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AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO 1. O direito de pagar 2. A liberação normal e a liberação forçada do devedor 3. A ação de consignação em pagamento 4. Objeto 5. Polo Ativo 6. Polo Passivo 7.Competência 8. Procedimento Extrajudicial (Depósito) 9. Procedimento Judicial 10. Sentença 11. Hipóteses especiais de consignação 1. O direito de pagar A obrigação, enquanto direito material, é um vínculo coercitivo. O objetivo da obrigação não é jamais a duração ilimitada do vínculo, mas a cessação dele mediante o adimplemento; donde o adimplemento se manifesta como a forma natural de extinção da obrigação. A obrigação, constitui-se assim, como uma situação jurídica passageira ou transitória, que nasce já com o destino de ser cumprida e de extinguir-se ao ser cumprida. Por ser dessa forma, um constrangimento jurídico necessariamente temporário, o libertar-se do vínculo obrigacional assume feição não de simples dever do sujeito passivo da obrigação, mas de verdadeiro direito dele. 2. A liberação normal e a liberação forçada do devedor O pagamento voluntário é ato jurídico bilateral, que reclama a participação do devedor, que cumpre a obrigação (seja legal, seja convencional), e do credor, que recebe a prestação devida. Essa é a forma de liberação normal do devedor, e o consequente fim da relação jurídica obrigacional. Uma vez, porém, que o vínculo não pode perdurar eternamente, cuida o Direito de instituir uma alternativa liberatória para o devedor, sempre que se tornar inviável o acordo liberatório entre as partes. Esse é o caminho da consignação em pagamento, com previsão no art. 334, do Código Civil: “Art. 334. Considera-se pagamento, e extingue a obrigação, o depósito judicial ou em estabelecimento bancário da coisa devida, nos casos e forma legais.” Isso significa que a ordem jurídica, diante da impossibilidade do pagamento voluntário, põe à disposição do devedor uma forma indireta de liberação, que prescinde de acordo de vontades com o credor e que se apresenta com os mesmos efeitos práticos do adimplemento. 3. A ação de consignação em pagamento O direito material tutelado pela ação de consignação em pagamento é o direito de pagar do devedor. A função da consignação é liberar o devedor da obrigação. É uma desoneração provisória, uma vez que não há necessariamente a transferência do bem para o credor e que a extinção definitiva da obrigação só será confirmada com a aceitação do credor ou com a procedência da ação. Tanto é provisória que o Código Civil permite, em seu artigo 338, o levantamento pelo devedor (autor da ação de consignação): “Enquanto o credor não declarar que aceita o depósito, ou não o impugnar, poderá o devedor requerer o levantamento, pagando as respectivas despesas, e subsistindo a obrigação para todas as consequências de direito.” As hipóteses de cabimento da ação de consignação em pagamento estão descritas no art. 335 do Código Civil. Art. 335. A consignação tem lugar: I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar quitação na devida forma; A primeira das hipóteses tratadas pelo código diz respeito a dívida portável, que é aquela em que compete ao devedor oferecer a prestação no domicílio do credor ou no local por este indicado. II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição devidos; Aqui a hipótese tratada diz respeito às dívidas quesíveis, em que toca ao credor buscar o pagamento da dívida no domicilio do devedor. III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil; IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento; V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento. 4. Objeto O objeto da consignação em pagamento é quantia ou coisa (fungível, infungível, móvel, imóvel ou semovente). Obrigações sujeitas à condição, desde que seja cumprida, podem ser consignadas. Sujeitas a termo, desde que ocorrido também. Porém, Marinoni defende a possibilidade de se consignar mesmo antes de cumprida a condição ou decorrido o termo, para que o credor possa receber a obrigação quando nascer a pretensão, mas, neste caso, os riscos pela coisa só se transferem quando ocorrida a condição ou o termo. Prestações de fazer e não fazer excluem-se do direito de consignação. 5. Polo Ativo É o devedor. A aceitação do credor não é condição de existência do direito à consignação. A mora do devedor não impede a consignação, pois pode haver o interesse de liberação mesmo quando incurso em mora. Neste caso ele depositará o valor vencido com os acessórios (correção, juros, multa, etc.). 5. 1 Terceiros (interessados e não interessados). Interessado. Art. 304, CC. Ele tem interesse direto e pessoal na quitação da obrigação por ser coobrigado. Caso haja inadimplemento, ele deverá adimplir a obrigação. Exemplo: fiador ou avalista. Neste caso, há a sub-rogação nos direitos do devedor. Não interessado. Art. 304, §único. O não interessado pode consignar em pagamento, desde que o faça em nome e à conta do devedor, sem sua oposição. Tem direito apenas ao reembolso. Não se necessita demonstrar o interesse jurídico especial qualificado. Qualquer terceiro pode proceder a consignação desde que cumpridos os requisitos. 