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Josélia Quintas 2013 O HOSPITAL E O FAZER CLÍNICO: DESAFIOS E POSSIBILIDADES ADOECIMENTO E CRISE A crise despertada pelo adoecimento altera a organização da unidade existencial da pessoa e da família. São momentos nebulosos, de incertezas, de perplexidade, de impotência e ... paralisação. O paciente/família pode apresentar estado emocional alterado embora, na maioria das vezes, transitório. Tal situação pede intervenções clínicas de caráter imediato. O psicólogo presente deverá estar atento ao tipo de resposta adaptativa do paciente em crise. ADOECIMENTO E CRISE Aumento do nível de tensão. Reduz a capacidade de solução imediata para a situação-problema. Interfere na capacidade adaptativa do paciente. Real necessidade de suportar e enfrentar a situação-problema. O AMBIENTE DAS ENFERMARIAS Ambiente tenso e ameaçador na perspectiva do paciente adoecido, da hospitalização, do estranhamento radical, das rupturas, das limitações, das necessidades e procedimentos próprios do tratamento e da patologia. As perspectivas do momento: sentimentos negativos, fantasias de destruição, as perdas iminentes,... eles podem reagir com otimismo... podem ser fatalistas... ...a morte como possibilidade real... ACOLHIMENTO Verbo acolher = atender, receber, dar credito a, dar ouvidos a... Dicionário Básico da Língua Portuguesa. O acolhimento no sentido amplo, concebido em suas várias formas diz que acolher o paciente é ir ao encontro das suas necessidades; é portanto, inespecífico e tarefa de todos os profissionais de saúde. Uma atitude ética! Para a Psicologia acolher é também uma atitude ética, e o paciente poderá, a partir deste momento inicial, ao se sentir acolhido, expressar seu sofrimento e fazer reflexões sobre o momento vivido. A PSICOLOGIA NO HOSPITAL Objetivo: Favorecer a travessia da hospitalização e do tratamento necessário, através dos ajustamentos criativos, adaptativos e solucionadores do paciente em-situação. A PSICOLOGIA NO HOSPITAL Mantemos o domínio técnico-teórico e a identidade profissional. Enfoque sobre a interferência dos aspectos psicológicos nas situações de adoecimento, hospitalização e morte. Atenção para a ações em situação contextualizada. ATENÇÃO PSICOLÓGICA AO PACIENTE O paciente encontra-se vulnerável e se percebe em situação de cuidado. Precisa se reconhecer em-situação.(doente) Poderá fazer reflexões que abram espaço para a compreensão do momento vivido. Poderá encontrar modos e recursos próprios para suportar e enfrentar o momento de dor e sofrimento. E... Assumir a parte que lhe cabe, da responsabilidade por sua saúde e recuperação. ATENÇÃO PSICOLÓGICA “A abordagem psicológica deve ser um processo facilitador para o paciente compreender como as perdas podem ter alterado sua condição adaptativa e emocional, auxiliando-o a contornar ao máximo as dificuldades do dia a dia.” “(...) visa conscientizar o paciente de suas reais possibilidades, buscando a maior independência possível nas diferentes esferas da vida e promovendo participação ativa”. GOMES, PATRÍCIA, PIMENTEL,2013, p.138/139 OS NOVOS PARADIGMAS Nossa tradição... Novos paradigmas... O SUS , a interdisciplinaridade e a Política Nacional de Humanização. A Clínica Ampliada ( Ministério da Saúde). Acolhimento. Plantão Psicológico e Busca Ativa. Atenção Psicológica , Escuta clínica e Intervenções clínicas possíveis, breves e pontuais. CLÍNICA AMPLIADA Um diálogo com a integralidade. Re-combinação de saberes e fazeres especializados e que se complementam para reconhecer os aspectos objetivos e subjetivos