Fernanda fez um comentário
Em cima dos textos aparecem um monte de XXX nao da para ler
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Uma queda no débito ventricular direito resulta em hipertensão e congestão venosa sistêmica (retrógrada), 110 levando a edema generalizado. Pode ocorrer uma queda correspondente no fluxo sanguíneo pulmonar (também por comprometimento importante do débito direito), e consequentemente no enchimento ventricular esquerdo e no débito cardíaco sistêmico, nos casos mais avançados de IC direita. Interdependência ventricular O ventrículo direito é freqüentemente comprometido no doente grave. Por apresentar massa muscular menos desenvolvida que a do VE, o VD é mais complacente e sofre menos influências da pré-carga. (Figura 5) Entretanto, qualquer evento que determine aumento da pós-carga do VD, como alterações inflamatórias e de volemia efetiva encontradas nos estados inflamatórios (sepse, pancreatite, grandes queimados), congestão pulmonar por falência de VE, insuficiência respiratória e necessidade de ventilação mecânica, DPOC ou embolia pulmonar (aumento da resistência ou pressão pulmonar - condições freqüentes nos doentes críticos), acarreta disfunção, elevando o seu volume diastólico final e podendo comprometer a função do VE por meio de fatores que interferem na interdependência ventricular. Figura 5 \u2013 Figura ilustrando as diferenças marcantes entre os ventrículos direito (mais complacente) e esquerdo (menos complacente). A necessidade de grandes reposições de volume aliada ao aumento da impedância à ejeção ventricular direita, oferecida pela hipertensão pulmonar aguda nesses casos, torna o VD particularmente vulnerável à falência. 111 Além dos efeitos diretos no miocárdio, causados por toxinas e mediadores liberados no processo séptico, leucotrienos e outros prostanóides também são responsáveis por hipertensão pulmonar, que frequentemente culmina na síndrome do desconforto respiratório do adulto e exige assistência ventilatória mecânica com pressão expiratória final positiva, aumentando ainda mais a pós-carga do VD. Nessas condições, ocorre aumento do volume e da pressão diastólica final, e a cavidade ventricular direita muda sua configuração: o formato habitual de meia-lua desaparece e o septo interventricular que normalmente apresenta uma convexidade para o VD torna-se retificado ou mesmo desviado para o interior do VE (movimento paradoxal do septo), reduzindo seu tamanho, sua complacência e consequentemente a pré-carga do VE e o débito cardíaco para a circulação sistêmica (Figura 6), o que agrava a disfunção do VE, podendo levar a colapso circulatório e óbito. Figura 6 \u2013 A sobrecarga de um determinado ventrículo determina alterações na complacência do ventrículo contíguo através da interdependência ventricular Alterações cardiocirculatórias na sepse A relação entre depressão miocárdica clínica e efeitos de substâncias depressoras do miocárdio, circulantes no soro de pacientes sépticos, já é sugerida desde os trabalhos pioneiros de Lefer et al., em meados de 1970. Foi finalmente confirmada pelos estudos de Parrillo et al., que estabeleceram um forte elo entre as observações \u2013 in vivo e in vitro \u2013 e a presença de substâncias depressoras do miocárdio no quadro séptico. Verificou-se que a incubação de endotoxina com macrófagos ativados produzia sobrenadante com atividade depressora vascular e miocárdica. Constatou-se o papel dos mediadores inflamatórios, cujas principais citocinas geradas em berço séptico são o fator de necrose tumoral (TNF) e interleucina 1\u3b2 (IL-1\u3b2) que, em última análise, induzem a liberação da oxidonítrico-sintetase, forma induzida (NOS-2), levando à produção de óxido nítrico e, conseqüentemente, depressão miocárdica, com redução concomitante do cálcio intracelular. A tentativa de inibição das citocinas com anticorpos