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Evolução da Propridade e Direitos reais sobre coisa alheia

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UNVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI – URCA
DEPARTAMENTO DE DIREITO
OS DIREITOS REIAS SOBRE COISAS ALHEIAS, EVOLUÇÃO DA PROPRIEDADE E FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE.
ALLAN DYÓGENES DE SÁ SAMPAIO
CREUSA THAYANNE S. R. JACÓ
ISRAEL FELIPE BARBOSA NETO
ÍTALO PRUDENTE RIBEIRO
IVON LEAL DE CARVALHO JÚNIOR
MARIA CAROLINA OTONI AMORIM
CRATO – CE
2016
1 INTRODUÇÃO
É certo que a ideia de propriedade e todas as ferramentas de uso a ela agregadas (hipoteca, usucapião, penhor, titularidade, etc) são, de fato, recentes e, por vezes, originadas de forma concomitante com os conceitos de Estado e Direito. Diríamos até que estão intrinsecamente conectados: tais conceitos nascem pela necessidade do homem viver como ser social e, dessa forma, torna-se inequívoco que sua acessão no decurso da História se amoldaria à evolução da própria sociedade.
De coletivista para social, o direito de propriedade é um importante, se não um dos mais importantes, direitos uma vez que garantidor das liberdades individuais, e como sendo de caráter civilista, não poderia deixar de receber tamanha influência do Direito Romano, sendo esse a matriz do direito privado a nós outorgado.
Não obstante, assim como a derrocada do Império Romano, o caráter erga omnes e absoluto do direito de propriedade passa no momento atual por inúmeras releituras em sua aplicação, saindo do âmbito de direito concreto e individualista para transformar-se em princípio ou direito fundamental, fruto da constitucionalização com que passam as normas de institutos privados, surgindo, assim, a função social da propriedade.
Essa última é, dessa forma, a comprovação de que, mesmo em institutos marcadamente privados, como poderemos observar ao longo desse trabalho, pode haver interferência estatal de modo a garantir o bem estar coletivo em detrimento do individual, impondo-lhes limitações e novas perspectivas de concretização.
2 DIREITOS REAIS SOBRE COISA ALHEIA
Os direitos reais sobre a coisa alheia (jura in re aliena) se diferenciam dos direitos reais sobre o próprio patrimônio (jura in ré).
Os direitos sobre a coisa alheia vão se dividir em dois tipos: servidões prediais e servidões pessoais, estas surgiram por volta de 530 d.C. , enquanto àquelas surgiram em uma Roma ainda arcaica. 
2.1 SERVIDÕES PREDIAIS
As servidões prediais são ônus impostos sobre um imóvel (prédio serviente) em benefício de outro imóvel (prédio dominante). Podendo ser de dois tipos (urbanas ou rústicas) elas se caracterizam pelo fato das servidões prediais tornarem-se parte integrante do imóvel serviente, acompanhando-o mesmo quando alienado; pelo fato dos prédios serviente e dominante serem adjacentes; e as servidões prediais possuem, ainda, a característica da perpetuidade.
2.1.1 Servidões Prediais Urbanas (servitutes praediorum urbanorum)
As servidões prediais urbanas (servitutes praediorum urbanorum) são aquelas que recaíam sobre imóveis situados nas cidades e possuíam o intuito de proteger os direitos de vizinhança. Elas eram de diversos tipos ou categorias, como: servitus oneris ferendi: direito de apoiar uma construção na parede do vizinho; servitus tigni immitendi: direito de colocar vigas nas paredes do vizinho; servitus altius non tollendi: direito de impedir o vizinho de fazer construções mais altas, com prejuízo do prédio dominante; servitus prospiciendi: direito de impedir que a construção vizinha diminua a luminosidade ou a vista do imóvel dominante; servitus stillicidii velfluminis recipiendi: direito de obrigar o prédio vizinho (serviente) a receber as águas servidas que correm, ou aos poucos ou na forma de córrego; servitus cloacae: direito de exigir o escoamento de esgoto pelo terreno vizinho.
