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Educação e Economia Política Aulas 1 a 10

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Educação e Economia Política Aulas 1 a 10
Aula 1: As formações econômicas pré-capitalistas
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:
1. Identificar e problematizar as formações econômicas anteriores ao sistema capitalista; 
2. reconhecer nesse período as bases econômicas e sociais necessárias para a consolidação do sistema capitalista em momento posterior.
Para entendermos a formação das sociedades pré-capitalistas e mesmo a capitalista, é preciso compreender o processo histórico de constituição das primeiras formações sociais e suas especificidades, já que as relações trabalhistas, econômicas e sociais são datadas historicamente e se apresentam de formas diversas.
Nessa dinâmica, uma pequena reflexão sobre o homem se faz necessária.
O homem se distingue dos outros animais pela sua capacidade de agir de forma teleológica. O que isso quer dizer?
Que o homem se diferencia dos outros seres naturais pela capacidade que tem de elaborar antecipadamente na sua mente o seu trabalho.
Para Marx (1996, p. 115):
“O animal se confunde imediatamente com sua atividade vital. Ele não se distingue dela. Ele é esta atividade. O homem faz de sua atividade vital o objeto de sua vontade e de sua consciência. Ele tem uma atividade vital consciente; ela não é uma determinação com a qual ele se confunda imediatamente. A atividade vital consciente distingue diretamente o homem da atividade vital do animal.”
O trabalho é entendido aqui como a transformação da natureza para a satisfação das necessidades do homem, ou seja, o homem produz (modifica) para atender aos seus anseios.
No entanto, cabe ressaltar que as necessidades determinam a produção assim como a produção determina as necessidades.
SOCIABILIDADE - Outra característica do homem é a sua sociabilidade, o homem é um “ser social”.
Para Marx, a sociabilidade do homem se dá como relação material dos indivíduos submetidos à necessidade, que, como tais, colaboram no processo de apropriação e transformação da natureza ou se opõem na posse dos bens de consumo.
Os homens, a partir dessa concepção, sempre se apropriam da natureza sendo parte integrante de um tipo de comunidade.
Hobsbawm (1986, p. 16) nos mostra que:
“o homem — ou melhor, os homens — realizam trabalho, isto é, criam e reproduzem sua existência na prática diária, ao respirar, ao buscar alimento, abrigo, amor etc. Fazem isto atuando na natureza, tirando da natureza (e, às vezes, transformando-a conscientemente) com este propósito. Esta interação entre o homem e a natureza é — e ao mesmo tempo produz — a evolução social.”
No entanto, essa “evolução social” não se deu de forma linear e pacífica, para alguns autores essa “evolução” se liga à separação gradativa entre o homem e o produto do seu trabalho, tendo como ápice dessa separação o atual estágio de desenvolvimento social, o capitalismo.
No ponto de partida dessa “evolução social”, a relação entre o homem e as condições materiais de seu trabalho é de propriedade, porém com as metamorfoses das relações de produção essa condição de proprietário da sua produção se esvanecerá.
O início desse longo processo pode ser explicado pela condição do homem como um animal social que como tal desenvolveu mecanismo de cooperação, como por exemplo, a especialização das funções na produção, divisão social do trabalho, com essa divisão a produção do excedente se intensificou.
Como consequência dessa cooperação e do excedente temos: um progresso lento e contínuo nas relações produtivas, a prática da troca e a gradativa emancipação do homem em relação à natureza e no seu domínio sobre a mesma. São essas mudanças nas formações econômicas pré-capitalistas que iremos analisar.
O que diferencia uma sociedade da outra?
Para alguns autores, dentre eles Karl Marx, a diferenciação se dá pela forma como é desenvolvida a produção, ou seja, cada sociedade tem as suas especificidades quanto ao modo de produção, além da maneira como o trabalho é dividido, ou como chama a divisão social do trabalho e principalmente pelas formas distintas de propriedade.
Podemos afirmar que as diferentes etapas da divisão social determinam formas diferentes de propriedade e, consequentemente, de formações econômicas.
Marx (2007, p. 89) afirma que:
“(...) cada nova força produtiva (...) tem como consequência um novo desenvolvimento da divisão do trabalho” e que “as diferentes fases do desenvolvimento da divisão do trabalho significam outras tantas formas diferentes da propriedade (...)” e que, portanto, inauguram uma nova organização societária.
O que é Modo de Produção
Entretanto, devemos ter a clareza de que o modo de produção não é a realidade, mas ajuda a compreendê-la, além de possibilitar a comparação entre as diferentes formas de organização das sociedades ao longo da história.
Para simplificar, podemos afirmar que o modo de produção é igual à força produtiva mais as relações de produção. Visto isto, podemos agora começar a analisar as diferentes formações econômicas pré-capitalistas.
Iremos analisar três formações econômicas pré-capitalistas, são elas:
asiática;
antiga;
germânica.
Porém, precisamos primeiro especificar a formação tribal, que se caracteriza pela propriedade comunal.
Corresponde ao “estágio não desenvolvido da produção” (HOBSBAWM, 1986), em que as pessoas caçam, pescam e criam seus animais e quando muito plantam. A estrutura social é baseada no parentesco e há a distinção entre o chefe da família e os demais membros.
Com o desenvolvimento das forças produtivas, com uma nova divisão social do trabalho e com a propriedade comunal-estatal, vimos surgir a formação econômica asiática, ou o modo de produção asiático.
Essa formação econômica se origina do desenvolvimento das formações tribais mais rudimentares em organizações sociais estabelecidas e comandadas por um déspota, figura importante que centraliza o poder decisório sobre a sua comunidade.
Essa organização mais complexa se deve à necessidade de formação de uma frente de trabalhos públicos para o beneficiamento e organização da produção comunal.
Nesse momento, a figura do déspota toma o lugar do chefe da família, ele personifica a vida e a produção comunal. É o embrião do que conhecemos hoje como Estado. 
A necessidade do “Estado” como órgão centralizador do poder e controlador da produção se dá pela urgência em organizar a produção e a reprodução da vida material.
A propriedade da terra e da produção ainda é comunal, mas de uma forma mais elaborada do que a comunidade tribal. A economia tem como base a pequena agricultura e a manufatura.
Ainda não existe a propriedade privada tal como conhecemos, a propriedade era estatal, a posse era privada. Ou seja, o “Estado” era o proprietário de todas as terras e concedia a posse das mesmas a membros da comunidade.
Assim como a terra, os excedentes produzidos também são propriedade estatal. Os indivíduos comportam-se não como trabalhadores, mas como proprietários — e membros de uma comunidade em que trabalham. A finalidade deste trabalho não é a criação de valor, embora eles possam realizar trabalho excedente de modo a trocá-lo por trabalho estrangeiro ao grupo, isto é, por produtos excedentes alheios. Seu propósito é a manutenção do proprietário individual e sua família, bem como da comunidade como um todo. A posição do indivíduo como trabalhador, em sua nudez, é propriamente um produto histórico (HOBSBAWM, 1986, p. 66).
Nesse modo de produção, não existe a oposição de classes em luta pela apropriação das riquezas sociais, pois, como dissemos, toda a riqueza é riqueza comunal-estatal, e mesmo quando alguns dos membros da elite destas sociedades possuem riquezas, estas somente são atribuídas devido à sua relação de lealdade ao palácio.
Seja como generais do exército estatal, como escribas da contabilidade palaciana, como sacerdotes etc.
Conforme Hobsbawm, a natureza "fechada" das unidades comunais significa que as cidades mal pertencem à economia, surgindo "somente onde a localização seja particularmente favorável ao comércio exterior ou ondeo déspota e seus sátrapas trocam suas receitas (produto excedente) por força de trabalho, que empregam como um fundo de trabalho” * (1986, p. 69).
O sistema asiático não é ainda, portanto, uma sociedade de classe, ou, se for uma sociedade de classes, será, então, sua forma mais primitiva.
A relação principal de domínio acontece entre o déspota e as comunidades camponesas. 
A divisão social do trabalho é expressa na divisão entre:
o rei
altos funcionários e militares
sacerdotes
massas de camponeses e escravos
Esse modo de produção está associado às formações sociais do oriente, como China, Índia e também da América Pré-Colombiana. Essas sociedades se mantiveram até, pelo menos, o século XIX, segundo relatos de conquistadores imperialistas. A sociedade do oriente se manteve, mostrando seu caráter imutável, durante séculos, sendo desmantelados pelas forças capitalistas.
O caráter imutável e a longa duração são explicados pela autossuficiência da manufatura e agricultura nas aldeias comunais, “que, assim, contém todas as condições para a reprodução, e para a produção de excedente, dentro dela própria, resistindo, portanto, a desintegração e à evolução econômica mais fortemente do que qualquer outro sistema” (HOBSBAWM, 1986, p. 35).
Estudaremos agora a Formação Econômica Antiga.
Essa formação econômica se caracteriza pela distinção entre a cidade e o campo
Essa distinção não significa a separação entre esses dois espaços de produção da vida material. Muito pelo contrário, a dependência da cidade com o campo é uma especificidade dessa formação econômica.
Essa sociedade é fruto de uma vida histórica mais dinâmica, e este modo de produção decorreu do aumento da produção, do excedente, que exigiu o desenvolvimento de uma nova relação produtiva baseada na escravidão.
Na formação econômica antiga ou escravista, a divisão social do trabalho já é de uma complexidade maior. Há a divisão entre cidade e campo e também entre grupos que representavam os interesses urbanos e rurais, a divisão entre indústria e comércio exterior e principalmente a divisão entre homens livres e escravos (HOBABAWM, 1986).
