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02 LIVRO SOCIOLOGIA JURÍDICA

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SOCIOLOGIA JURÍDICA
Ijuí
2012
SOCIOLOGIA JURÍDICA
Coleção Direito, Política e Cidadania, 25
Enio Waldir da Silva
 2012, Editora Unijuí
 Rua do Comércio, 1364
 98700-000 – Ijuí – RS – Brasil –
 Fone: (0__55) 3332-0217
 Fax: (0__55) 3332-0216
 E-mail: editora@unijui.edu.br
 Http://www.editoraunijui.com.br
 www.twitter.com/editora_unijui
Editor: Gilmar Antonio Bedin
Editor-Adjunto: Joel Corso
Capa: Elias Ricardo Schüssler
Responsabilidade Editorial, Gráfica e Administrativa: 
Editora Unijuí da Universidade Regional do Noroeste 
do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí; Ijuí, RS, Brasil)
Catalogação na Publicação: 
Biblioteca Universitária Mario Osorio Marques – Unijuí
S586s Silva, Enio Waldir da.
Sociologia jurídica / Enio Waldir da Silva. – Ijuí : Ed. 
Unijuí, 2012. – 304 p. – (Coleção direito, política e cidada-
nia ; 35).
ISBN 978-85-7429-987-7
1. Sociologia. 2. Ciências sociais. 3. Direito. 4. Cidadania. 
I. Título. II. Série.
 CDU : 301
 301:34
Associação Brasileira 
das Editoras Universitárias
Editora Unijuí afiliada:
A Coleção Direito, Política e Cidadania é uma iniciativa editorial do De-
partamento de Estudos Jurídicos da Unijuí e da Editora Unijuí, voltada 
à publicação de textos que privilegiam a pesquisa jurídica interdiscipli-
nar e a reflexão crítica sobre o direito e suas relações com as diversas 
ciências humanas e sociais. O objetivo da Coleção é disponibilizar, aos 
leitores interessados, um conjunto de publicações que contribuam para 
qualificar o debate sobre os principais temas da área e que auxiliem no 
desenvolvimento da cidadania.
Conselho editorial
Dr. José Eduardo Faria (USP – SP)
Dr. Darcísio Corrêa (Unijuí – RS)
Dr. Gilmar A. Bedin (Unijuí – RS) 
Dr. Luiz Ernani Bonesso de Araújo (UFSM – RS)
Dra. Odete Maria de Oliveira (UFSC – SC)
Dr. Sergio Augustin (UCS – RS)
Dra. Claudia Rosane Roesler (Univali e Cesusc – SC)
Dr. Leonel Severo Rocha (Unisinos – RS)
Dr. Arno Dal Ri Júnior (Fondazione Cassamarca de Treviso – Itália)
Dr. José L. Bolzan de Morais (Unisinos – RS)
Dra. Silvana Winckler (Unochapecó – SC)
Dr. Otávio C. Fischer (Universidade Tuiti do Paraná e Unicemp – PR)
Dr. Celso L. Ludwig (UFPR-PR)
Dra. Maria Claudia Crespo Brauner (UCS – RS)
Dra. Raquel Fabiana Lopes Sparemberger (UCS-RS)
Dra. Sandra Regina Leal (Faplan – RS)
Dra. Sandra Regina Martini Vial (Unisc – Unisinos)
Comitê editorial
Dr. Doglas Cesar Lucas
Msc. Fabiana Padoin
Msc. Patricia Borges Moura
Msc. Sérgio Luiz Leal Rodrigues
SUmáRIO
APRESENTAÇÃO ..................................................................................9
INTRODUÇÃO: Sociologia e a Sociologia Jurídica ...........................15
CAPÍTULO 1
AFIRMAÇÃO E ESTRUTURAÇÃO DA CULTURA JURÍDICA ..29
 Trabalho e Sociedade .......................................................................31
 Pensamento Social ...........................................................................39
CAPÍTULO 2
A MODERNIDADE – A JUDICIALIZAÇÃO 
DAS RELAÇÕES SOCIAIS .................................................................51
 Razão Positivista e Sistema Social ..................................................65
 A Direito Funcionalista e Moral Social .........................................72
 Direito, Racionalidade e Legitimidade .........................................89
CAPÍTULO 3
RAZÃO CRÍTICA, DIREITO E LIBERDADE ............................101
 A Revolução Social e a Ordem Justa ............................................103
 Direito como Concretização dos Entendimentos Coletivos .......115
 Direito e o Pensamento Alternativo .............................................132
CAPÍTULO 4 ......................................................................................155
TEMAS DE SOCIOLOGIA JURÍDICA ATUAL ...........................155
 O Direito como Sistema Autopoiético ..........................................160
 Direitos Culturais ...........................................................................194
 Direito e Movimentos Sociais .......................................................216
 Direito, Conflitualidade e Violência .............................................237
 Direito, Mídia e Tecnologia na Sociedade Global .......................271
REFERÊNCIAS ..................................................................................281
 Saiba Mais .......................................................................................294
 Textos de Boaventura de Sousa Santos: .......................................302
 Títulos das Obras no Google. <www.google.br> .........................303
APRESENTAÇÃO
A Sociologia Jurídica tem uma história nos cursos de Graduação 
em Direito e Sociologia da Unijuí. Por meio dela procuramos pensar o 
Direito para além da “teoria pura”, no sentido de que a norma jurídica 
não pode ser tratada de forma isolada ou separada dos contextos sociais 
que lhe dão origem e fundamento. São os homens, como seres sociais 
concretos, que produzem as estruturas jurídicas de regulação da vida 
social, considerando os interesses e os lugares que efetivamente ocupam 
na sociedade.
A sociedade humana pode ser definida de várias formas; todas elas, 
no entanto, partem da totalidade como princípio geral. O Direito, assim 
como a economia, a política, a cultura, é parte que só adquire significado 
(ou concreticidade) quando devidamente inserido na totalidade. Não 
significa que a parte não seja também um “sujeito” que produz a vida 
social. Compreender a especificidade das estruturas jurídicas na produção 
da vida social é a tarefa da Sociologia Jurídica.
A história da Sociologia é um campo de intensa luta social. A 
multiplicidade de leituras (possíveis) da sociedade produz sujeitos 
portadores de diferentes projetos de sociedade. Isto ocorre em todos os 
campos específicos da Sociologia. Isso, contudo ,isto é mais evidente 
nas chamadas teorias clássicas da Sociologia – Comte/Durkheim, Marx e 
Engels e Weber. Cada uma expressa uma leitura diferente da sociedade, 
10
S u i m a r J o ã o B r e s s a n
com repercussão no mundo da política. Pode-se afirmar que os grandes 
confrontos sociais nos séculos 19 e 20 tiveram a inspiração nas teorias 
sociológicas citadas.
Esta breve introdução é necessária para contextualizar o livro do 
professor Enio Waldir da Silva. Trata-se de uma obra de cunho didático, 
que servirá de base para o componente curricular de Sociologia Jurídica 
dos cursos de Graduação da Unijuí. Uma obra didática sempre se cons-
trói com uma linguagem mais acessível, considerando que os leitores 
(alunos) não são ainda especialistas nas temáticas desenvolvidas. Ela não 
pode, contudo, perder o rigor teórico, sob pena de não contribuir para o 
processo de produção de conhecimento.
O livro Sociologia Jurídica está estruturado em quatro capítulos. 
O primeiro – Afirmação e Estruturação da Cultura Jurídica – discute as 
questões gerais e introdutórias da temática do livro: a relação ente socie-
dade e Direito. A recuperação de momentos importantes da História da 
humanidade a partir de categorias sociológicas básicas, como trabalho, 
classe social e Estado, torna possível a visualização da função social do 
Direito e, ao mesmo tempo, evidenciar sua historicidade. As estruturas 
jurídicas mudam com a mudança do seu substrato social, e esta é uma 
tese fundamental da Sociologia Jurídica.
O segundo capítulo – A Modernidade – Judicialização das Relações 
Sociais – reconstrói os processos teóricos e sociais de constituição das 
relações jurídicas a partir das relações sociais. Tendo como pano de 
fundo o processo de constituição da Sociologia, avalia a própria relação 
entre Direito e sociedade que se constituicomo campo específico de 
investigação. Destacam-se Comte e Durkheim como fundadores de 
uma corrente importante do pensamento sociológico: o positivismo. 
Reafirma-se a grande e valiosa contribuição de Durkheim para o enten-
dimento do Direito como fato social. O autor da Divisão do Trabalho 
Social demonstra que a fonte do Direito está na sociedade mediante a 
11
Apresentação
construção relacional dos conceitos de solidariedade mecânica e Direito 
Penal e solidariedade orgânica e Direito Restitutivo. Formas diferentes 
de sociabilidade produzem formas diferentes de Direito.
Outro autor analisado neste capítulo é Max Weber. Suas reflexões 
instigantes a partir do conceito de racionalização do mundo ocidental 
são fundamentais para a formação da Sociologia Jurídica. Weber aborda a 
economia, a política, a cultura e o Direito como tipos de relações sociais 
que tendem a ser envolvidas pelo processo de racionalização. Esta é a 
grande transformação do mundo ocidental que Weber designou como 
“desencantamento do mundo”. O Direito moderno afirma-se como um 
tipo de ação social racional com relação afins. A dimensão substantiva 
tende a ser dominada pela dimensão lógico-formal.
Durkheim e Weber contribuem de forma decisiva para que o 
Direito se torne uma das práticas fundamentais de legitimação da or-
dem social moderna. Durkheim percebe o poder do direito de produzir 
solidariedade (ou integração social), identificado por ele como o processo 
constituinte do homem como ser social. Na modernidade o problema 
da integração social desloca-se da manutenção das semelhanças para 
o desenvolvimento das diferenças geradas pela divisão do trabalho. 
A situação de anomia que vive o mundo moderno será superada pelo 
desenvolvimento pleno do Direito Restitutivo. A leitura de Weber dos 
problemas da modernidade não é contraditória à de Durkheim, na medida 
em que entende o Direito como a ação humana que articula a dominação 
legal racional. O “império da lei” é a grande força coatora que integra os 
homens e consensualiza seus interesses.
