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Resumo 4. Concepções, objeto e elementos da Constituição

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CONCEPÇÕES, OBJETO E ELEMENTOS DA CONSTITUIÇÃO
1. O termo “Constituição”
O termo “Constituição” encontra origem no verbo latino constituere. Exterioriza a ideia de constituir, estabelecer, firmar, formar, organizar, delimitar.
Sinônimos do termo “Constituição”: carta maior; carga magna, lei fundamental
2. A noção plurívoca de Constituição
A noção de “Constituição” é plurívoca, uma vez que a doutrina, em vez de formular uma noção exaustiva de “Constituição”, prefere adotar uma pluralidade de acepções.
Nesse sentido, pode-se afirmar que o conceito de “Constituição” é um conceito em crise, pois até hoje os estudiosos não chegaram a um consenso a seu respeito, existindo diversos sentidos para o seu entendimento.
A partir da escolha de uma das concepções do conceito de Constituição, decide-se se a Constituição há de ser, por exemplo uma lei do Estado, e só dele, ou o estatuto jurídico do fenômeno político em sua totalidade, ou seja, um plano normativo global que não cuide apenas do Estado, mas também de toda a sociedade. Decide-se se devemos considerar a Constituição apenas como Constituição jurídica, simples estatuto organizatório ou mero instrumento de governo, no qual se regulam processos e se definem competências.
3. Perguntas relevantes que norteiam as diferentes concepções do conceito de Constituição
Que tarefas ou funções devem ser confiadas à Constituição de um determinado país?
Que matérias têm ou devem ter dignidade constitucional?
Deve a Constituição imitar-se a ser uma ordem de competências, uma simples norma de organização, embora de caráter fundamental?
Deve, ao contrário, ostentar um bloco de diretrizes materiais, correspondentes às aspirações e interesses de uma sociedade concreta, isto é, de uma sociedade historicamente situada e datada?
Deve a Constituição simplesmente sancionar o existente ou servir de instrumento de ordenação, conformação e transformação da realidade política e social?
Para ordenar as respostas a essas indagações é que se estuda as concepções clássicas e contemporâneas sobre o conceito de Constituição. 
4. Concepções clássicas sobre o conceito de Constituição
Concepção Sociológica
Precursor: Ferdinand Lassalle, que, em 1863 fez um pronunciamento em uma conferência para intelectuais e operários da antiga Prússia a respeito da essência da Constituição. Essa conferência posteriormente foi publicada na forma de livro, sendo o seu título traduzido no Brasil como “A essência da Constituição”, que em espanhol é denominado “Què es uma constituciòn”. 
Esse autor destacou o caráter sociológico de uma Constituição, a qual é, em essência, a soma dos fatores reais de poder que regem um determinado Estado. 
Esses fatores reais e poder designam o efetivo poder social, refletindo as forças sociais que constituem o poder. Logo, para o autor, uma Constituição escrita que não corresponda a tais fatores reais é ilegítima e não passa de uma simples folha de papel.
Nesse sentido, uma Constituição escrita só será boa e durável se seus preceitos coincidirem com os fatores reais de poder que regem a sociedade
Concepção como ordem jurídica fundamental
Konrad Hesse, em resposta a Lassalle, apresentou a concepção do conceito de Constituição como ordem jurídica fundamental, em sua obra “A força normativa da constituição” 
 Para Hesse, a constituição escrita NÃO necessariamente será a parte mais fraca no embate, pode ser que a constituição escrita seja capaz de redesenhar a soma dos fatores reais de poder, ela pode modificar o conjunto de forças da sociedade, modificando a sociedade; não existe interpretação constitucional desvinculada dos problemas concretos.
Para Hesse, ainda que, algumas vezes, a constituição escrita possa sucumbir à realidade, essa constituição possui uma força normativa capaz de conformar a realidade. Para isso, basta que exista “vontade de constituição”, e não apenas “vontade de poder”.
Força normativa da Constituição: a Constituição tem uma força normativa, não sendo somente uma folha de papel (LASSALLE). As questões jurídicas somente serão convertidas em questões de poder, caso não haja a satisfação de determinados pressupostos. 
Hesse reconhece a existência de uma VONTADE DA CONSTITUIÇÃO. Não há só a vontade do poder, mas há também a vontade da própria constituição. Deve ser reconhecida a força normativa da Constituição, sob pena de ser confundida com a Sociologia ou a Ciência Política. 
Não pode haver o isolamento entre a norma e a realidade, como propõe o positivismo. A constituição jurídica e a constituição real complementam-se, condicionam-se mutuamente, mas não dependem, pura e simplesmente, uma da outra.
