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NOTA DE ATUALIZAÇÃO 7ª EDIÇÃO SÚMULAS E OJS COMENTADAS E ORGANIZADAS POR ASSUNTOS 7º Edição/2016 Editora Juspodivm Atenção! Com a finalidade de facilitar a compreensão desta nota de atualização com a 6ª edição de seu livro, optamos por inserir os comentários às súmulas e OJs do TST por inteiro mesmo quando as modificações foram parciais. PARTE I – DIREITO DO TRABALHO CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO AO DIREITO DO TRABALHO 1.2.5. Complementação de aposentadoria prevista em norma interna da empresa 1.2.5.1. Complementação dos proventos da aposentadoria Súmula nº 288 do TST. Complementação dos proventos da aposentadoria I - A complementação dos proventos de aposentadoria, instituída, regulamentada e paga diretamente pelo empregador, sem vínculo com as entidades de previdência privada fechada, é regida pelas normas em vigor na data de admissão do empregado, ressalvadas as alterações que forem mais benéficas (art. 468 da CLT). II - Na hipótese de coexistência de dois regulamentos de planos de previdência complementar, instituídos pelo empregador ou por entidade de previdência privada, a opção do beneficiário por um deles tem efeito jurídico de renúncia às regras do outro. III – Após a entrada em vigor das Leis Complementares nºs 108 e 109, de 29/05/2001, reger-se- á a complementação dos proventos de aposentadoria pelas normas vigentes na data da implementação dos requisitos para obtenção do benefício, ressalvados o direito adquirido do participante que anteriormente implementara os requisitos para o benefício e o direito acumulado do empregado que até então não preenchera tais requisitos. IV – O entendimento da primeira parte do item III aplica-se aos processos em curso no Tribunal Superior do Trabalho em que, em 12/04/2016, ainda não haja sido proferida decisão de mérito por suas Turmas e Seções. 1.2.5.1.1. Introdução A redação da Súmula nº 288 foi alterada recentemente pelo TST (abril/2016). Inicialmente, cabe frisar que não há previsão na CLT sobre complementação de aposentadoria. Portanto, essa complementação deverá ter previsão em acordo, convenção ou regulamento de empresa. A complementação de aposentadoria consiste em uma vantagem dada pelo empregador ao empregado como forma de complementar a aposentadoria paga pelo INSS1. Não se confunde, portanto, com benefício previdenciário da Lei nº 8213/91. A complementação de aposentadoria não tem natureza salarial, portanto eventual complementação não vai refletir nas demais verbas salariais. Nesse sentido, estabelece o texto constitucional e a CLT: Art. 202, § 2º, da CF/88: As contribuições do empregador, os benefícios e as condições contratuais previstas nos estatutos, regulamentos e planos de benefícios das entidades de previdência privada não integram o contrato de trabalho dos participantes, assim como, à exceção dos benefícios concedidos, não integram a remuneração dos participantes, nos termos da lei. Art. 458, § 2º, da CLT: Para os efeitos previstos neste artigo, não serão consideradas como salário as seguintes utilidades concedidas pelo empregador: (...) VI – previdência privada 1.2.5.1.2. Antes da alteração da Súmula nº 288 do TST (abril/2016) Antes da alteração promovida em abril de 2016, a jurisprudência do TST defendia o fato de que as regras postas no ato da contratação do trabalhador somente poderiam ser alteradas se em benefício do empregado. Lembre-se de que os direitos previstos no regulamento de empresa, inclusive as regras de complementação de aposentadoria, incorporam-se, de forma definitiva, ao contrato de trabalho, aplicando-se a Súmula nº 51 do TST, comentada anteriormente. Havia intensa discussão sobre a possibilidade de alterar as regras no tocante à complementação de aposentadoria prevista em regulamento interno, durante o contrato de trabalho, uma vez que haveria apenas uma expectativa de direito. Essa tese defende o fato de que o empregado somente terá direito às regras previstas no regulamento interno, após preencher todos os requisitos para aposentadoria (o tempo de serviço, a idade para aquisição da aposentadoria etc.). Assim sendo, a aposentadoria seria um evento futuro e incerto, configurando-se uma condição e, portanto, não haveria direito adquirido do empregado (art. 125 do CC). Nesse caso, como se trata de mera expectativa de direito, o empregador poderia alterar todas as promessas feitas durante o contrato, sem que esse ato afrontasse o art. 468 da CLT, que veda as alterações prejudiciais. Aliás, nesse sentido, há previsão expressa no art. 202, § 2º, da Constituição Federal: Art. 202, § 2º, CF/88: As contribuições do empregador, os benefícios e as condições 1. “A complementação de aposentadoria é benesse pactuada durante o contrato de trabalho, entre o empregado e o empregador ou entre empregado e empresa do grupo econômico do empregador, com a anuência deste, para surtir efeitos após a aposentadoria do trabalhador. Tem o objetivo de garantir, a partir da aposentadoria, vantagens financeiras e/ou patrimoniais para complementar os proventos da aposentadoria pagos pelo INSS. Normalmente o complemento é feito por empresa de previdência privada, criada, mantida, patrocinada ou gerida pelo empregador.” CASSAR, Vólia Bonfim. Direito do Trabalho. 4. ed. rev. e ampl. Niterói: Impetus, 2010. p. 813 contratuais previstas nos estatutos, regulamentos e planos de benefícios das entidades de previdência privada não integram o contrato de trabalho dos participantes, assim como, à exceção dos benefícios concedidos, não integram a remuneração dos participantes, nos termos da lei. Aliás, o Supremo Tribunal Federal já decidiu que as alterações nas regras de aposentadoria dos servidores públicos federais não ferem direito adquirido, pois se trata apenas de expectativa de direito. 1.2.5.1.3. Após a alteração da Súmula nº 288 do TST (abril/2016) Com a recente alteração da Súmula nº 288, o tribunal diferenciou os efeitos decorrentes da complementação de aposentadoria concedida pelo empregador daquela decorrente de vínculo com entidades de previdência privada fechada: a) Complementação de aposentadoria instituída pelo empregador: No caso de complementação de aposentadoria instituída, regulamentada e paga diretamente pelo empregador, mantém-se o posicionamento que era previsto na antiga redação da Súmula nº 288, I, do TST, ou seja, as regras postas no ato da contratação do trabalhador devem prevalecer, exceto quando as alterações forem benéficas ao empregado: Súmula nº 288, I, do TST - A complementação dos proventos de aposentadoria, instituída, regulamentada e paga diretamente pelo empregador, sem vínculo com as entidades de previdência privada fechada, é regida pelas normas em vigor na data de admissão do empregado, ressalvadas as alterações que forem mais benéficas (art. 468 da CLT). Nesse caso, como se trata de causa decorrente da relação de trabalho (empregado x empregador), a competência para discuti-la é da Justiça do Trabalho. b) Complementação de aposentadoria com a participação de entidade de previdência privada: Se houver participação de entidade de previdência privada, as normas aplicáveis à complementação de aposentadoria do empregado serão, em regra, definidas somente quando o empregado preencher todos os requisitos para o recebimento do benefício previdenciário. Contudo, foram estabelecidas duas exceções à hipótese acima, de modo que nesses casos a concessão do benefício observará os requisitos data de admissão do empregado. A primeira refere-se ao limite temporal relativo à promulgação das Leis Complementaresnº 108 e 109 de 29/05/2001, que regulamentaram o regime de previdência privada em conformidade com o art. 202 da CF/88. Portanto, somente após a vigência dessas leis complementares, é possível a aplicação do novo posicionamento do TST. Todos os empregados que implementaram os requisitos para a obtenção do benefício – direito adquirido, bem como o direito acumulado dos empregados que não preencheram todos os requisitos devem ser observados. Direito acumulado compreende o direito do empregado ao recebimento dos recursos financeiros já alcançados pela aplicação na aposentadoria privada conforme regras anteriores. Quanto ao julgado que deu origem à alteração no posicionamento do TST2, extrai-se que 2 RR 162200-56.2009.5.01.0075, 7ªT - Min. Cláudio Mascarenhas Brandão . DEJT 02.10.2015/J-23.09.2015 - Decisão unânime. as normas que regem a complementação de aposentadoria não podem ser imutaveis, a fim de possibilitar o cumprimento das obrigacoes assumidas. Com isso, o TST fixou que, para que seja possível a manutencao desses benefícios complementares, se faz necessária a adequação dos planos de complementação salarial às normas vigentes, respeitando-se o direito adquirido e, para aqueles que ainda nao adquiriram na integralidade, seja obtida a proporção do direito que acumulou anteriormente à alteração. A segunda exceção consiste na aplicação do novo posicionamento somente aos processos em curso no TST que, em 12/04/2016, ainda não tinha decisão de mérito por suas Turmas e Seções, conforme disposto no item IV da Súmula em comentário. Trata-se de modulação dos efeitos da decisão do TST, embasada no art. 927, § 3º, do NCPC, definindo a data da deliberação da sessão como o marco para sua incidência3. Essa modulação é de extrema importância dando segurança jurídica aos jurisdicionados, já que a jurisprudência trabalhista não diferenciava os institutos, aplicando indiscriminadamente o art. 468 da CLT, de modo que as regras postas no ato da contratação do trabalhador somente poderiam ser alteradas se em benefício do empregado. 