Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
";• ?gor. ALA!LSON f - Cu ~SO D£ £TIC A DlKElTD : zo 3 ' ., ' . ETICA E RESPONSABILIADE: Hans Jonas e as desafios de uma nova etica Jelson Roberto de Oliveira Nasctdo em 1903 na Alemanha, n fil6sofo JUdeu Hans Jonas frequentou desde 1921 as aulas de l\la11 in Hetdegget 11<1 Untverstdade de Ftetburg n quem acompanha, em 1924. a Marburg, ctdade na qual conhcce Rudolr 13ulunann, um dos mats innuentcs teologos do seculo XX Em tot no desses Jots no mes, Jonas clabora sua tese sobre a gnosc no cnsr iantsmo prtmttivo, mas em 1934 e obngado a migtat para os Estados Untdos po t ca usa da ascensao do naztsmo ao poder na Alemanha Em tetras none-a mettcanas, sc dedtca aos estudos de btologta t' publtLa, em 1966, 0 fJI'/1/CifJIOI'Ida . j undcllllt'mos para 111110 h1olog'a ate que, em 1979, publtca a obra gela qua l sena - .- t~ uodta I m..<~nte.. O...P...!J!.!i'J!'~) responscz!!_llu!!!!.f.e.....£.!121LO_ de uma etica para a Clvtlwzrcio tecnologlca.- \- ~ --· - ~Os estudos de btOiogta levaram :!.on~s a aproximar o que se costuma pensar d~ forma separada a auvidade mental e os - ----de~~.~-2.t.:~11 iSn10S v.1vos; as formas orgamcas e as esptrituais. o scr humano e a natureza, a busca pelo sentido da vida e o conhectmenro crentifico; J ciencia e a etica. Partt ndo de um desacordo em relac;:ao a tcse que remonta ao fil6s0fo fr~nces _ - -- --· -Rene Descartes. Jonas tcnta aprox1mar o que c ttdo como pr6prto ------- - ---· - ·---- 188 Jelson Roberto de Oliveira do homem , a atividade racional (nas palavras de Descartes: res cogirans, cois; pen;-nt.e) , daquilo que e CQ.n~iQ_er~O 110 ~as._o empirico (res extens_a,_ c~ta exten~ ...... Q§_£9_pos). Se~undo Hans Jonas, essa divrsao, cuja influencia se desdobra em toda a era ---~ -------------------------------moderna , leva a suposi~ao de que a natureza (es exren 1 ste --=----por sr mesma como algo a se_r medi o e _Eesado, calculado '---7~atematic~memee e~o materialmente. Uma "visao exclusiva" (que exclui) do homem em rela<;:ao a natureza lhe fornece certa sensa<;:ao de privilegio ante outras formas de vida e faz com que as ciencias da natureza ignorem as dimensocs "interiores'' e avaliem mal o proprio fen6meno da vida como urn todo, por meio da distin~ao entre "animado" e "manimado" ~l~cada _ap~oas p.elit_ via do gue e material , nada mais seria , segugdg . .LOll..t!_S..!. do que u.!!l~-~jsao limitada e uma rna compreensao do misterio do que e vivo, aquila gue traz desde ·- - -- ·---, .... --sc:~pre pen~ro dU!_'' um horizonte de ' transcendencia"'.'~ Atraves de uma analise critica e uma fenomenologra, o fil6sofo se expressa em especula~oes que ten tam compreender o fen6meno da vida em sua plenitude. A sua analise conduz a afirrna~s ciencias (e, em e= tecnico-aenrwZ<U.__E!arrarcta'S'"llOs ulti mos seculos~or estai"!m ----------baseadas nesse du_ajism_g ll)~ja e.es.girito e pomrem foroeci.Q_o_ ao homem urn poder ilimitado sabre a natureza, tern levado a . ---· - -· ·-··- - ···---------- ren.ov_gQ.