Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL NO ATENDIMENTO EM GRUPO COM CRIANÇAS COM CARACTERISTICAS DIAGNÓSTICAS DE TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE, COM PREDOMINÂNCIA DO SUBTIPO DESATENTO. Alessandra Santos1, Lilliane Ventura1, Lorena Bianchini1 e Maria Fatima de Paula1. TÂNIA MARA BUSETTO2. RESUMO: O presente artigo apresenta um modelo de terapia de grupo com crianças com sintomas de TDAH com predominância de desatenção. As intervenções terapêuticas tiveram sua base na abordagem Terapia cognitivo-comportamental e foram realizadas ao longo de dezesseis sessões, uma vez por semana, com um grupo de seis crianças, com idade entre seis e onze anos. O principal objetivo da terapia de grupo é amenizar os sofrimentos gerados pelos sintomas do TDAH, e principalmente da desatenção, trabalhando principalmente com estímulos positivos em relação a baixo-estima, atenção, percepção, relacionamento social e métodos de disciplina familiar. PALAVRAS-CHAVE: Terapia cognitivo-comportamental. Intervenção. Terapia de grupo. Crianças. Desatenção. TDAH. ABSTRACT: This article presents a group therapy model with children with symptoms of ADHD predominantly inattentive. Therapeutic interventions had their base in cognitive behavioral therapy approach and were conducted over sixteen sessions, once a week, with a group of six children, aged between six and eleven. The main group therapy's goal is to alleviate the suffering caused by the symptoms of ADHD, and especially the lack of attention, working mainly with positive stimuli in relation to low-esteem, attention, perception, social relationships and family discipline methods. 1 Acadêmicas do Curso de Psicologia, Faculdade do Pantanal (FAPAN), 9º Semestre 2016/1, Cáceres - MT. 2 Professora orientadora. INTRODUÇÃO O objetivo deste artigo é registrar as atividades práticas realizadas na intervenção em Terapia cognitivo-comportamental (TCC) com grupo de crianças diagnosticadas com TDAH com o predomínio da desatenção. De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM- 5), o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), é um conjunto de três características principais: desatenção, hiperatividade e impulsividade. A prevalência deste transtorno, presente em todas as culturas, é cerca de 5% em crianças e 2,5% em adultos. O TDAH é um transtorno de desenvolvimento do autocontrole, que não se trata apenas da criança estar desatenta ou hiperativa, mas geralmente também prejudica outras áreas de seu funcionamento, como: a motivação, sua capacidade de controle do próprio comportamento, definir objetivos e/ou analisar consequências (Barkley, 2002). Outras características como: baixa tolerância a frustração, irritabilidade ou labilidade do humor, e em alguns casos baixo rendimento escolar, também podem ser perceptíveis nas crianças diagnosticadas. O TDAH é dividido em três categorias: o predominantemente desatento, hiperativo/impulsivo e o tipo combinado (DSM-5). A intervenção pratica, por sua vez, tem o seu foco voltado para as crianças do subtipo desatentas. O TDAH com o predomínio da desatenção possuem menores chances de diagnostico do que os outros tipos, pois não possuem comportamentos exacerbados de inquietude e agressividade (DuPaul, Stoner, 2007). No geral, as crianças com característica predominantemente desatenta podem apresentar atitudes mais “tranquilas” e “apagadas”, tendem ficar muito tempo em silencio, geralmente são afastadas do restante da sala, propensas a serem sonhadoras e a focarem muito em seus pensamentos, podem apresentar dificuldade em terminar as lições a tempo e de acompanhar o que realmente ocorre ao seu redor, mas pode passar despercebido, pois é geralmente uma criança educada, tenta ser cooperativa, possivelmente faz pouco barulho e não causa problemas. Em casa sua quietude tende a permanecer, são - na maioria das vezes - de fácil convivência, no entanto, algumas podem ser até passivas de mais, as vezes desmotivadas e lentas