
Apontamentos de Teoria das Probabilidades
Pré-visualização36 páginas
Pures et Appl., Se´r. 2, 12, 177\u2013184, 1867. tenreiro@ m at.uc.pt 4 Integrac¸a\u2dco de varia´veis aleato´rias 69 Definic¸a\u2dco 4.3.2 Se X,Y \u2208 L2, chamamos covaria\u2c6ncia de (X,Y ) ao nu´mero real Cov(X,Y ) = E((X \u2212 E(X))(Y \u2212 E(Y ))). Se ale´m disso X e Y sa\u2dco de varia\u2c6ncia na\u2dco-nula, chamamos coeficiente de correlac¸a\u2dco de (X,Y ) ao nu´mero do intervalo [\u22121, 1] dado por \u3c1(X,Y ) = Cov(X,Y ) \u3c3(X)\u3c3(Y ) . Notemos que se X,Y \u2208 L2, enta\u2dco Cov(X,Y ) = E(XY ) \u2212 E(X)E(Y ) e Var(X) = Cov(X,X). Ale´m disso, Var(X + Y ) = Var(X) + Var(Y ) + 2Cov(X,Y ). O ca´lculo anterior da varia\u2c6ncia da soma simplifica-se se X\u2212E(X) e Y \u2212E(Y ) sa\u2dco ortogonais (no sentido do produto interno de L2), uma vez que neste caso Cov(X,Y ) = 0. Dizemos enta\u2dco que X e Y sa\u2dco na\u2dco-correlacionadas. Neste caso Var(X + Y ) = Var(X) + Var(Y ). A generalizac¸a\u2dco das duas igualdades anteriores a` soma dum nu´mero finito de varia´veis X1, . . . ,Xn \u2208 L2, e´ simples, obtendo-se Var( \u2211n i=1Xi) = \u2211n i=1Var(Xi) + 2 \u2211 1\u2264i<j\u2264nCov(Xi,Xj), e tambe´m, Var( \u2211n i=1Xi) = \u2211n i=1Var(Xi), se as varia´veis sa\u2dco duas a duas na\u2dco-correlacionadas. Do resultado seguinte conclu´\u131mos que duas varia´veis reais independentes sa\u2dco, em particular, na\u2dco-correlacionadas. Reparemos ainda que a integrabilidade do produto de duas varia´veis independentes e´ conseque\u2c6ncia da integrabilidade de cada um dos factores. Teorema 4.3.3 Se X e Y sa\u2dco varia´veis aleato´rias reais integra´veis e independentes, enta\u2dco XY e´ integra´vel e E(XY ) = E(X)E(Y ). Dem: Sejam enta\u2dco X e Y varia´veis aleato´rias reais integra´veis e comecemos por mos- trar que XY e´ ainda integra´vel. Com efeito, pelo teorema de Fubini, E(|XY |) =\u222b |xy| dP(X,Y ) = \u222b |xy| dPX \u2297 PY = \u222b |x||y| dPXdPY = \u222b |x| dPX \u222b |y| dPY < +\u221e. Utilizando os mesmos argumentos obtemos E(XY ) = E(X)E(Y ). \ufffd Terminamos este para´grafo estabelecendo um resultado que reforc¸a a interpretac¸a\u2dco do coeficiente de correlac¸a\u2dco entre duas varia´veis aleato´rias, como uma medida da de- pende\u2c6ncia afim entre essas varia´veis. Teorema 4.3.4 Se X,Y \u2208 L2 sa\u2dco de varia\u2c6ncia na\u2dco-nula, enta\u2dco: a) \u3c1(aX + c, bY + c) = \u3c1(X,Y ), para a, b > 0 e c \u2208 R; b) \u3c1(X,aX + b) = a/|a|, para a 6= 0 e b \u2208 R; c) \u3c1(X,Y ) = ±1 sse existem a, b, c \u2208 R, com ab 6= 0, tais que aX + bY + c = 0, P-q.c. tenreiro@ m at.uc.pt 70 Apontamentos de Teoria das Probabilidades Dem: As duas primeiras al´\u131neas obte\u2c6m-se directamente da definic¸a\u2dco de \u3c1. Para estabe- lecer c), consideremos a