~~~!..Ye~ig_9s~ s. con~~~ncias , -~x r gi n do, portantQ, ~-rrL.l1~:_spo_nsavel de ~~~~- ~,;_ Assim, vemos de que forma o pensamento de R ans Jonas, de uma tentativa de explorar o fen6meno da vida de iorma complexa e integral (o que implica a supera<;:ao de murtos dualismos) chega a uma critica a ciencia enquanto poder sabre a natureza e, consequentemente, a uma admoesta~ao etica que cobra uma postura responsavel no seu uso. Isso porque, segundo o fil6sofo, fttca e responsabtltdade 189 a na tu reza pi apresen ta (ele escre\e rsso nos anos 1970, niin esque~a mos!), em forma de da no e preJurzo, srnais de uma crrse que coloca em xcque aquele que e 0 prr ncrpro euco fu ndamental a cxistencra e a promo~ao da proprra vr da 0 "pnnci pro vrdt~" leva entao ao "prlllcrprn responsabrhdade" Ja no prefacro de seu lrvro Hans Jonas (2006, p 2 1) resume a 5ua r nten~ao "A tese de pa rttda deste livro e que a promcssa da tecnologia moderna se conven eu em ameac;a, ou esta se assocro u aquela de for m.t rndrssoluvel. " Uma amea~a que, para o aut or, nao e apenas um.t amea~a fisica, mas urn ultimata moral e civilizar6ri o. Ha dois pontos rmportantes quan ta a rsso, que devem SL'r ressaltados. Pnmerro· nao se sa be sc as prevrsoes catastr6ficas s.ubJ e ...---...._._ ·--- a crise ambientallevarao a extins:ao da vida, como ~!gu ns cre.DJISlf.!S defendem, mas etas rndrcam a urgencia de que deterllJ..i nado .JCIIn d~r precrsa motTer para gue a vrda como _um rqdo_g_r~_os::.rvel.-, S~o: a crrse ambrental J<i esta levando a _ex trnc;ao de mrlh~·s de espec ies vrvas na te rra, no a r e nos mares, e qualq uer l~eocu_m~saQ que I eve em coma apenas a vrda hu maiianao passarrc1 de mais urn tipo ~e antropocentnsmo sena pqssiv!_!~ o homem se "sal'l!asse" ainda que_asdemai$formas de_ vida 9~s~arec;am ou rnes_!!l.Q.sejam red uzrd <ts calam llosamenter--'t E por rsso que llans Jonas recusana as teses de certn ecologrsmo vulgare mesmo de novas formas de antropocenttrsmo praticadas em nossa socredade egocenrnca (pensa em si) e hedonrsta (busca o pr6prro prazer) para ele a vrda deve ser pensada em sua magnrtude, como urn fen6meno grand iose e che10 de mrsterros que ultrapassa a forma material e as nossas pr6prras condrc;ocs epistemol6grcas de compreensao. Salvar a vrda e salva-la em sua tntegridade essencia l: nao s6 o "desuno do homem " e a sua "sobrevrvencta fisica , mas tambem a rntegridade de sua essencia" (JONAS, 2006, p. 2 1) deve ser buscada. Esse e o novo e mars I II I 190 Jelson Roberto de Oliveira urgente requisito da etica. E ele nasce da capacidade que temos de transformar a " previsao do perigo" numa "heuristica do rnedo": com a antevisao da destrui~ao poderemos pensar as condt~oes para que ela seja evitada. Sabemos que hoje a natureza se apresenta em suas catastrofes e fl age los que atingem a vida como u m todo· como estrago e como lesao fatal , essas calamidades ex igem que a etica, entendida como a ciencia do bern e do mal , estabe le~a os limites da ac;:ao humana nao apenas no amb ito da "ctdad e" (enquanto artefato da civiliza~ao humana), mas no do minio da " natureza". Os limites das eticas tradicionais Para Hans Jonas, a natureza (esfera extra-humana.da.Yida) --tambem deve ser pensada corno.espaco eticoja que nela ~-!!l~ni_tude d~ ~~~o hu~n~ t~'!!.