O terceiro capítulo – razão crítica, direito e liberdade – expõe a 
formação do pensamento social crítico, teoricamente elaborado por Karl 
Marx e Friedrich Engels. O materialismo histórico assentou as bases para 
pensar criticamente o capitalismo e o papel do direito na sua reprodução, 
ou seja, o direito como a forma jurídica da dominação de classe. Como o 
próprio Marx afirmou na XI Tese sobre Feuerbach que “os filósofos nada 
mais fizeram do que interpretar de diverso modo o mundo; mas trata-se, 
12
S u i m a r J o ã o B r e s s a n
antes, de transformá-lo”, a sua teoria é também um apelo à transformação 
radical da sociedade, sustentando que o capitalismo gerou os sujeitos da 
sua própria destruição: os trabalhadores assalariados.
O capítulo também aborda outros autores de pensamento crítico, 
notadamente Jürgen Habermas e Boaventura de Sousa Santos. Para o 
primeiro, a emancipação humana está ligada ao desenvolvimento das 
ações comunicativas, ressaltando o papel do Direito na concretização do 
entendimento coletivo, produzido na esfera pública e pelos processos 
democráticos. Importante também é a contribuição do eminente soció-
logo português Boaventura de Sousa Santos, negando a possibilidade de 
emancipação humana sob o capitalismo. A sua reflexão resgata a ideia 
do pluralismo jurídico, enfatizando os direitos humanos, a partir de uma 
perspectiva multicultural, como elemento fundamental para a conquista 
da autonomia dos homens.
O quarto capítulo – Temas da Sociologia Jurídica Atual – propõe uma 
atualização do debate sobre a relação Direito e sociedade. Um aspecto 
relevante refere-se à capacidade explicativa das teorias sociológicas 
clássicas, considerando que a sociedade vive um momento de grandes 
transformações. Em certa medida as duas dimensões fundamentais do 
capitalismo atual - global e informacional – foram genericamente detecta-
das pelas teorias clássicas. Muitos autores entendem que os fundamentos 
da sociedade não mudaram, apenas adquiriram novas configurações, 
determinando, assim, a atualidade dos clássicos.
O esforço da teoria sociológica é compreender as novas dimensões 
da vida social, como as novas formas de exclusão social, de violência e 
criminalidade, a sociedade do risco, a comunicação. Por exemplo, o de-
semprego sempre foi estrutural, porém a sua forma atual parece eviden-
ciar que a busca do pleno emprego é uma ilusão. Mesmo com elevados 
índices de crescimento econômico, o desemprego mantém-se alto. É 
claro que se criaram novas condições de empregabilidade, determinadas 
13
Apresentação
pela dimensão informacional – tecnologias inteligentes – dos processos 
sociais, mas também de exclusão. Como isso impacta na ordem jurídica 
é uma pergunta recorrente na Sociologia Jurídica.
Uma resposta significativa tem sido elaborada por inúmeros soció-
logos: as transformações sociais causadoras da reestruturação produtiva, 
da globalização dos mercados, da crise do Estado-Nação e da crise da 
identidade nacional provocam uma crise profunda no paradigma forma-
lista do Direito. O Direito Positivo (estatal) e as instituições judiciais 
da modernidade estão em desacordo com as novas relações sociais, por 
isso não conseguem mais ser um instrumento de regulação dos conflitos. 
As soluções não convencionais ampliam a crise do Direito Positivo e o 
impasse se aprofunda.
É neste contexto que surgem autores que questionam a moderni-
dade em seus fundamentos, como é o caso de Niklas Luhmann e Alain 
Touraine. Este sociólogo francês, com importante presença no estudo 
dos movimentos sociais na América Latina, abandonou o paradigma da 
modernidade, definido a partir da dimensão social. Em seu entendi-
mento, estamos vivenciando o “fim do social e todos os fenômenos de 
decomposição social e de dessocialização”; um novo paradigma está em 
construção, centrado no sujeito e nos direitos culturais.
Niklas Luhmann é mais radical: a partir da teoria dos sistemas au-
topoiéticos – a sociedade seria um deles – critica o conceito de sociedade 
como uma estrutura sistêmica de órgãos e funções interdependentes tal 
como os funcionalistas a definiram. Nesse sentido, o Direito seria um sis-
tema autopoiético, autorreferente e operacionalmente fechado, tal como 
a economia, a política, a ciência, a educação e a cultura. Cada sistema 
autopoiético opera com o seu próprio código, portanto não depende do 
outro para sua existência. As sociedades mais desenvolvidas já teriam 
alcançado uma diferenciação funcional, de tal modo que os sistemas, 
que antes as compunham de forma integrada e interdependente, agora 
são autônomos ou (autopoiéticos).
14
S u i m a r J o ã o B r e s s a n
Outra dimensão fundamental para compreender o Direito é a sua 
relação com as mídias e as tecnologias inteligentes. Qual o papel dos 
meios de comunicação de massa na sociedade atual? E sobre as institui-
ções judiciais? Seguramente não podemos considerá-los apenas como 
meios de divulgação de informações. Mais do que isso, tem-se constatado 
que se trata de uma nova instituição, em que as dimensões econômica, 
política e cultural se fundem, constituindo um novo sujeito. Este novo 
sujeito tem poder de articulação do conjunto do sistema econômico (ele 
mesmo é um ator econômico), de formulação da agenda política e de 
formação da opinião pública. Não há dúvida, portanto, que este poderoso 
sujeito interfere nas instituições judiciais.
Percebe-se que o debate – que faz parte da história da Sociologia 
– se intensificou. Por isso, a Sociologia é um campo do conhecimento 
científico indispensável para a compreensão da vida social, sua estrutu-
ração, seus movimentos e possibilidades de transformação. Por extensão,a compreensão da normatividade jurídica atual não se esgota com o de-
senvolvimento e institucionalização da ciência do Direito; a Sociologia 
Jurídica é o contraponto crítico fundamental, pois – vale insistir – não há 
Direito sem sociedade ou onde há sociedade também há Direito.
É para ajudar a desbravar nosso mundo humano, contraditório e 
cheio de armadilhas que este livro foi escrito: ele nos instiga a construir 
caminhos.
Suimar João Bressan
Professor de Sociologia e Ciência Política – DCJS – Unijuí
INTRODUÇÃO: 
Sociologia e a 
Sociologia Jurídica
Estudar a sociedade, sociabilidades e as relações sociais tornou-se 
uma determinação ética de quem está estudando na universidade e para 
quem está buscando a fortificação de sua cidadania, o rigor da cultura 
jurídica e posturas racionais mais coerentes. Torna-se ainda mais impres-
cindível aos indivíduos que buscam ocupar lugares sociais nos quais se 
condensam interesses coletivos. 
Quem nos fornece as melhores abordagens metodológicas e te-
óricas para este estudo é a Sociologia. Como uma das Ciências Sociais 
emergentes nos tempos modernos, a Sociologia criou sua autonomia ao 
fundamentar sua abordagem em metodologia clara, em construir con-
ceitos específicos, em fazer demonstrações de suas descobertas e em 
criar teorias sociais. Estas descobertas, fundamentadas no rigor reflexivo, 
auxiliaram na criação de muitas instituições sociais e assessoram muitos 
procedimentos de indivíduos que procuram atender os interesses das 
populações, pois além de estudar e sistematizar estes interesses (organizá-
los e expressá-los) a Sociologia também orientou ações de grupos que 
buscavam autonomia e direitos sociais. Dificilmente estudantes e pesqui-
sadores da Sociologia deixaram de se tornar militantes de causas sociais, 
pois não se contentam em entender as causas dos problemas humanos e 
16
E n i o W a l d i r d a S i l v a
não contribuir para a solução deles. Dados de estudos epistemológicos 
mostram que quem procura estudar a Sociologia são indivíduos preocu-
pados com a situação das vivências sociais (suas e as dos outros) e que 
estão procurando um mundo mais justo. Podemos afirmar, então, que a 
Sociologia se tornou a ciência das populações e das instituições e foi criada 
justamente com a perspectiva de resolver seus problemas.
Além disso, a criação da Sociologia possibilitou a afirmação do 
caráter social da condição humana, constituiu-se em um conhecimento 
da sociedade que incide sobre ela, exercendo uma ação decisiva na 
produção e reprodução da sociedade, no sentido da conservação ou da 
transformação das relações sociais. É, também, um ato social porque seus 
conceitos não são apropriados apenas pelo sociólogo, mas por todos os 
sujeitos intérpretes dos problemas humanos. A institucionalização da 
Sociologia permitiu a pesquisa de temáticas diversas, estabelecendo vá-
rias especialidades, compondo o que hoje denominamos como Ciências 
Sociais particulares ou campos teóricos: rural, urbana, trabalho, direito, 
religião, cultura, política, economia, a natureza, a história, a comunica-
ção, a assistência social, etc. Mesmo que cada ciência tenha um campo 
particular, elas possuem uma identidade e um fundamento comuns: a 
existência social do homem. Como Ciências Sociais precisam enfrentar 
os mesmos problemas metodológicos que caracterizaram a história da 
Sociologia (Bressan, 2003).
Trataremos mais tarde dos fenômenos que influenciaram na ori-
gem da Sociologia, mas é importante destacar aqui que ela vai nascer 
como um reflexo dos problemas sociais resultantes do processo de con-
solidação da modernidade, expresso em três transformações: 
1 – A generalização do processo de produção de mercadorias (Revolução 
Industrial);
2 – A formação do Estado moderno (Revolução Francesa de 1789);
3 – Da nova cultura a partir dos valores da liberdade, da racionalidade e 
da ciência (Idealismo Alemão).
