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O contrato de seguro à luz do novo código de defesa doconsumidor e do novo código civil.

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O CONTRATO DE SEGURO À LUZ DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR E
DO NOVO CÓDIGO CIVIL
Luiz Felipe Silveira Difini
Desembargador do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul
Professor Adjunto da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Professor da Escola Superior da Magistratura
SUMÁRIO: Introdução. I. Aplicação do Código de Defesa do Consumidor aos contratos de seguro. 1.
Âmbito  de  aplicação  do C.D.C.:  conceitos  de  consumidor  e  fornecedor. 2.  O  contrato  de  seguro  como
contrato de adesão. 3.  Incidência  do Código de Defesa do Consumidor  nos  contratos de  seguro.  II.  A
disciplina do contrato de seguro no novo Código Civil. 1. Exame de disposições específicas. 2. A regra de
reenvio do art. 777 do Código Civil. 3. Hipóteses de aplicação do Código de Defesa do Consumidor e dos
princípios  gerais.  a)  Prova  do  contrato  de  seguro.  b)  Algumas  aplicações  do  princípio  da  boa­fé  aos
contratos de seguro. Conclusão. Referências bibliográficas.
INTRODUÇÃO
A  noção  de  "indivíduo",  categoria  abstrata,  simbólica  do  individualismo
jurídico do século XIX, como sujeito titular de direito subjetivo, a contrapor­
se  e  sobrepor­se  aos  interesses  de  outrem  ­  correspondente  jurídico  do
liberalismo político, econômico e filosófico ­ vem sendo progressivamente
superada  em  diversos  campos  do  Direito  Privado.  O  Direito  Civil  atual,
antes  de  cogitar  do  indivíduo  sujeito  de  direitos,  preocupa­se  com  a
pessoa  humana,  cuja  dignidade  é  erigida  constitucionalmente  em  valor
fundamental  1.  Por  outro  lado,  à  tradicional  noção  de  "enfrentamento"
entre  os  contratantes,  sujeitos  de  direitos  subjetivos  em  confronto,
contrapõe­se a  idéia de contratos de colaboração, em que as ações das
partes  convergem  para  satisfação  não  excludente  dointeresse  do  "alter"
no processo de cumprimento contratual.
 
 
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A tais modificações, como veremos, não fica alheio o contrato de seguro.
Antes,  mais  se  presta  à  sua  concreta  verificação,  na  medida  em  que
contrato  fundado  na  solidariedade,  que  leva  à  conjunta  assunção  e
conseqüente minimização de riscos individuais.
A concepção clássica do seguro era de contrato aleatório. Neste sentido,
entre  outros  Pedro  Alvim  2,  Maria  Helena  Diniz  3,  Arnaldo  Rizzardo  4,
Jacques  Ghestin  5,  Véronique  Nicolas  6,  Fábio  Ulhôa  Coelho  7,  Isaac
Halperin 8 e Stiglitz 9:
"Finalmente,  classifica­se  os  seguros  entre  os  contratos  aleatórios,
aqueles  em  que  as  partes  não  têm  como  antecipar  como  serão
executados.  De  fato,  nem  seguradora,  nem  segurado  sabem,  ao
contratarem,  se  o  risco  objeto  do  seguro  irá,  ou  não,  manifestarse  em
evento danoso. O sinistro, que tornará exigível a obrigação da sociedade
seguradora,  é  sempre  um  risco  futuro,  isto  é,  evento  incerto  posterior  à
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seguradora,  é  sempre  um  risco  futuro,  isto  é,  evento  incerto  posterior  à
data da contratação (CC, art. 1.432). O segurado não sabe, portanto, ao
celebrar  o  contrato,  se  terá  sido  compensadora  a  despesa  com  o
pagamento do prêmio, ou se a poderia ter economizado; a seguradora, a
seu  turno,  também  não  tem  como  antecipar  se  deverá  arcar  com  o
pagamento  da  prestação  em  favor  daquele  segurado  em  particular.  A
álea, assim, é inerente ao seguro: o contrato só existe na medida em que
é  impossível  às  partes  anteverem  sua  execução.  Note­se  que  tanto
segurado  como  seguradora  mensuram  a  conveniência  econômica  de
contratar ou não a cobertura do risco, e o quanto a verificação do evento
danoso pode interferir com os respectivos interesses, mas isto não altera
em nada a natureza aleatória da avença." 10
Isaac Halperin, por sua vez, sintetiza a noção:
"La alegación que la explotación por una empresa elimina el álea para El
asegurador,  pierde  de  vista  el  contrato,  confundiéndolo  con  la
organización  para  su  explotación  industrial;  por  el  contrario,  esta
organización  supone  el  álea:  como  expresa  VIVANTE,  se  definiría  el
contrato  por  la  característica  de  la  industria.  Aceptar  esta  razón  seria
negar el carácter aleatório del  juego o apuesta explotados por empresas
(loteria, ruleta, carreras de caballos).
 
 
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La circuntancia de que el asegurado se cubra contra el área no excluye La
naturaleza  aleatoria  del  contrato:  justamente  se  protege  contra  ella
mediante un contrato aleatorio, y éste cumple su fin, porque es aleatorio.
Considerando  los contratos aisladamente, es aleatorio  también el seguro
sobre la vida para el caso de muerte, porque si ésta es um hecho fatal, no
se  conoce  la  época em que  se producirá. De ahí  la  incertidumbre en  la
prestación del asegurador, que no existe en  los contratos commutativos,
en  los cuales se da uma equivalencia  inicial, efectiva o presunta, de  los
valores cambiados." 11
Era  também  a  noção  tradicional  na  antiga  jurisprudência  inglesa
("insurance is a contract upon speculation") 12.
Na  doutrina  brasileira  clássica,  Pontes  de  Miranda  também  diz  ser  o
seguro contrato aleatório, mas não justifica a classificação e a explicação
que logo a seguir agrega, parece contradizê­la. 13
Tal concepção pensa o seguro individualmente, quando é da essência do
contrato  a  homogeneização  dos  riscos  mediante  cálculo  atuarial  (a
chamada lei dos grandes números) que elimina álea. 14 Ainda, a obrigação
principal do segurador, antes de reparar sinistro incerto é prestar (desde a
conclusão  do  contrato)  garantia  a  risco  certo.  Por  isto,  significativa
doutrina,  superando  a  antiga  concepção  do  seguro  como  contrato
aleatório,  caracteriza­o  como  contrato  comutativo. Assim  o  fazem,  entre
outros,  Luigi  Farenga  15,  Fábio  Konder  Comparato  16,  Vera  Helena  de
Mello Franco 17, Ernesto Tzirulnilk  18,  Judith Martins­Costa  19, Paulo Luiz
de  Toledo  Pizza  20  e  Antonio  Guilherme  Tanger  Jardim  21.  Vale  a
transcrição da lição de Farenga:
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"De  outra  parte,  também  os  intérpretes  inclinam­se  tradicionalmente  a
definir  o  contrato  de  seguro  como  contrato  aleatório,  categoria  de
contratos  diferenciada pela  incerteza  (álea)  no momento da estipulação,
sobre  qual  das  partes  virá  a  arcar  com  o maior  sacrifício  e  qual  terá  a
maior  vantagem,  com  um  substancial  desequilíbrio  posterior  entre  as
prestações (tipicamente o exemplo do jogo e da aposta).
"Na verdade esta configuração não se mostra completamente satisfatória
em relação à operação de seguro.
"Não  se  pode  falar  verdadeiramente  de  "álea"  no  que  se  refere  ao
segurador,  pois  que  para  este  último  a  ocorrência  dos  sinistros,  e  a
conseqüente  obrigação  de  pagamento  das  indenizações,  constituem
evento amplamente previsto e precisamente calculado com  instrumentos
atuariais. O que não se pode prever é 'qual' dentre os riscos segurados se
tornará  sinistro  a  indenizar;  mas  a  circunstânciaé  absolutamente
indiferente para o segurador.
"Não se pode  falar de álea para o segurado, pois o eventual pagamento
da  indenização  não  constitui  por  certo  uma  vantagem,  mas  simples
reparação  econômica  de  um  dano  inesperado.  Nem  a  inocorrência  do
sinistro  pode  ser  concebida  como  uma  'perda',  representada  pelo  inútil
pagamento do prêmio. Também a segurança no  futuro  tem seu custo: o
segurado paga para encontrar tranqüilidade, não na esperança de que se
verifique o sinistro.
(...)
"Pelo  que  foi  dito  e  precedentemente  ilustrado  no  que  toca  à  particular
organização  das  empresas  de  seguros,  o  tradicional  conceito  básico  do
seguro  como  operação  de  transferência  de  um  risco  do  segurado  ao
segurador, se modifica e se corrige para o de operação de "neutralização"
de um risco próprio do segurado.
"O  segurador  não  arrisca  nada,  porque  os  riscos  são  amortizados  pela
massa  de  prêmios  arrecadados  e  pelo  seu  cálculo  segundo  hipóteses
atuariais.
"O  prêmio  pago  pelo  segurado,  por  sua  vez,  constitui  o  correspectivo
necessário a sustentar os custos desta particular organização empresarial,
enquanto  o  benefício  para  o  segurado  é  imediatamente  perceptível
através  daquela  segurança  e  tranqüilidade  no  futuro  que  compensa  um
sacrifício econômico.
"Em  conclusão,  a  colocação  do  contrato  de  seguro  no  âmbito  dos
contratos aleatórios tem significado só se relacionada ao contrato isolado
e  a  um  componente  da  prestação  do  segurador  (pagamento  da
indenização ou da renda ou do capital). Mas se identificarmos a função do
contrato na neutralização do risco e considerarmos a operação particular
resumida  em  uma  massa  de  riscos  homogêneos,  o  conceito  de
aleatoriedade perde grande parte do seu significado. 22
 
