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1 1 FARMACOGNOSIA Profa.: Dra. Alessandra Duarte Rocha Curso de Farmácia INTRODUÇÃO FARMACOGNOSIA Do grego “Pharmakon” : fármaco + “gignosco” ou “gnosis” : obter conhecimento A Farmacognosia é o ramo mais antigo das ciências farmacêuticas e tem como alvo de estudo os princípios ativos naturais, sejam animais ou vegetais. Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 2 OBJETIVOS Estudar as classes de constituintes químicos das espécies vegetais quanto a: aspectos da biossíntese classificação, ocorrência e distribuição caracterização química atividades farmacológicas. Aprender aspectos relacionados ao controle da qualidade de fitoterápicos Compreender a importância do conhecimento farmacognóstico para a valorização da biodiversidade e obtenção de novos fármacos. Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 3 Importância histórica dos produtos naturais (PN’s) Primórdios: vegetais usados como alimento, vestuário, habitação, transporte, tratamento doenças Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 4 2 Século I (D. C.): “materia medica”: Pedanius Dioscórides, botânico grego “De materia medica, libre six” descreve ~ 600 plantas e seus ingredientes detalhes do habitat, métodos de crescimento e colheita das plantas, uso terapêutico e dosagem. Fonte: historical.hsl.virginia.edu/.../dioscorides.html Importância histórica dos produtos naturais (PN’s) P ro fa . A le s s a n d ra D u a rte R o c h a - F a rm a c o g n o s ia 5 Galeno (131-200) e Paracelso (1493-1541): Difusão do uso de PN’s na terapêutica. Importância histórica dos PN’s Até o fim do séc. XVIII: plantas e extratos vegetais recurso terapêutico predominante Início séc. XIX – Isolamento de princípios ativos vegetais Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 6 Exemplos históricos de substâncias naturais empregadas na terapêutica Digitoxina (R=H); Digoxina (R=OH) (1820) D. purpurea e D. lanata Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 7 Morfina (1803) Hipnoanalgésico de uso difundido até serem descobertos seus efeitos alucinogênicos e de dependência física. Protótipo de compostos farmacologicamente ativos como a codeína, um poderoso antitussígeno (BARREIRO,1990). Modificação molecular Exemplos históricos de substâncias naturais empregadas na terapêutica Papaver somniferum P ro fa . A le s s a n d ra D u a rte R o c h a - F a rm a c o g n o s ia 8 Morfina Codeína 3 Quinina (1820): utilizada pelos povos andinos para combater febre alta da malária. Responsável pelo desenvolvimento de antimaláricos sintéticos, como a cloroquina. N O N H HO H H QUININA Exemplos históricos de substâncias naturais empregadas na terapêutica Cinchona officinalis Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 9 Atropina (1831) OH O O N CH3 atropina Império Romano: veneno p/ execução de adversários políticos. Hoje: eficaz bloqueador colinérgico (anticolinérgico); ações antiespasmódicas. Exemplos históricos de substâncias naturais empregadas na terapêutica Atropa belladona Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 10 HISTÓRIA DA ASPIRINA 1838 - Isolamento da salicina da casca de Salix alba COOH OH 1860 - Primeira síntese em laboratório do ácido salicílico 1899 - Lançamento da Aspirina pela indústria alemã Bayer 3000 a.c. - Antigos gregos utilizavam preparados a partir da casca de árvores do gênero Salix (salgueiro) como analgésico 1897 - Kolbe sintetiza o ácido acetilsalicílico a partir da salicina Salix alba Salicina AS AAS COOH O O O O CH2OH HOCH2 HO HO OH Atual – Faturamento anual de ~750 milhões de euros; presença em mais de 80 países EXEMPLOS HISTÓRICOS DE SUBSTÂNCIAS NATURAIS Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 11 Era pós-2a Grande Guerra Mundial Predominância da síntese química para a obtenção de fármacos; Banalização da medicina tradicional; Ausência de estudos multidisciplinares com extratos vegetais brutos; Aparecimento de grandes laboratórios farmacêuticos; Consolidação do sistema biomédico ocidental: mecanização do diagnóstico; medicamentos caros; 4 Leigos: importância das “ervas”! Insatisfação com eficácia/custo da medicina moderna; Popularidade medicina natural - “Revolução verde”: uso de medicamentos naturais clássicos