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O ECOSSISTEMA O conceito de ecossistema é um dos mais importantes da Ecologia, noções básicas deste conceito são transmitidas aos estudantes de forma direta ou indireta desde as etapas mais fundamentais do ensino formal. Muitas vezes o ecossistema é visto como uma caixa estanque, um conceito clássico, difícil de ser compreendido de maneira holística, entender o ecossistema como uma unidade funcional, interligada e interdependente, da qual fazem parte e interagem os seres vivos e fatores ambientais, é fundamental na formação de uma consciência ecológica saudável. Uma visão compartimentalizada e não sistêmica da natureza leva tanto a generalizações e simplificações que pode dificultar todo o processo de ensino aprendizado no que diz respeito a meio ambiente. Quantos de nós professores não já se depararam com questionamentos do tipo “professor para que serve o mosquito da dengue e a planta comigo ninguém pode?”, responder a esta pergunta é uma tarefa extremamente difícil, ainda se fosse uma vaquinha, ou mesmo o sapo ou a minhoca, um borboleta era fácil, mas o mosquito da dengue, ou uma planta venenosa como por exemplo a “comigo ninguém pode” retira qualquer possibilidade de respostas padrões como: nos dá o leite, o queijo, o couro, come insetos, areja o solo, é bonita e poliniza as flores. As complexas relações dentro de um ecossistema na maioria das vezes ocorrem sem uma ligação direta com o homem, quando o aluno faz perguntas como a citada anteriormente, ele espera respostas objetivas e que justifiquem a existência da espécie na natureza em função do homem, como nem sempre estas relações são claras ou vantajosas a resposta se torna muito difícil. Apenas a partir de uma visão holística da natureza poderá o aluno e o professor entender as complexas relações e quem sabe entender a função do mosquito da dengue. Conceito de Ecossistema De acordo com Odum (1983) qualquer unidade (biossistema) que abranja todos os organismos que funcionam em conjunto numa dada área, interagindo com o ambiente físico de tal forma que um fluxo de energia produza estruturas bióticas claramente definidas e uma ciclagem de materiais entre as partes vivas e não vivas, é considerado um ecossistema ou sistema ecológico. O ecossistema é a unidade funcional básica da ecologia. O termo “ecossistema” foi proposto pela primeira vez pelo ecologista britânico Tansley, em 1935, apesar de que este conceito já tenha sido utilizado há muito mais tempo. Em 1877 Karl Mobios escreveu sobre a comunidade de organismos num recife de ostras como uma “biocenose” e em 1887 o americano Forbes considerou o lago como um “microcosmo”. O vocabulário biocenose foi expandido pelo russo para “geobiocenose”. Mais tarde, o entendimento de que a natureza realmente funciona como um sistema, permitiu que alguns pesquisadores desenvolvessem a teoria geral de sistemas para uma melhor compreensão dos processos que ocorrem no interior dessas unidades funcionais. Os pesquisadores Bertalanfy (1950, 1968); Hutchinson (1948); Margalef (1958); Wat (1966); Patten (1971); Van Dyne (1969); Odum (1971) iniciaram então a desenvolver o campo das definições e aspectos quantitativos da ecologia de ecossistemas. Atualmente, existe uma corrente que acredita no estudo de um ecossistema somente de forma mais ampla, com visão holística do modelo, para uma melhor compreensão dos processos e funcionamento dos ecossistemas, que permite uma intervenção mais segura e eficaz, quando a meta principal é o uso sustentável dos recursos naturais. Constituintes de um ecossistema Todos os ecossistemas são sistemas abertos, onde existe uma entrada e uma saída necessária de energia, e uma ciclagem de matéria entre os componentes bióticos e abióticos, definindo vários processos interativos entre esses componentes. Do ponto de vista da estrutura trófica o ecossistema possui dois componentes importantes: a) componente autotrófico e b) componente heterotrófico. O componente autotrófico é constituído pelas plantas clorofiladas, que utilizam a energia solar como fonte de energia e substâncias inorgânicas simples para a construção de substancias orgânicas complexas, ou alguns organismos quimiossintetizantes que utilizam a energia liberada de reações químicas para a síntese de matéria orgânica o componente heterotrófico é constituído pelos demais organismos vivos que utilizam a matéria orgânica já elaborada. Ele não tem capacidade de sintetizar seu próprio alimento. Do ponto de vista estrutural, o ecossistema é construído de vários componentes biologicamente importantes: a) substâncias inorgânicas envolvidas nos ciclos