
Pietro Ubaldi Evolução e Evangelho
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comprimento, se forem menores, ou lhes é cortado um pedaço, se forem maiores. É necessário conhecer as reações da animalidade e levá-las em conta. Ela é uma forma de vida inferior, mas é vida; e como tal, pelo mesmo divino princípio da vida, não quer e não pode renunciar a Evolução e Evangelho Pietro Ubaldi 26 existir. Ao contrario, quanto mais se é involuído, mais se é apegado à vida; isto porque, quanto mais se é involuído, e se possui menos, o ser, em sua pobreza, esta mais apegado a sua existência limitada e precária. A plenitude da vida esta em Deus, e o ser a conquista subindo para Ele com a evolução, enquanto a perde afastando-se de Deus com a involução. Eis porque o ser inferior luta tão desesperadamente pela sua vida: porque precisa e quer lutar para sobreviver. Ora, o Evangelho, negando a animalidade do involuído, aparece a este como uma negação de toda vida, dado que este só conhece a sua forma, e acredita morrer se a abandonar. É natural, então, que ele se rebele contra um Evangelho que se lhe apresenta em forma negativa, ou seja, como negação e sufocação daquela vida. Ele não compreende, nem os divulgadores do Evangelho o fazem compreender que, ao contrario, o Evangelho é uma afirmação e uma expansão da vida, e que aceitá-lo não é uma dor de renúncia, mas uma alegria de conquista. Mas como pode a natureza humana deixar de inverter tudo na terra? Assim, o Evangelho foi apresentado mais como uma lei dura, carregada de sanções, com as quais se agride a vida para mutilar sua expansão, do que como uma arte sabia para alcançar uma vida cada vez maior. Mas, dado o ambiente humano em que o Evangelho caiu, como poderia ocorrer diversamente? Só os santos e as almas grandes souberam escapar desse erro, mas eles são muito poucos para arrastar a massa humana. Se o involuído resiste ao evoluído, se se revolta contra a psicologia evangélica do santo, é porque defende seu tipo biológico no qual vê a própria conservação. Ele sente, por instinto, que o outro tipo quer substituí-lo na vida, tomando-lhe o lugar. Sem dúvida, o direito à vida cabe ao novo, mas isto não impede que o velho resista para não morrer. Eles são rivais no mesmo terreno da vida, e por isso se combatem. Se o involuído é o tipo do passado, e por isso se sente com maior direito de continuar a viver, o evoluído é o tipo do futuro, e por isso se sente com direito ainda maior de apoderar-se da vida. O involuído experimenta imenso ciúme dele, porque sabe que amanhã, tomará o seu lugar. E não compreende que será ele mesmo que ressuscitará de uma forma velha, numa nova. Não compreende que o exemplo dos evoluídos é um convite à conquista de uma vida maior, que será apenas a continuação de sua própria vida. Entretanto, entre os dois, o mais forte é o elemento jovem, que a vida defende porque a ele confia a continuação, de seu caminho. As velhas células resistem. Mas logo que se forma uma célula de tipo superior, mais avançado, ela procura consolidar-se como tipo biológico e tornar-se centro de atração das outras células do mesmo tipo que se vão formando. Estas, por sua vez, se sentem atraídas e se arruinam em redor daquela primeira célula, até que possa firmar-se e fixar-se a vida num plano evolutivo mais alto, na forma do novo biótipo do evoluído. E assim que, por lentas maturações, consegue fixar-se na terra o Evangelho. Hoje ainda estamos na fase dos raros exemplares esporádicos do novo tipo em formação. Mas esses exemplares, com o tempo, deverão tornar-se cada vez mais freqüentes, mais normais, até que, seguindo as pegadas do Evangelho, toda a humanidade terá de passar a viver num plano mas alto de evolução, que já não mais será o atual da animalidade, mas o da espiritualidade. Isto poderá parecer fantasia. Mas não há como contestar que a evolução é fenômeno inegável, reconhecido por todos. já agora não mais se pode admitir que a evolução continue sendo compreendida como desenvolvimento de órgãos, como o queriam Darwin e Haeckel, mas como desenvolvimento nervoso, psíquico e espiritual. Assim se realiza a evolução através desse contraste de forças. Os obstáculos que os involuídos costumam colocar para fechar o caminho aos pioneiros do ideal são bem conhecidos. Desde o caso de Cristo até todos os outros menores, a história esta cheia deles. É uma história de mártires. Se o Sistema atrai para o Alto, o Anti-Sistema, por sua vez, possui uma atração sua para baixo. A evolução caminha deste para aquele. Em períodos de descida pode haver o desenvolvimento semelhante ao do câncer, em sentido involutivo. Atividade retrógrada, destrutiva. Enquanto o evoluído tende a desenvolver-se Evolução e Evangelho Pietro Ubaldi 27 ordenadamente, em sentido orgânico, construtivo, o involuído só sabe fazer o contrário. Cada um, já o dissemos, não pode deixar de revelar em tudo, a si mesmo. O involuído só saberá agir como involuído, porque, se agisse diversamente, já o não seria mais, e sim um evoluído. Até as células inferiores, involutivas; atraem para a própria órbita os elementos a elas semelhantes. Mas, enquanto, no caso do evoluído, se forma a fraternidade pacífica e construtiva, tendente à unidade orgânica, no caso do involuído forma-se o bando de malfeitores; para guerrear quem quer que seja, e por fim, para guerrear-se entre si, porque a finalidade é destruir e separar, unicamente pela vitória do próprio egoísmo individual. * * * Não devemos esconder a realidade e ignorar as dificuldades que encontra na terra a aplicação do Evangelho. O passado animal esta muito próximo ainda, para que não se ressinta toda sua tremenda influência. Transformar o próprio tipo e forma mental, transportar-se para viver num plano biológico mais alto, representa um trabalho profundo que não pode improvisar-se. Sem dúvida, o Evangelho quer ensinar ao homem coisas nobres e grandes para o futuro. Mas podemos perguntar a esse homem: que lhe ensinou o passado? As virtudes da prepotência e do egoísmo, ou as da mentira, principalmente. As tão declamadas civilizações da história só puderam aplicar ligeiros vernizes por cima da originária ferocidade dos animais. E no trabalho de educá-los, voltamos sempre ao início, porque educá-los significa refazê-los totalmente. Teremos já pensado de quantas dezenas ou centenas de milênios são fruto os instintos atuais? E houve mister adquiri-los para sobreviver, porque só vivia quem os possuísse. Eles constituem o nosso sangue, fazem parte de nossa carne. A luta pela vida pode ter selecionado o mais forte, mas, em redor do vencedor quantas ruínas, contorções, revoltas, naqueles que tiveram de adaptar-se a viver como vencidos! Todas as prepotências que os fracos tiveram de engolir à força, estão prontas a regurgitar à procura de uma desforra que lhes dê satisfação. Todas as experiências vividas permanecem escritas em nossa carne e reclamam compensação. Os delinqüentes natos são tais porque querem ser maus, ou porque se tornaram assim pela reação ao esmagamento dos fortes? A humanidade viveu até agora de delitos. E isto não pode cancelar-se com um golpe. Cada causa deve ter o seu efeito. Então, quando o Evangelho se nos apresenta inerme e acariciador, que podem fazer esses seres, carregados de revolta que se acumularam em séculos de opressão? Explicam-se assim, mesmo que não se justifiquem, os extermínios da revolução francesa e a revolta de tantas revoluções E o mundo continua a cometer injustiças, julgando que lhe baste a força para fazer calar e anular as reações. E, no momento parece que isto seja a verdade. Mas o fogo viceja sob as cinzas. E no entanto formam-se