2.1.2 Servidões Prediais Rústicas
As servidões prediais rústicas são os bens imóveis situados nos campos, destinados às atividades agrícolas. Surgiram da necessidade imposta pela intensa atividade agrícola dos tempos arcaicos de Roma. As servidões rústicas eram classificadas em três tipos: Servidão de passagem (que era dividida em três subdivisões: Iter; Actus; Via): Iter: direito de transitar pelo terreno vizinho a pé, a cavalo ou de liteira; Actus: direito de transitar com animais ou rebanhos; Via: direito de transitar a pé, com animais ou com veículos pelo terreno vizinho. Servitus aquaeductus: Direito de canalizar água pela propriedade vizinha. Servitus aquae hauriendae: Direito de retirar água do terreno vizinho. Servitus arena fondiendae: Direito de retirar areia da propriedade vizinha.
2.2 SERVIDÕES PESSOAIS
As servidões pessoais eram ônus que recaiam sobre um bem imóvel ou móvel em benefício de uma pessoa. Diferentemente das servidões prediais, foram instituídas em benefício de pessoas e não de prédios ou terrenos, surgidas no período justinianeu, são elas:
Usufruto: direito real que recaía sobre uma coisa em benefício de uma pessoa (usufrutuário) conferindo-lhe direito de usar a coisa e de receber todos os frutos por ela produzidos. O proprietário da coisa serviente permanecia com o direito de aliená-la.
Uso: direito real que transferia a alguém (usuário) somente o uso de coisa alheia, e não mais seus frutos.
Habitação: à época de Justiniano, era o direito de habitar ou mesmo alugar coisa de propriedade alheia, durante determinado tempo.
Serviços de escravos e de animais: direito de utilização do trabalho de escravos e de animais pertencentes a outras pessoas. O beneficiário podia mesmo alugá-los e permanecer com seus frutos.
2.3 SUPERFÍCIE
Direito real, transmissível e alienável que atribuía a alguém (superficiario) o direito de gozo sobre um edifício construído sobre terreno alheio. Mesmo não sendo proprietário, exercia todos os direitos de propriedade, como se proprietário fosse. Quando convencionado, pagava ao proprietário do solo uma espécie de aluguel.
2.4 ENFITEUSE
Direito real, alienável e transmissível por herança, pelo qual o proprietário transferia (enfiteuta, foreiro, caseiro) o direito de cultivar um imóvel de sua propriedade durante um longo período de tempo, mediante o pagamento de uma pensão anual. Direitos e deveres dos enfiteutas:
Além desses, se pretendesse alienar, o enfiteuta deveria comunicar sua intenção ao proprietário das terras, que possuía sobre elas o direito de preferência, desde que em igualdade de preço. Se o proprietário não se interessasse, deveria autorizar sua transferência para terceiros. Se não se pronunciasse a respeito em até dois meses, a venda poderia ser feita pelo enfiteuta, mas o proprietário tinha o direto de receber de dois a cinco por cento sobre o total recebido.
3 DIREITOS REAIS DE GARANTIA SOBRE COISA ALHEIA
Eram aqueles que o credor passava a ter sobre uma coisa de propriedade de outrem para assegurar-se do recebimento de seu crédito. Podiam ser de três tipos: a alienação fiduciária, o penhor e a hipoteca.
3.1 ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA (FIDUCIA CUM CREDITORE)
Foi a forma mais antiga de garantia. O devedor, como garantia de seu débito, transferia a propriedade de um bem de sua propriedade ao credor, e este se comprometia a devolvê-la quando o devedor saldasse seu débito.
A alienação fiduciária era efetuada de forma solene, perante o magistrado, inserindo-se no contrato (pactum fiduciae) uma cláusula mediante a qual o credor se comprometia a devolver o imóvel quando da satisfação do débito. O credor passava a ter sobre a coisa um direito real e dela seria o legítimo proprietário se a dívida não fosse saldada no prazo pré-fixado.
3.2 PENHOR
O penhor (pignus datum) era a modalidade de garantia real que consistia num contrato celebrado entre o credor e o devedor, pelo qual este entregava àquele somente a posse (jus utendi) de um bem, móvel ou imóvel, como garantia do pagamento do débito - não lhe transferia a propriedade da coisa. Uma vez saldada a dívida, o bem dado em penhora (datio pignoris) deveria ser devolvido pelo credor.
Em caso de não pagamento, o credor poderia vender o bem penhorado para satisfação do seu crédito,desde que tivesse intimado por três vezes o devedor.