Indústrias farmacêuticas: reconhecimento de “certas plantas” de uso popular: fontes para novos medicamentos ou protótipos. RETORNO ÀS PLANTAS MEDICINAIS Últimas décadas do século XX Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 13 0 50 100 150 200 250 300 350 Equinácea Gingko biloba Hipérico 1995 1997 Fonte: Nutrition Business JournalThe New York Times DÉCADA DE 90 (séc. XX) e início século XXI: Retorno ao interesse pelas plantas medicinais Artigos publicados envolvendo fitoterapia Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 14 Edições da Farmacopeia Brasileira Monografias de drogas vegetais EDIÇÃO Nº MONOGRAFIAS 1.ed. (1929) 277 2.ed. (1959) 75 3.ed. (1977) 13 4.ed. (1996) – Fascículo 1 10 4.ed. (2000) – Fascículo 2 10 4.ed. (2001) – Fascículo 3 7 4.ed. (2002) – Fascículo 4 8 4.ed. (2003) – Fascículo 5 7 4.ed. (2005) – Fascículo 6 5 5.ed. (2010) 54 P ro fa . A le s s a n d ra D u a rt e R o c h a - F a rm a c o g n o s ia 15 Final do século XX 1978: OMS reconhece oficialmente o uso de fitoterápicos. Brasil 1981 (Portaria n.º 212, de 11 de setembro, Ministério da Saúde, MS): define o estudo das plantas medicinais como uma das prioridades de investigação clínica 1982: Programa de Pesquisa de Plantas Medicinais da Central de Medicamentos (PPPM/Ceme) desenvolvimento de uma terapêutica alternativa e complementar, com embasamento científico estabelecimento de medicamentos fitoterápicos, com base no real valor farmacológico de preparações de uso popular, à base de plantas medicinais. P ro fa . A le s s a n d ra D u a rt e R o c h a - F a rm a c o g n o s ia 16 5 1ª década do século XXI 2006 - 2008 (Decreto 5.813, de 22/6/2006; Portaria 971 de 03/5/2006 e 2960 de 09/12/2008): Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF) Política Nacional de Práticas integrativas e complementares no Sistema Único de Saúde (SUS). Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 17 Origem: seminário realizado com os programas de fitoterapia ativos, representando as diversas regiões do país, que foram convidados e apresentaram os produtos e as formas farmacêuticas utilizadas. 2ª década do século XXI O Formulário de Fitoterápicos 1. ed. (RDC 60 – 10/11/2011) Seleção de formulações apresentadas de espécies vegetais e formas farmacêuticas comuns nos serviços de fitoterapia Preferência para espéciesconstantes da relação de espécies vegetais de interesse do SUS (RENISUS). Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 18 O Formulário de Fitoterápicos 1. ed. (2011) Objetivos: apoiar a implantação e implementação da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, destinada a garantir, aos usuários do SUS, fitoterápicos segundo a legislação vigente. dar suporte às práticas de manipulação e dispensação de fitoterápicos nos Programas de Fitoterapia no SUS. complementar normas de manipulação, oficializando as formulações que serão manipuladas de forma padronizada. Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 19 Conteúdo: formulações farmacopeicas Podem ser manipuladas de modo a estabelecer um estoque mínimo em farmácias de manipulação e farmácias vivas. Informações sobre a forma correta de preparo e as indicações e restrições de uso de cada espécie; 47 monografias de drogas vegetais para infusos e decoctos 17 de tinturas 1 de xarope 5 de geis 5 de pomadas 1 de sabonete 2 de cremes 4 de bases farmacêuticas e 1 de solução conservante. O Formulário de Fitoterápicos 1. ed. P ro fa . A le s s a n d ra D u a rt e R o c h a - F a rm a c o g n o s ia 20 6 2ª década do século XXI 2014: RDC 26 (13 de maio de 2014) – Cria a classe produto tradicional fitoterápico 2016: Memento de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira (MFFB) Orienta a prescrição de plantas medicinais e fitoterápicos Para consulta rápida por profissionais prescritores; Conteúdo: monografias com informações baseadas em evidências científicas Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 21 Potencial pouco explorado: Total espécies plantas superiores: ~ 250.000 Empregadas medicinalmente: ~35.000 a 70.000 ESPÉCIES VEGETAIS Fonte de substâncias bioativas; protótipos para síntese Recurso terapêutico p/ grande parte da população Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 22 ~ 25% dos medicamentos