~.eitog leva a consequencias danosas. Se o pensamento etico se efetiva como uma pergunta sobre a condi~ao hu mana e pelos fundamentos de sua a~ao entre os demais seres vivos, entao o alcance da interven~ao deve sempre ser gu iado por urn principia basico, o principia do respeito e da responsabilidade. O ra, no passado, segundo Hans Jonas, esse pensamento es ta va limitado a dois ~ntes: o princip ia da inviolabilidad e da natureza e a dimensao limitada do poder humano sabre ela. Ambos sao fatores interligados que li mita rao o horizonte da etica ocidental a te o seculo XX. Quanto ~~o, o exe nti u · de comprova o fato de _qu_eA.,~t~~~iderada urn "campo neutro" sobre o qual o homem, com a for9a da re fl exao, do -· -·--- -· - discurso e da tecnica agia segundo as suas necessidades. acreditando .. . .-.. ·· - ··· -- ·-··--·· -- que as suas a~oes "deixam inalterada a na LUreza abrangente desses .. . . .. ··-··- _ ___ ... -~- .. -_... - Etlco e responsabtftdade 191 dominios e nao prejudicam suas for~as geradoras" (JONAS, 2006, p. 32) 0 homem se via como u m ser pequeno e inofensivo ante o tmenso poder da natu reza e, pot tsso, o uso de sua liberdade e vo ntade nao e ncont rava nen hu m limlle, ja q ue qualqucr empreendtmento de sua pane nao trana nenhum tmpacw co nstderavel sobre a tmenstdao da terra, do mar e das demats esf'eras natura is Real mente, afi rma Jo nas. a nugament e " .1-; mferenctasJo homem na natureza, tal como ele pr6pno a:o. vta , eram essenctalmente superfietats e tmpotentes para prejudtcat um equtlibtto firmemente assemado" (JONAS, 2006, p. 32) Essa confian~a Jevou o homem a cnar a "ctdade" como artefa to de suas proprias maos. como uma forma de autopreservac;ao e autoconserva~ao ante as lor~as hostts da na tut eza. Como a ma iot das obras huma nas, a cidade, ao contrimo da natureza, se apresenta como vtOiavel, urn espa<;o capaz de se deteriorar e desencaminha r. Por isso, logo foi prcciso inventa r a cttca, como um a fo rma de garantir as condic;oes min imas de sobrevivencia dentro do ambiente arti fi cial da ctdade: as no rmas mara is tinham como intu ito garanti r a convivenCJa dentro do ambllo lim itado da cidade. Porra nto, a etica era vista nesse es pa~o ct rcunsc rito e nele era pensada a responsabi lidade huma na, porq ue se acreditava que s6 ele poderia ser atingido ou a lterado pelas a~oes do homem . Q uanta a natureza, malgrado a i n terven~ao e a inventividade humana, e la "cuidava de si mesma", o u seja, nao precisa ria de q ua lquer norma etica que limitasse 0 agir humano, ja que 0 poder tecntco, limitado a real iza~ao das necess idades, s6 a afetava de fo rm a superfictal Assim, essas duas crenc;as (a inviola bilidade da natureza e a di me nsao limi tada do poder hu mano) fo ram as bases de todas as eltcas a te o presente, segundo Hans Jo nas. Segundo ele, essas eticas apresentam c inco caracterisricas comuns : I) todo o .