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Fortalece  tal  tendência  o  disposto  no  art.  757  do Código Civil  Brasileiro
(Lei nº 10.406 de 10.01.2002):  "pelo contrato de seguro, o segurador se
obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do
segurado,  relativo  a  pessoa  ou  a  coisa,  contra  riscos  predeterminados".
Confronte­se  com  o  art.  1.432  do  Código  de  1916,  segundo  o  qual
"considera­se  contrato  de  seguro  aquele  pelo  qual  uma  das  uma  das
partes  se  obriga  para  com  a  outra,  mediante  a  paga  de  um  prêmio,  a
indenizá­la do prejuízo resultante de riscos futuros, previstos no contrato".
Enquanto  o  texto  anterior  centrava  a  obrigação  do  segurador  na
indenização de prejuízo (que pode ocorrer ou não), o vigente fulcra­a na
"garantia  de  interesse",  garantia  que  é  sempre  e  de  pronto  (tão  logo
perfectibilizado o contrato) prestada pelo segurador, não se subordinando
à ocorrência ou não do sinistro.
Em suma, como o objetivo visado pelas partes no contrato de seguro não
é o pagamento da indenização (que até ordinariamente não ocorre), mas
a garantia de interesse legítimo contra risco (e este, risco, sempre ocorre)
e a esta garantia é proporcional o prêmio pago, calculado segundo regras
atuariais perfeitamente determináveis, trata­se de contrato comutativo.
Mas a  doutrina  tem sublinhado,  a  par  da  comutatividade do  contrato  de
seguro, outro  traço que o distingue: o de contrato  comunitário. Neste, a
relação  jurídico­econômica  antes  de  se  estabelecer  entre  segurado  e
segurador,  se  dá  entre  segurado  individual  e  o  monte  de  previdência,
assim  entendida  a  poupança  comum  do  grupo  segurado.  E  o  contrato
antes de ser de contraposição de escopo entre segurado e segurador (em
que um pretenderia, quem sabe, a ocorrência do sinistro para  receber a
indenização e o outro sua não ocorrência, para evitar o pagamento) é de
colaboração do conjunto de segurados, que concorrem para a  formação
do monte, para obtenção de sua segurança coletiva 23.
 
 
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Neste sentido, apontam, entre outros, Ovídio Araújo Baptista da Silva  24,
José  Joaquim  Calmon  de  Passos  25,  Judith  Martins­Costa  26,  Rosario
Ippolito 27, que faz a seguinte síntese:
"Em  conclusão,  podemos  repetir  quanto  já  afirmado  em  um  estudo
precedente,  isto  é,  que  a  substancial  unidade  conceitual  do  instituto  do
seguro,  seja  no  plano  funcional  ou  estrutural,  apresenta  como  substrato
econômico­jurídico insubstituível a formação de uma comunhão de riscos
homogêneos, em que o risco coletivo é divisível ­ ou pela parte em que é
divisível  ­  em  risco  individual,  porque  o  risco  individual,  considerado
isoladamente, pode dar lugar a um cálculo de probabilidade, mas nunca a
uma relação de seguro.
"Com  referência  aos  parâmetros  supra­enunciados,  a  concepção  do
seguro  como contrato de massa pode  ser  deduzida no plano dogmático
por analogia com base na doutrina alemã que caracteriza a obrigação do
segurador  como  prestação  de  segurança,  compreensiva  da  prestação
indenizatória eventual  enquanto o  substrato econômico do procedimento
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indenizatória eventual  enquanto o  substrato econômico do procedimento
da mutualidade  técnica,  isto é,  a  formação de uma comunhão de  riscos
homogêneos e a relação jurídica com os outros contratos homogêneos foi
integralmente acolhido no plano normativo no tecido contratual do seguro
mediante prêmio". 28
 
 
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Estes  pressupostos  classificatórios  do  contrato  de  seguro  foram
delineados  nesta  introdução,  pois  terão  implicações  tanto  no  modo  de
interpretação  dos  respectivos  contratos,  como  na  aplicabilidade  ­  e  em
que termos ­ a eles das disposições do Código de Defesa do Consumidor,
questões a serem abordadas no desenvolvimento deste trabalho. Por ora,
apontemos que o exame da  regulação do contrato de seguro se  fará no
campo  da  operatividade,  in concreto,  do  Direito  e  de  regulação  aqui  se
tratará  como  exame  da  normatividade  a  que  sujeito  o  contrato  29.  Para
tanto,  face  à  relevância,  no  direito  pátrio,  da  tutela  consumerista,
examinaremos,  na  primeira  parte,  a  aplicação  do  Código  de  Defesa  do
Consumidor  aos  contratos  de  seguro,  para  o  que  abordaremos  os
conceitos  de  consumidor  e  fornecedor,  a  caracterização  do  contrato  de
seguro  como  de  adesão,  visando  a  alcançar  conclusões  acerca  das
hipóteses de aplicação, ao seguro, da legislação protetiva do consumidor.
Na  segunda  parte,  trataremos  de  aspectos  da  disciplina  do  contrato  de
seguro no novo Código Civil Brasileiro,  inclusive a norma do reenvio art.
777,  que  remete  à  aplicação  do  C.D.C.  e  de  princípios  gerais,
especialmente o da boa­fé.
I. APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR AOS
CONTRATOS DE SEGURO
1. Âmbito de aplicação do C.D.C.: conceitos de consumidor e
fornecedor
Os  conceitos  de  consumidor  e  fornecedor  têm  caráter  relacional:
pressupõem­se  mutuamente.  Assim,  para  caracterização  da  relação
jurídica  de  consumo,  é  preciso  a  presença  conjunta  de  fornecedor  e
consumidor.
No  direito  brasileiro,  as  respectivas  definições  vêm  nos  arts.  2º  e  3º  do
Código de Defesa do Consumidor.  "Consumidor é  toda pessoa  física ou
jurídicaque adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final" 30
­ art. 2º e "fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada,
nacional  ou  estrangeira,  bem  como  os  entes  despersonalizados  que
desenvolvem  atividades  de  produção,  montagem,  criação,  construção,
transformação,  importação,  exportação,  distribuição  ou  comercialização
de produtos ou prestações de serviços" (art. 3º).
 
