Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Obesidade Luiz Pedro Duarte Farias – lpdfarias.med@gmail.com Universidade Salvador – Laureate International Universities Medicina – Clínica Integrada Turma IV INTRODUÇÃO GERAL Em estudos realizados com aranhas, percebeu-se que, quanto mais as aranhas comiam moscas num curto período de tempo, menos ela vivia. Ou seja, quanto mais a sua restrição alimentar acontecia, mais ela se utilizada da energia do alimento e mais se vivia. Então, a ingesta calórica se torna inversamente proporcional a longevidade. Isso acontece da mesma forma com os humanos – quanto mais se come, maior as chances de morrer. A obesidade possui diversos conceitos, dentre eles, alguns serão apresentados: obesidade é o excesso de tecido adiposo associado ao aumento de peso; obesidade é um percentual de gordura corporal que aumenta o risco de doença; obesidade é um estado de adiposidade no qual a gordura está acima do ideal. Nos estudos realizados em 2010 é mostrado que o sobrepeso no Brasil atinge 50,1% dos homens e 48% das mulheres; obesidade, 12% dos homens e quase 17% das mulheres. Ou seja, é como se metade dos brasileiros estivesse acima do peso. Nos EUA, este cenário muda completamente de forma grave: 30% da população estadunidense é obesa (é mais que o dobro do que ocorre na população brasileira) e 60% está acima do peso. Uma das lutas da primeira dama dos EUA, Michele Obama, é o combate da má alimentação e obesidade nas escolas norte americanas. Em um estudo realizado na população soteropolitana, percebeu-se que até 30% dos alunos tanto de escolas públicas e privadas estão acima do peso. Desta forma, fica claro que a obesidade é um problema alarmante e grave. Por volta de 2010, a OMS relatou que, no mundo, já existem mais pessoas obesas do que desnutridas. Portanto, a obesidade já é pior que a fome. E a fome é um problema de distribuição do que produção, anulando as ideias de Thomas Maltus – os alimentos crescerão em progressão aritmética e a população crescerá em progressão geométrica, fazendo com que os homens morressem de fome. Ou seja, possui alimento para todos, o problema é a distribuição por territórios e regiões, realçando a desigualdade social e econômica existente no planeta. Pessoas obesas possuem maiores chances de desenvolver outras doenças complicadas, como as cardiovasculares, diabetes melitus tipo 2 (cerca de 80% dos pacientes obesos possuem DM2), hipertensão arterial sistêmica, dislipidemias (principalmente o aumento dos triglicérides e a baixa do HDL), osteoartrite tíbio-femoral (doses nos joelhos pois o peso sobrecarrega o fator de sustentação tibial), doenças como apneia do sono, síndromes nefróticas e doenças psiquiátricas como a depressão e autoestima baixa. O índice de massa corpórea (IMC) [kg/ h²] relaciona com a taxa de mortalidade. A taxa normal do IMC está entre 20 a 25 kg/m². Isso é devido à baixa taxa de mortalidade existente nesta faixa do índice. É possível observar que, quanto maior o IMC, maior a chance de morte. Seja o paciente homem ou mulher, se ela possuir um IMC de 35, a chance de ele morrer será duas vezes maior que um paciente com IMC de 25 kg/m². O aumento do índice também contribui para o aparecimento de cânceres. É possível analisar, também, que um índice muito baixo tem chances de encarar a morte. Então a faixa de peso saudável é imposta não por beleza e sim devido a mortalidade. DIAGNÓSTICO DA OBESIDADE Não é só o IMC que é importante no diagnóstico da obesidade, mas também a circunferência abdominal. Doenças, principalmente as cardiovasculares, tem uma maior incidência quando a circunferência abdominal é maior que 94 cm nos homens e 80 cm nas mulheres, obedecendo uma variação geográfica. Contudo, quanto maior o IMC e a circunferência abdominal, pior; não se sabe ao certo quem influencia mais no aparecimento de doenças em geral, acredita-se que seja a circunferência abdominal. Em crianças, o IMC não é um bom parâmetro. Existe uma curva de crescimento especial para o acompanhamento