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História econômica geral. Piero Nadio Arádio

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PIERO NÁDIO ARÁDIO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TÓPICOS 
 
DE 
 
HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
______________________________________________________________________ 
2 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
______________________________________________________________________ 
3 
 
ÍNDICE 
 
 
INTRODUÇÃO, 5 
 
CAPÍTULO I – O MUNDO ANTIGO, 7 
 
01 – O Mundo Helênico, 7 
02 – O Mundo Romano, 9 
 
LEITURA COMPLEMENTAR – A Economia Primitiva, 11 
 
CAPÍTULO II – DE BIZÂNCIO AO FEUDALISMO, 15 
 
03 – O Início da Idade Média, 15 
04 – As Invasões Bárbaras, 15 
 
LEITURA COMPLEMENTAR – A Economia e a Filosofia Escolástica, 19 
 
CAPÍTULO III – O MERCANTILISMO, 21 
 
05 – O Período da Renascença, 22 
06 – O Regime Colonial, 24 
 
LEITURA COMPLEMENTAR – As Idéias Econômicas do Mercantilismo, 27 
 
CAPÍTULO IV – AS ESCOLAS ECONÔMICAS, 29 
 
07 – A Escola Fisiocrática, 29 
08 – A Escola Clássica, 30 
09 – A Doutrina de Malthus, 31 
10 – A Teoria da Renda de David Ricardo, 32 
11 – A Influência da Escola Clássica, 35 
12 – Stuart Mill, 36 
 
CAPÍTULO V – A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E A TESE SOCIALISTA, 37 
 
13 – A Ascensão da Classe Burguesa, 37 
14 – O Socialismo Pré-Marxista, 39 
15 – O Socialismo de Karl Marx, 40 
 
LEITURA COMPLEMENTAR – A Teoria Econômica de Karl Marx, 43 
 
CAPÍTULO VI – A EXPANSÃO DO CAPITALISMO, 45 
 
16 – Imperialismo: A Nova Face do Capitalismo, 45 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
______________________________________________________________________ 
4 
17 – Anarquistas e Sindicalistas, 47 
18 – O Comunismo Soviético, 48 
 
LEITURA COMPLEMENTAR, Os Neoclássicos, 51 
 
CAPÍTULO VII – A CRISE DO CAPITALISMO, 53 
 
19 – A Grande Depressão, 51 
20 – A Economia do Pós-Guerra, 55 
 
LEITURA COMPLEMENTAR – A Teoria Keynesiana, 57 
 
CAPÍTULO VIII – A NOVA REALIDADE ECONÔMICA, 59 
 
21 – Capitalismo versus Comunismo, 60 
22 – A Nova Revolução Industrial, 63 
23 – Um Novo Mundo Econômico, 66 
24 – O Problema dos Países Emergentes, 68 
25 – Tecnologia e Desenvolvimento, 71 
26 – Haverá Uma Ideologia para a Nova Época? , 72 
 
LEITURA COMPLEMENTAR – A Nova Economia, 73 
 
CAPÍTULO VIII – O PROBLEMA BRASILEIRO, 75 
 
27 – O Brasil e o Cone Sul, 75 
28 – Os Problemas da Integração Econômica, 75 
 
APÊNDICE, 77 
 
A MOEDA, 79 
A RENDA NACIONAL, 81 
A FORMAÇÃO DOS PREÇOS, 83 
A POLÍTICA DEMOGRÁFICA, 85 
 
QUESTIONÁRIO, 87 
 
BIBLIOGRAFIA, 91 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
______________________________________________________________________ 
5 
INTRODUÇÃO 
 
 
 A história do pensamento econômico refere-se ao desenvolvimento progressivo, ao 
longo da história humana, e retratada em cada um dos povos que surgiram desde a mais 
antiga civilização, das atividades humanas que se têm por “econômicas”. 
 A procura incessante pelos meios de subsistência, o cultivo da terra, o sistema de 
trocas, o conceito de propriedade, são fenômenos que se enquadram nestas atividades 
econômicas, e que evoluíram, de meios bastante rudimentares, para os modernos e 
complexos sistemas econômicos característicos de nosso tempo atual. 
 
 Devemos ressaltar a diferença básica que existe entre história do pensamento 
econômico, ou história da economia,1 entre história das doutrinas econômicas, e 
história econômica geral. 
 A primeira refere-se, e tem por objetivo, estudar o processo histórico pelo qual 
surgiu o fenômeno propriamente econômico, através da análise da evolução deste 
sistema de trocas, do surgimento do dinheiro, do conceito de empréstimos, juros, 
capitais, bem como da atividade econômica em seu todo. Todo este processo tem um 
fundamento social, com base nas necessidades humanas de subsistência, proteção contra 
os elementos e as intempéries, e no progressivo acúmulo de bens econômicos através de 
trocas mercantis. 
 
 A história das doutrinas econômicas visa, especificamente, estudar o pensamento dos 
autores e historiadores que se propuseram a explicar este fenômeno, criando teorias, 
escolas e sistemas econômicos, cujo exemplo mais claro é a forma como as doutrinas se 
dividiram ao longo do século XX, em sistema capitalista e sistema socialista, divisão 
esta que atingiu o próprio cerne das sociedades, dividindo o mundo em dois blocos 
políticos principais, os países democráticos e os países comunistas. 
 Quanto à história econômica geral, é uma espécie de síntese entre as duas primeiras, 
cuja especificidade coloca a história sob um prisma econômico, ou seja, busca-se 
estudar os fatos sociais e históricos dando realce à tessitura econômica sobre a qual eles 
se desenvolveram. A história econômica geral difere da história do pensamento 
econômico sob vários aspectos. Enquanto esta procura realçar as teorias econômicas que 
vão surgindo à medida que as sociedades e a civilização em geral se desenvolvem, a 
primeira dá ênfase às razões econômicas (embasadas estas, por sua vez, em teorias 
econômicas diversas) pelas quais surgem os fatos sociais capazes de transformar a 
própria realidade histórica. 
 
 Em nossa abordagem, não nos furtamos a incluir um breve escorço sobre as Escolas 
Econômicas (Fisiocrática e Clássica), cujos conceitos teóricos são indispensáveis para a 
compreensão mais exata da evolução dos fatos históricos sob o prisma econômico. 
 
1
 Mesmo aqui devemos distinguir entre a história dos fatos econômicos (constituídos pelas ações 
realizadas pelos indivíduos), e a interpretação intelectual (muitas vezes a posteriori), destes mesmos 
fatos, e que constituem propriamente tanto a teoria econômica (proposta para explicá-los) quanto a 
história das (várias) teorias econômicas propostas. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
______________________________________________________________________ 
6 
Quase sempre, os fatos concretos ocorrem no bojo de um substrato teórico que lhes dá 
causa. 
 Além disso, o nosso propósito é o de tentar buscar um entendimento acerca da 
evolução do pensamento, da história e dos fatos econômicos, apelando eventualmente 
para disciplinas autônomas auxiliares, tais como a História, a Antropologia, Ciência 
Política, entre outras, mas apenas com o objetivo de elucidar o modo como se deu tal 
evolução. 
 
 As leitura complementares têm por objetivo dar um suporte teórico maior, que 
permita ao leitor entender e interpretar as causas e motivações econômicas que 
conduzem o desenvolvimento da história. O Capítulo IV em especial, bem como as 
leituras constantes do Apêndice, ainda que tenham um conteúdo não programático, irão 
reforçar este suporte teórico, muitas vezes buscado pelo leitor mais exigente. 
 
 Aqueles que desejarem expandir seus conhecimentos para além destes modestos 
tópicos, encontrarão na bibliografia uma indicação para auxiliar tal intento. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
______________________________________________________________________ 
7 
CAPÍTULO I 
 
O MUNDO ANTIGO 
 
 
1 – O Mundo Helênico 
 
 O estudo dos povos primitivos levou à conclusão de que a sua conduta, sob o aspecto 
das relações econômicas, pautava-se por um primitivo sistema de trocas, inexistindo 
qualquer tipo de moeda como base de troca, ou usando-se, para tal finalidade, objetos 
tidos como valiosos, tais como dentes ou peles de animais, clavas, arcos e flechas, etc. 
 Em épocas recuadas, supõe-se que os indivíduos não tinham a capacidade de lavrar 
ou de semear a terra, com a finalidade de garantir umaprovisão constante de alimentos. 
É possível que houvesse inicialmente apenas um sistema simples de coleta de vegetais, 
a par de um sistema baseado na caça coletiva de animais, como fonte de alimentação, 
pela sua carne, e de proteção contra as intempéries, pela sua pele. A subsistência podia 
ser suprida também através da pesca e do consumo de frutos silvestres. Talvez os 
alimentos fossem consumidos crus, e, com certeza, não havia como armazená-los para 
posterior consumo. Isto transformava a atividade de subsistência em um processo 
permanente, causando a necessidade de os grupos estarem em constante deslocamento, 
sem se fixarem em definitivo em uma localidade qualquer. Os grupos eram, então, 
selvagens e errantes, vagando de região a região, entrando eventualmente em conflito 
com outros grupos, quando invadiam sua área de caça. 
 Aos poucos, os grupos foram se fixando em determinados locais mais amenos, onde 
puderam desenvolver um sistema de lavratura da terra; foi onde surgiram as primeiras 
comunidades. Surgiu assim a atividade pastoril, com a domesticação de certos animais, 
principalmente gado e ovelhas. A nutrição aos poucos mudou para o consumo de grãos 
e sementes, o que acarretou diversas conseqüências. Entre elas, a necessidade de usar 
instrumentos e utensílios, ainda que rudimentares, seja para arar a terra, seja para a 
transformação dos alimentos: trituração; moagem; fermentação; etc. A fixação à terra, 
ainda que criando grupos comunais, pode ter levado à necessidade de isolar grupos 
familiares em terrenos restritos e vivendo em cabanas, o que terminou por levar ao 
conceito de “propriedade”. A necessidade de defender esta propriedade também levou 
ao desenvolvimento de armas rústicas de defesa. 
 Evidentemente, nada causou tanto impacto quanto a domesticação do fogo, ou seja, a 
capacidade de acender e manter uma fogueira, sem ter que esperar pela queda de um 
raio, que o provocasse. O fogo, que podia ser provocado pelo atrito entre galhos secos, 
serviu para cozer alimentos, e com o tempo permitiu o nascimento de uma incipiente 
“indústria” de forja, pela manipulação de metais dúcteis e de baixo ponto de fusão: 
inicialmente criando instrumentos de cobre, e posteriormente desenvolvendo 
ferramentas de ferro. 
 
