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PDA Apostila sobre Educação Afetivo-sexual paracrianças

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Formação Afetivo- sexual na infância. 
Aprendendo a amar, conhecer o corpo e respeitar as diferenças. 
 													 Por: Taísa Costa Vliese�
	Para início de conversa, vamos fazer um combinado? Que tal abordarmos com clareza e sem preconceitos ou constrangimentos sobre um tema tão importante em nossa vida e constituição psíquica: desenvolvimento do afeto e da sexualidade.
	Vocês têm muitas indagações? Compreendem que para abordarmos esse assunto, trataremos de elementos importantes em sua subjetividade, sua história de vida e suas crenças? 
	Para isso, vamos contar com participação de dois personagens conhecidos por muitos e muitas de vocês. Pedro e Ana têm três anos de idade, cresceram juntos na creche e descobriram algo que lhes provocou, ao mesmo tempo, encanto e aborrecimento: seus órgãos genitais. 
	Para explicar melhor, vou contar o que aconteceu depois que voltaram do parquinho. Nossos amiguinhos foram lavar as mãos e o rosto. Começaram a brincar de jogar água um no outro até que Pedro teve seu short molhado e resolveu tirá-lo para trocar. Ana nunca tinha reparado no pênis de um menino e ficou impressionada com a diferença em relação à sua vulva. 
Bem neste momento, a professora entrou no banheiro e viu as duas crianças brincando com os seus órgãos genitais. Imaginem a confusão! Todo mundo na creche ficou sabendo e os comentários tinham um tom reprovador. Ambas as famílias foram convocadas para explicarem o comportamento de seus filhos.
Tanto alarde, tanto aborrecimento para as duas crianças que tiveram que explicar o que estavam fazendo, por que fizeram e se já tinham visto alguém fazer também!
Ana e Pedro já sabiam que não era permitido mostrar e brincar com seus órgãos genitais, mas não entenderam tamanha condenação. Experiências como essas cada dia mais freqüentes na educação infantil, nos evidenciam não ser mais possível que as questões relativas à sexualidade passem despercebidas ou que sejam tratadas com fantasias, inverdades ou indignação moral.
No meio de tanta especulação, a escola resolveu pesquisar sobre o desenvolvimento do afeto e da sexualidade. Os professores descobriram tantos fatos interessantes. Talvez o maior deles, foi a dificuldade pessoal de cada profissional em falar sobre o afeto e a sexualidade. Uma dificuldade que está relacionada com suas histórias de vida, a educação repressora que receberam na infância e, sobretudo, com sua pouca disponibilidade para falar sobre sentimentos e sensações primordiais, apenas encontradas na espécie humana. 
Nossa escola estudou, se preparou e desenvolveu um lindo projeto cujo conteúdo será aqui apresentado. Todos cresceram durante o processo. Alguns aprenderam, outros continuam resistentes, mas acreditamos que essa experiência contribuiu com elementos de significação emancipadores sobre sexualidade. Falamos sobre amor, respeito às diferenças, jeitos de ser menino e menina.
Além de aprender a jogar, desenhar, ler e escrever, também podemos aprender a amar na creche. Aprender sobre o nosso corpo, nossos sentimentos e, fundamentalmente, sobre a beleza de sermos pessoas únicas, diferentes e especiais nesse mundo. 
Sendo assim, caros e caras colegas, o presente relato se constitui em três partes: Inicialmente, será tratado conceitualmente o que é sexualidade e como a psicologia e a história podem contribuir para a nossa compreensão sobre este processo. Posteriormente, será relatada a experiência de educação afetivo-sexual vivida por nossos amiguinhos no projeto desenvolvido. Nele, as crianças puderam abordar suas curiosidades com tranqüilidade e segurança, num ambiente de formação integral que é a educação infantil e na companhia do educador que é uma figura de apego e de confiança. 
Nosso objetivo não é sugerir uma receita para abordar todos os episódios que circunscrevem a sexualidade e que são comuns na infância. Manipulação dos genitais, menino vestindo roupa de menina, crianças perguntando sobre o nascimento dos bebês. Nosso verdadeiro objetivo é instrumentalizar o educador com referenciais teóricos que permitam tratar a sexualidade com naturalidade e com a devida importância que ela apresenta nos dias atuais. 
Além de teorias, convidamos os colegas a fazerem uma reflexão em torno de sua vivência com a sexualidade, suas relações com o prazer, o amor e as relações sociais, pois de acordo com Camargo (1999), especialista em educação sexual, “trabalhar sobre sexualidade em classes de Educação Infantil requer um esforço de buscar dentro de cada um de nós a capacidade de redescobrirmos nossa própria sexualidade” (p.70). Trabalhar a Educação Sexual com crianças na primeira infância requer uma revisão de valores e atitudes que só alcança quem se propõe a refletir sobre suas relações pessoais e a forma como vivencia a sua sexualidade.