17
Introdução
Nestes contextos os iniciantes da Sociologia poderiam ser assim 
destacados: Charles de Montesquieu (1689-1755), Auguste Comte 
(1796-1857), Karl Marx (1818-1883), Émile Durkheim (1858-1917) e 
MaxWeber (1864-1920), embora não possamos negligenciar estudos 
realizados por outros pensadores sociais da época, como Charles de 
Montesquieu (1689-1755), Friedrich Engels (1820-1895), Saint-Simon 
(1760-1825), Stuart Mill (1806-1873), Condorcet, Herbert Spencer 
(1820-1903) e Wilfredo Pareto, Harriet Maritineau (1802-1876), Ernest 
Mach (1834-1916), Wilhelm Dilthey (1833-1911), etc., que enunciaram 
os temas básicos da Sociologia, sua metodologia, e os detalharam de 
forma ampla na aplicação do entendimento das mudanças abrangentes 
que ocorreram nas sociedades humanas, nos modos de construir ma-
terialmente as sociedades ocidentais, na forma de sua organização, na 
maneira de pensá-las e nas mudanças nas vidas das pessoas no decorrer 
dos últimos três séculos.
Neste sentido, devido à complexidade dos interesses que movem 
os sujeitos ao estudo da Sociologia, faz-se necessário destacar os seus 
possíveis conceitos. Um dos conceitos mais aceitos de Sociologia é de 
que ela se constitui em uma ciência que estuda as relações sociais, entretanto 
não há um consenso quanto a seu conceito. Silva (2008a) recolheu as 
seguintes possíveis definições:
– A Sociologia é uma ciência que estuda as relações sociais que são, ao 
mesmo tempo, produtos e produtoras da sociedade; 
– ... é um conjunto de conceitos, de métodos e de técnicas de investiga-
ção produzidos para explicar os elementos potencializadores da vida 
social;
– ... é um estudo sistemático da realidade social do homem... 
– ... é o estudo das mediações produtoras dos potenciais das práticas; 
– ... é uma construção teórica, resultado do esforço de compreender a 
sociedade em sua realidade objetiva e subjetiva; 
18
E n i o W a l d i r d a S i l v a
– ... é o estudo das formas de como o homem passa de um resultado 
da estrutura estruturada para uma estrutura estruturante, ou seja, o 
estudo das condições que produzem os lugares sociais ocupados pelo 
homem;
– ... é o estudo de como o homem entende a sociedade, como ele a aceita, 
a legitima ou a transforma;
– ... é o estudo que pode levar o homem a ser livre por entender o seu 
lugar no processo histórico;
– ... é o estudo da própria vontade do homem em conhecer-se e a conhe-
cer sua sociedade;
– ... é o estudo das razões que impulsionam o mundo prático e dos re-
sultados destas...
Apesar destas definições, é mais fácil compreender a Sociologia 
pelos objetivos pelos quais a ela se recorre: procurar potenciais reflexi-
vos capazes de alargar a compreensão dos processos humanos e adquirir 
uma base de conhecimentos que leve a entendimentos das forças que 
compelem o homem ao controle destas forças, dando-lhes significados 
e orientando-as para a construção da vida individual e coletiva, justa e 
solidária. Estas forças, como observa Norbert Elias (1970), são forças 
sociais exercidas pelas pessoas sobre outras pessoas e sobre elas mesmas 
(aquilo que liga uma pessoa a outra...). Geralmente, as explicações sobre 
estas forças têm por base as representações que se formam sobre elas. 
Isso faz com que o próprio pensador não se exclua daquilo que está pen-
sando. Além de interpretar as forças que agem sobre as pessoas, nos seus 
grupos e sociedades empiricamente observáveis, também interpreta os 
discursos e pensamentos relativos a estas forças e assim vai produzindo 
seus próprios conceitos mais adequados ao entendimento das vivências 
humanas. 
É isto que queremos mostrar: a Sociologia é uma ciência dedicada 
a compreender as interações, as ligações ou as teias que conectam os 
indivíduos entre si, os indivíduos aos grupos, os grupos entre si e estes 
19
Introduçãocom a sociedade como um todo. Esta rede produz potenciais orientadores 
de sociabilidades e identifica as sociedades. Assim, o todo está na parte 
e a parte está no todo, ou seja, os indivíduos são produtos e produtores 
da sociedade, os Outros estão contidos no Eu (o eu é multideterminado 
– pela família, natureza, cultura...), como indica o esquema a seguir.
©Anthropos Consulting 9
HUMANIDADE DA 
VIDA
ETHOS
CULTURADEMENS
SAPIENS
A figura anterior mostra algumas das mais importantes implicações 
deste conceito de que a Sociologia aborda as relações sociais: este objeto 
específico é importante de ser compreendido mais cientificamente. 
Quer dizer: quando nascemos já existia a sociedade. Fomos preparados 
para entrar para ela. Posteriormente agimos de acordo com a estrutura 
estruturada. A família é o ponto de partida de nossa socialização. É ali 
que começamos nossas relações sociais, criamos os laços sociais mais 
profundos de nossa existência. Por isso muitas justificativas de nossas 
ações e entendimentos podem ser encontramos na nossa trajetória fami-
liar. A estrutura de nossa personalidade, as potências afetivas de nossa 
vida, a valorização do outro, o respeito ao trabalho e a ordem social, etc., 
encontram-se na família, pois são produto e produtora da sociedade. Já a 
escola é onde aprendemos nossas potencialidades simbólicas e culturais 
e adquirimos capacidade para o controle objetivo do mundo expresso 
Natureza 
Os Outros
Mídias
Trabalho
Religião
Escola
Família
20
E n i o W a l d i r d a S i l v a
na escrita. Ali, os elementos racionais e universais da existência huma-
na tomam novo sentido e somos pugnados para o social, o coletivo, a 
ordem social, a autoridade e a força da ciência... Estes dois espaços são 
fundamentais para entendermos as formas de ligações entres as pessoas, 
as redes que os conectam entre si e ao mundo social e assim seguem 
os estudos da Sociologia buscando compreender empiricamente a im-
plicações da cultura, da economia, da natureza, da mídia, do Estado, da 
religião na constituição da dimensão social dos indivíduos.
Estes estudos foram se ampliando cada vez mais ao longo do tem-
po. A preocupação com o conhecimento científico surge no momento 
em que se percebe que o homem é um ser social que não se basta a si 
mesmo e que possui uma relação de dependência e complementaridade 
com a natureza, com os outros homens e com os esforços em ampliar 
seu entendimento do mundo que o envolve (ciência – pensamento 
sistematizado). O ser humano se distingue das demais espécies porque 
nem tudo o que ele faz surge de sua estrutura genética, nem se desen-
volve automaticamente em sua relação com a natureza, mas necessita 
de aprendizado de uma série de atividades fundamentais para sua 
sobrevivência e reprodução. A construção desse aprendizado se faz por 
meio da relação com outros seres humanos. A partir dessa relação ele 
começa a instituir a sociedade como sua forma de existência. Ele passa 
a entender que sua vida e seu aprendizado se constroem na relação e é 
essa relação que se transforma em experiência vivida e é transmitida às 
gerações posteriores.
Essas experiências construídas, refletidas e simbolizadas, coleti-
vamente, fornecem ao ser humano a capacidade de entender a natureza, 
compreender a si mesmo e construir sua história. Essa capacidade de 
buscar o significado das coisas que o cercam fez o ser humano produzir 
cultura e elaborar as próprias ciências, uma delas a Sociologia. Alguns 
pesquisadores dizem que a humanidade triunfou diante dos outros ani-
mais devido à mobilidade da força de sua inteligência capaz de modificar 
o ambiente natural e criar outro ambiente adequado a sua existência, 
21
Introdução
concretizado em vilas, aldeias e cidades. Foi quando agiu em grupos e 
com atividades solidárias que notamos as mais grandiosas realizações. 
Quando concorreu entre si vemos os desastres, as guerras e a violência 
destrutivas.
Inteligentemente o ser humano aperfeiçoou seu modo de viver 
em grupo, criando normas, regras e regulamentos que permitiram inte-
rações mais intensas. Inicialmente suas ações eram determinadas pelo 
instinto de vida. O encontro com outros diferentes provocou ações mais 
planejadas e combinadas.
A organização humana em sociedades, a capacidade de interven-
ção do homem na natureza aumentaram. Suas criações são chamadas de 
culturas e estas foram aos poucos se separando das atividades práticas e 
ao mesmo tempo possibilitando orientações de ações.
Nossas escolhas, nossas ações são orientadas pelo lugar que ocupa-
mos na estrutura social. Quando entendemos como se forma esta estrutura 
e como fomos preparados para viver dentro dela mais podemos orientar de 
modo criativo nossas ações e mais liberdade teremos. Assim, a Sociologia 
é uma ciência da liberdade, pois permite que se crie uma vida coletiva 
de modo regulado estruturado e sempre em aperfeiçoamento.
Nos últimos tempos tem crescido o interesse em entender a 
densidade das relações sociais que estão produzindo conflitualidades 
para além dos sistemas de controle existentes. É a este assunto que 
vamos nos dedicar daqui para a frente, denominado de Sociologia Jurí-
dica, reconstruindo os elementos que tornaram o Direito uma ciência 
e uma prática da sociedade, as crises e as críticas a ele dedicada e por 
último nos dedicaremos a mostrar as pesquisas atuais da Sociologia que 
ajudam a entender os processos regulatórios e emancipatórios presentes 
na sociedade.
As pesquisas sociológicas procuram explicar os problemas sociais 
e apontar soluções para eles. Grande parte destes problemas refletem 
no Direito e, muitas vezes, este, o Direito, se torna parte dos problemas. 
22
E n i o W a l d i r d a S i l v a
Ou seja, a Sociologia Jurídica aponta a realidades sociais que envolvem 
o Direito, as normas, as leis e as estruturas jurídicas; estuda as crenças e 
descrenças dos grupos na validade do Direito e mostra como este orienta 
as condutas humanas.
Podemos dizer inicialmente que a Sociologia Jurídica faz a tradu-
ção da relação que existe entre a ação e a estrutura social, entre liberdade 
e regulação social.Os aspectos regulatórios e emancipatórios da socieda-
de, que a Sociologia Jurídica estuda são todos aqueles elementos cujas 
funções são assegurar o controle social: Estado, Judiciário, Ministério 
Público, polícia, exército, prisões, burocracia, lei e instituições (criadas 
para um setor: ex. meio ambiente, comércio internacional, estatutos de 
profissões, remédios, energias)... Aspectos emancipatórios são as ações 
de indivíduos em seus mais variados aspectos, a cultura, o esporte, a 
arte, a ciência, etc... então a Sociologia Jurídica estuda as relações entre 
indivíduos e as leis, a sociedade e o Direito, a liberdade e obediência 
às leis.