 As primeiras comunidades, se viviam em paz, chegaram a organizar vários sistemas 
sociais, com a produção de mitos complexos, que normalmente eram memorizados 
pelos seus integrantes, e que tornavam possível uma vida em comum, pela aceitação 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
______________________________________________________________________ 
8 
coletiva de uma origem comum, pelo respeito e culto aos ancestrais, e pelo temor aos 
fenômenos físicos da natureza. 
 Com o tempo, estas comunidades puderam desenvolver uma complexa arte 
manufatureira, composta de cestaria (produção de cestas) e de artefatos de cerâmica. O 
calor do fogo permitiu manipular a argila, produzindo vasos, tijolos e telhas, entre 
outras coisas. Também a ouriversaria se desenvolveu, com a produção de jóias em geral. 
O contato progressivo entre várias comunidades levou gradativamente à necessidade de 
criar métodos de transporte e mecanismos de troca comercial, inicialmente usando 
objetos considerados valiosos pelos membros das várias comunidades. Mas os contatos 
comerciais muitas vezes redundavam em conflito, o que também podia provocar a 
necessidade da comunidade isolar-se e buscar sua auto-suficiência. 
 
 A partir de 600 a.C., começou a surgir as civilização que mais iria influenciar a 
civilização ocidental: a civilização grega. A época mais recuada, ou época de Homero 
(que escreveu a Ilíada e a Odisséia), cada aldeia e cidade era bastante independente, e o 
tipo de vida econômica e social era bastante simples. A atividade diária de subsistência 
consistia em lavrar a terra, colher no tempo certo e trocar as mercadorias no mercado da 
cidade. 
 
 Por volta de 800 a.C., as cidades começaram a se integrar em organizações políticas 
mais amplas, tanto devido ao comércio crescente quanto à inevitável necessidade de 
defesa contra povos invasores. As maiores e mais importantes cidades gregas foram 
Atenas e Esparta, que compartilhavam a hegemonia política e econômica. No auge de 
seu poderia, cada uma chegou a ter por volta de 400.000 habitantes. 
 O comércio e a indústria se tornaram as principais atividades, levando ao 
crescimento da população urbana e criando uma classe de cidadãos que vivia na 
opulência. A escravidão era bastante comum, e os escravos eram prisioneiros de guerra 
vencidos em batalhas. O crescimento da riqueza criou uma classe de latifundiários, que 
começou a explorar os lavradores. 
 Na luta pelo poder, a classe média em ascensão uniu-se aos lavradores, e o 
descontentamento com o governo despótico levou à fundação de governos 
democráticos, quando não de oligarquias liberais. 
 O auge da história de Atenas ocorreu com o governo de Péricles (461-429 a.C.), 
durante o qual as artes foram levadas a um nível extremamente elevado. Foi um período 
de expansão econômica e de grande comércio realizado com as outras cidades da região 
do Peloponeso. 
 
 Em Esparta, entretanto, ao contrário de Atenas, a situação política acabou levando a 
um sistema político absolutista; enquanto em Atenas floresciam as artes e o comércio, 
nesta outra, o governo oligarca ditatorial optou por criar uma comunidade voltada para o 
militarismo e para a conquista. A cidade fechou-se em si mesma, proibindo que seus 
cidadãos viajassem ou comerciassem com o exterior. A vida social imposta aos 
cidadãos era caracterizada pelo coletivismo e por rígidas normas de disciplina e de 
comportamento. Além disso, os cidadãos impunham uma férrea dominação sobre o 
grande número de escravos existentes. 
 A organização econômica da cidade visava os seguintes objetivos: garantir a 
eficiência e a supremacia militar contra as cidades vizinhas; garantir a segurança interna 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
______________________________________________________________________ 
9 
e a dominação da classe dos cidadãos.2 As melhores terras pertenciam ao Estado, mas a 
maioria acabava nas mãos da classe dominante (esparciatas). O comércio e a indústria 
ficavam a cargo dos periecos. 
 
 Em épocas posteriores, o crescente fortalecimento das comunidades gregas 
transformou-as em cidades-estado, cuja supremacia era marcada por aquela que se 
destacava pela sua força guerreira, mas também pela sua hegemonia comercial. O 
comércio entre as cidades se dava tanto por via terrestre quanto por vias marítimas, e o 
constante contato comercial entre povos diferentes permitiu que várias conquistas 
intelectuais se divulgassem entre eles. 
 
 
2 – O Mundo Romano 
 
 Roma foi a mais importante cidade dos tempos antigos, em virtude de sua hegemonia 
militar. Aproximadamente em 265 a.C., toda a Itália já estava sob o jugo romano, e 
Roma encontrava apenas uma cidade que rivalizava com ela em força militar: Cartago. 
Ambas eram cidades ricas, prósperas e com grande força militar, e o embate entre elas 
durou muitos anos, antes que Roma a vencesse. 
 As guerras com Cartago obrigaram a que Roma iniciasse uma expansão militar pelo 
Mediterrâneo, vencendo e conquistando povos vizinhos. Tais guerras3 tiveram grandes 
conseqüências; além de mudar a vida cultural romana, iniciaram uma grande revolução 
social e econômica, cujas características principais foram: um grande aumento da 
escravidão, como resultado da captura de enorme contigente de prisioneiros de guerra; o 
lento desaparecimento dos pequenos lavradores, que não podiam competir com o trigo 
mais barato cultivado nas províncias conquistadas; o aumento explosivo de uma classe 
de lavradores e camponeses empobrecidos, cujo trabalho fora substituído pelamão-de-
obra escrava; o surgimento de uma classe média formada de mercadores, usurários e 
“publicanos”4 ; o surgimento de uma classe opulenta, que enriquecia com os lucros de 
guerra. 
 Estas transformações levaram a contínuos conflitos de classes, em razão do profundo 
abismo que passou a separar ricos e pobres. A situação política degenerou a tal ponto 
que provocou diversas revoltas dos escravos, sendo que a mais famosa ocorreu quando 
um escravo chamado Espártaco5 liderou, em 73 a.C., uma revolta contra o jugo romano, 
à frente de 70.000 revoltosos. 
 Entre os lavradores sem terra, deu-se a chamada “revolta dos Gracos”, que lutavam 
contra a aristocracia senatorial. Tibério Graco fazia parte da elite, mas defendia o 
interesse dos lavradores, o que deu motivo a que fosse morto a mando da aristocracia. 
 
2
 Havia três classes principais: a classe dos esparciatas, dominante; os periecos, intermediária (que viria a 
constituir a classe média); os ilotas, classe composta de servos (que eram desprezados pelos seus amos). 
3
 As famosas Guerras Púnicas. 
4
 Que detinham o poder de explorar minas, construir e manter estradas e cobrar impostos. 
5
 Espártaco não era propriamente um escravo, e sim um gladiador que lutava nas arenas romanas. Ele foi 
capturado e morto em batalha, e mil de seus adeptos foram crucificados. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
______________________________________________________________________ 
10 
Nove anos depois, o seu irmão, Caio Graco, também foi morto ao tentar defender os 
interesses dos desprotegidos.6 
 
 Roma, que era uma república, tornou-se politicamente um império. Foi durante esta 
época que começou o seu declínio. A manutenção de um extenso império, a luta 
contínua contra os bárbaros, a corrupção interna, eram fatores que corroíam os recursos 
do Estado e que acabaram levando à sua queda. 
 Outro fator, de ordem econômica, era a balança de comércio desfavorável, com as 
províncias. Aos poucos, com o contínuo escoamento de metais preciosos para fora, o 
governo romano, ao invés de incrementar as manufaturas para exportação, optou por 
aviltar a moeda. Isto teve graves e drásticas conseqüências: o desaparecimento do 
dinheiro de circulação, e o retorno às trocas de mercadorias; o declínio da indústria e do 
comércio; o crescimento da escravidão; o aumento da intervenção governamental sobre 
a economia, com resultados em geral catastróficos. Além disso, o aumento exacerbado 
da carga tributária sobre a classe média desencorajava qualquer novo empreendimento 
econômico. 
 