· I 192 Jetson Roberto de Oliveira mundo extra-humano era cons1derado neutro, ja que "a a tua~ao sabre objetos nao humanos nao formava urn dominio eticamente s ignificative" (JONAS , 2006, p. 35) ; 2) toda et ica era antropocentrica, porque pensava as rela~oes de urn homem com outro homem; 3) o homem era cons1derado constante do ponto de vista de sua essencia, ou seja, ele nao era pensado como obJeto da tecnica "reconfiguradora"; 4) o bern e o mal de uma ac;ao eram medidos do ponto de vista imediato, do ponto de vista do tempo e do espa~o (tratava-se de uma et1ca do aqui e do agora), 5) todas as maximas dessa etica revelam esse "confinamento ao circulo imediato da a~ao" (JONAS, 2006, p. 36). Assim, OS adagios eticos demonstram OS l1mites da e11ca tradicional e a sua insuficiencia para a conjuntura do mundo contemponineo. Hans Jonas aponta, por exemplo, os limnes de imperatives como: "ama o teu proximo como a ti mesmo", "faze aos outros o que gostarias que eles fizessem a ti" , "instrUJ teu filho no caminho da verdade", "almeja a excelencia por meio do desenvolvimento e da realizac;ao das melhores possibilidades de tua existencia", entre outros exemplos. Em todos esses exemplos, destaca Jonas (2006, p. 36) , "aquele que age e o 'outro· de seu agir sao participes de urn presente co mum " 0 holizonte dessas afirma~oes sao os homens contempodineos (nao ha pensamento sabre o futuro) e o espa~o e o Iugar no qual eles se encontram . Criticando as afirma~Oes do fil6 sofo al emao Emmanuel Kant (1724-1804) , Jonas assinala que esse 11 po de teoria desmereceu a relevancia do conhec imento cognn• vo fornecido pelas ciencias: ninguem pode ser julgado se nao souber medir o alcance das consequencias de suas a~oes. Hoje, ao contnirio, com as informa~oes disponibilizadas pelo conhecimento cientifico a respeito dessas consequencias, a etica nao pode fechar os olhos, de forma irresponsavel , para essas [Ilea e responwbl!tdade 193 mfo1 mac;oes Ao contra rio, roda etJca atual, dll'erentc dn qul' f'ni fc11o no passt~do, de,·e to1 naJ JmprcscJndl\·el n reconhct 1111entn desse .1ahe1 dtls a>nll'tflthmas fo 1 nec1do pe l as CICilCJas em geral Aqullo que em Kan t se chama de JmpeJ<ltlvo categt.)JJL'O t' es1a exp1esso na f1ase "c.IIJ de tal modo I.}UL' Ill tambem po-;s.l ~ qucn.>1 que 1u,1 max 1m a se 101 ne le1 gera I". apa Jl'Ce .1 11 ans Jnn.1s como algo lllsuficJcnteJa que es1a reduz1do a urn upn de e.\t'Jt 1un de pode1 ava l1ado Jc fo1 ma 1ngenu a, sc m que sc Jcnh.t conhec1 men I o das vcrdade1ras consequcncJas do seu exe1uuo Os desafios de uma nova etica Esse dJagn<)sttco faz com que Hans .Jonas esboce as JHlvc~s d1mensoes da 1esponsab!IJdade que estao l 1gada~ .1 Jlll\.1 d11nensao do pode1 de 1 nte rven~ao humana sobre a natLIICl.t As ant tgas pt escru;oes a 111da de vern ser segu1das no a mbno d.t "c1dade", mas elasJ<i nan basta m para que a v1da se.1a g<uan11da . 0 n0\ 0 sabe1 lecno-c1ent ifico, com todas as suas info1 mac,.·{k's t' 111SlllJ mentos de descJJt;ao e ca lculo da na ILII cza. ob1 1g<1 ;1 t'lJC.l a penSa J 0 t'XC'ICICIO dessc poder piHa aJCm do ambitO llllJ'il huma no Ja que o pouer humano ho.1 e equ1vale ao pode1 n.Jltll '<ll (basta medu c1 capac1dade de 1mpacto de tecn1 cas us,tdas pelo homem, tomo a bomba at6mJCa, ou mesrno as dema1s fo1mas de gerar;.io de energ1a- so pra CJtaJ um cxemplo) a no\a et1ca prec1sa se alarga r pa1a abranger esses novos territ6nos ate onde chega o poder humano. Em outras palavras: como se desenvolveu 0 poder e preCJSO desenvolver ta mbem a etica, ja que uma COISJ extge necessa riamente a outra (o poder ex ige etica porque o seu exercicio deve ser reno com responsabi lidade). 