varia´vel aleato´ria Z = Y/\u3c3(Y )\u2212X\u3c1(X,Y )/\u3c3(X) que satisfaz \u3c32(Z) = 1\u2212 \u3c12(X,Y ). Basta agora usar a al´\u131nea b) e a Proposic¸a\u2dco 4.2.3. \ufffd Exerc´\u131cios 1. Mostre que a covaria\u2c6ncia e´ uma func¸a\u2dco bilinear, isto e´, se X1, . . . , Xn, Y1, . . . , Ym sa\u2dco varia´veis de quadrado integra´vel e a1, . . . , an, b1, . . . , bm nu´meros reais, enta\u2dco Cov ( n\u2211 i=1 aiXi, m\u2211 j=1 bjYj ) = n\u2211 i=1 m\u2211 j=1 aibjCov(Xi, Yj). 2. Mostre que se X1, . . . , Xn sa\u2dco varia´veis aleato´rias reais integra´veis e independentes, enta\u2dco\u220fn i=1Xi e´ integra´vel e E (\u220fn i=1Xi ) = \u220fn i=1 E(Xi). 3. Verifique que o coeficiente de correlac¸a\u2dco pode ser igual a 0 para varia´veis na\u2dco necessa- riamente independentes. Para tal considere X em L3 sime´trica relativamente a` origem e Y = X2. 4.4 Integrac¸a\u2dco de vectores aleato´rios As noc¸o\u2dces de integrac¸a\u2dco de varia´veis aleato´rias que ate´ agora estuda´mos, podem ser extendidas de forma natural ao caso dos vectores aleato´rios. No que se segue, denotaremos por || · || a norma euclideana de Rd. Definic¸a\u2dco 4.4.1 Um vector aleato´rio X = (X1, . . . ,Xd) com valores em (R d,B(Rd)) diz-se integra´vel se E||X|| < +\u221e. Nesse caso, chamamos esperanc¸a matema´tica de X ao vector de Rd dado por E(X) = (E(X1), . . . ,E(Xd)). Claramente, a noc¸a\u2dco de integrabilidade na\u2dco depende da norma considerada ser a euclideana. Ale´m disso, X e´ integra´vel sse ||X|| e´ integra´vel, ou ainda, sse cada uma das varia´veis aleato´rias Xi, i = 1, . . . , d, e´ integra´vel. Para 0 < p < +\u221e, podemos definir o espac¸o vectorial real dos vectores aleato´rios X com valores em Rd de pote\u2c6ncia p integra´vel, isto e´, tais que E||X||p < +\u221e. Um tal conjunto e´ denotado por Lp(\u2126,A,P,Rd), ou simplesmente por Lp. Claramente, a aplicac¸a\u2dco X\u2192E(X), de L1 em Rd, e´ uma aplicac¸a\u2dco linear. A par da esperanc¸a matema´tica, a noc¸a\u2dco que a seguir introduzimos e´ um dos para\u2c6metros de resumo duma distribuic¸a\u2dco de probabilidade mais utilizados no caso mul- tidimensional. E´ a generalizac¸a\u2dco natural a este contexto, da noc¸a\u2dco real de varia\u2c6ncia. tenreiro@ m at.uc.pt 4 Integrac¸a\u2dco de varia´veis aleato´rias 71 Definic¸a\u2dco 4.4.2 Se X \u2208 L2, chamamos matriz de covaria\u2c6ncia de X = (X1, . . . ,Xd) (dita tambe´m matriz de dispersa\u2dco ou de varia\u2c6ncia-covaria\u2c6ncia) a` matriz CX = [Cov(Xi,Xj)]1\u2264i,j\u2264d. A matriz de covaria\u2c6ncia e´ sime´trica e semi-definida positiva, pois Var( \u2211d i=1 \u3bbiXi) = \u3bbTCX\u3bb, para todo o \u3bb \u2208 Rd. Da al´\u131nea c) do Teorema 4.3.4 sabemos que a matriz de covaria\u2c6ncia C(X,Y ) dum vector aleato´rio em R2 nos da´ informac¸a\u2dco