
Violencia e Armas Joyce Lee Malcolm
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do rei para agradar aqueles membros do Parlamento e as pessoas de seu reino de quem ele estava exigindo e esperando tanto. O preâmbulo do estatuto se referia à \u201cQuestão e Ambigüidade\u201d que existiam quando qualquer pessoa ou pessoas \u201cdispostas ao mal\u201d eram mortas durante uma tentativa de roubo ou assassinato de outra pessoa ou pessoas \u201cem ou perto de uma Estrada, Rua, Caminho, ou Trilha, ou em suas Mansões, Casas ou locais de Habitação, ou que de modo criminoso tentassem invadir qualquer Residência no período Noturno.\u201d A partir daí qualquer pessoa ou pessoas indiciadas ou condenadas pela morte de qualquer pessoa ou pessoas durante uma tentativa de assassinato, roubo, \u201cou de invadir Mansões para roubar\u201d não seriam \u201cmultadas nem perderiam quaisquer Terras, Imóveis, Bens, ou Propriedades, pois a Morte de qualquer Pessoa maliciosamente disposta é de alguma Forma um assassinato, mas devem ser [...] totalmente inocentadas e liberadas, de maneira semelhante à de que a mesma Pessoa ou Pessoas deveriam ser se ele ou eles fossem legalmente absolvidos pela Morte da dita Pessoa ou Pessoas maliciosamente dispostas.\u201d Esta lei estendeu assim a categoria de homicídio justificável, ou sem culpa, para incluir aqueles que defendiam a si mesmos de qualquer um que tentasse roubá-los ou matá-los em, ou próximo a, uma estrada o caminho público ou em suas casas durante a noite. Embora a incerteza existente e o perdão pro forma possam não ter constituído um problema grande, grandes comentaristas legais desde Edward Coke e William Blackstone até William Holdsworth e T. A. Green destacaram esse estatuto como sendo de importância crucial. Blackstone o via como algo que traria a lei Inglesa à conformidade com a lei da natureza e com a prática legal predominante, enquanto Green a apontava como \u201co estágio final de um longo processo pelo qual a lei comum se adaptou à visão social sobre o delito capital.\u201d[ 41 ] O desfecho foi que as mortes de pretensos ladrões, salteadores ou outros assaltantes por suas vítimas eram agora justificáveis, não apenas perdoáveis. A questão da possibilidade ou não do homicida conseguir escapar e assim evitar o derramamento de sangue se tornou irrelevante. Porém, apesar desta inclusão ampliadora do homicídio justificável por um lado, e de categorias adicionais de assassinato do outro, apesar das alterações nas sensibilidades e nas distinções legais, apesar dos levantes principais desses dois séculos, o crime violento estava em declínio. Armas de fogo no início da Inglaterra moderna Conforme o número de homicídios declinava, o uso de armas se popularizou pela primeira vez. Homens ingleses comuns eram obrigados a manter armas consigo para suas diversas tarefas de manutenção da paz, para contribuir com as milícias e serem treinados para isso. As armas se tornaram populares nesses tipos de tarefa durante o século dezesseis. Ainda que caras, imprecisas e pesadas, a nova tecnologia era incrivelmente popular. Os avisos de Sir John Smythe e de outros especialistas a \u201cjovens mal orientados que achavam que as armas de fogo eram a arma do futuro\u201d sobre as muitas falhas da nova invenção, especialmente quando comparada à firmeza comprovada e à eficiência do arco longo, foram em vão.[ 42 ] O público Inglês começou a comprar mosquetes e armas curtas para defesa própria, manutenção da paz e caça, bem como para roubos em estradas. Uma variedade de armas de fogo entrou em uso juntamente com as primeiras armas curtas. Os reis ingleses demoraram a introduzir os mosquetes em suas milícias. Eles eram um complemento ao arco longo, ao qual Henrique VIII e seus compatriotas atribuíram corretamente muitas vitórias gloriosas. O Parlamento tentou manter os homens ingleses interessados no arco e flecha. Leis foram feitas para fazer que todo homem com idade inferior a sessenta anos mantivesse um arco e praticasse o uso do mesmo, e toda aldeia ou vila era obrigada a manter alvos para o tiro de arco e flecha, para que os habitantes locais pudessem praticar em feriados \u201ce em quaisquer outras épocas convenientes.