para processar determinadas informações, não escutam quando falam com ela - mesmo que diretamente, costumam ser muito esquecidas e distraídas, podem apresentar problemas com organização em geral e também finalizar tarefas já iniciadas (Phekan, 2005). Os principais objetivos da intervenção são: amenizar os sintomas provocados pelo transtorno e melhorar a qualidade de vida das crianças no seu meio familiar, escolar e de amizades; orientação e atividades com os pais, pois eles são em grande parte, responsáveis pelo desenvolvimento global da criança; trabalhar os possíveis sintomas apresentados de, dispersão, desmotivação, baixa autoestima, dificuldades no relacionamento interpessoal, dificuldade de seguir regras, ansiedade, comprimento de tarefas, falta de organização e melhora no rendimento escolar; ajudar as crianças a lidarem melhor com suas emoções e seus comportamentos; orientar a respeito dos comportamentos bons e ruins, bem como suas consequências; melhorar o desempenho das crianças em suas tarefas do dia a dia; e, monitorar, através de seus pais, o desenvolvimento dos pacientes no decorrer da terapia em grupo. METODOLOGIA O método utilizado para o presente trabalho é de natureza aplicada, ou seja, dirigida a solução de um problema específico, e com objetivos de cunho exploratório, visando o aprofundamento de conhecimentos em determinado fenômeno e construir hipóteses, tanto explicativa, quanto interventivas. Sendo desenvolvido com base na experiência e nas atividades práticas realizadas dentro da disciplina de Estágio Profissionalizante II, com enfoque na saúde, realizando intervenções centradas na Teoria cognitivo-comportamental (TCC). Visando como objetivo discorrer sobre o desenvolvimento da terapia de grupo realizada com seis crianças que possuem características do TDAH/subtipo desatento, no qual foi regido por quinze encontros, em semanas consecutivas, iniciando na data de 7 de março de 2016, se estendendo até a data de 13 de junho de 2016. Onde houve um encontro por semana com duração de uma hora e meia cada, totalizando vinte horas e oitenta minutos de atividades. Nas quais utilizamos dinâmicas, técnicas e atividades lúdicas como intervenções terapêuticas, com intuito de contribuirmos e acompanharmos o desenvolvimento dos integrantes da terapia de grupo diante de suas problemáticas apresentadas. PARTICIPANTES O grupo de terapia de TDHA com características de desatenção, constituiu-se com seis integrantes, sendo eles: A. B. F. 11 anos, A. O. R. 9 anos, C. L. S. C. 6 anos, M. H. O. C. 8 anos, P. H. A. M. S. 10 anos, P. J. C. M. 8 anos, todos com características de desatenção. Para desempenho do projeto do estagio com crianças desatentas, quatro estagiarias do curso de psicologia do 9º semestre de psicologia da Faculdade do Pantanal, foram responsáveis pelas atividades terapêuticas, juntamente com a orientadora. O recrutamento destas crianças ocorreu com a divulgação do projeto de intervenção em várias redes sociais, usando, portanto, a internet como o principal veículo de acesso. LOCAL DE INTERVENÇÃO O atendimento ao grupo de desatentos aconteceu em contextos clínicos na Clinica- Escola Marcio Dias Gomes, nas dependências da FAPAN (Faculdade do Pantanal). Localizada na Av. São Luiz, 2522, bairro Jardim Cidade Nova, cidade de Cáceres, estado de Mato Grosso. As sessões foram realizadas as segundas-feiras, das 16 as 17:30 horas, tendo ao todo uma hora emeia de duração. INSTRUMENTOS As crianças recrutadas, antes de serem aceitas para participarem do processo terapêutico, passaram por uma avaliação individual, através de um responsável, para a coleta de informações sobre suas características pessoais e cotidianas a fim de analisar seu enquadre no perfil necessário para o atendimento. O instrumento usado para esta avaliação foi a escala SNAP-V, que visa organizar a classificação nosológica de acordo com os critérios de diagnóstico do TDAH contidos no DSM-5, as informações obtidas pela escala foram ainda, complementadas