Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani Refletindo sobre o uso da Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani 2 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani PARTE I – CONHECIMENTOS SOBRE A LÍNGUA Ciência da comunicação No mundo moderno, a palavra comunicação tornou-se lugar comum e transformou-se em força de extraordinária vitalidade na observação das relações humanas e no comportamento individual. Nos últimos 30 anos, os cientistas aumentaram seu interesse pelo estudo e os efeitos do processo de comunicação. Inicialmente, esse estudo era assistemático, transformando-se depois em subsídio valioso para outras ciências. Provado está que a comunicação é um processo social e, sem ela, a sociedade não existiria. Psicólogos, sociólogos, antropólogos empenharam-se em investigar e compreender sua atuação sobre os grupos humanos. Não existe uma única atividade humana que não seja afetada, ou que não dependa da comunicação. O que é comunicação? A palavra comunicar vem do latim communicare, que significa “pôr em comum”. Depreende-se daí que a essência da palavra comunicar está associada à ideia de convivência, comunidade, relação de grupo, sociedade. Comunicar implica busca de entendimento, de compreensão. Em suma, contato. É uma ligação, transmissão de sentimentos e ideias. Processo de comunicação O ser humano tem necessidade imperiosa de externar seus sentimentos ou ideias. Assim, em sua forma mais simples, o processo de comunicação consiste em um comunicador (emissor, transmissor ou codificador), uma mensagem e um recebedor (Receptador ou decodificador). A mensagem, em certo momento, está separada tanto do recebedor como do comunicador. É um sinal com algum significado para o comunicador que transmite para o recebedor qualquer conceito que este interprete da mensagem. Esses sinais têm um significado convencionado por nós ou pela nossa experiência. Por esse motivo, os sinais de trânsito significam o mesmo para todos os motoristas em todas as partes do mundo. 3 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani Essa é uma norma fundamental da comunicação: os sinais têm o significado que a experiência das pessoas permitem atribuir a esses signos. Enquanto no Ocidente a cor preta representa tristeza, luto, na Índia, ao contrário, o signo representativo desse sentimento é a cor branca. A comunicação, como não poderia deixar de ser, pode ser composta por palavras, cores ou atitudes. Algumas atitudes apresentam significação universal, mas subordinam-se ao contexto em que se manifestam. Uma inclinação do tronco, por exemplo, significa respeito, a menos que venha acompanhada de certo modo de sorrir e, neste caso, passa significar o contrário. As expressões faciais, como o arquear de sobrancelhas, os movimentos dos olhos e boca, dos músculos do rosto ou mesmo acenos da cabeça, muitas vezes, são mais eloquentes que as palavras. Os gestos podem revelar traços individuais de personalidade ou apresentar significados comuns a diferentes povos. Uma pessoa, ao estender a mão para um cumprimento, pode desvendar traços de sua personalidade ao apertar a mão do interlocutor vigorosamente, com força ou veemência, ou apenas tocá-la displicentemente com a ponta dos dedos. Concordar ou discordar com movimentos da cabeça, aplaudir, apontar em uma direção, bater os dedos sobre a mesa, balançar insistentemente um dos pés podem ser interpretados de variadas formas. A forma de caminhar com o tronco curvado, a cabeça pendida e os ombros caídos indicam estado de abatimento ou depressão, oposto ao passo militar, porte ereto, ombros levantados, que podem denotar orgulho, arrogância ou desdém. O corte de cabelo e estilo das roupas usadas também demonstra muito da personalidade ou intenção da pessoa. 4 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani Só a espécie humana fala. E os sons da nossa fala resultam de certas condições propiciadas pelos órgãos da fala, cujo conjunto recebe o nome de aparelho fonador. Ao falar, as pessoas usam a linguagem verbal e, com as palavras, comunicam-se, inclusive em situações complexas, como cirurgias, panes de aviões e viagens pelo espaço sideral. A linguagem não verbal é a que não utiliza palavras; a comunicação é feita por elementos visuais ou sonoros, desenhos, gestos e imagens. Na comunicação diária, as pessoas empregam ao mesmo tempo tanto a linguagem verbal e a não verbal. Por exemplo: quando um professor explica a matéria para seus alunos, além de utilizar palavras, ele gesticula, movimenta-se e usa até a expressão dos olhos e da face. Quando alguém quer se comunicar, pode escolher, portanto, entre as diversas formas de linguagem, dependendo do quer expressar (idéias, sentimentos, impressões) e daquele a quem se dirige (a um colega, a um familiar, a uma autoridade). Todo processo de comunicação é concretizado pelo código que pode ser verbal ou não verbal, também. Para um sinal de código comunicar uma mensagem, é indispensável que ele apresente o mesmo sentido para quem o emite e para quem o recebe. Para que você entenda melhor o significado do código na comunicação, pense na seguinte situação: quando um cliente de um banco digita a senha de sua conta em uma agência ou em um caixa eletrônico, ele recebe permissão de movimentar a conta porque os computadores do banco entenderam que é o correntista que a está acessando. Nessa situação de comunicação, temos os seguintes elementos: O emissor que é o cliente O código que é a senha digital A mensagem para pedir permissão para movimentar a conta bancária O receptor que são os computadores do banco O código é, portanto, um sinal ou um conjunto de sinais por meio dos quais se concretiza a comunicação. 5 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani Língua A língua ou idioma, que cada povo utiliza no seu cotidiano também é um código, um sistema de palavras organizado de forma a estabelecer a comunicação ou permitir, por exemplo, a expressão de um pensamento, uma ideia ou emoção. A língua portuguesa é o nosso código de comunicação, aquele que empregamos diariamente para nos comunicar. Para que a língua seja um código eficiente na comunicação, é necessário que tanto o emissor quanto o receptor a conheçam e a compreendam. Para tanto, cada língua possui regras específicas estabelecidas pela gramática, que devem ser seguidas para tornar a comunicação mais clara e eficiente. Gramática A língua portuguesa é empregada em diversas regiões do mundo por milhões de falantes denominados lusófonos. É claro que essas pessoas a usam de maneiras diferentes e esse uso é válido dentro de algumas formas de comunicação diária, como vimos nos exemplos anteriores. Entretanto, existe um conjunto de normas estabelecidas, há muito tempo, pelos estudiosos de língua portuguesa, que orienta o uso adequado em situações formais, como discursos, correspondências comerciais, documentos, aulas, trabalhos escolares, programas e noticiários de rádio e TV . Esse conjunto de normas recebe o nome de GRAMATICA NORMATIVA. Leia os dois textos a seguir: Trata-se de dois bilhetes que transmitem um recado e estão escritos na língua portuguesa. Ao mesmo tempo, são textos bem diferentes: o primeiro é bastante informal, apresenta alguns erros gramaticais e gírias; o segundo não apresenta erros gramaticais e é mais formal.É provável que o Zé não se ofenda com o “tom” do bilhete 6 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani e nem se incomode com os erros de João; mas não seria conveniente que Maria escrevesse um bilhete parecido com esse para seu chefe. Assim, a gramática é um instrumento que pode ajudar você a se comunicar melhor e da maneira mais adequada com seus amigos, com seu chefe etc. Conhecendo e sabendo usar adequadamente as normas da língua portuguesa, você poderá expressar-se com clareza quando precisar reivindicar os seus direitos ou expor o seu ponto de vista sobre um assunto. O bom conhecimento da língua, incluindo o conhecimento da gramática, é importante para que você seja um elemento participante da sociedade brasileira. Sendo assim, nas provas e trabalhos solicitados no curso de graduação que você está fazendo, somente o uso da língua padrão será aceito e considerado correto. No texto a seguir, os adjetivos estão indicados entre parênteses. Observe os substantivos a que eles se referem e flexione-os adequadamente em gênero – masculino e feminino - e número – singular e plural. O velho pescador era magro e seco, e tinha a parte posterior do pescoço vincada de ______________(profundo) rugas. As manchas____________(escuro) que os raios de sol produzem sempre, nos mares______________(tropical), enchiam-lhe o rosto, estendendo-se ao longo dos braços, e suas mãos estavam____________________(coberto) de cicatrizes _____________(fundo), ______________(causado) pela fricção das linhas _____________(áspero) enganchadas em ____________(pesado) e _____________(enorme) peixes. Mas nenhuma destas____________(imenso) cicatrizes eram recentes. Tudo o que existia era ___________ (velha), com exceção dos