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of anomalous experiences may tell us a great deal about more typical human experience in the same way that understanding the processes underlying visual illusions can tell us a great deal about normal visual perception\u201d. 9 A maioria das experiências de abdução parece durar, na perspectiva dos protagonistas, entre uma e três horas; algumas vezes, durariam mais (cf. capítulo 5). 10 Cf. grupo experimental E2, capítulo 10. 28 para a compreensão de aspectos da experiência religiosa, das relações entre tradições religiosas e a modernidade e das necessidades e conflitos internos humanos. Saliba não sugere um esgotamento do tema religião via estudo das experiências óvni; apenas salienta, à semelhança de William James (1902/1991), o quanto um fenômeno extremo (no caso, as experiências óvni) pode contribuir de modo destacado para a compreensão de uma categoria maior de fenômeno (no caso, a experiência religiosa) no qual pode ser ao menos parcialmente inserido. As comparações entre experiências óvni e outras anomalias podem ser produtivas e relevantes não apenas pelo compartilhado rótulo de experiências anômalas, mas porque costumeiramente os protagonistas das primeiras as correlacionam a crenças/experiências espirituais e a alegados fenômenos parapsicológicos (e.g., Suenaga, 1999). Como exemplos, protagonistas de experiências de abdução ou de episódios mais simples que mencionam alienígenas tendem a relatar que a comunicação com as entidades é predominantemente telepática. Tal aptidão, em alguns protagonistas, chegaria a permanecer ao longo dos dias imediatamente posteriores à experiência. Desse modo, alegam poder \u201cler pensamentos\u201d de familiares e amigos durante os dois ou três dias subsequentes, quando então a aptidão se esvairia gradualmente e desapareceria. Ademais, outros fenômenos tendem a ser mencionados durante as experiências óvni e mesmo ao longo da vida do protagonista, como outras formas de percepção extrasssensorial e psicocinese. Muitos protagonistas defendem uma conexão causal entre as experiências, de modo que as inteligências responsáveis pelos óvnis os teriam escolhido por possuírem tais aptidões ou os \u201cpresentearam\u201d com elas. Por fim, recentemente, alguns abduzidos têm mencionado lembranças de tais sequestros paralelamente a lembranças de \u201cvidas passadas\u201d, de modo coerente com a crença de que as abduções constituiriam um programa de monitoramento que perfaria múltiplas vidas do protagonista. Assim, o estudo das experiências óvni possui diversas conexões, tanto 29 potenciais quanto efetivas, com as experiências anômalas em geral e aquelas relativas à \u201cparanormalidade\u201d e à hipótese da sobrevivência após a morte, podendo contribuir para sua compreensão geral. Quanto à psicopatologia, embora a literatura tipicamente não aponte correlações entre as experiências óvni e as entidades nosológicas clássicas, as pesquisas são repletas de achados contraditórios quanto a traços isolados, o que demanda novos estudos (Appelle et al., 2000; French, Santomauro, Hamilton, Fox & Thalbourne, 2008; Hough & Rogers, 2007-2008; McLeod et al., 1996). Já patologias e sintomas isolados pretensamente posteriores e derivados das experiências óvni (cf. Appelle et al., 2000; Bullard, 1989; McLeod et al., 1996; Suenaga, 1999) também constituem objetos de estudo interessantes, devido à incerteza sobre como e porque ocorrem. Assim, embora persista uma noção cultural de causalidade interna (e.g., mentiras, alucinações), perdura na literatura a ausência de respaldo sólido para tal noção e de explicações satisfatórias para as experiências. Outro campo emergente e relacionado é o estudo psicológico da interface entre o natural e o sobrenatural enquanto significação (Marçolla & Mahfoud, 2002), pois as experiências remetem a eventos cotidianos, físicos, muitas vezes associados à natureza, ao mesmo tempo em que parecem originárias de um \u201coutro mundo\u201d, demoníaco, celestial, espiritual, mágico, com paralelos na religião, no folclore e no misticismo (Bullard, 1989; Dewan, 2006b; Jung, 1988; Marçolla & Mahfoud, 2002; Suenaga, 1999). Tais narrativas anômalas parecem, pois, demarcar uma ríspida passagem da dimensão sobrenatural para o plano concreto do indivíduo (corpo e psiquismo) e da coletividade (efeitos em massa) imediatamente confrontados, agredidos, abençoados, desafiados, caracterizando uma espécie mais radical de experiência e significação que demandam compreensão. Adicionalmente, McLeod et al. (1996) sugerem benefícios à psicologia no estudo de narrativas de sequestro por óvnis, conhecidos na cultura como abduções, no que tange à 30 intersubjetividade na construção de realidades complexas, à memória em situações de emoção extrema e a estados alterados de consciência, assim como se beneficiaria substancial número de pessoas que passam por tais experiências e recebem diagnósticos e tratamentos equivocados de profissionais de saúde. E, em sintonia com Appelle et al. (2000), alertam que o pouco conhecimento sobre os mecanismos associados às experiências óvni, como aqueles a serem investigados na presente pesquisa, conduz ao risco de que terapeutas endossem a produção de falsas memórias em seus clientes. É importante destacar tal possibilidade através de técnicas controversas e/ou reforço subjetivo, com implicações relevantes no curso de vida ulterior daquele que passa a se identificar como um abduzido. É cada vez mais comum que pessoas que crêem terem sido abduzidas, quer tenham ou não memórias conscientes da experiência, procurem ufólogos ou terapeutas praticantes de hipnose para se submeterem a regressões de memória. Com frequência, emergem das sessões de regressão memórias complexas e muitas vezes dolorosas e reincidentes de abduções a bordo de óvnis (Appelle et al., 2000; Hopkins, 1995; Jacobs, 1998, 2002; Mack, 1994; Moura, 1996), que podem a ser incorporadas pelos protagonistas de modo pouco crítico e emocionalmente intenso. Diante das experiências óvni, Dewan (2006b) aponta ganhos significativos para a psicologia quanto ao estudo da relação entre crença, cognição e experiência, das convergências e divergências entre testemunhas de eventos incomuns, das mudanças de visão de mundo e de outros aspectos da percepção de ocorrências anômalas. A partir do referencial cognitivo-comportamental, Pereira (2007) sugere a relevância do tema para o estudo psicossocial sobre as crenças. Considerando as experiências óvni enquanto emergência de conteúdos inconscientes em favor do processo de individuação11, Jung (1958/1988) justificou seu interesse por elas afirmando sua \u201cgrande importância\u201d, ao sinalizarem uma mudança na psique coletiva da 11 Individuação é o processo um tanto raro pelo qual ocorreria o desenvolvimento e amadurecimento psicológico, através da integração dos conteúdos inconscientes capazes de se tornarem conscientes. Assim, o psiquismo sofreria uma radical transformação e se tornaria uma totalidade (Jung, 1971/1991, ¶ 430). 31 humanidade (¶ 589), e se inquietou com os aspectos intra e intersubjetivos dos episódios: \u201cestou preocupado com a sorte daqueles que são surpreendidos por esses acontecimentos sem estarem preparados para tal, ficando à mercê daquilo que não podem compreender\u201d (¶ 590). Interessante notar que as preocupações de Jung datam de uma época em que o fenômeno psicossocial dos óvnis estava apenas em estágio embrionário. O ícone óvni é favorável a desempenhar funções subjetivas importantes, especialmente diante do anseio espiritual por vezes não satisfeito na ciência e na religião, o que pode contribuir para ocasionar experiências. Essas funções