No caso específico da Sociologia Jurídica, o que interessa aqui é 
contribuir para entender o Direito como um dos fatos sociais mais perti-
nentes da atualidade histórica, constituído de elementos – forças capazes 
de constituir a sociedade, consolidar convivências humanas e organizar 
o todo social, tarefas de todo cidadão. Ou melhor, se não soubermos 
como funciona o poder e quem o detém, dificilmente conseguiremos 
propor mudanças e atuarmos na construção de uma sociedade mais jus-
ta. A cidadania é a expressão do nosso compromisso, do nosso dever em 
participar da organização da sociedade em que vivemos, e o direito de 
usufruir dos resultados da participação nas ações coletivas. Só podemos 
ser livres se desatarmos as amarras do poder hegemônico que negamos, 
mas para tanto é preciso saber que sociedade queremos. 
A sociedade é resultado do complexo de relações sociais em forma 
de teias, de redes ou nexos, as instituições, os indivíduos, acultura, os 
comportamentos, as normas e os valores compartilhados.
23
Introdução
Foram os sociólogos que distinguiram mais amplamente o conceito 
de sociedade desta compreensão de que ela era um nome coletivo para 
muitos indivíduos. Eles entendiam que a sociedade tem uma identi-
dade que lhe é característica e que transcende os indivíduos que a ela 
pertencem. Trata-se de uma coletividade organizada que se mantém por 
vínculos cooperativos para garantir a sobrevivência, para perpetuar-se, 
partilhando uma cultura sob as orientações de estruturas institucionais. 
Como é possível perceber, todas as definições apresentadas são amplas 
e geraram muita controversa (Silva, 2008a).
Em uma formação social, os grupos, os setores ou as classes estabe-
lecem relações de força. Os vencedores asseguram para si instrumentos 
que permitem controlar o poder/espaço por um determinado tempo, a 
ponto de impedir os resistentes de vencê-los. A hegemonia do grupo 
vencedor está em fazer valer a sua vontade como se fosse de todos e 
de garantir instrumentos de manutenção, ou seja, pode até existir a 
contestação, a discordância, mas estes são obrigados à conivência com 
quem detém a força. Ou seja, somos levados a entrar para uma socieda-
de pelos mecanismos de socialização existentes e só com muito esforço 
reflexivo conseguiremos entender as forças que nos compelem à ação, 
às formas de pensar.
Nenhuma sociedade funciona sem que o comportamento da 
maior parte das pessoas possa ser prevista ou controlada, uma vez que os 
indivíduos não são autossuficientes. O ser humano interioriza as normas 
moldadas pelos grupos existentes anteriormente e depois exterioriza-as 
em suas ações e pensamentos. A coerência entre interiorização e ex-
teriorização vai depender dos processos de socialização instalados na 
sociedade capazes de fazer a coerção e a coação para que os indivíduos 
aprendam ao longo do tempo os comportamentos aceitos e quais os que 
seriam reprovados. Estas diferenças se concretizam nos papéis sociais 
(funções) assumidos.
24
E n i o W a l d i r d a S i l v a
Quando as pessoas seguem aquilo que lhes foi ensinado aprovar 
diz-se que temos a ordem social. A disciplina de uma sociedade repousa 
na rede de papéis de acordo com a qual cada pessoa aceita certos deveres 
em relação aos demais e exige, por sua vez, certos direitos. Quanto mais 
se motiva condutas recíprocas de indivíduos, quanto mais se fizer com 
que eles se abstenham de certos atos que, por alguma razão, são consi-
derados nocivos à sociedade, e se fizer com que executem outros que, 
por alguma razão são considerados úteis à sociedade, mais civilizados 
somos e mais ordem teremos (Kelsen, 2005).
É neste processo que a Sociologia entende que entra o Direito, pois 
é nele que se percebe as relações sociais constituidoras da sociedade. No 
Direito, há sempre referências às relações sociais que se desenvolvem 
em sociedade, e da mesma forma, onde existem relações sociais pode 
ser encontrado o Direito. Em cada momento, em cada povo o Direito 
determina o modo de ser da sociedade, o perfil da estrutura básica é 
resultado da ação do Direito, que exerce a função do controle social e 
é condicionado pelas crenças religiosas, pelas convicções éticas, pelas 
ideologias, os costumes, os interesses econômicos, políticos, culturais, 
os avanços técnicos e científicos, etc. (Dias, 2009, p. 22).
Ao pesquisar empiricamente as ações características de grupos 
sociais, a Sociologia foi consolidando métodos que contribuíram para 
que a própria ciência jurídica fosse se tornando um estudo sistematizado 
e autônomo. Assim, desde os primeiros cursos de Direito a Sociologia 
contribuiu para dar rigor às compreensões sobre o social. Os estudos 
sociojurídicos possuem sempre um caráter interdisciplinar, em que se 
pressupõe a colaboração equilibrada entre juristas e sociólogos que 
compreendem não apenas o Direito em sentido estrito, mas também os 
modos de regulação de conflitos que dele se aproximam ou com ele se 
relacionam. Isso requer a compreensão de que há uma interação objeto/
sujeito e noção de que as realidades sociais podem ser diferentemente 
representadas nas teorias, necessitando diálogos entre elas.
25
Introdução
Para sintetizar podemos destacar o seguinte conceito da Sociologia 
Jurídica: é um ramo especializado da Sociologia que busca compre-
ender as expressões das relações sociais presentes na organização 
normativa da sociedade. Ou seja, estuda:
– As realidades sociais no entorno da ordem jurídica;
– As relações sociais efetivamente registradas/concretizadas na socieda-
de;
– As aproximações e os distanciamentos entre a regulação e as vivências 
sociais;
– O lugar e o papel do Direito na sociedade;
– As possíveis respostas que a sociedade fornece aos sistemas regulató-
rios;
– A cultura jurídica dos agentes sociais e dos cidadãos da sociedade 
civil;
– As estruturas regulatórias e as ações;
– As forças das regras e a legitimidade destas;
– Como são construídas as leis, quais os interesses em jogo nessa cons-
trução; 
– Os espaços estruturais do jurídico;
– As estruturas para garantir o acesso ao jurídico e à Justiça;
– As relações sociais entre os sujeitos do Direito;
– Os impactos sociais da ação do jurídico, etc.
Então, a Sociologia Jurídica procura entender as relações entre 
liberdade e regulação, compreender como ocorre a relação entre a 
sociedade e o Direito, como uma sociedade se organiza para criar sua 
vida jurídica e como esta passa a refletir na sociedade. Pressupomos, 
pois, que o comportamento social é resultante das repostas que as 
pessoas dão a vários fenômenos complexos que somente podem 
26
E n i o W a l d i r d a S i l v a
ser analisados no contexto do ambiente no qual sua socialização se 
realizou. É este o peso empírico que a Sociologia carrega: estudar os 
comportamentos dos indivíduos em seus aspectos internos e externos1 
conforme os contextos que estão sempre em mudança.
À medida que os indivíduos vão continuamente se adaptando, 
como seres sociais, às exigências do grupo de convívio, o seu compor-
tamento torna-se parecido ao dos outros membros e as expectativas 
de comportamento são possíveis de serem estudadas, de serem padro-
nizadas e mesmo controladas. O controle, a padronização nunca são 
completos e nem os estudos são exatos, pois a conduta humana é bem 
mais do que simples respostas aos estímulos externos e internos, uma 
vez que lhe é possível planejar ações visando a algum objetivo.
Quando os estudos do homem enquanto ser social começaram a 
se ampliar percebeu-se que seria possível verificar algumas tendências 
que se confirmavam. Daí resultou a cultura de que todos precisamos 
de regras para nossas condutas que sejam claras, conhecidas e ajusta-
das ao grupo. E assim teve origem o controle social que muitas vezes 
entrou em choque quando um grupo tenta impor a outros o seu modo 
de ver, de sentir o mundo a sua volta.
Para entender melhor este momento de afirmação da cultura jurídi-
ca vamos fazer uma rápida revisão da evolução da sociedade descrita pela 
Sociologia e depois retornaremos ao contexto da modernidade, período 
histórico de intensas demanda por controle social. Antes, porém, vamos 
ver esta excelente descrição da Sociologia Jurídica criada por Souto:
1 Conforme Souto (1981), ao lado dos elementos considerados externos ao comportamen-
to temos os outros, objetos, conhecimentos e do mundo interno como as substâncias 
químicas, as pressões e distensões mecânicas de nosso organismo.... a fome, a sede, o 
sono, por exemplo, são expressões dos estímulos provocados pelo meio interno. E isso 
não é objeto necessariamente da Psicologia, mas a Sociologiapode se valer de saberes 
de outras ciências (Souto; Souto, 1981).
27
Introdução
O fenômeno jurídico pode ser percebido como norma ou como condu-
ta.Tanto numa visualização como noutra, norma e conduta jurídica se 
implicam, pois conduta jurídica é sempre normada e a norma sempre 
se refere à conduta social. A norma jurídica se origina de uma conduta 
humana específica. Por isso o direito é fenômeno claramente social... 
se o jurídico é fato social este é preocupação constante da Sociologia 
Jurídica. Esta estuda este em sua correlação com a realidade social... 
A perspectiva sócio-científica do jurídico tem-se afirmado internacio-
nalmente de forma clara e progressiva, e não pode ser ignorada por 
um país em desenvolvimento como o Brasil. Com efeito a expansão 
das sociedades e de seus problemas de contato social, o aumento 
da comunicação interna e externa, as necessidades da vida nacional 
e internacional, tudo parece demandar um tipo de controle social 
adaptável à sociedade: um controle menos formal, menos dogmático, 
mais dinâmico, que corresponda à rápida mudanças ocorrida dentro 
das sociedades particulares e à natureza da sociedade internacional, 
que permanece sendo, em grande escala, uma sociedade informal 
(Souto; Souto, 1981, p. 13).