olhos , que eram da cor do mar, ________________(alegre) e _________________(indomável). O velho e o mar de Ernest Hemingway Leia o texto da página seguinte: 7 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani 1- Por que a reclamação do Homem Aranha causa espanto nas pessoas que estão no restaurante? ___________________________________________________________________ 2- Na fala do Homem Aranha, que palavra mostra que ele gostaria de ter mais moscas em sua sopa? ___________________________________________________________________ 3- Portanto, o que indica a palavra UMA? ___________________________________________________________________ 4- Se o Homem Aranha dissesse “Garçon, tem uma mosca na minha sopa”, o sentido da palavra UMA seria o mesmo? ___________________________________________________________________ 5- Na frase “Garçom, a mosca que estava voando caiu na minha sopa”, a palavra A generaliza ou particulariza a palavra MOSCA? ___________________________________________________________________ 6- O mesmo acontece na frase “Garçom, tem uma mosca na minha sopa”? Explique ___________________________________________________________________ Veja a ilustração a seguir: 8 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani Considere a linguagem verbal e não verbal do cartum e deduza: a- Quem, provavelmente, é a personagem que está sendo entrevistada? __________________________________________________________________ b- Por que a personagem, nesse contexto, fala em 1ª pessoa do plural? ___________________________________________________________________ c- A inclusão social tem sido bandeira de luta de alguns setores da sociedade brasileira. De que modo o cartunista constrói, a partir desse tema, uma crítica à sociedade brasileira?__________________________________________________________ ___________________________________________________________________ Observe a figura retratada 9 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani 1- Qual é a personagem retratada? ________________________________________________________________ 2- O que ela está fazendo? ________________________________________________________________ 3- Considerando-se que a personagem tem asas, a ação é compatível com ela? Justifique. ________________________________________________________________ Elementos essenciais do processo de comunicação Comunicar envolve uma dinâmica que não pode dispensar as unidades que englobam o processo e que, dissociadas, constituem os elementos mais importantes na comunicação. 1- Fonte Fonte é a origem da mensagem. Exemplo – Ao enviar um telegrama, será a fonte, o redator do mesmo. 2- Emissor Emissor é quem envia a mensagem através da palavra oral ou escrita, gestos, expressões, desenhos etc. O emissor é aquele que emite uma mensagem para um receptor ou destinatário. Pode ser também uma organização informativa, como rádio, TV, estúdio cinematográfico. Exemplo – Ao enviar um telegrama, será emissor o telegrafista que codifica a mensagem. OBS- Geralmente, a fonte coincide com o emissor. Exemplo – Num diálogo, o falante é a fonte e emissor ao mesmo tempo. 3- Mensagem Mensagem é o que a fonte deseja transmitir, podendo ser visual, auditiva ou audiovisual. Serve-se de um código que deve ser estruturado e decifrado. É preciso que a mensagem tenha conteúdo, objetivos e use canal apropriado. Exemplo – No telegrama, a mensagem é o texto. 4- Recebedor / Receptor 10 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani O recebedor (ou receptor) é um elemento muito importante no processo. Pode ser a pessoa que lê, que ouve, um pequeno grupo, um auditório ou uma multidão. O receptor é aquele a quem se dirige a mensagem; aquele que recebe a informação e a decodifica. Ao recebedor ou receptor cabe decodificar a mensagem e dele dependerá, em termos, o êxito da comunicação. Temos que considerar, nesse caso, os agentes externos que independem do recebedor (ruídos, entropia) Exemplo – Ao enviar um telegrama, o recebedor será o telegrafista que decodifica a mensagem. 5- Destino Destino é (são) a (s) pessoa(s) a quem se dirige a mensagem. Exemplo – Ao enviar o telegrama, o destino será o destinatário. Observação – Geralmente, o destino coincide com o recebedor. Exemplo – Num diálogo, o ouvinte é destino e recebedor ao mesmo tempo. 6- Canal Canal é a forma utilizada pela fonte para enviar a mensagem. É o suporte material que possibilita veicular uma mensagem – de um emissor a um receptor. Ele deve ser escolhido cuidadosamente, para assegurar a eficiência e o bom êxito da comunicação. O canal pode ser: Natural – órgãos sensoriais Tecnológico – espacial/temporal Canal tecnológico espacial – leva a mensagem de um lugar para outro, como o rádio, telefone, televisão, fax, internet. Canal tecnológico temporal – Transporta a mensagem de uma época para outra, como os textos, livros, fotografias, fitas gravadas. 7- Código Código é um conjunto de sinais estruturados. É o conjunto de regras convencionais que permitem a comunicação. Especificamente para nós brasileiros, o nosso código de comunicação é a Língua Portuguesa. O código pode ser verbal e não verbal. O código verbal é o que utiliza a palavra falada ou escrita. Exemplos – Português, francês, inglês etc. O código não-verbal é o que não utiliza a palavra. Exemplos – Gestos, sinais de trânsito, expressão facial etc. 11 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani Observe a tirinha a seguir: 1- Explique como se processa a comunicação entre o pesquisador de opinião e o entrevistado. ________________________________________________________________2- Qual o canal de comunicação entre os participantes desse processo interativo? ________________________________________________________________ Ruído – Entropia – Redundância Ruído é toda interferência indesejável na transmissão de uma mensagem. Exemplo – Um borrão na mensagem escrita, uma conversa paralela durante uma aula etc. Entropia é uma desorganização na mensagem. Exemplo – Eu menina uma vi. Redundância é a repetição, objetivando clareza. Confere à comunicação um certo coeficiente de segurança. Exemplo – Aqui, neste lugar, onde tu te encontras com a tua família, aconteceram fatos que mudaram o mundo. Leia a charge de Glauco: 12 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani a- Identifique o emissor da mensagem e o canal por ele utilizado. ________________________________________________________________ b- Quem é o receptor da mensagem? ________________________________________________________________ c- Qual a mensagem? ________________________________________________________________ d- Qual é o assunto (referente) do texto? _______________________________________________________________ e- Que códigos o chargista explora no texto? ________________________________________________________________ f- Que recursos são empregados na produção do humor? ________________________________________________________________ Observe o quadro a seguir do pintor espanhol Salvador Dalí a- Quem é o emissor ou locutor do quadro e quem é o seu receptor ou interlocutor? ________________________________________________________________ b- Qual a mensagem deste texto visual? ________________________________________________________________ c- Qual é o código e o canal utilizados pelo pintor? ________________________________________________________________ 13 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani d- É possível identificar o assunto (referente) da obra? ________________________________________________________________ Observe os textos não verbais a seguir: 1- O 1ª cartum é construído a partir de uma metáfora visual. Observe os elementos que o compõem. a- Que órgão humano é representado pela bomba que está no interior da personagem? ________________________________________________________________ b- Qual é o pavio da bomba? ________________________________________________________________ c- Logo, que tipo de alerta o cartum faz? ________________________________________________________________ d- Entre os elementos que compõem o cartum, existe alguma contradição? Por que? ________________________________________________________________ 2- Observe o 2º cartum. Nele, um avião solta panfletos, difundindo uma campanha de limpeza da cidade. a- Que elemento do cartum é responsável pela criação do humor? _______________________________________________________________ b- Logo, existe contradição entre os elementos do cartum? Por que? ___________________________________________________________________ Importância da comunicação A força da comunicação, no mundo atual, é de uma multiplicidade infinita. Realmente, a todo instante, o homem sofre o impacto desse processo. A vida e o comportamento humano são regidos pela informação, pela persuasão, pela palavra, 14 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani som cores, formas, gestos, expressão facial, símbolos. O entendimento não se faz mais apenas pela língua falada ou escrita, mas também através do rádio, da televisão, do