194 Jelson Roberto de 0/tvetra 0 crescimento do poder e resultado, outrossim , do cresctmento do saber: as informa«;:oes hoje disponibilizadas pelas varias cienctas da vida, de maneira especial a ecologia, alteraram no homem o calibre e a extensao do poder, mas, sobretudo, o conhecimento das consequencias (maleficas e beneficas) do seu exercicio E~mulo de conbecjmeiJ!9 moslra tres coisaSJlOvas~ pnmetro, que a O_!!tureza, ao contrano do que se__pensavano p~ ~ --·--•- •- I e vulneravel e ja sofre ~ formq_i.rreversivel e cumulativa as danos ._____ ..---- _I produzidos pela a«;:ao tm ruden~_9.Q.. homem~~~!ldo, que a nova ettca ~£...£~~ster ~~ss~. saber, . .!I!a~ao contra rio, deve aproveitar dessas mforma«;:oes para mensurar a condi~ao global da vtda eo ru~ro d~;-da .especie ~m!lE~; t;rc~~Lgue e EEe<:i_so pensar num novo "dtreito m_or?_!_ e!"~erio da natureza" (JONAS, 2006. p 41 ), vislumbrando-a nao mais como alga inerte e mativo, mas como um bern confiado ao homem e, como tal , capaz de tmpor a ele exigencias mora is. A consequencia dessas afirma~oes e que a nova etica precisa levar em conta o bern de todos (nao so o humano) e de todos os tempos (nao s6 do presente). Asstm, a nova etica esta erguida sabre dais pontos principats: pnmeiro, sabre um indeferimento da superioridade da racionalidade tecnica humana sabre as demais seres vivos, o que significa uma recusa da superioridade do homo faber (homem que faz) CUJO enrustasmo incoerente subjuga o homo sapiens (homem que pensa), segundo, urna supressao da fronteira entre a "cidade" au o Estado (o mundo da polis) e a "natureza", ja que uma e outra esUi.o confundidas no mundo contemporaneo, ja que "o natural foi tragado pela esfera do artificial" (JONAS, 2006, p. 44). Do ptimeito caso nasce a necessidade de refletir sobre a tecnica como uma voca~ao humana, mas despi-la desse infinito impulso e desse ccgo triunfo. Da segunda nega~ao advem a exigencia de que a etica pense a conserva~ao do mundo fisico de forma a garanrir a existenCia Ettca c responsabtltdade 195 da propria vtda no futuro. F nao ha outra cxtgencttl m.lts gril\l', urgente e unpel!osa para a ettca do que <l vtda Pot !SSO, 0 novo tmpCl<Hl \'0 ei!CO esbo~.ld n J101 Han.; Jnnas Sera lladu ztdO l'Ol max tmas que JeVil lll em COn ta CSSciS tHl\ tiS dtmensoes da r e l a~·;to ent re sabet, potler e res ponsabtl tdade ·,qa de modo a que os efet tos da IUJ .H,:.'in se (am u)mpal!Vt'l' U)tll .t per ma nencra tle uma .Jutenttca vtda humana sobre a Tetta" <Ht "aja de moJ o a que OS erer tos O<l lUil a~ao niio SCja t11 de'ittlllt\'()~ para a possibtltJadede uma 1.11 \ td.1' (JON,\S, 2006, p •17) . entte nuuas fo tmula~<)es desse upo Retomando a t clar;ao ant tga (J<i pt esente em At rst t"Ht'ks) entt e e trca e poltttca, ll<tns Jonas sa be que essa nova cttta <lclqlttn• uma dtmens<io publrc<l e cx tge um J po lruc,t puhltc.t que -;t• sobreponha ;1 a~ao pt ivada Se n.ts ettcas ll'adtc!Oilats l) clllll)t tdentrficara ret to tndtvtd ua ltsmo e amropotenll tsmo. n.1 llll\"tt ett ca e le acl(l na o prin ci pt o d rl po lill ca cn mo espt~c;n de transror ma<;ao, .1 a que "o novo rmperauvo clamtt po t mttta coerencta nao a do ato constgo mesmo, mas a dos seus ckltos final S para il CO ilt ltlU!dade da <lll Vtdade huma na no rutul()" (JONAS, 2006, p. 49). Dada a gra nd10s idade do podcr e a magnllude da nova ex tgencta euca , nan basta ma rs <l .