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MODELOS DE ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA-2013 MATERIAL DA V1 V2 3V

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MODELOS DE ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA
PROFESSORA VALQUIRIA PALADINO
CASO CONCRETO 1
O pescador Ademar Manoel Pereira morava com a família, em julho 2004, em um 
barraco de madeira que incendiou e todos os móveis foram destruídos, não podendo 
nada ser recuperado. E, por isso, devido às dificuldades financeiras, atrasou o 
pagamento das contas de água à CASAN (Companhia Catarinense de Águas e 
Saneamento). 
Conforme afirmou Marlene Teixeira Pereira, esposa do pescador, ela foi ao 
escritório da companhia para pedir o parcelamento da dívida, pois não teriam condições 
de pagar a quantia à vista, porque o marido estava reconstruindo a casa com a ajuda da 
comunidade local, e não poderia a sua família ficar sem água. 
Entretanto, o representante da CASAN negou o pedido de Marlene Pereira e a 
companhia cortou o fornecimento de água devido ao atraso de pagamento por parte do 
usuário, em dezembro de 2004. 
O pescador, que hoje trabalha na Prefeitura de Piçarras (SC), onde recebe um salário 
de 400 reais, entrou com mandado de segurança em face da empresa. 
A primeira instância acolheu o pedido de Ademar Manoel. 
A CASAN, então, apelou ao Tribunal de Justiça de Santa Catarina, alegando que o 
fornecimento de água constitui serviço remunerado por tarifa, e que deve ser permitida 
sua interrupção no caso de não pagamento das contas. 
ARGUMENTAÇÃO
 O fornecimento da água não pode ser interrompido por inadimplência, pois, por se 
tratar de serviço público fundamental, é essencial e vital ao ser humano, não podendo, 
assim, ser suspenso pelo atraso no pagamento das respectivas tarifas, já que o Poder 
Público dispõe dos meios cabíveis para a cobrança dos débitos dos usuários. 
 A Companhia Catarinense de Águas cometeu, grosso modo, um ato reprovável, 
desumano e ilegal. É ela obrigada a fornecer água à população de maneira adequada, 
eficiente, segura e contínua e, em caso de atraso por parte do usuário, não poderia ter 
cortado o seu fornecimento, expondo o consumidor ao ridículo e ao constrangimento, 
casos previstos, inclusive, no Código de Defesa do Consumidor. 
 É fato que o art. 42 do CDC não permite, na cobrança de débitos, que o devedor 
seja exposto ao ridículo, nem que seja submetido a qualquer tipo de constrangimento ou 
ameaça. Embora a CASAN alegue que o fornecimento de água constitui serviço 
remunerado por tarifa, e que deve ser permitida sua interrupção no caso de não 
pagamento das contas, ela deve usar os meios legais próprios, não podendo fazer justiça 
privada porque hoje se vive no império da lei, e os litígios são compostos pelo Poder 
Judiciário, e não pelo particular. 
 A água é bem essencial e indispensável à saúde e higiene da população. Seu 
fornecimento é serviço público indispensável, subordinado aos princípios da 
continuidade, sendo impossível, pois, a sua interrupção e muito menos por atraso no seu 
pagamento. 
 Primeiramente, resta evidente que o fornecimento de serviços água encanada em 
áreas urbanas, é considerado serviço público essencial, assim definido pela Lei 7. 783 
de 28. 6. 89. Como todo e qualquer serviço público, o fornecimento de água está sujeito 
a cinco requisitos básicos: a) eficiência; b) generalidade; c) cortesia; d) modicidade e 
finalmente e) permanência. 
 A permanência, principalmente no que tange aos serviços públicos essenciais, está 
ainda sedimentada no artigo 22 "caput - in fine"do Código de Defesa do Consumidor: 
"Art. 22: Os órgão públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias 
ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços 
adequados, eficientes, seguros e, quando essenciais, contínuos" (grifo nosso)
 Assim, resta como evidente que o serviço de fornecimento de água, por ser 
essencial, não pode ser interrompido sobre qualquer pretexto. Evidentemente, que a 
empresa concessionária pode utilizar-se de todos os meios juridicamente permitidos 
para fazer valer seu direto de receber pelos serviços prestados. 
 A requerida como concessionária dos serviços de fornecimento de água encanada a 
população, explora na verdade um serviço público essencial à dignidade humana, posto 
que ligada diretamente a saúde e ao lazer. 
 Aliás, a dignidade da pessoa humana, encontra-se entre os princípios fundamentais 
de nossa Nação, como se encontra insculpida no artigo 1º, inciso III, da Constituição 
Federal. E mais, o artigo 6º da Carta Magna, reconhece que a saúde e o lazer são 
direitos sociais assegurados a todos os cidadãos e que incumbem ao Estado conforme se 
vê do artigo 196 da Constituição Federal, in verbis: "A saúde é direito de todos e dever 
do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do 
risco de doenças e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e 
serviços para sua promoção, proteção e recuperação". A matéria novamente foi 
referendada pelo CDC na primeira parte do inciso I do artigo 6º: "Artigo 6º - São 
Direitos básicos do consumidor: I - a proteção à vida, à saúde....”
