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aula sobre violencia

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Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência 
Reconhecida, por alguns autores, como um grave problema de saúde pública, a violência na infância é considerada a maior responsável por transtornos afetivos e psiquiátricos: o Transtorno de Estresse Pós-Traumático; o Transtorno de Personalidade Borderline e a depressão no adulto. 
Marco importante na luta e na conquista dos direitos humanos e das políticas públicas é a Constituição Federal (CF), aprovada em 1988, no final de uma década de intensas mobilizações pela (re)democratização da sociedade brasileira.
Os serviços e as ações no campo da proteção social especial guardam relação muito estreita com órgãos do Poder Judiciário, da segurança pública, do Ministério Público e dos Conselhos Tutelares. Exigem atuação interdisciplinar, multiprofissional e especializada que, na maioria dos casos, requer acompanhamento individual e/ou em grupo, e a intervenção, em geral, deve ser conjunta, com outras organizações atuantes na Rede de Proteção Social e no Sistema de Garantia de Direitos. 
Serviços, programas, projetos e ações da proteção social especial de média complexidade devem ser operados, organizados e coordenados pelos Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS) do Sistema Único da Assistência Social (SUAS).
Tornam-se seus destinatários os indivíduos, as famílias e seus membros que se encontram em situação de risco pessoal e/ou social, que estão com os direitos ameaçados e/ou violados pelas mais diversas circunstâncias, sem condições de gerar seu próprio sustento e sobrevivência e que se encontrem com vínculos sociofamiliares fragilizados ou rompidos.
Nos Centros de Referência da Assistência Social (CRAS), de base municipal e territorial, devem ser desenvolvidos serviços, programas, projetos e ações que, articulados com a rede local, garantam a proteção social básica. Os CRAS têm como funções realizar o acolhimento dos indivíduos e de suas famílias e potencializar a convivência familiar e comunitária de acordo com as situações de vulnerabilidade e risco social e pessoal a que estão expostas.
Na definição da violência devemos considerar alguns aspectos, dentre eles:
- a intencionalidade do ato violento;
- o grau de comprometimento físico ou psíquico que decorre do ato. Há autores que propõem distinguir duas forma de violência em família: a leve ou moderada, que designam como “maustratos em família”; e a grave, para a qual reservam a classificação de “violência familiar”. O primeiro tipo englova riscos ou dano físico ou sexual mínimo, enquanto que o segundo abarca injurias físicas graves, traumas psicológicos profundos ou violação sexual.
- o dano que a violência produz na criança. Ocorre que esse dano só pode ser verificado a posteriori, freqüentemente transcorrido algum prazo após o evento violento.
- a importância de reconhecer a violência a partir de sinais e indícios deriva de uma situação singular: todo profissional que se disponha a trabalhar na área deve estar preparado para lidar com um problema que não só não é anunciado como eventualmente pode ser negado, ou escamoteado, pela criança e pela família.
Os sinais que recomendam investigação são:
- Discrepância entre a história relatada e os sintomas observados; divergência entre os diversos relatos; ou dificuldade ou hesitação em prestar as informações solicitadas;
- Demora em buscar atendimento. A experiência indica que, quando o dano é produzido pela violência, os responsáveis relutam em buscar auxilio;
- Historia repetida de acidentes ou evidencias de traumas freqüentes. Crianças m pleno desenvolvimento físico não costuma se acidentar com freqüência;
- Atraso no desenvolvimento que não podem ser explicados por causas orgânicas ou por outras dificuldades específicas;
- Traumas na região genital ou anal podem indicar que a criança sofreu ou vem sofrendo violência sexual;
- Fraturas em crianças menores de 3 anos merecem investigação; não é comum que crianças novas, usualmente pouco expostas a acidentes graves, sofram fraturas importantes.
- Doenças crônicas sem tratamento podem ser indicio de violência se os pais têm como prover o tratamento e se foram devidamente orientados quanto à sua importância;
- Criança fora de rede escolar pode ser indicio de violência;
- Queimaduras extensas, hematomas ou ruptura de órgãos internos são lesões graves que merecem ser investigadas;
- Ausência de contato físico com a criança; atitude distante dos pais ou responsáveis e ausência de resposta ao choro ou a o sofrimento da criança são sinais de comprometimento do vinculo entre pais e filhos, tido como substrato de uma relação pautada na violência. pai, que, nos dias atuais, tem se posicionado de forma mais ativa na criação dos filhos, é um personagem fundamental no desenvolvimento infantil.