CAPÍTULO 1
AFIRmAÇÃO E 
ESTRUTURAÇÃO DA 
CULTURA JURÍDICA
A sociedade iniciou quando os homens, permeados pelas neces-
sidades humanas, tiveram de assentar-se sobre um território, produzir 
alimentos, construir seu hábitat e assegurar suas vidas. Esses diferentes 
processos foram chamados de formalização da natureza, ou humanização 
da natureza. Como não podia fazer isso de modo individual, o homem 
uniu-se a outros que tinham os mesmos interesses, formou famílias e 
iniciou atividades coordenadas para transformar a natureza. Essas ações 
coordenadas foram chamadas de trabalho e os pactos formados para 
viverem juntos foram denominados de normatização do coletivo (leis). A 
primeira forma organizativa e normatizada foi a família, que além de ser 
fruto da organização bio-lógica, tornou-se a forma elementar, básica e 
inicial da vida em sociedade. Em torno dela e para sua defesa criaram-se 
muitas disposições culturais e se aumentou a capacidade de trabalho. 
Veremos primeiramente a evolução do trabalho do homem e em seguida 
a institucionalização dos entendimentos sobre a ordem social.1
Trabalho e Sociedade
Segundo Cristiano da Paixão Araújo Pinto, pode-se ilustrar a transição 
das formas arcaicas de sociedade para as primeiras civilizações da 
Antiguidade mediante três fatores históricos:
 a) o surgimento das cidades cuja origem pode-se situar no Paleolítico, 
na Mesopotâmia. Pode-se dizer que o processo de destribalização teve 
início no século IV a.C., tendo-se notícia da formação de cidades nos 
anos 3100-2900 a.C., na Baixa Mesopotâmia, isto é, região designada 
por Suméria, nas margens do Rio Eufrates, mais próxima ao Golfo 
Pérsico. No período histórico imediatamente subseqüente (dinástico 
primitivo 2900-2334 a.C.) menciona-se a formação de outras cidades, 
entre as quais Nipuur e Ur;
1 Este texto foi adaptado de Silva, Enio Waldir. Sociedade, política e cultura. Ijuí, RS: Ed. 
Unijuí, 2008.
32
E n i o W a l d i r d a S i l v a
b) a invenção e domínio da escrita, estreitamente ligada ao surgimento 
das cidades, cujas primeiras manifestações (cuneiformes) se deram 
na Mesopotâmia, por volta de 3100 a.C e
c) o advento do comércio e, numa etapa posterior, da moeda metálica, 
por um sistema de trocas de mercadorias e venda em mercados ou 
na navegação. Na clássica lição de Engels,2 a origem do comércio 
localiza-se na divisão do trabalho gerada pela apropriação individual 
dos produtos antes distribuídos no seio da comunidade; com a re-
tenção do excedente, a criação de uma camada de comerciantes e 
a atribuição de valor a determinados bens, o homem deixa de ser 
senhor do processo de produção. Inaugura-se, então, ainda segundo 
Engels, uma assimetria no interior da comunidade, com a introdução 
da distinção rico-pobre... Porém, falar em um direito arcaico ou primi-
tivo implica, contudo, ter presente uma diferenciação da pré-história 
e da história do direito e ainda, quanto aos horizontes de diversas 
civilizações, no sentido de precisar o surgimento dos primeiros textos 
jurídicos com o aparecimento da escrita, tudo dependendo do grau 
de evolução e complexidade de cada povo... o direito arcaico pode 
ser interpretado a partir da compreensão do tipo de sociedade que 
o gerou. Se a sociedade da pré-história fundamenta-se no princípio 
do parentesco, nada mais a considerar do que a base geradora do 
jurídico encontra-se, primeiramente, nos laços de consangüinidade, 
nas práticas do convívio familiar de um mesmo grupo social, unido 
por crenças e tradições (Tavares).3
A interpretação da sociedade pode ser feita pelo estudo do modo 
como o homem organizou-se para o trabalho. Neste caso, nas comunida-
des primitivas o “trabalho” era visto como uma resposta do ser humano 
às suas necessidades básicas: fome, abrigo, vestimenta, defesa, etc., não 
podendo ser separado dos demais aspectos da vida social: ritos, mitos, 
festas, artes, sistema de parentesco, entre outros. Ele não tinha valor em 
si, ou seja, separado dos demais aspectos da vida social (Rotta, 2006).
2 Engels, Friedrich. A origem da família, da propriedade privada e do Estado. 3. ed. São 
Paulo: Global, 1986.
3 O Direito nas Sociedades Primitivas: Algumas Considerações. Disponível em: <www.
fmd.pucminas.br/virtuajus/ano1_08_2003>.
33
Capítulo 1 – Afirmação e Estruturação da Cultura Jurídica
Embora tendo diversidade, a maior parte das sociedades tribais 
praticava uma separação do trabalho por sexo e idade. Dividiam as tarefas 
para dar conta das necessidades e para garantir o processo de aprendiza-
gem e reprodução do grupo.4
O esquema a seguir mostra a evolução das formas organizativas 
do homem:
1
GENS GENSGENS
REUNIÃO DE FAMILIAS - FPM
REUNIÃO DE GENS - CLÃS
CLÃS
G
G
G
CLÃS
G G
G
As ações dos sujeitos resumiam-se na busca de alimentos e no su-
primento de necessidades. Quando ocorreu a escassez de alimento alguns 
grupos se deslocaram para longe e outros ficaram próximos, assentados 
em territórios. Ali formaram os primeiros grupos humanos, cujo centro 
se dava em torno das atividades da mãe: a Família Poligâmica Matriarcal 
– FPM. A união para defesa gerou as Gens (união da FPM). A estratégia 
de manutenção, reprodução e defesa levou às clãs... depois se formaram 
as tribos, e sucessivamente os impérios... É neste último momento que 
se passou da FPM para a FMP – Família Monogâmica Patriarcal, e com 
ela a complexificação da sociedade em classes sociais 
4 Rotta, Edemar, citado por Silva, 2008a.
1
GENS GENSGENS
REUNIÃO DE FAMILIAS - FPM
REUNIÃO DE GENS - CLÃS
CLÃS
G
G
G
CLÃS
G G
G
34
E n i o W a l d i r d a S i l v a
As atividades de trabalho estavam em harmonia com o processo 
natural. Conheciam profundamente o meio em que habitavam e pro-
curavam aproveitar sua capacidade de trabalho para usufruir, da melhor 
maneira possível, dos recursos proporcionados pela natureza.
As técnicas utilizadas eram simples, mas davam conta das neces-
sidades do trato com a natureza. Isso não quer dizer que não houvesse 
inovação. O trabalho era, acima de tudo, uma atividade social, pois estava 
voltado para o bem da coletividade e não para um processo de acumula-
ção, sendo desenvolvido de forma coletiva. 
No momento em que o trabalho passa a ser visto como atividade 
autônoma e ser orientado para a acumulação, tem-se o rompimento com 
as sociedades tribais e a transição para a formação dos reinos e impérios 
que vão dar origem às grandes civilizações da Antiguidade:os persas, os 
egípcios, os gregos, os romanos, etc. Temos aí a sociedade escravista.
TRIBOS TRIBOSTRIBOS
REUNIÃO DE CLÃS - TRIBOS
REUNIÃO TRIBOS - IMPÉRIOS
T
T
T T T
T
FMP – FAMILIA MONOGAMICA 
PATRIARCAL
As disputas entre os diferentes povos levaram os vencedores a se 
apossarem das riquezas dos vencidos: terras, animais e pessoas. O direito 
de conquista submete o vencido à condição de escravo (Grécia e Roma) 
ou de pagador de tributos (persas e egípcios).
35
Capítulo 1 – Afirmação e Estruturação da Cultura Jurídica
Opera-se aí uma nova divisão do trabalho que vai substituir a 
divisão por sexo e idade. É a divisão entre trabalho braçal e trabalho 
intelectual. O trabalho manual, de quem labuta na terra, e o intelectual, 
que planeja e ordena a vida social.
– Trabalho braçal: que exige a força bruta e reduzida habilidade; ativi-
dade passiva e sujeita ao ritmo da natureza, típica dos agricultores e 
escravos;
– Trabalho manual: cuja ênfase recai sobre o fazer, o ato de fabricar, de 
criar alguma coisa por meio do uso de instrumentos ou das próprias 
mãos. É o trabalho do artesão, do escultor, em que o produto pode 
permanecer para além da vida de quem o fabrica;
– Trabalho intelectual (práxis): é a atividade que tem a palavra como 
seu principal instrumento. O trabalho livre, dos cidadãos, dedicado a 
discutir os assuntos da vida pública (negócios públicos: administração, 
gestão, poder, artes, Filosofia, etc.) e a dispor, da melhor maneira 
possível, os produtos postos à disposição pelas outras formas de tra-
balho.
Essa divisão era vista como um processo natural, decorrente 
da competência das pessoas, por uma superioridade ou inferioridade 
natural.
A condição de escravo, independentemente do ofício a que era 
submetido, gerava uma submissão natural ao seu senhor, a quem deveria 
servir até a morte ou a conquista da liberdade. O escravo poderia ser 
vendido, trocado, alugado, etc. É nesse sentido que se produz uma visão 
negativa do trabalho, visto como castigo e sofrimento; com a desagre-
gação dos grandes impérios, desencadeia-se um retorno ao meio rural e 
às atividades agrárias. A escravidão vai cedendo lugar à servidão. Uma 
relação de mútuos direitos e obrigações entre o servo e o seu senhor. O 
senhor não é mais proprietário do trabalhador, mas da terra e dos instru-
mentos de trabalho e os arrenda ao trabalhador em troca de obrigações 
que este deve prestar-lhe. 
36
E n i o W a l d i r d a S i l v a
Estabelece-se uma relação contratual; as relações servis acabam 
produzindo uma sociedade com espaços definidos e funções determi-
nadas na divisão do trabalho; essa divisão era entendida como natural 
e legitimada por um discurso religioso; a produção do feudo servia para 
atender às suas necessidades. O excedente era consumido em festas ou 
trocado com feudos vizinhos. A tecnologia utilizada era simples e seu 
avanço muito lento. Estava ligada ao mundo prático da vida e ao ciclo 
da natureza. Isto é muito próprio do feudalismo.