Você sabe qual é a diferença entre a escravidão antiga e a escravidão moderna?
É importante entendermos que o escravo é de propriedade de um cidadão ou mesmo do Estado, porém não devemos confundir a escravidão antiga com a escravidão moderna. Como a escravidão dos negros no Brasil, a primeira não tinha como especificidade a etnia e sim outras questões como dívida e as guerras e não havia os castigos corporais tão comuns no Brasil. O escravo na antiguidade é uma propriedade privada móvel do cidadão ou mesmo do Estado.
Como vimos, não podemos afirmar que essa sociedade tem base igualitária, pois as uniões intergrupais e as guerras de conquista já tendem a produzir grupos de parentesco socialmente mais elevados do que outros e havia uma divisão clara entre os direitos e deveres dos homens livres e dos escravos.
A guerra é a principal ocupação, porque a ameaça a essas comunidades é a usurpação de suas terras, além de ser o meio de garantir a terra para todos os cidadãos, já que há um aumento populacional significativo.
“Mas as próprias tendências guerreiras e expansionistas de tais comunidades camponesas devem levá-las à perda das qualidades camponesas que constituem sua base”. (HOBSBAWM, 1986, p. 35). 
Nessa formação econômica, ser cidadão é condição para ser proprietário; e ser proprietário é um direito que concerne ao cidadão, ou seja, é a propriedade de terras que confere ao homem a condição de cidadão. Podemos, então, compreender a importância que a terra tem numa sociedade em que o centro urbano é o coração pulsante. Esta é uma das contradições que acarretará o seu fim.
“A propriedade, portanto, significa pertencer a uma tribo (comunidade) (ter sua existência subjetiva/objetiva dentro dela) e, por meio do relacionamento desta comunidade com a terra, como seu corpo inorgânico, ocorre o relacionamento do indivíduo com a terra, com a condição externa primária de produção — porque a terra é, ao mesmo tempo, matéria-prima, instrumento de trabalho e fruto — como as pré-condições correspondentes à sua individualidade, como seu modo de existência. (MARX, 1986, p. 86).”
Na divisão social do trabalho, os serviços manuais são reservados aos escravos e aos estrangeiros, aos cidadãos cabem os deveres políticos e filosóficos.
O Estado, primeiramente representado por todos os cidadãos na Grécia, passa a sê-lo pelos patrícios aristocratas em Roma, que são os únicos proprietários de terras absolutos, face aos homens de menor importância e aos escravos, e pelos cidadãos face aos não cidadãos e escravos.
As próprias bases dessa sociedade, o escravismo, as guerras e a concentração territorial, levaram ao seu esfacelamento.
O colapso do modo antigo está, portanto, implícito em seu caráter econômico-social. Para entendermos melhor o fim dessa relação de produção é importante salientar que o objetivo final dessas comunidades é a preservação e a reprodução da sua vida material, mas que essa reprodução é ao mesmo tempo conservadora e renovadora, já que lança uma nova forma de produção e destrói a velha forma, dando início a novas relações sociais.
Formação Econômica – Germânica – A base dessa formação econômica é o campo.
A propriedade da terra toma forma com os feudos, que consistem de uma aldeia e extensões de terra arável concedidos aos vassalos em troca da sua fidelidade e de proteção militar. Vale ressaltar que os feudos diferenciam-se em tamanho e organização, no entanto, suas características principais são semelhantes.
A escravidão quase desaparece nesse período, a base de sustentação dessa economia é o servo, que diferentemente do escravo não é propriedade do seu senhor, sua ligação é com a terra em que trabalha.
Por exemplo, se um vassalo concedesse a posse de sua terra a outro, o servo teria simplesmente outro senhor. Além disso, o servo pode ser considerado um produtor independente, ou seja, é possível que o servo acumule uma parte do excedente que produziu, podendo recolher daí um pequeno lucro.
A divisão social do trabalho no sistema germânico se sustenta em três pilares, o clero, os nobres e os servos. A mobilidade social entre essas classes era quase nula, era uma sociedade estamental com as funções e deveres definidos. “Ao clero cabe a salvação espiritual, aos nobres a defesa militar e aos camponeses e servos o trabalho”.
A escravidão quase desaparece nesse período, a base de sustentação dessa economia é o servo, que diferentemente do escravo não é propriedade do seu senhor, sua ligação é com a terra em que trabalha. Por exemplo, se um vassalo concedesse a posse de sua terra a outro, o servo teria simplesmente outro senhor. Além disso, o servo pode ser considerado um produtor independente, ou seja, é possível que o servo acumule uma parte do excedente que produziu, podendo recolher daí um pequeno lucro.
Um texto do Hobsbawm (1986, p. 55) nos permitira entender melhor de que forma se organiza tal sistema, e suas diferenças com o sistema antigo.
“Seu traço principal, como vimos, parece ser a fixação dispersa em unidades familiares economicamente autossuficientes, em oposição à cidade de camponeses dos antigos: cada lar isolado contém uma economia completa, se constituindo, assim, em centro independente de produção (a manufatura sendo, meramente, o trabalho doméstico subsidiário das mulheres etc.).
No mundo antigo, a cidade com seu território circundante (Landmark) constituía o todo econômico, no mundo germânico são os lares isolados. Sua existência é protegida pelos laços com outros núcleos semelhantes, pertencentes à mesma tribo, vínculo que se expressa nas eventuais assembleias de todos os chefes de família, para fins bélicos, religiosos, resolução de disputas e, em geral, para segurança recíproca.
Na medida em que há propriedade comum, como pastagens, territórios de caça etc, será usada pelos membros individualmente, e não na condição de representantes da nação, como na sociedadeantiga. Pode-se comparar o ideal da organização social romana a um colégio das universidades de Cambridge ou Oxford, cujos integrantes são co-possuidores dos terrenos e dos edifícios, somente enquanto constituem o corpo docente, mas não podem, como indivíduos, ser considerados "proprietários" de qualquer desses bens.
O sistema germânico guarda semelhança com uma cooperativa habitacional em que a ocupação individual de um apartamento depende de sua união e contínua cooperação com os demais membros, mas na qual, entretanto, a posse individual existe de modo identificável. Esta forma frouxa de comunidade, que implica uma potencialidade maior de individualização econômica, faz do "sistema germânico" (via feudalismo) o ancestral direto da sociedade burguesa.”
O que o pequeno trecho escrito por Hobsbawm explicita é a forma de organização social desse sistema, baseada na dependência e contraditoriamente na individualização econômica. A dependência caracterizada pela necessidade de cooperação militar entre os nobres para garantir a unidade territorial e a independência é concretizada pela autonomia e autossuficiência de cada feudo.
O sistema germânico é considerado a etapa final e que sua organização social lançou as bases do capitalismo. Vamos ver como uma sociedade, baseada na produção agrária, vai dar origem a um sistema econômico urbano, industrial e que evidencia mais claramente a exploração do homem pelo homem.
Alguns fatores contribuíram para essa transformação, podemos citar a potencial individualização necessária ao ordenamento de uma sociedade capitalista. Cabe lembrar que sem a consolidação da propriedade privada, o capitalismo não teria o seu pilar fundante, além do que, a posse privada no sistema germânico é o embrião do tipo de propriedade privada que se consolidará no capitalismo.
O desenvolvimento das cidades nos últimos séculos do feudalismo juntamente com o progresso das corporações de ofício possibilita a formação de trabalhadores livres. O surgimento das cidades e o fortalecimento do comércio propiciam uma nova perspectiva de trabalho e de vida para os servos, que aos poucos se desvinculam da servidão e caminham para as cidades, aumentando sobremaneira a categoria de trabalhador urbano e livre.
Vejamos a reflexão de Hobsbawm (1986, p.47):
A importância básica da formação do artesanato medieval parece residir no fato de que, ao desenvolver o trabalho em si, como uma habilidade determinada pelo ofício (torna-se) uma propriedade ele próprio, e não mera fonte de propriedade e, assim, introduz uma separação potencial entre o trabalho e as outras condições de produção, que expressa um mais alto grau de individualização do que o comunal e torna possível a formação da categoria do trabalho livre.
Para Marx (1986), três fatores são essenciais para essa transição:.
o primeiro fator nos remete a uma estrutura fundiária que permitisse a libertação do camponês da terra e, consequentemente, a sua ida para as cidades;
o segundo se relaciona como desenvolvimento dos ofícios urbanos independentes do campo e da produção agrária;
já o terceiro é a acumulação de riquezas monetárias através do comércio.
Os melhoramentos na agricultura e no transporte, o aumento na produção do excedente, o fortalecimento das cidades, as corporações de ofício, o aumento populacional, a expansão marítima e o mercantilismo foram fatores preponderantes no nascimento do capitalismo.
Vale destacar que para diversos autores, o capitalismo somente poderia surgir do esfacelamento da sociedade feudal.
Antes de finalizar essa aula, faça a atividade com atenção.
Todas as alternativas abaixo identificam as formações sociais pré-capitalistas, EXCETO:
A propriedade da terra e da produção é comunal.
A propriedade da terra é privada
A divisão social do trabalho é expressa na divisão entre o Rei, altos funcionários e militares, sacerdotes, massas de camponeses e escravos.
As relações de trabalho são exclusivamente escravocratas.
O homem se distingue dos outros animais pela sua capacidade de agir de forma teleológica. Explique o que isso quer dizer.
Nessa aula você:
As formações econômicas pré-capitalistas em seus aspectos constitutivos e suas especificidades temporais.