1.2.5.1.4. Coexistência de planos de previdência complementar Recentemente, essa Súmula 288 já havia sido alterada. Assim sendo, na hipótese de coexistência de dois regulamentos de planos de previdência complementar, instituídos pelo empregador ou por entidade de previdência privada, a opção do beneficiário por um deles tem efeito jurídico de renúncia às regras do outro. Essa alteração está no mesmo sentido da Súmula nº 51, II, do TST: “II - Havendo a coexistência de dois regulamentos da empresa, a opção do empregado por um deles tem efeito jurídico de renúncia às regras do sistema do outro.” Cabe destacar, ainda, que eventual termo de quitação assinado perante a Comissão de Conciliação Prévia (art. 625-E, parágrafo único, da CLT) possui abrangência limitada às verbas trabalhistas propriamente ditas, não alcançando eventuais diferenças de complementação de aposentadoria4. Ademais, não é possível a vinculação da complementação de aposentadoria ao piso salarial fixado em múltiplos de salário-mínimo, ainda que exista lei estadual assegurando a observância da norma coletiva que estipulou a base de cálculo, tendo em vista o disposto no art. 7º, IV, da CF/88 e na Súmula Vinculante 4 do STF5. 1.2.5.1.5. Competência para solucionar conflitos relacionados à complementação de aposentadoria. 3 TST-E-ED-RR-235-20.2010.5.20.0006, Tribunal Pleno. Rel. Min. ALOYSIO CORRÊA DA VEIGA. DJe 23.5.2016. 4. Informativo nº 33 – Confira o texto integral ao final desse capítulo 5. Informativo nº 70 do TST – Confira o texto integral ao final desse capítulo. (Súmula Vinculante nº 04 do STF – Salvo nos casos previstos na Constituição, o salário mínimo não pode ser usado como indexador de base de cálculo de vantagem de servidor público ou de empregado, nem ser substituído por decisão judicial.) No que tange à competência para dirimir os conflitos relacionados à complementação de aposentadoria, inicialmente, o TST pacificou o entendimento de que era da Justiça do Trabalho, por entender que decorria da relação de trabalho, mesmo em se tratando de viúva ou dependentes de ex-empregado. No entanto, o Supremo Tribunal Federal foi provocado nos recursos extraordinários nº 586453 e 583050 a se manifestar acerca da competência da Justiça do trabalho para julgar tais ações quando ajuizadas em face da entidade privada de previdência complementar. Depois de amplo debate sobre o tema, o STF decidiu que a competência para o julgamento de tais processos é da Justiça Comum, quando se tratar de entidade privada de previdência complementar, sob o fundamento de que a complementação de aposentadoria deriva de uma relação previdenciária autônoma, não sendo, portanto, decorrente da relação de trabalho a legitimar a competência da Justiça Laboral. Argumentou o Exmo. Ministro Dias Toffoli, em seu voto, que o art. 202, § 2º, da CF, declara expressamente que a previdência complementar não integra o contato de trabalho. Ademais, o art. 14, II, da LC nº 109/01 permite a portabilidade do direito acumulado pelo participante para outro plano, o que significa que o trabalhador poderá migrar de um fundo para outro, independentemente da relação de trabalho firmada. Decidiu, portanto, que a competência para julgar as ações de complementação de aposentadoria é da Justiça Comum, quando se tratar de discussão com a entidade de privada de previdência complementar. Contudo, a Suprema Corte modulou os efeitos da decisão (eficácia prospectiva da decisão) em prol da segurança jurídica, declinando que manterá, na Justiça do Trabalho, até final execução, todos os processos dessa espécie em que já tenha sido proferida sentença de mérito, até o dia 20.2.13 (data conclusão do julgamento do recurso), enquanto os processos que não tinham sentença de mérito nessa data deverão ser remetidos à Justiça Comum6. A decisão do E. STF, embora aparentemente tenha solucionado a controvérsia, há de ser bem interpretada. As ações de complementação de aposentadoria podem decorrer de: 1) plano instituído, regulamentado e pago pelo empregador; 2) plano por entidade privada de previdência complementar. Na primeira hipótese, trata-se de direito inserido no contrato de trabalho, incidindo inclusive o art. 468 da CLT, que veda a alteração lesiva ao empregado, como disposto pelo C. TST no item I da Súmula em comentário. Nesse caso, a competência é da Justiça do Trabalho, como se verifica pelas decisões das Cortes Superiores a seguir transcritas: EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. COMPLEMENTAÇÃO DE APOSENTADORIA A CARGO DO EX-EMPREGADOR. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA JULGAR E APRECIAR A CAUSA. ANÁLISE DE MATÉRIA FÁTICO- PROBATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULAS 279 E 454 DO STF. 6. RE nº 586.453-7 RG/SE. Rel. Min. Ellen Gracie. julg. 10.9.2009. Dje 02.10.2009; RE nº 594.435-2 R G / S P . R e l . M i n . M a r c o A u r é l i o . j u l g . 1 3 . 2 . 2 0 0 9 . D j e 6 . 1 1 . 2 0 0 9 . 1. A jurisprudência do STF é no sentido de que compete à Justiça do Trabalho o julgamento de ação de complementação de aposentadoria a cargo do ex-empregador (RE 716.896 AgR, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, DJe 29/04/2013; AI 670715 AgR-ED, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Segunda Turma, julgado em 17/08/2010, DJe 03/09/2010). 2. Não há como examinar matéria fático-probatória e interpretar cláusulas contratuais com o fim de seconcluir que a relação entre as partes não decorre do contrato de trabalho (Súmulas 279 e 454 do STF). 3. Agravo regimental a que se nega provimento. (negritei e sublinhei)7. PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO (NEGATIVO) DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇA ESTADUAL E JUSTIÇA DO TRABALHO. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. COMPLEMENTAÇÃO DE APOSENTADORIA A CARGO DO EX- EMPREGADOR. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. PRECEDENTES DO STF. Conflito conhecido para declarar a competência do juízo da 7ª vara do trabalho de santos/SP, o suscitado8. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. COMPLEMENTAÇÃO DE APOSENTADORIA PAGA PELA RECLAMADA (COMPANHIA DE SANEAMENTO BÁSICO DO ESTADO DE SÃO PAULO - SABESP), EX- EMPREGADORA DO RECLAMANTE. INAPLICABILIDADE DA MODULAÇÃO DE EFEITOS ESTABELECIDA NAS DECISÕES PROFERIDAS NOS RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS NºS 586453 e 583050. O Supremo Tribunal Federal, por ocasião do julgamento dos Recursos Extraordinários nºs 586453 e 583050, interpostos pela Fundação Petrobras de Seguridade Social (Petros) e pelo Banco Banespa S.A., respectivamente, processos julgados mediante o critério de repercussão geral, em sessão realizada em 20/2/2013, fixou o entendimento de que carece competência a esta Justiça especializada para processar e julgar as demandas que envolvam pedido de complementação de aposentadoria contra entidade de complementação de aposentadoria privada. Entretanto, a hipótese sub judice não é a mesma discutida nos autos dos citados recursos extraordinários, ou seja, a complementação de aposentadoria não era paga por entidade privada de aposentadoria complementar, mas pela 7 STF. Segunda Turma, AgR-AI 699.063, Relator: Ministro Teori Zavascki, DJe nº 125, publicado em 01/07/2013. 8 STJ. CC 134.542; Proc. 2014/0152494-0; SP; Primeira Seção; Rel. Min. Mauro Campbell Marques própria reclamada Sabesp (ex-empregadora do reclamante), com recursos da Fazenda Pública do Estado de São Paulo. Impende frisar que o Supremo Tribunal Federal, no julgamento dos Recursos Extraordinários nºs 586453 e 583050, considerou o pagamento da complementação de aposentadoria feito por entidade de previdência privada, sem vínculo trabalhista com o reclamante, para afastar a competência da Justiça do Trabalho. Já no caso de aposentadoria complementar decorrente do contrato de trabalho e paga pelo empregador, aquela Corte firmou o entendimento de que esta Justiça especializada possui competência para apreciar e julgar o feito. Assim, nos termos da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e desta Corte, é inaplicável à hipótese dos autos (inexistência de pagamento por meio de entidade privada de complementação de aposentadoria) a modulação de efeitos estabelecida nas decisões proferidas nos citados recursos extraordinários, sendo irrelevante a existência de decisão anterior a 20/02/2013, ressalvado entendimento em sentido contrário do Relator. Portanto, o Tribunal a quo, ao manter a sentença pela qual foi declarada a incompetência da Justiça do Trabalho para apreciar e julgar a ação em curso em que o pedido de diferenças de complementação de aposentadoria decorre do contrato de trabalho e era pago por sua antiga empregadora (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo - Sabesp), afrontou o artigo 114 da Constituição Federal. Recurso de revista conhecido e provido9. Na segunda hipótese, é possível pelo menos duas modalidades de ações: - uma em face do empregador requerendo o pagamento de diferenças na complementação de aposentadoria que não foram corretamente quitadas pelo empregador; e - outra em face da entidade de previdência privada para discutir o próprio benefício da aposentadoria complementar como, por exemplo, se as regras para sua concessão são as estabelecidas no momento da contratação ou as instituídas na época em que preenchidos todos os requisitos para a aquisição do benefício. A ação em face do empregador continua sendo de competência da Justiça do Trabalho, porque decorrentes da relação do trabalho (CF/ 114, I). Já a ação em face da entidade de previdência privada é da Justiça Comum, o que significa que a decisão do E. STF atinge tão somente essa última hipótese. Portanto, a competência da Justiça Comum não é definida apenas pela matéria a ser julgada, mas também pela parte10, ou seja, quando a entidade de previdência complementar estiver no polo passivo. De qualquer modo, é importante destacar que, como anunciado acima, as ações ajuizadas em face da entidade de previdência privada que tinham sentença de mérito no dia 20.2.13, continuaram na Justiça do Trabalho. Quero dizer, a ação é de competência da Justiça comum, 9 TST-RR-341-36.2013.5.02.0019, Relator Ministro José Roberto Freire Pimenta, 2ª Turma, publicado no DEJT de 20/03/2015. 