 
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Em síntese,  fornecedor é quem exerce atividade profissional de alocar a
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Em síntese,  fornecedor é quem exerce atividade profissional de alocar a
outrem  bens  ou  serviços  e  consumidor  quem os  adquire  para  uso  final.
Frise­se  a  necessidade,  face  à  já  sinalada  inter­relacionalidade  dos
conceitos,  da  presença  conjunta  de  contratantes  com  as  recíprocas
qualidades  de  fornecedor  e  consumidor  para  incidência  da  legislação
consumerista.  Assim,  se  o  produto  ou  serviço  for  disponibilizado  por
fornecedor, mas o  comprador  o  utilizar  não  como destinatário  final, mas
como  insumo na produção de outro bem ou serviço, não haverá  relação
de  consumo:  o  contrato  se  quedará  sob  a  égide  do  direito  comercial.
Também se o adquirente dos bens ou  serviços  for  consumidor  (ou  seja,
adquiri­lo  ou  utilizá­lo  como  destinatário  final),  mas  sua  disponibilização
não  for  atividade  profissional  do  outro  contratante,  este  não  será
"fornecedor" no sentido que lhe dá a legislação consumerista, e o contrato
será  regido  pela  legislação  civil  comum,  não pelo C.D.C. Neste  sentido,
reiterada jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça do Rio Grande do
Sul no sentido de que às relações de locação, como regra, não se aplica o
Código de Defesa do Consumidor, porque ordinariamente não constituem
atividade profissional do locador 31.
No  direito  português,  define­se,  com  propriedade,  consumidor  como
pessoa  a  quem  são  fornecidos  bens  ou  serviços,  destinados  a  seu  uso
privado,  por  quem  explora  profissionalmente  atividade  econômica.  No
direito  brasileiro,  os  conceitos  são  mencionados  em  artigos  separados,
embora contíguos e não há regra explícita sobre a natureza relacional dos
conceitos,  mas  o  sentido  é  o  mesmo:  só  há  relação  de  consumo  na
presença  simultânea  de  contratantes  com  a  qualidade  de  fornecedor  e
consumidor.
O contrato de seguro normalmente caracteriza relação de consumo, pois
ordinariamente  o  segurador  é  fornecedor  e  o  segurado  consumidor.  A
matéria será examinada, com maior detalhe, no nº 3, infra.
2. O contrato de seguro como contrato de adesão
Os  contratos  de  adesão  passaram  a  ter  definição  normativa  em  nosso
direito no art. 54 do C.D.C., segundo o qual "contrato de adesão é aquele
cujas  cláusulas  tenham  sido  aprovadas  pela  autoridade  competente  ou
estabelecidas  unilateralmente  pelo  fornecedor  de  produtos  ou  serviços,
sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu
conteúdo".
Stiglitz, citando parcialmente Massimo, define contrato de adesão  "como
aquel  em  que  las  cláusulas  son  dispuestas  por  uno  de  los  futuros
contratantes manera  que  el  outro  no  puede modificarlas  ni  puede  hacer
outra cosa que aceptarlas ou rechazarlas, de tal suerte que este último no
presta  colaboración  alguna  a  la  formación  del  contenido  contractual,
quedando así sustituída  la ordinaria determinación bilateral del contenido
del  vínculo  por  un  simple  acto  de  aceptación  o  adhesión  al  esquema
predeterminado  unilateralmente"  32.  A  definição  é  muito  semelhante
àquela adotada no já citado art. 54 do C.D.C.
 
 
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O CONTRATO DE SEGURO À LUZ DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR E DO NOVO CÓDIGO CIVIL
 
É comum a identificação de contratos de adesão com cláusulas abusivas,
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É comum a identificação de contratos de adesão com cláusulas abusivas,
mas  não  necessariamente  verdadeira.  Se  é  certo  que  nos  contratos  de
adesão,  mais  comumente  encontram­se  cláusulas  abusivas,  também  é
verdade que pode haver contratos de adesão sem cláusulas abusivas (por
exemplo,  através  de  um  eficaz  controle  por  agências  administrativas,
órgãos  de  proteção  ao  consumidor,  pelo  Ministério  Público  e  mesmo
intervenção  judicial  decorrente  em  ações  coletivas  e,  ainda,  em  outros
países,  pela  ação  de  órgãos  como  o  "ombudsman"  ou  o  "Provedor  de
Justiça")  e  que  determinadas  contratações,  por  seu  caráter  massivo,
demandem para sua praticabilidade a contratação por adesão. Mais claro
isto fica no caso do contrato de seguro: seu fundamento, por assim dizer,
é  a  assunção  de  um  conjunto  de  riscos  homogêneos,  permitindo  sua
"diluição"  em  um  grupo  mais  extenso  de  segurados.  O  fundamento  da
possibilidade  de  cálculo  atuarial  é  a  homogeneização  de  riscos:  a
homogeneização demanda contratação padronizada, o que se obtém pela
utilizado  de  contratos  de  adesão  (afora  a  evidente  facilitação  da
instrumentação contratual).
O  uso  de  contratos  de  adesão  é  conseqüência  da  massificação  das
relações  de  consumo,  decorrente  da  expansão  da  oferta  de  bens  e
serviços nas sociedades contemporâneas; no caso do contrato de seguro,
que  se  funda  na  homogeneização,  pela  massificação,  de  riscos
heterogêneos, se individualmente considerados, seu uso é uma imposição
da necessidade de homogeneização (padronização) contratual.
Daí  que  a  luta  contra  as  cláusulas  abusivas  (que  são  seu  aspecto
patológico)  não  deve  ser  confundida  com  a  contratação  predisposta  33,
freqüentemente  conveniente  (por  facilitar  o  tráfego  negocial)  ou
necessária (por necessidade de padronização das relações contratuais).
É o caso do contrato de seguro:
"Quanto  à  primeira  característica,  ressalto  que  é  necessariamente  um
contrato de adesão o seguro, na medida em que o mutualismo ­ isto é, a
socialização  de  riscos  ­  pressupõe  a  contratação  de  uma  quantidade
mínima  de  pessoas  expostas  a  riscos  homogêneos,  em  condições  que
atendam  às  estimativas  resultantes  de  cálculos  atuariais.  Se  cada
segurado negociasse  condições  específicas,  poderia  resultar  frustrada a
socialização  dos  riscos.  Por  outro  lado,  sem  a  adesão  de  significativo
número  de  segurados,  ou  seja,  sem  o  mutualismo,  o  contrato  se
apresentaria  como  sendo  jogo  ou  aposta,  desnaturando­se.  Também  se
caracteriza  o  seguro  como  contrato  de  adesão  em  razão  da  disciplina
legal  e  regulamentar  referente  às  suas  cláusulas,  que  praticamente
elimina  qualquer  margem  de  negociação  entre  as  partes.  Apenas  em
seguros de valores expressivos, normalmente contratados entre segurado
empresário,  de  um  lado,  e  um  conjunto  de  seguradoras,  de  outro  (co­
seguro), verificam­se tratativas preliminares. No mais das vezes, forma­se
o  vínculo  contratual  pela  simples  manifestação  de  concordância  aos
termos  estabelecidos  pela  seguradora,  balizados  pelas  normas  legais  e
regulamentares. Assim, não pode o contrato de seguro conter cláusula de
dispensa  ou  redução  do  prêmio  (LS,  art.  30),  ou  que  faculte  a  rescisão
unilateral  (LS,  art.  13).  O  CNSP,  por  outro  lado,  tem  poderes  para
padronizar as cláusulas e impressos necessários à contratação por bilhete
de seguro (LS, art.10, § 1º), e a SUSEP pode fixar condições de apólices
e tarifas de observância obrigatória (LS, art. 36, c)" 34.
 