jornal, da música, do cinema, da publicidade. Diríamos mais: hoje, podemos constatar estarrecidos que o código verbal está em crise. Predominam a imagem e a comunicação gestual. Assim, podemos concluir que todas as atividades procuram desenvolver e ampliar as habilidades comunicatórias através de experiências reais de comunicação. Quem se comunica? Só o ser humano se comunica? Embora sabendo que há investigações no sentido de esclarecer se animais ou plantas se comunicam, isso, mesmo que venha a ser comprovado, possivelmente não modificará o critério adotado pelos teóricos da comunicação: só o ser humano se comunica através da língua como código. Linguagem – Língua – Fala Linguagem – é o exercício oriundo da faculdade, inerente ao homem, que lhe possibilita a comunicação. A linguagem é a capacidade que o ser humano tem de se comunicar por meio de uma língua. Embora nem todos os teóricos assumam esse posicionamento, podemos dizer que todo ser humano possui, ao nascer, uma predisposição que faculta a aquisição da mesma (característica inata). A linguagem tem um lado individual e um lado social, sendo possível conceber um sem o outro. Por outro lado sem o convívio social, essa predisposição se atrofia. Assim, tudo indica que a aprendizagem, na criança, se dá por imitação (característica adquirida). Língua – há um instrumento peculiar de comunicação – a língua – distinta da fala, que representa a parte social da linguagem, exterior ao indivíduo, que por si só não pode modificá-la. Língua é forma. É um sistema de signos convencionais usados pelos membros de uma mesma comunidade. Podemos afirmar, então, que a língua é um tipo de código formado por palavras e leis combinatórias por meio do qual as pessoas de uma comunidade se comunicam e interagem entre si. Enquanto a linguagem, como faculdade natural, é um todo heterogêneo, a língua é de natureza homogênea – sistema de signos (código) convencionais e arbitrários. Fala - a fala, ao contrário, é um ato intencional, em nível individual, de vontade e de inteligência. 15 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani Repertório Para que haja comunicação, é necessário que o emissor utilize o mesmo código do recebedor. Mas só isso não basta. É preciso, também, atender ao aspecto repertório como o conjunto vocabular de que se serve o falante para expressar-se. Dessa forma, como é fácil deduzir, o repertório vai variar muito de indivíduo para indivíduo, de grupo para grupo, de região para região. Assim, na língua portuguesa, (código) nem sempre o emissor e recebedor se comunicam, pois, apesar do uso do mesmo código, o repertório pode ser diverso. Língua oral e língua escrita O processo de comunicação pode realizar-se pela linguagem oral ou pela escrita. Embora a língua seja a mesma, a expressão escrita difere muito da oral, sendo ponto pacífico, largamente comprovado, que ninguém fala como escreve ou vice-versa. Algumas características da linguagem oral, tais como entonação, timbre, altura, ênfase, pausas, velocidade de enunciação e muitas outras, são impossíveis de serem representadas graficamente. Essas características podem ser precariamente reproduzidas, apenas, pelos sinais de pontuação, pelo emprego de maiúsculas, negritos, itálicos etc. Na língua falada, além da restrição do vocabulário, não há grande preocupação com as regras gramaticais de concordância, regência e colocação, nem com a clareza das construções sintáticas. (Não estamos afirmando que elas não devam existir!) . Na língua escrita há sempre maior grau de adesão à gramática normativa, preocupação com a clareza, além da riqueza vocabular. Língua falada Língua culta Língua culta é a língua falada pelas pessoas de instrução, niveladas pela escola. Obedece à gramática da língua-padrão. É mais restrita, pois constitui privilégio e conquista cultural de um número reduzido de falantes. Língua coloquial Língua coloquial é a língua espontânea, usada para satisfazer asnecessidades vitais do falante sem muita preocupação com as formas linguísticas. É a língua cotidiana, que comete pequenos, mas perdoáveis, deslizes gramaticais. Língua vulgar ou inculta 16 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani Língua vulgar é própria das pessoas sem instrução. É natural, colorida, expressiva, livre de convenções sociais. É mais palpável, porque envolve o mundo das coisas. Infringe totalmente as convenções gramaticais. Língua regional Língua regional, como o nome já indica, está circunscrita a regiões geográficas, caracterizando-se pelo acento linguístico, que é a soma das qualidades físicas do som (altura, timbre, intensidade). Tem um patrimônio vocabular próprio, típico de cada região. Língua grupal Língua grupal é uma língua hermética, porque pertence a grupos fechados. Língua grupal técnica A língua grupal técnica desloca-se para a escrita. Existem tantas quantas forem as ciências e as profissões: a língua da medicina (como é difícil entender um diagnóstico...), a do direito etc. Esse tipo de língua só é compreendido, quando sua aprendizagem se faz com a profissão. Língua grupal (gíria) Existem tantas quantas forem os grupos fechados. Há a gíria policial, a dos jovens, dos estudantes, dos militares, dos jornalistas etc. OBS – quando a gíria é grosseira, recebe o nome de calão. Língua escrita Língua não literária A língua não-literária apresenta as mesmas características das variantes da língua falada, tais como a língua padrão, coloquial, inculta ou vulgar, regional, grupal, incluindo a gíria e a técnica e tem as mesmas finalidades e registros, como exemplificaremos a seguir: Língua padrão A língua padrão é aquela que envolve e obedece a todos os parâmetros gramaticais. Se pudéssemos solicitar um favor a você... Língua coloquial Me faz um favor: vai ao banco para mim. Língua vulgar ou inculta Uma chícara de assúcar 17 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani Uma bassora Língua regional Deu-lhe com a boleadeira nos cascos, e o piá correu mais que parelhereiro em cancha reta. Língua grupal Língua literária A língua literária é o instrumento utilizado pelos escritores. Principalmente, a partir do modernismo, eles cometeram certas infrações gramaticais que, de modo algum, se confundem com os erros observados nos leigos. Enquanto nestes as incorreções acontecem por ignorância da norma, naqueles as mesmas ocorrem por imposição estilística. Expressões comumente utilizadas e que podem ser consideradas condenáveis Qualquer tipo de expressão, seja ela certa ou errada gramaticalmente ou semanticamente, usada em excesso pode causar antipatia no ouvinte ou, ainda, pior se estiver contida em um texto escrito. A repetição crônica de palavras ou expressões mudou de status. Parte dos cientistas da linguagem deixou de usar o termo vício para condenar o uso exaustivo de cacoetes, que parecem empestear de ruído a comunicação cotidiana, principalmente a oral. O uso repetitivo dessas muletas da fala cotidiana, independente do contexto em que são pronunciadas, tendem a incomodar o ouvinte e a desvalorizar o conteúdo do que está sendo dito. Abaixo, listamos algumas que fazem parte do cotidiano da maioria dos brasileiros e que podem ser consideradas inadequadas, irritantes ou dúbias. Vejamos quais são elas: A nível de Tipo assim Meio que Vou estar estudando – Vamos estar enviando Veja bem, entende? Com certeza! Risco de vida A febre subiu Tirar a pressão 18 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani 19 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani A canção “Monte Castelo”, de Renato Russo, que integrava o grupo Legião Urbana, estabelece diálogos com um soneto de Camões e com um trecho da Bíblia. Conheça e compare os três textos para responder as questões a seguir: Na poesia camoniana, geralmente AMOR (grafado com letra maiúscula) é diferente de amor. Enquanto este é a expressão do sentimento individual e particular de uma pessoa por outra, o AMOR representa uma entidade, o amor ideia, o amor abstrato e universal. A que tipo de amor o soneto de Camões se refere? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ O que chama a atenção no modo como o amor é conceituado nesse poema? ______________________________________________________________________ Dê uma interpretação coerente a cada um destes versos: “É solitário andar por entre a gente.”_________________________________________________________________ “É querer estar preso por vontade.”_______________________________________________________________ “É servir a quem vence, o vencedor”______________________________________________________________ Na última estrofe, o eu lírico identifica um paradoxo na relação que o Amor tem com os amantes. Explique esse paradoxo. ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ A canção de Renato Russo, além de incorporar uma boa parte do soneto de Camões, cita também o trecho da Bíblia reproduzido no texto II, estabelecendo com eles relações de intertextualidade e interdiscursividade. Observe o trecho bíblico no qual Renato Russo se inspirou para compor sua canção. a- Qual é o sentimento ou a virtude humana destacada nesse trecho da Bíblia? __________________________________________________________________ b- Que alteração Renato Russo fez no texto original em relação a esse sentimento ou virtude humana? ___________________________________________________________________ ELEMENTOS NECESSÁRIOS PARA SE ESCREVER BEM E SEM DESLIZES 20 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani Coesão e coerência A unidade de sentido que chamamos de texto é composta por palavras interligadas em uma sequência de ideias e de relações linguísticas. Ou seja, um texto é uma unidade de sentido resultante de um mecanismo de articulação. Ao pensar em articulação, devemos perceber o texto como uma estrutura com diversos segmentos relacionados, ligados uns aos outros. Essas relações se estabelecem em dois planos: o do conteúdo (ideias) e o da amarração (relações linguísticas). No plano das ideias, podemos perguntar, por exemplo, se o adjetivo OTIMO fazendo referência à atuação de um ator em um filme tem relação lógica com o texto com um todo. A ideia que o adjetivo denota amarra-se logicamente ao restante do texto, considerando que ele elogia a atuação do ator. Ou seja, é coerente. Já no plano das relações linguísticas, podemos observar, por exemplo, a função gramatical de termos que servem como elementos de ligação que sem eles, o sentido principal de uma ideia ficaria comprometida. Com a colocação correta de termos e elementos nas frases temos o que chamamos de coesão. Sejamos mais claros: A COESÃO Coesão é a conexão linguística que permite a amarração de ideias. Na organização do texto, as palavras amontoadas ganham sentido pelas relações de dependência que estabelecem entre si. Assim, o esqueleto gramatical sustenta o texto como um todo significativo. A coesão faz uso dos conectivos, ou elementos de coesão, que permitem a ligação das partes do texto. Gramaticalmente, esses elementos de coesão são classificados como pronomes, preposições, advérbios, conjunções. Eles ligampalavras, orações, parágrafos, frases, ao longo do texto, estabelecendo diferentes tipos de relações. A seleção vocabular, ou seja, a escolha de termos, garante outra relação linguística muito importante: a alusão de ideias ou termos antecedentes para evitar redundâncias, a repetição, sem que se perca o sentido. 21 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani A COERÊNCIA A coerência diz respeito ao encadeamento organizado e lógico das ideias do texto. Ela decorre da harmonia estabelecida entre as significações evitando, assim, as contradições. A concatenação dada a partir de uma sequência de ideias relacionadas logicamente, coerentemente, permite transmitir uma linha de pensamento. A coerência tem a ver também com o tipo de texto e sua produção. No caso de textos dissertativos, a coerência se dá pela apresentação concatenada de uma ideia que será defendida, de argumentos que sustentam essa ideia e do remate dado pela conclusão. Tal conformidade interna torna o texto dissertativo coerente e, claro, não contraditório. A base de um texto narrativo é a sequência de ações e a caracterização de personagens que as executam. A coerência vai estar presente nesse tipo de texto na decorrência lógica das ações e da relação entre a ação e o personagem que a executa. Os acontecimentos devem ser verossímeis. Um personagem taxista com fobia de direção não pode ser considerado coerente. Já um texto descritivo apresenta sua coerência textual na relação dos aspectos descritos. Os elementos alvos do retrato verbal funcionam complementando-se, ou seja, se descrevemos uma tarde tipicamente “londrina”, falar de pessoas vestidas com roupas leves e óculos de sol é incoerente. A PERSUASÃO Todo texto deve ser bem construído para que tenha consequências sobre seu interlocutor. Quando falamos, temos uma determinada intenção, isto é, queremos atingir certos objetivos; é essa intencionalidade que vai determinar os recursos que vamos usar para atingir esses objetivos. A escolha de palavras, as combinações, a ênfase, a argumentação, etc. vão ser determinadas pela intenção do autor. A tudo isso podemos chamar de recursos persuasivos. Persuadir é buscar a adesão do interlocutor para um determinado ponto de vista, é tentar convencê-lo de alguma coisa; por isso, nenhum texto é inocente. Nos dias de hoje somos bombardeados pelo discurso persuasivo na política, na propaganda, nos meios econômicos, nas telenovelas, nos filmes da TV. Essas produções vêm carregadas de ideologia: não desejam apenas mostrar produtos, expor conceitos ou apresentar histórias, mas vender ideias e modos de viver. 22 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani A ARGUMENTAÇÃO O ato de argumentar, ou seja, a maneira como o falante organiza seu discurso para chegar a determinadas conclusões, está intimamente ligado a persuasão. A argumentação é a base da persuasão, é sua sustentação. Assim, podemos ver a argumentação como uma estrutura criada deliberadamente, que pressupõe o uso de estratégias linguísticas e racionais. Para que a argumentação seja válida, deve surgir de um raciocínio lógico, que comprove e justifique um ponto de vista, mas deve também estar adequada ao interesse ou a expectativa do interlocutor. Sem a noção do outro como alvo, a argumentação perde a força. O DISCURSO DIRETO O Discurso Direto é a reprodução fiel de algo que alguém disse. É uma citação literal. Para sua introdução, geralmente, são utilizadas marcas gráficas como as aspas e o travessão. Enquanto os travessões incorporam falas com mais vivacidade, falas que parecem recuperar quadros vivos, diálogos entre personagens; as aspas introduzem citações. Na construção de textos jornalísticos e dissertações, o emprego de citações tanto pode reforçar as ideias do conteúdo do texto, como ser uma tentativa do locutor principal de obter objetividade. O DISCURSO INDIRETO O discurso indireto é a reprodução da fala de outrem relacionada a voz do interlocutor principal. As falas no discurso indireto dispensam a vivacidade dando ênfase ao pensamento ou ideia que elas pretendem transmitir. O discurso indireto também apresenta marcas gramaticais típicas: por exemplo, a ausência de aspas ou travessões. TIPOS DE DISCURSO PESSOA DO DISCURSO PONTUAÇÃO DIRETO Marcado pela 1ª pessoa – o locutor fala Emprego de aspas ou travessões INDIRETO Marcado pela 3ª pessoa – a fala do locutor é reproduzida por outrem Não há necessidade de pontuação específica Quanto aos tempos verbais, é importante lembrar que o discurso indireto estará sempre no passado em relação ao direto. Observe o quadro: 23 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani DISCURSO DIRETO DISCURSO INDIRETO Tempo verbal Exemplo Tempo verbal Exemplo Presente do indicativo “Nada nem ninguém me faz sair da frente da TV quando volto do trabalho”, afirma a administradora. Pretérito imperfeito do indicativo A administradora afirmou que nada nem ninguém a fazia sair da frente da TV quando voltava do trabalho. Pretérito perfeito do indicativo “Ele se enganou” – pensou a mãe quando o viu vestido de branco. Pretérito mais que perfeito do indicativo ... a mãe pensou que ele se enganara de dia quando o viu vestido de branco. Futuro do indicativo - Nem sequer descerá do navio – disse-lhe. Futuro do pretérito A mãe lhe disse que nem sequer desceria do navio. Imperativo - Leve um guarda chuva, meu filho Pretérito imperfeito do subjuntivo A mãe recomendou-lhe que levasse um guarda chuva. A DESCRIÇÃO A Descrição se caracteriza por ser o “retrato verbal” de pessoas, objetos, cenas ou ambientes. Trabalha com imagens, permitindo uma visualização do que está sendo descrito. Entretanto, uma descrição não se resume à enumeração pura e simples. É necessário algo mais: o essencial é saber captar o traço distintivo, particular, o que diferencia aquilo descrito de todos os demais de sua espécie. No caso de pessoas, é fundamental um retrato que valorize não só a descrição física, mas também a caracterização psicológica. Portanto, salvo as técnicas, toda descrição revela, em maior ou menor grau, a impressão que o autor tem daquilo que descreve. A NARRAÇÃO A narração é um relato centrado num fato ou acontecimento; há personagem (s) atuando e um narrador que relata a ação. É um tipo de texto marcado pela temporalidade, ou seja, como seu material é o fato e a ação, que envolve personagens, a progressão temporal é essencial para o seu desenrolar: as ações direcionam-se para um 24 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani conflito que requer uma solução, o que nos permite concluir que chegaremos a uma situação nova. Em suma, poderíamos caracterizar este tipo de texto do seguinte modo: CONFLITO RESOLUÇÃO DO CONFLITO MUDANÇA DE SITUAÇÃO Um texto narrativo se caracteriza pela sucessão de acontecimentos numa linha temporal. Assim, contar para alguém como foi o nosso passeio, o que aconteceu com a gente e com outras pessoas, como as coisas terminaram, caracteriza-se como texto narrativo. A DISSERTAÇÃO Muitos