em uso: derivados naturais ou produtos semi-sintéticos de origem natural. São recurso terapêutico importante para ~ 80%da população mundial que não tem acesso aos medicamentos convencionais. Estudos revelam: de 119 drogas derivadas de plantas em uso em vários países, 74% foram descobertas através de estudos químicos dirigidos para o isolamento de constituintes químicos de plantas Importância do conhecimento sobre química das plantas Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 23 concentra parte significativa da biodiversidade mundial. fonte potencial de compostos biologicamente ativos. Somente 8% das espécies foram investigadas na busca por compostos bioativos. BRASIL Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 24 7 BOTÂNICA; AGRONOMIA TECNOLOGIA FARMACÊUTICA QUÍMICA (FITOQUÍMICA); BIOTECNOLOGIA Farmacognosia FARMACOLOGIA & TOXICOLOGIA MODELO MULTIDISCIPLINAR PARA O ESTUDO DE PRODUTOS NATURAIS Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 25 Estudos fitoquímicos biomonitorados por ensaios in vitro Etnofarmacologia Quimiotaxonomia Fitoterapia Aspectos de biologia molecular e celular dos PN’s Técnicas modernas de cromatografia (HPLC, HSCC, CPC, CG-EM) e RMN Farmacognosia no século XXI Estratégias de abordagem Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 26 Caracterização e padronização do extrato vegetal ESTUDO FITOQUÍMICO BIOMONITORADO Avaliação farmacológica do extrato vegetal (ensaios de atividade in vitro) Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 27 Fracionamento biomonitorado de extratos vegetais PLANTA (DROGA VEGETAL) EXTRATO EFICÁCIATERA- PÊUTICA OU ATIVIDADE BIOLÓGICA FRAÇOES/SUB- FRAÇÕES COMPONENTE (S) ATIVO (S) SCREENING APROPRIADO + extração separação isolamento Teste biológico Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 28 8 Possibilidades no estudo biomonitorado de extratos vegetais Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 29 Abordagens para seleção de plantas para estudo de produtos naturais Aleatória ou randômica Etnofarmacológica Quimiotaxonômica Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 30 Abordagem randômica: Escolha da planta sem qualquer critério. Fator determinante: disponibilidade da espécie. Maior probabilidade de novas descobertas de substâncias inéditas bioativas ou não: 10.000 diferentes tipos de planta = 50.000 a 100.000 possibilidades estruturais de produtos naturais. Abordagens para seleção de plantas para estudo de produtos naturais Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 31 ETNOBIOLOGIA ETNOBOTÂNICA ETNOFARMACOLOGIA Relações de plantas e animais com sociedades humanas atuais e antigas. Relações entre povos e plantas. “Exploração científica das substâncias bioativas empregadas pelo homem”. Informação popular sobre plantas medicinais aliada a estudos científicos químicos/farmacológicos 9 Quimiotaxonomia As espécies podem ser classificadas através de sua composição química, que é um caráter taxonômico. Conhecimentos quimiotaxonômicos associados a etnofarmacologia: descoberta de novos fármacos de origem natural. Propriedades citotóxicas e antitumorais, tripanosomicida, esquistosomicida OH O O O O O O O O OH OH OH H3CO HO OCH3 OH - lapachona Desidro -- lapachona Olivil Lapachol Tabebuia impetiginosa (Ipê roxo), Bignoniaceae Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 34 Taxus brevifolia e Taxus bacatta (Taxaceae) Atividade anticancerígena em tumores do ovário e seios Um dos mais promissores, entre ~ 120.000 compostos vegetais testados em busca de propriedades antitumorais (NCI- EUA) Paclitaxel – Taxol™: isolado em 1971, por Wall e Wani, nos EUA. BARREIRO, E. J.; FRAGA, C. A. M. Química Medicinal – As bases moleculares da ação dos fármacos. Porto Alegre: Artmed, 2008. SIMÕES, C. M. O. et al. Farmacognosia: da planta ao medicamento. 5. ed. Porto Alegre / Florianópolis: Ed. Universidade/UFRGS / Ed. da UFSC, 2003. 