3.3 HIPOTECA
A hipoteca (pignus obligatum) era a modalidade de direito real de garantia que consistia numa convenção celebrada entre credor e devedor. O proprietário como que partilha, até o resgate da dívida, o direito sobre a coisa que lhe pertence, porque deixa de ter sobre elas seus direitos integrais. Assim, não pode vender a coisa. É uma espécie de penhor no qual o devedor continua na posse da coisa. O credor podia beneficiar-se com a sua venda, caso o devedor não pagasse a dívida no prazo fixado.
A hipoteca se diferenciava do penhor. No penhor, a posse do bem dado em garantia (o jus utendi) passava para as mãos do credor, trazendo sérios prejuízos ao devedor, que, despojado daquele bem, ficava muitas vezes sem meios para a própria subsistência. A hipoteca, por sua vez, não retirava a posse (o jus utendi) da coisa dada em garantia. O devedor continuava com o domínio da coisa (o jus utendi, jus fruendi e o jus abutendi), podendo, pois, trabalhar com ela e fazê-la frutificar. 
A hipoteca podia recair sobre todos os bens in commercium, ou seja, sobre todas as coisas que podiam ser objeto de negócios entre os particulares. Podiam ser bens móveis, imóveis, corpóreos ou incorpóreos, e incluía o direito de uso e o recebimento dos frutos que a coisa hipotecada porventura produzisse.
No entanto, em caso de inadimplência do devedor, o credor hipotecário passava a ter o jus distrahendi, ou seja, o direito de alienar a coisa dada em garantia para a satisfação do seu crédito. Não encontrando comprador, o credor hipotecário podia requerer ao imperador que lhe fosse atribuída a propriedade definitiva da coisa (impetratio domini). 
3.3.1 Pluralidade de Credores Hipotecários
Nada impedia que um único bem fosse gravado por divesas hipotecas. Dentre os credores hipotecários, no entanto, prevalecia o mais antigo (prior in tempore melior in jure). Tendo o primeiro credor satisfeito o seu crédito, com a venda do imóvel, o que restasse seria distribuído entre os demais credores, atendendo-se à mesma regra de precedência.
4 DIREITO DE PROPRIEDADE, SUA EVOLUÇÃO HISTORICA E SEU DESENVOLVIMENTO NA SOCIEDADE BRASILEIRA
Na antiguidade, especialmente nas civilizações romana e itálica, a propriedade era vista como um direito absoluto de alguém sobre alguma coisa especifica que poderia dela dispor com toda plenitude. A concepção da propriedade estava voltada para o interesse coletivo. Fustel de Coulanges (2006) em sua obra clássica “A Cidade Antiga”, cita:
“A ideia de propriedade privada fazia parte da própria religião. Cada família tinha seu lar e seus antepassados. Esses deuses não podiam ser adorados senão por ela, e não protegiam senão a ela; eram sua propriedade exclusiva” (Fustel de Coulanges. 2006)
Engels, na sua obra “A origem da família, da propriedade e do estado”(1982) explica que nas sociedades primitivas as relações de parentesco eram coletivas, assim como a apropriação da terra, já que todos permaneciam no mesmo núcleo familiar. Posteriormente, com a formação familiar monogâmica, o lar passou a ter um caráter privado, a propriedade foi delimitada a surgirem direitos relacionados a sucessão patrimonial.
Na antiguidade, em especifico na idade media e antiga, não existiam direitos subjetivos individuais que seriam impostos ao Estado, estando o individuo e o seu patrimônio completamente vinculado ao estado. Na sociedade romana, em contraposição a feudal, a propriedade era considerada como um direito absoluto perpétuo, oponível erga omnes e exclusivo de seu titular, o homem era proprietário absoluto da terra, já na sociedade feudal, a terra se apropriou do homem, já que os seus servos eram meros acessórios quando a terra era vendida. Com o advento do iluminismo, século XVIII, pensadores como Rousseau, Voltarie, Montesquieu e Kant, defendiam que os homens deveriam buscar sua liberdade pessoal e sua autonomia perante o estado, assegurando a propriedade privada e a garantia de que o proprietário pudesse usar e dispor livremente de seus bens. Na Europa, com a revolução industrial, surgiu o capitalismo, caracterizando-se como um sistema econômico baseado, exatamente, na propriedade privada dos meios de produção.