do crescimento das crianças. Quando o peso está acima de 20% do limite % superior da altura, diz que a criança está obesa. A criança pode crescer com uma variação de peso e altura e está dentro da faixa da normalidade, por isso o IMC não é ideal para a população juvenil. Aceita-se uma variação de peso na criança em relação à média maior do que se aceita no adulto. CAUSAS DA OBESIDADE Para que seja possível identificar uma das causas da obesidade no paciente, pede-se a ele que traga um diário alimentar, com isso será possível analisar quais são os alimentos que fazem parte da dieta e desta forma questionar a quantidade de ingesta calórica. Existe uma variedade genética e outras doenças que promovem o aumento de peso, contudo a grande maioria das pessoas engordam porque comem mais do que gastam. Algumas patologias como ansiedade, depressão parecem que contribuem para uma maior ingesta de alimentos e o aumento de peso, armazenando energia para o futuro. Mulheres que dependem do marido para sobreviver e recentemente divorciadas tendem a engordar. Isso é possível de ser descoberto com uma boa anamnese e exame físico. Algumas medicações estão relacionadas com a obesidade, como os anticoncepcionais (contudo não é algo maior do que é crido), corticoides (mais alterações na distribuição de peso e pouco no ganho de peso – gordura periférica). O obeso é um viciado em carboidratos, assim como o fumante é viciado em nicotina, o alcoólatra é em álcool. Como se combate a obesidade? Quebrando a ingesta de carboidratos. Alimentares Atividade - Aumento na densidade de energia dos alimentos - Aumento do tamanho das porções - Aumento da variedade - Aumento da disponibilidade - Diminuição do custo - Aumento de bebidas calóricas (refrigerantes e sucos) - Aumento do comportamento sedentário - Diminuição das atividades da vida diária - Diminuição das atividades físicas Fatores ambientais que promovem a obesidade Existem dois tipos de obesidade: a obesidade maçã (androgênica, tipo centrípeta – geralmente mais predominante em homens) e obesidade pêra (ginecoide, tipo centrífuga – geralmente mais predominante em mulheres). O que determina isso? Parece que isso está de acordo com as intensidades de alguns hormônios sexuais, estrógeno, progesterona, testosterona e o cortisol. Quanto cortisol e mais testosterona, mais central; quanto menos cortisol e mais estrógeno, mais periférica. O hipotireoidismo e outras doenças endócrinas raramente (menos de 5% das vezes) são causas da obesidade. Obviamente se aparecer um paciente com todos os sintomas de hipotireoidismo com obesidade, é claro que a diminuição do funcionamento da glândula tiroide será analisada. Contudo, é sempre bom pedir TSH para provar ao paciente que a tireoide está normal (ou não). A obesidade possui componentes genéticos e ambientais. Os filhos de pais obesos possuem 80% de chance de serem obesos e os filhos de pais não obesos possuem somente 15% de chances de se tornarem obesos. Significa que a obesidade possui um comportamento genético. Qual é a falha metodológica? Já que os pais comem mais, a criança tende a comer mais, tornando um fator ambiental. Mas, caso não seja assim, é necessário entender que os genes podem interferir nessa situação. Pesquisas feitas na década de 80, demonstraram que camundongos com o gene OB oprimido eram muito gordos. Esses genes eram responsáveis pela produção da leptina – o tecido adiposo é um tecido endócrino que possui diversos hormônios, dentre eles a leptina. A leptina faz duas coisas: se liga ao receptor beta-3-adrenérgico e estimulaqueima de gordura e é um potente fator de saciedade. Os camundongos começaram a receber leptina e emagreceram. Infelizmente, nem todos os obesos possuem deficiência de leptina (na verdade, a maioria dos obesos não possui; apenas casos isolados têm esse problema – por exemplo, em Salvador e Lauro de Freitas não foi identificado ninguém com deficiência de leptina). Outro componente da obesidade é o ambiente. Vivemos hoje num cenário de alimentos altamente