
José Afonso da Silva Direito Urbanístico Brasileiro (2010)
Pré-visualização50 páginas
com o plano em preparo. 12. Execução do plano diretor 28. A principal virtude de qualquer plano está na sua exeqüibilidade e viabilidade. Um plano que não seja exeqüível é pior que a falta de pla no, porque gera custos sem resultados. 29. A execução material do plano diretor efetiva-se através da aplica ção da respectiva lei, o que pode exigir a expedição de leis especiais, de regulamentos previstos ou necessários, bem como de planos executivos, planos especiais e planos parciais, nele exigidos. 30. Os instrumentos de execução, segundo Spantigatti, são de duas categorias - os que entendem com mecanismos de controle e os que en tendem com mecanismos de substituição \u2014 e dão origem a quatro tipos: controle por parte do Poder Público e controle por parte dos particulares; substituição de titularidade nas atribuições dos Poderes Públicos e subs tituição de titularidade nos direitos privados.18 18. Manual de Derecho Urbanístico> pp. 295 e ss. DOS PLANOS URBANÍSTICOS MUNICIPAIS 147 31. A licença de obras e o \u201chabite-se\u201d são os instrumentos de controle público mais importantes, porque impedem a construção e o uso de imó veis em contraste com as determinações do plano. O direito subjetivo e o interesse legítimo de particulares, destinatários das normas urbanísticas do plano, constituem os estímulos do controle particular, mediante ações de anulação ou de impedimento de atos contrários a essas normas. 32. A substituição do Município no exercício das atribuições urbanís ticas não é aceitável no Brasil, porque falece competência à União e aos Estados para tanto, mesmo em face da Constituição de 1988. 33. A substituição de titulares de direito privado é prática comum na atuação urbanística. Realiza-se por meio da desapropriação, da ocupação temporária, do direito de preferência (ainda não reconhecido entre nós, salvo sobre o patrimônio histórico, artístico é paisagístico), da execução das obras de urbanificação compulsória pelo Poder Público, quando o obrigado não o fizer. III - P lanos U rbanísticos E xecutivos 13. O plano de ação do Prefeito . 34. Convém que o plano diretor não seja muito minucioso. Deverá ter a feição de um plano geral, que estabeleça as diretrizes da ordenação municipal, deixando os aspectos de atuação concreta para os planos exe cutivos. Todavia, não há de ser tão geral que não surta efeitos imediatos; se não, é possível correr o risco de, não se preparando plano executivo, tomar-se inócuo. 35. Um desses instrumentos executivos é o plano de ação do Prefeito. Não que ele seja, em si, um plano tipicamente urbanístico na sistemática atual; mas, como vimos, ele constitui um dos instrumentos do planejamento municipal. É por meio dele que cada Prefeito, ao ser eleito, define sua ação governamental, sem quebra do processo de planejamento implantado \u2014 e, portanto, com observância das diretrizes consubstanciadas no plano diretor. Vale dizer: cada Prefeito, se quiser exercer uma ação planejada, definirá os programas que deseja executar dentro das diretrizes traçadas\u2014e aqui é que se vinculam ao planejamento local em cada exercício a lei de diretrizes orçamentárias, o orçamento- programa anual e o orçamento plurianual, referidos em várias leis orgâ nicas municipais como instrumentos do planejamento municipal. Esses instrumentos, coordenados com o piano diretor, na verdade, fúncionam também como instrumentos de execução deste. 148 DIREITO URBANÍSTICO BRASILEIRO 14. Os planos parciais de atuação urbanística 36. O plano diretor é plano geral e global, destinado a estabelecer as diretrizes e normas fundamentais para a ordenação territorial do Mu nicípio. Nele próprio já devem ser previstas situações particulares de atuação urbanística que aconselhem a elaboração de planos adequados que desenvolvam apenas partes da previsão geral daquele. Assim, é pos sível pensar em planos de alinhamento, planos de zoneamento, planos de execução do sistema viário planejado. 