alimentar, por exemplo).
A heterose materna pode ser estimada a partir da diferença das médias dos 
desempenhos das progênies de vacas cruzadas e vacas puras. Para estimar este 
tipo de heterose é necessário que alguns grupos genéticos específicos sejam 
produzidos, conforme apresentado na tabela 1.2.
Capítulo 1
Introdução
23O portal do agroconhecimento
Tabela 1.2 - Médias ajustadas para o peso aos 8 meses de idade 
(em quilogramas), de acordo com o as raças parentais.
Raça do pai
Raça da mãe
Charolês Nelore
½ Charolês
+
½ Nelore
Charolês 140 132 157
Nelore 155 114 126
Fonte: adaptado de Pereira et al. (2000).
A heterose materna para peso aos 8 meses de idade (P8) pode ser calculada como:
H 
 
= = 141,5 - 135,25 = 6,25kg-
157 + 126
2
140 + 114 + 132 + 155
2
M
P8
H 
 
= x 100% = 4,6%
141,5 - 135,5
135,5
M
P8%
Se houvesse interesse em calcular a heterose paterna para alguma característica, 
seria necessário delinear um trabalho com a utilização de touros F1. O número 
de trabalhos realizados para cálculo de heterose paterna em bovinos de corte é 
muito pequeno já que este tipo de heterose é pouco explorado nos sistemas de 
cruzamento utilizados no Brasil porque a utilização de touros F1 não é rotineira.
A heterose, quantificada com base nos dados fenotípicos, é o resultado da ação 
gênica não aditiva e pode ser explicada, pelo menos parcialmente, pela existência 
de dominância, sobredominância e epistasia (Pereira, 2008). Em função de ser o 
resultado da ação gênica não aditiva, a heterose geralmente é maior para aque-
las características de menor herdabilidade, que sofrem mais influencia dos efeitos 
genéticos não aditivos e do meio ambiente, como as características de fertilidade, 
sobrevivência e outras relacionadas com a reprodução. Isto pode ser verificado a partir 
Cruzamentos e raças sintéticas em gado de corte
Melhoramento genético para seu rebanho
24 IEPEC
de uma análise dos resultados apresentados nas tabelas 1.3. e 1.4.
Tabela 1.3 - Heteroses individual e materna (em %) para caracterís-
ticas economicamente importantes de bovinos de corte.
Referência Característica
Ra-
ças
Tipo de heterose
Individual Materna
Roso & Fries (2000) Ganho do nascimento à desmama N e A 9,1 15,5
Restle et al. (1999) Peso de bezerras aos 7 meses N e C 13,0 -
Pereira et al. (2000) Peso de bezerros aos 8 meses N e C 12,6 4,6
Pereira et al. (2000) Ganho do nascimento aos 24 meses N e C 22,2 3,1
Restle et al. (1999) Peso de novilhas aos 28 meses N e C 13,5 -
Restle et al. (1999) Peso de novilhas à puberdade N e C 6,1 -
Restle et al. (1999) Idade de novilhas à puberdade N e C -12,9 -
Restle et al. (1999) Percentagem de prenhez N e C 33,3 -
Restle et al. (2005) Produção diária de leite N e C 44,2 -
Raças: A = Angus; C = Charolês; e N = Nelore.
Capítulo 1
Introdução
25O portal do agroconhecimento
Tabela 1.4 - Médias do desempenho de animais zebuínos e cru-
zados (de vários grupos genéticos e sistemas) para características 
economicamente importantes na bovinocultura de corte.
Característica Zebuínos Cruzados Diferença (%)
Peso de carcaça (kg) 225,1 238,6 6,0
Idade de abate (meses) 29,8 25,9 -13,1
Espessura de gordura na carcaça 
(mm) 4,53 3,41 -24,7
Idade das fêmeas à 
puberdade (meses) 31,9 23,0 -27,9
Peso das fêmeas à 
puberdade (kg) 272,8 294,7 8,0
Idade ao primeiro parto (meses) 44,2 39,7 -10,2
Peso ao primeiro parto (kg) 405,0 432,5 6,8
Intervalo de partos (meses) 15,9 15,7 -1,3
Taxa de gestação (%) 66,5 75,4 13,4
Fonte: Adaptado de Barbosa (2010).