do paciente. Está representado pelo trabalho interdisciplinar. Ênfase na qualidade e na sacralidade da vida humana e não nas doenças. Centraliza-se na terapêutica e não na diagnose... E Na comunicação: acolhimento, diálogo e escuta. Apoio inespecífico. CLINICA AMPLIADA É... Compromisso ético. Compromisso com o doente e sua singularidade. Responsabilidade. Propõe que o usuário encontre nos profissionais acolhimento e que mesmo com limitações melhore sua qualidade de vida. Escuta, vínculos de afeto, redução de danos à saúde... Apoio inespecífico e especialidades atuantes. PROGRAMA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO PNHAH (2000) Humaniza SUS – novo modelo de atenção e de gestão das práticas em saúde, seguindo os princípios do SUS. A comunicação é colocada como eixo central do programa. Nova concepção de sujeito e de sua subjetividade: demanda, encontro diálogo e relação intersubjetiva. Atenção ao sujeito biopsicossocial. Ao papel político-social de cada profissional cuidador. O PNHAH – PROJETO-PILOTO Surgiu com o objetivo de promover uma nova cultura de atendimento à saúde a partir das insatisfações dos usuários. Humaniza SUS. Projeto-Piloto em 1999, ampliando para as Secretarias dos Estados e Municípios em 2000 e em 2001 ampliou-se para 96 hospitais em âmbito nacional. Permanece dinâmico com grupos de aperfeiçoamento com representantes gestores dos diferentes Hospitais Públicos. UMA DESCONSTRUÇÃO... Deve ser pensada: Não somente nas relações profissionais de saúde X pacientes X famílias, mas... Na estrutura e cultura organizacional. Na dualidade tecnologia X humano para um cuidado com qualidade. Melhoria das condições de trabalho para os profissionais cuidadores. É um processo demorado, amplo e complexo... Uma desconstrução do instituído. OS DESAFIOS... Estabelecer uma nova ordem relacional, pautada no reconhecimento da alteridade e no diálogo. Cumprimento dos indicadores de qualidade assistenciais já implementados em vários programas de excelência. Manter medidas de humanização em saúde nas instituições. OS DESAFIOS... O exercício da interdisciplinaridade fugindo da saúde fragmentada. Uma comunicação adequada e eficaz. Inclusão da família como participante do tratamento. Atenção ao estado emocional dos familiares e principalmente do cuidador principal. OUTROS DESAFIOS... Humanização Ambiental – medidas que envolem planejamento: O silêncio necessário... Conforto e privacidade. Número de leitos por enfermarias. Decoração adequada. Iluminação, ruídos, temperatura... Horários e fluxo de visitas flexíveis e determinados. Salas de espera e de repouso. OUTRAS POSSIBILIDADES... Brinquedoteca. Musicoterapia. Arte-terapia- Doutores da Alegria. Intervenções Psicológicas individuais e grupais. Serviço de Capelania/ Asistencia Espiritualista. Cuidando do cuidador/ gerenciando do estresse da equipe. CORDEL DO HOSPITAL QUE DECIDIU FAZER HUMANIZAÇÃO... ATUANDO COMO PSICÓLOGO NA SAÚDE Atenção as desadaptações e sintomas pela natureza da situação-problema. Atenção à demanda de sofrimento - Plantão psicológico, entrevistas iniciais, avaliação psicológica, critérios e inclusão para atendimentos sequenciais, atenção à família, orientação, grupos, encaminhamentos. Intervenções clínicas breves e pontuais. Suportivas e de Emergências adequadas ao contexto hospitalar. Manejo ambiental. O FOCO NO HOSPITAL Nem sempre é a doença... É um tema, um problema, o ponto de convergência que aparece no encontro com ênfase no sofrimento e nos sentimentos presentes. Um problema específico a ser cuidado. Uma situação concreta que