dos materiais, b) compostos orgânicos (proteínas, carboidratos, lipídios, substâncias húmicas), c) atmosfera, hidrosfera e a crosta terrestre, d) produtores – organismos autotróficos, e ) macroconsumidores e fitófagos, f) microconsumidores, saprófitos, decompositores e osmótrofos. A separação dos heterótrofos em macro e microconsumidores é arbitrária, justificável devido à grande diferença entre algumas características . Os microconsumidores (bactérias e fungos) são relativamente imóveis, muito pequenos e apresentam altas taxas de metabolismo e reprodução. Os macroconsumidores, obtém sua energia pela ingestão de outros seres ou de matéria orgânica morta. Eles tendem a estar adaptados morfologicamente para a procura ou coleta ativa de alimentos. Componentes estruturais Ecossistema Aquático Ecossistema Terrestre Produtores Fitoplâncton, macrófitas aquáticas Árvores, arbustos e ervas Herbívoros Zooplâncto, peixes herbívoros, larvas de insetos Insetos, pássaros, roedores Carnívoros 1 Peixes, insetos Aranhas, pássaros, cobras Carnívoros 2 Peixes, aves aquáticas Gavião, cobras, etc. Substâncias abióticas Água, gases dissolvidos, cálcio, nitrogênio, enxofre, sais de fósforo Solo,água, composição granulométrica, macro e micronutrientes, sais Saprótrofos Bactérias, fungos, flagelados aquáticos Bactérias, fungos Fluxo de energia e metabolismo na natureza A energias nos ecossistemas é definida como sendo a capacidade de realizar trabalho. O modelo de fluxo de energia inicialmente foi desenvolvido para explicar algumas observações familiares dos naturalistas com relação ao comportamento alimentar dos animais. Ou seja, porque os animais predadores de grande porte são sempre mais raros do que presas, principalmente quando são herbívoros que ocorrem em grandes quantidades? O fluxo de energia nos ecossistemas é unidirecional e é regida por duas leis da termodinâmica: a) 1ª Lei da Termodinâmica ou da conservação da energia: a energia pode ser transformada de uma forma para outra mas nunca pode ser criada ou destruída. A luz solar, por exemplo, é uma forma de energia que pode ser transformada em trabalho, calor ou energia potencial do alimento, mas nenhuma parte dela é destruída. b) 2ª Lei da Termodinâmica ou Lei da entropia: nenhum processo de transformação de energia ocorre espontaneamente, amenos que ocorra uma degradação da energia de uma forma concentrada para uma forma dispersa. Nenhuma transformação de energia é 100% eficiente, tendo em vista que sempre ocorre perda para formas não disponíveis, como energia térmica, por exemplo. Todos os ecossistemas significativos dependem da energia captada pelas plantas veres no processo da fotossíntese. Durante a fotossíntese a planta combina o dióxido de carbono com a água, de baixo teor energético e transforma em carboidratos de alto teor de energia, como os açucares, amido e a celulose. O oxigênio é liberado deste processo como subproduto da fotossíntese. Cadeias, teias alimentares e níveis tróficos“A transferência de energia alimentar desde a fonte nos autótrofos (plantas) através de uma série de organismos que consomem e são consumidos, chama-se cadeia alimentar ou cadeia trófica”. Em cada transferência parte da energia é perdida sob a forma de calor, da ordem de 80 a 90%. Estas cadeias alimentares, no ambiente natural são interligadas umas com as outras formando uma verdadeira rede de interações, denominadas de teias alimentares. O primeiro nível trófico da cadeia é sempre constituído pelos produtores, seguido pelos herbívoros, que são os consumidores primários e constituem o segundo nível trófico. Os carnívoros representam o terceiro nível trófico.Os carnívoros representam o terceiro nível trófico, e assim sucessivamente. Nos ecossistemas aquáticos ocorre uma predominância de transferência de energia através dos produtores, constituídos principalmente por fitoplâncton e plantas aquáticas, para os consumidores, caracterizando uma cadeia típica do tipo pastagem ou de pasteio. Nos ambientes terrestres, apesar de ocorrer também esse tipo de cadeia, os organismos detritivos e os decompositores exercem papel fundamental na manutenção desses ecossistemas, constituindo as cadeias predominantemente do tipo de detrito. Conceito de Habitat e de Nicho Ecológico O habitat de um organismo é o lugar onde ele vive ou o lugar onde alguém iria para procurá-lo (Odum, 1983). O habitat pode também se referir ao local ocupado por toda comunidade. Neste caso o habitat consiste de um complexo físico, químico (abiótico) e biológico. Segundo Odum (1959) o nicho ecológico é a posição ou status de um organismo dentro de sua comunidade ou ecossistema, resultante