Uma das correntes econômicas do Iluminismo, o liberalismo, notadamente no século XVIII, fazia a distinção entre Estado, Sociedade e Individuo, materializando a liberdade através da contemplação dos direitos individuais e da abstenção do poder estatal. Contudo, foi no século XIX e XX que vislumbraram o Estado Social ou a Social Democracia, no qual o mínimo existencial deveria ser garantido por um estado intervencionista. Muitas foram as constituições que incorporaram os direitos sociais em seus textos, a exemplo da Constituição Mexicana de 1917 e da Constituição de Weimar de 1919. No Brasil, sofreu influencia a constituição de 1934. 
Na sociedade brasileira, com as constantes mudanças constitucionais, o direito de propriedade foi sendo midificado constantemente. No Brasil império, 1824, a constituição garantia o direito de propriedade em toda a sua plenitude, todavia não mencionava a sua função social. Com a promulgação da primeira constituição republicana, 1891, na sua seção reservada a declaração de direitos, além do direito de propriedade, a desapropriação por utilidade publica, em conjunto com a previa e justa indenização. Foi apenas com a constituição de 1934 que os brasileiros viram-se contemplados com a proteção constitucional aos interesses da coletividade, característica do Estado Social.
Em 1937, após o golpe de estado de Getúlio Vargas, houve uma restrição aos direitos, garantias individuais, todavia, previu o direito de propriedade e a desapropriação por necessidade ou utilidade pública, mediante indenização prévia. Diferente do que ocorrera na elaboração das cartas políticas de 1824, 1891, e 1934 – a constituição de 1946, não partiu de um anteprojeto vindo de fora, preferindo os seus responsáveis formar uma “Grande Comissão”, que adotou como texto base a constituição de 1934.
Prosseguindo na linha do tempo, a carta constitucional de 1967, promulgada em período ditatorial, apesar de ter os direitos individuais, garantiu o direito a propriedade, transformando-se em um marco ao contemplar de forma explicita a função social da propriedade no titulo reservado a ordem econômica e social.
5 O DIREITO DE PROPRIEDADE E A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988
A história da propriedade no Brasil relaciona-se com o regime das sesmarias, decorrente da implantação do sistema de capitanias hereditárias. Tal regime, que dividiu o território brasileiro em lotes doados a donatários que deveriam cultivar e usufruir da terra, bem como pagar tributos à Coroa Portuguesa, resultou em inúmeros latifúndios e a ocupação desordenada de terras no país.
Entretanto, em 1850, com a “Lei das Terras”, a posse pelo trabalho e cultivo da terra teve fim, pois que a lei estabelecia que para adquirir legalmente uma propriedade, far-se-ia necessário a compra formalmente registrada. Ademais, com a abolição da escravatura e o plantio de café, a propriedade tornou-se o principal capital do século XIX, concentrando-se nas mãos de quem, por ela, podia pagar: a burguesia.
O Código Civil Brasileiro de 1916, inspirado no Código Napoleônico de 1804, e, portanto, com caráter individualista e conservador, reforçou os direitos do proprietário, assegurando a este o direito subjetivo de usar, gozar e dispor de seus bens, bem como a prerrogativa de tutela da propriedade contra agressões injustas alheias.
Já no Código Civil de 2002, deixou de lado o caráter individualista e absoluto presente no código anterior, e prevê expressamente a funcionalização da propriedade, apesar de presumi-la plena e exclusiva até prova em contrário.
 A Constituição Federal de 1988 contemplou o direito de propriedade como direito fundamental (art. 5º, XXII), assim como a propriedade privada como princípio da ordem econômica. Do ponto de vista neoconstitucional,a Constituição é uma ordem objetiva de valores, que devem ser observados por todos. Todavia, atualmente, ela é vista como dinâmica e modelável aos anseios e aspirações da vontade nacional.
5.1 ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO, DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E UNIDADE AXIOLÓGICA DA CONSTITUIÇÃO
Para se compreender “Estado Democrático de Direito”, faz-se mister distinguir “Estado de Direito” e “Estado Democrático”. 