10 TST-RR -107000-90.2004.5.02.0017 , Relator Ministro: Aloysio Corrêa da Veiga, Data de Julgamento: 15/04/2015, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT 17.4.2015. mas em decorrência da modulação dos efeitos da decisão do STF, se já tinha sentença de mérito será julgada em grau recursal pela Justiça do Trabalho. Nesse caso, como se trata de relação previdenciária e não trabalhista, o C. TST entendeu que, nessa hipótese, os julgamentos devem ocorrer com base na sistemática previdenciária e não com regras do direito do trabalho, afastando especialmente a aplicação do princípio da inalterabilidade lesiva. É por isso que o C. TST alterou seu entendimento na Súmula em comentário, inserindo o item III, observada a modulação descrita no item IV. Desse modo, o item III somente tem relevância para esses casos residuais que ainda não foram julgados pelo tribunais. Por fim, no tocante à prescrição11 da complementação de aposentadoria prevista no regulamento interno, acordo ou convenção coletiva, é necessário que se analise se houve, em algum momento, o pagamento da complementação. Se a parcela jamais foi paga, estaremos diante da prescrição total, isto é, prazo de 2 anos a contar da concessão da aposentadoria, conforme previsto na Súmula nº 326 do TST. Por outro lado, se houve pagamento da complementação e posteriormente ocorreu a redução do valor, estaremos diante da prescrição parcial, ou seja, o prazo prescricional renova-se mês a mês, podendo pleitear os últimos 5 anos de diferença da complementação de aposentadoria, a contar do ajuizamento da ação, segundo posicionamento previsto na Súmula nº 327 do TST. Sobre o tema complementação de aposentadoria, consulte a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça: Súmula nº 291 do STJ: A ação de cobrança de parcelas de complementação de aposentadoria pela previdência privada prescreve em cinco anos. CAPÍTULO II – SUJEITOS DA RELAÇÃO EMPREGATÍCIA 1. EMPREGADO 1.1. Introdução. Requisitos da relação empregatícia .... d) Subordinação A característica mais importante da relação empregatícia é a subordinação ou ainda, de acordo com o texto da CLT: “empregado trabalha sob a dependência do empregador”. Se o empregador assume todos os riscos do empreendimento, ele terá o poder de organizar e dirigir a prestação de serviços. Dessa forma, o empregado fica subordinado às ordens do empregador. Note que, na subordinação, o empregado fica sujeito às orientações dadas pelo empregador, como horário de trabalho, utilização de maquinário etc. Essa subordinação não alcança a vida pessoal do trabalhador. Trata-se de subordinação objetiva, portanto. Além dos requisitos da pessoa física e pessoalidade, onerosidade, não eventualidade e subordinação, alguns autores destacam a alteridade como requisitodo vínculo empregatício. A alteridade obriga que todos os riscos do empreendimento sejam suportados 11. Para informações mais detalhadas sobre prescrição e acerca das Súmulas nº 326 e 327 do TST, ver Capítulo X desse livro. exclusivamente pelo empregador. Assim sendo, em momentos de crise financeira mundial, os prejuízos da empresa serão exclusivos do empregador, não podendo dividi-los com os trabalhadores. O salário deve ser pago, portanto, tendo a empresa lucros ou prejuízos. Feitas essas considerações, conclui-se que uma vez presente os quatro requisitos (pessoalidade, onerosidade, não eventualidade e subordinação), será declarado o vínculo, independentemente da nomenclatura que seja utilizado para identificar o trabalhador (funcionário, colaborador, ajudante etc.)12. No direito do trabalho, vigora o princípio da primazia da realidade, prevalecendo a realidade sobre a forma. Nesse sentido, a interessante jurisprudência dos TRTs da 1ª e 8ª Regiões: Súmula nº 2 do TRT – 1ª Região. Corretor de seguros. Vínculo de emprego. É empregado, e não corretor autônomo de seguros, o trabalhador que reúna os requisitos do art. 3º da CLT. Súmula nº 9 do TRT – 8ª Região. Vendedor de seguros e títulos de previdência privada. Preenchidos os requisitos do art. 3º da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, é legítimo o reconhecimento de relação de emprego entre o intermediário e a instituição financeira para a qual agencia a venda de Seguros e Títulos da Previdência Privada. Aliás, o Auditor Fiscal do Trabalho – AFT - tem a prerrogativa de reconhecer o vínculo empregatício, quando ainda não foi devidamente regularidado pelo empregador, como na ausência de registro, nas terceirizações ilegais ou mesmo nos casos comuns de fraude, em que se utiliza estagiários ou falsos empresários como verdadeiros empregados. Havia discussão se esse reconhecimento do vínculo estaria invadindo a competência da Justiça do Trabalho. O TST13 tem posicionamento pacífico no sentido de conferir essa prerrogativa agente da fiscalização do trabalho. O AFT, portanto, não se limita apenas à análise da regularidade da documentação apresentada pelos empregadores. Compete a ele, também, verificar o fiel cumprimento da legislação trabalhista no tocante à regularidade na formalização do vínculo de emprego. Vale destacar que a doutrina apresenta outros aspectos e conceitos ligados à subordinação. São eles: parassubordinação e subordinação estrutural ou integrativa. .... 1.3. Empregado rural 1.3.1. Introdução. Identificação do empregado rural Inicialmente, o empregado rural não possuía os mesmos direitos dos empregados urbanos. Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, ocorreu a equiparação de direitos entre empregados urbanos e rurais. Empregado rural possui os mesmos requisitos dos demais para configurar o vínculo empregatício: pessoa física, não eventualidade, onerosidade e subordinação. O ponto essencial para identificar o trabalhador rural é prestar serviços ao empregador rural. 12 Destaca-se que, uma vez reconhecido o vínculo de emprego, não é possível a renúncia do trabalhador à sua condição de empregado diante do princípio da irrenunciabilidade dos direitos trabalhistas. 13 O auditor do trabalho não invade a competência da Justiça do Trabalho quando declara a existência de vínculo de emprego e autua empresas por violação ao artigo 41 da Consolidação das Leis do Trabalho.” Processo: RR-173700-35.2007.5.07.0007 Contudo, destaca-se que, recentemente (outubro/2015), o TST cancelou a Orientação Jurisprudencial nº 419 da SDI-I 14 que estabelecia que o empregado seria rurícola independentemente da atividade desenvolvida. O TST fundamentou o cancelamento da OJ, pois ela não mencionava enquadramento sindical desses trabalhadores. Permanece, portanto, a regra de que o trabalhador que prestar serviços ao empregador rural, será empregado rural. Assim sendo, de acordo com o art. 2º da Lei nº 5889/73: Art. 2º: Empregado rural é toda pessoa física que, em propriedade rural ou prédio rústico, presta serviços de natureza não eventual a empregador rural, sob a dependência deste e mediante salário. O importante para identificar o trabalhador rural é definir quem é o empregador rural. De acordo com a lei, é a pessoa física ou jurídica que explore a atividade agroeconômica. Assim sendo, mesmo que o prédio esteja localizado em área urbana, se a sua destinação envolver exploração agrícola ou pecuária, o empregado será rural. Nesse sentido, estabelece a Súmula nº 19 do TRT da 24ª Região: Súmula nº 19 do TRT da 24ª Região: Enquadramento sindical. O trabalhador que presta serviço a empregador agroindustrial, seja ele atuante no campo ou no processo industrial da empresa, é industriário, justificando a representatividade da categoria e legitimidade da negociação pelo sindicato dos trabalhadores n a indústria Recentemente (outubro/2015), o TST cancelou a OJ nº 315 da SDI-I15 que estabelecia que o motorista de empresa que desenvolve atividade rural era empregado rural. De acordo com o TST, essa jurisprudência entra em conflito com a Súmula nº 117 do TST16, uma vez que o motorista de banco não é considerado como bancário por integrar categoria profissional diferenciada17 . Assim, o motorista de empregador rural não pode ser considerado como empregado rural, mas sim pertencente à categoria diferenciada.Deve-se ressaltar que o empregado que prestar serviços ao empregador rural em âmbito residencial, por exemplo, na sede da fazenda, é empregado doméstico, pois não está inserido em atividade lucrativa. No meio rural, é frequente a figura do aliciador de trabalhadores, chamado de “gato”, que funciona como intermediário de mão de obra. Ele contrata e fornece transporte aos trabalhadores rurais e os coloca à disposição do empregador. Nesse caso, a intermediação é ilícita e o vínculo empregatício será diretamente com o empregador rural. Nesse sentido: 14. OJ nº 419 da SDI – I do TST (CANCELADA). Considera-se rurícola empregado que, a despeito da atividade exercida, presta serviços a empregador agroindustrial (art. 3º, § 1º, da Lei nº 5.889, de 08.06.1973), visto que, neste caso, é a atividade preponderante da empresa que determina o enquadramento. 