821 p. 10-desacetilbacatina III P ro fa . A le s s a n d ra D u a rt e R o c h a - F a rm a c o g n o s ia 35 Interferem na síntese de DNA e RNA Catharanthus roseus (vinca) Vimblastina Vincristina ~ 60 tipos de alcaloides antileucêmicos Vendas anuais: ~ US$ 160 milhões BARREIRO, E. J.; FRAGA, C. A. M. Química medicinal: as bases moleculares da ação dos fármacos. Porto Alegre: Artmed, 2001. Produtos naturais - VEGETAIS P ro fa . A le s s a n d ra D u a rt e R o c h a - F a rm a c o g n o s ia 36 10 CÁPSICO – Capsicum annuum (Pimenta- vermelha; páprica; tili) Ação: Hiperemia local (rubefaciente), analgesia; -Estimula terminações nervosas: diminui subst. P Alívio de neuralgias Capsaicinoides (1,5%): capsaicina (32 a 38%) SIMÕES, C. M. O. et al. Farmacognosia: da planta ao medicamento. 5. ed. Porto Alegre / Florianópolis: Ed. Universidade/UFRGS / Ed. da UFSC, 2003. 821p. HO O N O H P ro fa . A le s s a n d ra D u a rt e R o c h a - F a rm a c o g n o s ia 37 Atividades de algumas classes de produtos naturais isoladas de espécies vegetais CLASSES ATIVIDADES Alcaloides Estimulante do SNC Flavonoides Antiinflamatória, antialérgica, vasoprotetora, tripanosomicida Iridoides Analgésica, antileucêmica Lignanas Antimalárica, antitumoral Naftoquinonas Antitumoral, antimalárica, tripanosomicida, bacteriostática, fungistática HAMMOUDA et al., 1963; GOEL et al., 1996; RIBEIRO et al., 1997; GOTTLIEB & MORS, 1980; INOUE et al., 1981; OLIVEIRA et al., 1990. Principais atividades farmacológicas relatadas para algumas classes de produtos naturais P ro fa . A le s s a n d ra D u a rt e R o c h a - F a rm a c o g n o s ia 38 Definições Definições Plantas medicinais: “espécie vegetal, cultivada ou não, utilizada com propósitos terapêuticos”. Paullinia cupana Kunth Mentha sp. (ANVISA, RDC 14 de 31 de março de 2010) Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 40 11 Matéria-prima vegetal: “planta medicinal, droga vegetal ou seus derivados: extrato, tintura, óleo, cera, suco, etc”. Droga vegetal: “planta medicinal, ou suas partes, que contenham as substâncias, ou classes de substâncias, responsáveis pela ação terapêutica, após processos de coleta, estabilização, quando aplicável, e secagem, podendo estar na forma íntegra, rasurada, triturada ou pulverizada” (ANVISA, RDC 14 de 31 de março de 2010) Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 41 Fitoterápico: “medicamento obtido por processos tecnologicamente adequados empregando-se exclusivamente matérias primas vegetais, com finalidade profilática, curativa, paliativa, ou p/ fins de diagnóstico. Caracterizado pelo conhecimento da eficácia e dos riscos de seu uso, assim como pela reprodutibilidade e constância de sua qualidade”. Definições (ANVISA, RDC 14 de 31 de março de 2010) Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 42 Definições Fitoterápicos: medicamentos obtidos a partir de plantas medicinais. derivados de droga vegetal (extrato, tintura, óleo, cera, exsudato, suco, e outros) Qualidade Eficácia Composição padronizada Segurança Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 43 Eficácia e a segurança •levantamentos etnofarmacológicos, •documentações tecno-científicas em bibliografia e/ou •publicações indexadas e/ou •estudos farmacológicos e toxicológicos pré- clínicos e clínicos. Qualidade •controle das matérias- primas, •do produto acabado, •materiais de embalagem, •formulação farmacêutica •estudos de estabilidade. •Técnicas de produção •Formulação e FF •Controle de qualidade. tecnologia Fitoterápicos Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 44 12 Fitoterápicos SUS Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 45 Exercício Com base na Convenção Internacional Sobre Diversidade Biológica, integrada por 188 países, o Brasil lançou a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicas, em 2006, conceituando fitoterápico como: a) medicamento que, na sua composição, inclua substâncias ativas isoladas, de qualquer origem, ou associações destas em extratos vegetais alcoólicos ou aquosos. b) medicamento obtido de matérias-primas ativas vegetais, independente de sua qualidade, mas com eficácia e segurança comprovadas pelo uso em longo prazo. c) medicamento empregando exclusivamente, matérias-primas vegetais, cuja eficácia e segurança tenham sido publicadas como ensaios clínicos fases 1 ou 2. d) medicamento que inclua exclusivamente substâncias ativas isoladas, de qualquer origem, ou associações em extratos vegetais, cuja eficácia e segurança tenham sido publicadas como ensaios clínicos fase 3. e) medicamento que inclua exclusivamente matérias-primas vegetais com constância de qualidade, cuja eficácia e segurança tenham sido validadas como ensaios clínicos fase 3. Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 46 Resp.: letra e Definições O que não é considerado fitoterápico? Chá. No Brasil, os chás são enquadrados como alimentos. Homeopatia. Os medicamentos homeopáticos são produzidos de forma diferente dos fitoterápicos, através de dinamização. Neste tipo de terapia, são também utilizados, além de princípios ativos de origem vegetal, outros de origem animal, mineral e sintética. Partes de plantas medicinais. As plantas medicinais são consideradas matérias primas a partir do qual é produzido o fitoterápico. As plantas medicinais podem ser comercializadas no Brasil em farmácias e ervanarias, desde que não apresentem indicações terapêuticas definidas, seja feito um acondicionamento adequado e declarada sua classificação botânica. Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 47 Princípio ativo: “substância ou grupo delas quimicamente caracterizada, cuja ação farmacológica é conhecida e responsável , total ou parcialmente, pelos efeitos terapêuticos do fitoterápico”. Definições cafeína Papaver somniferum Coffea arabica (ANVISA, RDC 14 de 31 de março de 2010) P ro fa . A le s s a n d ra D u a rt e R o c h a - F a rm a c o g n o s ia 48 13 Definições Marcadores: “composto ou classe de compostos químicos (ex: alcaloides, flavonoides, ácidos graxos, etc.) presentes na matéria prima vegetal, preferencialmente tendo correlação com o efeito terapêutico, que é utilizado como referência no controle da qualidade da matéria-prima vegetal e do medicamento fitoterápico”. Flavonoides como a vitexina e alcaloides estão presentes em Passiflora sp. (ANVISA, RDC 14 de 31 de março de 2010) OHO O OH OH Gli VITEXINA 8-C-glicosídeo da 5,7,4’-triidroxi- flavona Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 49 Fitofármaco: “medicamento produzido com princípios ativos isolados da matéria prima vegetal”. Definições (ANVISA, RDC 14 de 31 de março de 2010) cumarina troxerrutina Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 50 Fitoterapia: “Terapêutica caracterizada pelo uso de plantas medicinais em suas diferentes formas farmacêuticas, sem a utilização de substâncias ativas isoladas, ainda que de origem vegetal, cuja abordagem incentiva o desenvolvimento comunitário, a solidariedade e a participação social.” Definições (Portaria 971, 03/05/2006) Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 51 Conhecimento popular Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 52 14 Medicina tradicional: “Conhecimentos, habilidades e práticas baseadas em teorias, crenças e experiências de diferentes culturas, explicáveis ou não, utilizadas no cuidado com a saúde”. Definições (MS, 2006) Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 53 Plantas com ação colerética - aumentam a quantidade de bílis secretada pelo fígado. Descongestionam o fígado, favorecendo a digestão e estimulando a regeneração das células hepáticas. Exemplos: cebola, alcachofra, boldo, rabanete, genciana, calêndula, dentre outras. 54 http://saudepelasplantas.blogspot.com.br/2010/09/plantas- colereticas-e-colagogas.html Definições Plantas com ação colagoga - facilitam a transferência de bílis contida na vesícula biliar para o duodeno. Essas plantas suprimem o espasmo da vesícula, aliviando a dor e facilitando o correto funcionamento do sistema biliar. Exemplos: oliveira, hortelã-pimenta, alcachofra, boldo, rabanete, dente-de- leão, genciana, graviola, cáscara- sagrada, calêndula, artemísia, alecrim, mil-folhas, aloes 55 http://saudepelasplantas.blogspot.com.br/2010/09/plantas- colereticas-e-colagogas.html Definições Espécies exóticas: são espécies animais ou vegetais que se instalam em locais onde não são naturalmente encontradas. Espécie exótica invasora: que ameaça ecossistemas, habitats ou espécies; por suas vantagens competitivas e favorecidas pela ausência de predadores e pela degradação dos ambiente naturais, dominam os nichos ocupados pelas espécies nativas, notadamente em ambientes frágeis e degradados. 