 
6
 Em ambos os casos, eles queriam fazer passar uma legislação que permitisse o acesso dos pobres a um 
trigo mais barato. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
______________________________________________________________________ 
11 
LEITURA COMPLEMENTAR 
 
A Economia Primitiva 
 
 
 Os primeiros povos civilizados, e que deixaram sua marca na história (egípcios; 
gregos; romanos), pouco se caracterizaram pelas iniciativas de tentar explicar o 
fenômeno econômico; apesar de exercerem uma intensa atividade econômica, houve 
raras tentativas explícitas de tentar entendê-lo. Nos diversos escritos filosóficos, existem 
apenas idéias esparsas e pouco concatenadas a respeito das idéias econômicas. Os 
gregos, de uma maneira geral, externavam muito mais idéias monetárias do que 
propriamente idéias econômicas. Até mesmo Platão, um dos maiores dentre os filósofos 
gregos, não chegou a compreender a enorme influência da atividade econômica na 
evolução das sociedades. No que mais se aproximou de uma exegese deste tipo de 
pensamento, em sua obra “A República” ele expõe o que considera o tipo ideal de 
Estado. Minimiza e despreza as atividades manuais e de comércio, e não dá valor ao 
acúmulo de riqueza. Este ponto de vista extremado tornou-se deletério para qualquer 
pensador que quisesse dedicar-se ao fenômeno econômico. Entretanto, Aristóteles 
recuperou a importância deste tipo de atividade intelectual, ao voltar-se para alguns 
temas considerados polêmicos. Entretanto, em sua obra “A Política”, ao analisar o 
surgimento da moeda, suas conclusões viriam a se tornar o fulcro e influenciar 
consideravelmente todas as análises sobre doutrinas econômicas que seriam feitas 
futuramente, pelos autores medievais. Na verdade, a condenação por Aristóteles de todo 
tipo de lucro (seja comercial, industrial e pelo usurário), orientou para o futuro a própria 
posição da Igreja Católica no que se refere a este tema, e deu ensejo a perseguições e 
lutas religiosas sem fim. 
 
 Aristóteles fez uma distinção bastante precisa (e até hoje usada) quanto às funções da 
moeda: ela serviria como intermediária de trocas comerciais; como instrumento de 
comparação de valores; e como uma reserva de valor. Ele propôs também uma questão 
monetária que só se resolveu em tempos modernos. O valor da moeda depende do valor 
do metal precioso de que é feita, ou o seu valor depende da autoridade de quem a coloca 
em circulação?7 Platão era de opinião que a moeda tinha um valor nominal, constituído 
pelo Estado, talvez porque em sua época as moedas eram cunhadas em metal nobre, de 
ouro ou prata (mas as havia, também, de chumbo, cobre e bronze). Para Xenofonte, o 
valor da moeda estava no valor do metal precioso que a constituía. Já Aristóteles não se 
definiu quanto à questão, admitindo uma posição dúbia intermediária. Aristófanes foi o 
primeiro a evidenciar o fato de que a moeda de melhor qualidade é expulsa da 
circulação pela moeda de pior qualidade8 (a primeira passa a ser entesourada ou 
 
7
 Quando percebemos, nos tempos atuais, que a moeda foi sendo gradativamente substituída por sistemas 
cada vez mais abstratos de crédito (os vários tipos de títulos de crédito: o papel-moeda; o cheque, o 
cartão, etc.; os créditos interbancários nos quais apenas valores eletrônicos mudam de lugar), percebemos 
cada vez mais que a moeda é, em princípio, um acordo em comum acerca de um valor atribuído a uma 
ficção monetária instituída pelo Estado (vide A MOEDA, pág. 77). 
8
 Esta é a chamada Lei de Gresham. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
______________________________________________________________________ 
12 
derretida, pelo seu maior valor). Opunham-se, então, as teorias “nominalista”9 e 
“metalista”, com debates acirrados sobre a questão.10 
 
 
 Entre os romanos, a orientação especulativa acerca das idéias econômicas provinha 
da política, e não mais da filosofia, como era entre os gregos. Vários fatores 
contribuíram para que o entendimento romano sobre este assunto se expandisse. A 
chamada Pax Romana, ou hegemonia militar sobre os povos circundantes (que 
pressupunha um forte espírito guerreiro); o estabelecimento de extensas vias ou estradas 
de comunicação interligando Roma com todo o império;11 a navegação segura no 
Mediterrâneo; o desenvolvimento de um sistema jurídico eficaz; um espírito público 
administrativo; todas estas foram causas que deram ensejo à expansão das transações 
comerciais, que levaram à criação de companhias mercantis e de sociedades por ações. 
 
“O romano é consumidor, mas não quer ser produtor. Sem dúvida era 
próspera, a princípio, a agricultura romana; mas logo os lavradores 
indígenas, pequenos proprietários de suas terras, foram sendo substituídos 
por escravos, enquanto a pequena propriedade, de cultura intensiva, cedia 
os passos ao latifúndio, de cultura extensiva. Dentro em pouco passaram as 
artes e os ofícios industriais e o comércio a ser considerados atividades 
indignas de um homem livre. Roma faz com que produzam para ela; as 
províncias, conquistadas e escravizadas,abastecem-na do necessário ao 
seu consumo.” (HUGON, Paul. Pág. 42). 
 
 Mas não foi somente a escravatura que provocou a decadência da agricultura. Os 
pensadores romanos que se dedicaram ao assunto dividiam-se basicamente em duas 
correntes.12 Uns inclinavam-se pelo intervencionismo do Estado, que seria o único 
capaz de regulamentar e controlar os mecanismos econômicos; outros tendiam à 
corrente individualista, afirmando que o indivíduo em si era o único capaz de regular e 
equilibrar a economia.13 Em duas oportunidades, a tendência intervencionista se 
sobrepôs, acabando por se mostrar desastrosa. A Lei Semprônia, de 123 a.C., tornava o 
Estado responsável pela distribuição de cereais a preços abaixo do mercado; em 58 a.C., 
a Lei Clódia reservou aos indigentes tal responsabilidade. As conseqüências, 
 
9
 No período medieval a teoria nominalista foi retomada pelos chamados regalistas, e ela é hoje uma das 
teorias preferidas pelos economistas. A este respeito, é importante considerar a impossibilidade, 
atualmente, de qualquer país ou nação conseguir lastrear os seus ativos circulantes. O montante de moeda 
em circulação no mundo, considerando-se apenas o dólar dos EUA, ultrapassa consideravelmente a 
quantidade de ouro em estoque, seja em Forte Knox, seja nos cofres-fortes dos Bancos Centrais dos 
países mais ricos. 
10
 Os marxistas, para verem justificada a sua teoria do valor-trabalho, aceitavam a teoria metalista. 
11
 Estas vias romanas começaram a ser edificadas no século IV a.C., continuando até o século IV d.C. (ou 
seja, durante oitocentos anos elas se expandiram, sendo mantidas e cuidadas de forma a permitir um fácil 
acesso a todo o império). 
12
 As quais, curiosamente, ainda prevalecem ainda entre os teóricos modernos, que oscilam entre a duas 
tendências apontadas no texto. 
13
 O individualismo veio, mais tarde, a se desenvolver nas chamadas escolas fisiocrata, clássica e no 
moderno neo-liberalismo. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
______________________________________________________________________ 
13 
previsivelmente, foram desastrosas, provocando a derrocada da lavoura.14 Além dessas, 
outras leis intervencionistas vieram conturbar o sistema econômico romano, provocando 
déficit orçamentário e fraudes sem fim. Quanto maiores se tornavam os problemas, mais 
o Estado intervinha, tentando por sob controle a economia. O plantio, a colheita e o 
transporte dos grãos era todo colocado sob estrito controle monopolista do estado. 
 A tendência individualista surgiu sob a ótica jurídica, que veio dar ênfase ao sistema 
de propriedade privada, do direito das obrigações, dando um contorno visível à 
transmissão da propriedade, seja por meio de venda, seja por meio de sucessão. A obra 
dos jurisconsultos romanos veio a lançar as bases doutrinárias da economia política que 
começou a se desenvolver no Renascimento, vindo a desembocar nas escolas 
fisiocrática e clássica, e no chamado Liberalismo Econômico. 
 
 
14
 Alguns cantos ou hinos desta época foram compostos visando levar os romanos de volta à atividade 
rural, pela celebração da vida rústica. Como exemplos, temos os poemas “De re rustica”, de Catão, e “As 
Geórgicas”, de Virgílio. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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14 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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15 
CAPÍTULO II 
 
DE BIZÂNCIO AO FEUDALISMO 
 
 
3 – O Início da Idade Média 
 
 A decadência do império romano trouxe por decorrência dois pólos políticos opostos 
constituídos pelo Império Romano do Ocidente, com sede em Roma, e o Império 
Romano do Oriente, ou Império Bizantino. A rápida derrocada do primeiro trouxe como 
conseqüência o afrouxamento dos laços comerciais existentes entre as diversas nações, 
pela falta de um poder centralizador. Já não existindo a hegemonia militar romana, as 
fronteiras do império foram cedendo às rebeliões e às invasões de povos bárbaros 
oriundos do oriente, cujo intuito preponderante era mais o de destruir do que dominar. 
Os governos centralizados se enfraqueceram, e as cidades e aldeias que sobreviveram 
fecharam-se em si mesmas, ou simplesmente desapareceram, pela dispersão de seus 
habitantes, que espalharam-se em centros fortificados (os castelos) para garantir a sua 
sobrevivência. 
 Na primeira fase da Idade Média, as condições sociais presentes no Império 
Bizantino eram bastante superiores às do Império do Ocidente. Neste, grandes porções 
da Itália e do sul da França já tinham regredido a um ruralismo primitivo, em uma total 
decadência da civilização que Roma tinha imposto em seus tempos áureos. Já no 
Império do Oriente, mantinha-se ainda o caráter urbano e suntuoso, com uma classe rica 
que vivia no luxo e no conforto. 
 Constantinopla, Tarso, Edessa e Tessalonica eram cidades populosas, com um 
comércio ainda florescente. Só em Constantinopla viviam cerca de um milhão de 
pessoas, e não havia sinais de decadência cultural ou econômica. Mercadores, 
banqueiros, industriais e ricos proprietários de terras absorviam-se em uma atividade 
comercial intensa, consumindo artigos de luxo, ricas vestimentas de lã e de seda, 
tapeçarias, artefatos de vidro e porcelana. O esplendor das artes do Império Bizantino 
foi tal que até os dias de hoje ainda surpreendem os especialistas. A sua arte do 
mosaico, por exemplo, influenciou a arte dos vitrais, usados extensamente nas catedrais 
góticas. 
 Apesar da miséria (comum para a época) das classes inferiores, estes ainda assim 
estavam em melhores condições econômicas do que a dos cidadãos das partes ocidentais 
do Império. Havia uma estabilidade política e econômica, que permitia uma 
prosperidade crescente. Foi somente com a ascensão do império sarraceno que teve 
início a decadência do Império Bizantino. 
 