No Estado de Direito, tem-se a submissão de todos, inclusive do próprio Estado, à lei. Ao Estado, são impostos limites em face da proteção dos indivíduos e de suas propriedades, devendo ser garantido o pleno exercício dos direitos e liberdades humanas, respaldados pela ordem constitucional e regrados pela democracia.
Na fase liberal do Velho Estado de Direito, a lei funcionava como instrumento de controle e proteção individualista atendendo à burguesia e codificando os interesses liberais. Com o passar dos tempos, a compreensão do Estado de Direito evoluiu acompanhando o Estado Social, de forma a adquirir bases mais legítimas e maior aproximação entre Estado e sociedade, até chegar ao que se hoje entende por Estado Democrático de Direito.
Segundo Rousseau “a autorização do exercício do poder requer constante e permanente vigilância do corpo de cidadãos”. Portanto, para haver democracia é preciso tanto que o poder seja exercido pelo povo, como esse exercício seja concretizado por meio de instrumentos de democracia direta e indireta.
A República Federativa do Brasil se constitui em um Estado Democrático de Direito e possui como fundamentos a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político, conforme estabelece o artigo 1º das Constituição Federal. Acrescenta este artigo, ainda, que todo poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, instituindo o princípio democrático, transpassado pela soberania popular.
A exemplo do princípio do Estado de Direito e do princípio democrático, o princípio da dignidade da pessoa humana deve permear toda a compreensão do conteúdo constitucional, bem como do ordenamento jurídico como um todo. Assim, observam-se sempre, na interpretação e aplicação das normas, os fatores que favoreçam sua concretização, ou seja, que reconheçam a condição de igualdade entre os homens.
Cabe ao legislador, portanto, definir o conteúdo do direito de propriedade, e aos magistrados, interpretá-lo observando o Estado Democrático de Direito no qual estamos inseridos e o princípio da dignidade da pessoa humana, que pauta todo o ordenamento jurídico, tendo em mente o cumprimento da função social, já que a propriedade hoje, no Brasil, é funcionalizada.
5.2 FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 88
A propriedade tem guarida no texto constitucional, nas suas diferentes espécies – propriedade rural, urbana, industrial, direito autoral, à herança – todavia observá-la-emos no seu âmbito mais tradicional, ou seja, a propriedade privada rural e urbana.
Esse direito está garantido no Artigo 5°, e é uma garantia fundamental. Assim traz Magna Lei:
Art. 5° Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança, e à propriedade, nos termos seguintes:
(...)
XXII – é garantido o direito de propriedade;
Outrossim, o artigo 170 que trata da ordem econômica, menciona a propriedade individual, mas também cita no inciso III sua função social (contida no art. 5°, XXIII), função esta que dá novas características àquela que outrora fora direito absoluto, e seus donos poderiam utilizá-la a seu bel prazer.
Esta evolução faz jus aos fundamentos do Estado Democrático de Direito – dignidade da pessoa humana, cidadania, valores sociais do trabalho e livre iniciativa.
“A função social da propriedade apresenta-se, assim, como um instrumento para equilibrar a atividade econômica e também para sancionar o proprietário que a utiliza sem atender ao interesse social.”
5.2.1 Função Social da Propriedade Agrária
Vários institutos acerca da posse e propriedade do imóvel rural foram adotados no Brasil, mas a conceito de função social só vinculado à propriedade com o Estatuto da Terra (Lei n° 4.504, de 30 de novembro de 1964).
A função social da propriedade foi bem definida pelo teórico francês Leon Duguit ao sustentar que a propriedade não pode ser considerada como um direito absoluto, mas como um direito limitado pela função social (MIRANDA,2005). Todos têm direito a terra, e isso é assegurado na lei, porém seu proprietário deve cumprir com o compromisso de mantê-la com níveis de produção satisfatório, favorecendo o bem-estar de quem nela trabalha, preservar o meio-ambiente. Assim transcrito na lei:
Lei n° 4.504, de 30 de novembro de 1964:
Art. 12. À propriedade privada da terra cabe intrinsecamente uma função social e seu uso é condicionado ao bem-estar coletivo previsto na Constituição Federal e caracterizado na Lei.