A passagem da propriedade comunal para a propriedade privada e as implicações sociais desse processo.
Aula 2: O pensamento político e econômico sob a ótica do capital: Liberalismo
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:
1. Identificar as bases históricas e conceituais do liberalismo; 
2. problematizar o liberalismo e suas determinações na base do sistema capitalista atual. 
Nesta aula, estudaremos a gênese e a consolidação do capitalismo até as primeiras duas décadas do século XX. Esse período se caracteriza pela fase do liberalismo.
“Produção de mercadorias, orientada pelo mercado; propriedade privada dos meios de produção; um grande segmento da população que não pode existir, a não ser que venda sua força de trabalho no mercado; e comportamento individualista, aquisitivo, maximizador, da maioria dos indivíduos dentro do sistema econômico.”
O que podemos entender da reflexão de Hunt?
Para ele, o capitalismo se caracteriza pela produção de bens e mercadorias que tenham um valor de uso e de troca e que são condicionadas pelo mercado.
Para melhor entendermos, vamos usar como exemplo dois homens, em que cada um compra quatro garrafas de água.
O primeiro homem se dirige a uma mesa e, junto a mais três pessoas, bebe a água das garrafas. Para eles, a água tem um valor de uso, matar a sede.
O segundo homem vai embora com as garrafas fechadas com o objetivo de vendê-las na praia por um preço maior do que o comprado obtendo, assim, um lucro. Para esse homem, a água tem um valor de troca. Com isso, esse homem transforma o seu dinheiro em capital. 
Outro ponto salientado por Hunt (2002) é a propriedade privada dos meios de produção. Vimos anteriormente que o homem era o proprietário das suas ferramentas de trabalho e o dono final do produto que produziu. Porém, no capitalismo, grande parte dos homens perde a propriedade sobre suas ferramentas e sobre o seu produto final.
Os meios de produção, as máquinas, as ferramentas, as matérias primas etc., passam a pertencer a um seleto grupo de homens, os burgueses. Como consequência desse processo, o homem que não possui os meios de produção se vê obrigado a vender a única coisa que lhe restou, a sua mão de obra e torna-se um trabalhador assalariado.
O comportamento individualista e aquisitivo é primordial para a reprodução do capital e a manutenção do capitalismo.
O indivíduo deve pensar em satisfazer as suas necessidades sozinho, deixando de lado o pensamento coletivo, já que pensar coletivamente é ter força de negociação que abalam as estruturas do sistema. A aquisição de bens e produtos é imperiosa para os capitalistas, o trabalhador deve consumir para gerar lucro aos burgueses.
Visto isso, devemos buscar entender de que forma o capitalismo se consolidou como um modo de produção hegemônico. O capitalismo surge do esfacelamento da sociedade feudal.
A disseminação do comércio de longa distância foi um dos fatores que levou ao final do feudalismo. No entanto, devemos perceber que o surgimento desse comércio está intrinsecamente associado à economia europeia da época.
O desenvolvimento da produção gera um excedente que precisa encontrar novos mercados. Nesse caso, o mercado externo, o desenvolvimento tecnológico de novas fontes de energia, do transporte tornam necessária e lucrativa a vida nas cidades, assim como o desenvolvimento da indústria.
O comércio de longa distância inaugura uma nova forma de comercialização e de divisão do trabalho. O artesão que produz e vende seus produtos diretamente não tem condições de vender seus produtos em terras tão distantes. O comerciante passa então a comprar os produtos dos artesões e a vendê-los.
A partir desse movimento, o homem vai perdendo a propriedade de seus produtos. O artesanato enquanto prática social dominante cede lugar à manufatura eposteriormente à maquinofatura. É o início da separação do homem e do produto do seu trabalho.
Esse processo de substituição do artesanato pela maquinofatura foi lento e gradual. Conforme o comércio e a necessidade de mais produtos manufaturados se expandirem, maior é o controle do processo produtivo pelo capitalista.
O sistema de trabalho doméstico, em que o capitalista fornece a matéria-prima e o artesão em troca de um pagamento transforma em produto acabado, substituiu o artesanato.
Com o desenvolvimento das forças de produção, o processo produtivo se modifica e o capitalista passa a ser o proprietário dos meios de produção, restando aos não proprietários a venda de sua força de trabalho em troca de um salário. Nesse estágio, o trabalhador não vende mais o produto para o comerciante, ele vende a sua mão de obra.
Outros fatores foram importantes no processo de esfacelamento da sociedade feudal e no surgimento do capitalismo, como por exemplo, os cercamentos dos campos, que se iniciou na Inglaterra por volta do século XIV e se intensificou nos séculos XV e XVI.
Essa prática expulsou os camponeses do campo, enchendo as cidades e formando, assim, um contingente grande de mão de obra para as primeiras indústrias.
Ademais, dois marcos são reconhecidos como fatores determinantes para a consolidação das práticas capitalistas:
a Revolução Industrial na Inglaterra
a Revolução Francesa
Ambas as revoluções são influenciadas pelas ideias dos chamados iluministas.
Vários intelectuais que anunciam o mundo contemporâneo, novo Estado, novas instituições, nos valores que condizem com o progresso econômico, científico e cultural.
Esses intelectuais lançaram as bases do racionalismo e do mecanicismo. Podemos destacar:
Rousseau
Locke
Montesquieu
O iluminista econômico Adam Smith, o pai do liberalismo.
Vejamos o que Marx e Engels (2001, p. 27) nos alertam sobre a burguesia e sobre o fim das relações feudais:
“Onde quer que tenha chegado ao poder, à burguesia destruiu todas as relações feudais, patriarcais, idílicas. Estilhaçou, sem piedade, os variegados laços feudais que subordinavam o homem e seus superiores naturais, e não deixou substituir entre os homens outro laço senão o interesse nu e cru, senão o frio ‘dinheiro vivo.”
Com base nos ideais iluministas de razão e cientificidade, a Revolução Industrial intensifica o processo de desenvolvimento do capitalismo.
Essa revolução inicia a mecanização industrial, desviando a acumulação de capitais da atividade comercial para o setor de produção. Isso acarreta mudanças em todas as relações sociais, sejam econômicas, sociais, culturais etc., possibilitando, dessa forma, o desaparecimento dos restos do feudalismo e a implantação do modo de produção capitalista. Entre essas mudanças, podemos citar a criação de um forte sistema bancário, a revolução agrícola com a mecanização do campo e a inserção de novas tecnologias na indústria.
A Revolução Industrial consolidou a hegemonia burguesa na ordem econômica e também acelerou o êxodo rural, a formação da classe operária e o crescimento urbano. As bases econômicas do capitalismo estão fixadas, a busca por inovações tecnológicas que garantam a reprodução ampliada do capital, o conflito entre capital e trabalho e a luta de classe entre a burguesia e o proletariado.
Para Marx e Engels (2001, p. 26), a burguesia moderna é “o produto de um longo processo de desenvolvimento, de uma série de profundas transformações no modo de produção”. Podemos afirmar que a Revolução Industrial lança as bases econômicas do capitalismo, entretanto, as bases sociais são lançadas pela Revolução Francesa. É correto inferir que essa revolução é a prova definitiva da maturidade da burguesia, já que sepulta os entraves ao capitalismo.
A Revolução Francesa representa a adequação do sistema político ao sistema econômico. O desmonte de um sistema político baseado no privilégio da nobreza e do clero sob a tutela do rei absolutista é substituído por um sistema que tem a burguesia como classe dominante, um governo republicano.  
Para Marx e Engels (2001, p. 27), “um governo moderno é tão somente um comitê que administra os negócios comuns de toda a classe burguesa”.
O sistema de governo adotado foi à República – etimologicamente significa “coisa pública” – e em 1789 foi proclamada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão que sintetiza os preâmbulos do liberalismo. Vejamos alguns artigos dessa declaração:
“Art. 1º Os homens nascem e permanecem iguais nos direitos; as distinções sociais só podem ser baseadas na utilidade comum.
Art. 2º  A finalidade de qualquer associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem; esses direitos são a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão.
“Art. 3º  O princípio da soberania reside essencialmente na nação, nenhum corpo ou indivíduo pode exercer qualquer autoridade que dela declaradamente não decorra.
Art. 4°  Liberdade consiste em poder fazer tudo o que não prejudica aos outros. Assim, o exercício dos direitos de cada homem tem como limite apenas aqueles que garantem aos demais membros da sociedade o gozo destes mesmos direitos; estes limites são determinados somente pela Lei. (...)”
(Adaptado de: S. e P. Coquerelle e L. Genet. La fin de l’Ancien Régime et lês débuts monde contemporain. Paris, Hatier, 1966, p. 128).
Lançadas as bases do capitalismo uma nova doutrina de ideais políticos e econômicos que defendem os conceitos de liberdade e autonomia individual foi criada para dar conta das novas relações sociais, o liberalismo.
Apesar de muitas vezes o liberalismo ser confundido com a democracia, não podemos deixar de entender que, na época em que essa doutrina foi posta em prática a democracia não era uma realidade. O liberalismo enquanto uma teoria política e econômica prega a liberdade, a divisão dos três Poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário – o Estado de direito regido por uma constituição, a autorregulamentação do mercado, sem a intervenção estatal e a defesa da propriedade privada.
LIBERDADE – IGUALDADE – FRATERNIDADE
A liberdade que os liberais pregam é a liberdade de pensamento e de religião, é um estado que evita o arbítrio e as lutas religiosas. “a liberdade apregoada pelos liberais tem algo de unívoco, a defesa de que o Estado limite a liberdade natural ou o espaço de arbítrio de cada indivíduo” (LIMA, WIHBY, FAVARO, 2008, p. 02).
