
Pietro Ubaldi Cristo
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há dois mil anos. Cristo operou aquela preparação mental que, como acabamos de dizer, era necessária para alcançar hodierna fase de realização. Isto porque, por lei de evolução, a tendência em direção a tal realização é constante. Trata-se, portanto, de um processo evolutivo no qual Cristo se inseriu a partir de um caminho de vida em que só podia aparecer como um precursor dos tempos modernos. Não devendo fazer senão um trabalho de preparação mental, ou seja o do terreno o qual deveriam depois tomar corpo as suas idéias, Cristo \u2014 não se encontrando como hoje na fase de atuação \u2014 só pôde apoiar-se no sentimento e em Suas incontroláveis construções idealistas com retribuições do Céu. Hoje, que se passa a uma real atuação, para muitos tais meios não servem mais. Não estamos somente na fase de preparação mental \u2014 assimilação de novas idéias \u2014 mas também na de sua realização prática. Devem-se, então, usar meios concretos, cálculos exatos, psicologia utilitária, isto é, técnica positiva e realista do construtor de fatos, que não é a do inventor de idéias. Eis que o trabalho de Cristo representa uma fase necessária no desenvolvimento do mesmo fenômeno, embora vivendo numa outra, mais avançada. Eis portanto que o princípio da justiça social esta escrito nas leis da vida e se afirma sempre mais como o progresso desta. Aquele princípio não é um produto da vontade humana, que só obedece à lei biológica que o impõe, mas esta escrito nesta lei como o próprio destino da humanidade. Com a evolução, este destino se tornara realidade, mais dia menos dia, o que é inevitável, porque esta realização faz parte do universal processo de evolução, é a reorganização do caos do AS na ordem do S, isto é, o endireitamento de toda a negatividade do primeiro na positividade do segundo. Então, se a injustiça fora o ponto de partida, a justiça será o ponto de chegada. É assim que em nosso mundo existe a injustiça, porque ela é de sinal negativo, é corrupta e imperfeita, mas com tenaz tendência para a justiça, porque o dito mundo deve tornar-se de sinal positivo, isto é, são e perfeito. Esta tendência já se revela também em nosso mundo com alguns sinais, pelos quais, mesmo em meio ao caos individualista, aparecem as primeiras e naturais aproximações da justiça. Então observemos: O rico não é apenas inevitavelmente um parasita da sociedade. Mesmo quando é um ocioso desfrutador do trabalho do próximo, vivendo ele em nível econômico mais elevado, cumpre a função de criar tipos de civilização mais requintados. Com isso ele lança novos hábitos, que seus dependentes tentam imitar e assimilar, depois, obedecendo à lei de evolução. Este é o trabalho útil que fazem as aristocracias antes de desmoronarem. Neste caso a vida em vez de procurar eliminar tal tipo, o aceita, pelo menos até que ele cumpra aquela sua função civilizadora, operando como pioneira da evolução das massas. A vida o aceita porque lhe serve e lhe serve porque ele é um vencedor, selecionado pela luta, um indivíduo que consegue chegar, que soube superar muitos obstáculos, é um criador e um condensador de valores, que custou esforço conquistar e que a vida não deseja desperdiçar. Ele serve à vida até porque é um protagonista da evolução, um antecipador, um construtor de civilização, função que as massas não sabem cumprir mas de cujos produtos elas têm necessidade para evoluir. Então a vida permite que o rico a cumpra, liquidando-o depois, quando se tenham esgotado os benéficos efeitos daquela função. A esta liquidação é a própria vida que prevê, ao cumprir um concomitante ato de justiça. Esta permite que o rico goze o fruto do esforço que faz para enriquecer, o que não é um fato gratuito. A Vida paga cada esforço, e proporcionalmente também o de baixo nível. Mas a justiça quer também que este, uma