monoclonais, e do óxido nítrico com L- NAME e L-NMMA, não reverteu completamente a depressão miocárdica experimental, sugerindo que o tema ainda está aberto a novas contribuições. Em desacordo com a hipótese puramente funcional, documentamos em achados histopatológicos evidente miocardite intersticial em 27% dos 71 pacientes sépticos submetidos à necropsia. Posteriormente, constatou-se a liberação de macromoléculas, como a troponina I, pelos miócitos lesados. Não se trata de isquemia coronariana propriamente, mas de uma ação citotóxica local. Observa-se, com freqüência, a redução da pós-carga na sepse (diminuição da resistência vascular sistêmica por disfunção endotelial e fatores inflamatórios), o que pode mascarar eventual disfunção miocárdica ou retardar seu reconhecimento. 112 A mensuração do débito cardíaco torna-se muito insensível para detectar depressão miocárdica, pois o mesmo pode não se alterar devido aos mecanismos compensatórios já citados. A própria utilização da mensuração das pressões de enchimento, para construção de curvas de Starling, é inadequada devido às freqüentes alterações de complacência ventricular do paciente séptico. Dessa forma, as pressões de enchimento não refletem, no geral, a pré-carga ventricular. A intensa estimulação catecolaminérgica, dando suporte a um franco estado hiperdinâmico, tende a ocultar uma função ventricular deprimida. A monitoração hemodinâmica tem sido questionada recentemente devido ao seu baixo poder discriminatório no diagnóstico da condição. Com essas limitações, o diagnóstico da depressão miocárdica à beira leito fica pautado na determinação da fração de ejeção do ventrículo esquerdo e ao uso de marcadores como a troponina. O ecocardiograma bidimensional e a ventriculografia radioisotópica podem ser considerados padrões para o diagnóstico dessa condição. A avaliação da fração de ejeção é importante, principalmente nas fases iniciais do choque séptico, pois guarda relação prognóstica. A queda da fração de ejeção do VE para menos de 50% caracteriza o acometimento do coração na sepse, em um paciente sadio. A elevação da fração de ejeção inicialmente rebaixada, no contexto séptico, é indicativo de bom prognóstico. Contudo, o achado de fração de ejeção normal não afasta o comprometimento do coração. A necessidade de um exame de acurácia superior se impõe. As enzimas CK-mb e mioglobina mostraram-se insensíveis e inespecíficas. A troponina tem se mostrado superior às demais no diagnóstico da lesão miocárdica isquêmica e recentemente tornou-se útil também para o diagnóstico e prognóstico da miocardite séptica (Tab.1). Tabela 1 \u2013 Ecocardiograma versus troponina I em dez pacientes sépticos FEVE < 0,5 FEVE > 0,5 Total TnI > 0,6 ng/ml 4 (40%) 2 (20%) 6 (60%) TnI < 0,6 ng/ml 0 (0%) 4 (40%) 4 (40%) Total 4 (40%) 6 (60%) 10 (100%) Fernandes CJ, Akamine N, Knobel E. Intensive Care Medicine 25:1165-8, 1999. Segundo parecer do Fórum Internacional de Sepse de 2008, os níveis séricos de troponina podem discriminar pacientes sépticos mais graves e com mortalidade precoce maior de maneira significativa e sua dosagem deve ser incluída na rotina de admissão desses pacientes. A disfunção miocárdica na sepse ainda é assunto desafiador por sua complexa fisiopatologia que determina, muitas vezes, prognóstico tão desfavorável e por envolver mecanismos diversos como mediação inflamatória, síntese de NO, isquemia, alterações no metabolismo do Ca, antagonismo dos receptores de endotelina, apoptose e miocardite intersticial, processos com muito a esclarecer. BibliografiA: Darovic GO, Yacone-Morton LA. Monitoring cardiac output. In: Darovic GO. Hemodynamic monitoring: invasive and noninvasive clinical application. 2. ed. Philadelphia, W.B. Saunders Company, pp. 323-46, 1995. Fernandes Jr. CJ, Akamine N, Knobel E. Cardiac troponin: a new serum marker of myocardial