Mas a história do projeto começa bem antes
	Imaginem que Ana e Pedro lhes perguntassem sobre o que seja sexualidade e apelassem para uma resposta rápida e satisfatória. Acredito que alguns educadores responderiam que este é um assunto de adultos e que eles não deveriam se preocupar com tais conteúdos. Outros já elaborariam respostas científicas, relacionado a sexualidade, ao desenvolvimento biológico do sujeito e à reprodução das espécies. 
	Nossa resposta situaria a sexualidade não apenas como uma característica biológica humana, nem como referência exclusiva do sexo e da genitalidade, mas como uma energia psíquica que está presente em todos os momentos de nossa vida e que regula nossas atividades de amor, prazer, amizade, trabalho, espiritualidade entre outros. Nossa resposta situaria a sexualidade como sendo mais que o ato sexual e a reprodução, pois abrange as pessoas e seus relacionamentos, implicando, portanto, valores morais. E por fim, nossa resposta consideraria que a sexualidade envolve aprendizados e planejamentos para tomadas de decisões. 
	A sexualidade é uma energia forte e mobilizadora, o caminho do prazer, uma dimensão da expressão do ser humano em sua relação consigo e com os outros, lugar de desejo e da responsabilidade. Enfim, a sexualidade é uma energia vital que foi chamada por Freud de libido e é vivenciada por nós de diferentes formas, desde o dia de nosso nascimento. 
	Todos têm sexualidade. Até quem não apresenta vida sexualmente ativa, não namora e não ama, pois a sexualidade é muito mais que uma relação sexual ou genital, é um princípio vital da constituição do ser humano.
	Em permanente processo de mudança, a sexualidade não se transforma apenas durante o nosso desenvolvimento psicossexual, mas também de acordo com as sociedades e os períodos históricos. 
	A partir do século XIX, a sexualidade humana passou a ser objeto de estudo de várias áreas do conhecimento, como a psicologia, a psicanálise, a religião, a fisiologia, entre outras (FOUCAULT, 1994). Muitos estudiosos até hoje produzem formas de perceber e vivenciar a sexualidade, atribuindo-lhe valor de normal e anormal, aceito e repudiado, moral ou amoral. Valores que modelam a nossa forma de perceber e vivenciar nossa sexualidade.
	Algumas vezes, relacionada à reprodução da espécie, em outras, à obtenção de prazer, a sexualidade foi vivenciada de diferentes formas ao longo das civilizações. Um exemplo disso foi a própria Idade Moderna que aceitava a prática sexual apenas para a reprodução, a fim de perpetuar a existência humana. Nesta época, a sexualidade tinha como objetivo unir: sexo, amor, matrimônio e procriação. Era considerada como ilícita a sexualidade fora do casamento (amor-livre, coito pré-nupcial ou extra-conjugal), a sexualidade sem amor (prostituição e masturbação); ou a sexualidade sem procriação (homossexualidade, sexualidade infantil e sexualidade no climatério). Qualquer outra manifestação de sexualidade que não visasse a reprodução humana era interditada pela família, pela Igreja e pela escola.
 A masturbação era vista como conduta isolada, solitária e de pouca importância até o século XIX, passou a ser considerada como um problema (...), a representar um perigo para a saúde física,moral e intelectual dos jovens, fazendo com que os médicos exercessem controle sobre ela, na medida em que era tratada como crime e o masturbador, como culpado (CAMARGO, 1999, p. 23).
	
	Já na idade contemporânea, a compreensão mudou e a masturbação não é vista como atitude pecaminosa e perversa, mas ao contrário, é compreendida como uma forma de auto-conhecimento e busca de um prazer saudável que pode envolver ou não, a ação de outro parceiro. Este tipo de comportamento é percebido com maior naturalidade pela população na medida em que especialistas atribuem a ela a categorização de atividade sexualmente segura e um exercício para o alcance da satisfação orgástica plena para os adultos. 
Atualmente, ao analisarmos o contexto cultural, as idéias veiculadas pela grande mídia e as relações humanas, percebemos que o desenvolvimento do afeto e da sexualidade vêm sendo perpassados pela desvalorização e pela pornografia, respectivamente. Nossa sociedade sofre com a sensação de isolamento pessoal, competitividade e a falta de confiança que alimenta muitos relacionamentos. A disponibilidade para o afeto, para o amor e para um cuidado fraternal do outro é pequena, pois nossos valores morais acentuam as necessidades materiais de consumo.
	A sexualidade ganha páginas nos jornais e nas revistas, minutos no horário nobre da TV e muita curiosidade de nossas crianças. Falar ou não falar sobre o assunto? Uma opção que Freud fez e transformou a nossa concepção sobre o homem e seus processos psíquicos. 