~~,1o pnvada para a mudan <;a das condutas. m;1s se entra .1gma na area das poliucas publtcas e das legrslar;oes gerats que dl't'lll cumpnmento c eretivrdade aos novos tmpe rat rvos Mas isso e real mente novo? Hans .f,,n, c;, no fina l do prime11 o capttu lo de scu ltvro, no qual, c ·L vtu ate aqut , es tao a penas esbo<,:.tdas .t<; ptemtssas gl' tdlS e como que 0 pano Je fun do da 11 0\il elttd I . 196 Jelson Roberco de Ollvetra da res ponsa btl ida d e (q u e se ra tra tada n os capit u los subsequcn tes), pensa cn ttca mente sobre as eucas antigas na sua pretensao de ta mbem se defi ni rem como "eucas do futuro'' Sao tr es os modelos analisados pelo autor· a ctica re!:gtosa que gu ra a vida terrena pe lo ideal de felicidade a lem-mundo, aquela do previdente legislador e estadista que busca o bern comum tambem no fu turo; e as polit tcas da u topia, en tre as quc.1is se destaca o marxrsmo. Quanto a pri metra forma de etica do fu turo (de tipo reltgtnso), Jonas ava lia que ela posrul a o futu ro como um "Iugar absoluto, aci ma do presente", tendo como grande mconveniente a redu~ao desse presente a uma "mera prepara~ao" (JONAS, 2006, p. 5 1) em re la~ao ao futu ro. Essa forma de agir gut ada por u rn sentido religioso, qualificaria o ind ividuo a alcan~ar esse futu ro esperado, o que faz dela nao mais do que uma etica da simultaneidade e da imediati cidade, ja que o futuro so existe em fu n~ao do presente, no qual, conforme a medida da autoperfe t~ao a lca n~ada, ja se pode adia nta r o gozo da "recompensa eterna", a qual, alem de tudo, nao passa de uma aposta cheia de riscos. Sua in tui~ao tern sempre em vista o presentee nao o futuro Qua nta ao segundo tt po de e t ica do futu ro, aque la represe ntada pelo estad isra ou legtslador, Jonas tambem afirma que ela nao passa de uma etica temporal, ja que o es fo r~o desses homens e "cri ar uma estrutu ra politica vtavel, e a prova da viabi ltdade esta na dura~ao, a mais malterada passive!, do que foi criado" (JONAS, 2006, p. 53). Em out ras palavras, o ideal de todo estadista e legislador e garanrir no futuro as benesses do presente. 0 melhor de agora seria o melhor para o fu turo e, assim , nao e 0 futuro que conta, mas 0 presente. 0 futu ro como desejado pelos estadistas e aquele que perpetue no futuro aquila que foi justificado como melhor no tempo presente. "1 t11ca P tesponsabtltdade 197 Po1 fim, o teH.elln 11po de dtca do luturo tamhem ni'to passa11<1 de algo mullo ltmrt,ldo, atnda que traga algum det.1lhes que ,, drfcrcnuam dns outms Jots trpos a utopia mode111J Segundo Jonas (2006. p 54), essa ettca da utopra prcssupoe uma idettl de escatologrc1 que nao extstta no passadn 0 aqut en ,Jgota nas eticas utoptLas, "e sobrepuJado pela expectativa do lim , mas nao e tncumbtdo de sua Jealtza~ao at tva" 0 problema c; que, muitas vczes, algun~ tndtviduos ou grupos soctats tom.ll'am em suas pr6pnas maos ll rcaltza<,:ao Jesse fim. sempte em fun<,:iio de uma mem alit ma<;"ao do seu poder no presente Somentc com a ascensao moderna