das adaptações estruturais, respostas fisiológicas e comportamento específico (herdado ou adquirido) do organismo. “O nicho ecológicodepende de onde ele vive e do que ele faz”. Para Odum, habitat é o lugar onde o organismo vive (endereço) e o nicho é a sua profissão. O controle biológico do Ambiente – a Hipótese Gaia A hipótese Gaia (termo grego que designava deusa Terra) desenvolvida pó James Lovelock, sustenta que os organismos, principalmente os microorganismos evoluíram junto co o ambiente físico, formando um sistema complexo de controle, que mantém as condições favoráveis à vida na Terra. Não só o ambiente abiótico controla as atividades dos organismos, mas estes também influenciam e controlam o ambiente abiótico. A natureza física e química dos materiais inertes está sempre sendo mudada pelos organismos eu devolvem ao ambiente novos compostos e fontes de energia, ou seja, os organismos individuais não somente se adaptam ao ambiente físico mas, através de sua ação conjunta nos ecossistemas, também adaptam o meio geoquímico segundo suas necessidades biológicas. Desta forma, as comunidades de organismos e os seus ambientes de entrada e saída desenvolvem-se em conjunto. Em grande parte, a ação dos organismos marinhos determina as características da água e do lodo do fundo. Um atol de coral do pacífico Sul é um ótimo exemplo do modo como os organismos modificam o ambiente abiótico: a partir da matéria orgânica simples do mar, são construídas ilhas inteiras através da atividade de animais (corais) e plantas (ALGAS CALCÁRIAS). Essa amplitude do controle biológico até um nível global é a base da hipótese Gaia. A atmosfera terrestre, rica em oxigênio e pobre em gás carbônico, e as condições moderadas de temperatura e pH na superfície não podem ser explicadas sem se considerar a atividade de tamponamento das formas mais simples de vida e a contínua atividade coordenada das plantas e microorganismos, que reduzem as flutuações de fatores físicos que seriam muito mais amplas na ausência de seres vivos bem organizados. Por exemplo, a amônia produzida pelos organismos mantém nos solos e sedimentos um pH favorável a uma ampla variedade de formas de vida. Sem esse produto, o pH dos solos terrestres poderia alcançar níveis tão baixos que somente pouquíssimos organismos sobreviveriam. Criando um Ecossistema O presente exercício fornece informações sobre uma fazenda integrada e suas características, através dele faremos uma analogia as estruturas e funcionamento dos ecossistemas. Esta atividade e de fácil aplicação e adaptação em qualquer nível de ensino, sofrendo apenas pequenos ajustes, o objetivo geral e criar uma visão do funcionamento integrado dos ecossistemas. A partir das características abaixo, construa um diagrama desta fazenda, lembre- se que o mesmo deve simular um ecossistema natural, contendo todas as suas partes: - Sua base é familiar incluindo aí alguns animais de estimação. - Possui cultivo de plantas destinadas ao autoconsumo local (milho, feijão, verduras, árvores frutíferas) e também de plantas de valor comercial para venda (macaxeira, inhame e batata doce). Possui um sistema de criação de animais (vacas, cabras e galinhas) que consomem parte da produção vegetal e as partes não aproveitadas pelo homem (folhas, ramas, etc.), fornecem carnes e seus subprodutos (ovos, leite e derivados do leite) além de força de trabalho. Possui um pequeno lago onde criam peixes para o consumo. Este lago produz também plantas flutuantes, aguapés, alface d’água e micro algas, que podem ser utilizados como alimentos para os animais, tanto aquáticos como terrestre. O lodo que se acumula no fundo, rico em minerais, pode ser utilizado para fertilizar o solo. As fezes das vacas e restos de plantas são colocados em composteiras que são sistemas de decomposição natural, para posterior aproveitamento do produto da decomposição, na adubação do solo. Ocorre que as composteiras são locais favoráveis para a criação de minhocas que, por outro lado, aceleram o processo de decomposição. A minhoca viva é um alimento de alto teor nutritivo para os peixes e aves. Todos os tipos de resíduos orgânicos (inclusive do homem) podem ser colocados no biodigestor para a produção de gás, que pode ser utilizado como fonte de energia. A água do lago, rico em nutrientes minerais, pode ser utilizada para a irrigação das culturas. Parte da produção é vendida no mercado, juntamente com um pouco de esterco de gado. A seu critério podem ser incluídos outros elementos nesta fazenda. Analise se não faltou nenhum elemento vital para o funcionamento do ecossistema.
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