A teoria das Pulsões sexuais
No início do século XX (1905), Freud publicou Os Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade, causando certo escândalo na sociedade burguesa européia ao afirmar que a criança apresenta sexualidade desde o nascimento. Para Freud, cada fase do desenvolvimento psicossexual atua no desenvolvimento da personalidade de um modo específico e caracteriza-se pela predominância de especial interesse e sensibilidade em determinadas zonas erógenas (zonas geradoras de prazer e excitação). Estas zonas caracterizarão a formação da fase oral (boca), anal (esfíncteres anal e uretral), fálica (falo), genital (órgão sexual). Freud não delimitou idade para o início e o término de cada fase, no entanto estruturou sua teoria conferindo uma linearidade que pode sofrer um movimento de retrocesso e posterior avanço.
Fase oral – Conhecer o mundo e os pares pela boca e pelas sensações de satisfação e de fome
	Ao observarmos um recém-nascido percebemos sua capacidade inata de sugar e deglutir. Em meio há tanta descoordenação motora causada pela imaturidade neurológica, o bebê nos surpreende ao nascer programado com reflexos fundamentais para a sua sobrevivência: a sucção e a deglutição. Todo bebê nasce sabendo mamar, mas é claro que vai precisar aprender, a cada dia que passa, a sugar melhor e extrair a maior quantidade de leite possível para a sua satisfação. 
Sua boca é muito vascularizada e enervada. É através dela que reconhece as principais sensações de prazer que tem acesso. Ao sugar, recebe alimento e ao mesmo tempo, um alívio para a sua busca por satisfação. Começa a conhecer o mundo e a diferenciar os estados fisiológicos de prazer (barriga cheia de leite e vazia de gazes) e desprazer (barriga vazia de leite e cheia de gazes). 
A necessidade de sugar para a obtenção da satisfação é tão proeminente que o bebê suga os polegares (desde o útero), a chupeta e até o seio materno quando já se está saciado da fome. Sugam pelo simples, porém absoluto prazer de sugar.
A fase oral pode ser divida didaticamente em dois momentos: fase de introjeção e fase oral-sádica. Na primeira, a criança introjeta o mundo em que vive através da boca. Experimenta, suga, brinca, balbucia e até morde. Com essas atividades o bebê desenvolve um interesse cada vez maior pelo universo em que vive e pelas pessoas com as quais se relaciona.
Nesta fase, o aleitamento materno é uma atividade de plena satisfação para o bebê. Os bebês cuidados na educação infantil podem permanecer sendo aleitados (exclusivamente por suas mães) até os dois anos de idade para efeito de desenvolvimento imunológico e da manutenção do vínculo afetivo entre mãe e bebê. 
A creche pode estruturar, em sua rotina, um momento para a mãe que deseja amamentar seu filho tenha livre acesso ao bebê (desde que respeite os horários das demais refeições), como também, incentivar a utilização de refrigerador para a mãe armazenar o leite materno em condições higiênicas de conservação para ser usado na complementação das refeições do bebê. 
Se o aleitamento materno é importante para a estruturação psíquica, a adequação do desmame também o é. Desmames abruptos não são recomendados sob pena do bebê perder interesse pela alimentação pastosa de sal oferecida e desenvolver um estado de melancolia muito semelhante aos lutos pelas perdas que os adultos apresentam. 
O ideal é fazer um desmame gradativo, sem que ele coincida com a inserção à creche. A mãe pode diminuir a quantidade de mamadas por dia, depois alterna os dias e enfim, finaliza o processo com calma e tranqüilidade para todos. O desmame é uma conquista e pode oferecer como substituto ao leite materno, alimentos com cores e sabores agradáveis ao bebê. É importante haver uma compensação para o que já foi a principal fonte de satisfação de um bebê. Nessa troca, ele começa a desenvolver o paladar e continua tendo na boca sua principal zona erógena.
A segunda fase, chamada de oral-sádica, inicia quando o bebê faz a postura dentária e vai satisfazer sua libido mordendo. As mordidas são comuns porque os bebês apresentam maior intensidade de força nos dentes do que nas próprias mãos. Serão usadas como linguagem, nas disputas por brinquedos e para demonstrar descontentamento. 
Todo bebê morde. A mordida faz parte do processo de desenvolvimento da personalidade e deve ser interditada através do reconhecimento das regras e de explicações sobre o que pode e o que não podemos fazer com os amigos. A tendência é a prática das mordidas diminuir com o desenvolvimento da linguagem e com a socialização.
A fase oral nunca termina completamente, pois todos sentimos satisfação com a boca ao longo da vida, mas aproximadamente aos 2 anos de idade a energia libidinal passa para outra região: os esfíncteres.
Fase anal: A criança vai excretar quando, onde e como desejar. Ela descobre que tem um poder e pode manipular os cuidadores com as suas excreções.