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     DOUTRINA
 
Assim,  o  seguro  é  tipicamente  um  contrato  de  adesão. Aliás,  é  o  mais
antigo  contrato  de  adesão  e  a  padronização  é,  no  caso,  da  própria
essência do  contrato,  ao menos no que  tange ao  seguro dos  "riscos de
massa", pois pressupõe um número mínimo de pessoas expostas a riscos
homogêneos.
Se  não  há  como  pretender  que  a  contratação  de  seguros,  ao  menos
quando o objeto da cobertura são os referidos riscos de massa, se dê por
outra  forma que por contratos de adesão,  impõe­se sindicá­los e afastar
dos mesmos as  cláusulas abusivas,  que não  são da essência, mas  sim
aspecto  patológico  da  contratação  por  adesão,  na  feliz  expressão  de
Stiglitz 35.
No  direito  brasileiro,  a  definição  legal  de  cláusula  abusiva,  além  da
listagem  de  disposições  específicas  nos  diversos  incisos  do  art.  51  do
C.D.C.,  está  posta,  sob  a  forma  de  cláusula  geral  no  seu  inciso  IV  que
assim  considera  cláusulas  contratuais  que  "estabeleçam  obrigações
consideradas  iníquas,  abusivas,  que  coloquem  o  consumidor  em
desvantagem  exagerada,  ou  sejam  incompatíveis  com  a  boa­fé  ou  a
eqüidade".  O  legislador  brasileiro,  portanto,  além  de  enumeração
exemplificativa  de  cláusulas  consideradas  abusivas,  introduziu  cláusula
geral  a  considerar  abusiva  disposição  contratual  que  crie  para  o
consumidor  desvantagem exagerada ou  seja  incompatível  com a boa  fé
ou  eqüidade.  Trata­se  de  disjuntiva  (ou):  basta  uma  das  situações,  ou
desvantagem  excessiva  ou  contrariedade  à  boa­fé. A  referência  a  esta
última visa à boa­fé objetiva  (dever de conduta cooperativa com o outro
contratante no atingimento dos objetivos do contrato). Poder­se­ia objetar
que na criação para o consumidor de situação de desvantagem excessiva
já  haveria,  por  si  só,  contrariedade  à  boa­fé  objetiva  (regra  de  conduta
cooperativa): o  legislador, porém,  talvez visando a não deixar margem a
dúvidas,  previu  ambas  as  situações  como,  por  si  só,  bastantes  a
caracterizar a abusividade da cláusula.
 
 
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O CONTRATO DE SEGURO À LUZ DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR E DO NOVO CÓDIGO CIVIL
 
Pois  bem:  o  contrato  de  seguro  necessita  como  se  viu  de  contratação
padronizada. Mas é por outro lado, para Stiglitz, exemplo de negócio que
concentra a maior quantidade de cláusulas abusivas porque, por ser um
contrato  antigo,  as  seguradoras  já  procederam  à  sua  revisão  inúmeras
vezes;  as  apólices  consistem  em  extenso  rol  de  cláusulas  gerais,
facilitando a dissimulação de cláusulas abusivas e freqüentemente, face à
obrigatória  utilização  de  linguagem  e  termos  técnicos,  sua  leitura  e
compreensão oferecem dificuldade ao segurado 36.
A afirmação de ser o seguro a modalidade negocial que concentra a maior
quantidade  de  cláusulas  abusivas  parece­nos,  em  juízo  empírico,
questionável,  face  ao  que  se  tem  visto  na  prática  das  contratações  nos
denominados  negócios  jurídicos  bancários. Por  outro  lado,  no Brasil,  no
ramo dos seguros, a necessidade de prévia aprovação administrativa das
apólices padrão filtra os abusos mais evidentes; mas, como também tem
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apólices padrão filtra os abusos mais evidentes; mas, como também tem
demonstrado a prática, não os elimina. De seu controle, pois, passaremos
a tratar.
3. Incidência do Código de Defesa do Consumidor nos
contratos de seguro
Do  acima  exposto,  podemos  concluir  que  normalmente  o  contrato  de
seguro  constitui  relação  de  consumo,  o  que  ocorre  particularmente  no
seguro  de  "riscos  de  massa".  A  generalização  da  cobertura  securitária
destes e sua própria essência (riscos de massa) faz com que, em termos
quantitativos, a imensa maioria dos contratos de seguro configure relação
de consumo e, por conseguinte, esteja sujeita à incidência das regras do
Código de Defesa do Consumidor.
 
 
206      Revista da AJURIS ­ v. 32 ­ n. 98 ­ Junho/2005
     DOUTRINA
 
Como  norma  geral,  pode­se  dizer  que  o  segurador  enquadra­se  no
conceito de  fornecedor, de vez que exerce profissionalmente a atividade
de  comercialização  do  produto  "seguro",  inclusive  porque  a  atividade  é
privativa  de  sociedades  autorizadas  a  operá­la  pelo  organismo
administrativo  competente.  Então,  se  o  segurado  for  consumidor,  isto  é,
contratar o seguro como destinatário final (em seu benefício e não como
elemento de atividade empresarial), o respectivo contrato de seguro será
relação  de  consumo,  sobre  ele  incidindo  o  C.D.C.  Diversamente,  se  o
segurado  for  empresário  e  contratar  o  seguro  como  garantia  de  sua
atividade  profissional,  empresarial,  o  seguro  será  insumo  para  esta
atividade (e o segurado não será o destinatário  final do produto), não se
configurando  relação  de  consumo.  "Em  outros  termos,  o  contrato  de
seguro  está  sujeito  à  legislação  consumerista  codificada  apenas  se  o
legislador puder se caracterizar, legalmente, como consumidor. Quer dizer,
se o risco objeto de cobertura não for elemento ou atividade empresarial.
Se for empresário o segurado, quer dizer, se o risco coberto for elemento
ou  atividade  empresarial,  caracteriza­se  a  cobertura  como  verdadeiro
insumo. Nesse caso não se aplica o C.D.C 37.
Igualmente  não  incide  o  C.D.C.  quando  é  segurada  a  administração
pública  ou  seus  órgãos.  A  administração,  ontologicamente,  não  será
destinatária ou usuária final do seguro; como a atividade administrativa é
instrumental (a administração não existe como um fim em si mesma, mas
para a prestação de serviços aos administrados, visando à realização de
fins  previstos  no  ordenamento  jurídico,  especialmente  constitucional,
dentre os quais releva, nos Estados Democráticos de Direito, a realização
do  valor  fundamental  da  dignidade  da  pessoa  humana  ­  38),  o  seguro  é
sempre  insumo  (meio)  para  realização  dos  fins  visados  pelo  Estado. A
administração  pública  não  é  consumidor  e  aos  seguros  por  ela
contratados também não se aplica o C.D.C.
 
 
Revista da AJURIS ­ v. 32 ­ n. 98 ­ Junho/2005     207
O CONTRATO DE SEGURO À LUZ DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR E DO NOVO CÓDIGO CIVIL
 