6. Polo Passivo É o Credor conhecido ou credores conhecidos. 6.1. Dúvida sobre quem deve receber Réu Desconhecido: Citado por edital Pluralidade de supostos titulares, que não se sabe ao certo qual é o credor. Todos devem ser citados e serão litisconsortes passivos necessários. Art. 547, CPC Art. 548, CPC: Se ninguém aparece: arrecadação a coisas vagas Se só 1 aparece: juiz decide de plano Mais de 1 aparece. Sem impugnação do valor, extinto o processo para o devedor, segue entre os supostos credores, pelo rito comum. Com impugnação, segue o procedimento em relação a todos, inclusive o autor da consignação. 7. Competência Territorial, relativa, portanto. Regra Geral, Art. 540, CPC. Local do Pagamento. Se dívida portável, no domicílio do credor; se quesível, no domicílio do devedor. Bem Imóvel. Dívida consistente na entrega de bem imóvel, foro competente é do lugar da situação do bem. Se o local que se tornou inacessível, de difícil acesso ou perigoso: a escolha do devedor, desde que não haja prejuízo ao credor. Foro de Eleição. Cederá ao foro do local do pagamento. O foro de eleição se presta para as ações comuns, decorrentes do contrato. O foro para a consignatória é fundado no direito material, que diz respeito ao local designado para o cumprimento da obrigação. Lei de Locação. Lugar da situação de bem imóvel (Lei 8245/1991, art. 58, II). 8. Procedimento Extrajudicial (Depósito) Art. 539, parágrafos 1, 2, 3 e 4 Apenas prestação constante em entrega de dinheiro, pode o devedor optar pelo procedimento extrajudicial, para evitar a demanda judicial e todo o custo dela decorrente. É faculdade do devedor. Se quiser, pode ajuizar a ação de plano. 1 – Para Talamini e Wambier, depósito em qualquer estabelecimento bancário. Preferencialmente em instituição oficial, mas não obrigatoriamente. O mero depósito já impede a constituição em mora, independentemente da aceitação do credor. Mas, para tanto, o depósito deve ser integral e observe os requisitos do pagamento, constantes nos art. 304 a 333 do CC, como já mencionamos). Por lugar do pagamento deve-se compreender a comarca ou circunscrição judiciária do pagamento, não necessariamente Município. 2 – Notificação do credor, com AR para que, em DEZ DIAS manifeste seu aceite ou recusa. Parágrafo 1. O silencia faz presumir a aceitação. Parágrafo 2. Pode haver aceite com ressalva, estando o devedor liberado até o limite do valor incontroverso. Recusa. Em um mês o devedor deve ajuizar a ação. O prazo para ingressar com a ação não é peremptório. Passado um mês, não há óbicepara a propositura. O que acontece é que, nos termos do Paragrafo 3 do art. 540, o depósito fica sem efeito, ou seja, voltam a incidir os efeitos da mora a partir do término do prazo de 1 mês. É cabível para ações sujeitas à Lei de Locações. 9. Procedimento Judicial - Petição Inicial. Deve preencher todos os requisitos da petição inicial (arts. 319 e 320) mais os previstos n o art. 542 do CPC (requerimento para efetuar o depósito em 05 dias do deferimento – salvo quando houve recusa expressa do credor, quando bastará o comprovante do depósito feito extrajudicialmente – que deve ser realizado no prazo, sob pena de extinção do processo sem resolução do mérito. Só depois de realizado o depósito é que será citado o credor. Súmula STF 449 o valor da causa, na consignatória de aluguel, corresponde a uma anuidade. Se o objeto indeterminado: A escolha do devedor: realiza o depósito já individualizando a coisa A escolha do credor: art. 543, cpc. Citação do credor antes da consignação para que o faça em 5 dias ou aceite que o devedor faça. O juiz deve fixar, já no despacho da inicial, lugar, dia e gora para entrega da coisa. Só haverá depósito, portanto, depois de feita a tentativa de entrega da coisa (que é o adimplemento da obrigação). Após esse prazo, o devedor será intimado para responder. Prestações sucessivas. Na dicção do art. 541, consignada a primeira parcela, as demais podem ser realizadas sem maiores formalidades, ou seja, não é necessária, após o primeiro depósito, nova citação do credor, apenas sua intimação para que levante o valor. Medidas de economia processual e instrumentalidade das formas. Os depósitos podem ocorrer até o trânsito em julgado, em regra, a não ser que as peculiaridades do caso exijam nova análise sobre cada uma das parcelas a serem depositadas. Conteúdo de defesa limitado do réu (art. 544, CPC). Art. 544. Na contestação, o réu poderá alegar que: I - não houve recusa ou mora em receber a quantia ou a coisa devida; II - foi justa a recusa; III - o depósito não se efetuou no prazo ou no lugar do pagamento; IV - o depósito não é integral. No entanto, são também admissíveis defesas processuais ou a negativa da existência dos fatos alegados (defesa material/substancial direta). As limitações dizem respeito apenas às defesas de mérito indiretas (fatos impeditivos, extintivos ou modificativos do direito do autor). A defesa da inconsistência do depósito deve ser acompanhada da demonstração do valor faltante pelo réu (parágrafo único 544). Se acolhido o argumento pelo juiz, haverá condenação do autor, independente de reconvenção, no pagamento do valor faltante, por isso se considera que a ação de consignação pode ter um caráter dúplice. A sentença valera como título executivo judicial, executável nos mesmos autos (art. 545, par. 2). É facultado ao autor complementar o valor, em 10 dias (art. 545, cpc). Realizado ou não o depósito complementar, o réu pode levantar o valor parcial, desobrigando o autor na medida da parcela levantada. 