
Leonardo Breno Martins Contactos imediatos Investigando
Pré-visualização50 páginas
incluem resgatar a dimensão sobrenatural em tempos tecnológicos, prometer salvação para crises planetárias, transportar o protagonista para além do maçante cotidiano, revelar verdades espirituais (Bullard, 1989; Dewan, 2006b; Jung, 1958 /1988; Lewis, 1995; Suenaga, 1999). Assim, a constelação de temas amiúde atrelados a óvnis e alienígenas, como crenças, profecias, messianismo, doutrinas e experiências anômalas, aliados a ideários propriamente recentes que mesclam ecologia, ciência, ficção científica, movimento Nova Era (New Age), misticismo e religião, torna-os objetos de estudo interessantes sobre crenças compartilhadas, projeções psicológicas, sugestionabilidade, nascimento e consolidação de concepções e movimentos religiosos, especialmente no contexto contemporâneo, entre muitos outros temas. Ao discutir o papel exercido pelas variáveis investigadas nesta pesquisa, criam-se subsídios para aprofundar o estudo dos aspectos intra e intersubjetivos mencionados. Embora uma parcela significativa da população não acredite na existência concreta de óvnis e outra ainda maior não tenha experienciado visões do gênero ou tampouco levado o tema em consideração em seu cotidiano, Saliba (1995) rebate a eventual crítica acerca da pouca relevância do tema, amparada nessas constatações demográficas, afirmando que as experiências e crenças sobre óvnis se nutrem e evidenciam, direta e indiretamente, realidades humanas maiores e essenciais nos âmbitos psicológico, sociológico e histórico, tais como seu 32 senso religioso, a adaptabilidade da cultura e a compatibilização de opostos psicológicos, sociológicos e históricos como fé e razão, religião e ciência, antigo e moderno, entre outros. Marçolla e Mahfoud (2002) justificam a investigação de narrativas sobre luzes anômalas na comunidade do Morro Vermelho, em Minas Gerais, pelo argumento da busca do novo, que é \u201ca alma de qualquer pesquisa\u201d (p.87). Este estudo possui idêntico e complementar propósito, em contextos diversificados e maiores. Desse modo, as experiências óvni constituem fenômeno radicalmente novo, não quanto à sua ocorrência, mas quanto ao reconhecimento de seu potencial como objeto de estudo promissor para as ciências humanas e mesmo outras. Delineia-se assim um fenômeno individual e coletivo relevante, provocativo e pouco explorado. 33 Capítulo 3: Justificativa Assim perguntamos, sem parar, até um punhado de terra cobrir a nossa boca. Mas será isto uma resposta? Heinrich Heine Trabalhos acadêmicos diretamente relacionados ao ícone óvni são muito pouco conhecidos, especialmente no Brasil, onde também se mostram raros. Enquanto a revisão da literatura conduzida para fins desta pesquisa apurou quarenta e cinco teses de doutorado, trinta e seis dissertações de mestrado e cursos avançados equivalentes, e quarenta e quatro trabalhos em outras formas de pós-graduação, totalizando cento e vinte e cinco obras, quase 90% foram escritas em universidades norte-americanas, enquanto apenas seis (Carlos, 2007; Ferreira Neto, 1984; Giaconetti, 2009; Santos, 2009; Suenaga, 1999; Veronese, 2006) o foram no Brasil; nenhuma em psicologia. Tal realidade se repete quanto a artigos científicos em periódicos indexados, existentes em ainda maior quantidade, mas apurados apenas quatro nacionais (Marçolla & Mahfoud, 2002; Martins, 2011; Pereira, Silva & Silva; 2006, Pereira, 2007), todos, por sua vez, em psicologia. Ao que foi possível apurar até o momento, incluindo meu contato pessoal alguns autores das dissertações mencionados acima, eles não deram continuidade, ao menos ainda, às suas pesquisas sobre o ícone óvni e temas relacionados em forma de artigos em periódicos ou pesquisas de doutorado. Em contraste à sua escassa produção acadêmica sobre o assunto, o Brasil é informalmente conhecido como um dos recordistas mundiais em experiências óvni (Suenaga, 1999). Minha experiência confirma parcialmente as menções informais, pois nunca houve dificuldade em encontrar elevada quantidade de protagonistas dessas experiências em 34 incursões de campo prévias à presente pesquisa e durante a mesma, tanto em regiões urbanas quanto rurais. Em verdade, ao longo dos últimos catorze anos, possivelmente todas as cidades e lugarejos nos quais busquei experiências do gênero forneceram protagonistas diretos, não raro dezenas deles. Evidentemente, em face de tais estimativas informais, sugiro a necessidade de estudos sistemáticos que busquem averigar a prevalência das experiências em contexto brasileiro. Mas, como uma compensação provisória, os dados informais parecem sinalizar uma prevalência não-desprezível. Além de endossar os tipos de experiências verificadas em todos os continentes, a casuística do Brasil parece possuir especificidade. Inúmeras fontes jornalísticas nacionais e internacionais sugerem, novamente em tons informais, que no país são registradas as experiências óvni talvez mais complexas, exóticas e intrusivas do planeta (Suenaga, 1999), como antes mencionado. Entre as muitas dezenas de protagonistas já entrevistados por mim, significativa parcela alegou tais experiências particularmente bizarras, como perseguições bastante próximas por óvnis ao longo de diversos minutos, \u201cquase-abduções\u201d (em que o protagonista teria sido salvo ao se agarrar fortemente a um arbusto enquanto puxado), destruição parcial de automóveis atingidos por feixes de luz alegadamente provenientes de óvnis, ferimentos físicos (e.g., arranhões, ossos quebrados) após pretensos confrontos físicos com alienígenas, entre outros. Desse modo, minha experiência de campo igualmente sugere que as experiências exóticas não constituem exceções cuja raridade poderia diminuir sua relevância, mas, ao contrário, componentes arraigados de um fenômeno cultural representativo do contexto brasileiro das experiências anômalas. Em consequência da lacuna bibliográfica sobre experiências óvni brasileiras, quase todos os achados mencionados neste trabalho provêm do estudo de eventos e protagonistas de outros países. Desse modo, justifica-se o questionamento acerca da adequação das discussões presentes na literatura internacional às peculiares experiências ocorridas no Brasil. Por sua vez, a assimetria entre a abundância de experiências brasileiras e a raridade de pesquisas 35 acadêmicas a respeito me sugere um desperdício de oportunidades para ganho de conhecimento cuja relevância foi defendida no capítulo 2. Ao passo, cumpre resumir minha trajetória em relação ao tema, dado que constitui parte das justificativas para este estudo. Decerto são justificativas fundamentalmente idiossincrásicas e, por tal razão, escritas com informalidade acentuada e específica a este trecho. Mas é igualmente certo que toda pesquisa possui na subjetividade do pesquisador um de seus pilares fundamentais, necessário de se expor para contextualizar os esforços. Sob esse prisma, concordo com Ribeiro (2003) sobre a necessidade do pesquisador se expor a seu objeto de estudo, assumi-lo, clarificar a relação entre as partes, ainda mais no campo das Humanidades, para que se alcance algo novo e pessoalmente significativo. Desde criança, sempre experimentei intensa sede de saber. De fato, minha curiosidade atingia virtualmente todos os campos, desde o que havia em uma gaveta trancada em casa até os pensamentos secretos de celebridades há muito falecidas. Contudo, dentro do possível para cada época, meus alvos preferenciais sempre tiveram relação com ciência, filosofia, religião e temas metafísicos em geral. Assim, sempre busquei informações e refleti sobre temas como