\u201d[ 43 ] Fabricantes de arcos eram obrigados a fabricar arcos baratos para que as famílias tivessem condições de equipar seus filhos a partir dos sete anos de idade. Mas o progresso não seria parado, e manter o uso do arco através de leis do Parlamento se mostrou impossível com o tempo. Como descreveu Cruickshank, \u201cos homens compravam seus arcos para parecer que obedeciam à lei, mas não lançavam uma flecha sequer\u201d.[ 44 ] Como os outros monarcas estavam armando suas tropas com armas de fogo, o rei Henrique finalmente cedeu, ainda que ele insistisse em que os garotos fossem armados com um arco e duas flechas e, aos sete anos, ensinados a atirar, sob pena de multa.[ 45 ] Uma vez que o mosquete se tornou o equipamento padrão das milícias, milhares de homens ingleses tiveram que ser treinados em seu uso e quando eram convocados tinham a obrigação de trazer uma arma em condições de uso para o exército de cidadãos.[ 46 ] Os homens ingleses tinham condições de comprar armas de fogo? Nós sabemos o custo de armas novas durante o século dezessete, pois, em 1631, Carlos I exigiu que os fabricantes de armas, em troca do monopólio, fixassem seus preços. Um mosquete novo com o equipamento acessório, por exemplo, era vendido por 15 xelins e 6 centavos, e um par de armas curtas por 2 xelins. Em 1658, durante o Commonwealth[ ix ], o preço havia caído para 11 xelins por mosquete, e em 1664 o governos considerou oferecer 10 xelins por mosquete para cidadãos que entregassem armas em boas condições de uso. Um indivíduo comum conseguiria pagar 10 xelins? Em 1664 um soldado raso recebia 18 centavos por dia quando estava de serviço, o que o permitia amealhar fundos para um mosquete novo em pouco mais que uma semana. Embora fosse improvável que ele fosse comprometer todo o seu soldo na compra, a soma era acessível. O soldo para ficar de guarda era de 8 centavos por noite, ou seja, era necessário trabalhar uma quinzena para conseguir juntar o valor de uma arma nova. Armas usadas, é claro, eram mais baratas. Em 1628, quando um par de armas curtas novas custava duas libras, uma arma curta roubada era avaliada em apenas 3 xelins. Mas a evidência mais clara da difusão da propriedade de armas vem dos registros das cortes. Indiciamentos pelo mau uso de armas de fogo revelam uma matriz surpreendente de pessoas com ocupações humildes \u2013 trabalhadores, lavradores, e servos de ambos os sexos \u2013 que apareciam perante as cortes acusados do uso indevido de armas de fogo.[ 47 ] Da mesma forma que acontecia com outros tipos de armas, essas restrições no uso de armas de fogo tinham o intuito de garantir a segurança pública. Entre elas estava o estatuto de 1541 que restringia a posse de dois tipos de armas ocultáveis, populares entre os salteadores de estrada, da arma curta (descrita como qualquer arma com cano menor que uma jarda) e da besta, a pessoas com renda superior a 100 libras anuais.[ 48 ] Esta lei é freqüentemente mal compreendida, como se restringisse a propriedade de armas de fogo somente às classes mais altas. Na verdade ela somente restringia o uso daqueles tipos de armamento mais comuns nos crimes. De fato, o estatuto teve o cuidado de explicar que cavalheiros, soldados, serviçais, e habitantes das cidades, vilas, centros mercantes, e aqueles que viviam fora das cidades poderiam \u201cter e manter em cada uma de suas casas qualquer tipo de arma curta, em qualquer quantidade, com cano de até uma jarda de comprimento.\u201d[ 49 ] No reinado do filho de Henrique, Eduardo, o uso de um certo tipo de munição, mais perigosa, demandava uma licença especial.[ 50 ] Outras leis governavam o uso apropriado das armas de fogo. Elas não podiam ser brandidas de modo a aterrorizar cidadãos pacíficos, e juntamente com alçapões, arcos e cães, seu uso para a caça era proibido para a grande maioria das pessoas barradas das diversões aristocráticas.[ 51 ] As cortes