Fase marcada pela maturação do controle muscular que pode ser percebido na marcha, nos reflexos de preensão e no controle dos esfíncteres. Nesta fase, a criança tem um duplo sentimento em relação às fezes e à urina: produção e poder, pois são os primeiros produtos fabricados por seu corpo e a primeira possibilidade de escolher entre a retenção ou a eliminação de algo. Portanto, é muito comum a criança oferecer as fezes para alguém apreciar ou não querer se separar delas no momento da evacuação. 
	A satisfação nesta fase acontece com a “alternância da provocação da dor (excitação) e na obtenção do alívio ( descarga) nas paredes retais” (VEIGA, 200 p. 45). O mesmo pode ser observado com a urina, aonde o prazer vem do alívio do esvaziamento da bexiga. Além controlar as excreções, a criança se percebe como dona do processo. Ela decide quando, como e onde vai excretar. Por isso, algumas vezes, a criança se nega a usar a privada no momento institucionalizado pela escola e ao ser liberada da “hora do xixi”, ela molha a roupa, mostrando quem determina a hora de eliminar a urina. Assim, a criança percebe o domínio que pode ter sobre a preocupação dos adultos, pois eles também gostam de controlar os processos de eliminação das crianças. Muitas mães alternam duas perguntas à educadora para saber se o filho passou o dia bem na creche: Ele comeu? Fez cocô? 
As fezes passam a ter um valor simbólico particular. As crianças gostam de falar sobre elas, tocar e modelar como se fosse massinha. Não compreendem porque os adultos são tão hostis quando ela suja além das fraldas, o chão e as paredes. Para criançaparece contraditório que as fezes não tenham o mesmo significado de artefato para os adultos, uma vez que para elas, é pura arte.
O controle dos esfíncteres também é uma conquista. Só deve acontecer após os 20 meses de idade por razões de maturidade neurológica. Controlam-se primeiramente as fezes e depois a urina por uma simples razão, a quantidade de vezes que se evacua e se urina. É mais fácil controlar o que acontece 1 ou 2 vezes por dia. Se a criança já estiver falando o controle é mais rápido, pois a sua capacidade de pedir para ir ao banheiro é mais eficiente. A última fralda a ser retirada é a noturna, pois esse controle depende de mais tempo e maturidade. Se estivermos no inverno, mais paciência e tempo são recomendados.
Cada criança terá o seu tempo. Crianças que são ensinadas a usar o vaso sanitário ou penico antes dos citados 20 meses de idade podem sofrer uma pressão desnecessária e se tornarem ansiosas em não desapontar a expectativa dos pais. Como a retirada das fraldas é precoce, elas erram muito e ao errarem sofrem por entender que desapontaram os adultos.
Para ser uma conquista, a criança pode receber uma recompensa sob forma de elogio todas as vezes que acertar. Quando errar, basta sinalizarmos que ela não acertou, mas é desnecessário brigar, gritar, chamar sua atenção, deixar suja etc.
Criança deve ser respeitada em todos os momentos, inclusive, no momento de evacuar e urinar, pois esses também são importantes na sua estruturação psíquica.
A criança deve ter interesse em deixar as fraldas porque assim fará uma das descobertas mais importantes de sua infância: a existência de dois órgãos genitais diferentes.
Fase fálica: Muitos jogos sexuais e manipulação para entender o que é ser menino e menina, o que os pais fazem na cama e como o bebê vai parar na barriga da mãe.
Esta fase se inicia por volta dos 3 anos de idade, ocasião em que a criança descobre a existência de dois órgãos genitais: o masculino e o feminino. No entanto, para ela existe um único órgão que é o pênis, pois para as meninas, a vagina será um pênis que ainda crescerá e ficará igual ao dos meninos. A vivência da descoberta da existência de dois sexos não acontece sem angústia para criança, na medida em que causa o medo da castração: um processo psíquico que provoca o medo da perda do falo nos meninos e a inveja do falo, nas meninas. 
Assim, muitas meninas manifestam inveja e preocupação quanto ao tamanho do seu “pênis”. Ressentem-se com a mãe, pois ela também não tem pênis, logo a mãe é tida como responsável pela castração das meninas. 
A fase fálica apresenta uma hipervalorização do pênis, neste momento, é muito comum o interesse pelo outro sexo, as brincadeiras de médico e o interesse pela manipulação dos genitais. Notem que falamos manipulação, pois é uma atividade comum nesta fase do desenvolvimento e busca o conhecimento do corpo e das sensações. Não é uma atividade perpassada pelo erotismo adulto. É uma forma de auto-erotismo que não se relaciona com as práticas adultas.
