
Pietro Ubaldi Profecias
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também pode acontecer que, na visão permitida pela contemporaneidade dos planos superiores, às vezes se misture, como no Apocalipse a normal sucessão dos acontecimentos, que depois se projetarão na Terra em forma de sucessão no tempo. É por isso que, nas profecias, falta com freqüência a precisão do tempo, que é a que mais gostaríamos de saber. Por isso é que mais emergem, ao invés, elementos morais, porque no plano de onde descem as profecias, eles são fundamentais, e as profecias descem para transmiti-los ao nosso plano. Assim, seu objetivo é de converter ao bem, mais do que se satisfazer nossa curiosidade ou de fazer-nos organizar defesas contra reações merecidas, e portanto necessárias. Se são essas as características da profecia, o problema de sua função é outro, quando a visão desce à Terra e é comunicada aos homens. Sua tarefa aqui é de avisar, para que os maus se encaminhem para o bem e para que os bons aí permaneçam com fé e paciência. O alvo das profecias na Terra é de indicar o cumprimento da Lei e de convidar o homem a segui-la de bom ânimo, se não quiser sofrer tremendos desastres. É natural, pois, que essas profecias se recusem à exploração que o homem quer fazer, ou seja, não querem fornecer informações e revelar o futuro, para que seja utilizado esse conhecimento não para o bem, mas contra o bem, isto é, para fazer a própria vontade e ter bom êxito nos próprios intentos e até na guerra contra Deus. Das profecias, então, não devemos esperar o que não podem nem devem dar-nos, ou seja, informações para dominar os acontecimentos, para escapar ao determinismo da Lei que deve premiar-nos ou punir-nos como merecemos. Por isso, se uma profecia tiver que dizer: "acontecerá isto ou aquilo", procurará logo retrair-se, cobrindo-se de véus, porque, se deve e quer avisar, deve ao mesmo tempo impedir que as forças do mal, porque involuídas são ignorantes, o saibam e disso se aproveitem, para organizar melhor suas batalhas contra o bem, é natural, assim, que muitos fiquem desiludidos das profecias e se desinteressem delas. Mas, as profecias não querem mesmo dizer tudo o que o homem, ao invés, desejaria; elas recusam-se a ser exploradas pelo mal; estão já prevenidas para impedir este mau uso que delas se desejaria fazer. As forças do mal que espiam essas luzes caídas do céu, para descobrir os desígnios divinos só para melhor zombar ou escapar deles, ou contrastá-los, respondem as profecias: "não, nada sabereis". Tudo o que do Céu cai na Terra tem que estar prevenido contra o mau uso que em nosso mundo se consegue fazer de tudo. Quantos olhos espiam, quantos ouvidos tentam escutar estas intuições do futuro. Que vantagem poder conhecê-lo por antecipação, para defender-se melhor! Ouvem-nas os bons, para ter coragem e perseverar, mas escutam-nas também os levianos, por curiosidade, e as escutam sobretudo os maus, para reforçar-se no mal. Ora, vimos que, no Alto, nas grandes linhas, o futuro é determinístico, e portanto não deve ser embaraçado em sua atuação pelo pequeno poder da liberdade humana que tem fim completamente diverso: isto é, experimentar e estabelecer as responsabilidades, porque as ações entram no campo da fatalidade e do destino logo que livremente realizadas. Quem interroga as Profecias Pietro Ubaldi 112 profecias só para saber o futuro, e então pôr-se a lutar contra a Lei, deveria antes interrogar a si mesmo, para ver qual sua posição diante da Lei, a posição que livremente quis tomar, com suas obras. Quando a profecia desce à Terra, trazendo consigo as notícias de outro mundo, ela vem chocar-se com uma realidade totalmente diversa. Então, o estado determinístico dos planos superiores, situados acima do devenir ou transformismo evolutivo, entra em contato com aquele estado de