10. Sentença Procedência: extinção da obrigação com condenação do réu na sucumbência. Improcedência: quando indevida a consignação (devedor levanta o valor) ou insuficiente (título judicial em face do devedor). É predominantemente declaratória, pois libera o devedor da obrigação. Mas pode ter conteúdo condenatório quando o depósito é insuficiente. 11. Hipóteses especiais de consignação a. Pagamento de aluguéis (Lei 8254/1991, art. 67) b. Consignação tributária (CTN, art. 164) CASO PRÁTICO 1 Ernesto é vizinho de Romildo, que tem uma dívida de dois mil reais com Agnaldo. Conforme o contrato celebrado entre este e Romildo, a dívida deveria ser paga no prazo de doze meses, no domicílio do credor. Ocorre que Agnaldo mudou-se sem informar onde passou a residir, tampouco deixando outros dados para contato. Diante dessa situação, passado o prazo para pagamento e vendo que Romildo está com dificuldades financeiras, de modo que não poderia cumprir a prestação, Ernesto, amigo de longa data, ajuíza em nome próprio, ação de consignação de pagamento, para liberar Romildo da dívida. A consignação é então acolhida, já que devidamente depositado o valor, declarando o magistrado a sub-rogação de Ernesto nos direitos de credor. A decisão do magistrado foi a adequada? CASO PRÁTICO 2 Romálio contratou, para auxiliá-lo no gerenciamento de seu patrimônio pessoal, os serviços da Canarinho Contabilidade Ltda. O contrato previra a possibilidade de sua denúncia unilateral, por qualquer das partes, "mediante a concessão de um pré-aviso de 30 (trinta) dias". Frustrados seus planos profissionais para o futuro próximo, Romálio resolveu, por conveniência própria, denunciar o contrato, convocando os representantes legais da Canarinho Contabilidade Ltda. e entregando-lhes carta, mediante recibo, notificando-os de sua intenção. Passados trinta dias, Romálio procurou a Canarinho Contabilidade Ltda. em sua sede (local do pagamento, segundo o contrato), para viabilizar o pagamento da última parcela e, para sua surpresa, a sociedade negou-se ao recebimento porque pretendia indenização maior, por lucros cessantes. Na qualidade de advogada(o) de Romálio, diligencia no afã de seus interesses. Atente que Romálio é domiciliado no Rio de Janeiro, ao passo que a Canarinho Contabilidade Ltda. tem sede em São Paulo, no bairro da Liberdade. O valor pretendido pela Canarinho é de R$ 10.000,00 (dez mil reais). Questão 1 - (Ano: 2014-Banca: FCC Órgão: TJ-AP Prova: Juiz). Em relação à consignação em pagamento, é correto afirmar: (A) Tratando-se de prestações periódicas, uma vez consignada a primeira, pode o devedor continuar a consignar, no mesmo processo e sem mais formalidades, as que se forem vencendo, desde que os depósitos sejam efetuados até cinco dias, contados da data do vencimento. (B) A sentença que concluir pela insuficiência do depósito consignado remeterá as partes às vias ordinárias, defeso apurar nos próprios autos o montante devido. (C) Requerer-se-á a consignação no lugar do pagamento, cessando para o devedor, tanto que se efetue o depósito, os juros e os riscos, salvo se for julgada procedente. (D) Se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o pagamento, o autor requererá o depósito, podendo os que o disputam levantá-lo proporcionalmente desde logo, se prestada caução nos autos. (E) Não oferecida a contestação, com a ocorrência da revelia, o Juiz deverá julgar improcedente o pedido, sem condenação nas verbas sucumbenciais, por ausência de resistência ao pedido. Questão 2 - (Ano: 2011 - Banca: FUNDATEC Órgão: PGE-RS Prova: Procurador do Estado) Sobre a ação de consignação em pagamento, é correto afirmar que: (A) O réu não poderá alegar, em sua contestação, justa causa na recusa do pagamento. (B) Para alegar, em sua defesa, que o depósito pelo autor não é integral, necessita o réu indicar o montante que entende devido, sob pena de inadmissão de sua alegação. (C) Quando a ação for fundamentada, pelo autor, em dúvida sobre quem seja o legítimo credor, e comparecendo mais de um credor, o juiz deverá declarar efetuado o depósito e extinta a obrigação, passando a correr o processo, sob o procedimento ordinário, unicamente entre os credores, independentemente das alegações por estes apresentadas em suas defesas. (D) A sentença que concluir pela insuficiência do depósito imputará ao autor os ônus sucumbenciais e autorizará o réu a mover ação de conhecimento própria para a cobrança da diferença devida. (E) Ela é admitida apenas para a consignação de quantia certa em dinheiro.
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