A educação infantil será cenário de muitos jogos sexuais com manipulação dos genitais entre crianças de sexos diferentes e do mesmo sexo. De acordo com Camargo (1999), 
 
As propostas para Educação Infantil deveriam considerar que as crianças são seres sexuados que manifestam espontaneamente sua sexualidade e desenvolvem suas próprias teorias sexuais; que a masturbação auxilia na compreensão do corpo e do prazer e a repreensão não fará com que a criança pare de se masturbar mas que a realize de modo culposo; que manipular genitais, afagar, beijar, tocar uns ao outros são gestos comuns entremeados a muito riso e cócegas, com o mesmo ou o outro sexo; que a criança lê a linguagem corporal e a reação do adulto diante de cenas e sexo; que os adultos (homens e mulheres), familiares, professoras e professores têm expectativas diferentes quanto a padrões de comportamento apropriados para meninas e meninos. (Camargo, 1999)
Nesta fase a criança terá três preocupações: o que é ser menino e menina? O que acontece na cama dos pais? Como o bebê vai parar na barriga da mãe?
Desejam saber sobre a sua origem, sobre as relações amorosas e sobre sexo. Brincam com elementos que fazem parte do universo feminino e masculino. Imitam os pais. Sentem-se curiosos com o namoro. Querem beijar na boca e só eles sabem o que acontece na casinha de bonecas do parque. Todas essas questões geram curiosidade e podem ser satisfeitas com projetos e atividades sobre desenvolvimento afetivo sexual. 
Essa fase tem seu término com a vivência do complexo de Édipo. No qual a menina se identifica com a mãe para conquistar o amor do pai e, o menino, se identifica com o pai para conquistar a mãe. Mas, ao mesmo tempo em que acontecem as identificações, meninos e meninas aprendem a ser homens e mulheres, e se tornam rivais do progenitor que concorre com seu amor. Meninas e meninos vivem uma forte ambivalência que é amar e rejeitara mãe e o pai, respectivamente.
Após a fase fálica, há um período de latência para a energia libidinal ficar temporariamente deslocada para atividades relacionadas ao desenvolvimento intelectual e social da criança. A criança aprende a ler, escrever, calcular. Continua tendo seu corpo estimulado pela libido, mas esta será deslocada para a educação.
	E por fim, há a fase genital, quando o sujeito está em plena capacidade para amar e trabalhar. Esta acontece na adolescência e marca as opções sexuais, o desejo e a busca por parceiros amorosos. Nesse momento, a produção hormonal desencadeia desejo sexual, vontade de estar com o outro. É a sexualidade em sua versão madura, plena.
	
Por que abordar o desenvolvimento afetivo-sexual na educação infantil?
 “A criança tem o direito de sentir que seu corpo é adorável e bom e que é somente dela e apenas ela poderá decidir quem pode vê-lo ou tocá-lo.”
 Ana Maria F. de Camargo
Quando concordamos em fazer um projeto sobre o desenvolvimento afetivo-sexual na infância, pensamos em qual infância queríamos formar. Lembramos de Ana e Pedro brincando e se descobrindo no banheiro. Elaboramos uma filosofia de trabalho que concebia a criança como um sujeito que deve ser educado integralmente para a felicidade, a ética e a emancipação intelectual. 
	Percebemos que a informação adequada, faz com que as crianças se sintam tranqüilas com relação às questões relacionadas à própria sexualidade e possam desenvolver-se para tornarem-se indivíduos conscientes e felizes. 
Ficamos sabendo que pesquisas realizadas em diferentes países concluíram que crianças participantes de projetos sobre educação afetivo-sexual não tiveram sua atividade sexual estimulada precocemente, mas ao contrário, estavam mais preparadas para fazerem suas opções e se responsabilizarem por seus corpos e desejos (CAMARGO, 1999).
Observamos que durante a primeira infância, as crianças fazem perguntas relacionadas ao sexo, à vida, às questões de namoro e de gênero. Perguntas básicas para saciar a curiosidade. Se ocultadas, as curiosidades podem inibir o ímpeto da criança na busca pelo conhecimento e apresentar a sexualidade como um aspecto vergonhoso, impuro e imoral. 
Para que isso não acontecesse, iniciamos o projeto de educação afetivo-sexual desde a mais tenra idade para possibilitar à criança a construção de uma visão positiva da sexualidade. Além disso, uma proposta de educação afetivo-sexual para a educação infantil permite que desde o início da vida, a criança aprenda a discutir as questões sobre o corpo, os gêneros, a amizade e o prazer, como também a respeitar as diferenças individuais e as diferentes formas que existem de vivenciar a sexualidade. Compreenderem o respeito que deve haver na relação de homens e mulheres, sem idéias de rivalidade, dominação ou subjugação de um pelo outro.