 
4 – As Invasões Bárbaras 
 
 No Império do Ocidente, a invasão dos bárbaros ocorrida entre os anos de 395 d.C. e 
571 d.C. deixou terras devastadas e povos trucidados por onde eles passaram. Em sua 
esteira ficavam apenas ruínas de povoados, de cidades e de terras de cultivo, numa ânsia 
inconcebível de destruição. Os bárbaros invadiram a Trácia, a Panônia, as Gálias, a 
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16 
África, a Itália, e finalmente a própria cidade de Roma, jogando abaixo séculos de 
refinamento cultural e de civilização. Se é possível situar no tempo o início das trevas 
que se abateram sobre o ocidente, dando início à Idade Média, é exatamente no período 
destas invasões. O ano de 410 d.C. representa aproximadamente este limite entre idades, 
dando fim à idade antiga e iniciando um período que só veio a ter término por volta do 
ano de 1300. 
 Até a época das primeiras cruzadas pouca coisa tinha mudado após mais de 
quinhentos anos, no continente europeu. Com o término dos império romanos do 
Ocidente e depois do Oriente, um marasmo se instalou por todo lado e a evolução 
histórica e cultural dos povos europeus como que estagnou. O feudalismo, regime 
estático por excelência, tornou-se dominante. A Idade Média estava começando. 
 
 Foi com o Papa Urbano II e com Pedro, o Ermitão, que conclamaram à libertação de 
Jerusalém e do Santo Sepulcro do jugo muçulmano, que tiveram início as primeiras 
cruzadas. Estas foram movimentos militares de inspiração religiosa que lançaram as 
bases para uma mudança profunda nas estruturas sociais, políticas e mesmo religiosas 
até então vigentes. Seguindo o caminho aberto pelas cruzadas, o comércio intensificou-
se por toda as rotas asiáticas, com o que as cidadesportuárias de Pizza, Veneza e 
Gênova alcançaram grande poder marítimo. O comércio intensificou-se a tal ponto que 
as instituições feudais mostraram-se incapazes de atender a demanda dos territórios 
conquistados; esta situação, por fim, conduziu à criação de centros urbanos por todo 
lado, sementes das futuras cidades européias, bem como contribuiu decisivamente para 
a derrocada do feudalismo e para a ascensão futura de uma nova classe, a burguesia. 
 O contato dos cruzados com a civilização árabe, bem mais refinada e culta nesta 
época, levou por outro lado a mútuos intercâmbios culturais que mais aproveitaram ao 
Ocidente. Os árabes tinham traduzido os autores gregos clássicos, os quais chegaram, 
via as traduções muçulmanas, às mãos de vários estudiosos ocidentais. Os sistemas de 
filosofia, a medicina, a matemática, a geometria, a literatura, a arquitetura, formaram 
parte deste legado cultural. 
 
 Com o surgimento das cidades e o reinício das trocas comerciais, começaram a 
surgir também associações de trabalhadores artífices. O comércio se dava através de 
vias de transporte e também de feiras, entre as quais as mais célebres foram as de 
Flandres15 e de Champagne.16 O contato cultural proporcionado pelas cruzadas permitiu 
o desenvolvimento de novas cidades-Estado, tais como Veneza, Florença, Gênova e 
Pizza, com a criação de grandes corporações de comércio. A especialização em ofícios e 
a divisão do trabalho se intensificaram, expandindo o mercado; a manutenção das 
cidades passou a depender dos produtos agrícolas, aumentando a interação urbano-rural. 
Novas profissões surgiram, e as trocas comerciais entre os centros urbanos e as 
localidades rurais produtivas se consolidaram. 
 
* * * 
 
15
 Região da Europa localizada ao longo do Mar do Norte. Atualmente, está dividida entre a França, 
Bélgica e Holanda 
16
 Região do nordeste da França; no período medieval, foi um importante condado , tendo atingido o seu 
apogeu no século XIII, graças às feiras que realizava. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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17 
 
 A partir do ano 800, já se podia notar, no Ocidente, um lento despertar da letargia da 
época medieval. O contato com as civilizações bizantina e sarracena, o embate com os 
nórdicos, foram algumas das causas deste ressurgimento. Nos quinhentos ou seiscentos 
anos seguintes (principalmente a partir do século XII) houve um surto de progresso, e o 
aumento do comércio trouxe prosperidade e estimulou as artes, a ciência e a cultura. 
 
 Basicamente, o feudalismo foi uma estrutura descentralizada da sociedade (ou seja, 
com um fraco ou inexistente poder central). O poder era dividido entre a nobreza, 
através de um sistema de suserania e de vassalagem. A partir do século VII, os reis 
merovíngios costumavam recompensar os condes e duques com benefícios e com terras 
(que se tornavam condados – no primeiro caso – ou ducados – no segundo caso). 
Posteriormente, os reis carolíngios recompensavam os nobres locais quando estes 
forneciam tropas de soldados para lutarem contra os mouros. Quem possuía o feudo 
tinha o direito de propriedade, e por conseqüência o direito de governar. Entre o 
suserano e os seus vassalos havia uma relação contratual, que envolvia obrigações 
recíprocas. Os vassalos pagavam tributos aos seus senhores, que se obrigavam a 
proporcionar-lhes proteção de assistência econômica. 
 Aos poucos, aumentou a dependência do governo central com relação às diversas 
suseranias. Como a maioria adquiria imunidade (isenção de pagamento de impostos), a 
autoridade central foi diminuindo cada vez mais. Apenas nominalmente, o suserano se 
submetia à autoridade do rei. Além disso, as constantes invasões de nórdicos, turcos e 
muçulmanos levavam a população a se voltar para os senhores feudais em busca de 
proteção. Aos poucos, este sistema evoluiu para um tipo de sociedade estratificada; no 
segundo período da Idade Média (“Alta Idade Média”), o feudalismo (que já se tornara 
hereditário) chegou a constituir um tipo legalmente reconhecido de estrutura social, até 
mesmo encarado como um sistema ideal. A lei era produto do costume ou da vontade de 
Deus. 
 No regime feudal, a principal unidade econômica era a chamada “herdade senhorial”, 
que era geralmente o domínio de um cavaleiro. Alguns chegavam a possuir várias 
herdades (às vezes, centenas ou milhares), em que o tamanho médio de cada uma podia 
chegar a 150 hectares. Em cada uma havia uma ou mais aldeias, e as terras cultivadas 
pelos camponeses se dividiam em três partes: o terreno de plantio da primavera, o 
terreno de plantio do outono e o “pousio”. Todos eram revezados a cada ano (era o 
sistema chamado de “três campos”). 
 
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18 
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19 
LEITURA COMPLEMENTAR 
 
A Economia e a Filosofia Escolástica 
 
 
 As idéias econômicas predominantes neste período tinham forte influência da Igreja 
Católica, através de seus pensadores (teólogos, canonistas e filósofos moralistas), que 
procuraram se alicerçar nos escritos sagrados e nas obras aristotélicas, principalmente. 
Aristóteles é o pensador de maior influência entre os medievos, e sua noção de 
“equilíbrio” foi a base para a concepção de justiça nas trocas (preço justo e justo 
salário), e para o princípio de moderação e moralidade como essência do fenômeno 
econômico. 
 A Igreja Católica admitia a propriedade individual, mas regrada por um princípio 
social restritivo, que a legitima. O proprietário não deve abusar do seu direito de 
propriedade em detrimento da coletividade. O direito de propriedade é reconhecido 
como propiciador de ordem e paz social, além de aumentar o rendimento da produção 
(essencialmente agrícola). Reconhece, entretanto, que os benefícios da posse da terra 
não devem ficar restritos a uma minoria privilegiada, porque isto traz desigualdade de 
condições e injustiça social. Entretanto, tal reconhecimento não foi capaz de evitar a 
prevalência das condições que exatamente se procurava evitar: a concentração da posse 
da terra, com a conseqüente ascensão social daqueles que a detinham. O feudalismo, 
como veremos, foi exatamente isso: a posse privilegiada da terra pela nobreza, que tinha 
poder total sobre os camponeses que a ocupavam e a faziam produzir. 
 O princípio moral regulador, a proibição da usura (empréstimo a juros) bem como o 
princípio da troca justa eram basicamente a base do sistema econômico deste período. 
Os artífices, organizados em corporações, tinham fixado o seu salário como uma 
retribuição máxima regulamentada oficialmente (não se fixava um valor mínimo, como 
se procede na atualidade). O lucro resultaria do equilíbrio entre o trabalho empregado 
(com a perícia envolvida) e a utilidade do serviço. Condenava-se o lucro imoderado, por 
ser contrário á “justiça nas trocas”. 
 Os chamados Padres da Igreja (Tomás de Aquino; Boaventura, entre outros), 
acompanhando o raciocínio aristotélico, distinguiam entre bens fungíveis e não 
fungíveis. O dinheiro seria um bem fungível, que desaparece com o consumo. O bem 
não fungível, por não desaparecer com o uso, pode ser emprestado ou locado por 
contrato. O seu detentor, por se privar do uso e gozo da coisa, pode exigir uma 
compensação. Mas no empréstimo de coisa fungível, o cedente entrega simultaneamente 
o uso e a propriedade da coisa. A justiça e o justo preço se realizariam pela simples 
devolução do objeto, sem mais nada (ou seja, sem juros sobre o empréstimo). Desse 
modo, o dinheiro não pode ser objeto de empréstimo a juros. Tal era a concepção inicialda Igreja. 
 Além da preocupação com o “preço justo”, S. Tomás considerava também a 
possibilidade de um vendedor vender um produto defeituoso. Ele afirmava que caso isto 
ocorresse, não deveria ser um ato intencional, e que, se descoberto o defeito, o vendedor 
deveria compensar o comprador. 
 Esta concepção veio a se modificar gradativamente, quando novas condições foram 
surgindo. Por exemplo, começou-se a se admitir a possibilidade de recebimento de juros 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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pelos empréstimos, nos seguintes casos: se o emprestador sofria danos resultantes do 
empréstimo; se havia riscos, ou se havia renúncia a um possível lucro imediato. Razões 
religiosas levaram a liberar a usura para os judeus e para os lombardos,17 que se admitia 
não estarem submetidos às regras católicas. 
 