gordurosos e não nutritivos. Fora que os hábitos de vida promovem também uma vida mais sedentária. A cada dia que passa, a humanidade come mais e gasta menos, tornando-a mais obesa, causando mais problemas. TRATAMENTO DA OBESIDADE O combate a obesidade ocorre da maneira mais simples: dieta hipocalórica e atividade física. A dieta tradicional é a dieta hipocalórica; o básico da dieta hipocalórica varia entre 1000 a 1500 Cal/ dia, de forma que o paciente possa perder de 0,5kg a 1kg por semana. Essa é cinética de perda ponderal saudável (prof Pedro já acha que 1kg/ semana é muito, sendo o ideal 0,5/ semana). Ainda na dieta tradicional, a maior restrição é a de gordura. Contudo, a partir de estudos feitos nos últimos Curiosidades sobre a obesidade Uma pessoa normal pode viver 2 meses em jejum; o obeso pode viver até 1 ano em jejum relativo (se a pessoa não beber água, morre desidratada – o recorde da não ingesta de água é de apenas 11 dias). Antigamente, a obesidade era favorável para humanos nos grandes períodos de jejum devido ao clima devastador e a falta de instrumentos para se proteger. Ou seja, quem engorda, ou tem tendência a engordar sofre pressão de antigos genes que estavam nos nossos antepassados. Um quilo de gordura tem 7700 Cal (quilocalorias) e um litro de água também pesa um quilo, mas não tem calorias. Ou seja: perder água não é igual a perder gordura. Se desidrata rápido, mas perder gordura/ peso não é algo rápido. Peso x Forma: enquanto as mulheres querem ser Gisele Bündchen, os homens preferem Scheila Carvalho. Ou seja, a cultura da magreza promove também uma alteração do peso. Outra coisa é a quantidade de massa muscular – a pessoa já atinge o IMC de sua faixa, contudo não é obeso pois o músculo está contribuindo para aquela situação. As doenças opostas à obesidade (anorexia e bulimia) são piores que a obesidade. Figura 1 - Pirâmide alimentar antiga e nova, respectivamente. anos, a grande vilã parece não ser a gordura e sim outra, os carboidratos. Ou seja, existiu uma mudança na estrutura da pirâmide alimentar. Então, uma pessoa tem uma ingesta básica de 30 Cal/ kg, pesando 80kg e quer perder peso, ela precisa sair do consumo de 2400 Cal/ dia (30 Cal/ kg x 80 kg) para 1200 Cal/ dia. Ou seja, ela precisa cortar metade do que come, perdendo 1 kg em uma semana. Isso, para uma pessoa que estava acostumada com um estilo de vida completamente diferente do que foi proposto pelo profissional, é muito complicado; não é qualquer um que tem persistência para isso. Fora outros casos, nos quais as vezes é preciso comer 1/3 do que se comia. Desta forma, é preciso realizar estratégias para que a perda de peso ocorra. Existem diversas estratégias para a perda de massa ponderal, sendo algumas aprovadas cientificamente e outras de forma charlatanismo. Uma dessas estratégias é a dos Vigilantes do Peso que funciona muito bem e a perda de peso ocorre de maneira saudável, ao contrário das dietas de SPA’s; estes reduzem drasticamente a quantidade de calorias ingeridas (1200 Cal para 300 Cal). Dessa forma, a pessoa pira já que não consegue se adaptar à aquela realidade, voltando a ganhar peso quando sai do SPA. Robert Atkins, um médico cardiologista estadunidense bastante famoso, publicou um livro na década de 70 – A dieta revolucionária do Dr Atkins. Nesta obra era dito que o grande vilão não era a gordura, mas sim os carboidratos (este período estava no momento em que se acreditava apenas nos malefícios do colesterol e afins). Ele dizia que a insulina que fazia engordar, já que quando comemos carboidratos ocorre a liberação de insulina. Se diminuir a ingesta de carboidratos, diminui a secreção e produção de insulina, emagrecendo (num paciente DM1, que há ausência total de insulina, a perda de peso é inevitável; quando se injeta insulina, a pessoa volta a ganhar peso). Portanto, o dr. Atkins estava certo. Em estudos realizados, compara-se a dieta de Atkins com a dieta tradicional; é observado que na dieta do médico estadunidense a perda de peso ocorre de maneira