Consequências
As conseqüências da violência dependem de um conjunto de circunstancias tais como:
- a própria natureza da violência: uma agressão física produz efeitos específicos diferentes daqueles gerados pela agressão sexual;
- as características individuais da criança à violência: elevada autoestima tende a minimizar os efeitos da violência, por exemplo.
- a natureza da relação entre agressor e vitima. A violência causada por um desconhecido produz menos danos para a criança daquela que é causada por um parente.
- a resposta social a violência sofrida.
- o apoio que a criança recebe do núcleo familiar.
As sequelas deixadas pela violência podem ser evidentes ou imperceptíveis, mais ou menos graves, mas sempre presentes. O grau de severidade dos efeitos da violência varia de acordo com: tipo de violência, idade da criança, duração da situação, grau de violência, diferença de idade entre a pessoa que cometeu a violência e a vítima, importância da relação entre a vítima e o autor da agressão e a ausência de figuras parentais protetoras e de apoio social (nesses casos, o dano psicológico é agravado) e o grau de segredo e de ameaças contra a criança.
Entre as consequências mais comuns, são apontadas: lesões físicas, morte, sentimentos de raiva e medo em relação ao autor de agressão, quadros de dificuldades escolares, dificuldade para confiar em outros adultos, autoritarismo, “morte da alma”, apatia, atitudes antissociais (delinquência), violência doméstica quando adulto, parricídio/matricídio, abuso de drogas, quadros depressivos em variável intensidade e transtornos graves de personalidade (quadros dissociativos, personalidade múltipla, etc.).
Tipos:
- violência física
Pode ser definida como atos violentos com uso da força física de forma intencional, não acidental, praticada por pais, responsáveis , familiares ou pessoas próximas da criança ou do adolescente, com objetivo de ferir, lesar ou destruir a vitima, deixando ou não marcas evidentes em seu corpo. (Ministério da saúde, 2002).
No Brasil, a punição corporal com propósitos educativos é amplamente disseminada e tem seu uso legitimado pela cultura. Estudos revelam que 40% das pesquisas mostram que a punição corporal não produz qualquer dano à criança; 26% dos trabalhos indicam efeitos até benéficos dessa modalidade punitiva, entre os quais a introjeção de valores da cultura. Esses dados mostram que é o contexto social e cultural em que a punição ocorre, e não a punição em si que determina o dano. No Brasil, por exemplo, a autoridade e a hierarquia são fortemente pautados na violência, o que contribui para que o uso da punição corporal com finalidade educativa seja disseminado e comum.
- Violência sexual
A violência sexual consiste em todo ato ou jogo sexual, relação heterossexual ou homossexual, cujo agressor está em estágio d desenvolvimento psicossexual mais adiantado que a criança ou o adolescente. Tem por intenção estimulá-la sexualmente ou utilizá-la para obter satisfação sexual. Apresenta-se sob a forma de praticas eróticas e sexuais impostas à criança ou ao adolescente pela violência física, ameaças ou indução de sua vontade. Esses fenômenospodem variar desde atos que não se produz o contato sexual (voyerismo, exibicionismo, produção de fotos) até diferentes tipos de ações que incluem contato sexual sem ou com penetração. Engloba ainda situação de exploração sexual visando lucros, como é o caso da prostituição e da pornografia (Ministério da Saúde, 2002). 
É importante observar que os atos designados como abuso ou violência sexual podem ou não envolver contato físico com a criança; por isso, não se deve esperar que essa modalidade de violência apresente, necessariamente, um sinal corporal visível. Esse alerta parece importante porque a concepção de violência sexual firmou-se historicamente com base em indícios físicos: a ruptura himenal, ou outras marcas corporais de defesa.
Falsas denuncias de abuso sexual - Nesta temática devemos observar que algumas mães tentam obstruir o convívio entre pai e filho por meio de acusações falsas de abuso sexual. A falsa denúncia de abuso sexual tem, por conseqüência mais imediata, o afastamento das crianças do genitor acusado.