	Compreendemos que a educação afetivo-sexual intencional e contínua objetiva desencadear falas e reflexões sobre a temática da sexualidade humana. Ela pode englobar diversas áreas de conhecimento como linguagem, cidadania, ética, matemática, artes entre outras, sendotratada como Tema Transversal como indica MEC (1997). 
Em todas as estratégias de abordagem, há um componente primordial: o afeto, pois a sexualidade é uma manifestação afetiva e essencial do sujeito consigo mesmo e com os outros. 
	 
Brincando com o corpo, as sensações e os sentimentos. O Histórico do nosso projeto
Mãenhê... Thiago gostou da minha guitarra, mas não quis brincar. Por que minha filha? Porque ela é rosa e meninos não brincam com nada rosa!
A primeira premissa defendida no projeto foi a possibilidade do conhecimento e do desenvolvimento de uma vida sexual com maior espontaneidade, liberdade e aceitação das diferenças individuais para o educador. Para isso, foi preciso considerar o universo de relações do meio social que incluía civilizações, mitos, costumes, sonhos, desejos sociais, de gênero, síntese de experiências vivenciadas. O objetivo foi desenvolver capacidades que permitiram intervir na realidade dos educadores para transformá-la e criar uma forma singular de vivenciar sua sexualidade.
	Fizemos com os profissionais um mapa com o ranking: Quem mais influencia a formação da identidade sexual das crianças? Entre os selecionados, os que mais se destacaram foram: a mídia e os amigos. Os professores não se perceberam como agentes importantes no processo de constituição das crianças. Perceberam-se como figuras assexuadas que trabalhavam na educação infantil para ensinar conteúdos cognitivos, mas o afeto e a sexualidade não pareciam ter relevância. 
Os professores demoraram a internalizar algumas idéias, porque as mudanças foram substanciais em sua maneira de viver a sexualidade e perceber o outro.
Nosso projeto envolveu como protagonistas: as crianças e suas famílias, a educadora e os especialistas da instituição. Todos apresentaram uma importância fundamental no bom andamento do processo, por isso, foram ouvidos e contemplados nos seus anseios e expectativas em relação ao tema. 
A começar pela família que foi convidada para discutir os conteúdos desta formação e ser esclarecida que a escola não trabalharia com perspectivas religiosas, moralistas ou pornográficas, mas com informações a respeito do afeto e da sexualidade humana, abrangendo os aspectos biológicos e sócio-culturais. 
Para a proposta ser democrática, a família precisou concordar com a inserção da educação afetivo-sexual como projeto que fez parte da formação de seu filho. Além disso, foi convidada para palestras esclarecedoras sobre o desenvolvimento da sexualidade infantil, exposição de vídeos didáticos, debates sobre as questões que envolvem a sexualidade nos dias atuais. E para finalizar, participou de toda a discussão sobre o conteúdo a ser abordado pela escola durante o projeto. Não tínhamos um currículo pronto. Não sabíamos até onde deveríamos ir, e os pais foram nossos interlocutores e colaboradores.
Criamos um jogo chamado: O que deve e o que não deve ser abordado no projeto de educação afetivo-sexual em nossa escola. Alguns temas foram selecionados em consenso como: desenvolvimento intra-utrerino do bebê, fases da vida, diferentes tipos de reprodução do mundo animal. Mas quando começamos a falar sobre gênero, homoerotismo e respeito às diferentes opções sexuais, não houve consenso. Os debates eram tão intensos que pareciam uma disputa, mas os pais aprenderam a ponderar seus pontos de vista e ouvir os divergentes. 
Outra atividade interessante e profundamente sensibilizadora foram grupos de pais que refletiram sobre a constituição de sua própria sexualidade, abordando os tabus, os medos e as diferenças que são visíveis entre as vivências sexuais de duas gerações. Muitos familiares tiraram suas dúvidas na sessão: O que eu sempre quis saber, mas tinha vergonha de perguntar. Essa atividade parecia não ter hora para acabar diante de tantos questionamentos.
Convidamos a família para lembrar de suas vivências infantis, seus jogos sexuais e suas brincadeiras de médico para eles se colocarem no lugar das crianças e lembrarem da fase das descobertas. Descoberta não tem malícia, concluíram.
Foi um processo muito rico e sem dúvida, todos nós saímos mais convictos de que o caminho estava na discussão dos temas sobre afeto e sexualidade.
Em relação à criança, uma proposta de educação sexual para a primeira infância pôde favorecer a manifestação de sentimentos, desejos, prazeres, hipóteses e descobertas, sem tabus, nem preconceitos; com o projeto possibilitamos a vivência da sexualidade sem imposições ou controles rígidos por parte dos adultos, pois as crianças já não tinham necessidade de realizar tantos jogos sexuais para e compreender a realidade. Ela foi explicada didaticamente pelo educador. 