através da entrevista de anamnese. A aplicação da escala ocorreu em 3 momentos: 1) na entrevista de anamnese realizada com um responsável, buscando a percepção dos sintomas, bem como seu gral de comprometimento; 2) na escola com os professores que convivem e ensinam a criança, com objetivo que obter uma avaliação mais completa do indivíduo; 3) com um responsável no final do processo de grupo terapia, com o intuito de perceber evoluções no quadro de sintomas apresentados inicialmente. PROCEDIMENTOS As sessões foram realizadas em grupo, uma vez por semana, com o inicio em março e se estendendo até junho de 2016, completando um total de 15 encontros que foram conduzidos por um estagiário assumindo o papel de terapeuta, dois de terapeuta auxiliar e um de observador. No primeiro momento houve uma avaliação para a seleção das crianças que que foram recrutadas, como o intuito de analisar se suas características se enquadram como TDAH, com o predomínio da desatenção. Todas as sessões tiveram um objetivo específico, que foi sendo construído de acordo com a necessidade apresentada pelo grupo, juntamente com os procedimentos comuns a TCC. A tabela a baixo visa organizar cada um destes objetivos de acordo com as sessões correspondentes. SESSÕES OBJETIVOS 01 Apresentação das crianças e estabelecimento de vinculo através de uma dinâmica de apresentação e entrosamento, e estabelecimento das regras do grupo. 02 Psicoeducação lúdica sobre: o que é terapia de grupo, o que é problema, e o que é desatenção. 03 Psicoeducação com os pais sobre o TDA e sobre a TCC. 04 Introdução a psicoeducação sobre emoções através do filme animado “Divertidamente”. 05 Continuação do trabalho de psicoeducação sobre as emoções de maneira lúdica, envolvendo o jogo de boliche e perguntas sobre as emoções. 06 Introdução da economia de fichas e atividades sobre comportamento e consequência. 07 Trabalhar com os Pensamentos Automáticos (P.A.s) e a como responder adequadamente a eles. 08 Atividades lúdicas que trabalham com o raciocínio rápido, atenção, planejamento estratégico, trabalho em equipe e imaginação. 09 Sessão com os pais com intuito de saber como está o desenvolvimento das crianças em um contexto geral, e psicoeducá-los sobre a importância da rotina e do papel dos pais em conjunto com a terapia. 10 Aplicação adaptada e lúdica do RPD, para ajudar as crianças a perceberem e modificarem seus pensamentos automáticos. 11 Atividade sobre os pensamentos de herói e vilão, confecção das mascaras de herói. 12 Estimular a função cognitiva da atenção com atividades como, labirintos e jogos dos sete erros que exigem esforço mental e concentração. 13 Jogo de revisão do tratamento, posteriormente realizar um pequeno teatro de fantoche sobre as coisas que aprenderam na terapia. 14 Devolutiva de encerramento da terapia para os pais. 15 Confraternização de encerramento do atendimento ao grupo de crianças desatentas, com pais e crianças. A apresentação de cada um no inicio do processo se deu primeiramente com as estagiarias dizendo seus nomes, o que gostavam de fazer, e o que não gostavam, incentivando para que em seguida as crianças fizessem o mesmo. Também foram expostas as regras da terapia, como não correr, não gritar, não sair da sala sem autorização, respeitar a vez do colega falar, não machucar o outro, prestar atenção nas atividades, entre outras. Outra atividade foi realizada no sentido de fortalecer o vinculo entre os pacientes, que consistia em vendar os olhos de um e deixar que outro desse instruções para que conseguisse encontrar determinados objetos dentro da sala, com cada um tendo sua vez de procurar e de guiar. A psicoeducação pode ser vista como o estabelecimento de um fluxo de informações entre o terapeuta e o paciente e vice-versa (Callaham & Bauer, 1999). Portanto, o objetivo principal desta técnica é a educação do paciente frente a seus problemas psicológicos e os fatores relacionados a eles. Quando o sujeito entende quais são os seus problemas