pede urgência de solução. DESAFIOS E LIMITES... A própria dinâmica das enfermarias e do contexto institucional. Pobres recursos do paciente para enfrentar crises. As circunstâncias e a gravidade da patologia. O contexto psicossocial e a rede de apoio familiar. Limitações do paciente quanto a capacidade de elaboração dos conteúdos psíquicos. Falta de disponibilidade do paciente para os atendimentos. COMO FAZER CLÍNICA NO HOSPITAL? Plantão Psicológico : Acolhe as urgências e oferece continência psicológica. Prática clínica de Atenção Psicológica emergencial e próprias das demandas institucionais. Espaço terapêutico que procura atender a demanda de sofrimento diantedas dificuldades da situação presente. (ANGERAMI; MORATO). PLANTÃO PSICOLÓGICO Inspirado no Aconselhamento Psicológico. Modalidade de atendimento que não requer setting tradicional e nem contrato. Se configura no momento em que a demanda aparece, podendo ser ocasional ou sistemático. Espaço de escuta clínica e de reflexões. Ato em ação com intervenções pontuais que favoreçam a travessia do momento vivido. PLANTÃO PSICOLÓGICO Ação que foge aos pedidos de solicitação para solucionar uma queixa da equipe... Se antecipa com um espaço de escuta clínica e... dá mais autonomia ao psicólogo, portanto, reconhecimento do seu trabalho como cuidado. O hospital é um lugar de passagem...não é psicoterapia; não há os vínculos das psicoterapias tradicionais, o paciente não está em processo. COMO FAZER? Considerar e avaliar a condição emocional do paciente e sua situação orgânica atual. Estabelecer critérios de inclusão e modalidades de intervenções compreensivas necessárias a cada paciente em-situação. Ações de apoio psicológico e suportes imediatos. Acontece nos encontros, pelo cuidado, pela expressão dos sentimentos presentes, contato com a estranheza do momento e nas trocas entre psicólogo/mediador/paciente/família/equipe . COMO FAZER? Adaptações metodológicas. Atender as múltiplas demandas a cada nova situação. Busca as dimensões biopsicossociais saindo do mundo psíquico e da psicopatologia. Atuar clinicamente num espaço multi e interdisciplinar ... Compreendendo as demandas do contexto hospitalar. Sair dos modelos tradicionais de psicoterapia para atenção Psicológica contextualizada e para a Clínica Ampliada... Sem perder a ética da tarefa. APOIO PSICOLÓGICO E MANEJO AMBIENTAL Adequado às situações de crise. Postura mais ativa do terapeuta: continência as expressões, clarificação e reasseguramento , técnicas educativas, diálogo franco e claro... Manejo ambiental... Técnicas complementares como relaxamento, meditação, exercícios respiratórios, leituras ... Atenção e suporte emocional às famílias. APOIO PSIC OLÓGICO Concepções errôneas sobre a psicoterapia de apoio. (superficial, menos preparo do terapeuta...) Objetivos: Promover uma relação entre, positiva e de apoio psicológico. Reforçar aspectos saudáveis, habilidades e novas possibilidades. Reduzir o desconforto subjetivo e disfuncional. Promover independência e autonomia. CAUBY, A.V.S. 2013 INTERVENÇÕES CLÍNICAS NO HOSPITAL Tem um propósito específico amparado na narrativa do cliente e na abordagem clínica do terapeuta. Está baseada na comunicação/expressão do sofrimento, medos, fantasias, estranheza do momento... e na presença do terapeuta como atitude e cuidado. Serão voltadas para as necessidades atuais do paciente (foco). Leva em consideração as condições emocionais do paciente e o que ele suporta! OS DESAFIOS DA PRÁTICA... Preparo técnico atualizado, atender a demanda de sofrimento no cotidiano hospitalar, sem