Vale ressaltar que a liberdade na doutrina liberal é primordial para a formação de uma sociedade que tem como pilar fundante a propriedade privada consubstanciada por um contrato social que visa à formação da sociedade civil, ao qual os homens devem aderir “livremente”. Outro aspecto dessa liberdade é que a maioria da população que não tem propriedade deve ser livre para vender a sua mão de obra e sobreviver por meio do seu trabalho.
Passemos agora a analisar alguns dos grandes pensadores liberais, dentre eles destacamos Adam Smith, Malthus e David Ricardo.
Adam Smith foi um dos maiores defensores do liberalismo, Hunt (2002) afirma que Smith se diferencia dos outros pensadores por ter sido o primeiro a elaborar uma teoria sobre a sociedade capitalista.
O tema que permeia toda a sua análise é a “mão invisível” do mercado que conduz as pessoas no sentido de promover o bem social de forma involuntária. Entre seus estudos, encontramos a teoria do preço que vai encaminhar toda a sua teoria.
Ele distinguiu o preço de mercado e o preço natural das mercadorias. Para ele, o preço de mercado é aquele definido pela lei da oferta e da procura e o preço natural é o que cobre os custos da produção e oferece um pequeno lucro ao capitalista.
Smith acredita que o capitalismo é o mais alto grau de desenvolvimento que a sociedade pode alcançar e esta evolução atingiria o seu ápice no momento em que o governo, o Estado, não mais interferisse na economia. O mercado se autorregularia baseada na lei da oferta e da procura. Com isso, haveria um equilíbrio entre o preço natural e o preço do mercado, beneficiandoa todos, o capitalista e o consumidor. Ademais, ele entendia que todo individuo, no mercado livre sem intervenção do Estado, age de forma egoísta e que a “mão invisível do mercado” conduz para a maximização do bem social.
Para Smith, todo indivíduo que emprega seu capital na promoção da indústria interna esforça-se para que o produto desta indústria tenha o maior valor possível. O produto da indústria é o que ela adiciona às matérias-primas por ela utilizadas.
Na medida em que o valor desse produto seja grande ou pequeno, os lucros do empregador serão grandes ou pequenos, mas é apenas visando ao lucro que alguém emprega um capital na indústria, e, portanto, ele sempre se esforçará para empregá-lo na indústria cujo produto tenha probabilidades de ter o maior valor ou de poder ser trocado pela maior quantidade de moeda ou de outros bens.
A receita anual de toda sociedade, porém, é sempre precisamente igual ao valor de troca de todo o produto anual de sua indústria.
Portanto, quando todo indivíduo se esforça o mais que pode, não só para empregar seu capital na indústria interna, como também para que seu produto tenha o maior valor possível, trabalha, necessariamente, no sentido de aumentar o máximo possível a renda anual da sociedade. Na verdade, ele geralmente não pretende promover o interesse público, nem sabe até que ponto o está promovendo.
Preferindo aplicar na indústria interna e não na externa, só está visando à sua própria segurança; dirigindo a indústria de tal maneira que seu produto possa ter o maior valor possível, está querendo promover seu próprio interesse e está, neste e em muitos outros casos, sendo levado por uma “mão invisível” a promover um fim que não fazia parte de suas intenções.
Do mesmo modo, nem sempre é pior para a sociedade que não tenha sido esta a sua intenção. Cuidando do seu próprio interesse, o indivíduo, quase sempre, promove o interesse da sociedade mais eficientemente do que quando realmente deseja promovê-lo.
Smith acredita que por tudo isso a intervenção estatal não é  bem-vinda. Para ele, as concessões e as regulamentações do governo alocam mal o capital, o que restringe o grande papel do capitalismo, o bem social. Sabemos, porém, que esse discurso não é verdadeiro.
Porque, quanto mais o capitalista aumenta a sua produção e consequentemente o seu lucro, mais o trabalhador é explorado, desvalorizado e tem a sua carga de trabalho aumentada.
A lógica de Smith somente beneficia um seleto grupo de proprietários dos meios de produção. O modo de produção capitalista liberal simplificou a oposição de classe:
O PROLETARIADO X A BURGUESIA
Portanto, não é possível que o desenvolvimento do mercado sem intervenção do Estado dilua essa oposição ontológica.
O conflito entre as classes sociais do capitalismo se resolve pela “mão invisível” do mercado, segundo Smith e propicia a felicidade humana, ou seja, proporciona a harmonia social.
É CLARO QUE ISSO NÃO OCORRE.
Ainda para Smith, o Estado tem três funções básicas na sociedade capitalista:
proteger a sociedade da violência e invasão de outras sociedades;
proteger todo indivíduo, na medida do possível, da injustiça;
fazer e conservar obras e instituições que não sejam do interesse de particulares, por não possibilitar o lucro necessário para sua manutenção, mas que são essenciais à sociedade.
Malthus credita a miséria e a pobreza ao número elevado da população. Ele entende que a classe subalterna é a própria culpada pela sua miséria. Essa crítica nasce da uma defesa acalorada de propriedade privada. Alguns autores, como Godwin, acreditam que a desigualdade social tem origem nas instituições humanas e na propriedade privada.
Em resposta, Malthus afirma que o cerne da questão se encontra na escassez de alimentos frente ao grande número de pessoas. Ele assim explica o que considera “causa profunda de impureza que corrompe a fonte e tornam turvas as águas de toda vida humana”.
“A população, quando não controlada, aumenta numa razão geométrica. A subsistência aumenta apenas em proporção aritmética. Isso significa um controle forte e constante sobre a população, provocado pela dificuldade de subsistência. Essa dificuldade deve recair nalguma parte e deve necessariamente ser fortemente sentida por grande parte da humanidade...” (apud HUBERMAN, 1972, p. 293).
Podemos, então, concluir que para Malthus a pobreza se justifica pelo aumento da população que não é acompanhada pela produção, e não pela exploração do trabalhador e pela busca do lucro exorbitante.
Malthus ainda vai mais fundo nessa questão quando afirma que movimentos sociais, como greves e associações de nada adiantam para resolver tal problema, já que a culpa é dos trabalhadores que têm filhos demais.
Assim como Smith e Malthus, Ricardo tenta justificar a desigualdade social favorecendo a camada dominante da população. Diferentemente de Smith, a leitura de Ricardo é complicada e cansativa, pois se trata de um texto que busca exemplos abstratos e que não tem familiaridade com o leitor. Trataremos aqui apenas da doutrina chamada por ele de “Lei Férrea dos Salários”.
Deixemos o próprio Ricardo explicar a sua teoria.
“O trabalhador simples, que depende apenas de suas mãos e sua indústria, não tem senão a parte de seu trabalho de que pode dispor para os outros. Vende-a a um preço maior ou menor; mas esse preço alto ou baixo não depende apenas dele; resulta de um acordo que fez com a pessoa que o emprega. Esta lhe paga o menos possível, e, como pode escolher entre muitos trabalhadores, prefere o que trabalha por menos. Os trabalhadores são por isso obrigados a reduzir seu preço em concorrência uns com outros. Em toda espécie de trabalho, deve acontecer, e na realidade acontece, que os salários do trabalhador se limitam apenas ao que é necessário à mera subsistência.”  (apud HUBERMAN, 1972, p. 296).
O QUE RICARDO QUER DIZER COM ISSO?
É muito similar com a Lei da Oferta e Procura desenvolvida por Smith. Quanto mais trabalhadores disponíveis existem numa sociedade menor será o valor do salário e vice-versa.
Essa teoria é aceita até os dias atuais. Por isso podemos afirmar que no modo de produção capitalista é muito improvável que o emprego seja pleno, ou seja, todas as pessoas estejam empregadas. É necessário que exista um “exército de desempregados”, garantindo que os salários continuem baixos e que os lucros continuem altos.
No mais, sabemos que a desigualdade social não tem base nos salários baixos e sim nas práticas inerentes ao capitalismo, como a propriedade dos meios de produção, por exemplo.
Ao final desta aula, é importante que tenhamos claro que:
Esses teóricos deram base às práticas sociais durante o período de consolidação do capitalismo até o final da década de 20.
E mais, os operários criam movimentos de resistência a essas práticas, como a formação de sindicatos e associações. Esses trabalhadores não recebem passivamente as ordens de seus patrões, eles lutam e se revoltam, possibilitando pequenas vitórias e muitas derrotas.
Ademais, a crise do liberalismo é fruto também dessas resistências.
Antes de finalizar esta aula, que tal fazer um exercício de fixação?
Nessa aula você:
Aprendeu a identificar as bases históricas e conceituais do liberalismo;
a problematizar o liberalismo, entendendo as suas determinações na base do sistema capitalista atual.
Aula 3: O pensamento político e econômico sob a ótica do capital: Keynesianismo
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:
1. Identificar as bases históricas e conceituais do Keynesianismo; 
2. problematizar o Keynesianismo como um mecanismo de manutenção das estruturas capitalistas após a crise do modelo liberal clássico no início do século XX.
Nessa aula, estudaremos o Keynesianismo, uma nova etapa do capitalismo.
O capitalismo sofreu e ainda sofre um processo incessante de transformação contínuo, como meio de manutenção constante da acumulação de capital. A história do capitalismo vem mostrando a sua capacidade de superação das crises e as suas reestruturações, modificandoas formas de acumulação e de dominação. O capital traz em si a necessidade de se transformar para se manter hegemônico.