e como funciona o tratamento é muito mais fácil o engajamento deste no processo terapêutico, e foi exatamente com este objetivo que as explicações lúdicas, sobre o que é terapia, terapeuta, problema e desatenção foram realizadas no início do atendimento grupal. No entanto, não parou por ai, elas forma usadas muitas vezes mais ao decorrer de todo o tratamento. Com os pais o foco da psicoeducação também foi o mesmo, engaja-los no processo, pois apenas com o amparo clinico não é possível atingir níveis satisfatórios de melhora. Barkley (2002), afirma que a criança TDAH não existe em um vácuo, um nada, elas ocupam lugares específicos na sociedade, sendo a família um dos mais importantes. Completa ainda que essas crianças influenciam a dinâmica da família tanto quanto a atitude da família as influenciam, por isso, quando os pais se engajam na ajuda, eles não entendem apenas seus filhos como também o funcionamento de seu grupo familiar como um todo. O tempo destinado a grupo terapia é de apenas uma hora e meia por semana, se não houver o apoio dos pais fora do ambiente terapêutico as chances de melhora da criança será muito menor. Como forma de Psicoeducar as crianças de uma maneira mais lúdica sobre suas emoções, foi exibido o filme Divertidamente, onde conta a história de Riley uma garota divertida de 11 anos, que enfrenta mudanças importantes em sua vida quando seus pais decidem deixar a sua cidade natal, no estado de Minnesota, para viver em San Francisco. Dentro da mente de Riley, convivem várias emoções diferentes, (ai está o nosso foco) como a Alegria, o Medo, a Raiva, o Nojo e a Tristeza. A líder deles é Alegria, que se esforça bastante para fazer com que a vida de Riley seja sempre feliz (Nogueira, 20015). No término da exibição foi entregue balões com desenhos das emoções de acordo com as cores apresentadas no filme (amarelo-alegria, azul-tristeza, verde-nojo, vermelho-raiva e medo-roxo), e logo que as crianças receberam os balões, conseguiram fazer a associação das cores e expressões com as emoções apresentadas ao longo do filme. Para reforçar ainda mais as emoções foi aplicado o jogo do boliche, que tinha como principal objetivo ajudar as crianças e perceberem e diferenciarem melhor as emoções. Composto por 10 garrafas decoradas com as emoções, tristeza, medo, nojo, surpresa, alegria e raiva. Os procedimentos do jogo consistiam em, cada um dos pacientes joga a bola visando derrubar o maior numero possível de “pinos”, mas para obterem os pontos desejados precisavam acertar quais as emoções das garrafas derrubadas, todos tiveram a chance de jogar duas vezes, e quem tivesse mais pontos ganharia um premio simbólico. No momento seguinte, foram distribuídas plaquinhas com o desenho de cada uma das emoções, e realizado perguntasque as estimulassem a responder de acordo com as situações de seu cotidiano. O intuito dessa atividade foi associar os desenhos das emoções aos sentimentos que elas experimentaram em cada situação apresentadas no inquérito, contribuindo para que desenvolvessem uma melhor percepção de seus sentimentos e posteriormente correlaciona-los aos pensamentos e comportamentos. Já no que se refere à Economia de Fichas, podemos dizer que é uma estratégia de intervenção da Análise Aplicada do Comportamento que introduz contingências de reforço para respostas consideradas adequada pelo terapeuta. Estas contingências de reforço geralmente são apresentadas em forma de fichas, pontos ou qualquer outro tipo de estímulo reforçador condicionado que possa sinalizar reforço em momento posterior. Assim, estas “fichas” podem ser trocadas por atividades, alimentos, objetos ou outros tipos de estímulos reforçadores previamente definidos (LIMA, 2012). Tendo isso em vista foi construído um cartaz com o nome de cada criança do grupo e explicado que a se seguissem as regras da terapia de forma correta iriam ganhar carinhas felizes, porem, se descumprissem alguma regras, uma carinha lhe seria retirada. Aproveitando esta