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Construção da Subjetividade na Infância

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A construção da subjetividade na infância
Por: Taísa Costa Vliese 
O eu se constrói em colaboração, os eus são autores uns dos outros. 
Maria Teresa de A. Freitas
A constituição da subjetividade na infância é um processo lento e contínuo de construção do eu e de diferenciação dos outros. É o processo que faz nossa formação a partir do dia em que nascemos até os últimos instantes de nossa vida. Ele nos faz sermos sujeitos únicos no mundo.
Será construída diariamente na interação social, nos modos de ser, pensar e se relacionar socialmente.
Ao estudar este processo evidencio que os nove meses de gestação intra-uterina não são suficientes para a formação de todos os comportamentos humanos. Ao nascer, o bebê apresenta estruturas orgânicas imaturas, inacabadas e bastante permeáveis à ação do meio ambiente para a sua definitiva formação. 
Em meio a sua total fragilidade e necessidade da ajuda de outrem para lhe assegurar a sobrevivência, o bebê apresenta como peculiaridade a não existência de uma natureza humana. Diferentemente dos animais, o filhote humano não apresenta um instinto que caracteriza sua espécie, pois não nasce com todos os comportamentos determinados geneticamente. Ele nasce apenas com um conjunto de comportamentos que servem para a satisfação das necessidades fisiológicas mais imediatas do organismo, como a alimentação, a proteção e o descanso. 
Resgatando o desenvolvimento do processo de constituição do sujeito descrito por Henry Wallon, podemos observar que o bebê é biologicamente social pois depende do cuidado de outras pessoas para sobreviver e se estrutura psiquicamente. Sua a rotina divide-se em momentos de sono e vigília, pois o recém-nascido se encontra num estado de forte simbiose com a mãe�. Ele vive completamente diluído no meio social e simbólico. Sua consciência é como uma nebulosa, sem contornos definidos e por isso, ele não consegue diferenciar seus limites corporais do meio ambiente. O bebê tem a sua atenção voltada apenas para as reações viscerais que apresenta e a satisfação de suas necessidades fisiológicas (VASCONCELLOS, 1995). 
O bebê vai apresentar, nesta fase, movimentos descontínuos e descoordenados que terão como único objetivo, liquidar as tensões internas e externas (WALLON, 1975). Mas, progressivamente, esses gestos do bebê provocarão intervenções no meio, pois será criado um código de comunicação corporal, cujo significado será construído na interação entre o bebê e um parceiro privilegiado. Desta forma, muito rapidamente, serão estabelecidas conexões entre suas manifestações corporais espontâneas e as reações úteis que elas provocarão em seu meio. 
Assim, o choro que deseja colo terá uma entonação própria e passível de compreensão na díade parceiro-bebê. O mesmo acontece quando o bebê levanta os braços, ergue a cabeça, balbucia alguns vocábulos ou apresenta qualquer outra conduta de comportamento que será interpretada pelos parceiros que convivem com ele. 
Seus gestos começarão a ganhar significação nesta espécie de diálogo corporal (WALLON, 1995). Muito rapidamente serão estabelecidas conexões entre suas manifestações corporais espontâneas e as reações úteis que elas provocarão em seu meio de convivência. Os parceiros mais próximos de interação interpretarão as manifestações vocálicas, guturais e corporais do bebê como uma expressão de linguagem. Assim, o bebê passará a usar, intencionalmente uma espécie de diálogo corporal que será a primeira forma de comunicação direcionada a alguém (VASCONCELLOS, 1996).
Segundo Dantas, “é pela expressividade que o indivíduo humano atua sobre o outro, e é isto que lhe permite sobreviver, durante seu prolongado período de dependência” (1992, p. 38). Portanto, o afeto mobilizará os parceiros e convidará o adulto à interação com o bebê, pois através desta relação afetiva, o adulto começará a interpretar e dar sentido aos movimentos descoordenados do recém-nascido. 
	Posteriormente, a criança começará a explorar intencionalmente algumas partes do seu corpo como se fossem partes isoladas, mas progressivamente, terá uma percepção do mundo exterior mais clara e exata. Essa percepção lhe permitirá o acompanhamento dos objetos e das pessoas em seu campo visual. 
Será através da interação com seus pares mais próximos que o bebê construirá seu recorte corporal, na medida em que ele for se diferenciando dos outros, sua constituição psíquica acontecerá simultaneamente ao processo de construção do esquema corporal (VASCONCELLOS, 1995).
	A criança passará pelo primeiro e segundo ano de vida construindo o significado das palavras durante a interação com as pessoas de seu convívio e formando os contornos de sua subjetividade. No entanto, ao término do segundo ano de vida, ela ainda não apresentará a noção do eu, não conseguirá diferenciar-se totalmente dos outros e nem se reconhecer no espelho ou numa fotografia. Nesta fase, a aquisição da marcha e da fala, em especial, vai representar um salto no desenvolvimento da criança, pois ela terá uma postura mais ativa e autônoma na interação com o meio circundante. Além disso, ela também reconstruirá suas habilidades cognitivas, sensoriais e simbólicas. 
	No terceiro ano de vida, a criança passa por uma fase com características de uma crise, pois nela, começa a tomar posição em relação ao outro, negando-o e diferenciando-se dele. Serão comuns as disputas por um mesmo brinquedo, como forma de assegurar a delimitação desse eu e não a posse do objeto propriamente dita. Isso acontece porque a criança construirá primeiro a noção do meu para depois, construir a noção do eu. 
