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resumo 10poder constituinte derivado

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1 
 
PODER CONSTITUINTE DERIVADO 
(...) 
4. Espécies (reformador, decorrente e revisor): 
(...) 
 Poder constituinte derivado decorrente 
 
- Conceito 
 É aquele que, de acordo com as regras estabelecidas pelo poder 
constituinte originário, estrutura a constituição dos estados da 
federação através de texto editado pelas assembleias legislativas 
dos estados, segundo determinou o art. 11 do ADCT: 
 “Art. 11 Cada Assembleia Legislativa, com poderes constituintes, 
elaborará a Constituição do Estado, no prazo de um ano, contado 
da promulgação da Constituição Federal, obedecidos os princí
pios desta. 
Parágrafo único. Promulgada a Constituição do Estado, caberá à 
Câmara Municipal, no prazo de seis meses, votar a Lei Orgânica 
respectiva, em dois turnos de discussão e votação, respeitado o 
disposto na Constituição Federal e na Constituição Estadual.” 
 Tal competência decorre da capacidade de auto-organização 
estabelecida pelo poder constituinte originário no art. 25 da CF, 
que assim dispõe: 
“Art. 25 Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis 
que adotarem, observados os princípios desta Constituição.” 
 Além disso, também é prevista, na CF, a capacidade de 
autogoverno dos estados (art. 27, 28 e 125 da CF: regras para a 
estruturação dos poderes legislativo, executivo e judiciário) e de 
autoadministração dos estados (arts. 18 e 25 a 28: regras de 
competência legislativa e não legislativa.) 
“Art. 18. A organização político-administrativa da República 
Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito 
Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta 
Constituição. 
(...) 
Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituiçõ
es e leis que adotarem, observados os princípios desta Constituiç
ão. 
(...) 
Art. 27. O número de Deputados à Assembleia Legislativa 
corresponderá ao triplo da representação do Estado na Câmara 
dos Deputados e, atingido o número de trinta e seis, será 
acrescido de tantos quantos forem os Deputados Federais acima 
de doze. 
(...) 
Art. 28. A eleição do Governador e do Vice-Governador de 
Estado, para mandato de quatro anos, realizar-se-á no primeiro 
domingo de outubro, em primeiro turno, e no último domingo de 
outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior ao do té
rmino do mandato de seus antecessores, e a posse ocorrerá em 
primeiro de janeiro do ano subseqüente, observado, quanto ao 
mais, o disposto no art. 77. 
2 
 
(...) 
Art. 32. O Distrito Federal, vedada sua divisão em Municípios, 
reger- se-á por lei orgânica, votada em dois turnos com interstício 
mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços da Câmara 
Legislativa, que a promulgará, atendidos os princípios 
estabelecidos nesta Constituição. 
 
§ 1º Ao Distrito Federal são atribuídas as competências 
legislativas reservadas aos Estados e Municípios. 
(...) 
Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os 
princípios estabelecidos nesta Constituição. 
(...)” 
 
 O poder constituinte decorrente é uma espécie do poder 
constituinte derivado, pois decorre da Constituição Federal, ou 
seja, encontra sua fonte de inspiração na obra do constituinte 
originário 
 
- Espécies: 
 Poder constituinte decorrente institucionalizador 
 É aquele responsável por elaborar a constituição do Estado-
membro. Pode atuar nas seguintes hipóteses: 
 Quando o Estado-membro irá editar sua primeira 
Constituição 
 Quando Estados-membros se unem formando um só 
Estado 
 Quando o Estado-membro substitui sua Constituição 
por outra 
 Quando o Estado-membro é criado por incorporação, 
subdivisão ou desmembramento 
 