explicação, foi encaixada também a psicoeducação sobre consequências, ratificando que todo comportamento carrega consequências com sigo, e que se a atitude for ruim, o resultado dela também o será, e se a atitude for positiva, terá resultados positivos. Foram utilizados exemplos do cotidiano de cada um dos pacientes para demonstras a aplicação pratica do assunto. A psicoeducação a respeito dos P.A.s se deu com a confecção de vários cartões, alguns com pensamentos negativos e outros contendo pensamentos mais adaptativos e assertivos. A princípio foi apresentado apenas os cartões negativos, para que cada uma das crianças escolhessem um ou dois que já haviam vivenciado, questionou-se em seguida qual foi a situação que os desencadearam e, através de um questionamento socrático, foi possível fazer com que percebessem a mesma situação de forma diferente, mais realista, apresentando-lhes então os cartões positivos e pedindo para que escolhessem qual melhor se encaixava a nova percepção. As atividades lúdicas selecionadas para estimular o raciocínio rápido, atenção, planejamento estratégico, trabalho em equipe, tomada de decisão e imaginação foram: construindo história, palavras proibidas e ordem contrária. A primeira consistia em organizar as crianças em roda e pedir para que uma delas desse uma frase aleatória, e as outras, em ordem, completassem a frase para que formasse uma história, com começo, meio e fim. Para a segunda atividade foi anunciado que haveria uma interrogação de suspeitos, mas que três palavras estavam proibidas de serem ditas pelo interrogado, "sim", 'não" e "porque", assim os pacientes eram selecionados em ordem para participar, cada um teve a oportunidade de atuar uma vez com cada papel. A terceira brincadeira foi semelhante ao "vivo ou morto", porem ao contrário, quando era anunciado "vivo", todos tinham que se levantar, e "morto" todos tinham que se erguer. No segundo encontro com os pais, foi ressaltada a importância de se ter uma rotina bem estabelecida na vida de seus filhos. Já que de acordo com Phelan (2005), as crianças com TDAH geralmente apresentam dificuldades com a organização das coisas e do tempo, ou seja, facilmente perdem a noção do tempo por se distraírem com coisas do cotidiano. Estabelecer uma agenda de horários e compromissos é muito importante para que a criança consiga aos porcos se organizar melhor. Também foi apresentado um resumo de tudo o que já havia sido realizado no decorrer da terapia de grupo, para que eles tivessem noção geral do andamento do processo. Os P.A.s evocados anteriormente durante a psicoeducação sobre os pensamentos negativos, foram novamente abordados com a intenção de demonstrar as crianças a relação deles com as emoções e os comportamentos. Até então, todos esses assuntos já haviam sido trabalhados, porem de forma separa. A aplicação lúdica do RPD (Registro dos Pensamentos Disfuncionais) teve exatamente este objetivo, de integrar os conhecimentos já adquiridos por eles, demonstrando a relação de causa e efeito. Depois de toda a explicação. Foram distribuídos pequenos cartazes com algumas situações do cotidiano e pedido que dessem um pensamento, uma emoção e um comportamento para cada um deles. O trabalho com os pensamentos de herói e de vilão se desenvolveu da seguinte forma. Foram distribuídas mascaras de super-heróis e lápis de cor para confeccionar e colorir da maneira que imaginassem o seu heroi. Após a mascara pronta foi questionado à eles qual era a função de um herói? Teve como resposta, salvar, lutar contra o mau, proteger as pessoas, fazer o bem. Depois foi questionado, qual a função do vilão? As respostas foram: bater nas pessoas, fazer maldade, quebrar as coisas, falar palavrão. Foi feita então uma associação com pensamentos bons (herói) e pensamentos ruins (vilão). A seguir foi novamente reforçado a ligação da tríade cognitiva de pensamento, emoção e comportamento através das seguintes perguntas: Quando se tem um pensamento de vilão, como se