56 Definições www.mma.gov.br 15 57 Falsas crenças “As plantas medicinais e a fitoterapia são mais eficazes que os medicamentos industrializados...” “As plantas medicinais têm menos efeitos colaterais, pode tomar que se não fizer bem, mal não faz...” “Plantas medicinais são boas porque não têm química” Exercício A Droga vegetal Planta ou suas partes, após processos de coleta, estabilização e secagem. Pode ser íntegra, rasurada, triturada ou pulverizada. B Fitoterápico Medicamento produzido com princípios ativos isolados da matéria-prima vegetal. C Marcador ativo Todos vegetais que têm emprego com fins terapêuticos, alicerçados no conhecimento popular ou científico. D Planta medicinal Medicamento obtido por processos tecnologicamente adequados empregando-se exclusivamente matérias- primas vegetais, com finalidade profilática, curativa, paliativa, ou p/ fins de diagnóstico. E Fitofármaco Princípios ativos presentes na matéria-prima vegetal usados como referência no controle de qualidade. Contribuem para a atividade terapêutica. Em relação aos termos importantes empregados em fitoterapia, numere a segunda coluna de acordo com a primeira: Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 58 Classificação dos constituintes de drogas vegetais e de fitoterápicos Princípio(s) ativo(s): Substância quimicamente definida; constituinte com atividade farmacológica/clínica conhecida; contribui substancialmente para a atividade terapêutica número limitado de espécies vegetais pertencem a este grupo. Marcador(es) ativo(s): componentes presentes na MP vegetal (Pa’s) usados como referência no CQ. contribui para a atividade terapêutica; estes compostos não são os únicos (ou que ainda não se comprovou) responsáveis pela eficácia do fitoterápico; grande número de espécies vegetais pertencem a este grupo. Marcador(es) negativo(s): presença não desejada na droga vegetal ou no fitoterápico. Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 59 Classificação de algumas drogas vegetais Drogas vegetais com princípios ativos clinicamente conhecidos Senna alexandrina senosídeos Piper methysticum lactonas Kava Drogas vegetais com marcadores farmacologicamente ativos Gingko biloba glicosídeos flavônicos, terpenos Allium sativum aliinas, alicinas Hypericum perforatum hiperforina, hipericina Maytenus ilicifolia polifenóis, triterpenos Drogas vegetais com marcadores negativos Gingko biloba ácido gincólico Symphytum officinale alcaloides pirrolizidínicos Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 60 16 Composição de constituintes marcadores de dois produtos denominados de “extrato de Ginkgo” Constituintes Extrato de Ginkgo biloba Extrato simples Extrato especial Flavonoides 4% 24% Biflavonoides 2 % 0,1 % Lactonas terpênicas 0,2 % 6 % Ácidos gincólicos 1,5% <5 ppm Ácidos orgânicos 2,5 % 9 % Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 61 Lactonas terpênicas (1-6) e constituintes biflavônicos (7-12) presentes nas folhas de Gingko biloba Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 62 Utilização de marcadores ativos para a caracterização de drogas vegetais Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 63 Para reflexão: podem os fitoterápicos ainda serem competitivos frente aos fármacos modernos? existe viabilidade para se investir em fitoterápicos, considerando todos os avanços da química medicinal ? Profa. Alessandra Duarte Rocha - Farmacognosia 64 17 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Memento de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira, 1. ed., 2016. Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira, 1. ed., 2011. BARREIRO, E. J. Produtos naturais bioativos de origem vegetal e o desenvolvimento de fármacos, Química Nova, v.13, n.1, p. 29-39, 1990. VIEGAS JR, Cláudio; BOLZANI, Vanderlan da Silva; BARREIRO, Eliezer J.. Os produtos naturais e a química medicinal moderna. Quím. Nova, São Paulo , v. 29, n. 2, p. 326-337, Apr. 2006 . CORDELL, G. A. Changing strategies in natural products chemistry: Review article number 109. Phytochemistry, v. 40, n. 6, p. 1585-1612, 1995. EVANS, W. C.; TREASE G. E. (Eds.) Pharmacognosy. 14th ed. London: Baillière Tindall, 1996. 832 p. HAMBURGUER, M.; HOSTETTMANN, K. Bioactivity in plants: the link between phytochemistry and medicine. Phytochemistry, v. 30, n. 12, p. 3864-3874, 1991. KINGHORN, D.A. Pharmacognosy in the 21st century. 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