
Violencia e Armas Joyce Lee Malcolm
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legal parece ser de que a única coisa que alguém ameaçado de ser roubado pode fazer para se defender é \u201cdar golpes no ladrão e ameaçá-lo com uma arma.\u201d[ 37 ] Um ataque à casa de alguém, ainda que seja considerada a fortaleza da pessoa pela lei comum, também deixa o proprietário limitado em sua defesa, já que o intruso poderia estar apenas ameaçando a propriedade, e o uso de qualquer força que possa ser vista como excessiva para proteger a casa pode ser considerado não razoável. A combinação desses dois estatutos, os quais colocam tanta ênfase na interpretação da palavra \u201crazoável\u201d, jogaram a lei da defesa própria na confusão e deixaram os cidadãos individuais em séria desvantagem. Um estudioso achava \u201cimpensável\u201d que ao esboçar a Lei Criminal de 1967 o \u201cParlamento varresse inadvertidamente os privilégios antigos da defesa própria. Se tal moção tivesse sido debatida é pouco provável que os membros a tivessem sancionado.\u201d Ainda assim, ela é otimista em relação a podermos \u201cesperar que a legislatura considere os problemas mais amplos decorrentes do uso da força. Em vista da inadequação da lei atual, há alguma urgência aqui.\u201d[ 38 ] Seu artigo foi publicado há mais de vinte e cinco anos, e nada foi feito. Como é que esses dois estatutos colocaram as vítimas de ataques em desvantagem? Durante o debate da lei de 1953, o governo assegurou ao Parlamento que uma pessoa cumpridora da lei não seria prejudicada por ela e que seria razoável carregar um artigo para proteção própria ao viajar por áreas perigosas. Mas embora o amparo de se ter uma desculpa razoável para carregar algum artigo estivesse disponível, os promotores perseguiram com vigor possíveis brechas de interpretação, ao mesmo tempo que as cortes deram uma \u201cinterpretação restrita\u201d para desculpa razoável.[ 39 ] Consideremos o seguinte caso: O réu foi parado pela polícia quando corria por uma estrada na noite de 15 de maio de 1973 e foi encontrado carregando consigo uma barra de metal polido, uma corrente de bicicleta de dois pés de comprimento, um peso de relógio de metal e uma luva cravejada. Ele disse que tinha esses itens para sua proteção, pois havia sido ameaçado por uma gangue de jovens. Ele foi acusado sob a Lei de 1953. Em sua audiência foi determinado que, em diversas ocasiões, um grupo de jovens o havia perseguido e ameaçado com assalto. Ele havia informado esses eventos à polícia. Os juízes acharam, em sua audiência, que ele acreditava que havia um perigo iminente contra si. Esse medo se mostrou bem fundamentado uma fez que dezesseis dias depois ele foi atacado e hospitalizado por ter apanhado violentamente. Os juízes concederam a ele a desculpa razoável por carregar armas e não o condenaram. O promotor apelou o caso para a Corte Divisional do Banco da Rainha. Esta corte decidiu que o réu não precisava carregar todas as quatro armas para se proteger e que uma desculpa razoável para se carregar uma arma deve estar relacionada a uma ameaça iminente e imediata de perigo, no momento em que a arma é carregada. O porte regular e rotineiro de armas não era permitido. Os juízes não acharam que a desculpa era razoável e mandaram o caso de volta à instância inferior com a orientação de condenação.[ 40 ] O fato de que o réu estava sob um perigo real todas as vezes que saía de casa, ou de que havia notificado à polícia, a qual falhou em protegê-lo, não teve influência alguma para os juízes da Corte Divisional. Eles estavam aplicando o princípio enunciado pelo Lorde Widgery no caso Bryan v. Mott que para que o porte de uma arma seja \u201crazoável\u201d a \u201cameaça [...] deve ser uma ameaça particular e iminente, que afete as circunstâncias específicas nas quais a arma era carregada.\u201d[ 41 ] O Lorde Widgery também determinou que era razoável para um homem que já havia sido atacado carregar algo para se defender por um dia ou dois, \u201ctalvez por um pouco mais\u201d, mas alongar isso para sete dias seria \u201cmuito próximo da linha divisória da lei.