37. Vale dizer: os planos parciais constituem meios de execução do plano diretor. São, pois, planos executivos deste, tanto quanto o plano de ação do Prefeito. A diferença está em que este visa mais à atuação dos aspectos econômicos e sociais, enquanto aqueles são voltados para os aspectos tipicamente urbanísticos da organização físico-territorial. IV - P lanos U rbanísticos E speciais 15. Caracterização 38. Mais adiante veremos que a ordenação do solo poderá ser de caráter geral \u2014 de que é instrumento o plano urbanístico geral (plano diretor) \u2014 ou de caráter especial \u2014 ditada por situações especiais que aconselhem medidas especificas de planejamento. Os objetivos especiais a serem alcançados é que imporão a necessidade de planos especiais, em cada situação, a fim de realizá-los. 16. Referência geral e remissão 39. Assim podem ser considerados os planos de implantação de distritos industriais, os planos de renovação urbana, os planos de urba nificação prioritária etc. - a respeito dos quais voltaremos mais minucio samente no Título IV. 17. Relação entre o planejamento econômico-social e o planejamento urbanístico 40. Não precisamos repetir o que já ficou dito \u2014 ou seja, que nossa crítica à concepção do plano diretor de desenvolvimento integrado não quer dizer que concebemos um planejamento urbanístico desvinculado do planejamento econômico e social. O que sustentamos é que essa vin- culação não pode ser feita no nível horizontal, como se propôs, na esfera municipal. Planejamento econômico e social e planejamento urbanístico são dois aspectos do planejamento global. A pretensão de integrá-los entre si - ou, na verdade, de integrar o planejamento urbanístico no DOS PLANOS URBANÍSTICOS MUNICIPAIS 149 planejamento econômico e social - é que nos parece ter gerado uma distorção, em prejuízo do desenvolvimento urbano harmonioso. 41. Parece-nos que, nesse particular, assiste inteira razão a Manuel L. da Costa Lobo quando, procurando estabelecer a relação entre os dois tipos de planejamento, mostra que há distinções - metodológicas, inclusive - que aconselham dar-lhes tratamento separado sem, no entan to, desvinculá-los entre si. Eis como apresenta o problema: \u201cSeja-me permitido relembrar, ainda, como é bem sabido de todos, que a prática do planejamento urbanístico, atividade diferenciada pelos seus métodos de trabalho, períodos de previsão, continuidade de ação e processos de relação com a realidade, carece, porém, de estar perfeitamente integrada no que chamaremos o planejamento global, cúpula de coordenação de todas as atividades que às Administrações caiba dirigir, fomentar ou, simplesmente, auscultar de forma vigilante. É assim que, no planeja mento integral, correntemente se distinguem duas , facetas com suas particularidades próprias - o planejamento sócio-econômico e o planeja mento físico ou planejamento urbanístico: Estas duas facetas, se, por um lado, permitem encarar como acertada a constituição de equipes e órgãos separados relativos a cada uma das especialidades, também, exatamente porque são duas facetas duma mesma perspectiva, implicam uma apertada e eficiente conjugação de estudos e esforços, em tempo oportuno, em que o setorismo e a deslealdade são de denunciar e pron tamente extirpar, sempre que necessário\u201d.19 O autor ilustra sua lição com a seguinte figura: Planejamento . Global Global 18. Conteúdo e base do plano urbanístico desmistificado 42. A técnica do planejamento urbanístico e dos respectivos pla nos é muito mais simples que a sofisticação uniformizante, para todo 19. Manuel L. da Costa Lobo, Da Esquematização à Realidade nos Planejamentos Urbanísticos, pp. 7-8. 150 DIREITO URBANÍSTICO BRASILEIRO o país, do plano diretor de desenvolvimento integrado. Reconhece-se, hoje, que o Município onde o planejamento urbanístico alcançou