repetir o modelo dos demais profissionais de saúde. Exercitar com cautela as novas modalidades de atendimentos institucionais. Inserir-se no trabalho interdisciplinar sem ferir as rotinas já instutuídas, embora possa interferir dialogando, para modifica-las. O PSICÓLOGO NO HOSPITAL A ética da tarefa está na coerência entre sua metodologia e seus objetivos terapêuticos. - entre seu fazer e as necessidades do paciente. entre o que acontece nos encontros na intersubjetividade. Atenção: -Rapidez na função de síntese. -Saber o que dizer e quando. -Encontrar o sentido do que o paciente quer comunicar. -Cuidar de si... O PSICÓLOGO NO HOSPITAL Estabelecer com o paciente um vínculo protetor, encorajador, e orientador evitando silêncios e distanciamentos. Presença interessada, genuína e interessante; observador, perspicaz e ativo.(provocador de reações e rápido nas intervenções) Com o apoio psicológico busca o fortalecimento das frágeis defesas adaptativas do paciente, que se encontra em situação de vulnerabilidade. Sai da psicoterapia para a atenção psicológica e para a clínica ampliada. CÓDIGO DE ÉTICA DOS PSICÓLOGOS 27 Agosto de 2005 Reflete sobre a importância do papel social do psicólogo, sua inserção à comunidade, com atuação em diversos seguimentos, esclarecendo principalmente seus direitos e deveres. O CÓDIGO DE ÉTICA DOS PSICÓLOGOS Por atuar clinicamente em espaços diferentes da prática tradicional temos no nosso Código : Artigo 1 – deveres fundamentais dos psicólogos. Artigo 2 – o que é vedado. Artigo 6 – o relacionamento com profissionais não psicólogos. A INSTITUIÇÃO HOSPITALAR E A ÉTICA DA TAREFA DO PSICÓLOGO Manter os registros documentais detalhados e bem elaborados, a cada atendimento. Preparo técnico atualizado. Garantir ao paciente o direito ao sigilo. Só aceitar o número de pacientes que for capaz de atender técnica, respeitosa e cuidadosamente. FINALMENTE... “Ótimo que tua mão ajude no voo... mas, que ela jamais se atreva a tomar o lugar das asas...” Dom Helder Câmara REFERÊNCIAS ANDREOLI,P.B.A.; CAUBY,A.V.S. e LACERDA,S.S.(coordenadores) Psicologia hospitalar. Barueri:São Paulo: Manole, 2013. BRASIL. Site do Ministério da Saúde. BOTEGA,N.J. (org.) Prática psiquiátrica no hospital geral:interconsulta e emergência. Porto Alegre: Artmed.2012. BRUSCATO,W.L. (org.) A psicologia na saúde:da atenção primária à alta complexidade. São Paulo: Casa do Psicólogo,2012. ______________ A prática da psicologia hospitalar na Santa Casa de São Paulo: novas páginas em uma antiga história. São Paulo: Casa do Psicólogo.2004. CAMON,V.A.A.;GASPAR,K,C. (org.) Psicologia e Câncer. São Paulo: Casa do Psicólogo. 2013. CORDIOLI,A.V.(editor) Psicoterapias:abordagens atuais. Porto Alegre: Artmed. REFERÊNCIAS ISMAEL,S.M.C.(editora) Psicologia hospitalar : sobre o adoecimento... articulando conceitos com a prática.São Paulo: Atheneu,2013. KNOBEL,E. ;ANDREOLI,P.B.A. E ERLICHMAN,M.R. Psicologia e humanização:assistência aos pacientes graves. São Paulo:Atheneu.2008. MORATO,H.T.P.(og.) Aconselhamento psicológico numa perspectiva fenomenológico existencial;uma introdução.Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,2009. ____________Aconselhamento psicológico centrado na pessoa : novos desafios. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999. QUINTAS,J. Nos corredores de um hospital: a experiência de ser psicóloga numa instituição pública de saúde. Recife:Ed.do autor.2013. ROMANO,B.W. (org.) Manual de psicologia clínica para hospitais. São Paulo:Casa do Psicólogo.2008.
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