 Poder constituinte decorrente reformador 
 É o responsável pelas revisões (mudanças amplas) e 
emendas (mudanças específicas) no texto original das 
constituições estaduais. 
 Pode consistir em: 
 Poder constituinte decorrente reformador normal: é 
aquele que vem previsto no próprio texto da 
Constituição estadual, executando-se nos moldes 
nela previstos e obedecendo os condicionamentos 
impostos pela Constituição Federal. Ex: previsão, nas 
Constituições estaduais, da edição de emendas 
constitucionais, como mecanismos de atualização de 
seus dispositivos. 
 Poder constituinte decorrente reformador anômalo: 
também chamado de extraordinário, serve para 
ajustar ou rever a Constituição estadual quando a 
Constituição Federal for reformada, de maneira que o 
seu texto se apresente em consonância ao texto 
atualizado da Constituição Federal. Ex: A Constituiçã
3 
 
o da Bahia inseriu, por emenda constitucional, o 
princípio da eficiência como princípio da administraçã
o pública, para adaptar seu texto ao da Constituição 
Federal de 1988, que, após a Emenda Constitucional 
nº 19/1998, passou a considerar o princípio da eficiê
ncia no art. 37, caput, como princípio da Administraçã
o Pública. 
 
- Tipos de normas oriundas do poder constituinte derivado decorrente: 
 
 Normas próprias – são as imaginadas e discutidas pelo poder 
decorrente dentro de sua competência. 
 Normas repetidas – há correspondente na constituição. Aqui, há 
ainda outra divisão: 
a) Normas de repetição obrigatória: normas centrais 
federais, de comando obrigatório, que alcançam os estados de 
forma obrigatória. Tais normas limitam a autonomia organizativa 
dos estados. Integram o ordenamento jurídico dos estados, 
independentemente de repetição dessas normas na Constituição 
dos estados, cabendo ao Poder Constituinte Decorrente apenas 
complementar a obra do Constituinte Federal. 
4 
 
b) Normas de repetição facultativa: o legislador estadual ou 
municipal pode repetir ou não, mas, se repetir deve obedecer à 
simetria. EXEMPLO: o estabelecimento de medida provisória pela 
constituição estadual deve obedecer ao padrão estabelecido na 
CF quanto à disciplina das medidas provisórias 
 
- Limites à manifestação do poder constituinte derivado decorrente: 
 Limites autônomos: são as vedações ao poder constituinte 
derivado decorrente, fixadas na própria Constituição Federal. São 
limites adjetivados como autônomos, porque advieram do próprio 
constituinte originário. Por isso, independem de quaisquer providê
ncias legislativas das Assembleias Legislativas dos Estados para 
ser aplicados. Nesse sentido, toda e qualquer matéria colocada na 
Constituição do Estado-membro deve acompanhar, 
necessariamente, o modelo federal. O art. 25 da CF dispõe, como 
já afirmado acima, que os Estados, ao elaborarem suas Constituiç
ões, deverão observar os princípios da Constituição de 1988. 
Nesse sentido, a doutrina interpreta que tais princípios a serem 
observados são os seguintes: 
+ princípios constitucionais sensíveis: são aqueles previstos no 
art. 34, VII, “a” – “e” da CF, que consagram limites à capacidade de 
auto-organização dos Estados-membros e, inclusive, justificam a 
intervenção da União nos Estados: 
“Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, 
exceto para: 
(...) 
VII - assegurar a observância dos seguintes princípios 
constitucionais: 
a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático; 
b) direitos da pessoa humana; 
c) autonomia municipal; 
d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta. 
e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos 
estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na 
manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços 
públicos de saúde.” 
 
+ princípios constitucionais estabelecidos (organizatórios): sã
o aqueles que limitam, vedam, ou proíbem a ação indiscriminada 
do poder constituinte decorrente inicial e reformador. Exemplo: 
repartição de competência, sistema tributário nacional, organizaçã
o dos poderes, direitos políticos, nacionalidade, direitos e 
garantias individuais, direitos sociais, ordem econômica,educaçã
o, saúde, desporto, família, cultura e etc. 
 
+ princípios constitucionais extensíveis: aqueles que integram 
a estrutura da federação brasileira, relacionando-se com a norma 
de investidura em cargos eletivos (art. 77), processo legislativo 
(arts. 59 e ss.), orçamentos (art. 165 e ss.) e preceitos ligados à 
Administração Pública (art. 37 e ss.). Ex: no âmbito das Constituiç
ões estaduais, deve-se estabelecer, conforme preconizado pela 
5 
 
Constituição Federal, um poder legislativo estadual unicameral 
(assembleia legislativa), sendo, portanto, o processo legislativo 
das normas estaduais distinto daquele adotado para a elaboração 
das leis federais, já que, no âmbito federal, temos um poder 
legislativo bicameral (Câmara dos Deputados e Senado Federal) 
 
 Limites heterônomos: 
 São as vedações ao poder constituinte decorrente 
reformador, estabelecidas pelas próprias Constituições dos 
Estados-membros 
 São classificados como heterônomos, pois reproduzem as 
proibições contidas na Constituição Federal no art. 60 
quanto ao poder de reforma ajustando-as às características 
da unidade federada. 
 