Segundo Souza (2002 p.74), a crise do capital é primordial para a manutenção da sua hegemonia. Ele nos indica que a crise é “ao mesmo tempo, elemento de destruição e de construção do próprio sistema (...), pois são nesses momentos que se produzem as rupturas necessárias para a sua continuidade.” Corroborando as análises de Souza, Alves (1999), assim se manifesta:
A autodestruição inovadora do capital decorre do “impulso absoluto de enriquecimento” [...] que revoluciona não apenas os meios de produção, mas os meios de reprodução sociais. Ocasionam crises recorrentes, provenientes da contradição intrínseca à própria atividade do capital, que põem a cada momento problemas de desenvolvimento para o capital (e principalmente para seus “suportes”: capitalistas e trabalhadores assalariados). (ALVES, 1999, p. 33).
Assim, a reordenação do capitalismo, tão necessária à manutenção e reprodução do capital, transforma as relações sociais sejam de produção, de sociabilidade, de poder e até mesmo a educacional.
É importante observarmos que as crises são inerentes ao capitalismo.
Ainda no início do século XIX, as crises eram constantes, passageiras e pontuais, tanto assim que diversos intelectuais se puseram a pensar sobre o ciclo das crises econômicas.
Para Thomas Robert Malthus, essa periodicidade ocorre devido à preocupação dos homens em poupar dinheiro. Para ele, a poupança seria responsável para a penúria geral e pelos momentos de crise, já que não permite a circulação do dinheiro e o aquecimento da economia.
Ironicamente, para William Stanley Jevons, as crises tem caráter extraeconômicos, são consequências das manchas solares.
Tanto Malthus quanto Jevons foram duramente criticados pelas suas teorias.
Entretanto, a crise de 1929, ao contrário das anteriores, é profunda e abrangente, atingindo grande parte do mundo capitalista, causando uma ociosidade produtiva e desemprego generalizado.
Essa crise se pronuncia após um período de grande prosperidade, mais de 45 milhões de pessoas empregadas nos Estados Unidos, recebendo US$ 77 bilhões em salários, rendas e lucros. Anuncia-se o final da pobreza e acredita-se que os problemas econômicos do mundo capitalista estão a pouco de serem solucionados. As bolsas de valores eram oásis de prosperidade e de rendimentos exorbitantes.
Um homem que aplicasse US$ 780,00 em ações em 1921 conseguiria multiplicar seu dinheiro. Em 1929, seu dinheiro valeria US$ 21.000,00.  Os americanos hipotecam suas casas, contraem dívidas para investir na bolsa de valores, esperançosos em se tornarem milionários.
Já em 1925, os sinais da crise aparecem:
a superprodução e a diminuição do consumo
o desemprego
a concorrência com os países europeus
A crise não tardou a atingir o mercado de valores. Assim, em outubro de 1929, o mercado entrou em colapso, as ações que anteriormente tinham muito valor decaíram, as perdas foram brutais.
Para termos uma noção, o montante perdido nos Estados Unidos era próximo a US$ 40 bilhões, um em cada quatro americanos perdeu o emprego até 1930. No país, a construção civil caiu 95%, nove milhões de contas de poupança foram perdidas e 85.000 empresas faliram (HEILBRONER, 1992).
É a partir das ideias de John Keynes que vamos analisar o que significa essa nova fase do capitalismo e suas diretrizes.
Para esse economista, o que determina a renda de uma nação é o fluxo de renda de mão para mão, ou seja, é o processo de transferência de mão em mão que revitaliza constantemente a economia.
Todos nós gastamos nossas rendas em bens e produtos para próprio uso, e estamos comprando esses bens regularmente, garantindo, assim, a transferência de nossa renda para as mãos dos outros.
Então, para Keynes, é essa transferência que garante uma economia aquecida e próspera.
Quando essa transferência diminui, a economia entra em crise.
Para o autor, há ainda outra parte da renda que não vai fazer esse movimento de troca de mãos. É a poupança.
Essa parte da renda vai ser aplicada nos bancos e consequentemente é colocada de volta no mercado através dos empréstimos dos bancos para os empresários, para a expansão da produção.
No momento de crise, a população não consegue poupar dinheiro, muito pelo contrário, ela gasta o que tinha conseguido guardar, e os empresários não desejam investir no aumento de produção porque a economia fica estagnada.
Para Keynes, há somente uma saída para a estagnação da economia e da crise, a intervenção estatal. Cabe ao Estado intervir e garantir investimentos que possibilitem um novo caminhar econômico.
Este investimento se reveste de empréstimos, obras públicas e incentivos fiscais.
A intervenção estatal é necessária para diminuir o desemprego, incentivar a poupança e aumentar o nível de renda da população para que a mesma volte a consumir e, com isso, os empresários voltem a investir, reaquecendo a economia.
Podemos tomar como exemplo dessa intervenção estatal a política denominada “New Deal”, implantada pelo presidente Roosevelt no período de 1933 e 1937, buscando o reaquecimento da economia. Entre as medidas adotadas, destacamos:
o investimento maciço em obras públicas;
concessão de empréstimos aos proprietários agrícolas;
criação de um seguro-desemprego.
Com base nos ideais de Keyne, o Estado de Bem-Estar Social se consolida no período posterior à Segunda Guerra Mundial no momento em que os Estados podem efetivamente investir no desenvolvimento econômico e no bem-estar dos trabalhadores.
O Welfare State pode ser caracterizado pelo desenvolvimento de políticas sociais estatais que visam à libertação da empresas privadas dessas obrigações, para que possam investir seu capital no desenvolvimento e no aumento da produção.
Essas políticas sociais estatais têm como meta a garantia do pleno emprego, melhoria de salários, direito à habitação, etc., além de ser um mecanismo de controle sobre as classes trabalhadoras.
Para os defensores do Welfare State, essa fase do capitalismo busca a justiça social, a equidade e a igualdade, tendo como consequência disso o aumento da acumulação do capital.
É importante observar que para esse grupo de intelectuais o Welfare State é a humanização do capitalismo.
Entretanto, outros intelectuais, como Claus Offe, reconhecem que esse período se define pela tentativa de dissipar a luta de classe, porém devemos lembrar que a luta de classe é uma das bases fundantes do capitalismo e, por isso, não tem como ser dissipada, e pela necessidade de conformação da classe trabalhadora à ideologia do capital. Podemos afirmar que a partir desse Estado social é possível criar condições subjetivas e objetivas para a interiorização dessa ideologia pelos trabalhadores, como se fosse um projeto de sociedade próprio.
Sobre isso, vejamos o que Edmundo Fernandes Dias, professor da Unicamp, no artigo “Reestruturação produtiva: forma atual da luta de classes”, tem a nos dizer.
“Passada a guerra e a época nazifascista, a maior parte da Europa viveu uma era de social-democratização’. Para impedir a expansão russa, foi necessário antecipar-se a ela. Face àquela alternativa, fortíssima no imaginário dos trabalhadores, foi necessário ir além e constituir os direitos sociais, os mecanismos compensatórios do Welfare State combinados com o keynesianismo. Esse conjunto de medidas de contratendência permitiu compatibilizar a dinâmica da acumulação e da valorização capitalista.
E, em um mesmo movimento, garantiu direitos políticos e sociais mínimos o que possibilitou, com bastante êxito, a integração dos trabalhadores à ordem capitalista via redução destes à perspectiva econômico-corporativa.
Sindicatos e partidos de esquerda (nem todos) se associaram ao capitalismo na busca de uma estabilidade que garantisse a parceria antagônica, criando assim um pacto despolitizante que acabou por fortalecer as lutas corporativas.
Emergiu o chamado compromisso fordista: o pacto social em escala internacional. Essa foia estratégia assumida pelos capitalistas e seu Estado, em alguns países, para, através de políticas sociais compensatórias, buscar a fidelidade das massas, legitimando assim a ordem burguesa. Aqui a contradição atinge o limite. Os trabalhadores em troca da garantia de empregos, melhores salários e condições mais adequadas de vida acabaram por aceitar os lucros do capital.
Obviamente, em termos imediatos, os trabalhadores, por sua luta, obtiveram fortes melhorias, mas ao preço da incorporação dos operários, novamente e de forma superior, objetiva e subjetivamente, à racionalidade capitalista. Tendo abandonado qualquer pretensão revolucionária, a maioria dos trabalhadores viviam a plenitude de um sindicalismo de resultados, criatura típica da ordem do capital. O Estado de Bem-Estar expressou o período conhecido como ‘os anos gloriosos’ do capitalismo.
A forma assumida pelo capitalismo nesse período reorganizou totalmente a sociedade, e, ao criar a nova distribuição do trabalho, criou uma vida social amplamente diferente (BRAVERMAN, 1977).
Uma das consequências dessa reordenação foi o esvaziamento das lutas trabalhistas através dos sindicatos, visto como um espaço coletivo de reivindicações.
A exacerbação do indivíduo e as supostas conquistas dos trabalhadores, como a garantia de emprego e melhores salários, modificou esse espaço. Permitiu que práticas desumanizadoras recorrentes no chão da fábrica fossem aceitas sem muita resistência como, por exemplo, a intensa divisão do trabalho.
A divisão do trabalho foi levada ao máximo pelo seu maior teórico, Frederick Taylor, e tinha como ideia fundamental “uma especialização extrema em todas as funções e atividades” (PINTO, 2007, p. 25).
