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DIREITO PENAL Apostila (MPU)

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CENTRO DE PREPARAÇÃO PARA CONCURSOS
DIREITO PENAL
C
DIREITO PENAL
SUMÁRIO
Introdução---------------------------------------------------------------------------------	04
Conceito de Direito Penal---------------------------------------------------------------	05
Finalidade do Direito Penal-------------------------------------------------------------	06
Características do Direito Penal--------------------------------------------------------	06
Aplicação da Lei Penal no Tempo-----------------------------------------------------	07
Aplicação da Lei Penal no Espaço-----------------------------------------------------	16
Aplicação da Lei Penal em relação a determinadas funções públicas-------------	25
Artigos complementares-----------------------------------------------------------------	31
Questões pertinentes---------------------------------------------------------------------	33
Teoria Geral do Crime------------------------------------------------------------------	41
Contravenção Penal---------------------------------------------------------------------	41
Conceito Analítico de Crime-----------------------------------------------------------	44
Fato Típico--------------------------------------------------------------------------------	44
13.	Conduta-----------------------------------------------------------------------------------	44
	13.1. Tentativa----------------------------------------------------------------------------------------------	46
	13.2. Dolo----------------------------------------------------------------------------------------------------	48
	13.3. Culpa--------------------------------------------------------------------------------------------------	51
	13.4. Desistência Voluntária e Arrependimento Eficaz-----------------------------------------------	54
	13.5. Arrependimento Posterior--------------------------------------------------------------------------	56
	13.6. Crime Impossível------------------------------------------------------------------------------------	58
14.	Resultado---------------------------------------------------------------------------------	59
15.	Relação de Causalidade-----------------------------------------------------------------	60
16.	Tipicidade---------------------------------------------------------------------------------	64
17.	Sujeitos da Infração Penal--------------------------------------------------------------	65
18.	Erro no Direito Penal--------------------------------------------------------------------	67
19.	Antijuridicidade ou ilicitude-----------------------------------------------------------	73
20.	Causas Excludentes da Ilicitude-------------------------------------------------------	74
21.	Culpabilidade-----------------------------------------------------------------------------	86
22.	Imputabilidade---------------------------------------------------------------------------	87
23.	Concurso de Pessoas--------------------------------------------------------------------	91
24.	Espécies de Ação Penal-----------------------------------------------------------------	94
25.	Extinção da Punibilidade---------------------------------------------------------------	95
26.	Exercícios---------------------------------------------------------------------------------	96
27.	Dos Crimes em Espécie-----------------------------------------------------------------	101
28.	Exercícios Complementares------------------------------------------------------------	117
29.	Bibliografia-------------------------------------------------------------------------------	141
�
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
PARTE GERAL
INTRODUÇÃO
A vida em sociedade é complexa e exige de todos obediência a um conjunto de regras de comportamento. O homem não é absolutamente livre para fazer o que bem entender, pois deve observar certas regras de conduta, criadas por ele mesmo, por meio do Estado, que ele institui. Esse conjunto de normas que os seres humanos devem observar dentro de uma sociedade é chamado de direito positivo.
As normas jurídicas são comandos que devem ser obedecidos por todos os indivíduos, pois dizem o que pode ou não ser feito, isto é, o que é proibido ou permitido. O estabelecimento dessas normas de conduta é uma exigência da vida em sociedade. 
Nenhum momento da vida humana está distanciado do Direito. Até mesmo as relações e vínculos pessoais têm relação com o Direito. Basta observar que as pessoas nascem, se casam, têm filho, separam, precisam partilhar seus bens em caso de morte, etc. 
Ocorre, entretanto, que algumas atividades humanas causam lesões aos bens jurídicos (protegidos pelo Direito), violando a norma. Esse comportamento humano que viola a norma jurídica é ilícito e, assim, não deve ser permitido. Como conseqüência da violação da norma, o Estado prevê uma sanção a que o indivíduo estará sujeito. A sanção penal, então, nada mais é do que a resposta estatal, coativamente imposta, ao infrator de uma norma, visando a restabelecer o equilíbrio social. 
Algumas condutas humanas, entretanto, voltam-se contra alguns bens considerados importantes, causando-lhes lesões muito graves. É o caso, por exemplo, do ser humano que tira a vida de outro, ou de alguém que subtrai um bem que não lhe pertence ou, ainda, do homem que mantém relações sexuais com a mulher, usando de violência ou grave ameaça. Em todos esses casos, o Direito teve que criar uma sanção mais severa para esses agressores, já que a simples reparação do dano se mostra ineficaz. Como reparar o dano no crime de estupro, por exemplo? Além disso, aquelas pessoas mais afortunadas, dotadas de muitos recursos financeiros, sentir-se-iam livres para matar e praticar relações sexuais sem o consentimento da mulher na certeza de que, pagando o preço, jamais seriam incomodados por alguém. 
O Direito Penal, portanto, não se preocupa com qualquer tipo de lesão a qualquer tipo de bem jurídico. Somente aquelas lesões mais graves que se dirigem contra aqueles bens considerados mais importantes (vida, integridade física, patrimônio, liberdade sexual, honra, probidade na administração, etc) é que serão tutelados por esse ramo do direito. Como forma de se proteger esses bens mais importantes, dos ataques mais graves (crimes), o Direito estabelece uma conseqüência jurídica, uma sanção também mais severa: a sanção penal.
CONCEITO DE DIREITO PENAL
	O Direito penal, portanto, é o ramo do Direito Público que tem por finalidade regular as condutas humanas que se contraponham à lei, bem como estudar o delinqüente, as penas (tipo de sanção penal aplicável aos imputáveis) e as medidas de segurança (tipo de sanção penal aplicável aos inimputáveis). De acordo com o professor Rogério Greco (Greco, Rogério. Curso de direito penal. 3º ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2003, p. 08.):
	“Direito Penal Objetivo é o conjunto de normas editadas pelo Estado, definindo crimes e contravenções, isto é, impondo ou proibindo determinadas condutas sob a ameaça de sanção ou medida de segurança, bem como todas as outras que cuidem de questões de natureza penal, por exemplo, excluindo o crime, isentando a pena, explicando determinados tipos penais. O Estado, sempre atento ao princípio da Legalidade, pilar fundamental de todo o Direito Penal, pode, de acordo com sua vontade política, editar normas de conduta ou mesmo outras que sirvam para a interpretação e a aplicação do Direito Penal. Todas essas normas que ganham vida no corpo da lei em vigor formam o que chamamos de Direito Penal Objetivo. Já o Direito Penal Subjetivo é a possibilidade que tem o Estado de criar e fazer cumprir as normas, executando as decisões condenatórias proferidas pelo Poder Judiciário. É o próprio ius puniendi (poder dever de punir do Estado).”
FINALIDADE DO DIREITO PENAL
A finalidade do Direito Penal é a proteção dos bens mais importantes e necessários para a própria finalidade da sociedade. O pensamento jurídicomoderno reconhece que o escopo imediato e primordial do Direito Penal está na proteção de bens jurídicos essenciais ao indivíduo e à comunidade. Para Nilo Batista (Batista, Nilo. Introdução crítica ao direito penal. Rio de Janeiro: Revan, 1996, p. 116), “a missão do Direito Penal é a proteção de bens jurídicos, por meio da cominação, aplicação e execução da pena.”
CARACTERÍSTICAS DO DIREITO PENAL
As principais características do Direito penal são:
Positivo: O Direito Penal é positivo, isto é, é aquele que o Estado criou. Positivo que dizer posto, colocado, imposto por meio de um conjunto de leis.
 Público: O Direito Penal tem natureza pública, já que a proteção dos bens jurídicos que estão sob a sua proteção interessa a toda a sociedade. Por esta razão, e para tirar do indivíduo a possibilidade de vingar-se do seu agressor, o direito de punir o infrator da norma penal é privativo do Estado, que irá, quando necessário, em nome da coletividade, aplicar a sanção penal. 
Normativo: O Direito Penal trabalha com a norma jurídica. A sua espinha dorsal é a norma. 
Sancionador: O Direito Penal impõe uma sanção a quem cometer um crime ou contravenção. 
Dever-ser: O Direito Penal é uma ciência do dever-ser, ou seja, trata de como devem ser as coisas. Ele se preocupa com os modelos de comportamento.
Axiológico: O Direito Penal lida com valores sociais (axiós = valor).
APLICAÇÃO DA LEI PENAL
TÍTULO I
DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL
APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO TEMPO
Anterioridade da lei
“Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)”
		Esse preceito, repetido pelo artigo 5º, inciso XXXIX, da Constituição Federal, constitui a base de dois princípios orientadores do direito penal, quais sejam: 1º) o princípio da legalidade ou da reserva legal, segundo o qual todo e qualquer crime e pena deve ser definido em lei. Qualquer pessoa só poderá responder por um crime se aquela conduta que ele praticou estiver descrita na lei como criminosa, ou seja, para que determinado comportamento seja crime é preciso que exista uma lei dizendo que ele é crime. 2º) o princípio da anterioridade, que reclama a prévia definição legal dos crimes e das penas. Em outras palavras, para que alguém possa ser punido por um crime não basta que exista uma lei dizendo que aquilo é crime, é preciso também que essa lei tenha sido feita antes da prática do fato. Por exemplo, uma lei é feita, em 01 de fevereiro de 2004, definindo como crime a conduta de fumar cigarros de menta. Qualquer pessoa que tenha fumando esse tipo de cigarro até 31 de janeiro de 2003 não poderá ser punido, pois a lei ainda não existia. Somente aqueles que fumaram cigarros de menta do dia 01 de fevereiro de 2004 em diante é que poderão ser punidos. 