Apesar de as atividades dominantes estarem ligadas à terra, 
havia o desenvolvimento de outras atividades que, aos poucos, foram 
conquistando espaço e gerando profissões reconhecidas e organizadas, 
as corporações de ofício. A partir delas, porém, já vamos ter uma nova 
forma de organizar o trabalho que vai rompendo com o modo dominante 
do contrato e preparando as relações assalariadas.
FEUDALISMO
• -SENHORES
• -VASSALOS/CLERO
• -SERVOS
SEDE/CIDADE
CONTRATOS
SERVIÇOS
PRODUTOS
TRIBUTOS
A crise do feudalismo, na Europa, vai proporcionar o maior desen-
volvimento das atividades urbanas, em especial do comércio e artesanato, 
levando à afirmação de uma nova compreensão de trabalho.
A desagregação do feudalismo na Europa está ligada a um conjunto 
de fenômenos: esgotamento das terras e das tecnologias, aumento da 
população, crises de fome e doenças, desenvolvimento do comércio e das 
atividades urbanas, etc. O desenvolvimento do comércio e das ativida-
des urbanas vai gerar um novo grupo social composto por comerciantes 
e artesãos que precisam afirmar o seu trabalho como a origem dos bens 
37
Capítulo 1 – Afirmação e Estruturação da Cultura Jurídica
que vão se acumulando. Assim, passam a gerar um sentido positivo ao 
trabalho e a demandar novas teorias que possam justificar esse sentido 
positivo. As teorias liberais vão dar sustentação a essa compreensão.
Locke atribuiu ao trabalho a fonte de toda a propriedade. Adam 
Smith afirmou que o trabalho é a fonte de toda a riqueza. Marx, embora 
não concordando com as ideias liberais, consolidou essa compreensão 
ao referir o trabalho como fonte de toda a produtividade e a expressão 
da própria humanidade do homem. 
As novas ideias afirmaram a compreensão positiva do trabalho, que 
passa a ser visto como a fonte de riqueza de uma Nação. A capacidade 
de acumular riquezas passou a depender da aptidão de trabalho e não 
apenas da posse de recursos naturais, da balança comercial favorável ou 
do acúmulo de metais preciosos por processos de exploração colonial. 
Assim tem início o capitalismo.
O domínio de atividades urbanas ligadas ao comércio e ao artesa-
nato vai desencadear também uma intensificação do ritmo tecnológico, 
principalmente nessas áreas; os comerciantes e artesãos aliam-se aos 
reis e fortalecem seu poder, contrapondo-se à nobreza e ao clero e pre-
parando uma consequente conquista de ascensão ao poder do Estado; o 
desenvolvimento das cidades vai gerar um mercado de trabalho urbano 
submetido a novas regras, cada vez mais orientadas para o assalariamento, 
para a separação entre o trabalho e os meios de produção e para o cultivo 
de uma “ética do trabalho” (Rotta, 2006).
CLASSES FUNDAMENTAIS
• PROPRIETÁRIOS X NÃO-PROPRIETÁRIOS
BURGUESIA PROLETARIAO
SOCIEDADE CIVILSOCIEDADE POLITICA
38
E n i o W a l d i r d a S i l v a
O ambiente urbano prepara a consolidação da ideia de que é com 
o trabalho que a pessoa tem possibilidade de ascender socialmente, 
superando as visões antigas, baseadas em laços de sangue, de heredita-
riedade e de títulos.
Função do trabalho no capitalismo: lucrar/acumulação; fonte de 
riqueza –individual e coletiva; fonte da liberdade; força da competição; 
universalização do cidadão; moral profissional; força do mercado. É nesse 
contexto que começam aparecer estudos sociológicos sobre: condições 
de vida, legislação trabalhista, saúde, mortalidade infantil, moradia, 
formação profissional, composição racional, salário, jornada de trabalho, 
gestão de mão de obra, trabalho das mulheres, crianças e idosos, aciden-
tes de trabalho, exclusão, sofrimento no trabalho, organização urbana, 
assistência ao trabalhador e sua família, papel do Estado, conflitos entre 
patrões e empregados, resistências individuais e coletivas, associações 
e sindicatos de trabalhadores, etc. O que vai assegurar a estruturação da 
vida moderna pode ser interpretado pelo esquema a seguir:
Fontes para a ordem Moderna
• ESTRUTURA/BASE • SUPERESTRUTURA
• Ciência
• Educação
• Direito
• Estado
• Indústria
• Comércio
• Mercado
• A Propriedade
• A Competição
• O Positivismo
Elite
Burocratas
Classe Média
Operários 
Fortalece-se a compreensão dos direitos da pessoa no trabalho, 
aumentam as leis trabalhistas, crescem os movimentos sociais e sindicatos 
(patronais/trabalhadores); criam-se instituições do trabalho; o trabalho 
abstrato amplia-se; aplica-se a ciência para efetivar o resultado do tra-
balho com taylorismo/fordismo; muitos países fazem alianças nacionais 
39
Capítulo 1 – Afirmação e Estruturação da Cultura Jurídica
– imperialismo do capital – para organização do trabalho, etc. Enfim, 
muda o comportamento das pessoas, inclusive são treinadas em escolaspara agir no trabalho, com o trabalho – uma ação encadeada... Quem se 
adaptou criou uma nova moral... foi convencido que pelo trabalho cresce 
na vida... se salva.... não é vagabundo, vadio, etc... Inclusive diversas leis 
emergem para regular o trabalho... cidades inteiras foram organizadas em 
torno do trabalho do homem... a “ética” justifica as diferenças sociais, as 
posições dos ricos, a moral, a valoração... inclusive o fascismo vai pregar o 
trabalho como fim último do homem (lavoro, lavoro, lavoro), invertendo 
seu sentido.
Vamos agora recuperar a trajetória do pensamento social que 
expressou a evolução do Direito ou, no mínimo, influenciou esta evo-
lução.
Pensamento Social
Na maioria das sociedades remotas, a lei é considerada parte nuclear de 
controle social, elemento material para prevenir, remediar ou castigar 
os desvios das regras prescritas. A lei expressa a presença de um direito 
ordenado na tradição e nas práticas costumeiras que mantêm a coesão 
social (Wolkmer)5.... a comparação das crenças e das leis demonstra que 
as famílias grega e romana foram constituídas por uma religião primiti-
va, que estabeleceu o casamento e a autoridade paterna, fixou os graus de 
parentesco, consagrou o direito de propriedade e o direito de herança. Esta 
mesma religião, por haver difundido e ampliado a família, formou uma 
associação maior, a cidade, e nela reinou do mesmo modo que reinava na 
família. Desta se originaram todas as instituições como todo o direito privado 
5 O direito nas sociedades primitivas. In: Fundamentos de história do direito. Belo Horizonte: 
Del Rey, 2001. p. 20.
40
E n i o W a l d i r d a S i l v a
dos antigos. Foi dela que a cidade extraiu seus princípios, suas regras, seus 
usos e sua magistratura [...] É mister, pois, estudar antes de tudo, as crenças 
destes povos (Coulanges).6
A origem do Direito está, como referimos, lá no momento em que 
o homem começou a viver em grupo e sentiu necessidade de controlar 
as condutas humanas (Souto; Souto, 1981). O pensamento sobre o social, 
no entanto, surge mais tarde, depois dos mitos, dos totens, das religiões 
e junto com a Filosofia. Nasceu com estas perguntas: Como poderíamos 
programar as causas da ação humana, especialmente aquelas condutas 
relacionadas a sua vida coletiva? Como a vivência junto poderia aprimorar 
a civilização e como um homem pode ser o complemento da construção 
do outro?
Os estudos sobre a política mostram que o primeiro ato político 
do homem foi aquela ação que cometeu em relação aos outros ou da ex-
pectativa que tinha em relação à ação dos outros. Com as aproximações 
humanas a política passou a se constituir em atos especificamente criados 
para a vida coletiva. Foi necessário, portanto, criar um saber específico 
sobre estes temas, para entender a confluência de forças existentes em 
uma comunidade que orientam a vida coletiva.7
No início dos estudos políticos a preocupação estava em definir 
como o homem poderia ser mais político que a sua dimensão natural, 
ou seja, o homem é um ser político por natureza, mas como ele poderia 
adquirir capacidades para agir de modo universal, pela coletividade e para 
coletividade de modo a tornar cada vez mais justa a vida em sociedade. 
A esquematização das respostas poderia ser assim apresentada:
6 Refere-se a Coulanges, Fustel. A cidade antiga. 2. ed. São Paulo: Edipro, 1999. p. 13-14. 
Citado por Fernando Horta Tavares. Disponível em: <www.fmd.pucminas.br/virtuajus/
ano1_08_2003>.
7 Silva, Enio Waldir. Sociedade, Política e Cultura. Ijuí, RS: Ed. Unijuí, 2008a.
41
Capítulo 1 – Afirmação e Estruturação da Cultura Jurídica
 JUSTIÇA SOCIAL 
NECESSIDADES PRIMORDIAIS: 
NATURAIS: ALIMENTO –AFETO 
SOCIAIS: MEDOS (MORTE) E 
DESEJOS (SER FELIZ) 
AÇÃO FUNDAMENTAL: 
O TRABALHO E A EDUCAÇÃO 
TRANSFORMAR A NATUREZA – 
ALIMENTO E CASA 
CONHECIMENTO E FÉ 
Os elementos deste esquema poderiam ser entendidos como os 
passos da evolução da organização política. Parte da criação do pensa-
mento social foi para justificar maneiras de administrar o espaço universal 
público (chamado de polis, cidade, sociedade). No centro do espaço 
público está o Estado: a instituição fruto da razão humana e a mais 
complexa para assegurar a vida coletiva. Ele tornou-se um lugar no qual 
se condensou grande parte das intenções de controle social e para onde 
atividades coletivas se voltavam para conflitos sociais e as disputas dos 
grupos. Passou a ser a expressão estruturada do poder, tendo elementos 
coativos e coercitivos, e se colocou acima de todas as outras instituições 
reconhecidas: a família, a escola, a empresa, a religião...