Este sistema de organização somente pode ser colocado em prática devido às inovações tecnológicas do período, fazendo com que as máquinas assumissem um importante papel na produção. Alves (1999, p. 53) salienta que, “o conhecimento e a atividade consciente não estão mais no sujeito que trabalha, mas na atividade mecânica do instrumento como ferramenta utilizado a serviço da valorização do capital”.
As teorias de Taylor encontraram materialidade nas linhas de produção em séries desenvolvidas por Ford. Essa linha de produção é a colocação da matéria-prima numa esteira automática que percorre todas as fases de produção até o seu estágio final. Ao longo dessa linha, as diversas atividades de transformação da matéria-prima são distribuídas entre vários trabalhadores fixos.
Para Ford, o trabalho na linha de produção deve ser pura repetição de movimento.
“Pois de outro modo não se pode conseguir sem fadiga a rapidez da manufatura que faz descer os preços e possibilita os altos salários” (FORD, 1995, p. 148).
Ford cumpre outro importante papel nessa economia: incutir nos seus contemporâneos a cultura de consumo de massa de produtos padronizados.
A partir desse sistema, foi urgente a formação de um novo tipo de trabalhador e, para Taylor, o trabalhador ideal deveria ter alguns requisitos:
“Um dos primeiros requisitos para que um homem seja adequado para lidar com os lingotes de ferro como ocupação regular é que ele seja tão estúpido e calmo que mais se assemelhe a um bovino, em sua constituição mental, do que a qualquer outro tipo. O homem mentalmente alerta e inteligente é, por isso mesmo, inteiramente inadequado para o que seria, em sua opinião, a opressiva monotonia de um trabalho dessa categoria.
Por conseguinte, o trabalhador mais adequado para lidar com os lingotes de ferro é incapaz de compreender a ciência real da realização desse tipo de trabalho. É tão estúpido que a palavra “porcentagem” não tem significado para ele, e, portanto, deve ser treinado por um homem mais inteligente que ele no hábito de trabalhar de acordo com as leis da ciência para poder ser bem-sucedido”. (TAYLOR, 1947 apud MÉSZÁROS, 2004, p. 119).
Ou seja, o Welfare State associado com o binômio Taylorismo/Fordismo aumenta a seguridade social, cria políticas sociais para garantir o consenso e, ao mesmo tempo, desqualifica o trabalhador. O trabalhador moderno, como consequência das inovações tecnológicas e das diretrizes econômicas, exige uma maior qualificação, porém o seu trabalho é tão dividido que as operações mínimas exigem um trabalhador com menos instrução, quase que dispensando o uso do seu cérebro.
Visto isso, vamos agora analisar o desenvolvimento do Welfare State no Brasil.
O surgimento do Welfare State no Brasil é diferente das observadas nos países industrializados, isso ocorre devido às especificidades da modernização brasileira, os setores modernos industriais convivem com setores tradicionais e com uma economia agroexportadora. O Welfare State surge no Brasil com o objetivo de regular aspectos relativos à organização dos trabalhadores urbanos (MEDEIROS, 2001).
A constituição de um Estado de Bem-Estar Social no Brasil é datado de 1930. Esse período se caracteriza pela consolidação de uma economia industrial pautada no desenvolvimentismo em que predominava o ideal de uma sociedade harmônica em que a luta de classe é prejudicial ao bem comum.
No Brasil, o Welfare State surge como um mecanismo de organização da força de trabalho intermediada pelo Estado.
Para Medeiros (2001, p. 10), “como a maior parte dos bens de capital e tecnologia era importada e a mão de obra encontrava-se no setor agroexportador da economia, criou-se um descompasso entre meios de produção e força de trabalho. O Welfare State brasileiro atuou sobre esse descompasso, o que facilitou a migração dos trabalhadores dos setores tradicionais para os setores modernos e a constituição de uma força de trabalho industrial urbana no país”.
Quanto às relações de trabalho, três metas devem ser alcançadas, são elas: conter os movimentos dos trabalhadores, despolitização das relações de trabalhos, tornar os trabalhadores ponto de apoio do governo. Medeiros constata que tais metas foram alcançadas por meio de uma combinação de repressão e concessão.
Alterar conteúdo para: Para tanto, são criadas as Leis Trabalhistas, como:
salário-mínimo
direito à férias
regime de oito horas de trabalho
carteira de trabalho
licença-maternidade
Devemos ressaltar que essa legislação é fruto da necessidade de fundar as bases da industrialização brasileira e também das lutas dos operários nas décadas anteriores.
No período entre 1946 e 1964, a constituição do Welfare State não apresenta significativas mudanças. A democratização do país, nessa época, introduz mudanças na legislação trabalhista, como o direito à greve, organização sindical. No entanto, essas conquistas limitam-se a um pequeno grupo da sociedade.
Com a ditadura dos militares em meados da década de 1960 uma nova fase de consolidação do sistema é acompanhada por mudanças significativas na estrutura institucional e financeira das políticas sociais. Nesse período, o desenvolvimento é associado à concentração da renda, um exemplo dessa ideia pode ser observada na fala do Delfim Neto, ministro em alguns governos militares.
Na sua concepção, é preciso primeiro “esperar o bolo crescer para depois repartir”. O problema é que o bolo cresceu e nunca foi dividido, continua concentrado em poucas mãos.
Dessa forma, a repressão aos movimentos dos trabalhadores é um dos caminhos para alcançar o tão almejado desenvolvimento.
O modelo de Welfare State adotado no regime militar é de caráter compensatório que busca diminuir os impactos causados pela aceleração do desenvolvimento capitalista e também de caráter produtivista, já que as políticas sociais são formuladas visando contribuir para a aceleração do processo de crescimento econômico (MEDEIROS, 2001).
Outra característica desse modelo é a quantidade de recursos que circulavam pela área social subordinados à racionalização e à transferência de determinados setores para a iniciativa privada, como educação, saúde, alimentação, etc.
Concluímos, então, que o Welfare State no Brasil constituiu-se de forma modificada devido à inserção do Brasil tardiamente no rol de países industrializadose também as suas especificidades.
Educação – Alimentação – Saúde
Chegou o momento de avaliar o que você aprendeu nessa aula. Avance a tela e faça o exercício de fixação.
Nessa aula você:
a identificar as bases históricas e conceituais do Keynesianismo;
a reconhecer o Keynesianismo como um mecanismo de manutenção das estruturas capitalistas após a crise do modelo liberal clássico no início do século XX.
Aula 4: O pensamento político e econômico sob a ótica do capital: Neoliberalismo
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:
1. Identificar e problematizar a implementação e consolidação do neoliberalismo como expressão atual do sistema capitalista; 
2. conhecer a implementação do neoliberalismo no Brasil.
Nesta aula, analisaremos as transformações políticas e econômicas forjadas com a perspectiva neoliberal de capitalismo.
O período logo após a II Guerra Mundial é denominado por Hobsbawm de:
Esse período foi marcado por:
êxodo rural
industrialização
crescimento urbano
ampliação da tecnologia
Este momento, aproximadamente de 1945 a 1973, teve como base um conjunto de práticas de controle do trabalho, tecnologias, hábitos de consumo e configurações de poder político-econômico específico, chamado de fordista-keynesiano (modo de organização do trabalho fordista e política estatal keynesiana), como vimos na aula anterior.
Torna-se evidente a incapacidade de serem contidas as contradições inerentes ao capitalismo.
O sistema entra em colapso, iniciando-se um período de rápidas mudanças e muitas incertezas. Esse novo período é caracterizado por processos de trabalho e mercados cada vez mais flexíveis.
Na sequência, os anos 90, no bojo desse processo de crise do regime de acumulação fordista e do advento da acumulação flexível, ocorrem profundas mudanças nas relações capitalistas, expressas, fundamentalmente, pela globalização e por alterações profundas no processo produtivo.
Nas palavras de Harvey (1999, p. 117), seria “uma transição no regime de acumulação e no modo de regulamentação social e política a ele associado”. Desse modo, a década de 1970 representou um momento histórico central, quando consideramos as mudanças ocorridas no âmbito do sistema capitalista. A partir desta década e, principalmente no período de 1970-1990, houve uma “nova configuração do sistema do capital”, caracterizada, principalmente, por seu acentuado processo de mundialização.
O regime subsequente ao esgotamento do fordismo caracteriza-se pela:
Transferência das linhas de montagem dos países centrais para os periféricos, onde a mão de obra tem custo bem menor.
Especialização flexível, com produtos menos padronizados e estímulo às pequenas empresas.
Automação flexível, possível pela introdução da informática na produção.
Nova segmentação da força de trabalho, no interior da empresa e fora dela.
Como decorrência desse processo, temos a expansão das novas tecnologias, que contribuiu para a difusão da ideia da necessidade de um trabalhador flexível, sempre disposto a se adaptar diante das transformações e incertezas do novo contexto, no mundo do emprego ou do desemprego.
Na nova conjuntura criada, observa-se um aumento das taxas de exploração, acrescido do incremento do processo de fragmentação e de insegurança do trabalho (trabalho temporário, terceirizado e em tempo parcial), bem como de aprofundamento da desigualdade e da exclusão social.
A principal referência do padrão de acumulação flexível é o toyotismo (termo originário da experiência da fábrica automobilística japonesa Toyota), cujas características centrais são:
A diversidade e heterogeneidade da produção
O direcionamento da heterogeneidade da produção a uma demanda prevista do consumo
O estoque mínimo
A terceirização de parte da produção
A organização do trabalho em equipe
A flexibilidade nas funções do trabalhador (ANTUNES, 2000)
O Neoliberalismo pode ser apontado, então, como a estratégia de gestão do capital frente a todas essas mudanças estruturais no capitalismo, a partir de uma nova divisão internacional do trabalho, onde a circulação de mercadorias e a mundialização da produção se ampliam progressivamente a partir do acirramento do processo de internacionalização do capital.