dos textos que produzimos, sejam eles escritos ou falados, são motivados pela nossa necessidade de expor um ponto de vista, defender uma ideia ou questionar algum fato. São os chamados textos dissertativos. Quando os produzimos, devemos observar certas normas deorganização bastante particulares. Em geral, para se obter maior clareza na exposição do ponto de vista, distribui-se a matéria em três partes: Introdução – em que se apresenta a ideia ou ponto de vista que será defendido. Desenvolvimento ou Argumentação – em que se desenvolve o ponto de vista (para convencer o leitor, é preciso usar uma sólida argumentação, citar exemplos, recorrer a opiniões de especialistas, fornecer dados, etc) Conclusão – em que se dá um fecho coerente com o desenvolvimento, com os argumentos apresentados. Por suas características, o texto dissertativo requer uma linguagem mais sóbria e sem rodeios (afinal, convence-se o leitor pela força dos argumentos, não pelo cansaço); daí ser preferível o uso da terceira pessoa (caracterizando-se a dissertação objetiva) e com verbos no tempo presente. MUDANDO DE ASSUNTO... Observe a propaganda a seguir: 25 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani Nessa propaganda do dicionário Aurélio, a expressão “boa pra burro” é polissêmica, isto é, possui mais de um sentido possível e remete a uma representação de dicionário. a- Qual é essa representação? Ela é adequada ou inadequada? Justifique. ________________________________________________________________ b- Explique como o uso da expressão “bom pra burro” produz humor nessa propaganda. ________________________________________________________________ Observe a tirinha que se segue: Nessa tirinha de MAFALDA do argentino Quino, o humor é construído fundamentalmente por um produtivo jogo de referência. a- Explicite como o termo “estrangeiro” é entendido pela personagem Mafalda e personagem Manolito. ________________________________________________________________ b- Identifique as palavras que, nessa tirinha, contribuem para a construção desse jogo de referência, explicando o papel delas. ________________________________________________________________ 26 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani Leia os quadrinhos abaixo: 1- Nessa tira, há duas personagens em situação de diálogo. a- No primeiro quadrinho, quem é o personagem que fala, ou seja, quem é o locutor? ________________________________________________________________ b- Ainda no primeiro quadrinho, quem faz o papel de ouvinte, ou seja, de interlocutor? ________________________________________________________________ c- Quem exerce o papel de locutor e o de interlocutor no segundo quadrinho? ________________________________________________________________ d- Ambas as personagens, quando são locutoras, têm uma mensagem para transmitir. Qual é a mensagem de cada uma? ________________________________________________________________ e- Somente no terceiro quadrinho o diálogo entre as personagens faz sentido. É nele que se constrói o humor da tira. Explique como e por quê? ________________________________________________________________ Veja os quadrinhos a seguir: 27 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani 1- Procure descrever o que faz a personagem Rose nesta sequência de quatro quadrinhos_______________________________________________________ ________________________________________________________________ 2- Em que quadrinho se estabelece o humor da tira? Como ele acontece? ________________________________________________________________ 3- De que recursos o quadrinista se utilizou para transmitir sua mensagem? ________________________________________________________________ Antigamente... Carlos Drummond de Andrade “Antigamente as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo não sendo rapagões, faziam-lhe pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio. E se levavam tábua, o remédio era tirar o cavalo da chuva e ir pregar em outra freguesia. As pessoas, quando corriam, antigamente era para tirar o pai da forca, e não caiam do cavalo magro. Algumas jogavam verde para colher maduro, e sabiam com quantos paus se faz uma canoa. O que não impedia que, nesses entrementes, esse ou aquele embarcasse em canoa furada.” 1- Você reconhece todas as palavras e expressões utilizadas pelo autor? Quais delas você desconhece? Por quê?_____________________________________________________________ 2- Há muitos ditados populares citados no texto. Identifique-os. Eles são utilizados atualmente? Cite alguns, falados nos dias atuais.___________________________________________________________ 3- Faça uma paródia do texto Antigamente, agora com o título Atualmente. Vamos discutir o aspecto da variação histórica da língua. 28 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani Leia a música abaixo: Língua Gosto de sentir a minha língua roçar A língua de Luís de Camões. Gosto de ser e de estar E quero me dedicar A criar confusões de prosódia E uma profusão de paródias Que encurtem dores E furtem cores como camaleões. Gosto do Pessoa na pessoa Da rosa no Rosa, E sei que a poesia está para a prosa Assim como o amor está para a amizade. E quem há de negar que esta lhe é superior? E deixa os portugais morrerem à mingua, “Minha pátria é a minha língua” - Fala, Mangueira! Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó O que quer O que pode Esta língua? Caetano Veloso, 1984. Curiosidades sobre a música de Caetano Veloso 1- Diga quem são ou o que são: a- Luís de Camões:- _____________________________________________________________ b- Paródias:- _____________________________________________________________ c- Camaleões:- _____________________________________________________________ 29 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani d- Pessoa:- ____________________________________________________________ e- Rosa:- _____________________________________________________________ f- Mangueira:- _____________________________________________________________ O que significa... Minha pátria é minha língua___________________________________________________________ Lusamérica latim____________________________________________________________ A tira nos mostra os personagens Hagar e Helga, marido e mulher. a- O que eles estão fazendo?_________________________________________________________ b- Em resumo, qual é o assunto da conversa de Hagar nos três primeiros quadrinhos? ________________________________________________________________ c- A reclamação de Hagar provoca uma reação em Helga que lhe diz “Estou grávida”. Considerando a situação, qual foi a intenção dela ao dizer isso ao marido? ________________________________________________________________ d- Numa situação de comunicação, há, pelo menos, duas pessoas interagindo por meio da linguagem: o locutor ou emissor, aquele que fala, e o receptor, aquele com quem se fala. Para que a comunicação se realize com sucesso, é necessário que cada um deles compreenda bem o que o outro diz. Pelo comportamento de Hagar, é possível dizer que ele ouviu o que Helga lhe disse. Entretanto, Hagar 30 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani teria compreendido a intenção dela? Por que? ________________________________________________________________ ________________________________________________________________Leia a letra desta canção, do compositor Zeca Baleiro: Heavy metal do Senhor O cara mais underground que eu conheço é o diabo que no inferno toca cover das canções celestiais com sua banda formada só por anjos decaídos enquanto isso Deus brinca de gangorra no playground do céu com os santos que já foram homens de pecado de repente os santos falam “toca Deus um som maneiro” e Deus fala “aguenta vou rolar um pesado” a banda cover do diabo acho que já ta por fora o mercado ta de olho é no som que Deus criou com trombetas distorcidas e harpas envenenadas mundo inteiro vai pirar com o heavy metal do Senhor De forma divertida e bem humorada, o texto opõe as duas forças que, em nossa cultura, representam o bem e o mal – Deus e o diabo. Essa oposição, no texto, transforma-se numa composição musical. a- Inicialmente, quem gostava de tocar músicas? Que tipo de músicas gostava?