Esses princípios têm a finalidade de resguardar a liberdade individual em face da autoridade do Estado, garantindo ao cidadão o conhecimento prévio de todas as condutas definidas pela legislação em vigor como criminosas.
Lei penal no tempo
“Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Lei excepcional ou temporária
Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Tempo do crime
Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)”
		Antes de se estabelecer qual a lei que regulará determinada conduta, deve-se esclarecer, de acordo com o Direito Penal brasileiro, o momento exato da prática de um crime. Com efeito, considera-se praticado o crime no momento em que o agente age (ou deixa de agir) ou no momento do resultado? O que se quer definir é qual o tempo do crime? Definir o tempo em que se considera praticado o crime é muito importante na vida prática. Imaginemos o seguinte exemplo: João tem 17 anos, 11 meses e 20 dias (está a dez dias do seu aniversário de 18 anos) no dia em que disparou os tiros contra seu inimigo, Pedro. Pedro é levado às pressas para o hospital, porém vem a falecer, em razão da gravidade dos ferimentos, quando João já contava com 18 anos e 10 dias de idade. Se considerarmos como tempo do crime a data da ação, João não será punido de acordo com o Código Penal, porque, menor de 18 anos, é considerado inimputável. Se, por outro lado, consideramos como dia do crime a data da morte de Pedro, então João será punido de acordo com o Código, uma vez que já terá 18 anos completos, sendo considerado imputável. 
		Três são as teorias que tentam explicar o tempo do crime:
1ª) Teoria da Atividade ou Ação – considera-se praticado o crime no momento da ação ou da omissão, ainda que outro seja o momento do resultado;
2ª) Teoria do Resultado ou Evento – considera-se praticado o crime no momento em que ocorre o resultado, ainda que outro seja o momento da ação ou omissão;
3ª) Teoria da Ubiqüidade (ou mista) – considera-se o crime praticado tanto no momento da ação quanto na ocorrência do resultado.
		O Código Penal Brasileiro, acertadamente, em seu artigo 4º, adotou a teoria da atividade, permanecendo atento à realidade de que o Direito Penal moderno deve preocupar-se, principalmente, com o desvalor (importância) da conduta criminosa de determinada pessoa e não com o desvalor (importância) do resultado.
		Assim, de acordo com o Código Penal, aplica-se a lei em vigor no momento da ação ou omissão criminosa, de acordo com o princípio tempus regit actum (é o tempo que deve reger o ato, ou seja, é a lei que está em vigor no dia em que o crime foi cometido que deve discipliná-lo).
		Mas como saber se uma lei está ou não em vigor? Toda norma penal, em regra, somente pode incidir nos casos concretos posteriores ao momento em que adquire força obrigatória, ou seja, após a sua vigência. A legislação penal, outrossim, passa a vigorar, normalmente, na data de sua publicação no Diário Oficial da União, podendo, a partir dessa oportunidade, ser plenamente aplicada.
		Nesse mesmo sentido, uma lei é revogada, ou seja, deixa de vigorar, em regra, nos termos do artigo 2º, da Lei de Introdução ao Código Civil, quando uma lei nova expressamente o declare, quando trata inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior ou quando é com ela incompatível.
O caput e o parágrafo único do artigo 2º, do Código Penal, prevêem, por outro lado, a possibilidade da incidência da lei penal mais benéfica, ainda que esta não seja a lei em vigor à época do fato ou no momento do julgamento. Trata-se do princípio da extra-atividade da lei penal mais benigna, segundo o qual a lei mais branda pode retroagir ou ultra-agir para beneficiar o réu. 
A lei penal quando mais benéfica ao réu sempre vai ser aplicada (essa regra é absoluta, isto é, não admite qualquer exceção). É esse o teor do art. 5º, XL, da Constituição Federal: “a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu.” 
Observação: Essa regra é tão importante que o art. 2º, parágrafo único do Código Penal estabelece que a lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores (ou seja, retroage), ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado. Nota-se que mesmo que já tenha ocorrido a coisa julgada (aquela decisão já se tornou definitiva, imutável) isso não impedirá que a lei mais benéfica possa retroagir. 
Veremos agora alguns casos especiais envolvendo o conflito da lei penalno tempo:
1ª) Abolitio Criminis, Novatio Legis (ou lei supressiva de incriminação) – quando uma lei definidora de certo fato criminoso é revogada por outra lei. Os efeitos penais e a execução da sentença condenatória proferida com base na lei anterior devem cessar a partir do momento da sua revogação, de acordo com o artigo 2º, caput, do Código Penal. A abolitio criminis ocorre quando uma lei posterior deixa de considerar como crime um fato que antes era definido como tal. 
Exemplo: Atualmente fumar cigarro de maconha é crime. Imaginemos que alguém fume esse cigarro em 10 de fevereiro de 2004 (nessa data a conduta do agente é crime), e, em razão disso, é processado e condenado a 5 anos de prisão. Quando esse criminoso está no 3º ano de cumprimento da pena, surge uma nova lei que deixa de considerar como crime a conduta de fumar maconha. Pergunta: Essa nova lei se aplica ao criminoso que fumou maconha bem antes dela existir? Naturalmente que sim, pois a nova lei, por ser mais benéfica, deve retroagir. Nesse caso o criminoso deverá ser posto em liberdade, pois a conduta de fumar maconha deixou de ser considerada crime, isto é, deixou de ser considerada como contrária aos interesses do Estado. 
Qual a conseqüência da abolitio criminis? De acordo com o art. 2º do Código Penal (CP), cessa, em razão dela, a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. Exemplo: Hoje existe o crime de dano (art. 163 do CP), que consiste em destruir, inutilizar ou deteriorar dolosamente coisa alheia. Imagine que João, com seu taco de beisebol, quebre todos os vidros do carro de seu vizinho. É processado pelo crime de dano. Dias depois, surge uma nova lei que abole o crime de dano (diz que não existe mais esse crime). É o caso, portanto, da abolitio criminis. João pode continuar sendo processado pelo crime de dano ou ser preso por ele? Evidente que não, pois essa nova lei, por ser mais benéfica, deve retroagir. Mas será que João vai ter que pagar os vidros que quebrou? A resposta é sim. Note que a abolitio criminis só acaba com os efeitos penais (pena, reincidência, etc), porém o ato de pagar o prejuízo causado não é efeito penal do crime e sim civil. Este último permanece. 
2ª) Novatio Legis Incriminadora – ocorre quando surge uma lei posterior que passa a considerar como crime uma conduta que antes não era tida como tal. Exemplo: João fuma cigarro de menta hoje (atualmente não é crime). Três meses depois surge uma nova lei que diz que fumar cigarro de menta é crime com pena de 2 a 4 anos de reclusão. Pergunta-se? João poderá ser punido por ter fumando cigarro de menta? A resposta só pode ser negativa, pois quando João fumou esse cigarro esse fato ainda não era crime. A lei nova, por ser mais gravosa, não pode retroagir. 
3ª) Novatio Legis in Pejus (nova lei mais grave) – a lei em vigor na época do fato deve ser aplicada, mesmo após a sua revogação. A nova lei mais rigorosa (lex gravior) é irretroativa, enquanto a antiga lei mais benéfica (lex mitior) ultra-agirá, ou seja, romperá a barreira da revogação para ser aplicada em momento posterior à sua vigência. A novatio legis in pejus ocorre quando surge uma lei nova que passa a dar ao crime um tratramento mais gravoso. Exemplo: João mata Pedro em 10 de fevereiro de 2004 sendo a pena de 6 a 20 anos de reclusão. Em março desse mesmo ano surge uma nova lei que aumenta a pena do homicídio para 8 a 25 anos de reclusão. Pergunta-se: a nova lei se aplica? Não, pois como ela é mais gravosa não pode retroagir. 
4ª) Novatio Legis in Mellius (nova lei mais benéfica) – ainda segundo o princípio da extra-atividade da legislação penal mais favorável, segundo o qual a lei penal menos gravosa deve prevalecer, aplica-se a lei penal posterior, conquanto seja mais benéfica, em detrimento da lei mais grave em vigor no momento da prática do crime. Ocorre a novatio legis in mellius quando surge uma nova lei que passa a dar um tratamento mais benéfico ao crime. Exemplo: João mata Pedro em 10 de fevereiro de 2004 sendo a pena de 6 a 20 anos de reclusão. Em março desse mesmo ano surge uma nova lei que diminui a pena do homicídio para 5 a 10 anos de reclusão. Pergunta-se: a nova lei se aplica? Sim, pois sendo mais benéfica deverá retroagir. 