Logo, para Hesse a Constituição deve ser entendida como a ordem fundamental de uma comunidade ou o plano estrutural para a conformação jurídica de uma comunidade, segundo certos princípios fundamentais.
Concepção política
Essa concepção foi defendida por Carl Schmitt, em sua obra “Teoria de la constituciòn”
Para Carl Schmitt, a Constituição significa a decisão política fundamental, ou seja, uma decisão de conjunto sobre o modo e a forma da unidade política.
Defende o autor haver diferença entre Constituição e lei constitucional. A Constituição resulta da manifestação de um poder constituinte que, por intermédio de uma decisão política fundamental, crie e organize o Estado. Assim, o conteúdo próprio da Constituição é simplesmente aquilo que diga respeito aos direitos fundamentais, à estrutura do Estado e à organização dos poderes. As leis constitucionais seriam todo o restante consagrado no texto constitucional (ex.: art. 242, §2º da CF/88: § 2º - “O Colégio Pedro II, localizado na cidade do Rio de Janeiro, será mantido na órbita federal”.).
Essas matérias constitucionais são aquilo que Carl Schmitt chama de decisão política fundamental e, portanto, constituição propriamente dita. Tudo aquilo que, embora esteja previsto na Constituição, não diga respeito a uma decisão política, qualifica-se apenas como lei constitucional. 
Concepção jurídica
Precursor: Hans KELSEN, no livro “Teoria Pura do Direito”
Para o autor, a Constituição é norma pura, é um dever ser, fruto da vontade racional do homem, e não das leis naturais
De acordo com Kelsen, não há qualquer pretensão a fundamentação sociológica, política ou filosófica da Constituição, uma vez que ela é norma pura.
Para Kelsen, a Constituição, no sentido jurídico-positivo, é a norma positivada suprema, que constitui-se no fundamento de validade de todo o sistema infraconstitucional, ou seja, de normas situadas abaixo da Constituição.
Na pirâmide normativa, a Constituição é quem impõe a compatibilidade vertical entre normas inferiores e superiores, estando a Constituição no topo da pirâmide, como norma suprema. 
Destaque-se que a denominada “norma fundamental”, a que se refere Kelsen, constitui-se no pressuposto lógico hipotético que fundamenta a própria Constituição jurídico-positiva.
5. Concepções contemporâneas sobre o conceito de Constituição
Constituição como garantia do status quo econômico e social
Precursor: Ernst Forsthoff
Para o autor, a Constituição é um sistema de artifícios técnico-jurídicos, com vistas à racionalização e garantia do status quo, consistindo num mecanismo formal de garantia, despojado de qualquer conteúdo social, material ou econômico
Objetiva tão somente manter o coeficiente de juridicidade e de soberania estatal do ordenamento jurídico
Constituição como instrumento de governo
Precursor: Hennis
Para o autor, a Constituição não passa de uma lei processual, em cujo texto apenas se estabelecem competências, regulam-se processos e definem-se limites para a ação política
Ela tem o mérito de facilitar a sua conversão em ordem fundamental do Estado e habilitá-la a absorver a clássica tensão entre Constituição e realidade constitucional
Contudo, uma Constituição excessivamente processual ou formal, além de não corresponder às necessidades da prática política, acaba se convertendo em ordemde domínio dos agentes de determinada ideologia.
Constituição como processo público
 Precursor: Peter Häberle, em sua obra “A sociedade aberta dos intérpretes da Constituição”
Para ele, a Constituição será o resultado, sempre temporário e historicamente condicionado, de um processo de interpretação conduzido à luz da publicidade
A Constituição é ela mesma um processo. A essa ideia vinculam-se também as ideias de compreensão pluralística normativo-processual, alternativas, pluralização da legislação constitucional, pluralidade de intérpretes e força normativa da publicidade
Assim, a interpretação constitucional republicana acontece numa sociedade pluralista e aberta, como obra de todos os participantes, em momentos de conflito, de continuidade e de descontinuidade, de tese e antítese.
Constituição como legitimação do poder soberano
Georges Burdeau
A Constituição é o estatuto do poder
Constituição é associada à ideia de Estado de Direito, do qual ela se apresenta como pressuposto, tanto com referência aos governantes, que são meros prepostos da sociedade política, quanto em relação ao próprio poder, cujo exercício é juridicizado, racionalizado pela Constituição
A Constituição deve ser considerada verdadeiramente criadora do Estado de Direito, pois se antes dela o poder é mero fato, com a Constituição esse poder muda de natureza para se converter em Poder de Direito
Constituição como documento regulador do sistema político
Niklas Luhman
A Constituição é o instrumento funcional que serve para reduzir a complexidade do sistema político.