 Com relação às idéias monetárias, havia grandes debates a respeito do valor e da 
circulação da moeda, bem como da conveniência de alterar ou não o seu valor. Nicolau 
Orèsme, bispo de Lisieux e conselheiro do Rei Carlos V, e Buridan, reitor da 
Universidade de Paris, foram teóricos que estudaram o assunto. Orèsme criticou as 
mutações monetárias; para ele, o rei não tem legitimidade para fazer estas mutações de 
valor. O valor da moeda é garantido pela autoridade do Rei, que ordena sua cunhagem, 
e que teria assim, autoridade para mudar o seu valor. O cunho indicava a qualidade da 
peça e o seu peso. Entrando, entretanto, em circulação, o seu valor passa a depender da 
comunidade onde ela circula, que decide pela conveniência de lhe alterar o valor.18 
 Orèsme observou que em sua época praticavam-se cinco diferentes formas de 
mutações monetárias: 1) mudanças na efígie, o que acontecia normalmente devido à 
mudança de governantes; 2) mudança da proporção, ou mudança do valor entre o metal 
nobre (ouro ou prata) e o valor da moeda; 3) mudança nominal, ou modificação dos 
preços em moeda corrente (havia uma moeda real, cujas subdivisões em moeda corrente 
podiam variar); 4) mudança oficial do peso da moeda (as fraudes se davam, pela 
diminuição – ou cerceamento – do peso da moeda, limando suas beiradas circulares); 5) 
mudança de sua substância: neste caso, mudava-se a sua liga, substituindo um metal por 
outro. 
 Como já dissemos, a moeda má expulsa a moeda boa do mercado, e se acontecia de 
haver muitas mutações, quando a situação econômica se deteriorava, a tentativa de 
restaurar a ordem econômica pela introdução de uma nova moeda esbarrava neste 
obstáculo: a moeda boa, capaz de trazer estabilidade monetária, era fundida, ou 
simplesmente tomava rumo para fora do país. 
 
 
 
 
17
 Povo germânico que veio a se fixar na Panônia (atual Hungria). 
18
 Algumas classes sociais mais elevadas, tais como juizes e eclesiásticos, que costumavam ter uma renda 
fixa, ficavam prejudicados por estas mutações de valor na moeda. O povo também via-se despojado, 
quando era obrigado a receber moedas de valor nominal muito baixo, em troca de mercadorias de muito 
maior valor. Foi o que ocorreu, por exemplo, graças a um edito real de Jaime II, que forçou o 
recebimento, sob pena de morte, de moedas de cobre cujo valor aposto era seis vezes maior do que o seu 
valor intrínseco. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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21 
CAPÍTULO III 
 
O MERCANTILISMO 
 
 
 Por volta de 1400, aconteceu a chamada “Revolução Comercial”, cujas causas 
básicas foram as seguintes: a conquista do monopólio comercial do Mediterrâneo pelas 
cidades italianas; 2) o desenvolvimento de um lucrativo comércio entre estas cidades e 
os mercadores da Liga Hanseática, no norte da Europa; 3) a introdução de moedas de 
circulação geral; 4) a acumulação de capitais excedentes; 5) a procura de materiais 
bélicos e o estímulo ao comércio proporcionado pelos novos monarcas; 6) a procura 
pelas especiarias do Oriente. 
 A procura das especiarias era uma preocupação constante das coroas portuguesa e 
espanhola, interessadas que estavam em quebrar o monopólio das cidades italianas. A 
Península Ibérica, afastada deste comércio, era obrigada a pagar altos preços por sedas, 
perfumes, especiarias e tapeçarias provenientes do Oriente. Em busca de uma nova rota 
para o Oriente, os navegadores espanhóis e portugueses acabaram encontrando novas 
terras. A introdução da bússola e do astrolábio deu também um novo impulso a estas 
viagens, cuja motivação, muitas vezes, era apenas o intenso fervor proselitista e um 
excesso de zelo religioso, que ardia por converter os pagãos. 
 As viagens de navegação realizadas por espanhóis e portugueses foram seguidas 
posteriormente por inglese e franceses. Também os holandeses participaram desta 
corrida por novas terras, com intenções visivelmente colonialistas. 
 O resultado destas viagens de descobrimento foi uma tremenda expansão do 
comércio. Os navios das grandes potências mundiais podiam ser encontrados singrando 
quaisquer dos setes mares, e logo o monopólio das cidades italianas chegou ao seu final. 
Enquanto Gênova, Pizza e Veneza passavam para segundo plano, cidades como Lisboa, 
Liverpool, Bordéus, Bristol e Amsterdã se alçavam a cidades de grande importância. 
Em seus portos, um intenso movimento marítimo mostrava a pujança do seu comércio, 
e os armazéns custavam a conter a enorme quantidade de mercadorias vindas de toda 
parte. Ao lado de tecidos e especiarias do Oriente, juntavam-se agora o tabaco, as 
batatas e o milho da América do Norte; o melaço e o rum das Antilhas; o cacau, o 
chocolate, a quina e a cochonilha da América do Sul; completando este rol de 
mercadorias, achavam-se ainda, vindos da África, penas de avestruz, marfim e até 
mesmo escravos. 
 
 Outros produtos já conhecidos tiveram também intensificado o seu comércio, tal 
como o café, o açúcar, o arroz e o algodão, que em razão do extenso comércio acabaram 
deixando de ser mercadorias de luxo. 
 Entretanto, talvez o maior e mais importante resultado da descoberta e conquista 
dessas novas terras foi a espantosa quantidade de metais preciosos, ouro e prata, que 
inundaram o continente europeu. Esse ouro e prata provinha tanto das pilhagens 
realizadas nos tesouros dos incas e astecas, como também das minas do México, Bolívia 
e Peru. A acumulação desta riqueza fabulosa e as extensas especulações que propiciou 
em sua esteira iriam forjar as bases para o capitalismo. 
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 Também durante a época da Revolução Comercial desenvolveu-se o sistema 
bancário. No século XVI, surgiu a sociedade por ações, que era formada através da 
subscrição de quotas de capital por um considerável número de investidores. O dinheiro, 
que tinha ressurgido com força a partir do século XI, mas cujo valor dificilmente era 
reconhecido fora de sua região de origem, começou, através das moedas de ducado 
veneziano e florim florentino, começaram a ter ampla aceitação por toda a Itália e nos 
mercados do norte da Europa. Entretanto, não havia um padrão monetário estável, e os 
valores sofriam constantes modificações. Foi como conseqüência do desenvolvimento 
da Revolução Comercial que se buscou adotar um sistema monetário mais estável e 
uniforme, e de maior eficiência. Esta fase caracterizou-se também por uma maior 
especulação teórica, de cujos frutos veio a surgir a doutrina econômica conhecida como 
mercantilismo. 
 
* * * 
 
 É provável que o mercantilismo remonte ao reinado de Eduardo I (1272-1307). Este 
monarca estabeleceu o comércio de lã com Antuérpia, e tentou por várias formas 
regulamentar o comércio interno. SobEduardo III, uma guerra prolongada com a França 
provocou uma inflação desastrosa. Para mitigar o sofrimento dos trabalhadores, este 
monarca fixou preços e salários em uma proporção favorável a eles, exigindo em troca 
que se dedicassem a todas as formas de trabalho disponíveis. 
 Uma das características dos escritores mercantilistas era a de que a de que devia 
alcançar o pleno emprego, por todos os meios. Entre as medidas tomadas para fomentar 
a indústria, destaca-se a concessão de patentes de monopólio. De um modo geral, davam 
maior importância às exportações, relegando o comércio interno a segundo plano. 
 Para se entender todas as implicações das idéias surgidas sob o prisma do 
mercantilismo, necessário se faz estudar o pano de fundo histórico no qual ele se 
desenvolveu. 
 
 
5 – O Período da Renascença 
 
A partir do ano 1300, as características gerais que definiam o feudalismo começaram a 
desaparecer. Novas instituições e novos modos de pensar vieram substituir o 
pensamento escolástico e as dogmáticas e esclerosadas instituições políticas, sociais, 
econômicas e religiosas que tinham dominado por séculos. A noite prolongada do 
período medieval foi sucedida por um período de grandes conquistas em todos os 
campos do conhecimento. Até cerca de 1650, houve um súbito renascimento do 
interesse pela cultura clássica, caraterizada pelas civilizações grega e romana. O século 
XVI, principalmente, foi um século marcado por grandes mudanças sociais, geográficas, 
religiosas e políticas. Foi o século das grandes descobertas, das grandes invenções, das 
grandes navegações de Magalhães e Colombo, os quais descobriram novos continentes. 
Entre as grandes invenções do período, encontra-se a da imprensa, que viria a se tornar 
um poderoso fator de difusão das novas idéias. 
 