5ª) Lex Intermedia (lei intermediária) – se, entre o momento da prática do delito e o julgamento do acusado, são publicadas mais de uma lei, aplica-se a lei mais benéfica, ainda que esta não seja a vigente ao tempo do crime ou por ocasião da prolação da sentença. Imagine o seguinte exemplo: João mata Pedro em 2002, quando está valendo a lei A com pena de 10 a 20 anos de reclusão. Enquanto João está sendo processado surge uma nova Lei B (que revoga a A) com pena de 3 a 7 anos de reclusão. No entanto, quando finalmente João vem a ser condenado, a lei que está valendo é a Lei C (que revogou a B) com pena de 8 a 15 anos de reclusão. Pergunta-se: qual lei deve ser aplicada? Lei A (aquela que existia quando o agente praticou a conduta), Lei B (que é a mais benéfica das 3) ou Lei C (que é a que está em vigor atualmente)? Deve-se aplicar a Lei B que, das três, é a que tem pena menor. Essa lei intermediária é EXTRA-ATIVA, ou seja, é aquela que é, ao mesmo tempo, RETROATIVA (aplica-se aos fatos ocorridos antes da sua vigência. A lei retroativa se aplica no passado, para aqueles fatos que ocorreram ante dela existir) e ULTRA-ATIVA (aquela que, mesmo depois de revogada, continua sendo aplicada aos fatos ocorridos durante a sua vigência. Quando uma lei é ultra-ativa ela se aplica no futuro, mesmo não existindo mais, desde que o fato tenha ocorrido durante a sua vigência).
6ª) Lex Tertia (terceira lei ou combinação de leis) – ocorre quando, entre o momento da prática do delito e o julgamento do autor da atividade criminosa, surge uma nova lei parcialmente mais favorável e, ao mesmo tempo, parcialmente mais gravosa ao acusado. A doutrina se divide quanto a possibilidade ou não de se combinar o que há de mais benéfico em cada uma das leis e, assim, criar uma terceira lei. No entanto, o posicionamento prevalecente indica que não é possível a combinação da lei vigente na época do crime com a vigente no momento do julgamento do acusado. O juiz, dentre todas as leis, deve escolher aquela que ele acha mais benéfica, sendo-lhe vedado combinar parte de uma lei com parte de outra. O Supremo Tribunal Federal (STF), inclusive, não admite essa combinação. 
7ª) Leis Penais Excepcionais e Temporárias – são aquelas com previsão para viger por um período de tempo determinado (90 dias, um semestre, um mês, um ano, etc) ou enquanto perdurar certa situação (uma guerra, epidemia, etc). Têm como fundamento a existência de situações excepcionais (de tempo ou situações emergenciais) que demandam a adoção de medidas temporárias tendentes a proteger determinado bem jurídico ameaçado pelas circunstâncias. Elas devem ser aplicadas, mesmo após o transcurso do período determinado em seu texto, sob pena de serem absolutamente inócuas. Por esse motivo diz-se que as leis temporárias e excepcionais são ULTRA-ATIVAS (ou seja, mesmo depois de revogadas continuam sendo aplicadas aos fatos ocorridos durante a sua vigência). Essas leis têm, portanto, duas características:
a) são auto-revogáveis: já trazem, no seu próprio texto, o anúncio prévio da sua morte. Em outras palavras, se estamos diante de uma lei temporária feita para valer apenas por 30 dias, ultrapassado esse prazo, ela automaticamente deixa de valer (sem a necessidade de ser feita uma nova lei para revogá-la). O mesmo ocorre com as leis excepcionais (cessada a situação de calamidade em razão da qual foi feita a lei, ela automaticamente perde a sua vigência, sem que seja preciso que uma nova lei a revogue).
b) são ultra-ativas: mesmo depois de revogadas, continuam sendo aplicadas aos fatos ocorridos durante a sua vigência. Tomemos como exemplo uma lei temporária feita para ter vigência por apenas 30 dias. Se alguém comete o fato descrito nela como crime no 28º dia, essa pessoa continua a ser punida conformeessa lei, ainda que estejamos no 32º dia, 33º dia, 34º dia, etc. Não poderia ser diferente. Se se pensasse que tais leis só seriam aplicadas enquanto estivessem em vigor, nenhum dos seus destinatários, nenhuma das pessoas evitaria a prática dos atos por ela coibidos, na certeza de que, mais cedo ou mais tarde, a lei não mais vigeria, e, nesse tempo, processo algum chegaria ao seu termo, pelo que não haveria motivo para obedecê-la. Seriam leis inúteis. 
Por derradeiro, do que adiantaria uma lei temporária se os crimes nela definidos e praticados durante a sua vigência simplesmente não fossem punidos? É imprescindível notar, diante disso, que a aplicação da legislação excepcional ou temporária mesmo após a sua revogação não constitui exceção ou violação ao princípio da extra-atividade da lei penal mais favorável. É o que dispõe o artigo 3º, do Código Penal.
APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO ESPAÇO
Territorialidade
“Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Lugar do crime
Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Extraterritorialidade
Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - os crimes: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público;
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço;
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil;
II - os crimes: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir;
b) praticados por brasileiro;
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados.
§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
a) entrar o agente no território nacional;
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição;
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena;
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável.
§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
a) não foi pedida ou foi negada a extradição;
b) houve requisição do Ministro da Justiça.
Pena cumprida no estrangeiro
Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)”
		Cumpre aos estudiosos da aplicação da lei penal no espaço, num primeiro momento, estabelecer o local de cometimento do crime para, então, definir-se que legislação será aplicada. Em outros termos, o autor de determinada conduta delituosa deverá ser julgado de acordo com as leis do local em que agiu (ou deixou de agir) ou em face da legislação do local em que se consumou ou deveria ter se consumado do crime? Essa questão não traz maiores problemas quando todas as fases do crime (inter criminis) são praticadas dentro de um mesmo país. Exemplo: Atiro em alguém em Fortaleza, ele é levado para o hospital de Recife e vem a falecer lá. Qual a lei a ser aplicada? A brasileira, claro. No entanto, por vezes, as fases do crime ocorrem em mais de um país. Exemplo: Atiro em alguém do Brasil, mas o tiro só acerta a pessoa na Argentina, que vem a ser transportada para o Paraguai e lá vem a falecer. Qual a lei a ser aplicada? Para responder a tal pergunta é preciso definir qual é o lugar o crime. 
		A exemplo do que ocorre com relação ao tempo do crime, existem três teorias que tentam resolver o problema:
1ª) Teoria da Atividade ou Ação – considera-se praticado o crime no local da ação ou omissão, ainda que outro seja o local do resultado;
2ª) Teoria do Resultado ou Evento – considera-se praticado o crime no local em que ocorre o resultado, ainda que outro seja o local da ação ou omissão;
3ª) Teoria da Ubiqüidade (ou mista) – define-se como local do crime tanto o lugar da ação ou omissão, quanto aquele onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.
		O Código Penal Brasileiro adotou, com relação ao lugar do crime (artigo 6º do CP), a teoria da ubiqüidade ou mista, evitando, com isso, a possibilidade de impunidade de algum crime. 
Observação: Importante notar que, com relação ao Tempo do Crime, o Brasil adotou a Teoria da Ação ou Atividade. Já no que diz respeito ao Lugar do Crime, o Brasil adotou a Teoria da Ubiqüidade ou Mista. 
Princípios básicos referentes à lei penal no espaço
		A eficácia da legislação penal no espaço é regida pelos seguintes princípios:
		1º) Princípio da territorialidade (ou princípio territorial exclusivo) – de acordo com esse princípio importa aos Estados aplicarem as suas leis aos crimes ocorridos dentro do seu território jurídico, não importando a nacionalidade do criminoso ou a origem da vítima. Trata-se da regra geral insculpida no artigo 5º, caput, do Código Penal, tornando exceção todos os demais princípios a seguir apresentados.
		Considera-se território nacional todo o espaço aéreo, marítimo e terrestre em que um país é soberano. O Código Penal (artigo 5º, § 1º), por sua vez, objetivando expandir o seu âmbito de incidência, considera, para os efeitos penais, como extensão do território nacional todas as embarcações e as aeronaves públicas (aquelas de guerra, pertencentes ao governo brasileiro ou que estejam a serviço do governo brasileiro), onde quer que se encontrem.
		Da mesma forma, considera-se extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras privadas (aquelas mercantes ou de recreio), quando se encontrarem em alto mar ou no espaço aéreo a ele correspondente, ou ainda em águas ou ares brasileiros. Tal realidade decorre, outrossim, do fato de que nenhum país exerce soberania no alto mar.
		Conseqüentemente, ainda em atenção ao disposto no artigo 5º, § 1º, do Código Penal, todas as embarcações e aeronaves a serviço de outros países que se encontrarem no território brasileiro serão consideradas território estrangeiro.