 Poder constituinte derivado revisor 
 
- Conceito: É aquele poder que, em obediência ao art. 3º do ADCT, 
institui um particular procedimento simplificado de alteração do texto 
constitucional, excepcionando a regra geral das propostas de emenda 
constitucional (PECs), que exigem aprovação por 3/5 dos votos dos 
membros de cada casa. 
- É fruto do trabalho de criação do poder constituinte originário, estando, 
portanto, a ele vinculado. É um poder condicionado e limitado às regras 
instituídas para a revisão constitucional 
- Art. 3º do ADCT: “A revisão constitucional será realizada após cinco 
anos, contados da promulgação da Constituição, pelo voto da maioria 
absoluta dos membros do Congresso Nacional, em sessão unicameral.” 
(OBS: Maioria absoluta é o primeiro número inteiro acima da metade dos 
membros da casa legislativa. Maioria simples é o primeiro número inteiro 
acima da metade dos membros presentes na votação). 
- Resolução nº 1/93, do Congresso Nacional (disciplina o fundamento 
e o funcionamento dos trabalhos de revisão constitucional): O art. 4º, 
§ 3º da Resolução nº 1/93, do Congresso Nacional, estabeleceu ser 
vedada a apresentação de propostas revisionais que: 
+incidam na proibição constante no § 4º do art. 60 da CF (cláusulas pé
treas) 
+ substituam integralmente a Constituição 
+ digam respeito a mais de um dispositivo, a não ser que se tratem de 
modificações correlatas 
+contrariem a forma republicana de Estado e o sistema presidencialista 
de governo 
 
A resolução estabeleceu, também, possibilidade de oferecimento de 
propostas revisionais: 
+ por qualquer congressista 
6 
 
+ por representação partidária com assento no Congresso Nacional por 
meio de líder 
+ pelas Assembleias legislativas de 3 ou mais unidades da federação, 
manifestando-se, cada uma, pela maioria de seus membros 
+ pela apresentação de proposta revisional popular, desde que subscrita 
por 15000 ou mais eleitores 
+ O resultado foi: 6 emendas constitucionais de revisão. Não é possível 
nova manifestação do poder constituinte derivado revisor, em razão da 
eficácia exaurida e aplicabilidade esgotada da aludida regra. 
- Emendas constitucionais de revisão em espécie : 
 
Emendas Constitucionais de Revisão 
 
Nº da ECR Ementa 
6, de 07.06.1994 
Publicado no D.O.U. 09.06.1994 
Acrescenta o § 4º ao art. 55 da 
Constituição Federal. 
5, de 07.06.1994 
Publicado no D.O.U. 09.06.1994 
Altera o art. 82 da Constituição 
Federal. 
4, de 07.06.1994 
Publicado no D.O.U. 09.06.1994 
Altera o § 9º do art. 14 da Constituição 
Federal. 
3, de 07.06.1994 
Publicado no D.O.U. 09.06.1994 
Altera a alínea "c" do inciso I, a alínea 
"b" do inciso II, o § 1º e o inciso II do § 
4º do art. 12 da Constituição Federal. 
2, de 07.06.1994 
Publicado no D.O.U. 09.06.1994 
Altera o caput do art. 50 e seu § 2º, da 
Constituição Federal. 
1, de 01.03.1994 
Publicado no D.O.U. 02.03.1994 
Acrescenta os arts. 71, 72 e 73 ao Ato 
das Disposições Constitucionais 
Transitórias. 
 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL INTERTEMPORAL 
 
 Direito Constitucional Intertemporal: 
 O Direito Intertemporal consiste no conjunto das normas jurídicas e 
proposições doutrinárias que têm por objetivo dimensionar e 
solucionar os problemas relacionados ao conflito de leis no tempo. 
 Assim como ocorre com as normas jurídicas em geral, a aplicação 
da nova Constituição pode suscitar questões de direito intertemporal, 
ante à existência de uma anterior Constituição e de normas 
infraconstitucionais editadas sob a sua vigência. 
 