Tampouco  se  aplica  a  legislação  consumerista  aos  seguros  tipicamente
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Tampouco  se  aplica  a  legislação  consumerista  aos  seguros  tipicamente
comunitários.  Ao  final  da  introdução,  apontamos  a  moderna  tendência
doutrinária de classificar o seguro como contrato comutativo e comunitário
39. Pois bem, em todos os contratos de seguro as características (contrato
comutativo  ­ em que há sinalagma de prestações  ­ prêmio e garantia) e
comunitário (em que a garantia resulta de esforço conjunto materializado
no "monte previdenciário" constituído pelo conjunto dos prêmios) estarão
presentes,  mas  com  cargas  variáveis  40.  Assim,  no  seguro,  pode
predominar  o  elemento  comutativo  do  contrato,  quando  gerido  por
sociedade  exercente  de  atividade  empresarial,  com  finalidade  lucrativa,
sendo  sempre  indicativoda  predominância,  mais  ou  menos  marcada,
deste  elemento,  a  margem  ou  amplitude  de  lucro,  mais  ou  menos
exacerbada. Por exemplo, no seguro obrigatório automobilístico (DPVAT)
apenas 20% dos prêmios são utilizados no pagamento de  indenizações,
destinando­se  o  resto  às  mais  variadas  finalidades  41.  Evidentemente,
destinada  tão  ínfima  parcela  dos  prêmios  arrecadados  em  um  seguro
obrigatório ao pagamento das  indenizações, no caso concreto, o caráter
comutativo  deste  contrato  praticamente  se  esvai.  No  outro  extremo,  os
planos  de  seguro­saúde,  mantidos  em  caráter  "cooperativo",  por
entidades associativas, às  vezes  inclusive  sem qualquer  remuneração à
entidade gestora (assim, por exemplo, os planos de assistência à saúde
mantidos  pelas  entidades  associativas  da  magistratura  e  Ministério
Público,  no  Rio  Grande  do  Sul)  são  formas  de  seguro  em  que
absolutamente  preponderante  o  caráter  comunitário.  A  estes
denominamos  contratos  tipicamente  comunitários,  em  que  até  pela
ausência  de  intuito  lucrativo  do  gestor  do  plano,  sequer  pode  ser
considerado fornecedor (por não exercer profissionalmente ­ com escopo
de  lucro  ­  atividade  de  comercialização  do  produto  seguro  ­  de  resto
limitado,  no exemplo dado,  aos membros de determinada  comunidade  ­
no  caso  estamento  profissional),  não  se  lhes  aplicando  a  legislação
consumerista. Do lado oposto, nos contratos em que exacerbado o intuito
de lucro, em relação às parcelas dos prêmios destinados atuarialmente ao
pagamento  das  indenizações  (o  que  constitui  questão  de  fato,  a  ser
examinada  em  cada  caso,  sendo  elemento  relevante  a  análise  da
proporção  dos  prêmios  empregados  na  reparação  dos  sinistros),  o
componente  comunitário  se  esvai,  quando  não  desaparece.  A  estes
(desde  que  o  segurado  seja  consumidor  ­  usuário  final)  aplica­se,  por
óbvio,  o  C.D.C,  impondo­se  ainda  sua  interpretação  marcadamente  no
sentido  protetivo  do  consumidor,  pois  o  outro  contratante  já  está
suficientemente  garantido  pela  pré­estipulação  contratual  e  pela  ampla
margem  de  garantia  econômico­financeira  que  se  autoatribuiu.  Entre  os
extremos, haverá ampla "zona cinzenta", em que, sempre indispensável a
análise  do  caso  concreto,  para  permitir  dosagem  da  interpretação
protetiva  que  possa,  ao  mesmo  tempo,  contrabalançar  eventual
desequilíbrio  contratual  sem  comprometer  a  viabilidade  econômico­
financeira  do  monte  previdenciário  em  suportar  as  indenizações;  aqui,
aplicar­se­á  o  C.D.C.,  mas  se  dosará  ­  em  face  dos  parâmetros  acima
expostos  ­  a  intensidade  da  interpretação  protetiva  ao  consumidor,  que
possa preservar ­ para ambos os contratantes ­ o fim útil do contrato. Em
suma,  com  dosagem  dos  elementos  a  depender  da  verificação  pontual
das  circunstâncias  contratuais  concretas,  deverá  o  julgador  conjugar  a
aplicação do princípio  "in dubio pro segurado", que advém do art. 47 do
C.D.C.  e,  agora,  no  caso  dos  contratos  de  adesão  (que  a  seguir  serão
objeto de nossa apreciação com referência ao contrato de seguro), do art.
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423 do Código Civil, com a natureza e princípios próprios do contrato de
seguro,  em  que  o  segurador  "presta  serviços  de  administração  de  um
fundo  comum  constituído  segundo  critérios  técnicos,  o  qual  deve  ser
preservado  em  benefício  da  coletividade  de  economias  individuais
(segurados)  42. A  ênfase maior  em  um  aspecto  ou  outro  dependerá  da
proeminência,  ou  não,  em  cada  caso  concreto,  da  característica  de
comutatividade no contrato, o que só pode ser apurado mediante exame
de  questões  de  fato  subjacentes  ao  contrato,  especialmente  efetiva
proporção de reversão dos prêmios pagos à materialização das garantias
dos  segurados.  O  ônus  desta  prova  dever  ser  imputado  ao  segurador,
porque detém os elementos técnicos que possibilitam a demonstração.
 
 
208      Revista da AJURIS ­ v. 32 ­ n. 98 ­ Junho/2005
     DOUTRINA
 
De  outro  lado,  o  seguro  normalmente  é  contrato  de  adesão.  Já  foi
salientado, que, no caso de seguros de riscos de massa, esta modalidade
contratual  deriva  da  própria  natureza  do  contrato,  que  obedece  a  uma
técnica de homogeneização (e conseqüente diluição) de riscos, para cuja
obtenção é necessária contratação padronizada. No entanto, em algumas
hipóteses,  o  seguro não  se  caracterizará  como contrato de adesão.  Isto
ocorrerá em seguros de valores expressivos, geralmente contratados por
segurados empresários e normalmente arcados por diversas seguradoras,
em regime de co­seguro. Nestes casos, costuma ocorrer debate preliminar
de  cláusulas  e  negociação  acerca  do  conteúdo  contratual
descaracterizando a contratação por adesão (que supõe, como é sabido,
predisposição do  conteúdo  contratual  por  uma das partes ou autoridade
administrativa  e  impossibilidade  de  sua  discussão  ou  modificação  pelo
aderente).
Por  igual,  em  contratos  específicos  de  seguro,  que  não  se  destinem  à
cobertura  de  riscos massificados,  até  porque  não  há  a  generalidade  de
contratação  que  serve  de  base  à  standardização,  normalmente  haverá
tratativas preliminares, discussão, negociação de cláusulas e construção
bilateral do conteúdo contratual. Assim ocorre, por exemplo, em contratos
de  seguro  celebrados  por  artistas,  desportistas  de  renome  e  outras
personalidades, para garantia de bens que  têm particularidades próprias
de  sua  específica  condição,  não  sendo  passível  de  generalização  a  um
amplo universo de  tomadores de seguros. Exemplificativamente, quando
um  desportista  faz  seguro  de  sua  integridade  física  em  determinado
evento,  ou  uma modelo  de  sua  condição  estética,  cuida­se  de  contrato
com  absoluta  particularidade,  diante  de  condições  personalíssimas  do
segurado,  que  não  se  presta  à  generalização  e  standardização,
resultando  o  contrato  de  negociações  com  a  participação  efetiva  de
ambas as partes em sua elaboração.
 
 
Revista da AJURIS ­ v. 32 ­ n. 98 ­ Junho/2005     209
O CONTRATO DE SEGURO À LUZ DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR E DO NOVO CÓDIGO CIVIL
 