 Não pode dessa forma a requerida, como concessionária de serviços públicos de
fornecimento de água encanada, proceder a cortes, a fim de coagir a requerente ao 
pagamento, já que se trata, o seu fornecimento, de um dos direitos integrantes da 
cidadania. 
 Se não houve o pagamento, incumbe à empresa concessionária do serviço adotar 
providências que a lei lhe assegura para efetuar a cobrança do que lhe é devido. O que 
não se pode admitir nem permitir, é a absurda exceção concedida a estas empresas para 
que procedam à margem da lei e do judiciário, realizando sua própria justiça, "Manu 
militari". 
Portanto, o inadimplemento quanto ao pagamento da taxa de água não dá à 
concessionária o direito de suspender o fornecimento, como forma de compelir o 
usuário a pagar a dívida. Tal conduta extrapola os limites da legalidade, existindo, como 
já se sabe, outros meios para buscar o adimplemento do débito. 
CONCLUSÃO
 Em face do exposto, sugere-se o não-acolhimento do pedido da Companhia 
Catarinense de Águas e a religação da água e cobrança pelas vias adequadas para 
recebimento de pagamentos em atrasos
 . 
CASO CONCRETO 2
João Paulo Soares é herdeiro de um imóvel deixado por seu tio materno, sob 
testamento com cláusula condicionada, impedindo sua alienação temporária até que o 
herdeiro complete 25 anos e que tenha concluído curso superior. 
Ocorre que João Paulo Soares ainda não atingiu a idade condição, estando com 21 
anos completos, e cursando ainda Economia, e o referido imóvel, apartamento de dois 
quartos em prédio de escadas, está situado em cercanias identificadas como região de 
constante e crescente criminalidade e periculosidade, causa de acelerada depreciação. 
Devidamente provado nos autos, não apenas com sequência de fotos, mas também 
por avaliação técnica sobre a região em que se acha o imóvel, postulou o agravante a 
venda do bem, em face da desvalorização decorrente, devendo a importância ser 
depositada em banco para liberação, até que se efetivem as condições testamentárias 
estabelecidas. 
A pretensão do agravante foi indeferida pelo julgador de primeiro grau, sob o 
fundamento de que o Código Civil, por seu artigo 1. 676, torna nulo ato judicial que não 
considere cláusula de inalienabilidade. 
ARGUMENTAÇÃO
A escritura testamentária, com condição de cláusula de inalienabilidade por tempo 
até que o herdeiro adquira maioridade determinada e após conclusão de curso superior, 
não deve ser analisada como impossibilidade de autorização de alienação na 
contrapartida de depósito bancário, uma vez que o agravante, João Paulo Soares, tem 
como intenção apenas salvaguardar o valor patrimonial, recebido de herança, 
apresentando sempre lisura e boa-fé em seu pedido. Logo, tal situação deve ser 
valorada e julgada não só pela lei fria, pois trata-se de um fato atípico. 
A pretensão, negada sentencialmente,não infringe o escopo do artigo da lei 
substantiva, pois, em verdade, operacionalizar-se-á inversão financeiro-patrimonial. O 
efeito da cláusula testamentária tem por objeto a salvaguarda do patrimônio como valor 
e substância de riqueza e não propriamente o imóvel em si, protegendo o que ele 
representa de patrimônio. 
Portanto, não ocorre violação do artigo 1. 676 do CC; pois a alienação do imóvel, 
com depósito do valor, não alterará o patrimônio, logo ele estará continuadamente 
garantido, sob nova forma. 
E, analogicamente, pode-se citar os efeitos do artigo 1. 648 do mesmo diploma em 
que é dado ao Juiz o poder de suprir outorga para que se aliene um bem de casal em que 
um dos cônjuges, sem razão objetiva, denegue sua autorização. 
O caso não se encerra no regramento do artigo 1. 911, pois a inalienabilidade se 
aplica essencialmente ao patrimônio e não especificamente ao apartamento em questão, 
cujo valor se deteriora em razão de sua localização em contexto social problemático. 
No direcionamento da proteção patrimonial do apelante e de sua futura família, cita-
se a palavra abalizada do especialista Melhim Chalhub (2003, p. 58) que observa: 
“Registre-se, por relevante, a garantia do direito individual de propriedade, 
considerados os bens necessários à garantia da subsistência do indivíduo e sua família”. 
Embora o sentido sentencial pretendesse impedir a quebra da cláusula de 
inalienabilidade sob a égide do artigo 1. 911 do CC, infere-se do caso em tela uma 
situação de anomalia que vem depreciando o valor de um patrimônio, a cuja titularidade 
o agravante atingirá, uma vez vencida a obrigação testamentária, logo considerando-se 
os fatos e as circunstâncias apresentadas, não há ilegalidade na quebra da cláusula em 
questão. 
Em verdade, na ocorrência da inversão financeira do patrimônio legado pretendida, 
convolando-o em espécie, que corretivamente evitará que se deteriore, não haverá 
desatendimento à intenção do testador; ao contrário, preservar-se-á o patrimônio como 
bem deixado ante sua desvalorização circunstancial. 
CONCLUSÃO
 Em face do exposto, solicita-se a quebra da cláusula de inalienabilidade.

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