 Retroatividade mínima da nova Constituição: 
 A retroatividade é um dos fenômenos do Direito Intertemporal. 
 Retroatividade significa a incidência da nova norma sob fatos 
ocorridos na vigência de norma anterior. 
 Mattos Peixoto classifica a retroatividade em máxima, média e mí
7 
 
nima. A retroatividade máxima ocorre quando a nova norma atinge 
fatos que já se consumaram no passado, cujos efeitos também já se 
extinguiram no passado. A retroatividade média ocorre quando a 
nova norma atinge os efeitos pendentes de um ato jurídico, ocorridos 
antes dela. Já a retroatividade mínima ocorre quando a norma nova 
atinge apenas os efeitos dos atos anteriores, que somente serão 
produzidos após a data da entrada em vigor da nova norma. 
 De acordo com o Supremo Tribunal Federal, as Constituições 
emanada do poder constituinte originário têm, em regra, aplicação 
imediata, passando a vigorar logo após o seu advento, salvo exceçõ
es determinadas pelo próprio texto, como se deu nos arts. 5º e 34 do 
ADCT, que adiaram a eficácia de determinados dispositivos inseridos 
no corpo da Constituição. 
 Nesse sentido, as normas constitucionais teriam retroatividade mí
nima, atingindo, em regra, efeitos futuros de atos que lhe são 
anteriores, independentemente de previsão expressa, não estando 
essa incidência limitada pelo respeito ao direito adquirido. 
 Logo, a regra geral é da incidência imediata da nova Constituição 
com retroatividade mínima das normas constitucionais aos efeitos 
dos fatos ocorridos na vigência da Constituição anterior, e que irão 
se concretizar sob a nova Constituição, a não ser em casos de 
ressalva feita pela própria Constituição, como é o caso do art. 29, § 
3º, do ADCT, que traz a possibilidade de os membros do Ministério 
Público, admitidos antes da Constituição de 1988, optarem pelo 
regime da Constituição anterior: 
“ Art. 29 (...) 
§ 3º Poderá optar pelo regime anterior, no que respeita às 
garantias e vantagens, o membro do Ministério Público admitido 
antes da promulgação da Constituição, observando-se, quanto às 
vedações, a situação jurídica na data desta.” 
 
 Defendem Daniel Sarmento e Cláudio Pereira de Souza Neto, em 
sua obra “Direito Constitucional”, que, em situações em que a 
Constituição não traga previsão expressa sobre a proteção a direitos 
adquiridos em face da nova Constituição, seja feito um sopesamento 
e uma ponderação, caso a caso, entre os direitos reconhecidos sob a 
vigência Constituição anterior, a nova abordagem dada a esses 
direitos pela Constituição nova e a proteção da segurança jurídica. 
 
 Nova constituição e ordem jurídica anterior: 
 Assim, após estudarmos o tema do Poder Constituinte, devemos 
analisar o que acontece com as normas que foram produzidas na 
vigência da Constituição anterior com o advento de uma nova 
Constituição. Elas são revogadas? Perdem a validade? Devem ser 
novamente editadas? Para regulamentar essa situação, a doutrina 
trouxe alguns fenômenos que serão a seguir estudados 
 
 Constituição nova e ordem constitucional anterior: a revogação 
 O advento de uma nova Constituição importaa revogação global 
daquela Constituição que a antecedeu. A pretensão de supremacia 
hierárquica de uma Constituição não lhe permite conviver com outra, 
8 
 
dotada da mesma pretensão e válida no âmbito do mesmo território. 
 Prevalece, assim, a tese de que a antiga Constituição fica 
globalmente revogada, evitando-se que convivam, num mesmo 
momento, a atual e a anterior expressão do poder constituinte 
originário empregada para elaborar toda a Constituição. Esse é, 
inclusive, o posicionamento do STF, que já se manifestou no sentido 
de que a vigência e a eficácia de uma nova Constituição implicam a 
supressão da existência, a perda da validade e a cessação da eficá
cia da anterior Constituição por ela revogada. 
 Contudo, nada impede que a nova Constituição ressalve a vigência 
de dispositivos isolados da Constituição anterior, até mesmo por 
algum lapso de tempo, como ocorreu com o caput do art. 34 do 
ADCT de 1988. 
“Art. 34. O sistema tributário nacional entrará em vigor a partir do 
primeiro dia do quinto mês seguinte ao da promulgação da 
Constituição mantido, até então, o da Constituição de 1967, com a 
redação dada pela Emenda n. 1, de 1969, e pelas posteriores.” 
 