		É importante salientar, no entanto, diante do § 2º, do artigo 5º, do Código Penal, que os crimes cometidos a bordo denavios e aviões internacionais privados que se encontram dentro do território nacional de outros países serão julgados segundo a legislação penal daquele país.
		2º) Princípio da nacionalidade (ou da personalidade) – de acordo com esse princípio, a legislação penal de determinado Estado deve ser aplicada a todos os seus cidadãos, ainda que o crime tenha sido praticado fora de suas fronteiras. Esse princípio dá origem a dois sub-princípios, quais sejam: o princípio da nacionalidade ativa, segundo o qual a legislação de um país deve incidir quando o autor do crime for seu nacional; e o princípio da nacionalidade passiva, para o qual a legislação de um país será aplicada quando a vítima do crime (sujeito passivo) for nacional seu. O princípio da nacionalidade ativa foi adotado pela legislação penal brasileira no artigo 7º, inciso II, alínea “b”, do CP. Já o princípio da nacionalidade passiva foi adotado no art. 7º, § 3º, do CP.
3º) Princípio da defesa (princípio real ou da proteção) – considera como critério de incidência da legislação penal a nacionalidade do interesse jurídico tutelado, não importando a nacionalidade do autor do crime ou o local do seu cometimento. Em outras palavras, de acordo com esse princípio, aplica-se a lei de um determinado país, aos crimes que ofendam bens jurídicos seus, pouco importando onde o crime foi cometido ou quem cometeu esse crime. Exemplo: Suponha que um brasileiro pegou emprestado o carro do seu amigo peruano e foi até a Argentina. Lá chegando, o carro do seu amigo foi furtado por um americano. De acordo com esse princípio, qual lei deve ser aplicada? Será a lei do Peru, pois o carro (bem jurídico ofendido) era de propriedade de um peruano. Esse princípio foi adotado no artigo 7º, inciso I, “a”, “b”, “c” e “d” do Código Penal.
Observação: É importante notar, nesse passo, que a legislação penal brasileira será necessariamente aplicada, ainda que o autor dos crimes previstos no inciso I, do artigo 7º, tenha sido julgado, condenado e punido em outro país (art. 7º, § 1º, do CP). Deverá ser observado, no entanto, para se evitar grave injustiça, a determinação constante do artigo 8º, do Código, que impõe a atenuação da pena caso a aplicada no exterior seja diferente da aplicada no Brasil, ou o seu cômputo caso coincidam as penas aplicadas:
“Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas.”
4º) Princípio da justiça penal universal (também chamado de princípio universal, da universalidade da justiça cosmopolita, da jurisdição mundial, da repressão universal e da universalidade do direito de punir) – aplica-se a legislação penal de um Estado desde que o sujeito ativo ingresse no seu território, pouco importando a nacionalidade das pessoas envolvidas ou o local da prática do delito. Nesse princípio, o que importa é que o autor de um crime ingresse no território de um determinado país. Encontra-se insculpido no artigo 7º, inciso II, alínea “a”, do CP.
5º) Princípio da representação, pavilhão ou bandeira – incide quando o crime praticado a bordo de aeronave ou embarcação privada brasileira, em espaço territorial estrangeiro, não é julgado pelo país correspondente. Ou seja, de acordo com esse princípio, importa aos Estados aplicarem as suas leis aos crimes cometidos no interior de navios ou aeronaves privados brasileiros que, embora no estrangeiro, lá não venham a ser punidos. É previsto no artigo 7º, inciso II, alínea “c”, do CP.
Observações finais:
O Brasil adotou, como regra geral, o princípio da territorialidade, ou seja, se o crime aconteceu dentro do território jurídico do Brasil, então aplica-se a lei brasileira. Do contrário, não. No entanto, existem casos em que se vai poder aplicar a lei brasileira mesmo aos crimes ocorridos fora do Brasil (são os casos de EXTRATERRITORIALIDADE). Diz-se, portanto, que, em regra, o Brasil adotou o princípio da Territorialidade Mitigada ou Temperada, pois há casos em que mesmo um crime ocorrido fora do Brasil vai ser punido conforme a lei brasileira (art. 7º do CP).
Não é demais salientar, por outro lado, que a aplicação da lei brasileira, nos crimes referidos no artigo 7º, inciso II, depende da concorrência de todas as condições previstas no § 2º do mesmo artigo.
O art. 7º, inciso I, trata dos casos de EXTRATERRITORIALIDADE INCONDICIONADA, ou seja, basta que ocorra uma das hipóteses previstas nesse inciso I, para que se aplique a lei brasileira, independente de qualquer condição. Já o art. 7º, inciso II, trata da EXTRATERRITORIALIDADE CONDICIONDADA, ou seja, só se aplica a lei brasileira se ocorrerem alguns dos casos do inciso II e estiverem preenchidas todas as condições do § 2º. 
O art. 7º, § 3º traz um caso especial. Só se aplicará a lei brasileira se for crime cometido por estrangeiro contra brasileiro, fora do Brasil. Além disso, exige-se tanto as condições do § 2º como também as condições do § 3º. Se faltar qualquer uma, não se aplica a lei brasileira. 
A EXTRATERRITORIALIDADE só se aplica aos crimes, e não para as contravenções. Assim, nunca uma contravenção que ocorreu fora do Brasil vai poder ser punida conforme as leis brasileiras. 
APLICAÇÃO DA LEI PENAL EM RELAÇÃO A DETERMINADAS FUNÇÕES PÚBLICAS (OU EM RELAÇÃO A DETERMINADAS PESSOAS)
É certo que a lei penal incide sobre todos sem distinção, em face do princípio constitucional da igualdade previsto no artigo 5º, caput, da CF. Diz-se, diante disso, que a lei penal tem caráter erga omnes, ou seja, tem aplicação contra todos sem se importar com distinções de qualquer natureza. Todavia, algumas pessoas, em razão da importância da função que exercem, e não em face de suas qualificações pessoais, encontram-se fora do âmbito de incidência da legislação criminal. Tratam-se das chamadas imunidades que, a toda evidência, não constituem exceção ao princípio indicado, uma vez que não têm como objeto a pessoa, mas a função que ela exerce.
Imunidades Diplomáticas
O artigo 5º, caput, do Código Penal, ao indicar que a lei penal brasileira deve ser aplicada aos crimes cometidos no território nacional, “sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional”, seguiu a regra geral do direito internacional segundo a qual os representantes dos governos estrangeiros são imunes à legislação criminal do país em que se encontrarem. De fato, suas condutas serão avaliadas de acordo com a legislação do seu Estado de origem, não podendo delas cuidar a lei brasileira.
As imunidades diplomáticas recaem sobre todos os funcionários do corpo diplomático, bem como sobre os membros da família do representante, não se estendendo, todavia, aos cônsules, posto que as atividades por eles exercidas são meramente administrativas e não de representação. As imunidades também alcançam os membros de organizações internacionais, os chefes de estado estrangeiro em visita ao país, bem como os componentes das suas comitivas.
Ainda, a pessoa não respaldada pela imunidade internacional que tenha de alguma forma concorrido para a prática de um crime também cometido por um representante estrangeiro no Brasil será julgada de acordo com a legislação penal brasileira.
Antigamente, acreditava-se que as sedes das embaixadas eram consideradas parte do território que elas representavas, ou seja, parte de território estrangeiro, Essa tese, entretanto, já foi há muito superada. Atualmente, assegura-se o direito à inviolabilidade às localidades onde se encontram sediadas as representações internacionais, sem que se considere o espaço físico como extensão do Estado representado. Assim, o crime cometido no interior de uma embaixada por qualquer pessoa sobre a qual não recaia a imunidade diplomática será tratado de acordo com a legislação penal do nosso país, aplicando-se o princípio da territorialidade previsto no artigo 5º, caput, do CP.
Imunidades parlamentares
A Constituição Federal dispõe:
“Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civile penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 35, de 20/12/2001)
§ 1º Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 35, de 20/12/2001)
§ 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 35, de 20/12/2001)
§ 3º Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime ocorrido após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido político nela representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 35, de 20/12/2001)
§ 4º O pedido de sustação será apreciado pela Casa respectiva no prazo improrrogável de quarenta e cinco dias do seu recebimento pela Mesa Diretora. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 35, de 20/12/2001)
§ 5º A sustação do processo suspende a prescrição, enquanto durar o mandato. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 35, de 20/12/2001)
§ 6º Os Deputados e Senadores não serão obrigados a testemunhar sobre informações recebidas ou prestadas em razão do exercício do mandato, nem sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles receberam informações. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 35, de 20/12/2001)
§ 7º A incorporação às Forças Armadas de Deputados e Senadores, embora militares e ainda que em tempo de guerra, dependerá de prévia licença da Casa respectiva. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 35, de 20/12/2001)
§ 8º As imunidades de Deputados ou Senadores subsistirão durante o estado de sítio, só podendo ser suspensas mediante o voto de dois terços dos membros da Casa respectiva, nos casos de atos praticados fora do recinto do Congresso Nacional, que sejam incompatíveis com a execução da medida. (Parágrafo incluído pela Emenda Constitucional nº 35, de 20/12/2001)”
As imunidades conferidas aos parlamentares constituem prerrogativas necessárias ao bom e fiel desempenho da função, razão pela qual também não constituem violação ao princípio constitucional da igualdade.