42
E n i o W a l d i r d a S i l v a
4
ESTADO
EXPRESSÃO ESTRUTURADA DO PODER COLETIVO
2
1
4
5
5
3
1
3
2
4 5
5
COAÇÃO
COERÇÃO
Coação: Todos os elementos sociais que atuam no convencimento à ordem social.
Coerção: Todos elementos de força que obrigam o indivíduo a seguir a ordem 
social.
A história política do homem passa pela história do Estado, das 
doutrinas sobre melhor governo, das instituições criadas para assegurá-lo 
e pelos movimentos sociais para conquistá-los. Podemos esquematizar 
assim a história do pensamento sobre as relações sociais constituídas 
juridicamente:
EVOLUÇÃO DA ORDEM SOCIAL 
GREGOS
CRISTÃOS
MODERNIDADE
PÓS-MODERNIDADE
CULTURA JURÍDICA
ATUAL
ROMANOS
Assim, iniciamos no século 6º a.C. a perceber os registros sobre 
regras do coletivo e segundo Châtelet (1984), a cultura política do 
mediterrâneo europeu tem como uma das fontes a civilização grega 
43
Capítulo 1 – Afirmação e Estruturação da Cultura Jurídica
clássica. O conjunto de invenções institucionais, literárias, artísticas, 
científicas, teóricas e técnicas, condensadas na forma política da cidade 
(polis), destaca a grandeza desta civilização que teve seu período de ouro 
entre o século 6º a.C. e o século 1º a.C. A origem dessa forma política 
de vivência está nos acordos feitos pelas populações em conflito, pois 
precisam criar regras para o jogo das vivências sociais. Drácon e Sólon 
foram os primeiros legisladores do Ocidente ao enunciarem ideias sobre 
a participação de cada um na gestão da cidade, nas decisões das questões 
de interesses coletivos, bem como a forma de arbitragem dos conflitos e 
a punição dos crimes e dos delitos.
A lei passou a ser a orientadora das pessoas, e poderia ser obede-
cida sem temor, como era a obediência por medo de quem obedecia a 
um outro, um senhor. Com textos claros e conhecidos e que tornavam 
públicos os julgamentos, a lei era como um princípio de organização 
política e, por isso, talvez, a invenção política mais notória da Grécia 
clássica (Châtelet, 1984, p. 14).
Se a lei é alguma coisa de alma, de razão, a cidade é algo concreto 
e espaço onde vivem os homens, em sua cotidianidade e em sua forma 
histórica, como animal político (Aristóteles – A Política). Ou seja, para os 
gregos a sociabilidade é produzida pela natureza, no entanto é preciso 
ordená-la para que a virtude do homem possa realizar-se em sua pleni-
tude. A cidade é uma comunidade consciente, uma organização fundada 
não sobre a força bruta, não sobre interesses passageiros, mas sim uma 
forma política que expressa a essência humana, a possibilidade da justi-
ça e da satisfação dos desejos legítimos dos indivíduos.8 A estrutura da 
sociedade pode ser descrita como no quadro a seguir:
8 Silva, Enio Waldir. Sociedade, política e cultura. Ijuí, RS: Ed. Unijuí, 2008a.
44
E n i o W a l d i r d a S i l v a
A ordem Gregos Clássicos
• ESTRUTURA/BASE • SUPERESTRUTURA
• Filosofia/Educação
• Ação Política/Cidadã
• Lei/Justiça
• Cidade/Ágora• República/Estado
• Democracia
• Arte da Guerra
• Beleza/esporte
SÁBIO
GUERREIRO
Trabalhadore
s
Já os romanos colocaram em prática muitas ideias políticas dos 
gregos. De uma forma ou de outra, elas estão presentes nas instituições 
mais sólidas, como é o caso do Direito, do Império e da República.
O Direito Romano tinha por base a Lei das Doze Tábuas e se 
instituía tendo como objeto primeiro a família. O cidadão, o homem livre, 
é o pater familias, senhor absoluto da casa, cabe-lhe representar junto 
aos juízes quando julgar que ele próprio, os seus ou suas propriedades 
sofreram algum dano, bem como exigir reparação e penas adequadas. 
Mais tarde o Direito se estende aos peregrinos; depois a todos os que 
adquirirem cidadania. O Direito Romano espalhou-se pelo mundo entre-
meado pelos caminhos do império. Mesmo reduzindo o espaço territorial 
o Direito ficou onde foi o império, pois era fruto de racionalidades e se 
enraizou como uma forma de ordenação do mundo, regulamentando o 
que é e o que não é, e, ainda, propondo um dever-ser (Châtelet, 1984, 
p. 23).
Políbio (200-125 a.C.) e Cícero (106-43 a.C.) foram os principais 
pensadores sociais que trataram de descrever como deveria ser o Império 
Romano, mostrando que era uma comunidade que tinha sua unidade 
baseada num vínculo jurídico e numa ordem política bem determinada. 
Roma é a cidade ecumênica que guarda as maiores semelhanças com a 
cidade ideal descrita pelos gregos. O imperador e seus cônsules estavam 
no topo, eram os governantes, representavam o cérebro governamental; 
mais abaixo estavam os guerreiros que defendiam a cidade, mantendo 
45
Capítulo 1 – Afirmação e Estruturação da Cultura Jurídica
sua glória simbólica; bem embaixo estão os artesãos e os agricultores, 
que proveem as necessidades materiais da cidade. A estrutura social 
pode ser assim descrita:
Lei e Ordem para os Romanos
• ESTRUTURA/BASE • SUPERESTRUTURA
• A República
• A Cidade de Roma
• O Direito
• A Arte da Guerra
• O Senado
• O Consulado
• Artes e Ofícios
Cesar/Império
Guerreiros/Legiões
Cidadãos/estrangeiros
O problema da sucessão de César (César deveria preparar seu 
herdeiro), a quebra da cultura de onipotência do imperador (vindo de 
Cristo), a expansão territorial (conquistaram mais território do que podiam 
controlar) e o aumento da centralidade da Igreja Católica cristã levaram 
a um enfraquecimento e à dispersão do Império Romano. Nos anos 300 
d.C. o cristianismo virou religião oficial do império. O fim do império 
deu-se em 410. Inicia-se, então, uma nova fase de compreensão sobre 
o social e o modo de conceber a ordem social, as noções de liberdade, 
responsabilidade e ação histórica. Serão o cristianismo e o islamismo que 
irão marcar duradouramente as ideias e os costumes posteriores.
Essa nova ordem social é justificada nas proposições filosóficas 
de Santo Agostinho (354-430). Sua obra, carregada de expressões polí-
ticas, foi A Cidade de Deus. Seguiu-se a compreensão de que tudo o que 
existe é criação de Deus ou por sua vontade. Os preceitos teológicos do 
Deus Único e a concepção do homem como uma criatura de Deus vão 
se afirmando pela Idade Média, quando foram fundadas cidades cristãs 
baseadas num vínculo religioso e não nos vínculos jurídicos. Assim, as 
ideias aristotélicas de ação política vão ser redirecionadas para demarcar 
46
E n i o W a l d i r d a S i l v a
os deveres e os direitos da cristandade. A dimensão histórica e explica-
tiva agora não é mais natural, mas fruto da ordem divina: Deus criou o 
homem. Este ato foi o começo. A morte não é o fim, mas a ressurreição. 
O espaço entre o nascer e o ressuscitar é da provação em que o cristão 
paga ao Criador a dívida pela criação. O modo de pagar é rezando e tra-
balhando, conforme pode ser representado no quadro a seguir:
PROVAÇÃO
TRABALHAR
ORAR NA IGREJA
PAGAR O DÍZIMO
FIM: RESSURREIÇÃO
INÍCIO -
A CRIAÇÃO
CÉU - DEUS
INFERNO - DIABO
Os representantes de Deus na Terra orientavam a vida coletiva e 
individual e vão encomendando a alma dos fiéis. Se fizerem como man-
dam vão para o céu; se não o fizerem, irão para o inferno. O crime passa 
a ser chamado de pecado. O modo como vai sendo medido o pagamento 
da dívida divina é pela presença do homem nos sacramentos da Igreja e 
pelo depósito do dízimo.
A Igreja, a exemplo do Império Romano e da cultura grega, vai 
garantir algumas estruturas para se afirmar: o Direito Canônico, as or-
dens religiosas e o exército de Cristo. Uma série de pensadores cristãos 
(chamados de Santos) deram o contorno desta nova forma de entender 
o mundo (Boécio 480-521; Santo Anselmo 1033-1099; Santo Abelardo 
1079-1142; Santo Tomás de Aquino 1225-1274; São Boaventura 1221-
1274; Duns Scot 1265-1308; Gulherme de Occam 1290-1349; Nicolau de 
Cusa 1401-1464; Marcílio de Pádua 1275-1313...). A estrutura do poder 
nesse período poderia ser assim imaginado:
47
Capítulo 1 – Afirmação e Estruturação da Cultura Jurídica
Fé e Ordem Social Teocrática
• ESTRUTURA/BASE • SUPERESTRUTURA
• A Palavra Sagrada
• A Fé
• O Direito Canônico
• A Evangelização
• As Ordens Religiosas
• As Cerimônias
• A Preparação p/ Céu
Deus/Papa
Padres / Igreja
Comunidade de Fiéis
Nos reinos vão se desenvolvendo noções novas e elaboram-se 
técnicas de gestão que substituem as hierarquias tradicionais por rela-
ções contratuais. O desenvolvimento do comércio e dos negócios torna 
indispensável uma moralização da atividade mercantil; e o estatuto do 
sujeito mercantil vai se ampliando na medida em que ele vai participando 
do bem-estar da comunidade ou usa as riquezas adquiridas para o bem 
comum. A cidade profana amplia-se e se enche de regras e princípios 
e o poder de governar passa a ser cada vez mais cobiçado. Os múltiplos 
abalos do período de 1400-1500 irão radicalizar essa orientação, inclusive 
passando a ser denominado de Renascimento.