* * * 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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23 
 
 Com a invenção do livro impresso as idéias difundiam-se rapidamente entre todos os 
países. Lutero e Calvino, insurgindo-se contra o Papa, deram origem à reforma religiosa 
mais profunda no seio da Igreja Católica. Tiveram seguidores na Alemanha, Suíça, 
estados escandinavos e sul da França. Neste país, seus seguidores eram chamados de 
huguenotes e de livres-pensadores. 
 
“Lutero, atacando a autoridade, fazendo da palavra evangélica a base de 
seus ensinamentos, dirigia-se a essas massas inquietas. Ele seguiu as 
massas enquanto elas exigiam pequenas reformas; mas os camponeses 
estavam se transformando numa classe que queria uma revolução na ordem 
social, que a pequena burguesia tinha interesse vital em conservar”. 
(TRAGTENBERG, Maurício. Pág. 24). 
 
 
 A reforma chamada “Protestante” viria a ter enormes conseqüências no 
desenvolvimento futuro das relações comerciais entre os países. Os seguidores de 
Lutero e Calvino eram mais liberais no tocante às relações econômicas e não se 
deixavam tolher pela ética cristã,19 contrária aos juros e sempre temerosa de uma 
possível punição divina, em razão de uma prática comercial injusta. Os países que 
primeiro se converteram à pregação luterana e calvinista eram mais pragmáticos; além 
disso, o crescente fortalecimento do Estado, com o fim das suseranias feudais dava 
ensejo a um incremento no comércio entre as nações, bem como à busca de novos 
territórios a serem colonizados. 
 
 
“Assim, precisamente num período em que a expansão dos métodos 
burocráticos no comércio e no governo e o desenvolvimento da fabricação 
em grande escala estavam transformando todo o curso da atividade prática 
numa labuta árdua e cada vez mais destrutiva, o protestantismo desenvolvia 
uma habilidade especial de tirar prazer dessa árdua labuta. Esta foi a 
contribuição especial do protestantismo para o desenvolvimento do 
capitalismo e da indústria mecânica: não iniciá-los, mas torná-los 
toleráveis e instilar neles todas as energias da vida moral. Os trabalhos 
penosos serviam ao protestante de preciosa mortificação da carne; preciosa 
tanto num sentido profano como num sentido espiritual, pois, ao contrário 
dos cilícios e da autoflagelação da santo medieval, sua firme e constante 
concentração no trabalho fastidioso rendia lucros tangíveis”. (MUMFORD, 
Lewis. Pág. 226). 
 
19
 O fundamento das concepções religiosas do protestantismo baseava-se na doutrina pela qual os homens 
se justificam (ou se “salvam”) não pelas obras, mas pela fé. Enquanto esta última favorecia o poder do 
clero católico (única via “salvacionista”), a primeira admitia uma “verdade do coração”, tornando-se o 
homem juiz de si próprio. Esta doutrina individualista chamou a atenção da nova classe média de artesãos 
e negociantes, porque eliminava a culpa que se admitia ser trazida pelo acúmulo de riqueza. Embora a 
ética protestante (o chamado “espírito puritano”) atribuísse grande importância ao ascetismo e à 
temperança, por outro lado admitia uma valorização religiosa do trabalho (considerado uma forma de 
glorificar a Deus) e o próprio lucro, que seria uma mostra da generosidade divina. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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24 
* * * 
 
 A chamada “revolução puritana” veio a se tornar a bandeira ideológica do 
desenvolvimento (em época posterior) do capitalismo inglês, iniciado com a Revolução 
Industrial. 
 A revolução puritana tem cinco períodos delimitados, que podem ser assim 
divididos: de 1642 a 1647, período da guerra civil que derrubou o rei; de 1647 a 1649, 
período que se caracterizou pela luta entre proprietários e lavradores (vencendo os 
primeiros); de 1649 a 1660, em que se consolida a revolução e o domínio de Cromwell, 
que se voltava para o interesse dos novos comerciantes e capitalistas.20 
O quarto período transcorreu durante o reinado de Carlos II e Jaime II. Caracteriza-se 
pelo desaparecimento dos últimos vestígios do feudalismo. O último período vai dos 
Stuarts até o estabelecimento da monarquia constitucional em 1689, quando a Coroa 
aceitou a Declaração de Direitos (mas já em 1688 o governo inglês submetera-se ao 
controle da pequena nobreza e da classe média dos capitalistas). 
 
* * * 
 
 As monarquias absolutistas, sempre com espírito beligerante, exigiam enormes 
somas de dinheiro para as guerra necessárias, dinheiro este que devia provir tanto dos 
impostos internos quanto da exploração externa de colônias ricas, capazes de fornecer 
metais preciosos em grande quantidade. O poder marítimo dividia-se entre Inglaterra, 
França, Holanda e Portugal, países colonialistas por natureza. A expressão do poder e da 
riqueza de uma nação era compreendido como produto do acúmulo de metais preciosos, 
principalmente o ouro e a prata, e eram as colônias que deveriam prover esta riqueza. 
Outra fonte de riqueza estava na exportação de artigos de luxo, que recebiam uma alta 
taxação para limitar a venda interna. A Inglaterra buscou incrementar largamente o 
comércio exterior;21 já a Espanha tendia ao acúmulo irrefreado de ouro, que ia buscar 
em suas colônias. 
 
 
6 – O Regime Colonial 
 
 As grandes navegações iniciadas pelos portugueses, espanhóis, ingleses e 
holandeses, principalmente, propiciaram o descobrimento de terras desconhecidas fora 
do continente europeu, que foram reivindicadas pelas coroas (reinos ou impérios) que as 
descobriram (a que se acrescentam a Bélgica e a França). O continente sul-americano, 
por exemplo, sofreu colonização espanhola e portuguesa, e foi a fonte de grandes 
riquezas minerais, seja de ouro, prata ou pedras preciosas, que enriqueceram o erário 
das nações européias. 
 
 
20
 Este interesse tinha por base a necessidadede Cromwell de arregimentar uma nova classe que o 
apoiasse contra os interesses da nobreza, que poderia tentar fazer voltar o regime monarquista. 
21
 Já no século XV a Inglaterra possuía uma grande indústria têxtil, como também a hegemonia do 
mercado mundial de produtos têxteis. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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25 
“O início dessa colonização de povoamento no século XVII abre uma etapa 
nova na história da América. Em seus primeiros tempos essas colônias 
acarretam vultosos prejuízos para as companhias que as organizam. 
Particularmente grandes são os prejuízos dados pelas colônias que se 
instalam na América do Norte. No êxito da colonização agrícola portuguesa 
tivera como base a produção de um artigo cujo mercado se expandira 
extraordinariamente. A busca de artigos capazes de criar mercados em 
expansão constitui a preocupação dos novos núcleos coloniais.” 
(FURTADO, Celso. Pág. 21/22). 
 
 
 Os territórios reivindicados tornaram-se possessões e/ou colônias, e foram 
progressivamente ocupados por levas de colonizadores, provindos dos continentes 
europeus.22 Durante os séculos XVI a XIX, principalmente, os países europeus 
intensificaram o processo de colonização e dominação (período de expansão colonial), 
como um meio de conquistar fontes de diversos produtos econômicos (especiarias, 
metais e pedras preciosas, açúcar e outros produtos tropicais), necessários ao comércio 
que se intensificava entre as nações. América, Ásia e África foram os continentes 
colonizados, tornando-se fontes supridoras das matérias-primas ansiadas pelas 
metrópoles. 
 Neste período colonialista (denominado de “acumulação primitiva”), também os 
países produtores de especiarias sofreram intervenção militar dos países europeus, 
interessados em dominar este monopólio. Mas onde quer que existisse um interesse 
econômico (extração de metais e pedras preciosas, por exemplo), as potência européias 
colocavam sob o seu jugo militar os países ou nações mais fracos. Um as um, eles 
tornavam-se colônias da metrópole.23 
 A política colonial, ou política comercial imposta às colônias tinha um aspecto 
unilateral, favorável unicamente à metrópole (era o chamado “pacto colonial”). Desta 
forma, era comum que qualquer manifestação contrária a esta política fosse brutalmente 
reprimida, bem como qualquer forma de competição, seja da própria colônia, seja de 
outras nações. Havia um monopólio de compra e venda por parte da metrópole (e a ela 
favorável), como também de exportação/importação e de transportes de mercadorias.24 
Também cabia à metrópole a fixação dos preços das mercadorias. A colônia tinha que 
aceitar essas imposições, ou aceitar os riscos de uma rebelião.25 
 
22
 Em alguns casos, como a colonização do Brasil, por exemplo, as guerras napoleônicas forçaram a 
transferência de toda a corte para o território da colônia, mudando drasticamente o seu status político 
(entretanto, deve-se à perspicácia e ao gênio do Visconde de Cairú ter convencido D. João VI a abrir os 
portos brasileiros ao comércio internacional, em 1808). Antes disso, a colônia não podia comerciar com o 
exterior. 
23
 A disputa entre estas potências, entre outras coisas, levou à criação do Tratado de Tordesilhas. 
24
 Foi esta política monopolizadora que provocou a revolta de várias colônias. A política de comércio do 
sal, por exemplo, deu ensejo às lutas pela independência por parte dos Estados Unidos da América, bem 
como foram o motivo unificador da resistência indiana contra a dominação inglesa. 
25
 Este foi basicamente um fenômeno político (a formação e exploração de colônias), e apenas a forma 
como se desenvolveu a exploração econômica nos interessa realmente, no contexto que estudamos este 
assunto. Politicamente, a colonização pressupõe uma relação de dependência entre o colonizado – a 
colônia – e a metrópole – o colonizador. É um fenômeno que resultou do Mercantilismo, e predominou 
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26 
 
 
 A riqueza resultante da exploração colonial nem sempre se mantinha; muitas vezes, o 
esforço resultante da colonização esgotava os cofres mais rapidamente do que estes se 
enchiam pela exploração. Entretanto, muitas das economias nacionais que vieram a se 
desenvolver propiciaram a formação de um capitalismo incipiente no continente 
europeu, iniciando uma economia de mercado e um sistema financeiro que permitiram o 
enriquecimento e um progresso econômico das nações ocidentais. Além disso, nem 
sempre o processo era extremamente desfavorável para a colônia. Muitas vezes ela 
sofria um processo civilizatório ou de modernização acentuado, que a tirava de um 
estado primitivo no qual sequer possuía uma economia nacional; em alguns casos, a 
colonização forçava a um processo político unificador entre tribos ou etnias rivais, 
eternos adversários na luta pela hegemonia política e pelo poder. 
 