______________________________________________________________ b- Posteriormente, quem passou a tocar músicas? Por quem foi motivado? ___________________________________________________________________ c- O cruzamento dessas duas forças não se dá apenas no plano de conteúdo. No plano da expressão, temos como suporte linguístico o cruzamento de três tipos diferentes de dialetos sociais. A que grupo social está associado o uso de palavras e expressões como: underground, com som pesado, heavy metal? ______________________________________________________________________ inferno, canções celestiais, anjos, Deus, santos, homens decaídos, senhor? ______________________________________________________________________ 31 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani cara, cover, pega fogo, maneiro, rolar, ta de olho, envenenadas, pirar? ______________________________________________________________________ No texto, lemos expressões como “trombetas distorcidas” e “harpas envenenadas”, empregadas na última estrofe. d- Dê o sentido das palavras distorcidas e envenenadas nos seguintes contextos: Fez um som muito louco com uma guitarra distorcida Tem um motor envenenado que é um perigo e- Por que essas palavras provocam humor quando acompanham, respectivamente, trombetas e harpas___________________________________________________________ f- Na disputa musical entre Deus e o diabo, quem sai vencedor? ________________________________________________________________ g- No último verso se lê “mundo inteiro vai pirar com o heavy metal do senhor”. Observe, em suas respostas da questão C, a que grupos sociais se vinculam as palavras pirar, heavy metal e senhor. Em seguida, responda: o som de Deus vai agradar a todos? Justifique. ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ Leia este anúncio para responder às questões: 32 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani 1- Ao lado da imagem do anúncio, há um enunciado verbal organizado em torno da expressão “Mulher Tupperware”. A que tipo de texto se assemelha esse enunciado? ________________________________________________________________ 2- A intenção principal do anunciante é promover os produtos de sua marca – recipientes de plástico, com tampa, que servem para guardar alimentos em geladeiras e freezers ou para descongelar alimentos em micro-ondas. Qual é o público alvo desse anúncio? ________________________________________________________________ 3- Ao associar a palavra mulher à marca dos produtos oferecidos, o anunciante sugere que seu produto se destina a um tipo específico de mulher. Que perfil é esse? Comprove sua resposta com elementos do texto.____________________________________________________________ ________________________________________________________________ 4- Que “argumentos” o anunciante implicitamente utiliza para convencer as mulheres a consumir seu produto? ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ 5- Apesar do texto verbal se voltar à conceituação do que seja uma “mulher tupperware”, é possível perceber nele algumas pistas de que sua verdadeira intencionalidade é promover os produtos Tupperware. Identifique essas pistas. ________________________________________________________________ 6- Em sua opinião, as mulheres que leram o anúncio podem ter se sentido motivadas a comprar os produtos dessa marca? _______________________________________________________________ Leia a tira a seguir: 33 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani 1- No 1º balão, Hagar diz que seu filho é “afiado como uma lamina”. A que se refere Hagar com a palavra afiado?_____________________________________________________________ Hagar a empregou com um sentido amplo ou restrito?_____________________________________________________________ Certos provérbios e expressões populares fazem uso da conotação (palavra com significação ampla, criada pelo contexto). Procure captar o sentido de cada um desses provérbios e reescreva-os em linguagem denotativa (com uma significação mais restrita, com sentido comum). Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura________________________________________________________________ Não atire pérolas aos porcos_____________________________________________________________ Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão______________________________________________________________ Mais vale um pássaro na mão do que dois voando____________________________________________________________ A seguir temos a letra de uma música gravada pelo grupo Engenheiros do Hawaii. Leia o texto, observando como seu significado vai sendo construído a partir da conotação e responda as questões que se seguem: 34 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani Somos quem podemos ser 1- Um dia me disseram que as nuvens não eram de algodão 2- Um dia me disseram que os ventos às vezes erram a direção 3- E tudo ficou tão claro, um intervalo na escuridão 4- Uma estrela de brilho raro, um disparo para o coração 5- A vida imita o vídeo, garotos inventam um novo inglês 6- Vivendo num país sedento, um momento de embriaguez 7- Somos quem podemos ser 8- Sonhos que podemos ter 9- Um dia me disseram quem eram os donos da situação 10- Sem querer eles me deram as chaves que abrem essa prisão 11- E tudo ficou tão claro 12- O que era caro ficou comum 13- Como um dia depois do outro 14- Como um dia um dia comum 15- A vida imita o vídeo, garotos inventam um novo inglês 16- Vivendo num país sedento, um momento de embriaguez 17- Somos quem podemos ser 18- Sonhos que podemos ter 19- Um dia me disseram que as nuvens não eram de algodão 20- Sem querer eles me deram as chaves que abrem essa prisão 21- Quem ocupa o trono tem culpa 22- Quem oculta o crime também 23- Quem duvida da vida tem culpa 24- Quem evita a dúvida também tem 25- Somos quem podemos ser 26- Sonhos que podemos ter 1- Com a expressão “Um dia me disseram”, que se repete várias vezes, o texto contrapõe duas situações vividas pelo eu lírico (a pessoa que fala no texto): uma antes e outra depois do dia citado na canção. Como o eu lírico via o mundo antes do dia citado na canção?__________________________________________________________ 35 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani 2- Que expressão do1º verso da música, empregada conotativamente, confirma sua resposta anterior? ________________________________________________________________ 3- A estrofe refrão (5ª e 6ª versos) faz uma série de críticas. A quem critica? ________________________________________________________________ 4- Nos dois últimos versos dessa estrofe, em vez de 1ª pessoa do singular, é empregada a 1ª do plural. A quem se refere o pronome nós, subentendido? ________________________________________________________________ 5- Dê uma interpretação coerente a estes versos: “Somos quem podemos ser/ Sonhos que podemos ter”. _______________________________________________________________ Texto 1 Descuidar do lixo é sujeira Diariamente, duas horas antes da chegada do caminhão da prefeitura, a gerência (de uma das filiais do McDonald’s) deposita na calçada dezenas de sacos plásticos recheados de papelão, isopor, restos de sanduíches. Isso acaba propiciando um lamentável banquete de mendigos. Dezenas deles vão ali revirar o material e acabam deixando os restos espalhados pelo calçadão. Veja São Paulo, 23/12/1992 Texto 2 O bicho Vi ontem um bicho Na imundície do pátio Catando comida entre os detritos. Quando achava alguma coisa, Não examinava nem cheirava: Engolia com voracidade. O bicho não era um cão, Não era um gato, Não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem. Manuel Bandeira 36 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani 1- Os dois textos apresentam semelhança quanto ao conteúdo. Qual é essa semelhança? ________________________________________________________________ 2- A diferença essencial entre os dois textos está na linguagem. Qual deles apresenta: uma linguagem pessoal, carregada de sentimentos do locutor?__________________________________________________________ linguagem figurada, conotativa, rica em sentidos? ________________________________________________________________ 3- Na 3ª estrofe do texto II, o eu lírico começa a identificar o bicho que comia comida do lixo. Primeiramente, a identificação é feita por negativas: “o bicho não era um cão/ não era um gato/ não era um rato”. No último verso, ocorre a identificação: “O bicho, meu Deus, era um homem”. Que efeito de sentido causa a identificação por negativa?_________________________________________________________ A comparação do bicho com cão, gato e rato sugerem que condição ao ser humano? ________________________________________________________________ Que sentimento do eu lírico se manifesta na expressão “meu Deus”? ________________________________________________________________ 4- Os dois textos retratam uma cena mais ou menos comum na realidade em que vivemos; contudo, apresentam diferenças quanto ao enfoque e ao tratamento dado ao assunto. O texto 1, considerando o título, parece enfocar especialmente o que? _______________________________________________________________ E o texto 2? _______________________________________________________________ 37 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani Veja as tiras selecionadas abaixo e que tratam do novo acordo ortográfico: Por que o tio resolve desistir de pedir ajuda a seu sobrinho para entender o novo acordo ortográfico? ___________________________________________________________________ O que há de inadequado no diálogo acima? ___________________________________________________________________ 38 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani Quais as críticas apresentadas nas duas tirinhas anteriores? ______________________________________________________________________ Por que a palavra WHISKY é escrita dessa maneira? ______________________________________________________________________ 39 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani Como você escreveria a regra de uso do acento agudo, conforme as tirinhas acima? ______________________________________________________________________ Qual a mensagem da tirinha acima? ______________________________________________________________________ 40 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani Leia o poema abaixo e responda ao que se pede Minha desgraça Minha desgraça, não, não é ser poeta, Nem na terra de amor não ter um eco, E meu anjo de Deus, o meu planeta Tratar-me como se trata um boneco... Não é andar de cotovelos rotos, Ter duro como pedra o travesseiro... Eu sei... O mundo é um lodaçal perdido Cujo sol (quem mo dera!) é o dinheiro... Minha desgraça, ó cândida donzela, O que faz que o meu peito assim blasfema, É ter para escrever todo um poema, E não ter um vintém para uma vela. Álvares de Azevedo 1- O título do poema é “Minha desgraça”. Deduza: Como se sente o eu lírico à vida em relação “À vida e ao mundo”?