
Angela Maria La Sala Batà Medicina Psico Espiritual
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não estão de acordo quanto às causas que determinam uma certa predisposição para a neurose, como já mencionamos no capítulo precedente. As doutrinas esotéricas, ao contrário, vêem na predisposição para a neurose a expressão de uma determinada situação interior do indivíduo, a qual pode derivar do seu tipo psicológico ou raio, ou mesmo do Carma. Não é por acaso que nascemos numa determinada família, que passamos por certas experiências, que somos impedidos ou frustrados pelo ambiente em que vivemos. Todos nós devemos aprender uma determinada lição, vencer determinados obstáculos e superar problemas, nós e impurezas que talvez carregamos de existências passadas. Todavia, não é tanto a situação exterior que provoca a neurose, mas a reação individual a ela. De fato, nem todos os indivíduos, nas mesmas condições ambientais, se tornam neuróticos. O problema é então subjetivo, e se acha oculto no mais fundo de nós. Jung afirma que todos os homens são neuróticos e que alguns conseguem encontrar dentro de si forças para "conviver com a neurose" e não se deixar submeter por ela, e outros, ao contrário, são arrastados e subjugados por ela. É, portanto, uma questão de maior ou menor desenvolvimento do "centro de consciência", que proporciona a força e o equilíbrio necessários para superar o conflito e utilizar o sofrimento de maneira evolutiva. De certa forma, isso é justo, pois podemos dizer que toda a humanidade padece de frustrações e é obrigada a se reprimir sem poder manifestar as suas exigências vitais e profundas. Muito poucos são os que conseguem uma exteriorização plena de si próprios, que levam uma vida harmoniosa e evoluem e crescem sem obstáculos externos ou internos. Tornam-se neuróticos, então, aqueles que têm uma determinada constituição físico-psíquica, que têm um determinado temperamento e um determinado problema em seu interior: o da "não aceitação" da realidade, o da oposição à força evolutiva e do apego a um nível de vida inferior à sua efetiva maturidade inconsciente. Os neuróticos, de certa forma, são rebeldes, obstinados, "falsos" cegos que cerram os olhos para não enxergar a própria realidade, tapam os ouvidos para não ouvir a silenciosa voz de seu Si. O neurótico é o símbolo do homem, ponte estendida entre os reinos anima e espiritual, e que pretenderia viver ao mesmo tempo em ambos. De fato, ele é, como dissemos no capítulo anterior, um indivíduo "incapaz de tomar uma decisão", que deseja o contraditório, sendo talvez por isso que as pessoas do quarto raio são as mais inclinadas à neurose, pois procedem em seu amadurecimento interior por sucessivas e gradativas integrações de polaridade, precedidas sempre por um conflito ou por uma crise. De certa forma, esta é a maneira por que evolui toda a humanidade, pois, como diz Caruso, "é próprio do homem encarnar-se no Espírito e espiritualizar-se na carne". Isso, por si só, configura uma situação aparentemente contraditória, que traz como conseqüência luta e sofrimento interiores e um estado de permanente tensão entre duas tendências opostas. Podemos, portanto, afirmar (sempre citando Caruso) que "na neurose se reflete de mil maneiras o destino trágico da existência, que sofre da sua própria limitação e procura ultrapassar a situação paradoxal da participação simultânea no ser e no não-ser". [Psicanálise e Síntese da existência, de Caruso.] Com base no que dissemos, resulta que a neurose, por mais negativa e possa parecer, na realidade oculta também um aspecto positivo. De fato, ela é o índice de uma fraqueza e de uma falha, mas ao mesmo tempo constitui uma tentativa de fusão dos opostos numa síntese superior. Voltando agora à questão que havíamos colocado antes, sobre como saber se a neurose é uma crise que precede o despertar do Si ou então um conflito a nível pessoal, acredito que a resistência a toda psicoterapia seja o principal sinal revelador de que se trata de um conflito espiritual. De fato, a análise, a psicoterapia podem ser úteis no caso de distúrbios e sofrimentos provocados pela repressão dos instintos, das exigências humanas, mas em se tratando de uma perturbação existencial que precede o advento e a manifestação da consciência espiritual, a análise não é suficiente, sendo necessária também uma superação, uma síntese, uma verdadeira mudança de orientação e de visão: em outras palavras, uma subversão dos valores. Estas últimas palavras não foram escolhidas por acaso. De fato, um dos traços mais graves do neurótico é a sua tendência a absolutizar o relativo, a não saber encontrar uma verdadeira hierarquia de valores existenciais, a sua "avidez de experiências". Coisas que derivam todas da obstinação do ego, ou eu inferior, em viver, resistir, em não entregar as armas. Encerrado em seu cego orgulho, na "soberba neurótica", o ego somente cederá quando conseguir superar os seus condicionamentos, os seus automatismos, e abrir-se à luz. De fato, Sri Aurobindo também afirma que a simples análise do inconsciente, a descida em nossa escuridão, não produz progresso e amadurecimento se não for precedida por uma ascensão para a luz, por um amadurecimento interior. "... em virtude de uma lei psicológica fundamental, à qual ninguém pode escapar, a descida é proporcional à subida. Não se pode descer mais profundamente do que se tenha subido..." (Satprem: A aventura da consciência, p. 241). Portanto, a doença psíquica que precede o despertar do Si é na realidade um conflito entre o nosso passado, cristalizado na personalidade, e o futuro Superconsciente, a realidade espiritual e divina que nos reserva um porvir luminoso e alegre, um caminho de ascensão para um novo reino, o do Verdadeiro Homem. Uma determinada doença ou neurose nos indica os obstáculos a serem superados, as etapas a serem vencidas, sendo justamente em nossos sofrimentos, em nossas frustrações, em nossas renúncias forçadas que encontraremos a chave da vitória. Se, por exemplo, em nossa vida as exigências afetivas sempre foram decepcionadas e frustradas, apesar de todos os nossos esforços e tentativas em sentido contrário, será que isso não significaria que as nossas energias afetivas não deveriam mais se voltar para objetivos humanos e pessoais e sim buscar uma nova direção? Se o caminho por que seguimos está sempre interrompido, isso não quererá significar que deveríamos procurar outros? Há uma mensagem oculta também na dor, nas decepções, nas renúncias impostas pela vida, inclusive nos obstáculos que nos impedem exprimir-nos de uma certa maneira, pois, se soubermos interpretá-los, eles poderio fazer-nos entender a vontade do nosso Si, que silenciosamente nos aponta outras metas, pois é chegado o momento de procurá-las, mesmo que não queiramos admiti-lo. A diferença entre o homem comum identificado com o seu eu pessoal condicionado e ilusório, e o aspirante espiritual que começa a sentir a influência do seu Si autêntico e da verdadeira consciência, está justamente na maneira de reagir às provações da vida, em suas escolhas, na sua compreensão dos valores absolutos e relativos da existência e também nos motivos que o levam a se comportar de uma ou outra forma, e que regulam os seus atos e sentimentos. Maslow, já citado anteriormente, diz que a humanidade é impelida por dois motivos fundamentais, que poderiam dar origem a dois grupos bem distintos: a) todos os que sentem as carências e frustrações de uma ou outra das necessidades fundamentais (instintos, exigências afetivas, necessidade de exprimir-se etc.) e que, em todas as suas manifestações, são "motivados" por elas; b) todos aqueles que, ao contrário, são animados e "motivados" pela exigência