A reação da criança vai depender da duração do abuso e da presença ou ausência de figuras de apoio para a criança. Ainda destaca-se que a idade da criança à época do abuso é outro fator que influencia suas reações. A criança muito nova desconhece a condenação moral do ato sexual, mesmo tendo o sentimento de desagradável ou assustador.
Portanto, sugerimos que todos os casos em que haja suspeita de violência sexual contra a criança possam ser periciados por profissionais de saúde a fim de discriminarmos os casos em que houve abuso sexual daqueles em que possa haver uma falsa denúncia, para que procedimentos sejam tomados de modo a causar menos impacto à criança e injustiças sejam evitadas.
- Negligência
O termo negligência designa as omissões dos pais ou de outros responsáveis (inclusive institucionais) pela criança e pelo adolescente quando deixam de prover as necessidades básicas para seu desenvolvimento físico, emocional e social. O abandono é considerado uma forma extrema de negligência. A negligência significa a omissão de cuidados básicos, como a privação de medicamentos, a falta de atendimento aos cuidados necessários com a saúde, a ausência de proteção contra as inclemências do meio como o frio e o calor e o não provimento de estímulos e condições para a freqüência à escola (Brasil;MS, 2002).
A definição acima faz ressaltar uma dúvida essencial: como diferenciar entre negligência e pobreza? A negligencia se aproxima da pobreza e da desigualdade social, e isso pode haver contribuído para que muito tempo haja transcorrido até que se iniciassem os estudos sobre ela.
Para alguns autores, é preciso observar o grau de privação em todos os membros da família. Se a privação, afetiva ou material, acomete toda a prole, assim como os pais ou responsáveis, não se trata de violência, e sim de um comprometimento estrutural da dinâmica da família; se, ao contrário, ela atinge apenas um dos filhos ou unicamente a prole, então sim, podemos falar em negligencia.
- Violência psicológica
A violência psicológica constitui toda a forma de rejeição, depreciação, discriminação, desrespeito, cobranças exageradas, punições humilhantes e utilização da criança ou do adolescente para atender às necessidades psíquicas dos adultos. Todas essas formas de maustratos psicológicos causam dano ao desenvolvimento e ao crescimento biopsicossocial da criança e do adolescente, podendo provocar efeitos muito deletérios na formação de sua personalidade e na sua forma de encarar a vida. Por falta de materialidade do ato que atinge, sobretudo, o campo emocional e espiritual da vitima e pela falta de evidencias imediatas de maustratos, este tipo de violência é dos mais difíceis de serem identificados (Brasil/MS, 2002).
Mais comumente, a referência a violência psicológica sofrida na infância é identificada por indivíduos adultos, quando estes já têm uma interpretação mais sofisticadas de fatos ocorridos na infância, só possível com a maturidade.
- Lei da Palmada 
Esta lei, que altera o Eca estabelece o direito da criança e do adolescente de serem educados e cuidados sem o uso de castigos corporais ou de tratamento cruel ou degradante. Define o castigo corporal como a “ação de natureza disciplinar ou punitiva com o uso da força física que resulte em dor ou lesão à criança ou adolescente” e o tratamento cruel ou degradante com a “conduta que humilhe, ameace gravemente ou ridicularize a criança ou o adolescente”. Estabelece que “os pais, integrantes da família ampliada, responsáveis ou qualquer outra pessoa encarregada de cuidar, tratar, educar ou vigiar crianças e adolescentes que utilizarem castigo corporal ou tratamento cruel ou degradante como formas de correção, disciplina, educação, ou a qualquer outro pretexto” estarão sujeitos às medidas previstas no art. 129, incisos I, III, IV, VI e VII, do ECA, sem prejuízo de outras sanções. 
Reflexão:
Hebbe Signorini questiona por que a obrigatoriedade da notificação tem se restringido à violência dita “domestica”? Por que não é ainda obrigatória a denuncia de maustratos, abusos e violências cometidos contra crianças, adolescentes e adultos sob a guarda do estado? Não se trata, aqui, de um mesmo evento com gravidades diversas: trata-se de questões de natureza diversa na sua essencia, que a noção de violência que rege a biopolítica da saúde só tem confundido, agora secundada pela lei.
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