Destaca-se, também, nesse processo, a supremacia do capital financeiro sobre os outros setores da economia, exigindo reformas estruturais que protejam a sua circulação mundial.
Junto com essa tendência econômica, a cultura é carregada em um bonde transnacional, com o mundo mais interligado, através da apropriação, pelas diferentes nações, dos padrões econômicos e comportamentais de ordem neoliberal.
O Neoliberalismo, como ideologia política e prática social, rapidamente se tornaram universal e hegemônico, nos anos 80.
Esse processo tem início com a conversão das economias centrais a esse padrão, destacando-se como marco histórico dessa conversão. Destacam-se as eleições de Margareth Thatcher , em 1979, na Inglaterra e de Ronald Reagan, em 1982, nos EUA.
Suas plataformas políticas apontavam a iminente necessidade de desmantelamento do Estado Social de Direito.
A partir do início do século XX, os países centrais passam a contar com a inserção mais significativa de interesses interclasses no interior do Estado, que fica encarregado, a partir de então, de garantir de uma sistemática político-social, como vimos na aula anterior.
Com o advento do ideário neoliberal, ocorre a crítica à ampliação dos direitos sociais, que implicava na centralização da esfera executiva do poder.
A partir do argumento de que a excessiva ampliação dos direitos sociais aumentava consideravelmente à atuação do Estado, gerando, com isso, sua ineficiência na execução de políticas públicas, ganha ressonância a necessidade de Reforma do Estado, na perspectiva de implementação do Estado mínimo como estratégia e condição fundamental para garantia de crescimento econômico.
Os governos centrais rapidamente se tornam modelos do “ajustamento econômico” indicados para os países periféricos na ordem capitalista mundial. O atrelamento das economias periféricas aos ditames da globalização é fruto direto da forte concentração de tecnologia e de capital nos polos dinâmicos do capitalismo. A supremacia dos países centrais implica na redução da possibilidade de autonomia dos países periféricos frente à nova estruturação produtiva capitalista.
O ajustamento econômico traduz-se, basicamente:
na desregulamentação da economia;
privatização das empresas estatais;
reforma da aparelhagem estatal;
redução com gastos sociais;
supremacia do mercado.
Apesar de todas essas mudanças, qualitativamente a conversão neoliberal não apontou inovações nos matizes filosóficos do capitalismo, pois a necessidade da despolitização total dos mercados e a liberdade absoluta da circulação dos indivíduos e dos capitais privados seguem os mesmos preceitos do liberalismo clássico do século XIX e XX.
FIORI, J. O moedeiros falsos.  Rio de Janeiro: Vozes, 1998.
O novo padrão de desenvolvimento, porém, implicou na reestruturação do processo produtivo e, também, na alteração das relações sociais gerais e nas relações de poder, com a implementação de reformas estruturais necessárias para levar as economias mundiais ao ajuste e às exigências do capital globalizado.
Esse processo de atrelamento passivo da economia periférica aos ditames dos polos centrais do capitalismo mundial se concretiza nas diretrizes dos planos econômicos, a níveis nacionais, e de renegociação da dívida externa, a níveis internacionais.
Assim, se evidencia a intervenção direta das agências financiadoras internacionais (FMI e Banco Mundial) no projeto de sociedade em sedimentação.
O processo de consolidação neoliberal, nos meados dos anos 90, estruturou-se a partir da proposta da Reforma do Estado como elemento fundamental do processo de estabilização econômica, garantindo uma maior flexibilização da administração pública, através do enxugamento da máquina burocrática. Dentro desse processo de Reforma do Estado, ocorreum redirecionamento jurídico em relação às novas funções a serem desempenhadas pelo Estado, constituindo-se em quatro atividades específicas:  
Atividades Exclusivas: setor com funções exclusivas do Estado, como segurança, soberania e tributação.
Núcleo estratégico: setor de planejamento e execução das políticas públicas. Estado sctritu sensu.   
Serviços para o mercado: nesse caso, o Estado atua em setores que a iniciativa privada não tem condições de garantir, por se tratarem de setores de infra-estrutura para o desenvolvimento econômico; a atuação do Estado é pertinente para o crescimento econômico do país.
Serviços não exclusivos: setor que conta, na execução de políticas públicas, com a ação de entidades da sociedade civil que, através de parcerias, passam a ser executoras de políticas públicas voltadas para o campo social e o Estado, o gerenciador dessas políticas. As entidades executoras dessas políticas são nomeadas de “organizações públicas não estatais”.
Esse quadro implementado pela reforma do Estado ocasiona o esvaziamento das funções públicas do Estado, levando-a a se retrair de seu papel social. O Estado passa, paulatinamente, a desregulamentar as políticas sociais, passando sua execução para o campo da sociedade civil.   
Na lógica neoliberal e em seu projeto político “liberal-corporativo”, a auto-organização da sociedade civil é estimulada, porém, busca-se reduzi-la à defesa de interesses regulados pela lógica capitalista e de natureza específica, neutralizando discussões e reivindicações de caráter geral, deslocando o eixo do conflito de classe para a defesa de interesses corporativos na sociedade.
Assim, o que ocorre, invariavelmente, é a fragmentação da luta social, cada vez mais setorizada e reprodutivista dos padrões dominantes de sociedade.
O aumento do desemprego e da precariedade das relações de trabalho decorrente da reestruturação produtiva é outra característica marcante nessa matriz. Essas novidades provocaram, mais uma vez, alterações na composição e na organização da classe trabalhadora.
A mundialização do sistema capitalista provocou, nas palavras do professor Ricardo Antunes, um movimento pendular. Diz o autor:
ANTUNES, Ricardo. Afinal, quem é a classe trabalhadora hoje? Estudos do Trabalho. Ano II – nº 3 – 2008. Revista da RET – Rede de Estudos do Trabalho. <www.estudosdotrabalho.org>.
A classe trabalhadora hoje, diante da precarização e da flexibilização das relações e dos postos do trabalho, e de sua composição multifacetada, vai-se consolidando como aquela que foi/é despossuída dos meios de produção e, cada vez mais, perde o controle sobre seu trabalho.
Se no passado recente, a presença física de grande número de trabalhadores era fundamental para o processo produtivo industrial burguês, na atualidade, depois do fordismo, taylorismo, toyotismo e do ‘just in time’, a presença de grandes contingentes nas unidades produtivas, está cada vez mais dispensável.
A situação fica assim:
Os donos do capital investem em pesquisas, sistemas e tecnologias para dispensar ao máximo a presença do trabalhador. Dessa forma, à medida que o processo produtivo vai se sofisticando em tempos neoliberais, principalmente com tecnologia, o desemprego de trabalho humano vai crescendo.
Diante da impossibilidade de dispensar completamente a figura do trabalhador, uma vez que ele é uma das fontes de riqueza do sistema, o capitalismo vem empregando sistematicamente procedimentos para enfraquecer a figura, as representações e a pessoa do trabalhador.
Nas palavras de Carmo (1992, p. 13):
“Em uma sociedade onde a participação na abundancia e o sucesso profissional são aspectos essenciais para a integração social. O fato de encontrar-se sem trabalho constitui sentimento grave de derrota. Trata-se das contradições de um sistema que traz a exaltação do trabalho, mas se sustenta deixando à margem um sem-número de desempregados – um exército industrial de reserva – de que ele lança mão quando necessita”
CARMO, P. S. do. A ideologia do trabalho. São Paulo: Moderna, 1992.
É neste momento que os responsáveis pelo processo produtivo justificam a dinâmica demissão/admissão como de responsabilidade da sociedade. O desemprego passa a ser fruto da inaptidão do (ex-) empregado às novas tecnologias ou de alguma crise inesperada. Nesse contexto, o emprego passa a ser, ao mesmo tempo, uma conquista do desempregado e uma dádiva do empregador.
Ao assumir a responsabilidade pelo seu desemprego, o trabalhador, se desempregado, procurará se preparar de acordo com as exigências do mercado (que exige escolarização, especialização, capacitação e atualização) e, se ele estiver empregado, será impelido a fechar acordos, menos para garantir ganhos, mas para evitar perdas (especialmente do posto de trabalho).
Ao flexibilizar direitos, abrem-se as portas para outro caminho: o da precarização.
A precarização, na atualidade e relacionada ao mundo do trabalho, abrange não só a questão da quantidade de postos de trabalho, como também a qualidade nesses postos. Ao flexibilizar as relações de trabalho, precarizam-se as condições de trabalho.
Neoliberalismo no Brasil
O novo padrão de desenvolvimento neoliberal implicou na reestruturação do processo produtivo e, também, na alteração das relações sociais gerais e nas relações de poder no Brasil, o que ocorre com a vitória dos grupos conservadores nas eleições presidenciais de 1989 e 1994, com Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso, respectivamente.
Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso
Após o impechement de Fernando Collor, os governos de Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso consolidaram a nossa inserção nesse novo padrão de desenvolvimento.
O Governo Collor começa e os Governos Itamar e Cardoso implementam as reformas estruturais necessárias para levar nossa economia ao ajuste às exigências do capital globalizado.  Esse processo de atrelamento passivo das economias periféricas se concretiza nas diretrizes dos planos econômicos, em âmbito nacional e de renegociação da dívida externa, a nível internacional, evidenciando, assim, a intervenção direta das agências financiadoras internacionais (FMI e Banco Mundial) no projeto de sociedade em sedimentação.