A educadora optou por desenvolver atividades lúdico-pedagógicas que permitiram a construção de conhecimento sobre o corpo da criança e as relações sociais que ela vive. Assim, foi permitida a constituição de uma subjetividade singular, deixando com que a criança fizesse suas escolhas e respeitasse as diferentes formas de viver a sexualidade. 
Os especialistas da escola tiveram a função de colaborar com o processo promovendo discussões formadoras na equipe de profissionais, esclarecendo às famílias sobre a importância desta proposta, fornecendo material didático que a viabilizasse e por fim, exercendo uma postura diferenciada para apontar a forma mais adequada para abordar a educação afetivo- sexual para crianças. Estavam dentro e fora, atuando como especialistas e analistas.
Durante o projeto utilizamos essas estratégias e percebemos que elas poderiam fazer parte do cotidiano da creche ou serem planejadas intencionalmente para abordar a sexualidade infantil. 
Conversa informal – sempre que nossas crianças manifestavam a necessidade e a curiosidade de saberem sobre qualquer assunto relacionado à sexualidade, o professor conversava informalmente com a criança e com a turma. Se o professor não se sentisse preparado para abordar esses assuntos, poderia dizer à criança que faria uma pesquisa e conversaria com ela na próxima oportunidade. Promessa cumprida com planejamento de atividade e satisfação de todos.
Atividades dirigidas – os educadores criaram caixas temáticas, jogos didáticos, trouxeram livros, exibiram vídeos e programaram uma série de atividades lúdico-pedagógicas como recreações, pinturas, desenhos livres, álbuns, entre outros que proporcionaram a apresentação de conteúdos relacionados à sexualidade e possibilitaram a vivênvia de sensações e sentimentos pela criança.
Jogos sexuais – apesar de provocar certo constrangimento quando o professor encontrava a criança, em situação de faz-de-conta, brincando e manipulando seu corpo ou o corpo dos colegas, esses jogos fazem parte do desenvolvimento afetivo da criança, são representações da compreensão que ela tem sobre a sexualidade. Essas brincadeiras possibilitam a satisfação das curiosidades infantis quanto ao funcionamento do seu corpo e dos colegas. Com eles, as crianças vivenciam diferentes papéis sociais, aprendendo a conhecê-los e diferenciá-los. Isso contribui para o desenvolvimento da sua identidade, ou seja, reconhecer-se como homem ou mulher.
Os professores aprenderam a ficar atentos às brincadeiras e evitarem interrupções com críticas e repreensões desnecessárias. 
Para terminar, todos perceberam que a educação afetivo-sexual pode estar presente nas relações que estabelecemos com as crianças, nas perguntas que fazemos e respondemos e na forma como tratamos seu corpo. A criança é sujeito ou sujeitada ao seu corpo? 
Desta forma, é de real importância a reflexão sobre sua própria sexualidade e as mensagens sobre o desenvolvimento sexual que são transmitidas às crianças ao participarmos como mediadores de um processo de construção do conhecimento e de constituição da subjetividade. 
Ana e Pedro? Adoraram o projeto. Talvez nem imaginem o quanto a sua brincadeira impulsionou o desenvolvimento da equipe!
Bibliografia
CAMARGO, A M. F et al. Sexualidade (s) e Infância (s). A sexualidade como um tema transversal. Campinas: Editora Moderna/Ed. da UNICAMP, 1999.FOUCAULT, M. A história da sexualidade. O uso dos prazeres. Vol. 2. Rio de Janeiro: Graal, 1990.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Parâmetros Curriculares Nacionais. Pluralidade Cultural e Orientação Sexual. Rio de Janeiro, DP&A, 2000.
ROSSETTI-FERREIRA, M. C., MELLO, A. M., VITORIA, T., GOSUEN, A. & CHAGURI, A. C. (1998). Os Fazeres na Educação Infantil. São Paulo: Cortez.
VEIGA, F. D. de A criação segundo Freud. O que queremos para nossos filhos? Rio de Janeiro, 7 Letras, 2005.
ANEXO DO PROJETO
TEMA: O desenvolvimento afetivo-sexual na infância
TÍTULO: Brincando com o corpo, as sensações e os sentimentos. 
OBJETIVOS: Compreender a importância da afetividade em nossos relacionamentos e o desenvolvimento da sexualidade na espécie humana.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
- Identificar quem amamos.
- Reconhecer o que é gostoso fazer com o corpo.
- Conhecer o corpo humano e os nomes dos órgãos genitais.
- Diferenciar a estrutura corporal de meninos e meninas.
- Conhecer as diferentes formas de ser homem e ser mulher, discutindo as relações de gênero na sociedade.
- Conhecer os processos de reprodução nos animais.
- Conhecer a reprodução humana e o desenvolvimento intra-uterino do bebê.
- Problematizar quem namora, quem tem amigos e quem é casado.