Exame  à  parte  merecem  os  contratos  de  seguro  firmados  pela
administração  pública,  decorrentes  de  licitação.  Normalmente  não
deveriam  ser  caracterizados  como  contratos  de  adesão  (pelo menos  no
sentido de ser o  segurador o pré­disponente),  de vez que seu conteúdo
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sentido de ser o  segurador o pré­disponente),  de vez que seu conteúdo
seria determinado pelo segurado (administração) no edital do certame. A
prática, no entanto, tem demonstrado que, muitas vezes, o edital limita­se
a  reproduzir  cláusulas  padronizadas  de  apólices  predispostas  pelas
seguradoras ou órgão regulador, do setor...Nestes casos, a realidade (em
oposição  ao  esquema  teórico  que  decorreria  de  análise  abstrata  das
características  de  contrato  a  resultar  de  procedimento  licitatório)
demonstra que estamos concretamente diante de contrato de adesão, que
em nada (ou muito pouco) difere daqueles normalmente predispostos pelo
segurador,  devendo­se­lhe  dispensar  (especialmente  quanto  à  sua
interpretação)  idêntico  tratamento  jurídico.  Novamente,  o  direito  e  sua
aplicação  não  podem  prescindir  da  análise,  que  só  pode  se  dar
pontualmente, em cada caso, dos fatos concretos da vida, sobre osquais
incidirão os modelos normativos.
Conclui­se que há casos, pois, (embora excepcionais) em que o contrato
de seguro não se caracteriza como contrato de adesão. A eles pode se
aplicar o Código de Defesa do Consumidor  (desde que presentes,  inter­
relacionalmente  fornecedor  e  consumidor), mas  não  as  normas  próprias
dos contratos de adesão (por exemplo, as regras do art. 54 do C.D.C).
II ­ A DISCIPLINA DO CONTRATO DE SEGURO NO NOVO CÓDIGO
CIVIL
1. Exame de disposições específicas
O Código Civil Brasileiro (Lei 10.406 de 10.01.2002), trata do contrato de
seguro  nos  arts.  757  a  802.  Como  se  sabe,  o  texto  legal  baseia­se
fundamentalmente no substitutivo oferecido por Fábio Konder Comparato
43.  Não  será  objeto  deste  trabalho  o  exame  pontual  ou  comentários
exegéticos  aos  diversos  dispositivos  codificados  sobre  o  tema.
Procuraremos  limitar  nossa  análise  a  alguns  pontos  da  nova  disciplina
legal da matéria, com foco especialmente nas interelações das regras do
Código com o C.D.C. e com os princípios gerais a que o próprio Código
atribuiu peculiar relevância.
Dentre  os  dispositivos  do Código,  destacaremos,  para  este  fim,  os  arts.
757, 758, 769 e §§ 1º e 2º, 781, 788 e a regra de reenvio do art. 777.
 
 
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     DOUTRINA
 
O primeiro (art. 757) parece consubstanciar importante evolução de nosso
direito  legislado.  Com  efeito,  frisa­se  (como  no  direito  anterior)  ser  a
prestação principal do segurado o pagamento do prêmio, mas do lado do
segurador  aponta­se  a  garantia  de  interesse  legítimo  do  segurado,
quando o Código de 1916 ressaltava "a indenização do prejuízo resultante
de  riscos  futuros".  Acentua­se,  pois,  no  Código  a  moderna  tendência
doutrinária de classificar o seguro como contrato comutativo (superando a
tradicional acepção aleatória), compondo­se o sinalagma pelo pagamento
do  prêmio  por  parte  do  segurado  e  a  prestação  pelo  segurador  de
garantia, certa e imediata à conclusão do contrato, na qual se inclui (mas
como um só de seus aspectos) eventual indenização, depende de incerta
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como um só de seus aspectos) eventual indenização, depende de incerta
ocorrência do sinistro.
Já o art. 758 parece caracterizar  involução em nosso direito. Dispõe que
"o  contrato  de  seguro prova­se  com a exibição da apólice  ou bilhete  do
seguro, e, na falta deles, por documento comprobatório do pagamento do
respectivo  prêmio".  Aqui,  a  solução  de  casos  concretos  (por  exemplo,
quando  ainda  não  emitida  apólice  ou  bilhete  e  não  houver  sido  pago
prêmio, v.g., quando concedido prazo para pagamento deste) dependerá
de  aplicação  combinada  de  outros  dispositivos,  inclusive  constantes  do
próprio Código Civil.
As  regras  do  art.  769  e  seus  parágrafos  dizem  com  a  aplicação,  ao
contrato de seguro, da cláusula­geral de boa­fé, que constitui no Código
Civil,  verdadeiro  modelo  jurídico,  pela  proeminência  que  lhe  atribui  o
legislador,  como  objetivo  de  inexorável  reenvio  de  todas  as  disposições
legais sobre matéria contratual, face aos amplíssimos termos do comando
do art. 422, com o qual se imbrica necessariamente o art. 421(  44).
Igualmente,  o  art.  781,  ao  menos  em  sua  exegese  isolada  e  literal  45
proibindo  ultrapasse  a  indenização  o  valor  do  interesse  segurado
contrariaria  jurisprudência  é  mesmo  orientação  administrativa  da
Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça, que inclui entre
as  cláusulas  contratuais  presumidamente  abusivas,  aquela  que  limita  a
indenização securitária ao valor de mercado do bem, quando superior o
limite da apólice que serve de base ao cálculo do prêmio (cláusula nº 12
da relação de cláusulas contratuais consideradas abusivas pela Secretaria
de Direito Econômico).
Finalmente, o art. 788 ao  limitar a possibilidade de ação direta da vítima
contra  o  segurador  aos  seguros  obrigatórios  e  permitir  a  exceção  de
contrato não cumprido pelo segurado desde que promova sua integração
na  lide,  ao menos  em  sua  interpretação  literal,  representaria  retrocesso
diante do avanço doutrinário e  jurisprudencial a permitir, em termos mais
amplos, a propositura de ação direta da vítima contra o causador do dano
46.
 
 
Revista da AJURIS ­ v. 32 ­ n. 98 ­ Junho/2005     211
O CONTRATO DE SEGURO À LUZ DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR E DO NOVO CÓDIGO CIVIL
 
2. A regra de reenvio do art. 777 do Código Civil
Em todas estas hipóteses (e certamente em outras aqui não aventadas),
as  eventuais  deficiências  na  disciplina  específica  do  contrato  de  seguro
encontram possibilidade de superação  (presente o sistema aberto que o
Código  propõe)  pela  aplicação  da  regra  de  reenvio  do  seu  art.  777:  "O
disposto  no  presente  Capítulo  aplica­se,  no  que  couber,  aos  seguros
regidos por leis próprias".
Comparato  imaginava­a  como  norma  a  ressalvar  a  aplicação  de  leis
específicas  (que  regem  determinados  tipos  de  seguros,  objeto  de
normação especial) 47. Seu âmbito de operatividade é mais amplo: permite
a aplicação a par destas, do Código de Defesa do Consumidor  (do qual
então não se cogitava, pois posterior ao Projeto e ao Substitutivo) e das
cláusulas gerais previstas no próprio Código, com geral recorribilidade na
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cláusulas gerais previstas no próprio Código, com geral recorribilidade na
sua aplicação. Testemos a hipótese em algumas situações determinadas.
3. Hipóteses de aplicação do Código de Defesa do
Consumidor e dos princípios gerais
a) Prova do contrato de seguro
O art. 758 já referido dispõe que a prova do contrato de seguro se faz pela
apólice,  pelo  bilhete  ou,  na  sua  falta,  por  documento  comprobatório  do
pagamento do prêmio. O art. 1.433 do Código revogado estatuía que "este
contrato  não  obriga  antes  de  reduzido  a  escrito,  e  considera­se  perfeito
desde que o segurador remete a apólice ao segurado, ou faz nos livros o
lançamento usual da operação".
Mesmo  na  vigência  do  Código  anterior  (que  continha  a  fórmula,  não
acolhida na lei vigente, de que o contrato não obrigava antes de reduzido
a  escrito),  a  melhor  doutrina  já  repelia  a  classificação  do  seguro  como
contrato formal:
"O  contrato  de  seguro  não  é  contrato  formal.  A  forma  é  exigida  ad
probationem,  e  não  ad  substantiam.  Por  isso  mesmo,  pode  ser  feita  a
prova de ter havido a oferta por escrito, com os requisitos legais" 48.
Com mais  razão  agora  que  a  lei  não  diz  que  o  contrato  de  seguro  não
obriga antes de reduzido a escrito, deve­se tê­lo por contrato consensual.
 