Um dos reforços para a emergência dessa nova fase histórica que 
se convencionou chamar Modernidade, em que prevalece no poder 
coletivo a dimensão racional, jurídica e científica das relações sociais, é 
Martinho Lutero. Em 1517 ele vai expor mais de 90 teses denunciando o 
poder da Igreja de Roma. Havia tráfico de indulgências para obter ganhos 
materiais e exercer pressões morais sobre seus fiéis. Isto reforça o poder 
dos príncipes nos reinos e faz explodir a Reforma, uma tendência que 
contestava o poder da Igreja: a inspiração dos reformadores é, ao mesmo 
tempo, teológica, moral e política. Teológica, porque se fundamenta no 
cristianismo primitivo com o dogma de que a essência da religião está 
na fé e não na idolatria de imagens e riquezas; Moral, porque se opõe à 
corrupção do alto clero, mais preocupado com o poder e o luxo, esquecen-
Fé e Ordem Social Teocrática
• ESTRUTURA/BASE • SUPERESTRUTURA
• A Palavra Sagrada
• A Fé
• O Direito Canônico
• A Evangelização
• As Ordens Religiosas
• As Cerimônias
• A Preparação p/ Céu
Deus/Papa
Padres / Igreja
Comunidade de Fiéis
48
E n i o W a l d i r d a S i l v a
do a caridade e a piedade, e Política, porque a palavra de Deus, a Bíblia, 
passa a ser experimentada em sua dimensão prática, na língua dos povos 
que a leem. Os espaços que deveriam ser da Igreja e os que deverão ser 
do Estado têm forte expressão nas palavras de Lutero:
Meu reino não é deste mundo”. Tomando a palavra de Cristo ao pé 
da letra, Lutero deixa de certo modo o campo livre para a onipotência 
do Estado no mundo terreno; confere-lhe o monopólio da decisão e da 
repressão. Deixa-se ao cristão a possibilidade de intervir pela palavra 
e pelo exemplo, a fim de que sejam respeitados os mandamentos de 
Deus e afirmada a força espiritual da comunidade dos fiéis... Lutero, 
Münzere Calvino (1536-1559) vão ser reformadores que colaboram 
para a afirmação das realidades nacionais e o poder do Estado e 
abrir um importante capítulo do pensamento político moderno: o 
das relações entre comunidades religiosas e o Estado convertido em 
potência laica, capítulo que é freqüentemente, ao mesmo tempo, o 
das relações entre exigências morais e necessidade política (Châtelet, 
1984, p. 43).
Nos esquemas a seguir vamos sintetizar a visão sociológica sobre 
a história do pensamento social e a visão sobre a evolução das normas 
sobre o coletivo:
CONCEPÇÕES DE MUNDO NAS TRÊS FASES HISTÓRICAS DO 
PENSAMENTO SOCIAL
Concepções Grego Clássico Teocratismo Cristão Modernidade
HOMEM É um ser político 
que pensa e entende 
suas necessidades e 
as formas de satisfa-
zê-las. Quanto mais 
estende suas ideias e 
as concretiza na ação, 
mais poder tem. 
É criatura de Deus, depen-
dente de Sua vontade e tem 
uma dívida com seu Criador. 
Quanto mais pagar essa dívida 
(rezar e trabalhar: ir à Igreja e 
pagar o dízimo), mais chance 
tem de ser perdoado e voltar 
ao seu Criador (Céu).
É um ser natural criador: pensa, 
fala e age (trabalha). Por convenção 
ou pacto, obedece a uma ordem 
criada por ele: Direito, Estado e 
Ciência.
SOCIEDADE É criação humana, 
uma estrutura que 
resulta da justa ideia 
e da disposição de 
viver juntos de modo 
civilizado.
É o conjunto dos fiéis que 
contribuem para o sucesso 
da Igreja; é a rede de relações 
religiosas que cumprem as 
ordens divinas e lugar de 
provação.
É a organização criada pelo ho-
mem para melhor desenvolver e 
potencializar sua natureza: pensar-
ciência; falar – contratos/pactos; 
agir – trabalhar/usar seu corpo. 
Assim é o conjunto dos indivíduos/
instituições dispostos de forma 
mais ou menos lógica para se 
viver bem.
49
Capítulo 1 – Afirmação e Estruturação da Cultura Jurídica
ESQUEMAS SOBRE A EVOLUÇÃO DO DIREITO9
9 Interpretação possível do texto de Fernando Horta Tavares: O Direito nas sociedades 
primitivas: algumas considerações, 2003.
CAPÍTULO 2
A mODERNIDADE 
– A JUDICIALIZAÇÃO 
DAS RELAÇÕES SOCIAIS
Nesta parte propomos a estudar as dimensões científicas das 
abordagens da ordem social, a necessidade destas e as constelações 
compreensivas que influenciaram na formatação da cultura jurídica que 
marcam a historicidade atual. 
A idéia de modernidade, na sua forma mais ambiciosa, foi a afirmação 
de que o homem é o que ele faz, e que, portanto, deve existir uma 
correspondência cada vez mais estreita entre a produção, tornada mais 
eficaz pela ciência, a tecnologia ou a administração, a organização da 
sociedade, regulada pela lei e a vida pessoal, animada pelo interesse, 
mas também pela vontade de se liberar de todas as opressões. Sobre o 
que repousa essa correspondência de uma cultura científica, de uma 
sociedade ordenada e de indivíduos livres, senão sobre o triunfo da 
razão? Somente ela estabelece uma correspondência entre a ação 
humana e a ordem do mundo, o que já buscavam pensadores reli-
giosos, mas que foram paralisados pelo finalismo próprio às religiões 
monoteístas baseadas numa revelação. É a razão que anima a ciência 
e suas aplicações; é ela também que comanda a adaptação da vida 
social às necessidades individuais ou coletivas; é ela, finalmente, 
que substitui a arbitrariedade e a violência pelo Estado de direito 
e pelo mercado. A humanidade, agindo segundo suas leis, avança 
simultaneamente em direção à abundância, à liberdade e à felicidade 
(Touraine, 1994, p. 9).
Ao pesquisar empiricamente as ações características de grupos 
sociais, a Sociologia foi consolidando métodos que contribuíram para 
que a própria Ciência Jurídica fosse se tornando um estudo sistematizado 
e autônomo. Assim, desde os primeiros cursos de Direito a Sociologia 
contribuiu para dar rigor às compreensões sobre o social. Os estudos 
sociojurídicos possuem sempre um caráter interdisciplinar, em que se 
pressupõe a colaboração equilibrada entre juristas e sociólogos que 
compreendem não apenas o Direito em sentido estrito, mas também os 
modos de regulação de conflitos que dele se aproximam ou com ele se 
relacionam. Isso requer a compreensão de que há uma interação objeto/
sujeito e noção de que as realidades sociais podem ser diferentemente 
representadas nas teorias, necessitando diálogos entre elas. 
54
E n i o W a l d i r d a S i l v a
Para entendermos porque somos hoje tão dependentes das de-
terminações jurídicas presentes na sociedade precisamos reconstituir as 
fontes que deram bases a essas necessidades de judicialização das relações 
sociais na cultura jurídica moderna. Ela tem bases no mundo da produção 
e arrastaram o desenvolvimento da vida urbana, do tráfego comercial na-
cional e internacional, da produção manufatureira, da atividade bancária, 
etc. Nos centros europeus aparece cada vez mais o saber econômico, que 
passa de uma técnica de gerir patrimônios de famílias ou encher cofres 
de reinos para as ciências complexas que medem, proveem e preveem 
os atos de produção, circulação e consumo em espaços territoriais agora 
chamados de nação, a economia política.
A sociedade moderna consiste na crescente submissão das mais 
diversas esferas da vida pública e privada à calculabilidade, à impesso-
alidade e à uniformidade características do formalismo burocrático sob 
o regime de dominação tipicamente racional-legal, como afirma Max 
Weber (1999a). A modernidade se definiu a partir de dois componentes: 
O primeiro princípio é a crença na razão e na ação racional: a ciência e a 
tecnologia, o cálculo e a precisão, a aplicação dos resultados da ciência a 
campos cada vez mais diversos de nossa vida e da sociedade, passam ser 
componentes necessários, e quase evidentes, da civilização moderna. O 
segundo princípio fundador da modernidade é o reconhecimento dos direitos 
do indivíduo, isto é, a afirmação de um universalismo que dá a todos os 
indivíduos os mesmos direitos. A ação racional e o reconhecimento de 
direitos universais a todos os indivíduos.
No que tange à formação das ideias modernas acerca do Estado e 
do Direito é o legado clássico do pensamento greco-romano e às trans-
formações trazidas pela Igreja Romana Ocidental. A Filosofia grega, a 
República, o Direito Romano e Direito Canônico são raízes históricas 
mais antigas que deram origem aos valores político-jurídicos e às insti-
tuições modernas dos séculos 14 e 16. Juntos (e misturados) também 
provocaram os fenômenos de dissolução das instituições até então he-
gemônicas (Igreja Romana), o aumento do poder real com o surgimento 
55
Capítulo 2 – A Modernidade – A Judicialização das Relações Sociais
das monarquias nacionais (França, Inglaterra), o enfraquecimento do 
papado, a emergência do reformismo filosófico, o aparecimento cultural 
do humanismo renascentista e a secularização da política... reproduzindo 
as condições para o desenvolvimento de uma cultura jurídica no interior 
das relações histórico-sociais da sociedade moderna europeia.
Segundo Wolkmer (2005), muitos pensadores conseguiram captar a 
dinâmica destas mudanças estruturais e mostrar que elas desencadearam, 
conjuntamente com o complexo e plural sistema herdado de legalidade 
(Direito Romano, Canônico, Germânico, Feudal e Mercantil), as bases 
fundantes da moderna cultura jurídica europeia. Em verdade, nesse 
horizonte de continuidades e de rupturas em que se forja os pensamen-
tos políticos e jurídicos modernos, é que se destacam, com muita força 
e criatividade, os movimentos do Humanismo Jurídico e da Reforma 
Protestante.1
No âmbito da economia agrário-senhoril, o Direito serviu para 
a instituição da produtividade econômica de mercado livre, pela siste-
matização do comércio por meio das trocas monetárias e

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