ESTRATÉGIAS: 
Utilizamos os seguintes materiais e recursos didáticos:
Atividades em rodinha para conversas informais;
Desenhos individuais e coletivos sobre o tema;
Leitura de livros;
Assistir a filmes e desenhos e depois conversar sobre os temas;
Ouvir músicas sobre o tema e interpretá-las;
Pesquisa com a família sobre o desenvolvimento da criança;
Criação da árvore genealógica da família;
Brincadeira com bonecos anatômicos;
Confecção de boneco de pano com sentimentos escritos no coração;
AVALIAÇÃO:
Foi feita uma avaliação inicial para identificar os conhecimentos que as crianças já apresentavam sobre o tema no início do projeto. Essa avaliação foi registrada e comparada aos conceitos construídos durante o projeto.
Toda a informação foi sistematizada num portfólio individual (com produção das crianças) e num dossiê coletivo.
Os profissionais foram avaliados pela supervisão pedagógica quanto a sua criatividade e motivação para desenvolver o projeto. Além disso, foi implementado um processo de auto-avaliação em que cada um pode evidenciar as transformações pessoais que sofreu e as descobertas.
O grupo decidiu desdobrar o tema num próximo projeto que abordasse os direitos das crianças.
CULMINÂNCIA: 
As crianças assistiram a uma peça de teatro sobre o funcionamento do corpo humano.
A boneca (Dorinha) confeccionada com sentimentos no coração dormiu uma noite na casa de cada criança após o fim do projeto.
ANEXO 2
Algumas atividades realizadas no projeto de educação afetivo-sexual.
Percepção do corpo humano:
Identificar gravuras de meninos e meninas/machos e fêmeas/ homens e mulheres/idosos e idosas.
Meu corpo é assim .... completar o texto oralmente.
Eu gosto de ..... completar o texto oralmente
Desenhar corpo de menina e menino.
Modelar com massinha corpo de menina e menino.
Identificar tronco, membros e órgão sexuais.
Identificar o que criança pode e não pode fazer.
Conhecer as etapas de crescimento e amadurecimento do corpo humano:
ciclo de desenvolvimento bebê - infância - adolescência - adulto e idoso.
Conhecer as etapas da gestação, tipos de parto, aleitamento materno, comidinha de bebê.
Estudar os cuidados com o bebê
Colocar pêlos no desenho do corpo dos adolescentes e adultos.
Diferenciar os órgãos genitais de meninas e meninos.
Confeccionar boneca grávida.
Pedir fotografias de mulheres grávidas.
Exibir ultra-sonografias de fetos.
Álbum com as fotos das crianças nas diferentes fases: bebê e primeira infância.
Afetividade e relacionamento
Identificar um amigo especial na infância
Identificar namorado na adolescência
Escrever a biografia da criança juntamente com a família
Fazer uma confraternização para as avós
Estabelecer regras de convivência com base no respeito mútuo.
4) Jogo da verdade: pensar junto sobre:
É legal crianças beijarem na boca?
É legal ver os pais trocando de roupa?
É legal tomar banho com papai e mamãe?
É legal papai e mamãe mexer com carinho no corpo da criança?
É legal um adulto mexer com maldade no corpo da criança?
É legal alguém que a gente não goste mexer no nosso corpo e pedir para não contar a ninguém?
É legal mostrar o sexo para o colega da escola?
É legal fazer carinho no papai e na mamãe?
ANEXO 3 – Música tema do projeto
De Umbigo a Umbiguinho
Composição: Toquinho e Elifas Andreato
Muito antes de nascer
Na barriga da mamãe já pulsava sem querer
O meu pequenino coração,
Que é sempre o primeiro a ser formado
Nesta linda confusão.
Muito antes de nascer
Na barriga da mamãe já comia pra viver
Cheese salada, bala ou bacalhau.
Vinha tudo pronto e mastigado
No cordão umbilical.
Tanto carinho, quanta atenção.
Colo quentinho, ah! Que tempo bom!
De umbigo a umbiguinho um elo sem fim
Num cordãozinho da mamãe pra mim.
Muito antes de nascer
Na barriga da mamãe começava a conviver
Com as mais estranhas sensações:
Vontade de comer de madrugada
Marmelada ou camarões.
Muito antes de nascer
Na barriga da mamãe me virava pra escolher
A mais confortável posição.
São nove meses sem se fazer nada,
Entre água e escuridão.
Tanto carinho, quanta atenção.
Colo quentinho, ah! Que tempo bom!
De umbigo a umbiguinho um elo sem fim
Num cordãozinho da mamãe pra mim.
� Psicóloga (UFF) Especialista em Desenvolvimento Humano e Saúde Menta da Criança e do Adolescente (SCMRJ) e Mestre em Educação (UFJF), Professora da UNESA e SENAC – contatos por tavliese@terra.com.br.
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