___________________________________________________________ 2- Nas duas primeiras estrofes, o eu lírico tenta definir qual é a sua desgraça pela negação; e na terceira estrofe, pela afirmação. a- de acordo com as duas primeiras estrofes, o que não é a desgraça do eu lírico? ______________________________________________________________________ b- de acordo com a última estrofe, qual é a desgraça do eu lírico? ______________________________________________________________________ 3- A que tipo de público o poema se destina?_______________________________________________________________ 4- Qual é o meio em que ele é veiculado para atingir o público a que se destina?________________________________________________________________ 41 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani 1- Schulz cria humor a partir de uma situação inusitada. Qual é ela? ________________________________________________________________ 2- Que sinal de pontuação há no balão de pensamento de Snoopy, no 1º quadrinho e o que ele consegue expressar ? __________________________________________________________________ 3- No 2º quadrinho existem alguns recursos na escrita que ajudam a expressar o pensamento e a reação dos personagens. Tente explicar o uso das aspas, dos pontos de exclamação e dos dois pontos sob esse prisma. __________________________________________________________________ 4- No último quadrinho, o que expressam as reticências e as aspas? _________________________________________________________________ O poder do contexto e os enganos ocorridos entre o emissor e receptador de uma mensagem O poder do email Um homem deixou as ruas cheias de São Paulo para tirar férias em Salvador. Sua esposa estava viajando a negócios e planejava encontrá-lo lá no dia seguinte. Quando chegou ao hotel, resolveu mandar um email para sua mulher. Como não achou o papelzinho em que tinha anotado o endereço eletrônico dela, tirou da memória o que lembrava e torceu para que estivesse certo. Infelizmente, ele errou a letra, e a mensagem foi para uma senhora muito idosa, cujo marido havia morrido no dia anterior. Quando ela foi checar seus emails, desmaiou. 42 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani Ao ouvir o grito, sua família correu para o quarto e leu o seguinte, na tela do monitor: “Querida, acabei de chegar. Foi uma longa viagem. Apesar de estar aqui só há poucas horas,já estou gostando muito. Falei aqui com o pessoal e está tudo preparado para sua chegada amanhã. Tenho certeza que você também vai gostar... Beijos de seu eterno e amoroso marido. PS: Está fazendo um calor infernal aqui.” Conforme o texto... 1- O que a mulher pensou que estava acontecendo? __________________________________________________ 2- O que a mulher pensou que aconteceria no dia seguinte? __________________________________________________ 3- O que a mulher pensou sobre o local onde o marido estaria e ela iria também? __________________________________________________ Leia a tira abaixo A pergunta de Eddie, no primeiro quadrinho, não foi bem compreendida por seu receptor. Explique por que. ______________________________________________________________________ Por que o pedido não poderia ser atendido? ______________________________________________________________________ 43 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani A clareza ao escrever um texto Uma frase perde a clareza por muitos fatores, da má ordenação das ideias à pontuação inadequada. Ser claro requer esforço. A linguística textual mostrou que sentidos se formam no conjunto da enunciação e nos significados configurados na memória. Há clareza a ser cultivada antes até do primeiro esboço. Clareza prévia é saber que, na prática, um leitor também “lê” com a memória. Ao fim da leitura, é improvável que se tenha um texto inteiro na mente, palavra por palavra. Tendemos a fazer pausas, para que nossa memória de curto prazo forme um resumo do lido até ali. É com essa síntese mental que continuamos a leitura. É preciso atenção a tudo que atrapalhe a síntese mental. Alguns obstáculos são semânticos: termos raros, gírias e formulações desconhecidas ou pouco acessíveis. Outros são sintáticos, como por exemplo, o acúmulo de ideias em uma mesma frase ou começar falando de uma coisa e encerrar com outra. Veja algumas dicas de cuidados que você deve ter ao escrever um texto, ou resposta a uma questão de prova, para não cometer o erro gravíssimo de não ser compreendido por quem está lendo o que você escreveu (ou tentou escrever!): - Tenha em mente o projeto de texto que você se propõe. - Confira se o texto flui ponto a ponto. - Verifique se afirmações se antecipam a eventuais indagações do leitor. - Corte o que for irrelevante. - Não omita informações; não exagere nos detalhes. - Não insista em detalhes que o leitor já disponha. - Não desvie do assunto. Leia a tira abaixo: 44 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani Zezo é um menino mal humorado que detesta sair de casa. a- A que se refere a palavra TROÇO, no último quadrinho? _____________________________________________________________ b- O que a última cena revela sobre os hábitos do garoto? _____________________________________________________________ c- Os pais de Zezo estão em situação informal. Contudo, caso o pai de Zezo quisesse empregar um português formal, rigorosamente de acordo com a língua padrão, como ficaria o 2º quadrinho? _____________________________________________________________ Leia as tiras abaixo e responda às questões seguintes: 1-Que tipo de linguagem é utilizado nos quadrinhos? ______________________________________________________________________ 2- O humor da 1ª tira é construído a partir da relação entre dois tipos de linguagem. Identifique as linguagens e explique essa relação._______________________________________________________________ 3- Na segunda tira, o humor é construído a partir da sobreposição de duas áreas de conhecimento: uma científica e uma técnica. Quais são essas áreas? _____________________________________________________________________ 4- Que relação existe entre os papéis que as personagens estão desempenhando na tira e as palavras escritas na parte de trás de sua roupa? ______________________________________________________________________ 45 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani Ambiguidade na construção do texto Leia o texto que segue do escritor Luís Fernando Veríssimo. ATENÇÃO : M=MULHER/ H= HOMEM Conto erótico nº 1 M- Assim? H-É. Assim. M- Mais depressa? H- Não. Assim está bem. Um pouco mais par... M- Assim? H- Não, espere. M- Você disse que... H- Para o lado. Para o lado! M- Querido... H- Estava bem mas você... M- Eu sei. Vamos recomeçar. Diga quando estiver bem. H- Estava perfeito e você... M- Desculpe! H- Você se descontrolou e perdeu o ... M- Eu já pedi desculpa! H- Está bem. Vamos tentar outra vez. Agora. M- Assim? H- Um pouco mais para cima. M- Aqui? H- Quase. Está quase! M- Me diga como você quer. Oh, querido... H- Um pouco mais para baixo. M- Sim. H- Agora para o lado. Rápido! M- Amor, eu... H- Para cima! Um pouquinho... M- Assim? H- Ai! Ai! M- Esta bom? H- Sim. Oh, sim. Oh Yes, sim. M- Pronto. H- Não! Continue. M- Olha ai. Agora você... H- Deixa ver... M- Não, não. Mais para cima. H- Aqui? M- Mais. Agora para o lado. H- Assim? Para a esquerda. O lado esquerdo! M- Aqui? H- Isso! Agora coça. (O rei do rock, Porto Alegre. RBS/Globo, 1978. p.43-44) 46 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani 1- Com o narrador ausente, todo texto é construído a partir do diálogo entre duas personagens. Que tipo de relacionamento supostamente há entre essas personagens? Justifique com elementos do texto. _____________________________________________________________________ 2- Durante toda a leitura somos orientados para um sentido diferente daquele que temos ao chegar ao final do texto. Essa orientação de sentido não ocorre por acaso, mas é resultado de um conjunto de marcas existentes no texto. a- Aparentemente, o texto retrata um diálogo entre personagens vivendo que tipo de situação? ______________________________________________________________________ b- Que “marcas” textuais (palavras, frases, construções etc) nos levam a construir esse sentido? ______________________________________________________________________ 3- A pontuação tem um papel decisivo na construção da ambiguidade desse texto. a- Quais são os sinais de pontuação que mais se destacam? ______________________________________________________________________ b- No contexto, que sentido cada um desses sinais sugerem? ______________________________________________________________________ 4- Além de trabalhar propositalmente com marcas textuais que dão ao texto uma orientação de sentido diferente, por meio de que procedimento o autor constrói a ambiguidade? a- Declarando o narrador. b- Omitindo dados do contexto discursivo em que se dá o diálogo. c- Omitindo informações sobre o receptor que vai ler o texto. d- Omitindo palavras do texto. 