15. Orientação Jurisprudencial nº 315 da SDI-I do TST. (CANCELADA) “É considerado trabalhador rural o motorista que trabalha no âmbito de empresa cuja atividade é predominantemente rural, considerando que, em modo geral, não enfrenta o trânsito das estradas e cidades.” 16. Súmula nº 117 do TST: Não se beneficiam do regime legal relativo aos bancários os empregados de estabelecimento de crédito pertencentes a categorias profissionais diferenciadas. 17. Para maiores informações a respeito da categoria profissional diferenciada, sugiro a leitura do tópico 2.1.1. do capítulo de Direito Coletivo do Trabalho. Os denominados gatos ou turmeiros, os quais ficam arregimentando trabalhadores para laborar em propriedades rurais, não são considerados empregadores, mas sim simples intermediários, formando-se o vínculo de emprego dos empregados rurais diretamente com a empresa rural18. Por fim, destaca-se que, recentemente (outubro/2015), a Lei nº 5.889/1973 foi alterada para prever que o turismo realizado de forma acessória à exploração agroeconômica enquadra-se como atividade rural para fins de reconhecimento do empregador rural: Art. 3º, Lei nº 5.889/1973 - Considera-se empregador, rural,para os efeitos desta Lei, a pessoa física ou jurídica, proprietário ou não, que explore atividade agro-econômica, em caráter permanente ou temporário, diretamente ou através de prepostos e com auxílio de empregados. § 1º Inclui-se na atividade econômica referida no caput deste artigo, além da exploração industrial em estabelecimento agrário não compreendido na Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei nª 5.452, de 1º de maio de 1943, a exploração do turismo rural ancilar à exploração agroeconômica. 1.3.4. Intervalo intrajornada. Rurícola Súmula nº 437 do TST. Intervalo intrajornada para repouso e alimentação. Aplicação do art. 71 da CLT. (conversão das Orientações Jurisprudenciais n.os 307, 342, 354, 380 e 381 da SBDI-1) I – Após a edição da Lei nº 8.923/94, a não concessão total ou a concessão parcial do intervalo intrajornada mínimo, para repouso e alimentação a empregados urbanos e rurais, implica o pagamento total do período correspondente, e não apenas daquele suprimido, com acréscimo de, no mínimo, 50% sobre o valor da remuneração da hora normal de trabalho (art. 71 da CLT), sem prejuízo do cômputo da efetiva jornada de labor para efeito de remuneração. O intervalo concedido ao empregado rural para descanso e refeição, na jornada superior a 6 horas, será estabelecido de acordo com os usos e costumes da região. Em razão disso, havia discussão sobre a necessidade de respeitar o intervalo mínimo de 1 hora para descanso e refeição, quando a jornada excedesse a 6 horas. A Lei nº 5889/73 prevê apenas “intervalo de acordo com usos e costumes da região”. Por outro lado, há previsão no art. 5º, § 1º, do Decreto nº 73.626/74, que regulamenta o trabalho rural: Art. 5º, § 1º, Decreto nº 73.626/1974: Será obrigatória, em qualquer trabalho contínuo de duração superior a 6 (seis) horas, a concessão de um intervalo mínimo de 1 (uma) hora para repouso ou alimentação, observados os usos e costumes da região. O TST, na OJ nº 381, cancelada pela atual Súmula 437 do TST, posicionou-se a respeito dessa discussão. Como se trata de norma de saúde do trabalhador, o intervalo deve ser de no mínimo 1 hora para jornadas que extrapolem 6 horas diárias. Prevaleceu, portanto, a previsão no decreto. A antiga OJ 381 era exatamente nesse mesmo sentido e previa: Orientação Jurisprudencial nº 381 da SDI – I do TST. Intervalo intrajornada. Rurícola. Lei n.º 5.889, de 08.06.1973. Supressão total ou parcial. Decreto n.º 73.626, de 12.2.1974. aplicação do art. 71, § 4º, da CLT. A não concessão total ou parcial do intervalo mínimo intrajornada de uma hora ao trabalhador rural, fixado no Decreto n.º 73.626, de 12.02.1974, que regulamentou a Lei 18. SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. Série Concurso Público. 7. ed. São Paulo: Método, 2008. p. 60. n.º 5.889, de 08.06.1973, acarreta o pagamento do período total, acrescido do respectivo adicional, por aplicação subsidiária do art. 71, § 4º, da CLT. (CANCELADA) A supressão total ou parcial do intervalo, mesmo que via negociação coletiva, acarretará duas consequências ao empregador urbano ou rural. A primeira delas, multa administrativa imposta pela fiscalização do trabalho. Na segunda consequência, o empregador ficará obrigado a pagar esse período suprimido ou reduzido com adicional de 50%. O TST, de acordo com a orientação em análise, aplicou o art. 71, § 4º também ao empregador rural que desrespeita o intervalo intrajornada. Aliás, esse adicional de 50% possui natureza salarial, isto é, terá reflexo nas demais verbas trabalhistas. Conforme previsto na legislação e na jurisprudência do TST: Art. 71, § 4º, da CLT. Quando o intervalo para repouso e alimentação, previsto neste artigo, não for concedido pelo empregador, este ficará obrigado a remunerar o período correspondente com um acréscimo de, no mínimo, cinquenta por cento sobre o valor da remuneração da hora normal de trabalho. Nesse sentido prevê a Súmula nº 437 do TST: Súmula nº 437 do TST. Intervalo intrajornada para repouso e alimentação. Aplicação do art. 71 da CLT. (conversão das Orientações Jurisprudenciais n.os 307, 342, 354, 380 e 381 da SBDI-1) I – Após a edição da Lei nº 8.923/94, a não concessão total ou a concessão parcial do intervalo intrajornada mínimo, para repouso e alimentação a empregados urbanos e rurais, implica o pagamento total do período correspondente, e não apenas daquele suprimido, com acréscimo de, no mínimo, 50% sobre o valor da remuneração da hora normal de trabalho (art. 71 da CLT), sem prejuízo do cômputo da efetiva jornada de labor para efeito de remuneração. II - É inválida cláusula de acordo ou convenção coletiva de trabalho contemplando a supressão ou redução do intervalo intrajornada porque este constitui medida de higiene, saúde e segurança do trabalho, garantida por norma de ordem pública (art. 71 da CLT e art. 7º, XXII, da CF/1988), infenso à negociação coletiva. III – Possui natureza salarial a parcela prevista no art. 71, § 4º, da CLT, com redação introduzida pela Lei nº 8.923, de 27 de julho de 1994, quando não concedido ou reduzido pelo empregador o intervalo mínimo intrajornada para repouso e alimentação, repercutindo, assim, no cálculo de outras parcelas salariais. IV – Ultrapassada habitualmente a jornada de seis horas de trabalho, é devido o gozo do intervalo intrajornada mínimo de uma hora, obrigando o empregador a remunerar o período para descanso e alimentação não usufruído como extra, acrescido do respectivo adicional, na forma prevista no art. 71, caput e § 4º, da CLT.” Por fim, outra particularidade diz respeito aos serviços intermitentes, em que há possibilidade de intervalos mais longos, como dos empregados que trabalham com gado leiteiro, que saem de madrugada para a primeira ordenha e voltam apenas no fim da tarde para a segunda. E também aos empregados que lidam com irrigação da lavoura. O Decreto nº 73.626/1974, que regulamenta a Lei do Rural, traz o conceito para esses serviços: Art. 10, parágrafo único, Decreto nº 73.626/1974: Considera-se serviço intermitente aquele que, por sua natureza, seja normalmente executado em duas ou mais etapas diárias distintas, desde que haja interrupção do trabalho de, no mínimo, 5 (cinco) horas, entre uma e outra parte da execução da tarefa. Esses intervalos de, no mínimo, 5 horas, não são computados na jornada de trabalho do empregado rural, mas devem estar expressamente ressalvados na CTPS do rural19. 