Duas são as formas de imunidade parlamentar, quais sejam:
1ª) a material (penal ou absoluta) – segundo a qual os membros do Congresso Nacional são invioláveis no tocante aos delitos de opinião ou de palavra; É uma imunidade absoluta que não admite qualquer exceção.
No entanto, é importante notar, com relação à imunidade material, prevista no artigo 53, caput, da Constituição Federal, que ela não incide quando o parlamentar se encontra desprovido de suas funções, limitando-se, conseqüentemente, às manifestações proferidas durante e em razão do exercício do mandato. 
Da mesma forma, a imunidade penal não será aplicada à pessoa que, não sendo parlamentar, concorre de alguma forma para a prática do delito, de acordo com a Súmula nº 245, do STF.
2ª) a formal (processual ou relativa) – essa imunidade não exime os deputados e senadores de serem julgados, apenas garantindo aos membros do Congresso a prerrogativa de não serem presos, salvo no caso de flagrante delito de crime inafiançável. Nesse caso, os autos devem ser enviados dentro de 24 horas para a casa respectiva que, pelo voto da maioria dos seus membros, resolverá sobre a prisão. Deve-se ressaltar ainda que, com o advento com a Emenda Constitucional nº 35/2001, não se exige mais a prévia autorização da Casa Legislativa para se dar início ao processo contra parlamentares. Hoje em dia, o processo já pode ser iniciado, independentemente de qualquer autorização prévia, entretanto, o STF deverá comunicar à Casa respectiva o início do processo e esta, se quiser, poderá sustar o seu andamento, nos termos do § 3º do art. 53 da Constituição.
		É importante frisar, por fim, que as imunidades materiais e formais estendem-se aos deputados estaduais, nos termos do artigo 27, § 1º, da Constituição Federal, enquanto os vereadores são atingidos apenas pela imunidade material, de acordo com o artigo 29, inciso VIII, da Carta Magna, só tendo validade na circunscrição do Município.
Observação: Os deputados federais e senadores serão julgados no STF, pelos crimes comuns e na Casa Respectiva (Câmara ou Senado), pelos crimes de responsabilidade (art. 55, § 2º da CF).
Imunidade do advogado
“Art. 7º. da Lei nº 8.906/94 (...)
§ 2º O advogado tem imunidade profissional, não constituindo injúria, difamação ou desacato puníveis qualquer manifestação de sua parte, no exercício de sua atividade, em juízo ou fora dele, sem prejuízo das sanções disciplinares perante a OAB, pelos excessos que cometer.”
Segundo esse dispositivo, o Advogado não responde pelos crimes de injúria, difamação e desacatos se cometidos no exercício da sua atividade. O STF, no entanto, suspendeu a eficácia deste dispositivo no que diz respeito à expressão “desacato”. Conclusão: atualmente, o advogado só está imune pelos crimes de injúria e difamação cometidos no exercício de suas funções. Responde, portanto, pelos crimes de calúnia e desacato, ainda que cometidos no exercício de suas funções.
		A exemplo do que ocorre com a imunidade parlamentar material, o advogado somente é inviolável quanto às suas manifestações quando estas decorrem do estrito exercício da profissão.
Imunidade do Presidente da República:
“Art. 86 da Constituição: Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois terços da Câmara dos Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de responsabilidade.
§ 1º - O Presidente ficará suspenso de suas funções:
I - nas infrações penais comuns, se recebida a denúncia ou queixa-crime pelo Supremo Tribunal Federal;
II - nos crimes de responsabilidade, após a instauração do processo pelo Senado Federal. 
§ 2º - Se, decorrido o prazo de cento e oitenta dias, o julgamento não estiver concluído, cessará o afastamento do Presidente, sem prejuízo do regular prosseguimento do processo.
§ 3º - Enquanto não sobrevier sentença condenatória, nas infrações comuns, o Presidente da República não estará sujeito a prisão.
§ 4º - O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções.”
		O Presidente da República será julgado pelo STF, nos crimes comuns e pelo Senado, nos de responsabilidade (nesse último caso, o Senado será presidido pelo Presidente do STF). No entanto, exige-se a prévia autorização da Câmara dos Deputados pelo voto de dois terços de seus membros (art. 51, I, da CF). 
ARTIGOS COMPLEMENTARES
Eficácia da sentença estrangeira
“Art. 9º - A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na espécie as mesmas conseqüências, pode ser homologada no Brasil para:
I – obrigar o condenado à reparação do dano, a restituição e outros efeitos civis;
II – sujeitá-lo à medida de segurança.
Parágrafo único – A homologação depende:
para os efeitos previstos no inciso I, de pedido da parte interessada;
para os outros efeitos, da existência de tratado de extradição com o país de cuja autoridade judiciária emanou a sentença, ou, na falta de tratado, de requisição do Ministro da Justiça.”
Contagem de prazo
“Art. 10 – O dia de começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum.”
De acordo com esse artigo, o dia de início da pena entra no cômputo do prazo total. Assim, se alguém é condenado a 5 anos de prisão e chega para cumprir o primeiro dia às 23:00 (vinte e três) horas do dia 15 de março de 2003, esse dia15 será o primeiro dia da sua condenação.
Frações não comutáveis na pena
“Art. 11 – Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de direito, as frações de dia, e, na pena de multa, as frações de cruzeiro.”
Esse artigo deixa claro que as frações de dia não entram no cômputo das penas privativas de liberdade, bem como as frações de cruzeiro (atualmente centavos) não entram no cômputo das penas de multa. Assim, ninguém poderá ser condenado a 3 anos, 2 meses e 18 dias de prisão ou a pagar R$ 950,30 (novecentos e cinqüenta reais e trinta centavos) a título de pena de multa. 
Legislação especial
“Art. 12 – As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de modo diverso.”
Esse artigo nada mais é do que o Princípio da Especialidade, ou seja, se houver lei especial regulando o caso, é esta que deve ser aplicada e não a lei geral (lei especial tem primazia sobre lei geral).
QUESTÕES PERTINENTES
1. Assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F) quanto aos princípios da legalidade e da anterioridade da lei penal
( ) O artigo 1º, do Código Penal, que define o princípio da reserva legal, refere-se exclusivamente à chamada lei ordinária, prevista no artigo 59, inciso III, da Constituição Federal.
( ) A legislação penal pátria admite a definição de crimes e penas através de Medida Provisória.
( ) Toda e qualquer norma penal definidora de crime deve ser elaborada de acordo com o processo legislativo vigente. Dessa forma, os Poderes Legislativos estaduais, municipais, federal e distrital não podem desconsiderar as regras que regem a atividade legiferante.
( ) O princípio da legalidade autoriza a utilização da analogia em relação às normas incriminadoras.
( ) O Congresso Nacional, diante da decretação de estado de defesa (artigo 136, CF), edita a Lei nº 11.000/2003, definindo como crime “desonrar as instituições pátrias”, e cominando a pena de 2 a 4 anos de reclusão e multa. 
Referida lei não viola o preceito insculpido no artigo 5º, inciso XXXIX, da Constituição Federal, uma vez que foi observada a prévia existência de lei para que alguém seja julgado e punido.
( ) O Congresso Nacional, diante de uma determinada calamidade pública, editou, em caráter de urgência, lei que definia como crime, no período de noventa dias, a compra de dólares. Tício, por seu turno, é preso em flagrante ao tentar adquirir a referida moeda em uma casa de câmbio clandestina. Nessa hipótese, Tício apenas poderá ser julgado e condenado antes da vigência da mencionada lei, uma vez que, após os noventa dias, terá ocorrido a chamada abolitio criminis.
( ) O Congresso Nacional, diante de grave crise mundial de petróleo, edita a Lei X, descrevendo, como criminoso, o abastecimento mensal superior a 50 litros por veículo, no período de quatro meses. Transcorridos dois meses, no entanto, o Congresso Nacional edita a Lei Y, com vigência de mais dois meses, ampliando o limite anterior para 80 litros por veículo.
Nesse caso, todos aqueles que inobservaram o limite estabelecido nos primeiros dois meses serão julgados e condenados, posto que as leis excepcionais, como no caso, aplicam-se aos fatos praticados durante a sua vigência, nos termos do artigo 3º, do Código Penal.
2. Assinale verdadeiro ou falso com relação à aplicação da lei penal no tempo
( ) O momento da prática do crime se confunde com o momento de sua consumação.
( ) Ticiana, desgostosa e insatisfeita com o término do relacionamento amoroso que mantinha com Lirodiou, decide matá-lo. Utiliza, para tanto, um veneno de efeito prolongado introduzido em sua bebida. Lirodiou, diante da letalidade da substância empregada, morre cinco dias depois, após grande sofrimento no hospital. 