* * * 
 
 Os mercantilistas, ainda que pecassem pelo excessivo valor dado aos metais 
preciosos como fonte de riqueza, ainda assim tiveram o mérito de ter desenvolvido uma 
idéia ou noção nova, qual seja a de economia nacional. Além disso, as formas de 
comércio que desenvolveram criaram as bases políticas para as florescentes dinastias da 
Áustria, de Florença e de Frankfurt, entre outras. Foi daí também que surgiriam os 
modernos e poderosos complexos bancários, base de todo sistema capitalista. 
 
 
até pouco antes da II Guerra Mundial; após esta, as colônias iniciaram um processo irreversível de 
emancipação política e de independência. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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27 
LEITURA COMPLEMENTAR 
 
As Idéias Econômicas do Mercantilismo 
 
 
 Não existiu apenas um sistema mercantilista, mas vários, de acordo com o país. A 
Espanha, por exemplo, confundia os conceitos de “riqueza” e “metal precioso”, achando 
que o mero acúmulo deste levaria àquela. Esta forma rudimentar de mercantilismo era 
chamada de “metalista” ou de “bulionista”.26 Criavam-se medidas para impedir ou 
restringir a saída ou evasão de metais valiosos; por outro lado, criavam-se mecanismos 
para tentar atrair moedas estrangeiras para dentro do país. No comércio entre os países, 
regrada pela chamada “balança de contratos”, os navios espanhóis eram obrigados a 
levar mercadorias e a voltar com cargas de ouro. Quanto aos navios estrangeiros que 
aportavam com suas cargas em portos espanhóis, deveriam voltar com mercadorias, e 
não com pagamento em moedas ou em metais preciosos. 
 Esta concepção mercantilista de “balança de contratos”, devido ao seu caráter 
restritivo, veio a evoluir para o sistema denominado “balança de comércio”. Na troca 
entre metais preciosos, buscava-se sempre uma condição favorável de superávit, que 
assegurasse ao país uma posição de credor. De qualquer modo, concebia-se a riqueza 
como resultado do acúmulo incessante de moeda e de metais preciosos. 
 A França tinha outra posição, denominada mercantilismo “industrialista” ou 
“colbertista”.27 Colbert fomentou a indústria, com a finalidade de aumentar a quantidade 
de mercadorias exportadas, que seriam trocadas por metais preciosos. Caracterizou-se 
pelo intervencionismo de Estado, que outorgava monopólios de produção e 
regulamentava a indústria. O preço do trabalho, ou mão-de-obra, era fixado em um 
máximo. Também a taxa de juros era determinada pelo Estado. A preocupação 
metalista, voltada ao acúmulo de metais pela exportação, além de restringiro consumo 
interno, forçou a ingerência do Estado também em outros campos, como a adoção de 
uma política demográfica (favorável ao crescimento populacional, que redundaria em 
mais gente produzindo) e a organização de um exército poderoso. 
 A Inglaterra, por sua vez, adotou um sistema mercantilista de moldes 
“comercialistas”. Sendo uma grande potência marítima, podia comerciar em grande 
escala em todo o mundo conhecido. Para conseguir um saldo favorável na balança de 
pagamentos, o Estado regulamentava a produção e controlava as vendas no exterior, 
assegurando-se de que a importação de ouro e prata fossem superiores à sua exportação. 
 
 No século XVIII vemos aparecer a forma de mercantilismo denominada fiduciária. 
Entres outros teóricos das idéias econômicas e monetárias, temos o nome de John Law, 
banqueiro escocês que teve extenso papel na evolução destas idéias. 
 Para Law, o aumento da riqueza pública podia ser feito unicamente pelo aumento da 
quantidade de moeda. Ele não se opunha à exportação de metais ou de moedas; também 
achava que não era obrigatório o repatriamento de metal precioso no valor das 
 
26
 De bullion, ouro em barras ou em lingotes. 
27
 De Jean Baptiste Colbert (1619-1683), ministro das Finanças do Rei Luís XIV. 
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28 
exportações realizadas. Achava que a simples criação do papel-moeda deveria permitir a 
aquisição de mercadorias, por ser o melhor instrumento de trocas. 
 
 Ele parte de uma análise simples: enquanto persistir a confiança do cliente de um 
banco, ele não irá solicitar a conversão e reembolso de seus “bônus” (os papéis-moeda) 
em espécie metálica. A moeda em papel (notas bancárias, ou moeda emitida por bancos) 
poderia ser emitida em abundância, na proporção de sua procura, sem por em risco o 
desenvolvimento econômico. 
 Mas Law não se deu conta que o excesso de notas bancárias em circulação tinham 
grande influência sobre os preços, que tendiam a elevar-se. Juntando-se a isso o excesso 
de emissões, a confiança dos portadores se evaporou, e houve uma correria para pedir 
reembolsos. Quando o público percebeu que não havia reservas em metais para cobrir as 
notas, o valor destas simplesmente desapareceu, ainda que tivessem curso forçado. 
 Law, evidentemente, fez uma análise contrária; ele não percebeu que deveria ser a 
riqueza que deveria prover o aumento de circulação (por emissão) de moedas, e não o 
contrário. Se não havia reserva de valor, o volume monetário, por si só, também não 
conseguiria garantir o valor da moeda-papel ou nota bancária em circulação.28 Ainda 
que tenha antevisto o sistema de crédito e de trocas comerciais baseado em papel-moeda 
(e não em moedas metálicas), Law não conseguiu perceber que o uso desta deveria 
apoiar-se em uma prosperidade real.29 
 
 
 
28
 Este tipo de equívoco repetiu-se em diversas oportunidades históricas. Logo após a Revolução 
Francesa, a escassez de moedas levou à emissão de papel-moeda cujo lastro seria formado pelas terras 
confiscadas da Igreja. Em pouco tempo, a derrocada inflacionária veio mostrar o erro desta concepção. 
Também no início da República, no Brasil, cometeu-se o erro (a que se chamou “encilhamento”) de tentar 
fomentar a prosperidade econômica através de largas emissões de notas, além da concessão de crédito 
fácil e barato. Em breve, percebeu-se que o valor destas notas emitidas, e das ações das sociedades que se 
criaram eram apenas fumo, fumaça e vacuidade. 
29
 Com o economista David Ricardo, percebeu-se mais tarde que esta prosperidade deveria resultar do 
aumento do emprego e do aumento da renda suplementar que resultaria deste fato. Esta renda suplementar 
aumentaria o consumo, que por sua vez aumentaria a produção. Keynes, futuramente, voltaria a este tema 
da multiplicação real da renda. 
 
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29 
CAPÍTULO IV 
 
AS ESCOLAS ECONÔMICAS 
 
 
 Denomina-se escola “liberal” às concepções que dão ênfase à iniciativa individual, 
em detrimento da iniciativa do Estado, para realizar a atividade econômica. Este 
movimento individualista caracteriza-se por uma divisa: “laissez-passer; laissez-faire” 
(deixe passar; deixe fazer). O liberalismo econômico, expresso neste sistema 
individualista, vinha como uma reação aos excessos do mercantilismo, que se 
caracterizou pelo exagero de regulamentação e pela ênfase dada à indústria, em 
detrimento da atividade agrícola. Esta política, agravada pelos baixos preços pagos 
pelos gêneros alimentícios, levou a população rural à miséria, bem como trouxe a 
ameaça de fome, pela redução das áreas de cultivo. 
 O excesso de intervencionismo estatal acabou gerando grande descontentamento e 
oposição. Tudo isto veio a provocar uma reação ampla, de índole individualista e 
liberal, bem como de caráter científico, ao se procurar a explicação dos fenômenos 
econômicos. Esta reação se materializou através das escolas chamadas fisiocrática, 
francesa, e clássica, inglesa. 
 