Nesse sentido, ela propicia a reflexão da funcionalidade do Direito, abandonando o exame isolado da relação de hierarquia das normas constitucionais
Luhman defende que se deve banir a mera visão negativa da análise dos problemas constitucionais. Não basta perquirir o vínculo de conformidade ou desconformidade das leis e atos normativos com a Constituição. É imperioso que se busque a lógica do sistema político. As Constituições constituem algo maior, visto que estão inseridas no campo da contingência da autofixação do sistema político. 
Constituição dirigente
Joaquim José Gomes Canotilho
Pretende a constituição dirigente dirigir a ação governamental do Estado. Propõe que se adote um programa de conformação da sociedade, no sentido de estabelecer uma direção política permanente
A Constituição deve preordenar programas a serem realizados, objetivos e princípios de transformação econômica e social
A Constituição é o estatuto jurídico do político, o plano global normativo de todo o Estado e de toda a sociedade, que estabelece programas, definindo fins de ação futura
Sua filosofia de ação é incompatível com teorias positivistas
Grande problema: o que ela deve e pode ordenar aos órgãos legislativos
6. Objeto da Constituição
Uma vez expostas as diferentes concepções do conceito de Constituição, impende trazer o objeto da Constituição, tal como ensina José Afonso da Silva:
estabelecer a estrutura do Estado, a organização de seus órgãos, o modo de aquisição de poder e a forma de seu exercício, limites de sua atuação, assegurar os direitos e garantias dos indivíduos, fixar o regime político e disciplinar os fins socioeconômicos do Estado, bem como os fundamentos dos direitos econômicos sociais e culturais.
José Afonso da Silva destaca que nem sempre as Constituições tiveram objeto tão amplo. A cada etapa da história, algo de novo ingressa no texto constitucional, cujo conteúdo histórico é variável no espaço e no tempo.
7. Elementos da Constituição
Em decorrência do que acaba de ser dito, as Constituições contemporâneas possuem normas que incidem sobre matérias de natureza e finalidades as mais diversas, sistematizadas num todo unitário e organizadas coerentemente pela ação do poder constituinte que as teve como fundamentais para a coletividade estatal.
Essas normas são agrupadas em títulos, capítulos e seções, em função da conexão do conteúdo específico que as vincula.
Tais normas, em função da conexão do conteúdo específico que as vincula, dão origem aos chamados elementos da Constituição, que serão abaixo expostos, de acordo com a doutrina de José Afonso da Silva:
Elementos orgânicos
Normas que regulam a estrutura do Estado e do Poder. Na Constituição de 1988 concentram-se, predominantemente, nos Títulos III (Da Organização do Estado), IV (Da Organização dos Poderes), Capítulos II e III do Título V (Das Forças Armadas e Da Segurança Pública) e VI (Da Tributação e do Orçamento), que constituem aspectos da organização e funcionamento do Estado.
Elementos limitativos
Normas que compõem o elenco dos direitos e garantias fundamentais, limitando a atuação dos poderes estatais: direitos individuais e suas garantias, direitos de nacionalidade e direitos políticos e democráticos. São denominados limitativos, porque limitam a ação dos poderes estatais e dão a tônica do Estado de Direito. Acham-se eles inscritos no Título II da CF/88 sob a denominação Direitos e Garantias Fundamentais, excetuando-se os Direitos Sociais (Capítulo II), que entram na categoria seguinte.
Elementos socioideológicos
São as normas sócioideológicas que revelam o compromisso da Constituição entre o Estado individualista e o Estado social intervencionista. São as normas constantes no Capítulo II do Título II (Direitos Sociais) e nos Títulos VII (Da Ordem Econômica e Financeira) e VIII (Da Ordem Social).
Elementos de estabilização constitucional
São as normas constitucionais destinadas a assegurar a solução dos conflitos constitucionais, a defesa da Constituição, do Estado e das instituições democráticas, trazendo os meios e técnicas relacionados à sua alteração e infringência. Tais normas encontram-se no art. 102, I, "a" (ação direta de inconstitucionalidade e ação declaratória de constitucionalidade); nos art. 34 a 36 (Da Intervenção nos Estados e Municípios); nos arts. 59, I, e 60 (processo de emenda à Constituição); nos arts. 102 e 103 (jurisdição constitucional) e no Capítulo I do Título V (estado de defesa e estado de sítio).
Elementos formais de aplicabilidade
São os que se acham consubstanciados no Preâmbulo e no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), que dispõem sobre a aplicação da Constituição. Encontram-se, também, no § 1º do art. 5º da Constituição Federal, que preceitua que as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata.

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