mais rápida e depois tente a se igualar com a dieta tradicional. Outro componente de combate a obesidade é a atividade física. Contudo, a atividade física não é o principal vetor na perda de peso e sim a dieta. Mas, é claro, que exercícios físicos são de extrema importância para a redução de massa corpórea e na regulação da qualidade de vida. É recomendado, em quantidades mínimas, a realização de exercícios físicos durante 30 minutos em 5 dias da semana. Caminhar pode fazer tão bem quanto correr e atividade de musculação também é muito benéfica, principalmente quando ocorre o envelhecimento – isso porque ocorre uma preservação dos ossos [osteoporose] e de massa magra. A faixa de frequência cardíaca segura e eficaz para perda de peso e prática de exercícios físicos é 70% da frequência cardíaca máxima (freq. max para homens: 220 – idade; mulheres: 200 – idade). O teste de esforço em pessoas com menos de 40 para a iniciação de atividades físicas não é necessário, sendo apenas requisitos para pessoas com problemas cardiovasculares. Outros exames como glicemia, funcionamento cardíaco são formas boas de ter uma noção básica para a segurança na prática de exercícios físicos. Em um paciente acima do peso dá-se o prazo de 6 meses para que ele possa perder peso (dá para perder 20 kg em 6 meses teoricamente) e, caso não consiga, a estratégia deve ser reformulada. Os tratamentos farmacológicos do combate da obesidade fazem parte de estratégias paralelas. A Sibutramina é uma das drogas aprovadas para a perda de peso – age aumentando os níveis de serotonina e noradrenalina no sistema nervoso central, sendo uma droga sacietógena, aumentando a saciedade. A Sibutramina se uma numa dose de 10 a 15mg/ dia; taquicardias e hipertensão descontrolada devem ser analisadas durante o uso do medicamento; é uma droga suspensa nos EUA e na Europa pois, depois de diversos estudos, verificou-se que ela pode causar AVC. O Orlistat (Xenical) é outra droga que promove o emagrecimento; ela age inibindo 30% da absorção de gordura no intestino. É uma droga mais bem tolerada, porém tem um efeito colateral catastrófico e constrangedor: incontinência fecal – esteatorreia. A Fluoxetina é um medicamento antidepressivo – inibidor seletivo da captação de serotonina, aumentando os níveis de serotonina e de ansiedade. É uma droga segura e muito bem testada, sendo boa para pacientes que possuem ansiedade e Na ilha de Creta, na Grécia, há uma grande ingesta de gordura e uma baixa mortalidade por doenças cardiovasculares. Se acredita que a gordura que se come na ilha de Creta seja benéfica, fora qualidade de vida e a realização de atividades físicas. precisam perder peso, ou seja, não é para qualquer obeso. A Locarserina é uma droga que acabou de ser aprovada nos EUA e está chegando no Brasil, tendo a ver com a serotonina, agonista do 5HT3. A Isomeride é uma droga que pormove a perda de peso, contudo é um medicamento que causa hipertensão pulmonar. A prescrição de diuréticos para emagrecer é um erro, pois perder peso não é perder água. Existem drogas anorexígenas e sacietógenas. Em muitosestudos, é provado que quando para de prescrever os medicamentos, os pacientes voltam a engordar (se não houve uma modificação no estilo de vida). Os pacientes que enfartaram previamente se beneficiam com as cirurgias bariátricas. Gastrectomias, by- passes, balão, bandagens são apenas alguns dos procedimentos utilizados nas cirurgias bariátricas. São cirurgias com diversas complicações como anemia megaloblástica (deficiência de vit. D), anemia ferropriva, neuropatia periférica, síndrome de Dumping, paciente fica “entalado”, dentre outros. Os pacientes indicados para cirurgia bariátrica são aqueles que possuem IMC acima de 40 ou 35 kg/ m². É uma cirurgia restritiva e desabsortiva; o estômago tem capacidade máxima de 1,5l e depois da cirurgia possui capacidade para 50ml. Um acompanhamento psicológico deve ser feito após a cirurgia, para que o paciente não burle a alteração anatômica feita pelo cirurgião.
Compartilhar