\u201d[ 42 ] Mesmo quando um indivíduo usava um instrumento para salvar sua vida quando nenhuma outra ajuda estava disponível, ele tinha grandes chances de ser processado. Isso aconteceu a Eric Butler, um executivo da British Petroleum Chemicals de cinqüenta e seis anos de idade. Em março de 1987 dois homens assaltaram Butler em um vagão de metrô em Londres, estrangulando-o e esmagando sua cabeça contra a porta. Ninguém no vagão veio em sua ajuda. Mais tarde Butler testemunhou \u201cMeu suprimento de ar estava sendo cortado, meus olhos começaram a escurecer e eu temi por minha vida.\u201d Em desespero ele sacou uma lâmina de espada de sua bengala e golpeou um dos homens \u201ccomo meu último recurso de defesa\u201d, esfaqueando o homem no estômago. Os assaltantes foram acusados de dano corporal ilícito mas Butler também foi julgado, e condenado por carregar uma arma de ataque.[ 43 ] A mera ameaça de se defender poderia ser considerada ilegal, como descobriu uma senhora idosa. Ela conseguiu assustar uma gangue de ladrões ao dar um tiro falso de um revólver de brinquedo, e foi presa pelo crime de amedrontar alguém com o uso de uma imitação de arma de fogo.[ 44 ] O uso de uma arma de brinquedo para defesa própria durante uma invasão domiciliar também é inaceitável, como descobriu um proprietário que conseguiu deter a ação de dois homens que invadiram sua casa com uma imitação de arma. Ele chamou a polícia, mas quando eles chegaram o prenderam por delito com arma de fogo.[ 45 ] A questão da defesa própria não é o único aspecto problemático da lei de 1953. Como temiam os Membros do Parlamento, houve uma dificuldade considerável em se carregar legalmente artigos comuns que não foram nem feitos e nem adaptados para causar ferimentos. Entre esses itens, cujo porte com intenções ofensivas as cortes consideravam ilegais, estão uma faca na bainha, uma espingarda, uma navalha, um saco de areia, um cabo de picareta, uma pedra e um tambor de pimenta. Um motorista de táxi de Edimburgo foi acusado por carregar um pedaço de mangueira de dois pés de comprimento com um pedaço de metal na ponta como proteção contra passageiros violentos, mesmo que alguns taxistas tivessem sido atacados e gravemente feridos naquela cidade.[ 46 ] Uma turista que havia usado um pequeno canivete para se proteger ao ser atacada por alguns homens foi condenada por carregar uma arma de ataque.[ 47 ] Carregar uma garrafa de leite quebrada era considerado ilegal ainda que o réu alegasse que queria cometer suicídio. Como Smith e Hogan explicaram em seu compêndio sobre leis, \u201cQualquer artigo é capaz de se tornar uma arma de ataque.\u201d Eles adicionam que, caso um artigo tenha pouca chance de ferir uma pessoa, então o ônus de provar a intenção necessária será \u201cmuito pesado.\u201d[ 48 ] É claro que um artigo que não possibilite causar ferimentos será também inútil para defesa própria. A lei de 1953 também tem algumas anomalias estranhas que prejudicam qualquer um que planeje proteger a si mesmo. Em seu compêndio sobre a legislação criminal, Glanville Williams deu um exemplo de um homem carregando uma chave inglesa para sua proteção. Se ele tivesse a intenção de usá-la somente para assustar alguém que o atacasse, em vez de golpeá-lo com ela, não seria uma arma de ataque. Se fosse usada no calor do momento, quando o ataque estava acontecendo, não seria uma arma de ataque. Se uma pessoa não estivesse carregando uma chave inglesa, mas apanhasse uma de um assaltante ou visse uma e a usasse no momento do ataque, ela não seria culpada de ter a chave consigo, e ela não seria uma arma de ataque. Mas seria um delito carregar a chave para proteção, já que a defesa própria, de acordo com a Lei de Prevenção ao Crime, não é considerada como desculpa razoável para carregar tal artigo em local público.[ 49 ] Por que a defesa própria não é uma desculpa razoável? De acordo com Williams, os ingleses não tinham permissão para o hábito de carregar uma arma ou outro artigo de defesa, porque toda