 A desconstitucionalização 
 Há controvérsia na doutrina a respeito da possibilidade de que 
norma existente na Constituição passada, que não seja incompatível 
com a nova ordem constitucional, continue vigorando, mas agora em 
patamar hierárquico inferior, como simples lei ordinária. 
 Esse fenômeno, denominado desconstitucionalização, foi admitido 
por Carl Schmitt, que pregava a existência entre Constituição e leis 
constitucionais, aquela correspondendo à decisão política 
fundamental do titular do poder constituinte e estas às normas 
constantes no documento constitucional que não apresentem a 
mesma natureza. Para Schmitt, o advento de uma nova Constituição 
seria incompatível com a subsistência da Constituição anterior, mas 
não com a continuidade da vigência de meras leis constitucionais 
antes em vigor, equivalentes às leis ordinárias em termos hierá
rquicos. 
 Assim, por meio do fenômeno da desconstitucionalização, ao invés 
de a CF anterior ser descartada, é possível a sua permanência no 
ordenamento jurídico, de forma provisória ou mesmo definitiva, em 
um patamar hierárquico normativo inferior, como simples lei ordiná
ria. 
 A admissão do fenômeno da desconstitucionalização no Brasil, de 
forma tácita, não é de unânime aceitação na doutrina. 
 Defensores: os autores brasileiros que defendem o fenômeno, como 
Pontes de Miranda, José Afonso da Silva e Manoel Gonçalves 
Ferreira Filho, sustentam a possibilidade da desconstitucionalização 
de forma tácita, desde que haja a coexistência dos seguintes 
pressupostos: 
 Revogação de uma Constituição por outra; 
 Presença, na Constituição revogada, de preceito que não 
verse sobre questão tida como materialmente constitucional; 
 Plena compatibilidade entre tal preceito e a nova Constituição 
OBS: presentes esses requisitos, o preceito da Constituição 
antiga continuaria vigorando, mas com força de lei ordinária. 
9 
 
 Contrários: a maioria dos autores defendem a impossibilidade da 
desconstitucionalização tácita. Nesse sentido, sustentam que se 
deve presumir que uma nova Constituição revoga integralmente a 
que a antecedeu – revogação global ou sistêmica – , salvo previsão 
em sentido contrário. Logo, em razão de a desconstitucionalização 
dever ser expressa, ela não é possível no Brasil, por não ter sido 
prevista expressamente para nenhum assunto na Constituição de 
1988. 
 
 Constituição e direito infraconstitucional anterior: a recepção 
 Conceito: 
 Ocorre quando a nova Constituição recebe a legislação 
anterior infraconstitucional, que é com ela compatível em seu 
conteúdo. Assim, tais normas infraconstitucionais continuam 
em vigor. Ocorre uma revalidação das normas que não 
desafiam, materialmente, a nova Constituição. 
 De acordo com o fenômeno da recepção, a norma jurídica 
infraconstitucional, anterior à nova Constituição, que não seja 
incompatível materialmente com ela, continuará a vigorar apó
s o seu advento mas agora com outro fundamento de 
validade: a nova Constituição. Por consequência, as normas 
anteriores incompatíveis com a Constituição deixarão de 
vigorar, em razão de sua não recepção pelo novo 
ordenamento constitucional. 
 