Mas como é sabido, sempre há aqueles que podem a vir a descumprir a lei, em penalização ao possível ato, está: o Imposto Territorial Rural progressivo, que visa em cinco anos arrecadar todo o valor da propriedade, a desapropriação para fins de reforma agrária, e fica também proibido de receber incentivos governamentais. Todas essas medidas visam o cumprimento da função social, mas e quando ela é cumprida? Quando exerce os requisitos do Art. 186 da Constituição Federal.
Art. 186- A função social da propriedade é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigências estabelecidas em lei, aos seguintes requisitos:
aproveitamento racional e adequado;
utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;
observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.
Todavia as medidas de punição não são aplicáveis à pequena e média propriedade, e àquela que atenda ao Art. 186 CF.
5.2.2 A Função Social da Propriedade Urbana
Esta ideia até então desconhecida surgiu na década de 60, devido ao intenso processo de urbanização que o país passou, o qual aguçou os problemas do meio ambiente citadino.
Essa reforma visa à redução dos níveis de injustiça social no meio urbano e a democratização do planejamento e da gestão das cidades. Desde o surgimento dessa causa, passando pela elaboração da Carta Magna da república brasileira, até 2001 houveram muitos conflitos políticos, o que resultou no Estatuto da Cidade, Lei 10.257/2001, assinado pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, o qual visa garantir os direitos à moradia, democratização do espaço urbano, e principalmente fazer com que a propriedade urbana atenda às suas necessidades sociais.
O desenvolvimento dessa política foi delegado aos municípios, através do Plano Diretor, no qual se fixa as diretrizes da política urbana. A própria Constituição cita o Plano Diretor como instrumento básico ao crescimento desenvolvido do meio urbano. Assim citado:
 Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objeto ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes.
§1° - o plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana.
§2° - A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.
Ao imóvel urbano que não cumprir com sua função social, de primeira mão é feito o parcelamento, edificação ou utilização compulsórios, se mesmo assim continuar a descumprir, é imposto como punição o IPTU progressivo no tempo, se ainda com esta medida não der adevida função, o município pode se valer da desapropriação e pagamento em títulos de dívida pública, conforme o Art. 8° do Estatuto das Cidades. 
Mas ao município também é dado uma obrigação – que no prazo de cinco anos após a desapropriação, ele torne a área útil através da Zona de Especial Interesse social, espaços públicos ou área de preservação ambiental.
6 CONCLUSÃO
O ordenamento jurídico do século XXI passa por uma importante releitura de suas normas: a constitucionalização do direito, ou seja, uma interpretação de todo o sistema infraconstitucional à luz da Lei Fundamental, que é a Constituição Federal. Esse fenômeno distancia cada vez mais a dicotomia entre direito público e privado, trazendo os princípios do campo de abstração e mera observância para o campo da normatização concreta e imediata.
Ao observarmos o decurso dos institutos e diplomas legais de caráter civilista ao longo do tempo, podemos observar que eles vêm adquirindo inúmeras formas de cerceamento de acordo com o modo com que o Direito e o Estado se posicionam: em um período coletivista, cuja figura do Estado ainda não se fez presente, não há a presença do direito de propriedade; nas primeiras nuances de organização social, além do direito de propriedade, surgem os institutos que a regulam, adquirindo, a partir de então, inúmeras concepções, mas sempre aliado à ideia de liberdade individual frente à interferência estatal.
Com as transformações sociais decorrentes, esse direito, germinalmente, absoluto e erga omnes adquire limites que convergem com os princípios dirigentes da sociedade contidos na Constituição Federal, cuja natureza é precipuamente vanguardista do bem coletivo em detrimento do direito estritamente individual.
Dessa forma, é seguro afirmar que a existência da garantia tanto do direito de propriedade como de seus limites, no caso de sua função social, estabelecem harmonia entre o social e o individual, ansiando, sempre em estabelecer entre ambos um equilíbrio que não fira o direito de liberdade individual, no caso da bem disposição do bem, nem dê margem ao conflito do individual sobrepondo-se ao coletivo.
REFERÊNCIAS
ROLIM, Luiz Antônio. Instituições de direito romano. 2. Ed. rev. - São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003.
BRAGA, Roberta Chaves. Direito de propriedade e a constituição federal de 1988. Fortaleza, 2009. Disponível em: http://bdjur.tjce.jus.br/jspui/bitstream/123456789/229/1/Monografia%20Roberta%20Chaves%20Braga.pdf.

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