De modo geral, a heterose é inversamente proporcional à herdabilidade da ca-
racterística (Pereira, 2008). Portanto, o cruzamento é a ferramenta mais eficiente 
para melhorar aquelas características relacionadas à reprodução e sobrevivência. 
Para aquelas características relacionadas ao crescimento, que geralmente pos-
suem herdabilidades maiores e são menos influenciadas pelos efeitos genéticos 
não aditivos, o processo de seleção é eficiente para promover alterações em 
suas médias.
A heterose também depende das raças envolvidas no cruzamento, como pode 
ser observado na tabela 1.5.
Cruzamentos e raças sintéticas em gado de corte
Melhoramento genético para seu rebanho
26 IEPEC
Tabela 1.5 - Diferenças para ganho em peso do nascimento à 
desmama (GND) e peso à desmama (PD) de bezerros cruzados 
em relação ao Nelore (em %).
Referência
Grupo gené-
tico
GND PD
Cubas et al. (2001) F1 GU x N 5,6 4,6
Cubas et al. (2001) F1 RA x N 22,9 18,5
Cubas et al. (2001) F1 M x N 14,3 14,6
Muniz & Queiroz (1998) F1 AA x N 4,4 4,3
Muniz & Queiroz (1998) F1 B x N 2,4 2,5
Muniz & Queiroz (1998) F1 CA x N 6,1 5,6
Muniz & Queiroz (1998) F1 GE x N 9,0 8,3
Muniz & Queiroz (1998) F1 S x N 7,2 6,6
Raças: AA = Aberdeen Angus; B = Brangus; CA = Canchim; GE = Gelbvieh; 
GU = Guzerá; M = Marchigiana; N = Nelore; RA = Red Angus; e S = Simental.
A heterose é maior quanto maior for a diferença das raças envolvidas. Os dados 
de Cubas et al. (2001) demonstram que as superioridades dos animais F1 Red 
Angus x Nelore e F1 Marchigiana x Nelore, em relação ao Nelore, são maiores 
que a superioridade dos animais F1 Guzerá x Nelore, em relação ao Nelore, para 
as características pré-desmama consideradas (tabela 1.5.). Essa tendência tam-
bém pode ser observada para características pós-desmama, conforme os dados 
apresnetados na tabela 1.6.
Capítulo 1
Introdução
27O portal do agroconhecimento
Tabela 1.6 - Diferenças para ganho médio diário da desmama aos 12 
meses (GMDD12) e peso aos 12 meses (P12) de bezerros cruzados 
em relação ao Nelore (em %).
Grupo genético GMDD12 P12
F1 GU x N 16,2 7,8
F1 RA x N 48,2 26,3
F1 M x N 42,5 21,1
Fonte: Adaptado de Perotto et al. (2001). Raças: GU = Guzerá; M = Marchigiana; N 
= Nelore; e RA = Red Angus.
Em geral, quanto mais divergentes forem as raças, maior será o valor da hetero-
se. Uma explicação para este fato é que à medida que as raças se diferenciam, 
aumenta a proporção de loci fixados com alelos diferentes nas raças parentais 
e maior será o número de loci em heterozigose na progênie resultante do cru-
zamento (Simm, 2000). Então, seria mais viável realizar o cruzamento de raças 
zebuínas com raças europeias do que cruzar raças zebuínas com raças zebuínas 
e raças europeias com raças europeias. Contudo, quando houver limitação de 
ordem nutricional ou ambiental (clima), o cruzamento de raças zebuínas (Nelore 
x Guzerá, Nelore x Tabapuã, Nelore x Brahman, por exemplo) pode ser a única op-
ção viável, já que os cruzamentos de raças zebuínas com raças europeias podem 
resultar em animais com maiores exigências nutricionais e menos adaptados às 
condições de criação.
Em algumas situações, os resultados dos cruzamentos só serão favoráveis se 
as condições nutrionais forem adequadas, conforme apresentado na tabela 1.7.
Cruzamentos e raças sintéticas em gado de corte
Melhoramento genético para seu rebanho
28 IEPEC
Tabela 1.7 - Diferenças para consumo de matéria seca (CMS), ga-
nho médio diário (GMD) e conversão alimentar (CA) dos 11 meses 
ao abate de animais cruzados em relação ao Nelore (em %), de 
acordo com a dieta.