Como última característica desta fase, ela passa a reconhecer a integração das partes de seu corpo como a formação de seu eu, vivendo uma fase denominada por Wallon de Período do Espelho, que é apresentada quando “ … a identificação da imagem mostrada pelo espelho significará a intuição de conjunto, a capacidade de integração de tudo o que se relaciona com a personalidade física” (NASCIMENTO, 1998, p. 4). Essa exteriorização do corpo na imagem do espelho levará a criança a se distinguir do mundo no qual estava fundida e também, a individualizar a representação de si mesma. 
Como culminância dessa fase, a atividade cognitiva que estava voltada para a constituição do eu, seguirá a transposição desse eu para o plano da inteligência e passará a produzir categorias cognitivas capazes de explicar a realidade, que agora está sendo percebida de uma forma inteiramente nova. 
Para Vygotsky, depois do parto, o recém-nascido permanece biologicamente ligado à mãe ou cuidadora, devido o total estado de dependência que ele se encontra. Seus dias se dividem em fases de sono e vigília e sua consciência se encontra num estado nebuloso, confuso, no qual o emocional e o sensitivo encontram-se fundidos. De acordo com suas palavras: “Acreditamos que no primeiro mês de vida não existe para o bebê nada nem ninguém, que todos os estímulos e ele inteiro são para ele um estado subjetivo unicamente" (VYGOTSKY, 1995, p.282). 
Para Vygotsky, o bebê também é essencialmente social, dada a sua dependência do adulto para sobreviver. Nessa interação, ele terá um contato mediado com a realidade e iniciará uma forma de comunicação emocional, pois é através deste diálogo que ele inicia o processo de seu desenvolvimento psíquico. Neste momento, as primeiras palavras da mãe� têm uma importância decisiva na formação dos processos mentais da criança, pois 
“ a palavra liga um complexo sistema de conexões do córtex cerebral da criança e se converte numa poderosíssima ferramenta que introduz formas de análise e síntese na percepção infantil que a criança seria incapaz de desenvolver por si mesma (LURIA, 1985, p. 12). 
Desde o princípio da vida, o recém-nascido forma gradualmente a compreensão das palavras dos seus cuidadores. Entretanto, no início, o traço específico da sociabilidade do bebê está na comunicação social que estará privada das palavras humanas, por ser uma comunicação pré-lingüística. 
Para Vygotsky, apóso primeiro ano de vida, a linguagem continuará sendo a linha central do desenvolvimento da criança, e permanecerá nesta função durante toda a infância, pois ela transformará a relação da criança com o meio circundante. A memória, a inteligência, a aprendizagem e os demais fenômenos psicológicos superiores estarão diretamente ligados ao desenvolvimento da linguagem. Isso nos permite aplicar o mesmo raciocínio para a compreensão do processo de formação da subjetividade na infância, na medida em que ele estará em permanente transformação tal qual a realidade e as interações que a criança vivenciar.
O bebê não nasce pronto. Como pudemos explicar, sua formação depende da qualidade das interações que vivenciar ao longo de cada dia de sua vida. Neste caso, a Psicologia nos impõe uma importante reflexão: como devemos interagir para proporcionar um desenvolvimento saudável e uma constituição psíquica equilibrada e feliz para as crianças que cuidamos e educamos? A resposta passa pela análise do nosso desenvolvimento e das pessoas que tiveram um importante papel em nossa formação. 
Com essa análise compreendemos porque no início desde texto foi afirmado que o nosso eu se constrói em colaboração e que somos autores um dos outros. Da mesma forma que contribuímos para o desenvolvimento das crianças, elas também contribuem para a nossa formação. Temos muito que aprender com os pequeninos, basta ouvi-los, respeitá-los e tentar compreender seu universo.
Bibliografia
DANTAS, H. A afetividade e a construção do sujeito na psicogenética de Wallon. In: _____. Piaget, Vygotsky e Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.
LURIA, A R. ; YODOVICH, F.I. Linguagem e desenvolvimento intelectual da criança. Porto Alegre: Artes Médicas, 1985.
NASCIMENTO, M. L. B. A construção do eu num espaço coletivo: investigação sobre o terceiro ano de vida numa creche pública In: Anais da 21 ª Reunião Anual da Anped, em 1998. 
VASCONCELLOS, V. M .R. Wallon e o papel da imitação na emergência do significado no desenvolvimento infantil In: PEDROSA, M. I. et al Investigação da criança em interação social - Recife - UFPE. Coletâneas da ANPEPP, vol. 1 no 4, 1996.
VASCONCELLOS, V. M .R. ; VALSINER, J. A perspectiva co-construtivista na Psicologia e Educação. Porto Alegre: Artes Médicas,1995 
VYGOSTKY, L. S. Obras Escogidas. Tomo II, Madri: Editorial Pedagógica, 1995.
_____ 
WALLON, H. O papel do outro na consciência do eu In: Psicologia e Educação da infância. Lisboa: Editora Estampa: 1975. 
_____ . As origens do caráter na criança. São Paulo: Nova Alexandria, 1995.
� Todas as vezes que o texto se referir à mãe como sendo a principal figura de interação da criança, compreendemos que outras pessoas podem exercer esse papel, como o pai, os avós, a educadora entre outros.
� Vide nota número 3.

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