 Recepção expressa e recepção tácita: 
 A previsão da recepção de normas infraconstitucionais anteriores à 
nova Constituição pode ser expressa, ou pode se dar de forma implí
cita, tácita. 
 Algumas Constituições brasileiras, como a de 1891 (art. 83), a de 
1934 (art. 187) e a de 1937 (art.183), fizeram a previsão explícita da 
ocorrência da recepção. Veja-se o teor do art. 183 da Constituição 
de 1937: “continuam em vigor, enquanto não revogadas, as leis que, 
explícita ou implicitamente, não contrariem as disposições desta 
Constituição.” 
 Contudo, o fenômeno da recepção não depende de expresso 
reconhecimento pelo texto constitucional. O mais frequente é sua 
admissão implícita, como ocorre na Constituição de 1988. Exemplo: 
A lei que regulamenta o procedimento do impeachment e os crimes 
de responsabilidade é a Lei nº 1.079, editada em 1950. Ela foi 
considerada, pelo Supremo Tribunal Federal, em parte recepcionada 
pela Constituição de 1988, no julgamento da Arguição de 
Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 378. Realizou 
o STF um exercício de comparação dos dispositivos da Lei nº 1.079 
e o texto da Constituição de 1988, para avaliar sua compatibilidade 
quanto aos artigos da CF/1988 que falam sobre a competência da 
Câmara dos Deputados e do Senado Federal no procedimento do 
impeachment, bem como sobre os crimes de responsabilidade. 
10 
 
 A partir do julgamento da ADPF n. 130 a respeito da recepção da Lei 
de Imprensa, julgada em abril de 2009, o STF passou a entender 
que a norma anterior incompatível com a nova ordem constitucional 
é tida como não-recepcionada, abandonando-se a nomenclatura 
outrora empregada (revogação). 
 A incidência de uma nova Constituição sob as normas 
infraconstitucionais editadas sob a vigência de uma Constituição 
anterior implica também uma releitura de seu texto, pela ótica dos 
princípios da nova ordem constitucional. 
 
 Recepção e mudança no processo legislativo: 
 Na análise da recepção de normas infraconstitucionais anteriores, 
analisa-se apenas questões substantivas, materiais, e não aquelas 
concernentes ao processo legislativo 
 Observe-se, portanto, que a compatibilidade é MATERIAL, ou seja, 
quanto ao seu conteúdo. Do ponto de vista formal, não há que se 
indagar se a lei anterior foi editada de acordo com as regras de 
processo legislativo impostas nova Constituição. Se no momento em 
que a lei surgir ela estiver de acordo com a Constituição vigente, ela 
será válida. 
 EXEMPLOS: 
 a CF/1988 não admitiu os decretos-lei, mas eles foram 
recepcionados, desde que materialmente compatíveis com a CF. 
Por isso, o Código Penal, editado como Decreto-Lei na vigência 
da CF de 1937, continua em vigor, mesmo não prevendo a 
CF/1988 a figura do decreto-lei. 
 O Código Tributário Nacional (CTN) foi editado em 1966 como lei 
ordinária (Lei nº 5.172), em época em que sequer existia a figura 
da lei complementar. A Constituição de 1988 exige lei 
complementar para a edição de normas gerais em matéria tributá
ria. Diante disso, passou-se a entender que o CTN fora 
recepcionado como lei complementar, o que impediria a sua 
modificação como lei ordinária 
 Importante destacar que Daniel Sarmento e Cláudio Pereira de 
Souza Neto defendem a necessidade de se graduar o rigor do 
exame de recepção da norma infraconstitucional pelo grau de 
democraticidade do procedimento de elaboração do ato normativo 
sob exame. Assim,um ato normativo elaborado anteriormente à 
Constituição, de acordo com procedimentos à época válidos, mas 
que não atendessem a padrões mínimos de democracia, pode não 
ser considerado integralmente recepcionado. Foi, inclusive, o que se 
deu no exame da recepção da Lei de Imprensa pelo STF na ADPF nº 
130, em que sustentou esse tribunal a ilegitimidade democrática da 
norma em questão, porque concebida e promulgada num longo perí
odo autoritário de nossa história, conhecido como regime de exceçã
o. 
 
 Recepção, federação e alteração de competência legislativa 
11 
 
 É possível que uma nova Constituição altere a competência 
legislativa de um determinado ente federativo para disciplinar um 
tema. Nesse sentido, discute-se se o ato normativo editado 
originariamente por um ente federativo mantém sua validade após o 
advento da referida modificação de competência legislativa. 
 Entende o STF, nessa hipótese, que, em razão do princípio da 
continuidade da ordem jurídica, se havia, por exemplo, legislação 
federal sobre um tema, antes da CF/1988, e a matéria passou a ser 
de competência legislativa estadual ou municipal, a legislação federal 
deve ser recepcionada como estadual ou municipal. 
 