De acordo com a legislação penal brasileira, Ticiana será julgada pela lei vigente no momento do óbito de Liridiou.
( ) Batoré, perigoso menor infrator paulista, um dia antes de seu décimo oitavo aniversário, desfere dezessete facadas em um desafeto seu que apenas morre três dias depois do crime.
Nesse caso, para que o crime hediondo praticado por Batoré não fique impune, deverá ele responder penalmente como se maior fosse, uma vez que o delito se consumou quando ele já era imputável.
3. Marque V ou F de acordo com as normas relativas à aplicação da lei penal no espaço
( ) Mévio, morador da cidade de Santana do Livramente/RS, disfere vários tiros de revólver em seu desafeto Tício, que se encontrava do outro lado da fronteira do Brasil com o Uruguai. A legislação penal brasileira não poderá ser aplicada nesse caso, posto que o resultado do crime ocorreu em território estrangeiro.
( ) O ordenamento jurídico penal brasileiro prevê a possibilidade de que alguém que já cumpriu integralmente a pena imposta por Estado estrangeiro também seja punido no Brasil pelo mesmo fato delituoso.
( ) Juarez Sanches, boliviano naturalizado paraguaio, matou, nas imediações do Setor de Embaixadas Sul, mediante a utilização de veneno, sua esposa irlandesa Carol O’neil. Aplicar-se-á, no caso, a legislação penal paraguaia, porquanto Juarez Sanches tem o direito de ser julgado no país em que se naturalizou e não no país em que nasceu.
( ) O homicídio praticado a bordo de um avião da Varig no momento da aterrissagem no aeroporto de Hethrow, em Londres, jamais poderá ser julgado no Brasil.
( ) O crime de lesões corporais recíprocas praticado por dois franceses a bordo de uma aeronave da British Airways que sobrevoava o espaço aéreo brasileiro, em direção a Buenos Aires, somente poderá ser julgado em face da legislação penal argentina, porquanto se aplica, nesses casos, a lei do país de destino das embarcações e aeronaves privadas. 
4. Quanto à aplicação da lei penal em relação a determinadas pessoas, assinale V ou F
( ) Dispõe o artigo 5º, caput, da CF, que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (...)”. 
Pode-se concluir, daí, que a existência de imunidades diplomáticas contraria o princípio constitucional da igualdade, até mesmo porque a Constituição é expressa em indicar a igualdade entre todos os brasileiros e estrangeiros, sem distinção de qualquer natureza.
( ) A, representante de um determinado Estado estrangeiro em Brasília, contrata, com o objetivo de ceifar a vida de C, os serviços prestados por B, conhecido matador da cidade. Aconselhado por A, B resolve matar C dentro da sede da embaixada. Nesse caso, A e B serão processados e julgados de acordo com as leis do país de A, uma vez que o delito foi cometido em local considerado território estrangeiro, não se aplicando, aí, a lei penal brasileira.
( ) O filho de um embaixador estrangeiro é preso nas dependências da Escola Americana de Brasília logo após desviar enorme montante de dinheiro do Banco do Brasil através da internet. 
Nesse caso, tendo-se em vista a imunidade diplomática, não poderá ele ser julgado de acordo com a lei penal brasileira.
( ) X, membro de comitiva estrangeira em visita ao Brasil, é preso em flagrante no momento em que mantinha conjunção carnal com meninas menores de quatorze anos.
Nesse caso, será aplicada a lei brasileira, porquanto X, apesar de ser representante de Estado estrangeiro, não estava no exercício das atribuições próprias de sua função.
5. (CESPE, STJ, Analista Judiciário, 1999) A respeito da eficácia da lei penal no tempo, assinale a opção incorreta.
	a) Considere a seguinte situação hipotética:
	Durante uma guerra civil, uma lei penal excepcional tipifica como crime “freqüentar um determinado local” . José realiza a conduta punível e, durante a tramitação do processo-crime, termina a guerra civil, ocorrendo a auto-revogação da referida lei. 
Nessa situação, em face do princípio da reserva legal, o agente não pode ser condenado.b) Se Antônio está sendo processado por ter praticado o crime tipificado no art. 149 do Código Penal (CP) e advém lei que deixa de considerar o fato como crime, então, nesse caso ocorre a abolitio criminis, não podendo o agente ser condenado por sua conduta.
	c) Se José praticar um crime para o qual determinada lei comina para pena de reclusão de 1 a 3 anos e, por ocasião do julgamento, passar a vigorar lei nova, regulando o mesmo fato e impondo a pena de reclusão de 2 a 6 anos, então, nesse caso, a lei nova não poderá ser aplicada, em face do princípio da irretroatividade da lei mais severa. 
 d) À lei mais severa aplica-se o princípio da não-extra-atividade, que se compõe dos princípios da irretroatividade e da não-ultra-atividade. 
e) Aplica-se o princípio da retroatividade se o legislador, por meio da nova lei, determina à pena de reclusão o mesmo regime de execução da pena de detenção.
6. (CESPE, STF, Analista Judiciário) A partir do texto acima, julgue os itens seguintes, acerca da aplicação da lei penal e dos conceitos de crime e de contravenção penal.
	I- Em face do dispositivo que as leis costumam trazer com a cláusula – Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação, a nova lei mencionada na notícia, de caráter mais severo, aplicar-se-á imediatamente aos crimes objetos de processos em andamento na data em que vier a ser publicada, desde que receba sanção do presidente da República.
	II- Juridicamente, não havia necessidade da lei nova citada na notícia para tornar mais ágeis por ilícitos eleitorais, porquanto bastaria decreto do presidente da República estabelecendo as novas condições para apenação desses atos.
	III- Se, na vigência da lei nova, um candidato a cargo eletivo praticar fato definido na lei brasileira como ilícito penal mas o fizer no território de um país vizinho, não estará necessariamente imune à aplicação de pena, pois a legislação criminal brasileira não adota, de modo integral e irrestrito, o princípio da territorialidade.
	IV- Apesar de a notícia chamar de crimes os atos ilícitos descritos na nova lei, tecnicamente, eles são, na verdade, contravenções penais, pois, de acordo com a notícia, são objeto de lei específica, não estando inseridos no texto do Código Penal.
	V- Considere a seguinte situação hipotética:
	Pedro foi condenado por crime eleitoral, e a respectiva sentença passou em julgado. Durante a execução da pena, sobreveio nova lei, que revogou o dispositivo da lei anterior a cujas penas Pedro fora sentenciado, deixando de considerar crime os atos nele descritos.
	Nessa situação, Pedro não precisará cumprir o restante da pena, uma vez que a lei nova ser-lhe-á aplicável, não obstante ter transitado em julgado a sentença penal condenatória.
	 
A quantidade de itens certos é igual a:
a) 1	b) 2	c) 3	d) 4	e) 5
7. (CESPE, SSPDF, Agente Penitenciário, 1998) Acerca dos princípios que regem a aplicação da lei penal no tempo, assinale a opção correta.
O enunciado segundo o qual “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal” corresponde ao princípio da legalidade, que não foi acolhido pela lei penal brasileira.
Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, mas em virtude dela não cessará a execução da sentença penal condenatória, se já iniciada.
A lei posterior que de qualquer modo favorecer o agente aplica-se aos fatos anteriores, desde que ainda não decididos por sentença penal transitada em julgado.
A lei posterior mais gravosa para o agente retroagirá para alcançar os fatos anteriores à sua vigência, desde que ainda não decididos por sentença penal condenatória transitada em julgado.
As leis excepecionais e as leis temporais são ultra-ativas, pois são aplicadas aos fatos praticados durante suas vigências, mesmo depois de revogadas.
8. (CESPE, SSPDF, Agente Penitenciário, 1998) Acerca dos princípios que regem a aplicação da lei penal no espaço, assinale a opção incorreta.
Em regra, a lei penal brasileira só é aplicável ao crime cometido no espaço territorial brasileiro.
Segundo o princípio da nacionalidade, a lei penal do Estado é aplicável aos seus cidadãos, onde quer que se encontrem.
Para no princípio da defesa, importa a nacionalidade do bem jurídico lesado pelo crime.
Segundo o princípio da representação, a lei penal de um Estado é também aplicável aos crimes cometidos em território estrangeiro, desde que aí possua representação diplomática.
Para o princípio da justiça penal universal, qualquer Estado tem o poder de punir qualquer crime, sem importar o local da sua prática, a nacionalidade do autor, da vítima ou do bem jurídico tutelado.
9. (AGU, 1998) ( ) A lei penal mais benéfica, para fins estabelecidos na Constituição Federal, há de ser considerada tão-somente a lei que define ou suprime crime e estabelece ou reduz pena.
10. (CESPE, DPF, Agente de Polícia, 1997) ( ) A Constituição, por exigência do princípio da segurança jurídica, não permite a retroatividade da lei penal, em hipótese alguma.
11. (CESPE, DPF, Delegado de Polícia, 1997) ( ) Em face do principio da legalidade não será possível considerar-se, mesmo se em beneficio do acusado, circunstância atenuante relevante que não esteja prevista em lei.