Feno de tanzânia
+
0,6 kg de soja
Feno de tanzânia
+
concentrado
Grupo gené-
tico
CMS GMD CA CMS GMD CA
F1 AA x N 26,5 15,8 5,8 18,9 14,9 3,5
F1 S x N 29,5 26,3 2,6 15,7 20,3 -3,8
Raças: AA = Aberdeen Angus; N = Nelore; e S = Simental.
Fonte: adaptado de Euclides Filho et al.(2001).
Os animais cruzados que receberam a dieta composta por feno de tanzânia e 0,6 
kg de soja consumiram mais matéria seca que os animais Nelore (26,5 a 29,5%), 
mas o ganho médio diário não aumentou na mesma proporção do consumo 
(15,8 a 26,3%), uma vez que as médias das conversões alimentares dos animais 
cruzados foram piores que a conversão alimentar dos animais Nelore (Euclides 
Filho et al., 2001). Se a conversão alimentar for considerada como uma medida 
de eficiência nutricional (quantidade de alimento necessária para o ganho de um 
quilo de peso corporal), pode-se inferir que o ganho médio diário dos animais 
cruzados é mais caro do que o ganho dos animais zebuínos. Por outro lado, 
quando a dieta oferecida foi de melhor qualidade (feno de tanzânia e concen-
trado), os animais F1 Simental x Nelore tiveram maior ingestão de matéria seca 
(15,7%), ganharam mais peso (20,3%) e foram mais eficientes na transformação 
do alimento ingerido em peso corporal (Euclides Filho et al., 2001).
Para os animais criados predominantemente em pastagens, também é importan-
te considerar as características regionais (temperatura, umidade, pluviosidade, 
tipo de solo, intensificação da utilização das pastagens etc.) no planejamento 
Capítulo 1
Introdução
29O portal do agroconhecimento
dos cruzamentos, uma vez que as diferenças entre grupos genéticos dependem 
das regiões de criação (Teixeira et al., 2006). Na prática isto significa que o 
cruzamento recomendado para uma região (ou fazenda) pode não ser a melhor 
opção para outra (região, ou fazenda da mesma região).
O ambiente de criação pode influenciar as heteroses individual e materna e as 
decisões sobre o sistema de cruzamento e sobre as raças utilizadas devem ser 
tomadas mediante uma análise criteriosa dos objetivos e das condições impostas 
pelo sistema de produção.
 
Cruzamentos e raças sintéticas em gado de corte
Melhoramento genético para seu rebanho
30 IEPEC
Material Complementar
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Efeitos de Raça e Heterose na Composição Física da Carcaça 
e na Qualidade da Carne de Novilhos da Primeira Geração de 
Cruzamento entre Charolês e Nelore 
capitulo-1-arquivo-1.pdf
Grupo Genético e Heterose na Produção de Leite de Vacas de 
Corte Submetidas a Diferentes Sistemas de Alimentação 
capitulo-1-arquivo-2.pdf
Efeito de Raça e Heterose para Características de Carcaça de Novilhos 
da Primeira Geração de Cruzamento entre Charolês e Nelore 
capitulo-1-arquivo-3.pdf
Desenvolvimento Ponderal de Bovinos de Corte de Diferentes Grupos 
Genéticos de Charolês X Nelore Inteiros ou Castrados aos Oito Meses 
capitulo-1-arquivo-4.pdf
Efeito de Grupo Genético e Heterose Sobre a Idade e Peso à Puberdade 
e Sobre o Desempenho Reprodutivo de Novilhas de Corte 
capitulo-1-arquivo-5.pdf
www. i e p e c . c om
O Instituto de Estudos Pecuários é um portal que busca 
difundir o agroconhecimento, realizando cursos e palestras 
tanto presenciais quanto online. Mas este não é nosso único 
foco. Com o objetivo principal de levar conhecimento à 
comunidade do agronegócio, disponibilizamos conteúdos 
gratuitos, como notícias, artigos, entrevistas entre outras 
informações e ferramentas para o setor.
Através dos cursos on-line, o IEPEC oferece a oportunidade 
de atualização constante aos participantes, fazendo com 
que atualizem e adquiram novos conhecimentos sem 
ter que gastar com deslocamento ou interromper suas 
atividades profissionais.
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