 
7 – A Escola Fisiocrática 
 
 A escola fisiocrática surgiu com a obra do médico François Quesnay, que publicou 
suas investigações sobre economia na Enciclopédia dirigida por Diderot, a partir de 
1756. Para os fisiocratas, as leis que regem os fatos econômicos são leis naturais, e 
assim devem ser compreendidas e estudadas. Há uma ordem natural que tudo rege, e 
que dá apoio ao direito de propriedade privada. Este direito exercia-se livremente, 
proporcionando progresso social e assegurando um preço justo ao produto agrícola. Por 
outro lado, afirma que este preço satisfatório também decorre da concorrência. 
 Os fisiocratas dividem a sociedade em três classes: a classe produtiva, formada pelos 
agricultores; a classe de proprietários de imóveis; uma classe não-produtiva, ou 
“estéril”, formada por comerciantes, industriais, bem como por profissionais liberais e 
outras pessoas que se dedicam ao serviço doméstico. 
 O sistema de circulação da riqueza proposto tem por base a descoberta realizada por 
William Harvey, em 1628, da circulação do sangue no corpo humano. Quesnay 
apresenta um sistema de circulação da riqueza análogo à fisiologia humana. A riqueza 
originalmente produzida pela classe “produtiva” circula pelas classes sociais conforme a 
sua importância, repartindo os bens produzidos. No fim do ciclo, a riqueza volta às 
mãos da classe “produtiva”, que volta a reparti-la (seja por pagamentos, ou por custos 
de produção – a classe “produtiva” obtém o seu lucro pela diferença entre a venda dos 
produtos agrícolas e o seu custo de produção). 
 Entretanto, este ciclo mostra-se estacionário, pois não há produção de novas 
riquezas. Entretanto, ele já dá uma idéia do equilíbrio econômico, idéia que viria a ser 
retomada por Léon Walras em fins do século XIX. 
 
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30 
 A riqueza somente poderia ser gerada pela produção agrícola, sempre em maior 
volume do que a riqueza consumida. O lucro obtido é chamado pelos fisiocratas de 
“produto líquido”. Assim, a idéia de valor está ligada à idéia de produção, confundindo-
se riqueza e valor.30 
 Este erro de concepção levou os fisiocratas a difundirem uma doutrina de aversão ao 
comércio, de um modo geral, porque ele não seria criador de riqueza. Este erro apenas 
substituiu o erro cometido pelo mercantilismo, o de não dar importância à agricultura. 
 
* * * 
 
 Como já vimos, aceitava-se a existência de uma ordem natural, que Deus criara para 
levar a felicidadeaos homens. As leis naturais não deveriam tolher a liberdade do 
homem, porque esta seria a base do progresso econômico e social. Além disso, este 
progresso baseava-se no direito de propriedade privada. 
 Uma das preocupações dos fisiocratas era com relação ao “bom preço”. Para 
Quesnay, “abundância com preço alto é opulência”. O bom preço aproveitaria a todas as 
classes, pois elevaria todos os preços, trazendo abundância geral. Com relação aos 
impostos, as taxas deveriam incidir unicamente sobre a terra, por ser ela a riqueza real 
(dela provinha o “produto líquido”).31 
 
 
8 – A Escola Clássica 
 
 A partir do século XVII, as teorias mercantilistas já vinham sofrendo grandes 
críticas; William Petty (1623-1687), por exemplo, apontava que a riqueza provinha do 
trabalho, e não do comércio. Os fisiocratas, como vimos, colocavam os bens materiais 
como a fonte das riquezas: estes eram extraídos do solo, mediante o cultivo. Assim, 
somente da agricultura poderia provir o excedente que seria distribuído entre as demais 
classes da sociedade. 
 A partir de Adam Smith surgiu a denominada “concepção clássica da economia”, 
também chamada de Escola Clássica. Em sua obra mais famosa, “A Riqueza das 
Nações”,32 publicada em 1776, Smith aponta que a riqueza é constituída pelos valores 
de uso (seguindo Petty, ele distingue entre o valor de uso e o valor de troca das 
mercadorias). O que determina a riqueza de uma nação é a sua produção total (que 
modernamente diz-se: Produto Nacional Bruto, ou PNB). 
 Uma das análises mais penetrantes de Smith se dá quando ele distingue qual é, 
verdadeiramente, o fundamento do valor de troca.33 Este fundamento não está na 
utilidade da mercadoria, ou na sua capacidade de satisfação das necessidades humanas; 
está, isto sim, refletido no trabalho gasto em sua produção. 
 
 
30
 Apenas em épocas posteriores viriam os economistas a ligar a idéia de valor à satisfação das 
necessidades do homem. Desta forma, a indústria e o comércio, além de gerarem utilidade, aumentariam a 
utilidade das coisas já existentes. 
31
 As constantes sugestões modernas a respeito de imposto único têm nos fisiocratas a sua origem 
conceitual. 
32
 Cujo nome correto era: Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações. 
33
 Valor de troca é a quantidade de mercadorias que se pode obter em troca da mesma. 
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31 
 Com base nesta concepção, Smith afirma que a riqueza, para crescer, depende 
diretamente da produtividade do trabalho. Esta produtividade, por sua vez, depende do 
grau de especialização, ou seja, do grau de divisão do trabalho atingido. Esta divisão 
depende ainda da extensão do mercado, o qual é normalmente limitado por todo tipo de 
obstáculos que se opõem ao comércio interno e externo da nação. A divisão do trabalho, 
para acontecer, devia resultar também de uma contínua acumulação de capital.34 Este 
aumento de capital deveria se processar em um regime de liberdade (principalmente 
sem intervencionismo estatal), e a sua causa imediata seria a poupança. 
 Para Smith, quando o comércio provoca a expansão da divisão do trabalho, todos 
ganham, porque se beneficiam do aumento da produtividade. Ele via, na divisão do 
trabalho, a melhor cooperação entre os indivíduos, com vista a um bem comum. Propôs 
o câmbio livre, pois que somente este poderia conduzir ao desenvolvimento das forças 
produtivas. Era, igualmente, a favor de remover todas as limitações ao comércio 
interno.35 
 A ordem natural defendida pelos fisiocratas é entendida por ele de um modo 
racionalista; para ele, o equilíbrio do mercado é regulado por uma “mão invisível”, 
capaz de impedir os excessos de exploração econômica por parte das classes mais 
favorecidas, ciosas de seus privilégios e voltadas aos seus próprios interesses. Esta “mão 
invisível” faria com que a luta pelos interesses de cada um traria, ao final, benefícios a 
todos. 
 Smith mostrou que havia um excedente, ou parte do produto do trabalho. Este 
excedente tomaria a forma de lucro e renda da terra. Antecipando-se de certa maneira a 
Karl Marx, ele chegou a demonstrar como ocorria uma apropriação deste excedente. Em 
oposição aos fisiocratas, afirma que todas as atividades capazes de produzir mercadoria, 
também produziam valor. Este valor pertencia, originalmente, ao trabalhador, quando 
este possuía os meios de subsistência e de produção (inclusive a terra). Quando 
perderam esta propriedade para os capitalistas e para os proprietários fundiários, 
puderam ter acesso a estes meios apenas em troca de uma parte do produto do trabalho 
(o qual seria exatamente o lucro). Entretanto, por lhe faltar uma melhor perspectiva 
histórica, Smith não desenvolveu a idéia, o que viria a ser feito futuramente por Marx. A 
renda da terra, por sua vez, decorria da diferença de custos de produção provocados 
pelas diferenças de fertilidade e de localização da mesma (terras férteis davam maior 
lucro do que terras menos férteis). 
 
 
9 – A doutrina de Malthus 
 
 Robert Malthus foi outro teórico da escola clássica. Basicamente, ele preocupava-se 
com a possibilidade de o crescimento populacional atingir um patamar de crescimento 
superior à capacidade de produção de alimentos. Em um estudo que realizou, chamado 
“Ensaio sobre a População”, ele reflete sobre alguns conceitos demográficos e suas 
conseqüências sobre a população. 
 
34
 Smith distinguia entre capitais circulantes (que hoje se chamam capital de giro), e capitais fixos, ou 
aquele usado para a aquisição de instrumental e maquinaria. 
35
 Que em sua época caracterizavam-se por regulamentações corporativas; vedação ao exercício de vários 
ofícios; proibição de migrações internas; etc. 
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32 
 Malthus percebera que existia um descompasso entre o crescimento da população e o 
aumento dos meios de subsistência. Fazendo uma análise científica, ele demonstrou que, 
enquanto o crescimento populacional se dava em proporção geométrica, o crescimento 
da produção de alimentos se dava apenas em proporção aritmética. Sendo assim, podia-
se prever uma catástrofe, a qualquer momento.36 
 Entretanto, ele mostrou ainda que existiam dois tipos de óbices ao crescimento 
ilimitado da população: os repressivos e os preventivos. Os primeiros resultavam de 
fatos naturais (epidemias, doenças, etc.) ou provocados (guerras, conflitos, etc.). Os 
segundos resultariam de um controle espontâneo da natalidade, que entretanto se dava 
em menor escala, e que, para Malthus, deveria não somente ser colocado em prática, 
como também recomendado enfaticamente.37 
 
 
10 – A Teoria da Renda de David Ricardo 
 
 David Ricardo foi outro pensador vinculado à Escola Clássica. Foi bastante 
influenciado pela leitura da obra de Adam Smith,38 que dirigiu sua atenção para a 
economia política. Mas, ao contrário deste e de outros pensadores, Ricardo é menos 
acadêmico do que um filósofo prático, com extraordinário talento para os negócios, e 
com uma visão bastante abrangente a respeito do fenômeno econômico. 
 Suas primeiras especulações dirigem-se para a moeda, e ele demonstra que o valor 
da moeda metálica deriva do trabalho para produzi-la; quanto à moeda fiduciária, ou 
moeda sem lastro, o seu valor depende da quantidade em circulação. Apontou a relação 
entre o comércio exterior e o valor desta moeda: se há excesso de moeda, os preços 
internos sobem, o que leva ao aumento de importação, que por sua vez acarreta déficit 
na balança comercial. Este déficit deverá ser coberto pela

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