 
212      Revista da AJURIS ­ v. 32 ­ n. 98 ­ Junho/2005
     DOUTRINA
 
Terá, todavia, o art. 758 criado excepcional hipótese de prova tarifada para
o contrato de seguro?
A hipótese  (que constituiria  inadmissível  retrocesso) é afastada pela sua
interpretação  sistemática,  inclusive  como  outras  normas  do  próprio
Código, indicada pela norma de reenvio (art. 777).
Assim,  o  art.  111  reza  que  o  "silêncio  importa  anuência,  quando  as
circunstâncias  ou  os  usos  o  autorizarem,  e  não  for  necessária  a
declaração de vontade expressa".
Ora, a praxe no ramo de seguros é a aceitação tácita das propostas pelas
seguradoras, pela simples ausência de recusa: justamente por isto, o art.
2º,  §  2º  do  Decreto  nº  60.459,  de  13.03.1967,  estabelece  o  prazo  de
quinze dias,a partir de aceitação da proposta, para emissão da apólice. E
o art. 774 do Código admite, por uma vez, a renovação tácita do contrato.
O  art.  113,  com  feição  de  cláusula  geral,  diz  que  "os  negócios  jurídicos
devem  ser  interpretados  conforme  a  boa­fé  e  os  usos  do  lugar  de  sua
celebração".
O  art.  212,  por  seu  turno,  estabelece  (em  caráter  exemplificativo,
acrescentamos)  para  prova  de  fato  jurídico,  salvo  o  negócio  a  que  se
impõe forma especial (e o contrato de seguro é, como vimos, consensual):
confissão, documento, testemunha, presunção, perícia.
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E  finalmente,  segundo  o  art.  221,  §  único,  "a  prova  do  instrumento
particular pode suprir­se pelas outras de caráter legal".
Da aplicação sistemática das normas mencionadas, exsurge que os meios
de  prova  previstos  no  art.  758  do  Código    49,  todos  documentos
particulares, podem ser supridos por outros documentos particulares (por
exemplo, certificados de seguro e notas de cobertura, usuais no mercado
e  não  contemplados  no  texto  legal),  ou  pelos  outros  meios  de  prova
admitidos  em  direito,  mesmo  não  escritos:  testemunhas,  confissão,
indícios,  presunções,  perícia  na  contabilidade  do  segurador,  exibição  de
seus livros, etc.
Assim, a real deficiência da redação do art. 758, pode ser superada, pela
aplicação  de  outras  regras  e  das  cláusulas  gerais  previstas  no  próprio
Código, como sistema jurídico aberto que é.
Igualmente,  e  só  a  título  exemplificativo,  a  regra  do  art.  788  deverá  ser
entendida  como hipótese meramente exemplificativa  do uso,  pela  vítima
do  dano,  de  ação  direta  contra  o  segurador  (que,  no  caso  de  seguro
obrigatório  ­  DPVAT  ­  independe mesmo  do  pagamento  do  prêmio  pelo
segurado,  por  força  do  art.  7º  da  Lei  6.194,  de  19.12.1974  ­  com  a
redação da Lei 8.441, de 13.07.1992, aplicável face à regra do art. 777 do
Código),  que  pode  ser  manejada  também  em  casos  de  seguro  não
obrigatório,  como  já  vinha  admitindo  a  jurisprudência  anteriormente  à
vigência do Código.
 
 
Revista da AJURIS ­ v. 32 ­ n. 98 ­ Junho/2005     213
O CONTRATO DE SEGURO À LUZ DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR E DO NOVO CÓDIGO CIVIL
 
b) Algumas aplicações do princípio da boa­fé aos contratos de seguro
A boa­fé,  que  embora  não  contemplada  como  cláusula  geral  no Código
revogado, ao contrário do atual  (art.  422),  sempre se entendeu devesse
presidir a formação de todos os contratos, também sempre se considerou
presente, com maior intensidade, no contrato de seguro. Dele se dizia não
ser  somente  um  contrato  de  bonae  fidei,  mas  de  uberrimae  fidei  ­  50
("utmost good faith").
Mas  enquanto  a  ênfase  nos  primórdios  do  instituto  se  encontrava  na
exatidão das declarações do segurado, privilegiando­se a boa­fé subjetiva,
a ampliação do instituto do seguro, a superação do individualismo jurídico,
o  incremento  do  valor  de  "socialidade"  nos  ordenamentos,  refletindo­se
em  regras  protetivas  do  "consumidor"  e  do  "contratante  aderente"
refletem­se  hoje  na  ênfase  predominante  no  dever  de  cooperação  na
própria elaboração contratual e em seu adimplemento (boa­fé objetiva).
Os  primeiros  contratos  de  seguro,  visavam  a  assegurar  expedições
marítimas  de  longo  curso  e  alto  risco,  no  período  das  grandes
navegações.  O  contrato  então  muito  se  assemelhava  à  aposta,  pela
inexistência  de  conjunto  de  riscos  homogêneos,  que  permitissem,  por
cálculo  atuarial,  estabelecer  previsibilidade  proporcional  dos  riscos.  Sua
avaliação, que à época só podia ser por  juízo de probabilidade  (não por
cálculo atuarial), dependia fundamentalmente de dados sobre a expedição
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só de conhecimento do segurado. Esta realidade, de uma época e (parco)
desenvolvimento  do  contrato  de  seguro,  foram  expressos,  na  Inglaterra,
no  célebre  caso  Carter  v.  Bohem:  "O  seguro  é  um  contrato  sobre
especulação.  Os  fatos  específicos,  sobre  os  quais  a  probabilidade
contingente  será  computada,  são  mais  comumente  conhecidos  apenas
pelo segurado; o segurador confia no seu relato e procede confiando que
ele não oculta nenhuma circunstância de seu conhecimento, para levar o
segurador  a  acreditar  que  esta  circunstância  não  existe  e  induzi­lo  a
avaliar o risco como se ela não existisse" 51.
A ênfase, pois, era na boa­fé subjetiva (exatidão das declarações e crença
­ subjetiva ­ do declarante de que correspondem à verdade). A boa­fé era
aplicada como regra.
O  negócio  de  seguros  se  ampliou.  Os  riscos  cobertos  passaram  a  ser
riscos de massa, homogeneizáveis e apuráveis, na sua proporção com o
universo  segurado,  por  cálculo  atuarial. O  seguro  passou  a  ser  negócio
empresarial,  privativo  de  corporações  autorizadas  a  funcionar  e
fiscalizadas  por  órgãos  administrativos. Multiplicaram­se  os  contratos  de
adesão,  os  Códigos  superaram  o  individualismo  jurídico,  buscando  a
realização  de  valores  (normalmente  de  previsão  constitucional)  de
socialidade,  surgiram  as  legislações  de  proteção  ao  consumidor.  Em
rapidíssimas pinceladas, a tentativa de um "flash" de mais de três séculos
de desenvolvimento do nosso contrato.
 