sentem e como se comportam? Como poderia transformar em pensamentos de heroi? O que melhoraria no cotidiano? Em outro momento foram separados 3 labirintos diferentes, todos de nível médio e 2 jogos dos 7 erros, também nível médio. Com o objetivo de colocar a atenção como foco central desta sessão. Já que todos os aspectos básicos importantes da Terapia cognitivo-comportamental (pensamento, emoção e comportamento) foram trabalhados com sucesso, é importante que a atenção também seja posta em foco, para que, a partir deste ponto, dar inicio ao processo de desligamento do tratamento. Também foi permitido que colorissem os desenhos contidos nos jogos para que a atividade ficasse mais descontraída e agradável. O Jogo de Revisão da Terapia, foi elaborado pelas próprias estagiárias, era composto por um tabuleiro onde haviam várias caras numeradas, cada uma com uma pergunta correspondente. Se a criança errasse a resposta voltava 2 casas no jogo, se acertasse poderia aguardar sua vez de jogar o dado novamente. As perguntas tiveram como objetivo resgatar todo o conteúdo trabalhado ao longo de todas as sessões anteriores e medir o quanto as crianças aprenderam, algumas delas foram: Qual comportamento devo ter aqui na sessão para ganhar carinhas felizes?; Qual o pensamento de vilão?; O que devo fazer quando eu tiver um pensamento negativo?; O que é pensamento negativo?; O que é consequência?; O que devo fazer quando ficar com raiva?; Que tipo de comportamento aqui na sessão me faz perder carinhas felizes?; O que é problema?; entre outras. Em seguida foi destinado um momento para a realização do teatro, a proposta foi que as crianças representassem com os fantoches algumas coisas que aprenderam durante a terapia, poderiam escolher qualquer tema, desde as emoções, até as regras da sessão. Cada criança escolheu dois fantoches para usar e elas poderiam fazer o teatro sozinhas ou chamar um coleguinha para fazerem juntos. No terceiro encontro com os pais foi feita uma atualização sobre a evolução dos pacientes durante a terapia, com depoimento das estagiarias a respeito das melhoras observadas em cada uma das crianças e em seguida dos pais relatando como estava a evolução de seus filhos em casa e na escola, assim como suas atitudes de colaboração para o processo. A seguir, foi distribuído às mães uma folha de papel A4 para realizarem uma atividade reflexiva divididaem três partes. A primeira era para escreverem sobre os comportamentos dos filhos que as irritavam. O segundo foi sugerido que escrevessem coisas que os filhos fazem que as deixam felizes ou orgulhosas. Reservamos um momento de reflexão dos dois itens e logo após, foi proposto que escrevessem o que cada uma poderia fazer, para continuar ajudando na melhora deles. Essa atividade foi importante para trabalhar o filtro negativo que as mãe apresentavam, ou seja, elas percebiam com muito mais facilidade os erros e aspectos negativos das crianças do que os positivos, isso foi muito visível pela dificuldade que apresentaram para eleger comportamentos positivos. Por fim, o encerramento do processo terapêutico se deu com a realização de uma confraternização, estando presentes as crianças e seus pais. O momento foi descontraído e divertido com muita interação entre os participantes, além dos lanches oferecidos como, cachorro quente, bolo de chocolate, pipoca, refrigerante, suco e balas. Tanto pais como crianças puderam ficar a vontade para se servir. Foram distribuímos alguns brinquedos da clinica-escola para que as crianças pudessem se divertir e interagir uns com os outros. Também houve a entrega das recompensas da economia de fichas, na qual todas as crianças receberam como prêmio uma bola. As estagiárias concordaram que todos mereciam receber a recompensa, pois foi visível o esforço e comprometimento deles ao longo da terapia. Cabe acrescentar também algumas informações gerais como por exemplo, os lanches, que foram distribuídos em pacotinhos ao final de todas as sessões. Assim como