incerteza da escolha que nós chamamos livre- arbítrio. Neste ponto, o problema filosófico do contraste entre o livre-arbítrio e o determinismo, torna-se vivo, atual, porque é o contato real entre duas forças e posições opostas. E se já resolvemos esse problema, teoricamente e em linhas gerais (veja Problemas do Futuro, cap. XI, "Livre-Arbítrio e Determinismo"), agora o argumento das profecias oferece-nos uma confirmação e aplicação do mesmo. Tudo está enquadrado dentro de limites. O homem, que gostaria de conhecer os acontecimentos para modificá-los, deveria ao invés compreender que seu modo de ser, sua forma particular de vida, baseada na chamada liberdade, não pode alcançar os céus, reino das profecias; deveria compreender que sua liberdade não pode ultrapassar os confins do campo humano de ação, não pode ultrapassar o limite e entrar no campo da Lei, onde reina o determinismo do absoluto. Os dois campos são diferentes: num domina o desenrolar-se obrigatório das grandes linhas, no outro a incerteza da pequena oscilação do livre-arbítrio humano. Um campo não pode entrar no outro, embora nas profecias cheguem a tocar-se; mais até, o mais alto penetra no inferior, e a este é concedido olhar aquele. Cada um dos dois campos tem que obedecer às suas leis. Assim, uma profecia muito exata e evidente, seja em relação ao futuro próximo ou longínquo, viria alterar a liberdade humana, introduzindo nela novos elementos de decisão e perturbando o cálculo das responsabilidades. A profecia não tem o objetivo de tranqüilizar-nos para que possamos entregar-nos melhor às nossas comodidades, e para poupar-nos o esforço de vigiar e estar prontos, agindo sempre bem. Assim se explica aquela linguagem sibilina, com que a profecia parece gostar de esconder seu pensamento, justamente aí onde mais se desejaria saber. Dessa forma, se se anuncia como certo um acontecimento, esconde-se o tempo de sua realização, e tudo fica encoberto num simbolismo de difícil interpretação. J Após haver compreendido, nas linhas gerais, o significado e a natureza do ato profético, ocupemo-nos, agora, do Apocalipse. A interpretação do simbolismo com que se exprime esse grande livro, tentou muitas mentes, algumas delas movidas pela curiosidade e pela mentalidade de adivinho. É natural, então, que elas se tenham perdido no emaranhamento dos pormenores, ou tenham chegado às interpretações mais contraditórias, produzindo apenas discordantes círculos viciosos de fantasia. É inútil querer enfrentar esse livro sem antes ter conhecido e resolvido os grandes problemas da vida e da História. Inútil enfrentá-lo com olhos míopes, diretamente, por análises, sem saber antes olhar de longe, bem orientado pela visão panorâmica de síntese. A Profecias Pietro Ubaldi 113 interpretação do Apocalipse não pode ser jogo de adivinhos, mas só trabalho de intuição e, ao mesmo tempo, raciocínio filosófico profundo. Muitas interpretações foram feitas com objetivo preconcebido, de modo que, ao invés de representar obra de pesquisa, representam uma tentativa de servir-se da autoridade desse livro, para fazê-lo pronunciar, e assim valorizar, a condenação dos próprios inimigos, provando o lado bom da causa do próprio grupo e a segurança de seu triunfo. As demonstrações e conclusões mais opostas são obtidas dessa maneira, com a mesma precisão de cálculos e surpreendente coincidência de fatos. Ora, é certo que o Apocalipse não foi escrito para serviço particular de ninguém, nem para alimentar antagonismos de um grupo contra outros. Ao contrário, poderemos dizer que, dado seu caráter universal, quanto mais impessoal for sua interpretação, tanto mais terá probabilidade de aproximar-se da verdade. Procuraremos, então, fazer aqui uma pesquisa lógica do Apocalipse, observando como seu pensamento concorda com o pensamento da Lei de Deus, dirigente da