vez pago, seja liquidado. Como a vida faz para conseguir as suas finalidades? Enquanto a riqueza corresponde a realização de um esforço, ela é biologicamente justa e a vida a respeita. Mas surge, depois, a injustiça, quando as, conquistas são legalizadas convertendo-se em privilégios permanentes. Assim apesar do homem ter procurado tornar hereditárias as posições alcançadas verifica-se que nenhuma delas é eterna. Inútil protegê-lo com leis. Desse modo, quando o esforço cessa para transformar-se num comodismo sem finalidade, unicamente volvido a parar a evolução, então a vida reage. É assim que com as aristocracias desmoronam tantas monarquias, tantas riquezas acumuladas. Tudo o que emerge acima de um certo nível esta sujeito a saltos contínuos. Resistir implica saber vencer uma luta sem trégua. Manter um patrimônio exige capacidade e atividade quase equivalentes ao que foi necessário para criá-lo. Cristo Pietro Ubaldi 45 Há um outro fato que converge em direção às mesmas conclusões. O bem estar, justo prêmio ao trabalho que foi necessário para alcança-lo, cansa e ao mesmo tempo convida a prolongá-lo, mesmo quan- do supera os limites da justa recompensa. Então a natureza intervém fazendo apodrecer no ócio o indi- víduo que se deixa demasiadamente seduzir por aquele bem estar. Este debilita-se cada vez mais, enquan- to o esfomeado é reforçado pelo seu desespero que o impulsiona ao assalto. A necessidade aguça a in- teligência e esgota a paciência. O resultado é que a riqueza passa do rico ao pobre que o suplanta. E a vida aprova porque ela recompensa quem luta, quem na luta dá prova de força e habilidade com o saber vencer. E paralelamente a vida castiga quem se acomoda e se torna inepto a lutar, encaminhando-se para a derrota. É biologicamente justo que quem se tenha corrompido seja vencido, assim como é biologicamente justo que um organismo débil, assaltado pelo ataque do micróbio seja vencido, adoeça, e, não sabendo resistir, venha a perecer. Dessa forma vemos, freqüentemente, os filhos dos ricos crescidos nas comodidades e ignaros da luta necessária para as conquistas, tornarem-se totalmente pobres. E vemos se converterem em ricos muitos originários de uma escola bem diferente, que haviam nascido totalmente pobres. Como as ondas, os bens passam de mão em mão, para gozo alternado, numa espécie de coletivismo natural, pelo qual eles são de todos e não são de ninguém. Esta é uma outra forma automática de justiça social, praticada pela vida, ainda que o seja de modo elementar nos seus baixos graus de evolução. X O SERMÃO DA MONTANHA A lei do \u201ctudo-ganho\u201d. Evangelho e evolução. Versão moderna do sermão da Montanha. A virtude da renúncia. O desprendimento dos bens. A esmola. A Divina Providência. Para melhor compreendermos os fenômenos de que estamos tratando é útil explicar como já exista em germe e como funcione também em nosso mundo de tipo AS, uma lei elementar de justiça que chamamos: lei do "tudo-ganho". Não se trata senão de um aspecto particular da grande Lei de Deus da qual falamos nos capítulos precedentes. Estamos sobre o terreno positivo de leis vigentes, cujo funcionamento é controlável pela observação. Só assim se pode chegar a conclusões objetivas baseadas sobre fatos, independentes das verdades de grupos ou escolas particulares. Constata-se no funcionamento da vida um princípio de justiça pelo qual é estabelecida uma proporção entre o trabalho e a sua recompensa, entre esforço e gozo. Este se prende à satisfação de uma necessidade e desaparece com a saciedade. Quanto mais possuímos de uma coisa, menos ela vale, e quanto menos dela possuímos, mais vale. Este é um princípio de economia, que regula a balança da procura e da oferta. Quanto mais uma coisa nos custa esforço, mais valor tem, e quanto menos nos custa esforço, menor é seu valor. Assim os ricos se habituam à riqueza e esta, que para o