12. (Polícia Civil de Santa Catarina, Perito Criminalístico, 2001) A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu.
13. (CESPE, BACEN, Procurador, 1997) ( ) Tratando-se de crime continuado, aplica-se a lei nova que incidir sobre a série delitiva, ainda que mais grave.
14. (CESPE, BACEN, Procurador, 1997) ( ) Pelo princípio da proteção, os Estados compromentem-se a punir o criminoso que se encontra em seu território, independentemente da sua nacionalidade e do local em que se cometeu o crime.
15. (CESPE, Senado Federal, Analista Legislativo, Área de Advocacia, 1995) ( ) Aplica-se a lei brasileira ao colombiano que, em visita ao Brasil, encontrando-se em Santana do Livramento/RS, dispara um tiro de rifle, com propósito homicida, atingindo um venezuelano que se achava na cidade uruguaia de Rivera e que, cinco dias após, veio a falecer em conseqüência do disparo, em um hospital de Buenos Aires, para onde fora transferido logo após ter sido atingido.
16. (CESPE, Senado Federal, Analista Legislativo, Área de Advocacia, 1995) ( ) As normas relativas à extraterritorialidade da lei penal brasileira são inaplicáveis às contravenções.
17. (CESPE, TCGO, Procurador de Contas, 1999) ( ) Quanto à eficácia da lei penal no espaço, o Código Penal adotou, como regra, o princípio da territorialidade.
GABARITO:
a) F; b) F; c) V; d) F; e) F; f) F; g) F 
a) F; b) F; c) F 
a) F; b) V; c) F; d) F; e) F 
a) F; b) F; c) V; d) F 
a 
b (apenas a os itens III e V estão corretos) 
e 
d 
F 
F 
V 
V 
V
F 
V 
V 
V
TEORIA GERAL DO CRIME
CRIME E CONTRAVENÇÃO
CONTRAVENÇÃO PENAL
	As infrações penais (gênero) constituem certos comportamentos humanos proibidos por lei, sob a ameaça de uma pena, ou seja, são fatos típicos e ilícitos, ou ainda, culpáveis para alguns. 
	No Brasil, que adotou o sistema dicotômico, as infrações penais se classificam em crimes (ou delitos) e contravenções penais. Os primeiros, conforme se verá adiante, são fatos típicos, ilícitos e, para alguns, culpáveis. As contravenções penais também são fatos típicos, ilícitos e culpáveis, para alguns, aos quais a lei comina uma pena. No entanto, enquanto os crimes constituem aquelas infrações penais mais graves, as contravenções penais se referem àquelas condutas menos graves, sendo, inclusive, chamadas pelo direito italiano, de delito anão. 
	Ontologicamente, isto é, na sua essência, não existe diferença substancial entre crime e contravenção, pois um fato que hoje é contravenção pode, no futuro, ser definido como crime. É o caso, por exemplo, do porte de arma. Até 1997, tratava-se de mera contravenção penal. Atualmente, é crime (vide Leinº 10.826, de 22 de dezembro de 2003, que dispõe sobre o registro, posse e comercialização de armas de fogo e munição, sobre o Sistema Nacional de Armas – SINARM, define crimes e dá outras providências). 
	A diferença maior entre crime e contravenção encontra-se na sua conseqüência, ou seja, no tipo de sanção penal cominada a eles. Nos termos da Lei de Introdução ao Código Penal, a pena para a contravenção penal é de prisão simples e/ou multa, ao passo que a pena para os crimes (ou delitos) é de reclusão, detenção e/ou multa. Outra diferença é que, enquanto nos crimes ocorre uma lesão ou um perigo concreto/objetivo, isto é, a probabilidade de ocorrência de uma lesão, nas contravenções penais há apenas um perigo subjetivo, ou seja, aquele perigo abstrato, mera representação mental. 
	Exemplos de crimes: lesão corporal (ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem - art. 129 do CP) e perigo para a vida ou saúde de outrem (expor a vida ou saúde de outrem a perigo direito e iminente - art. 132 do CP). Na lesão corporal existe efetivamente uma lesão a um bem jurídico, ao passo que no art. 132 do CP o que existe é a exposição a um perigo concreto ou objetivo. Já nas contravenções penais não existe nem uma lesão ou perigo concreto, mas tão somente um perigo abstrato, isto é, o perigo de ocorrência de um perigo concreto. É o caso, por exemplo, do art. 31 da Lei de contravenções penais (Deixar em liberdade, confiar à guarda de pessoa inexperiente, ou não guardar com a devida cautela animal perigoso).
Diferenças entre Crimes e Contravenções:
	Por fim, pode-se mencionar algumas diferenças práticas importantes entre os crimes e contravenções. Nestas últimas, a tentativa não é punível (art. 4º do Decreto-Lei nº 3.688/41 – Lei das Contravenções penais), não é punível se o fato ocorre no estrangeiro e o tempo máximo de cumprimento da pena não pode ultrapassar cinco anos. Já os crimes admitem, em regra, tentativa; estão sujeitos à extraterritorialidade e o tempo máximo de cumprimento de pena é de 30 anos.
CONCEITO DE CRIME
O crime pode ser conceituado no seu aspecto formal, material ou analítico:
Conceito Formal: esse conceito é aquele que leva em consideração o crime visto na sua forma, na sua aparência externa. Crime, portanto, é toda ação legalmente punível (é toda conduta que viole uma norma penal incriminadora).
Conceito Material: esse conceito leva em consideração o crime vista na sua essência, na sua substância. Crime é toda ação ou omissão dirigida finalísticamente à produção de determinado resultado, provocando uma lesão ou ameaça de lesão a um bem jurídico individual ou interesse coletivo. 
Conceito Analítico: A maioria dos autores define crime, no seu aspecto analítico, como um Fato Típico, Ilícito e Culpável (isto é, Crime = Fato Típico + Ilicitude ou antijuridicidade + Culpabilidade). Há alguns autores, entretanto, para os quais o Crime é tão somente um Fato Típico e Ilícito. A culpabilidade seria um mero pressuposto para a imposição da pena. 
Observação: Quanto ao conceito analítico, as duas posições estão corretas. Se cair em prova, as duas estarão corretas. No entanto, se o candidato tiver que escolher entre uma ou outra, deve-se dar preferência àquela que vê o Crime como Fato Típico, Ilícito e Culpável, por ser mais completa e seguida pela maioria dos autores. 
CONCEITO ANALÍTICO DE CRIME
Nessa apostila, vamos adotar o conceito analítico de crime como sendo toda conduta humana típica e antijurídica ou ilícita. Partindo dessa definição, façamos uma rápida análise de seus elementos.
FATO TÍPICO
O fato típico é um comportamento humano que produz um resultado (regra) e é prevista na lei penal como infração. Para caracterizar o fato típico é exigida a concorrência de quatro elementos: conduta, resultado, nexo causal e tipicidade. 
A) CONDUTA
	Conduta é a ação ou omissão humana consciente e dirigida a determinada finalidade. Características:
a conduta se refere ao comportamento dos homens, não dos animais irracionais;
só interessa para o direito aquelas condutas humanas que são exteriorizadas. Os pensamentos internos podem importar para a moral, ética, etc., mas não para o direito;
a conduta humana só tem importância para o direito quando voluntária;
o comportamento do agente pode dizer respeito a um movimento (ação) ou a uma abstenção de movimento (omissão).
Existem certos crimes que o agente comete porque faz alguma coisa (são os crimes comissivos). Já outros, o agente só comete justamente porque deixa de fazer alguma coisa que estava obrigado a fazer (são os crimes omissivos). Veremos agora a omissão:
	Os crimes omissivos podem ser:
Puros ou próprios: são aqueles em que o dever jurídico de agir se encontra inserido na própria definição do crime. Eles não precisam de uma complementação externa. Normalmente usam verbos negativos (deixar de, não fazer, etc.). Exemplo: omissão de socorro (art. 135 do CP).
Impuros ou impróprios ou comissivos por omissão: são aqueles em que o dever jurídico de agir não está inserido na própria definição do crime. Eles necessitam de uma complementação externa (precisam de uma norma de extensão – art. 13, § 2º do CP). Dispõe esse dispositivo:
“Art. 13 – O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. 
Superveniência de causa independente
§ 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou.
Relevância da omissão
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:
tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;
de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;
com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.”
Como se pode perceber pela leitura do art. 13 do CP, a omissão só é penalmente relevante quando o agente podia e devia agir e, mesmo assim, não o faz. Exemplo: Se a babá liga par dizer que não vai trabalhar naquele dia, em razão de forte gripe, mas não consegue mais falar com o patrão que saíra dez minutos antes, ela (babá) não responderá caso a criança se machuque por estar sozinha em casa. Nesse caso a empregada não tinha como evitar o resultado, pois não foi trabalhar naquele dia. 
	Iremos estudar agora a tentativa e, posteriormente, o aspecto subjetivo da conduta, ou seja, o dolo e a culpa. 