2. EMPREGADOR 2.1. Introdução O conceito de empregador está previsto no art. 2º da CLT: Art. 2º, caput, CLT: Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviços. O empregado não divide os riscos da atividade econômica com o empregador. Assim sendo, momentos de crise mundial, baixa produtividade, vendas abaixo das expectativas não autorizam o empregador a reduzir ou descontar salários de seus empregados. Não poderia ser diferente, pois as empresas não estão obrigadas a dividir os lucros com seus trabalhadores, logo os prejuízos também não poderão ser repartidos. A responsabilidade exclusiva da empresa pelos prejuízos ou fracasso do empreendimento é chamado de princípio da alteridade. Cabe destacar que há possibilidade de flexibilização do princípio da alteridade com a instituição da figura do “lay off”, que se refere ao afastamento temporário do empregado mediante recebimento de licença-remunerada. O art. 476-A da CLT prevê a qualificação profissional do trabalhador que deverá ser aprovada por instrumento coletivo. Durante operíodo de até 5 meses, o empregado será afastado para frequentar curso de qualificação. O FAT – Fundo de Amparo ao Trabalhador, será o responsável pela concessão de bolsa de qualificação profissional, enquanto durar o afastamento do empregado. Recentemente (novembro/2015), foi publicada a Lei nº 13.189/2015 prevendo nova hipótese de “lay off”20 como resposta ao aumento no número de desempregos diante de crise econômica. Criou-se o Programa de Proteção ao Emprego – PPE. Essa nova lei permite que a empresa reduza a jornada de trabalho de seus empregados em até 30% com a correspondente diminuição do salário. O valor pago pelo empregador após a redução não pode ser inferior ao salário mínimo. Para que essa redução seja válida, é necessária a celebração de acordo coletivo como sindicato profissional. Por fim, o prazo de duração dessa medida é de até 6 meses, prorrogáveis até o limite de 24 meses (art. 5º, IV, Lei nº 13.189/2015). Outro ponto importante trata do empregador não só como empresa, mas também da contratação de empregados por profissionais liberais, associações recreativas, entidades sem fins lucrativos etc. A CLT utiliza-se do termo empregador por equiparação, ou seja, também são empregadores as igrejas, o advogado que contrata secretária, a cooperativa que contrata telefonista, o condomínio de apartamentos etc. De acordo com o § 1º do art. 2º da CLT: 19 Art. 6º da Lei nº 5889/73. “Nos serviços caracteristicamente intermitentes, não serão computados, como de efetivo exercício, os intervalos entre uma e outra parte da execução da tarefa diária, desde que tal hipótese seja expressamente ressalvada na Carteira de Trabalho e Previdência Social.” 20 Para se evitar a ocorrência de demissões em massa de empregados e permitir maior qualificação profissional dos empregados, é necessário adotar medidas que garantam a manutenção dos contratos de trabalho mesmo em momentos de crise. Uma dessas hipóteses é o denominado “lay off”. Para maiores informações, veja o tópico 3.1. do Capítulo 1 desta obra. Art. 2º, § 1º, CLT: Equiparam-se ao empregador, para os efeitos exclusivos da relação de emprego, os profissionais liberais, as instituições de beneficência, as associações recreativas ou outras instituições sem fins lucrativos, que admitirem trabalhadores como empregados. Ao estudar a figura do empregador, é importante tratar dos seguintes institutos: grupo econômico, sucessão trabalhista e poderes do empregador. Esses 3 pontos serão tratados a seguir com base na jurisprudência do TST, conforme quadro de memorização a seguir: .... 2.3.6. Ausência de concurso público na administração pública indireta. Posterior privatização. Convalidação Súmula nº 430 do TST. Administração pública indireta. Contratação. Ausência de concurso público. Nulidade. Ulterior privatização. Convalidação. Insubsistência do vício. Convalidam-se os efeitos do contrato de trabalho que, considerado nulo por ausência de concurso público, quando celebrado originalmente com ente da Administração Pública Indireta, continua a existir após a sua privatização. Como visto, a Constituição Federal, no art. 37, II e § 2º, veda, expressamente, a contratação sem o prévio concurso público com base nos princípios da legalidade, moralidade, impessoalidade e publicidade. Não há, portanto, aplicação do princípio da primazia da realidade e tampouco a possibilidade de contrato de trabalho tácito com a Administração Pública (art. 442 da CLT). A consequência da contratação, sem prévio concurso público, é a nulidade do contrato de trabalho. O servidor que estiver de forma irregular, na Administração, receberá apenas saldo de salário e os depósitos do FGTS, conforme Súmula nº 363 do TST: Súmula nº 363 do TST. A contratação de servidor público, após a CF/1988, sem prévia aprovação em concurso público, encontra óbice no respectivo art. 37, II e § 2º, somente lhe conferindo direito ao pagamento da contraprestação pactuada, em relação ao número de horas trabalhadas, respeitado o valor da hora do salário-mínimo, e dos valores referentes aos depósitos do FGTS. A recente Súmula nº 430 do TST trata da privatização de empresa pública da administração indireta. A privatização ocorre quando uma empresa pública é adquirida pelo setor privado. Esse fenômeno também é conhecido por desestatização. Exemplos: Vale do Rio Doce foi adquirida e se tornou a empresa Vale; o banco Banespa foi comprado pela Santander. Na hipótese de privatização, as antigas contratações sem o prévio concurso serão convalidadas, pois não se exige, na iniciativa privada, o requisito do concurso. Assim sendo, o servidor que antes estava trabalhando de forma irregular, por ausência do prévio concurso público, após a privatização, terá todos os direitos trabalhistas garantidos. A seguir, dois precedentes que deram origem à recente Súmula nº 430: RECURSO DE REVISTA. CONTRATO NULO. SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA. PRIVATIZAÇÃO. Na linha dos precedentes desta Corte Uniformizadora, a privatização de sociedade de economia mista convalida contrato de empregado admitido, anteriormente, sem concurso público, inexistindo nulidade a ser declarada. Precedentes. Recurso de revista de que não se conhece. (RR-1154000-87.2002.5.09.0003, 1ª Turma, Rel. Min. Walmir Oliveira da Costa, D.J. de 24/4/2009) RECURSO DE REVISTA. ARGUIÇÃO DE NULIDADE DO CONTRATO DE TRABALHO. AUSÊNCIA DE CONCURSO PÚBLICO. SUCESSÃO. EMPRESA PRIVADA. Impertinente a alegação de contrariedade à Súmula nº 363 do TST e de violação ao artigo 37, II e § 2º, da Constituição da República, tendo em vista que a empresa sucessora da sociedade de economia mista é empresa privada, não se lhe aplicando a vedação de contratação por ausência de concurso público. Como bem asseverou a Corte de origem, a aceitação pela sucedida da continuidade da prestação dos serviços pelo reclamante, não submetido anteriormente a concurso público para ingresso na sucedida, convalidou o ato, não podendo posteriormente arguir a nulidade da contratação se não o fez no momento oportuno. Recurso de revista não conhecido. (E-RR-157500-70.2000.5.19.0004, 1ª Turma, Rel. Min. Lelio Bentes Corrêa, D.J. de 28/3/2008) Essa nova súmula também trata do fenômeno da sucessão trabalhista, pois o novo adquirente (sucessor) assumirá todos os débitos trabalhistas do antigo proprietário (Estado). Deverá pagar os contratos de trabalho, inclusive dos empregados admitidos sem concurso público. O fenômeno da estatização, entretanto, é inverso. Nesse caso, o Estado adquire uma empresa privada, e os empregados que antes poderiam ser contratados livremente, após a estatização, deverão ser submetidos ao prévio concurso público, conforme art. 37, II, da CF/88. Não há, portanto, sucessão trabalhista entre o sucedido (empresa privada) e sucessor (Estado). Caso não haja realização de concurso após a estatização, os empregados estarão em situação irregular, tendo direito apenas ao saldo de salário e depósitos do FGTS, conforme posicionamento do TST: Súmula nº 363 do TST. Contrato nulo. Efeitos A contratação de servidor público, após a CF/1988, sem prévia aprovação em concurso público, encontra óbice no respectivo art. 37, II e § 2º, somente lhe conferindo direito ao pagamento da contraprestação pactuada, em relação ao número de horas trabalhadas, respeitado o valor da hora do salário-mínimo, e dos valores referentes aos depósitos do FGTS. Para os empregados que ingressaram com a ação judicial, antes da estatização, e se a ação já estiver na fase de execução com penhora de bens, não será submetida ao precatório previsto no art. 100 da CF/88, com base noprincípio da segurança jurídica e do direito adquirido. No tocante às entidades públicas que explorem atividade econômica (art. 173, § 1º, II, da CF/88), elas não se submetem ao regime diferenciado de execução (precatório), podendo ter seus bens penhorados. Os Correios, por outro lado, não estão sujeitos à penhora, pois o STF21 entende que é pessoa jurídica equiparada à Fazenda Pública, aplicando a ele a impenhorabilidade de seus bens, rendas e serviços. Nesse sentido, prevê a jurisprudência do TST: Orientação Jurisprudencial nº 343 da SDI-I do TST. Penhora. Sucessão. Art. 100 da CF/1988. Execução É válida a penhora em bens de pessoa jurídica de direito privado, realizada anteriormente à sucessão pela União ou por Estado-membro, não podendo a execução prosseguir mediante precatório. A decisão que a mantém não viola o art. 100 da CF/1988. Orientação Jurisprudencial nº 87 da SDI-I do TST. Entidade pública. Exploração de 21. RE 222.906. Essa decisão entendeu que o Decreto-Lei nº 509/69 foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988. atividade eminentemente econômica. Execução. Art. 883 da CLT. É direta a execução contra a APPA e MINASCAIXA (§ 1º do art. 173 da CF/88) Ademais, é importante destacar que há divergência jurisprudencial acerca da sucessão em cartórios extrajudiciais. Os cartórios extrajudiciais são responsáveis pelo desenvolvimento de serviços notariais e de registro. Há expressa previsão constitucional que determina o exercício desses serviços por meio de delegação do Poder Público. Para exercer esse trabalho, há necessidade de se submeter a concurso público de provas e títulos, conforme previsto da legislação: Art. 236 da CF. Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público. § 1º Lei regulará as atividades, disciplinará a responsabilidade civil e criminal dos notários, dos oficiais de registro e de seus prepostos, e definirá a fiscalização de seus atos pelo Poder Judiciário. § 2º Lei federal estabelecerá normas gerais para fixação de emolumentos relativos aos atos praticados pelos serviços notariais e de registro. § 3º O ingresso na atividade notarial e de registro depende de concurso público de provas e títulos, não se permitindo que qualquer serventia fique vaga, sem abertura de concurso de provimento ou de remoção, por mais de seis meses. A Lei nº 8.935/1994, também denominada, Lei dos cartórios, estabelece o conceito de serviços notariais e de registro, bem como o conceito de notário e registrador, profissionais que podem exercer essas atividades: Art. 1º Serviços notariais e de registro são os de organização técnica e administrativa destinados a garantir a publicidade, autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos. Art. 3º Notário, ou tabelião, e oficial de registro, ou registrador, são profissionais do direito, dotados de fé pública, a quem é delegado o exercício da atividade notarial e de registro. Os serviços notariais e de registro são exercidos por particular mediante delegação do poder público e, portanto, desenvolvem serviço público em “caráter privado”. São autorizados a contratar auxiliares que serão regidos pela CLT e que terão todas as proteções atinentes ao contrato de emprego, inclusive no tocante à sucessão de empregadores22. De acordo com Vólia Bomfim Cassar23, parte da jurisprudência entende que a transferência de titularidade de um cartório extrajudicial impede a sucessão trabalhista, uma vez que o notário foi aprovado em concurso público e, assim, ausente ato negocial entre o antecessor e o novo titular e nem a transferência do patrimônio. Por outro lado, a corrente que vem prevalecendo no âmbito do TST sustenta que a transferência de titularidade do cartório extrajudicial ocasiona também a transferência de todos os elementos do estabelecimento. Nesse sentido, haverá sucessão trabalhista e o sucessor responderá por todos os débitos trabalhistas do sucedido no termo dos art. 10 e 448 da CLT. Nesse sentido: EMENTA: Agravo de instrumento. Recurso de revista. Preliminar de nulidade por negativa de prestação jurisdicional. Não se caracteriza a nulidade pretendida quando 22. CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho. 8. ed. São Paulo: Método, 2013. p. 464-465. 23. CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho. 8. ed. São Paulo: Método, 2013. p. 465. o e. Tribunal regional recorrido expõe fundamentadamente as razões de decidir. Vínculo de emprego. Cartório. Sucessão. Não é a forma de investidura do titular do cartório extrajudicial (concurso público) que determina a sucessão, mas os elementos caracterizadores desta, consistentes, in casu, na alteração da titularidade do serviço notarial com a correspondente transferência da unidade econômico-jurídica que integra o estabelecimento, somada à continuidade na prestação dos serviços. Processa-se a sucessão, portanto, nos mesmos moldes da sucessão empresarial, de forma que o titular do cartório, sucessor, é o responsável pelos débitos trabalhistas. Horas extras. Controle de jornada. O Tribunal Regional não olvidou da alegação do reclamado, objeto da contestação, consistente na impossibilidade de apresentação dos controles de freqüência. Ocorre que tal justificativa, no sentido de que -...nos arquivos da serventia não se encontravam todos os documentos indispensáveis à elaboração da peça defensiva- (decisum, fl. 97), que levou o novo titular do cartório a não receber a documentação do tabelião anterior, conforme explicita o reclamado em sua preliminar de nulidade, desserve ao fim pretendido, porquanto reconhecida a sucessão, e aqui confirmada, não socorre o sucessor a incúria do sucedido. Agravo de instrumento a que se nega provimento. (TST - AIRR: 142440-21.2003.5.01.0241, Relator: Horácio Raymundo de Senna Pires, Data de Julgamento: 31/10/2007 – grifos acrescidos) .... 2.4. Poderes do empregador 2.4.1. Introdução O poder do empregador está previsto no art. 2º da CLT, pois o empregador “dirige a prestação pessoal de serviços”. Como ele assume, exclusivamente, os riscos da atividade econômica, há necessidade de organizar e controlar a prestação de serviços, mesmo que, para isso, seja necessária a aplicação de penalidades aos trabalhadores. Se de um lado há presença do poder de direção, por parte do empregado há também a presença da subordinação. Importante frisar que esses poderes, conferidos ao empregador, não são absolutos. Há limites previstos na CLT e na CF/88, por exemplo, respeitar a intimidade e a dignidade do empregado. Aliás, se transmitida ordem ilegal (comprar entorpecentes, fazer sexo com clientes da empresa), alheia ao contrato (empregado contratado como professor de inglês, sendo exigido que transporte os filhos do empregador para escola e que faça suas compras de supermercado), ou desproporcional (trabalhar 18 horas por dia, ou sem equipamentos básicos de proteção, ou impedir o empregado de utilizar o banheiro para evitar interrupção na produção24), o empregado poderá se recusar25 a cumprir a ordem dada. Nesse caso, ao exercer seu direito de resistência (jus resistentiae), o empregado não poderá ser punido pelo descumprimento da ordem. 24 Informativo nº 120 do TST (confira texto integral ao final do capítulo). 25. De acordo com Délio Maranhão, o direito de resistência ou jus resistentiae: “A personalidade do empregado não se anula com o contrato de trabalho, razão pela qual lhe é reconhecido certo jus resistentiae no que respeita às determinações do empregador.Assim, pode ele, legitimamente, recusar-se ao cumprimento de um ordem, por exemplo, que o coloque em grave risco, que fuja à natureza do trabalho contratado, que o humilhe ou diminua moralmente, ou seja ilícita, ilegal ou de execução extraordinariamente difícil”. O poder de direção26 é dividido, pela doutrina, em 3 aspectos: 1. Poder de organização: consiste em distribuir as tarefas aos empregados, fixar o horário de trabalho, dar comando para utilização de uniformes etc. Dentro desse poder de organização, pode-se acrescentar a possibilidade dada ao empregador de expedir ordens gerais, por meio do regulamento da empresa. Essa atribuição é chamada de Poder Regulamentar que será tratado a seguir com base na jurisprudência do TST. 2. Poder de controle: por meio do controle, o empregador fiscaliza as tarefas executadas, verifica o cumprimento da jornada de trabalho e protege seu patrimônio, mediante o controle de estoque, produtividade etc. Cabe frisar que há discussão sobre a possibilidade de fiscalizar o correio eletrônico (e- mail) do empregado. Prevalece o entendimento de que se o e-mail é da empresa (corporativo), utilizado como ferramenta de trabalho, há possibilidade de fiscalização, pois é responsabilidade da própria empresa verificar o conteúdo dessas mensagens. O controle, entretanto, não pode recair sobre o correio eletrônico pessoal/particular do trabalhador, sob pena de configurar afronta à intimidade. Outra questão interessante é a possibilidade de revistas íntimas e pessoais dos empregados. O(a) trabalhador(a) que lida com joias ou munição de armas poderá ser revistado? Há expressa previsão em lei vedando revistas íntimas nas mulheres, art. 373-A, VI, da CLT. Essa proibição à revista íntima tem sido estendida também aos empregados do sexo masculino, com fundamento no princípio da igualdade. Recentemente (abril/2016), foi promulgada a Lei nº 13.271/2016 que estabelece a proibição de revistas íntimas de funcionários e clientes do sexo feminino por empresas privadas e órgãos e entidades da Administração Pública: Art. 1o As empresas privadas, os órgãos e entidades da administração pública, direta e indireta, ficam proibidos de adotar qualquer prática de revista íntima de suas funcionárias e de clientes do sexo feminino. Art. 2o Pelo não cumprimento do art. 1o, ficam os infratores sujeitos a: I - multa de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) ao empregador, revertidos aos órgãos de proteção dos direitos da mulher; II - multa em dobro do valor estipulado no inciso I, em caso de reincidência, independentemente da indenização por danos morais e materiais e sanções de ordem penal. Com essa nova lei, acaba a discussão sobre a possibilidade de revistas íntimas em mulheres, em quaisquer atividades, inclusive no serviço público. Há, ainda, a discussão sobre a possibilidade de revistas íntimas das empregadas e servidoras públicas que prestam serviços em sistemas prisionais. O art. 3º da Lei nº 13.271/2016 previa que a revista íntima em estabelecimentos prisionais seria permitida desde que realizada por servidores femininos. Contudo, o dispositivo foi vetado pelo Chefe do Executivo. Além disso, entendemos que essa permissão somente seria aplicada às pessoas 26. MARTINS, Sérgio Pinto. O poder de direção é a forma como o empregador define como serão desenvolvidas as atividades do empregado decorrentes do contrato de trabalho. Direito do Trabalho, edição 24. que fossem realizar visitas ao presídio27. Nesse caso, a medida se justifica diante da necessidade de garantir a segurança da sociedade e dos próprios detentos, pois evitaria o ingresso de armas, aparelhos celulares, drogas etc. Entendemos, portanto, que a revista íntima das empregadas e servidores públicas que trabalham nos