 Consequência da não recepção de uma lei: revogação, e não 
inconstitucionalidade superveniente 
 A lei infraconstitucional anterior à nova Constituição, que não seja 
com essa compatível, é tida como não recepcionada. Destaque-se 
que a natureza jurídica dessa não recepção é de revogação da 
norma, em razão do critério cronológico: norma posterior (Constituiç
ão de 1988) revoga norma anterior com ela incompatível. 
 Não há que se falar no Brasil em inconstitucionalidade 
superveniente da norma infraconstitucional editada anteriormente à 
nova Constituição, uma vez que a declaração de 
inconstitucionalidade de normas no Brasil só tem por objeto normas 
infraconstitucionais editadas após a Constituição de 1988. 
 O instrumento que é utilizado para se aferir a recepção, ou não, de 
uma norma infraconstitucional editada antes da Constituição de 
1988, que ofenda preceitos fundamentais da CF/1988, é a Arguição 
de Descumprimento de Preceito Fundamental, regulamentada pela 
Lei nº 9.882/1999: 
“Art. 1º A argüição prevista no § 1º do art. 102 da Constituição 
Federal será proposta perante o Supremo Tribunal Federal, e terá 
por objeto evitar ou reparar lesão a preceito fundamental, resultante 
de ato do Poder Público. 
Parágrafo único. Caberá também argüição de descumprimento 
de preceito fundamental: 
I - quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional 
sobre lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal, incluídos 
os anteriores à Constituição;” 
 
 A lei ainda constitucional e a inconstitucionalidade progressiva 
 Diz respeito ao fato de determinadas alterações, impostas pela nova ordem 
constitucional, demandarem tempo para se realizarem. 
 Esse descompasso entre o plano normativo-constitucional e a realidade 
pode justificar a manutenção provisória de normas anteriores à Constituição 
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e incompatíveis com ela, em hipóteses em que a sua supressão possa 
acarretar danos maiores aos bens jurídicos constitucionalmente tutelados 
 Ex: recepção do art. 68 do Código de Processo Penal, que atribuía ao 
Ministério Público a legitimidade ativa para ajuizar ações civis de reparação 
de dano quando a vítima fosse pobre. O STF entendeu que tal competência 
foi dada pela CF exclusivamente à Defensoria pública, o que afastaria, a 
princípio, a recepção da norma em questão. Contudo, sensível às consequê
ncias práticas disso, o STF considerou que, até a efetiva instalação das 
defensorias públicas da União e dos Estados, a referida norma deveria 
continuar vigorando. 
 Chama-se, assim, esse fenômeno de inconstitucionalidade progressiva: o 
decurso do tempo e a alteração das circunstâncias fáticas subjacentes à 
norma, fazem com que ela, tida originariamente como válida, torne-se 
posteriormente inconstitucional. OBS: o mais apropriado é afirmar-se que 
ela tornou-se, posteriormente, revogada, não recepcionada, tendo em vista 
a inexistência de inconstitucionalidade superveniente 
 
 Repristinação constitucional 
- Conceito: ocorre quando a lei que perdeu a vigência com o advento de 
uma nova ordem constitucional, passa a valer novamente quando 
essa nova Constituição é revogada por uma terceira Constituição, 
que não é incompatível com aquela lei. 
- Aplica-se, portanto, a repristinação no momento de sucessão de 
constituições no tempo. Exemplo: Constituição A admite a pena de 
morte e a lei B regulamenta a pena de morte. Depois vem a CF C, 
que passa a proibir a pena de morte e, consequentemente, a lei B nã
o é recepcionada pela Constituição C. Depois é editada uma nova 
CF, a Constituição D, que passa a permitir novamente a pena de 
morte e, expressamente, revigora a lei B. Nesse caso, através do 
fenômeno da repristinação, a lei B voltará a valer. Destaque-se, 
contudo, que a repristinação só é válida quando a nova Constituição 
for expressa nesse sentido 
- Assim, conclui-se que, a restauração da eficácia de uma lei, em regra, 
é considerada inviável. Não se admite a repristinação, em nome do 
princípio da segurança das relações. Contudo, nada impede que a 
nova Constituição expressamente revigore aquela legislação.

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