Observação: Para a teoria finalista, que orienta o Direito Penal Pátrio, encontra-se na conduta o elemento subjetivo do crime, ou seja, o dolo ou a culpa.
TENTATIVA
	De acordo com o art. 14 do CP:
		“Art. 14 – Diz-se o crime:
		Crime Consumado
	I – consumado, quando nele se reúnem todos os elementos da sua definição legal;
		Tentativa
II – tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente.
Pena da Tentativa
Parágrafo único – Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços.”
	A tentativa ocorre quando o agente tenta praticar um crime, porém, por circunstâncias alheias à sua vontade, esse não ocorre. 
Classificação da tentativa:
Tentativa branca ou incruenta: é aquela em que o bem material não é atingido. Exemplo: Pedro dá 5 tiros para matar João e erra todos os cinco tiros;
Tentativa cruenta: é aquela em que o bem material é atingido, mas, mesmo assim, o crime não se consuma por circunstâncias alheias à sua vontade;
Tentativa imperfeita ou tentativa propriamente dita: ocorre quando o agente inicia a execução de um crime e, no meio da execução, é interrompido por circunstâncias alheias à sua vontade. É de se observar que na tentativa imperfeita o agente não praticou todosos atos de execução (não esgotou toda a sua potencialidade lesiva), pois é interrompido em meio à execução. Exemplo: após ferir levemente a vítima com um punhal, o agente no momento em que vai desferir o golpe mortal, é surpreendido por alguém que lhe toma a arma. Na tentativa imperfeita, como o agente é interrompido em meio à execução, ele sabe que não conseguiu realizar o crime. 
Tentativa perfeita ou crime falho: ocorre quando a fase de execução é realizada integralmente pelo agente, mas o resultado não se verifica por circunstâncias alheias à sua vontade. Aqui o agente realiza integramente os atos de execução (esgota toda a sua potencialidade lesiva), mas o crime não se consuma por circunstâncias alheias à sua vontade. Exemplo: Antônio desfecha todos os projéteis de seu revólver na vítima que, atingida, cai no chão. Certo de que está morta, Antônio deixa o local do crime. A vítima, porém, é levada até o hospital por um pedestre, sendo salva por uma intervenção cirúrgica. Na tentativa perfeita, como o agente realiza integralmente os atos de execução, ele pensa que conseguiu praticar o crime. 
Conseqüência da Tentativa:
	Conforme estabelece o parágrafo único do art. 14 do CP, ao crime tentado, salvo disposição em contrário, aplica-se a mesma pena do crime consumado, porém ela será diminuída de um a dois terços. Quanto mais perto o agente chegar de consumar o crime, menor será a diminuição e vice-versa (o critério é inversamente proporcional).
Infrações que não admitem tentativa:
	Algumas infrações não admitem tentativa:
As contravenções penais: De acordo com o art. 4º do Decreto-Lei nº 3.688/41 (Lei das Contravenções Penais), não se pune a tentativa das contravenções;
Crimes culposos;
Crimes preterdolosos;
Crimes habituais;
Crimes omissivos puros ou próprios;
DOLO
“Art. 18 - Diz-se o crime:
Crime doloso
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo; 
Crime Culposo
II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia. 
Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente.”
Agravação pelo Resultado
“Art. 19 – Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde o agente que o houver causado ao menos culposamente.”
CONCEITO DE DOLO: Dolo é a simples vontade de praticar o crime (realizar as características objetivas do tipo) ou, pelo menos, assumir o risco de produzi-lo.
TEORIAS DO DOLO: Existem 3 Teorias que procuram explicar o dolo?
Teoria da Vontade: para essa teoria, age com dolo quem tem consciência do seu comportamento (consegue visualizar, representar mentalmente o resultado), bem como tem vontade de alcançar o resultado;
Teoria da Consciência: segundo essa teoria, para que exista o dolo basta a simples consciência do agente quanto ao ato, pouco importando se ele tem vontade ou não em cometê-lo;
Teoria do assentimento ou do consentimento: para essa teoria, há dolo quando o agente tem consciência do seu ato. Porém, não se exige que ele tenha vontade de produzi-lo, basta que ele assuma o resultado caso ele ocorra. 
Observação: O Brasil adotou a Teoria da Vontade, com relação ao dolo direto, e a Teoria do Assentimento ou Consentimento, com relação ao dolo eventual. 
CLASSIFICAÇÃO DO DOLO:
a) Dolo Direito ou Determinado x Dolo Indireto ou Indeterminado: Dolo direito ou determinado é aquele em que o agente quer ou assume o risco de produzir um resultado certo ou determinado. Exemplo: A dá cinco tiros em B para matá-lo. Já o Dolo indireto ou Indeterminado é aquele em que o agente não quer nem assume o risco de produzir um resultado certo e determinado. Pode ser alternativo ou eventual:
		Alternativo: é aquele em que a conduta do agente se dirige a produzir um ou outro resultado indistintamente. Exemplo: A dá 5 tiros em B para matá-lo ou lesioná-lo (tanto faz). O Brasil não aceita o dolo alternativo. 
		Eventual: é aquele em que o agente não quer produzir o resultado, mas o aceita se ele eventualmente ocorrer. O dolo eventual é muito parecido, mas não se confunde com a culpa consciente. No dolo eventual o agente não quer produzir o resultado, mas o aceita se ele eventualmente ocorrer. Já na culpa consciente o agente não quer produzir o resultado, nem o aceita, de jeito nenhum, se ele eventualmente ocorrer. 
b) Dolo genérico x Dolo específico: O Dolo específico não existe. O dolo é um só (vontade de praticar o crime ou assumir o risco de produzi-lo). O que erroneamente se chama de dolo específico, na verdade é o especial fim de agir do agente (finalidade específica).
c) Dolo de dano x Dolo de perigo: Diz-se que o dolo é de dano quando o agente quis causar um dano ou assumiu o risco de produzi-lo. Já o dolo de perigo é aquele que o agente não quis o resultado nem assumiu o risco de produzi-lo. Ele quis ou assumiu o risco de produzir apenas um perigo de dano (ele não quer causar um dano e sim um perigo de dano).
d) Dolo natural x Dolo normativo: O dolo natural é a simples vontade de praticar o crime, pouco importa se o agente tem ou não consciência da ilicitude (isto é, se tem consciência de que aquilo que faz é ilícito). Ele não contém, portanto, a consciência da ilicitude. Já o dolo normativo é aquele que contém a consciência da ilicitude. 
e) Dolo Geral ou erro sucessivo: ocorre quando o agente, visando a dar causa a um determinado resultado, pratica determinada conduta e, certo de que este já ocorreu, realiza uma segunda conduta, sendo que essa sim é que vem dar causa ao resultado. Exemplo: João dá 5 tiros para matar Pedro, que cai desacordado. Certo de que Pedro está morto e querendo que ninguém ache o corpo, João atira Pedro no rio para esconder o cadáver. Pedro é achado posteriormente pela polícia que, após realizar o exame, descobre que Pedro morreu afogado. Nesse caso, para a maioria dos autores, João responderá pelo crime de homicídio doloso consumado. 
CULPA
Conceito:
Ocorre o crime culposo quando o agente não quer cometer o crime, mas acaba dando causa ao resultado por imprudência, imperícia ou negligência. Poder-se-ia dizer que culposa é a conduta voluntária que produz resultado ilícito, não desejado, mas previsível e, excepcionalmente, previsto, que podia, com a devida atenção, ser evitado. A culpa se dá quando o agente comete o crime “sem querer”.
Requisitos:
Para que se possa falar em crime culposo, indispensável que existam os seguintes requisitos:
Conduta humana voluntária: só há crime culposo se o agente faz ou deixa de fazer algo. Deve existir uma conduta humana voluntária positiva ou negativa;
Falta do dever de cuidado objetivo, manifestado pela imprudência, negligência ou imperícia: os seres humanos, nas suas relações sociais, devem observar certas regras. O dever de cuidado objetivo nada mais é do que o cuidado normal que as pessoas devem ter no seu dia-a-dia. O agente que falta com o dever de cuidado objetivo está agindo imprudentemente (conduta positiva em que o agente faz mais do que devia), negligentemente (conduta negativa em que o agente faz menos do que devia) ou imperitamente (é a imprudência ou negligência no terreno específico da arte, técnica, ofício ou profissão);
Previsibilidade objetiva: é a possibilidade de o homem médio (ser humano de prudência e discernimento normais) antever o resultado lesivo e juridicamente relevante. O juiz, para saber se houve ou não previsibilidade objetiva, verifica se o homem médio cometeria ou não o ato de que o agente está sendo acusado. Em caso de resposta afirmativa, isto é, se o homem médio também cometeria exatamente o mesmo ato de que o agente está sendo acusado, então não há previsibilidade objetiva (pois qualquer pessoa teria cometido aquele ato). Ao contrário, ou seja, caso se verifique que o homem médio não cometeria o mesmo erro, é porque há previsibilidade objetiva, já que uma outra pessoa, no lugar do agente, não cometeria

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