
Pietro Ubaldi Cristo
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aprendendo a utilidade do dinheiro. A vida não nos quer ignorantes de nenhum de seus aspectos, até aos considerados inferiores. Este conhecimento é necessário também para quem queira subir espiritualmente, que não pode alcançar os degraus mais elevados, pulando os de baixo, mas percorrendo-os todos. O Céu não pode constituir-se de ingênuos, ignaros da realidade, mas sim, de indivíduos que percorrem toda a estrada conduzindo-os até lá, tendo Cristo Pietro Ubaldi 55 superado todas as dificuldades que nela se encontram. Na Terra, o idealista, enquanto contempla e sonha, não pode perder de vista as imperativas necessidades da vida, às quais deve prover como todos. Em suma, viver o Evangelho não pode ser nenhuma fácil aventura. Caem nessa ilusão quantos ignoram como o ideal esteja bem longe da realidade quotidiana, os que não conseguiram ainda estruturar a espinha dorsal, sem a qual qualquer superação evolutiva faltaria o necessário ponto de apoio. Ora, considerando este aspecto, é necessário não olvidar o lado oposto da questão. E evidente: o idealista que não vive os princípios que sustenta com palavras é um hipócrita, e para não sê-lo torna-se necessário traduzir em fatos suas afirmações. E é, outrossim, também necessário reconhecer que a experiência de viver com o fruto do seu trabalho ensinou àquele jovem que isso o tinha colocado numa posição mais honesta, mais sadia e viril do que a antecedente, sendo inegável o fato de que entre as forças da vida, são as positivas e favoráveis que movem o indivíduo e não as negativas e desfavoráveis. Estes fenômenos estão regulados pela justiça da Lei de Deus, e sofrem intervenção da Divina Providência, desde que o indivíduo tenha operado de maneira a merecer sua intervenção. O nosso jovem pôde, então, verificar que aquelas estranhas palavras do Evangelho eram verdadeiras e demonstráveis, sempre que se cumpram todas as condições necessárias para tal. De fato a ele nunca faltou o necessário, mesmo se teve de submeter-se a uma vida de esforços e preocupações. E tudo isto sem paralisar o seu trabalho espiritual. Desse modo, como resultado, ele alcançou uma posição mais avançada, em outro nível evolutivo, a qual teria sido impossível se permanecesse, exclusivamente, usufruindo da riqueza. Tudo isto prova que a realização do ideal na Terra não é fácil, sem ser, por isso, loucura que leva à morte. Trata-se de um trabalho muito sério e o idealista inexperiente deve precaver-se das dificuldades que o esperam. Ele pode acreditar que baste aplicar o Evangelho ao pé da letra, para chegar logo a uma vida ideal, comodamente servido pela Divina Providência; entretanto, isso não acontece e fica desiludido, porque depara-se com uma vida material. Para poder viver aquela vida do espírito, far-se-ia necessário um ambiente civilizado, resultado de um longo trabalho, porque a civilização não se alcança furtando-se à fadiga de construí-la e fugindo do mundo, mas mergulhando nele e transformando-o com o seu próprio esforço. Para dedicar-se somente ao problema espiritual é indispensável ter resolvido o problema material. É necessário percorrer o caminho da ascensão passo a passo. Neste não existem atalhos, ou posições que não tenham sido conquistadas. O idealista simplório deve aprender que o ideal não e um jogo e que a verdadeira pobreza pode matar também o espírito, porque pode impelir de novo o indivíduo até os mais baixos níveis sociais, tirando, desse modo, todo alento necessário às mais altas manifestações da vida. Apercebe-se, então, que a riqueza mantinha aquele indivíduo numa. posição privilegiada, fora da realidade, e que o seu desapego não passava de uma forma de inconsciência do valor do dinheiro e da realidade da vida. Acreditava ele que a renúncia evangélica lhe permitisse passar do ócio do rico ao ócio contemplativo do homem espiritual, e não percebeu que, muitas vezes é indispensável entregar-se ao trabalho, à obrigação que tem o homem comum de ganhar a vida, sem muitas chances para contemplações ou evasões prematuras às altas esferas da vida espiritual. Destas dificuldades de viver o ideal sobre a Terra, nasce a consciência da qual estão cheias as religiões. Tais dificuldades da enorme distancia existente entre o dizer e o fazer derivam, por sua vez, da grande distância que separa os princípios propostos pelo ideal e os que na Terra são impostos pela realidade da vida, aqui governada por outras leis. Trata-se de dois sistemas, cada um situado em diferente nível de evolução, os quais se negam reciprocamente e não podem evitar o choque quando pretendem atuar simultaneamente no campo experimental de nossa vida. Ora, a consciência de um tal antagonismo entre dois princípios diversos coexistentes na Terra não só se explica, como também se reconhece necessária. Trata-se, com efeito, de duas posições extremas do mesmo fenômeno evolutivo que estamos vivendo: a mais atrasada de um lado e a mais avançada do outro. Neste trajeto o homem está a caminho, isto é, um processo de transformação, que vai de uma posição de grau inferior a outra superior. Ele é forçado a viver no inevitável conflito entre dois extremos, contemporaneamente, entre os quais se Cristo Pietro Ubaldi 56 encontra; o que está em baixo, por princípio de inércia, conserva o passado; e o que está no alto, por princípio de movimento ascensional, vai em direção ao futuro. Situado nesta posição conflitante, o homem instintivamente resolveu o problema pela via da menor resistência, a da hipocrisia, dado que ela é culpa ao nível do ideal, não, porem, ao nível utilitário das leis da vida do dia a dia. Lá onde aquilo que é velho não quer morrer e, se resiste, é ainda por uma razão de prudência e defesa, que desaconselha as aventuras em zonas da vida não exploradas; lá onde o novo não se consolidou ainda porque está nascendo sob forma de tentativas, é incerto porque não comprovado pela experiência; lá onde tudo isto se verifica, o homem procurou uma pacífica via de convivência entre as duas opostas exigências, deixando a cada uma o máximo possível de satisfação. O problema consistia em fazer com que o ideal fosse fixado na Terra, sua inimiga, onde todavia há de cumprir a sua função. É assim que se chegou a escolher o caminho de sustentar o ideal em teoria, o qual se contenta com palavras, com nobres aspirações, propiciando, contudo, na prática, a realidade biológica, que se satisfaz de fato, com uma atividade substancialmente proveitosa. Com tal método, que parece contraditório e hipócrita, são satisfeitas da melhor maneira as duas opostas aspirações, o que redunda, nas reais circunstâncias, no melhor resultado possível. Consiste este em implicar uma coexistência que permite ao homem cumprir um trabalho de assimilação, com o alcance de um dos maiores fins da vida: a efetivação da evolução. Nada de melhor se poderia desejar e obter. Enquanto o homem finge perseguir o ideal, embora sem conseguir vivê-lo de verdade, ele o fixa na mente, o interioriza no espírito, executando, assim, aquele primeiro trabalho de maturação interior que é necessário para chegar à última fase, que é a da efetiva realização do ideal Com este jogo entre aparência e substância, ele vai se infiltrando progressivamente na realidade biológica até que se enxerte no seio desta e a ela se substitua transferindo, desse modo, a vida para um plano mais alto. Dessa forma, a vida pode orientar seu percurso evolutivo mediante a escolha de uma meta. Isto não é traição nem rejeição do ideal, pois este é assimilado por graus, não havendo, aliás, outro caminho mais apropriado segundo a lei da vida. Se, ao contrário, o mesmo