 
214      Revista da AJURIS ­ v. 32 ­ n. 98 ­ Junho/2005
     DOUTRINA
 
A ênfase se deslocará da boa­fé subjetiva para a boa­fé objetiva, dever de
conduta cooperativa das partes, a impor a cada uma delas o dever de agir,
desde a contratação até o adimplemento do contrato, com consideração
aos  interesses  do  outro  contratante,  de  maneira  a  permitir­lhe  obter  a
utilidade visada pela contratação. A boa­fé se aplicará como princípio.
Assim, encontram­se, é certo, decisões que ainda colocam ênfase na boa­
fé subjetiva frisando que o segurado que omite doença por desconhecê­la
ou não considerá­la como risco efetivo de vida, não viola os princípios da
lealdade e veracidade, ou seja, a  resposta corresponde à  representação
subjetiva que faz da realidade, não agindo com "consciente e deliberada
intenção de fraudar o contrato". Assim, exemplificativamente, decisões do
Tribunal  de  Justiça  do  Rio  Grande  do  Sul  nas  Apelações  cíveis
70000061143  e  70004069365.  Do  primeiro,  destaca­se:  "um  dos
princípios basilares de Direito é o de que a boa­fé nas relações  jurídicas
se presume. E a má­fé há que ser, e sempre, provada. Por evidente, por
quem a alega. O que deveriam ter feito, no caso o réu e a denunciada à
lide. Não se desin cumbiram do encargo processual, sabedoras que eram
que,  para  se  verem  liberadas  da  obrigação  que  assumiram  para  com  a
autora  e  seu  falecido  companheiro,  só  comprovando  que,  ao  contratar,
teriam  agido  com  a  consciente  e  deliberada  intenção  de  fraudar  o
contrato. E  que  o  falecido  segurado  não  só  tinha  ciência  das moléstias
que o acometiam, mas que eram de tal gravidade que poderiam ocasionar
sua morte em curto prazo de tempo" 52. E do segundo: "O segurado que é
dependente de cocaína, ao se declarar em perfeitas condições de saúde
não o faz com má­fé haja vista não considerar a dependência como 'risco
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de vida'. Honestidade e boa­fé nas declarações". 53
No  entanto,  crescentemente,  as  decisões  inclusive  do  Superior  Tribunal
de  Justiça,passam  a  examinar  a  boa­fé  objetiva,  ou  seja,  a  exigência,
também  do  segurador  de  uma  conduta  cooperativa,  com  consideração
aos interesses do segurado e utilizando o instrumental inclusive técnico de
que dispõe para concreta efetivação do escopo do contrato: a garantia do
interesse do segurado.
Assim, em hipótese em que o segurador aceitou a proposta, inobstante o
questionário  sobre  o  estado de  saúde do  segurado  tenha  sido  entregue
em  branco,  decidiu­se:  "A  tese  do  recorrente  é  a  de  que  a  simples
omissão da segurada, ao não preencher o questionário, basta para fazer
incidir o art. 1.444 do Código Civil. Sem razão. Verificando que a segurada
não prestara qualquer informação sobre seu estado de saúde, devolvendo
em branco o questionário, deveria a recorrente ter recusado a proposta de
adesão. A  total  falta de  informações  seria motivo  suficiente para  isso. A
seguradora, contudo, assumiu os riscos de contratar seguro de vida com
pessoa  cujo  estado  de  saúde  era  completamente  desconhecido.  Não
pode, ocorrido o sinistro, pretender eximir­se de  responsabilidade, sob a
alegação de omissão da segurada, uma vez que com ela foi conivente". 54
 
 
Revista da AJURIS ­ v. 32 ­ n. 98 ­ Junho/2005     215
O CONTRATO DE SEGURO À LUZ DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR E DO NOVO CÓDIGO CIVIL
 
De forma mais ampla, o verdadeiro "leading case" no S.T.J. (REsp 86.095­
SP), expressa:
"A empresa que explora planos de saúde e admite associado sem prévio
exame  de  suas  condições  de  saúde,  e  passa  a  receber  as  suas
contribuições,  não  pode,  ao  ser  chamada  ao  pagamento  de  sua
contraprestação,  recusar  a  assistência  devida  sob  a  alegação  de  que  o
segurado deixara de prestar informações sobre o seu estado de saúde.
"A exigência de um comportamento de acordo com a boa­fé recai também
sobre  a  empresa  que  presta  a  assistência,  pois  ela  tem,  mais  do  que
ninguém, condições de conhecer as peculiaridades, as características, a
álea do campo de sua atividade empresarial,  destinada ao  lucro, para o
que  corre  um  risco  que  deve  ser  calculado  antes  de  se  lançar  no
empreendimento.
"O que não se lhe pode permitir é que atue indiscriminadamente, quando
se  trata  de  receber  as  prestações  e  depois  passe  a  exigir  estrito
cumprimento do contrato para afastar a sua obrigação de dar cobertura às
despesas". 55
A decisão é paradigmática no sentido de fundar­se na exigência, por parte
do segurador, de conduta cooperativa, tanto na celebração (no sentido de
fazer real inquérito, com os meios técnicos e materiais disponíveis, sobre
o  risco,  no  caso,  as  condições  efetivas  de  saúde  do  segurado,  não
bastando  questionário  genérico),  como no  cumprimento  do  contrato,  em
que deve agir com consideração aos interesses do outro contratante, não
se  eximindo  de  cumprir  sua  prestação  por  circunstâncias  que  só  agora
investiga,  não  o  tendo  feito  quando  da  conclusão  do  contrato  e
recebimento  da  prestação  do  segurado.  Preserva  ainda,  o  efeito  útil  do
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contrato de seguro que, como vimos, é a efetiva e certa garantia de um
interesse  (não  apenas  o  incerto  pagamento  de  mera  indenização):  o
segurado  presta  pagando  o  prêmio  e  o  segurador  contrapresta,  desde
logo e sempre, garantindo­lhe segurança. Para que este resultado útil seja
alcançado,  devem  ambos  os  contratantes  adotar  conduta  cooperativa,
utilizando todos os meios técnicos e materiais a seu alcance, para que os
interesses  do  alter  na  realização  do  contrato  sejam  atingidos,  pois  tais
são, no contrato de seguro, as exigências da boa­fé objetiva 56. Aplica­se,
pois, a boa­fé como princípio, antes que como regra a restringir­se à mera
veracidade  das  declarações.  Estes  parâmetros  deve  se  ter  sempre
presentes  na  interpretação  dos  arts.  765  e  766  do  Código  Civil,
observando necessária conexão intra­sistemática com a cláusula geral da
boa­fé, posta no art. 422.
 
 
216      Revista da AJURIS ­ v. 32 ­ n. 98 ­ Junho/2005
     DOUTRINA
 
CONCLUSÃO
Do  examinado  no  presente  trabalho  podemos  extrair,  em  apertada
síntese, as seguintes conclusões.
a) O seguro é contrato comutativo e comunitário.
b) A prevalência de seu caráter comutativo ou comunitário é encontrada
pela
valorização dos aspectos fácticos da contratação, em cada caso concreto,
sendo  relevante o exame da efetiva proporção da  reversão dos prêmios
pagos à materialização das garantias dos segurados.
c) O Código de Defesa do Consumidor aplica­se aos contratos de seguro
quando  o  segurado  puder  se  caracterizar  como  consumidor  (final)  e  o
segurador  como  fornecedor,  ou  seja,  constituir  tal  sua  atividade
empresarial, com escopo de lucro.
d)  Excluem­se  da  incidência  do  Código  de  Defesa  do  Consumidor  os
contratos de seguro em que o segurado for empresário (caracterizando­se
a cobertura, nesta hipótese, como insumo de sua atividade empresarial),
quando o segurado for a administração pública e os contratos tipicamente
comunitários.
e) Nos demais contratos, é aplicável o C.D.C. devendo a  intensidade da
carga  "comunitária" do contrato ser avaliada em cada caso concreto, de
molde  a  permitir  dosagem  razoável  da  intensidade  da  interpretação
protetiva, que possa contrabalançar eventual desequilíbrio contratual sem
comprometer a viabilidade econômico­financeira do monte previdenciário.
f) Via de regra, o contrato de seguro caracteriza­se como de adesão; as
exceções  serão  identificadas  pelo  exame  dos  fatos,  mormente  quando
haja  discussão  das  cláusulas  contratuais,  em  seguros  de  riscos
diferenciados  (normalmente  objeto  de  co­seguro)  e  quandoo  contrato
resultar de procedimento licitatório.
 
 
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O CONTRATO DE SEGURO À LUZ DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR E DO NOVO CÓDIGO CIVIL
 
g) A  disciplina  do  contrato  de  seguro  pelo  novo  Código  Civil  Brasileiro
deve  ser  objeto  de  integração,  face  à  regra  de  reenvio  de  seu  art.  777,
com  as  disposições  do  Código  de  Defesa  do  Consumidor,  quando
aplicável, e, sempre, com as cláusulas gerais que constituem o núcleo do
sistema  aberto  do  Código,  como  se  demonstra,  exemplificativamente,
quanto aos temas da prova do contrato e da aplicação a ele do princípio
da boa­fé, superando, inclusive, os limites da simples aplicação da boa­fé
como regra, que decorreria, por exemplo, da interpretação literal e isolada
do art. 766.
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