sempre foi reservado quinze minutos no início dos encontros para atividades e brincadeiras que estimulassem a atenção, como, pega varetas, jogo da memória, desenhe e adivinhe, dominó, entre outros. Além disso, mas quinze minutos era reservados ao final para que brincassem livremente utilizando os brinquedos oferecidos pela clinica-escola, e incentivado para que guardassem todos em seus devidos lugares após o termino das brincadeiras. Os lanches e os momentos livres ofereciam um reforço positivo para instigar as crianças a comparecerem nas próximas sessões. RESULTADOS Várias situações problemas foram apresentadas pelas mães e responsáveis na entrevista inicial, como: não escutar quando lhe dirigem a palavra, demorar muito tempo para fazer algumas atividades por não prestar atenção, cometer erros por descuido, desorganização principalmente com o material escolar, pouca noção de tempo, desobediência em casa e na escola, dificuldade de esperar algo, conversar muito e atrapalhas as aulas, entre outros. Todos esses fatores estabelecem uma relação extremamente intima com o TDAH. O processo terapêutico, de forma integral, teve como foco principal a diminuição da intensidade ou a extinção destes sintomas, para que as crianças passassem a terem atitudes mais assertivas e adaptativas e, consequentemente, possam se desenvolver de forma saudável, diminuindo a quantidade de problemas que poderiam surgir e/ou se agravar ao longo do tempo. Pode-se considerar, de modo geral, que todos os objetivos do tratamento foram alcançados. Algumas crianças apresentaram maiores índices de melhora do que outras. Isso de deve a dois motivos, primeiro, alguns pacientes apresentaram queixas mais graves e um aspecto mais comprometido do que outros, e segundo, os que tiveram melhor quadro de evolução também tiveram mais empenho terapêutico dos pais, ou seja, um maior envolvimento e comprometimento da família ao longo do processo. Concluiu-se então que, das seis crianças atendidas na terapia de grupo, duas receberam alta, por apresentarem melhora significativa ao ponto de não precisarem dar continuidade ao tratamento, uma foi encaminhada para uma terapia de grupo focada no atendimento com TDAH do subtipo hiperativo e as outras três foi sugerido que continuassem o tratamento, porem com terapia individual, pois percebeu-se que os problemas de desatenção são resultados negativos de uma dinâmica familiar prejudicial. DISCUSSÃO Ao realizarmos o trabalho de intervenção terapêutica com as crianças com características do TDAH/ subtipo desatento, nos deparamos com algumas dificuldades inicialmente com a resistência e falta de comprometimento por conta de alguns pais. As primeiras sessões com as crianças foram um tanto complicadas, pois a maioria delas tinham muita dificuldade em seguir regras, e principalmente em se concentrarem em uma coisa de cada vez, então, com as atividades propostas dentro do tempo que passávamos com elas, pouco a pouco todos se adequaram bem á rotina dos encontros. Se adaptaram ao quadro de regras, colaborando cada vez mais para sessões bastante proveitosas. Os encontros delimitados somente para os pais e/ou responsáveis foram de grande valia, considerando o fato de que uns são mais presentes e comprometidos do que outros, mas no final todos entenderam a proposta da terapia de grupo. Comprometeram a se adequarem melhor às dificuldades de seus filhos, mudando também parte de sua rotina e alguns de seus próprios comportamentos que ás vezes contribuíam para tais atitudes de seus filhos, para que possam assim conviver sem tantos julgamentos e conflitos em relação aos comportamentos das crianças relacionados ao TDAH. Levando em conta tudo o que foi vivenciado neste estágio, obtivemos bons resultados, em relação ás queixas trazidas pelos pais e/ou responsáveis. No último encontro, o de confraternização, todos mostraram muito satisfeitos pelas mudanças alcançadas, tanto em casa, quanto no ambiente escolar. Concluímos que mesmo com alguns