presídios não é possível, uma vez que o art. 1º da Lei nº 13.271/2016 é claro ao proibir essa forma de revista a todas as funcionárias da Administração Pública, o que inclui as funcionárias públicas do sistema prisional. Para as demais atividades e empresas, repita-se que essa conduta não é admitida nem mesmo via instrumento coletivo. Registra-se que a alteração legislativa, acima transcrita, deveria ter ampliado a proibição de revistas íntimas também aos homens, homossexuais e transexuais. Não nos parece razoável a proibição restrita apenas às mulheres e permitida aos homens. Sobre esse assunto, interessante conferir a jurisprudência do TRT-RJ que proíbe a revista íntima a qualquer trabalhador de qualquer sexo: Súmula nº 16 do TRT – 1ª Região. Revista íntima. Dano moral. Limites dos poderes de direção e fiscalização. Violação à honra e à intimidade do trabalhador. Princípio da dignidade da pessoa humana (art 1º, inc.III, CF). Cabe reparação por dano moral, por ferir o princípio da dignidade da pessoa humana, o ato patronal consubstanciado em revistas íntimas de trabalhadores de qualquer sexo, incluindo a vigilância por meio de câmeras instaladas em banheiros e vestiários. As revistas pessoais, realizadas com razoabilidade, sem que envolvam nudez, têm sido admitidas28, desde que a atividade exercida justifique esse controle. O TST29 tem aceito essas revistas pessoais, de bolsas, mochilas e sacolas, desde que não submeta o trabalhador a situação constrangedora. Aliás, a revista generalizada e impessoal desses pertences do empregado pode, segundo a jurisprudência do TST, ser realizada por pessoa do sexo oposto30, exemplo, segurança do sexo masculino fiscaliza a bolsa da empregada (sem que haja contato físico com a trabalhadora). Em sentido contrário, o TRT da 19ª Região veda o estabelecimento de revistas pessoais: Súmula nº 7 do TRT da 19ª Região: revista visual em pertences pessoais do trabalhador. Dano moral. Configuração. Submeter o empregado a revistas íntimas em seus pertences pessoais, ainda que meramente 27 Destaca-se, entretanto, que a Resolução nº 5/2014 do CNPCP – Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, recomenda que não seja realizada nenhuma forma de revista íntima nos presídios, nem mesmo dos visitantes, sendo permitida somente a revista pessoal desde que preservada a integridade física, moral e psicológica da pessoa revistada. 28. O tema é polêmico. Há corrente doutrinária que defende a impossibilidade, inclusive das revistas pessoais. A fiscalização exercida pelo empregador é possível mediante outros métodos, como câmeras, controle de estoque etc. Para as questões objetivas, que é a finalidade dessa obra, importante assinalar a opção que traga o posicionamento majoritário: revistas íntimas são vedadas, e as revistas pessoais, admitidas desde que com cautela e razoabilidade. 29. Informativos nº 3 e 112 do TST (confira o texto integral ao final desse capítulo) 30. Informativo nº 17 do TST (confira o texto integral ao final desse capítulo) visuais, viola direitos da personalidade do trabalhador assegurados constitucionalmente (art. 5º, X, CF/88), o que implica a existência de dano moral e o pagamento da correspondente indenização. Por fim, o fato de o empregador exigir o cumprimento de metas, por si só, não configura assédio moral31, desde que respeitada a dignidade do empregado. Nesse sentido, a interessante jurisprudência do TRT-RJ: Súmula nº 42 do TRT – 1ª Região. Cobrança de metas. Dano moral. Inexis- tência. A cobrança de metas está inserida no poder de comando do empregador, não configurando assédio moral, desde que respeitada a dignidade do trabalhador. 3. Poder disciplinar: conforme visto, o empregado está subordinado às ordens dadas pelo empregador,como forma de dinamizar e organizar os trabalhos desenvolvidos na empresa. Esse poder também será tratado a seguir com base na jurisprudência do TST. Se verificada a desobediência às regras impostas, caberão as seguintes penalidades: a) Advertência verbal ou escrita. Embora a advertência não esteja prevista na CLT32, é admitida pela doutrina e jurisprudência, pois é, dentre as penalidades, a mais benéfica ao empregado. Ressalta-se que a advertência não pode constar da CTPS – Carteira de Trabalho e Previdência Social, porque configurará anotação desabonadora. b) Suspensão disciplinar de, no máximo, 30 dias consecutivos (art. 474, CLT33). Nesse caso, o empregado ficará afastado das suas atividades, e não receberá remuneração e nem terá contado seu tempo de serviço, para adquirir férias, por exemplo. Ademais, não há depósitos do FGTS durante esse período. Se a suspensão ultrapassar os 30 dias, é possível a rescisão indireta do contrato de trabalho. c) Dispensa por justa causa. Essa é a penalidade mais grave, colocando fim ao contrato de trabalho. Se o empregado cometer alguma das condutas previstas no art. 482 da CLT (violar sigilo da empresa, agressão física, desídia etc.), será dispensado por justa causa. Deve-se ressaltar que não há obrigatoriedade de uma passagem gradual entre as penalidades anteriores, ou seja, se o empregado estiver desviando dinheiro da empresa, ou agredir fisicamente seu empregador, não há necessidade de aplicação da advertência, em primeiro lugar. É facultado ao empregador dispensar, imediatamente, o trabalhador com base no art. 482 da CLT. Além disso, entre a aplicação da penalidade e a falta praticada pelo empregado não pode ocorrer longo período, sob pena de configurar o perdão tácito. E, por fim, é vedado ao empregador aplicar duas penalidades em razão da mesma falta cometida, 31. Assédio moral é a prática de perseguição, humilhação, constrangimento, rigor excessivo, metas inatingíveis e isolamento do empregado. Prática que atenta contra a dignidade do trabalhador. Uma vez configurada essa conduta, cabe rescisão indireta com base no art. 483 da CLT. 32. Ressalta-se que a advertência tem previsão expressa na lei que regulamenta o exercício da atividade de Mãe Social (Lei nº 7.644/1987): “Art. 14 - As mães sociais ficam sujeitas às seguintes penalidades aplicáveis pela entidade empregadora: I - advertência; II - suspensão; III - demissão.” (grifos acrescidos) 33. Art. 474 da CLT: A suspensão do empregado por mais de 30 (trinta) dias consecutivos importa na rescisão injusta do contrato de trabalho. por exemplo, suspende-se por 15 dias, e depois dispensa-se por justa causa. 4. SÚMULAS DOS TRIBUNAIS REGIONAIS DO TRABALHO (ACRESCENTADAS AO CAPÍTULO II – NESSA 7º EDIÇÃO/2016) Empregado rural Súmula nº 19 do TRT da 24ª Região: Enquadramento sindical. O trabalhador que presta serviço a empregador agroindustrial, seja ele atuante no campo ou no processo industrial da empresa, é industriário, justificando a representatividade da categoria e legitimidade da negociação pelo sindicato dos trabalhadores na indústria Intervalo intrajornada Súmula nº 23 do TRT da 17ª Região. Bancário. Intervalo intrajornada. Prorrogação habitual. Prorrogada habitualmente a jornada de 06 (seis) horas, devido o intervalo intrajornada de 01 (uma) hora, a teor do disposto no art. 71, caput e § 4º, da CLT.” Enquadramento. Financiário Súmula nº 33 do TRT da 1ª Região. Enquadramento como financiário de empregado de administradora de cartão de crédito ou agente financeiro. Os empregados de agentes financeiros e administradoras de cartão de crédito, salvo os pertencentes a categoria diferenciada, são financiários (Súmula 283 do STJ), beneficiando-se, portanto, das normas coletivas da categoria e da jornada reduzida do art. 224 da CLT. Quebra de caixa Súmula nº 28 do TRT da 13ª Região: CEF. Gratificação de caixa; quebra de caixa. Acumulação. Possibilidade. Finalidade e natureza distintas. Não há óbice à acumulação da gratificação de caixa com a verba denominada quebra de caixa pelos empregados que exerçam a função de caixa executivo. Dano moral. Transporte de valores Súmula nº 8 do TRT da 11ª Região: Indenização por dano moral. Bancário. Transporte de valores. Risco à integridade física. Cabimento. Poderes do empregador Súmula nº 7 do TRT da 19ª Região: revista visual em pertences pessoais do trabalhador. Dano moral. Configuração. Submeter o empregado a revistas íntimas em seus pertences pessoais, ainda que meramente visuais, viola direitos da personalidade do trabalhador assegurados constitucionalmente (art. 5º, X, CF/88), o que implica a existência de dano moral e o pagamento da correspondente indenização. CAPÍTULO III - TERCEIRIZAÇÃO 2. REQUISITOS PARA TERCEIRIZAÇÃO LÍCITA Súmula nº 331 do TST. Contrato de prestação de serviços. Legalidade I – A contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal, formando-se o vínculo diretamente com o tomador dos serviços, salvo no caso de trabalho temporário (Lei nº 6.019, de 3.1.1974). II – A contratação irregular de trabalhador, mediante empresa interposta, não gera vínculo de emprego com os órgãos da administração pública direta, indireta ou fundacional (art. 37, II, da CF/1988). III – Não forma vínculo de emprego com o tomador a contratação de serviços de vigilância (Lei nº 7.102, de 20.6.1983) e de conservação e limpeza, bem como a de serviços especializados ligados à atividade-meio do tomador, desde que inexistente a pessoalidade e a subordinação direta. IV – O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador, implica a responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços quanto àquelas