sobre o tipo de distribuic¸a\u2dco de (X,Y ). Mais precisamente, sabemos que se C(X,Y ) possui caracter´\u131stica 1 enta\u2dco a distribuic¸a\u2dco de (X,Y ) esta´ concentrada numa recta, na\u2dco sendo, por isso, absolutamente cont´\u131nua. Generalizamos a seguir este resultado ao caso dum vector aleato´rio em Rd: Teorema 4.4.3 Sejam X um ve.a. em Rd de quadrado integra´vel e CX a sua matriz de covaria\u2c6ncia. Se car(CX) = r, enta\u2dco a distribuic¸a\u2dco de X esta´ concentrada num subespac¸o afim de Rd de dimensa\u2dco r. Exerc´\u131cios 1. Seja U = (X,Y ) o ve.a. definido no Exemplo 2.1.9. Calcule E(U) e CU . 2. Sejam A uma matriz real de tipo n×m e b um vector em Rn. Se X e´ um ve.a. em Rm de quadrado integra´vel, mostre que a esperanc¸a matema´tica e a matriz de covaria\u2c6ncia de X e AX + b se encontram relacionadas da seguinte forma: E(AX + b) = AE(X) + b e CAX+b = ACXA T . 3. Demonstre o Teorema 4.4.3. Conclua que no caso em que car(CX) = d, X pode ser ou na\u2dco absolutamente cont´\u131nuo. 4.5 Bibliografia Hennequin, P.L., Tortrat, A. (1965). The´orie des Probabilite´s et Quelques Applications, Masson. Jacod, J., Protter, P. (2000). Probability Essentials, Springer. Monfort, A. (1980). Cours de Probabilite´s, Economica. tenreiro@ m at.uc.pt tenreiro@ m at.uc.pt Parte II Leis dos grandes nu´meros 73 tenreiro@ m at.uc.pt tenreiro@ m at.uc.pt Cap´\u131tulo 5 Converge\u2c6ncias funcionais de varia´veis aleato´rias Converge\u2c6ncia quase certa, em probabilidade e em me´dia de ordem p duma sucessa\u2dco de varia´veis aleato´rias. Relac¸o\u2dces entre os diversos modos de converge\u2c6ncia. Principais pro- priedades e caracterizac¸o\u2dces. Teorema da converge\u2c6ncia dominada em Lp. Converge\u2c6ncias funcionais de vectores aleato´rios. 5.1 Converge\u2c6ncia quase certa Neste cap´\u131tulo X,X1, X2, . . . representam varia´veis aleato´rias reais definidas sobre um mesmo espac¸o de probabilidade (\u2126,A,P). Definic¸a\u2dco 5.1.1 Dizemos que (Xn) converge para X quase certamente, e escre- vemos Xn qc\u2212\u2192 X, se P({\u3c9 \u2208 \u2126 : limXn(\u3c9) = X(\u3c9)}) = 1. Dizer que a sucessa\u2dco (Xn) converge para X quase certamente e´ assim dizer que a menos dum conjunto com probabilidade nula, a sucessa\u2dco (Xn) converge pontualmente para X. Por outras palavras, existe N \u2208 A, com P(N) = 0, tal que limXn(\u3c9) = X(\u3c9), para todo o \u3c9 \u2208 N c. Das propriedades dos conjuntos de probabilidade nula, verificamos assim que as propriedades da converge\u2c6ncia quase certa duma sucessa\u2dco de varia´veis aleato´rias sa\u2dco essencialmente iguais a`s da converge\u2c6ncia pontual. Uma das excepc¸o\u2dces e´ o da na\u2dco unici- dade do limite quase certo. No entanto, mesmo esta propriedade pode ser recuperada atrave´s da identificac¸a\u2dco de