integrantes tendo necessidade de dar continuidade ao acompanhamento terapêutico, em um contexto geral obtivemos um bom resultado, e conseguimos também esclarecer para os pais e/ou responsáveis destas crianças a importância de procurar uma ajuda profissional quando se percebe uma dificuldade em um nível considerável nas crianças, e não apenas julgá-los e diminuí-los por tal. O que foi de grande valia também foi dar uma melhor conhecimento aos pais sobre problemáticas que os mesmos desconheciam por isso não davam a devida importância, mas que com a psicoeducação sobre o TDAH e afins todos ficaram mais conscientes sobre como lidar e como se comportar diante de uma dificuldade de seus filhos, sendo assim muito proveitoso de ambas as partes. CONSIDERAÇÕES FINAIS Após tudo o que foi exposto aqui, cabe-nos agora deixar nossas últimas impressões acerca do estágio profissionalizante II. Primeiramente, relatar a enorme bagagem de conhecimentos que nos foram ofertados, tanto na parte teórica, na supervisão e orientação específicas, como também a incrível e inesquecível vivência dentro da instituição (Clínica-escola). Essa experiência foi algo muito além do que um simples aprendizado teórico. Foi uma troca vivencial, onde relações foram construídas e vínculos foram feitos. Trabalhar com o grupo de crianças desatentas contribuiu também para que houvesse uma transformação do nosso conhecimento, que requer, antes de tudo, uma investigação, uma análise e planejamento para que o trabalho fosse realizado com êxito. Percebemos o quanto é necessário estar focado em nossa função e no papel a ser empenhado por nós acadêmicos, pois nesse contexto estivemos intervindo verdadeiramente na vida tanto dos integrantes do grupo de desatentos, quanto de seus familiares e responsáveis, sendo de grande valia para todos os envolvidos. O desenvolvimento do estágio profissionalizante II nos proporcionou além de uma rica experiência e conhecimento,também a oportunidade de lidar com a realidade dos pais e/ou responsáveis destas crianças com TDAH, e vivenciar a dificuldade que eles tinham ao conviverem com essa problemática das crianças. Muitas das vezes vivendo um conflito dentro de seu lar com seus filhos por falta de informação, e por não saber como lidar com tais comportamentos dessas crianças tanto em casa quanto no ambiente escolar, utilizando muitas vezes de julgamentos como forma de justificar as características como os problemas na escola, o desinteresse em casa e principalmente a desatenção. Conclui-se que a realização deste estágio favoreceu também a nossa qualificação técnica, emocional e, principalmente, social, permitindo a prática de trabalhar em equipe, respeitando as diferenças e visualizando os benefícios que esta experiência ocasiona, visando também o melhor entendimento sobre o TDAH, e uma melhor qualidade de vida com relação ás crianças e seus pais e/ou responsáveis e profissionais da educação. REFERÊNCIAS BARKLEY, Russell A. Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH): guia completo para pais, professores e profissionais da saúde. - Porto Alegre: Artmed, 2002. Callaham, M. A. & Bauer, M. S. (1999). Psychosocial Interventions for Bipolar Disorder. The Psychiatric Clinics of North América, 22, 675-88. DUPAUL, George J. TDAH nas escolas. - São Paulo: M. Books, 2007. LIMA, Anderson M. (2012) Economia de Fichas: definição e aplicação. Comporte-se: psicologia & análise do comportamento. Data de acessado em 03 de julho de 2016. <http://comportese.com/2012/03/economia-de-fichas-definicao-e-aplicacao/> NOGUEIRA, Regina (2015). O que o filme “Divertida Mente” nos ensina sobre inteligência emocional? - Dino Blog. Data de acesso em 03 de julho de 2016. <http://blog.dino.com.br/?page_id=291?title=o-que-o-filme-%E2%80%9Cdivertida- mente%E2%80%9D-nos-ensina-sobre-inteligencia-emocional&releaseid=67113&pa rtn erid= 78&> PHELAN, Thomas W. TDA/TDAH - Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. - São Paulo: M. Books, 2005.
Compartilhar