obrigações, desde que haja participado da relação processual e conste também do título executivo judicial. V – Os entes integrantes da administração pública direta e indireta respondem subsidiariamente, nas mesmas condições do item IV, caso evidenciada a sua conduta culposa no cumprimento das obrigações da Lei n. 8.666/93, especialmente na fiscalização do cumprimento das obrigações contratuais e legais da prestadora de serviço como empregadora. A aludida responsabilidade não decorre de mero inadimplemento das obrigações trabalhistas assumidas pela empresa regularmente contratada. VI – A responsabilidade subsidiária do tomador de serviços abrange todas as verbas decorrentes da condenação referentes ao período da prestação laboral. I – A contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal, formando-se o vínculo diretamente com o tomador dos serviços, salvo no caso de trabalho temporário (Lei nº 6.019, de 3.1.1974). Como a terceirização se desenvolve em uma relação jurídica triangular, há necessidade de interpretá-la de forma restritiva, pois a presença da empresa intermediadora de mão de obra é ilegal, em regra. Inicialmente, cabe ressaltar que trabalhador temporário não se confunde com empregado contratado por prazo determinado, art. 443 da CLT. O trabalho temporário está previsto na Lei nº 6.019/7434. Trata-se de modalidade de terceirização expressamente prevista em lei. Há, nesse caso, uma relação triangular de trabalho. O contrato de trabalho dos trabalhadores temporários possui características próprias, como: a) Contrato de trabalho escrito. O contrato de trabalho entre empregado e empregador será necessariamente escrito, ou seja, solene. Ressalta-se que o vínculo empregatício ocorre entre trabalhador temporário e empresa de trabalho temporário. Ademais, o contrato civil entre empresa prestadora de mão de obra eempresa tomadora de serviços também deverá ser escrito e descrever os motivos da contratação. De acordo com Sérgio Pinto Martins35: É o trabalhador temporário subordinado à empresa de trabalho temporário, embora presta serviços à empresa tomadora de serviços ou cliente, recebendo sua remuneração também da empresa tomadora dos serviços. Não é, portanto, empregado da empresa tomadora dos serviços. 34. O contrato de trabalho temporário somente poderá ser utilizado para os empregados urbanos, conforme art. 4º dessa lei. 35 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. Ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 170. No entanto, há posicionamento36 que sustenta a existência de subordinação entre a empresa tomadora dos serviços e o trabalhador temporário. Nesse sentido, a transferência do poder de direção à tomadora dos serviços seria permitida pela legislação diante da própria natureza do contrato de trabalho temporário. Para essa doutrina, a empresa prestadora continua com a direção sobre a prestação dos serviços do temporário, mas é também permitido à tomadora o exercício, em alguns aspectos, do poder de direção, especialmente quanto ao âmbito disciplinar. Ademais, o contrato civil entre empresa prestadora de mão de obra e empresa tomadora de serviços também deverá ser escrito e descrever os motivos da contratação. De acordo com o art. 11 da Lei nº 6.019/74: Art. 11, “caput”, Lei nº 6.019/1974: O contrato de trabalho celebrado entre empresa de trabalho temporário e cada um dos assalariados colocados à disposição de uma empresa tomadora ou cliente será, obrigatoriamente, escrito e dele deverão constar, expressamente, os direitos conferidos aos trabalhadores por esta lei. Destaca-se que será considerada nula qualquer cláusula de reserva que proíba a contratação de trabalhador temporário pela empresa tomadora dos serviços quando ocorrer o fim do prazo do contrato de trabalho temporário: Art. 11, parágrafo único, Lei nº 6.019/1974: Será nula de pleno direito qualquer cláusula de reserva, proibindo a contratação do trabalhador pela empresa tomadora ou cliente ao fim do prazo em que tenha sido colocado à sua disposição pela empresa de trabalho temporário. b) Prazo de 3 meses. Como se trata de trabalho temporário, esse contrato é firmado por prazo certo de, no máximo, 3 meses. Deve-se ressaltar, entretanto, que há possibilidade de prorrogação dependendo da hipótese de contratação do temporário: c.1) Por até 9 meses no caso de Substituição transitória de pessoal regular e permanente, desde que expressamente autorizada pelo Ministério do Trabalho e Emprego; c.2) Por até 6 meses no caso de acréscimo extraordinário de serviços desde que se mantenha o motivo que justificou a contratação do temporário. Art. 2º Na hipótese legal de substituição transitória de pessoal regular e permanente, o contrato poderá ser pactuado por mais de três meses com relação a um mesmo empregado, nas seguintes situações: I - quando ocorrerem circunstâncias, já conhecidas na data da sua celebração, que justifiquem a contratação de trabalhador temporário por período superior a três meses; ou II - quando houver motivo que justifique a prorrogação de contrato de trabalho temporário, que exceda o prazo total de três meses de duração. Parágrafo único. Observadas as condições estabelecidas neste artigo, a duração do contrato de trabalho temporário, incluídas as prorrogações, não pode ultrapassar um período total de nove meses. (grifos acrescidos) Art. 3º Na hipótese legal de acréscimo extraordinário de serviços, será permitida prorrogação do contrato de trabalho temporário por até três meses além do prazo previsto no art. 10 da Lei 6.019, de 3 de janeiro de 1974, desde que perdure o motivo justificador da contratação. c) Contratação nas hipóteses expressamente previstas em lei. A Lei nº 6.019/74 prevê apenas duas hipóteses para a contratação de trabalhador temporário, as quais estão relacionadas a seguir: 36 GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de Direito do Trabalho. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 232. 1. Necessidade transitória de substituição de seu pessoal regular e permanente. Ocorre a contratação de trabalhadores temporários para substituir empregados permanentes da empresa tomadora de serviços. Essa substituição pode ocorrer pelos mais diversos motivos de afastamento do pessoal permanente, como: empregada em gozo de licença-maternidade, acidente de trabalho, férias etc. 2. Acréscimo extraordinário de serviços. Nesse caso, a empresa tomadora de serviços contratará trabalhadores temporários para situações excepcionais, como nos períodos festivos, em que há maior volume de trabalho. Exemplo: fábrica de chocolates contrata trabalhadores temporários para os meses de fevereiro e março, próximos da Páscoa; ou, ainda, loja de roupas contrata trabalhadoras temporárias para época de Natal. O trabalhador temporário prestará serviços tanto na atividade-fim da empresa (exemplo dado anteriormente, da fábrica de chocolates que contrata trabalhadores temporários para prestar serviços na confecção de ovos de Páscoa) ou, ainda, na atividade-meio, como serviços de limpeza da tomadora de serviços. Cumpre ressaltar que o trabalho temporário não é permitido no âmbito rural, uma vez que a lei é expressa ao autorizar o estabelecimento de empresa de trabalho temporário urbana: Art. 4º, Lei nº 6.019/1973: Compreende-se como empresa de trabalho temporário a pessoa física ou jurídica urbana, cuja atividade consiste em colocar à disposição de outras empresas, temporariamente, trabalhadores, devidamente qualificados, por elas remunerados e assistidos (grifo acrescido). No tocante à responsabilidade do tomador de serviços, a Lei do Trabalho Temporário estabelece que, em caso de falência da empresa de trabalho temporário, a tomadora dos serviços responde solidariamente pelo recolhimento das contribuições previdenciárias, pela remuneração do empregado e pelo recebimento de indenização. Contudo, verifica-se que o alcance da norma é restrito quanto às parcelas devidas e somente viável na hipótese de falência da prestadora dos serviços: Art. 16, Lei nº 6.019/1974: No caso de falência da empresa de trabalho temporário, a empresa tomadora ou cliente é solidariamente responsável pelo recolhimento das contribuições previdenciárias, no tocante ao tempo em que o trabalhador esteve sob suas ordens, assim como em referência ao mesmo período, pela remuneração e indenização previstas nesta Lei. Nesse sentido, prevalece a aplicação do item IV da Súmula nº 331 do TST37 ao contrato de trabalho temporário que prevê a responsabilidade subsidiária da tomadora dos serviços na hipótese de inadimplemento das verbas trabalhistas: Súmula nº 331, IV, TST: O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador, implica a responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços quanto àquelas obrigações, desde que haja participado da relação processual e conste também do título executivo judicial. Em resumo, sobre a responsabilidade do tomador de serviços, na hipótese prevista no art. 16 da Lei nº 6.019/1974, que trata de falência, é aplicada a responsabilidade solidária 37 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 15. ed. São Paulo: LTr, 2016. p. 520. entre as empresas e nas demais hipótese deve ser reconhecida a responsabilidade subsidiária. Caso seja constatada fraude no trabalho temporário, por exemplo, a contratação fora das duas hipóteses previstas em lei ou, ainda,
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