47 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani Leia a charge: 4- Descreva o ambiente e as personagens do texto e comente a intenção do chargista ao caracterizá-las. __________________________________________________________________ 5- Relacione o titulo da charge às ideias desenvolvidas no texto, observando o sentido das palavras. __________________________________________________________________ 6- Como o chargista enfatiza sua sátira social? __________________________________________________________________ 7- Na charge, os ricos estão cercados por guarda costas,que também pode significar embarcação destinada a defender as águas costeiras. Associe esse fato às palavras da personagem e exponha suas ideias sobre as consequências da disparidade social em nosso país. __________________________________________________________________ Leia o cartum apresentado: 48 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani O cartum satiriza o hábito de alguns caminhoneiros de colocar mensagens na parte traseira do caminhão. a- Que tipo de ameaça o motorista de caminhão faz aos outros motoristas? ______________________________________________________________________ b- Em que línguas a mensagem é escrita?________________________________________________________________ c- Deduza: Quem são os interlocutores que o motorista tem em vista? ______________________________________________________________________ d- Onde reside o humor do cartum? ______________________________________________________________________ Leia a tira a seguir e responda às questões: 1- As cobras estão tomando sol. Que fato se opõe ao desfrute desse prazer? _______________________________________________________________ 2- Que palavra da fala do 2º quadrinho indica essa oposição? _______________________________________________________________ 3- O humor da tira está no 3º quadrinho. Depois que o lemos, a frase do 2º quadrinho adquire duplo significado. Que palavra do 2º quadrinho é responsável por isso? ______________________________________________________________ 4- Qual é o significado dessa palavra antes e depois da leitura do 3º quadrinho? _______________________________________________________________ 5- O humor da fala do 3º quadrinho se sustenta também na dupla significação de uma palavra. Que palavra é essa? _______________________________________________________________ 49 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani 6- Que significado ela tem, considerando-se apenas o contexto do 2º quadrinho? E no contexto do 3º quadrinho? _______________________________________________________________ . Em troca, militares franceses poderão entrar na Amazônia para fazer vistorias.” Leia os quadrinhos 1- Considerando-se o contexto, qual é o sentido da expressão “sentir-se como um peixe fora d’água”. a- no 1º quadrinho?_________________________________________________ b- no 2º quadrinho? _____________________________________________________________________ 2- Observe o comentário do rato. Por que o comentário que ele faz é responsável pelo humor da tira? ______________________________________________________________________ 3- No 1º quadrinho, a fala do peixe tem um sentido figurado, metafórico. Contudo, você concorda que seja uma metáfora a figura de linguagem mencionada pelo rato no último quadrinho? ______________________________________________________________________ 50 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani Leia 1- O anúncio lido promove uma ideia ou a marca de um produto? __________________________________________________________________ 2- A propósito de que momento ou data ele foi publicado? __________________________________________________________________ 3- Que produto ou ideia ele promove? _____________________________________________________________________ 4- Quem é o locutor desse anúncio, ou seja, de quem foi a iniciativa de publicar esse anúncio? ______________________________________________________________________ 5- Que relação há entre a imagem e o texto principal desse anúncio? ______________________________________________________________________ 51 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani 6- Qual é o principal argumento utilizado para convencer o leitor? ______________________________________________________________________ 7- Por que o argumento utilizado é suficientemente forte para persuadir o interlocutor? ______________________________________________________________________ 8- O título do anúncio em estudo apresenta intertextualidade com uma frase de um conhecido tipo de anúncio comercial. Qual é esse anúncio e qual é essa frase? ______________________________________________________________________ 9- No anúncio lido, o texto disposto ao lado da imagem constitui o corpo do texto. Qual é a função desse texto? _____________________________________________________________________ 10- Esse texto cita os usos mais comuns da água. Qual deles poderia ser dispensado, em caso de escassez? ______________________________________________________________________ O PARÁGRAFO 1) DEFINIÇÃO: O parágrafo é uma unidade de composição constituída por um ou mais períodos, em que se desenvolve determinada ideia central, a que se agregam outras, secundárias, intimamente relacionadas pelo sentido e logicamente decorrentes dela. 2) ORGANIZAÇÃO DO PARÁGRAFO: estrutura-se em tópico frasal, desenvolvimento e conclusão. 3) TÓPICO FRASAL: frase inicial que expressa de maneira geral e sucinta a ideia central que vai ser desenvolvida. São várias as possibilidades que temos para dar início aos nossos parágrafos. Abaixo, temos algumas dicas tendo como ideia central a AIDS. Uso de indicadores de aspectos espaciais = explorar as informações sobre o(s) lugar(es) onde ocorrem os fatos a serem tratados. Ex.: “No Brasil, principalmente na região sudeste, percebe-se que o paciente, vítima da AIDS, tem muito mais acesso a instituições que proporcionam tratamentos cujos benefícios e resultados positivos são excelentes...”. Uso de indicadores de aspectos temporais = aqui podemos usar fatores que indicam o momento em que acontecem (ou aconteceram) os fatos. Ex.: “Comparando-se os dias de hoje com o momento em que surgiram os primeiros casos de AIDS, não há como negar o grande avanço da medicina com as constantes 52 Refletindo sobre a Língua Portuguesa Prof. Dr. Fábio Luiz Villani pesquisas, pois hoje vemos portadores do vírus HIV tendo um ritmo de vida normal: trabalhando, estudando, amando...” Uso de enumeração de fatos = essa técnica permite ao redator organizar melhor as ideias que lançará em seu texto. Ex.: “Duas são as principais e mais preocupantes formas de transmissão da AIDS. A primeira é por meio das relações sexuais sem a devida proteção de preservativos. A segunda, diz respeito à troca de seringas entre os usuários de drogas com a mesma agulha...” Uso de ideias análogas ou comparações = comparar alguns fatores ou características do assunto a ser tratado em nossos textos com outros pode ser uma boa técnica de início. Ex.: “Sempre que aparece em nosso meio uma nova e terrível doença para a qual a cura ainda não foi descoberta, surge o pânico, o desespero. O mesmo pânico ocorrido com o surgimento da AIDS pode ser observado quando tivemos a ameaça de outras doenças como a paralisia infantil. O problema é que para a paralisia a cura veio mais rápido...”. Uso de interrogação = interrogar já no início do nosso texto é outra boa técnica de iniciar nossa redação além de suscitar certa curiosidade no leitor do nosso texto. Ex.: “Por que será que ainda não temos a cura definitiva para a AIDS? O avanço da tecnologia em todas as áreas, inclusive na medicina, às vezes, nos põe em dúvidas o poder exorbitante do vírus HIV. Poderíamos dizer que para alguns grupos a cura definitiva da AIDS seria um péssimo negócio?...”. Uso de uma afirmação categórica = iniciar um texto
Compartilhar