Assim, identificamos que, nos países latino-americanos, a globalização se traduziu em planos de estabilização da moeda.
O Plano, ao conseguir estabilizar e controlar a inflação, contribuiu de forma dramática na inculcação ideológica sobre as vantagens do Neoliberalismo para a economia brasileira.
O controle da inflação implicou em um aumento imediato do poder de compra dos trabalhadores e os ideólogos neoliberais rapidamente usaram esses elementos como determinantes na consolidação da hegemonia do bloco no poder.  
O processo de consolidação neoliberal nos meados dos anos 90, no Governo de Fernando Henrique Cardoso, estruturou-se a partir da proposta da Reforma do Estado como elemento fundamental do processo de estabilização econômica, garantindo, assim uma maior flexibilização da administração pública, através do enxugamento da máquina burocrática.
Dentro desse processo de Reforma do Estado, ocorre um redirecionamento jurídico em relação às novas funções a serem desempenhadas pelo Estado.    
Resposta B
Resposta A
Resposta C
Nessa aula você:
As transformações políticas e econômicas forjadas com a perspectiva neoliberal de capitalismo;
a implementação do Estado Neoliberal no Brasil, a partir dos anos de 1990.
Aula 5: O pensamento político e econômico sob a ótica do trabalho: Marxismo
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:
1. Identificar e problematizar as bases históricas e conceituais do Marxismo e suas determinações na análise, na crítica e na superação do sistema capitalista.
Nesta aula, abordaremos as análises de Karl Marx e Friedrich Engels sobre o capitalismo.
O capitalismo tem como especificidade a mercantilização da força de trabalho, ou seja, a força de trabalho se torna uma mercadoria. Vamos, então, entender o que significa a mercadoriapara Marx.
A mercadoria é um objeto externo que satisfaz as necessidades humanas de qualquer natureza. Para ele, a riqueza no capitalismo é a “imensa acumulação” de mercadorias.
Vale ressaltar que:
“(...) a natureza dessas necessidades, se elas se originam do estômago ou da fantasia, não altera nada na coisa. Aqui também não se trata de como a coisa satisfaz a necessidade humana, se imediatamente, como meio de subsistência, isto é, objeto de consumo, ou se indiretamente, como meio de produção.” “(...) a natureza dessas necessidades, se elas se originam do estômago ou da fantasia, não altera nada na coisa. Aqui também não se trata de como a coisa satisfaz a necessidade humana, se imediatamente, como meio de subsistência, isto é, objeto de consumo, ou se indiretamente, como meio de produção.”  (MARX, 1983, p. 45)
Entretanto, para que um objeto possa ser considerado uma mercadoria, é necessário que tenha um valor de troca ou um valor social e não apenas um valor de uso.
Vamos entender o que isso quer dizer...
A análise de Marx (1983, p. 49) evidencia que a mercadoria é aquela que deve ser vendida num mercado em troca de outros objetos ou de dinheiro.
“Para tornar-se mercadoria, é preciso que o produto seja transferido a quem vai servir como valor de uso por meio da troca.”
O que será o valor de uso?
É a utilidade de algum objeto, por exemplo:
o valor de uso da água é matar a sede do homem. Se essa mesma água for vendida num bar, ela terá um valor de uso, matar a sede, e um valor de troca, o quanto ela custa no mercado.
Porém, esse valor de uso não é apenas para atender a uma necessidade natural do homem, pode ser também para satisfazer um desejo, como um livro, que tem valor de uso para um professor, um aluno ou mesmo um leitor que deseja se divertir.
O que vai determinar o valor de troca de cada mercadoria?
Para Marx, é o trabalho despendido na produção da mercadoria que determina o seu valor de troca.
Se retirarmos o valor de uso de uma mercadoria, o que resta é o produto do trabalho. Podemos, então, afirmar que um artigo qualquer só tem valor quando está materializado na sua produção, o trabalho humano. A forma de medir a quantidade de trabalho despendida na elaboração de uma mercadoria é a duração ou unidade de tempo como horas, dias, minutos.
Poderia imaginar que, se o valor de uma mercadoria é determinado pela quantidade de trabalho gasto na sua produção, então quanto mais preguiçoso ou inábil for um homem mais valor terá a sua mercadoria, pois emprega mais tempo na sua produção.
Contudo, o trabalho que constitui a substância do valor das mercadorias é trabalho igual e indistinto, um dispêndio da mesma força de trabalho. A totalidade da força de trabalho da sociedade, que se manifesta no conjunto dos valores, só releva, por conseguinte, como força única, embora se componha de inúmeras forças individuais.
Cada força de trabalho individual é igual a qualquer outra na medida em que possui o caráter de uma força social média e funciona como tal, isto é, emprega na produção de uma mercadoria apenas o tempo de trabalho necessário em média ou o tempo de trabalho socialmente necessário.
Vale destacar que um produto pode ter um valor de uso e não de troca como, por exemplo, o ar que respiramos. Ele é essencial à nossa sobrevivência, mas ainda não está à venda, não tem valor de troca, pois está disponível a todos e não tem trabalho humano agregado.
Se em algum momento do futuro esse ar for engarrafado e vendido no mercado para atender a alguma necessidade, ele passará a ter um valor de troca e terá agregado o trabalho humano. Por outro lado, se um determinado objeto não é útil, o trabalho despendido será nulo.
A força de trabalho despendida para a confecção de uma mercadoria é constante?
Não, a produção vai se modificar com a inserção de novas tecnologias.
Para tornar mais fácil a nossa compreensão, vamos pensar num exemplo do nosso dia a dia:
um tapete produzido manualmente que demorou 30 dias para ser produzido terá um valor de troca muito maior do que outro tapete que foi produzido em série por máquinas industriais e demorou algumas horas a ser desenvolvido, ou seja, o trabalho despendido no primeiro tapete foi muito maior do que no segundo, somente isso já justifica a diferença de preço, já que o valor de uso é semelhante.
Marx salienta que a produção de mercadoria não tem como objetivo apenas atender às necessidades humanas, mas, antes de tudo, produzir lucro ao dono dos meios de produção, os burgueses.
Como afirmamos, é o trabalho que determina o valor de troca de uma mercadoria. A partir dessa afirmação, devemos compreender qual a concepção de trabalho para Marx.
Ele afirma que, “antes de tudo, o trabalho é um processo de que participam o homem e a natureza, processo em que o ser humano com sua própria ação, impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material com a natureza. Defronta-se com a natureza como uma de suas forças. Põe em movimento as forças naturais de seu corpo, braços e pernas, cabeça e mãos, a fim de apropriar-se dos recursos da natureza, imprimindo-lhes forma útil à vida humana.
Atuando assim sobre a natureza externa e modificando-a, ao mesmo tempo modifica sua própria natureza. Desenvolve as potencialidades nela adormecida e submete ao seu domínio o jogo das forças naturais” (MARX, 1994, p. 202).
Ademais, no capitalismo esse trabalho vai se configurar de forma diferente das outras sociedades econômicas pré-capitalistas. Anteriormente, o trabalho era realizado por homens que eram proprietários dos meios de produção.
Por exemplo: um sapateiro na idade média era dono do local de produção, do couro, das ferramentas e era responsável por todas as etapas da produção do seu produto, o sapato. 
O capitalismo inaugura uma nova forma de relação entre o homem e o produto do seu trabalho, o trabalhador é despossuído de toda forma de bens, restando-lhe apenas a venda da sua força de trabalho para garantir a sua sobrevivência.
Essa força de trabalho é trocada por dinheiro, donde, podemos, com isso concluir, que o trabalho se torna uma mercadoria tendo, assim, um valor de troca.
O que quer dizer isso?
Um operário de uma fábrica não consegue mais reconhecer o seu trabalho no produto final. Além disso, o trabalhador não tem condições de se apropriar do objeto que é fruto do seu trabalho.
Esse processo que retirou do trabalhador o fruto e o reconhecimento do seu trabalho é chamado por Marx de trabalho alienado. O homem fica dominado pelo capital, então, podemos entender que o trabalhador produz a riqueza, mas não participa dela.
A partir disso, podemos afirmar que a força de trabalho converteu-se numa mercadoria. Suas utilidades não mais são organizadas de acordo com as necessidades e desejos dos que a vendem, os trabalhadores, mas antes de acordo com a necessidade de seus compradores, os donos dos meios de produção.
Como já vimos, ao operário somente restou a sua força de trabalho que ele vende como mercadoria ao burguês (donos dos meios de produção) que a compra por um determinado valor para fazê-lo trabalhar um quantum de horas, digamos oito horas por dia e cinco dias por semana.
Nesse momento, o burguês é o dono da força de trabalho dispondo da maneira que achar mais lucrativo. É justamente nessa possibilidade de dispor sobre o trabalho humano que se concretiza o que Marx chama de mais-valia. É essa prática que gera lucro para o capitalista.
Precisamos entender o que significa a mais-valia: é a diferença entre o valor produzido pela força de trabalho e o custo de sua manutenção.
Um exemplo pode tornar mais fácil de compreender esse conceito-chave para o marxismo e para entender de que forma o lucro do capitalista é a expropriação do trabalhador.
Vamos supor que um operário contratado para trabalhar oito horas por dia na fábrica de chapéu. O capitalista lhe paga um salário de 24 reais por dia, ou seja, 3,00 reais por hora, esse operário produz 200 chapéus por mês. O chapéu é vendido por 50,00 reais cada um. Podemos imaginar que esse burguês gasta com

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