dt1 tdew de pmgresso (a qual remont<t as tdcias de Francts Bacon e. mats rccentememe, a Augusto Cnmtl' ou mesmo l legel) o homem come~ou a se dat cnnra de 4ue ··n presentee uma etapa pteparatona para o futuro" (JONAS, :::'006 p 55) A liloso fic~ da htst6tta mat xrsta e apresentada como aquela que consegutu, linalmen te, pensar o fu turo cnquanto tal, um tempo que nao sera usuf't UJdo por aqueles que o pensam· "/\ ob11ga~ao para com n ptescnte p1ovem de Ia, e nao do bcm-cst.lt ou do mal-esta1 tie seu muntlo contemporaneo" Essa "et1ca da esca tologta tevolucronatra" ve a si mesma, afirma llans Jonas, como algo ttilnsllonn. uma ponte para o futuro 1\ L:OI1dUSciO e, l'lltClO, que I.'X!Stl' Jc.l uma CIICil do luturn, tal como se apresema a ettca utopKa marxtsta , com a qual Hans Jonas se sente tdentrftcado, cmbora aponte dtscrepancws que a dtst.tnctc da ettca POl cle formulada como antr-escato16gica (do grego t•sdrclfOS, que Significa "final") C antJUtOptCa 0 futuro para Jonas nan C lll11 "tempo final " e multo menos um "tempo ideal", mas e stmplc.,mentc Ul11 tempO futuro no qua( a Vtda a111da pOSSa existir e para 0 qua( C prects~ fot mular uma etica de previsao e de responsabilidade Por isso, no final do pnmeiro capitulo de seu livro, o autor trata das tecntcas que criam no homem a ideia de futuro como I 202 Jelson Roberto de Oliveira consegue mais enquadni-las. [ ... ]De certo que as antigas prescri~oes da etica 'do proximo' - as prescri~oes da justi~a. da misericordia, da honradez, etc. - ainda sao va lidas, em sua 1mediaticidade intima, para a esfera mais proxima, quotidiana , da intera~ao humana . Mas essa estera toma-se ensombrecida pelo crescenre dominio do fazer coletivo, no qual ator, a~ao e efeito nao sao mais os mesmos da esfera proxima. lsso impoe a ctica, pela enormidade de suas for~as, uma nova dimensao, nunca antes sonhada, de responsabilidade" (JONAS, 2006, p. 39). 8~ferencias JONAS, H. 0 prinCijno vida. Fundamenros para uma btologia fil os6fica TradUI;:ao de Carlos Almetda Peretra . Petr6polts· Vozes, 2004 ___ . 0 pr111cipio responsablfidadc. Ensaio de uma etica para a civiliza~ao tecnol6gtca . Tradu~ao de Marijane Lisboa e Lm: Barros Montez. Rio de Janeiro: Contraponto; PUC-Rio, 2006. - Questoes para reflexao e debate - I . Para Hans Jonas, a for~a do poder tecno-ciemifico se alargou imensamente a panir da modernidade. Em que setores da vida humana podemos detecrar esse aumento do poder do homcm sobre a natureza? De exemplos c comente as principats consequenctas desse novo poder. 2 . A natureza se mostra vulneravel ante esse poder. Voce concorda que cia tcnha, segundo as palavras do autor, urn "dtielto moral proprio"? Como "bern a n6s confiado" sera que a natureza esra meramente a nosso servt~o I i I I l I J I Et1co e responsobihdode 203 C'u cia cxigc o rcconhcltmemo de "fins em s1" pcHa alem da esfeta humana.., De que forma esse dircllo proprio da nanucza podena ser garanudo pclo ser humano7 3 Para o .1u1or, o novo 1mperauvo cuco devctta scr "AJa de ll1•1do a que os efe11os da tua .u;ao ~CJ<I111 wmp.tlivets com a permanent:ta dL uma au1en11ca v1da humana sobrc ,1 Terra" r:xpltque comn ek l hcga a esse lmpctali\O c.1 panu JJ unallsc Jo .lrnhito cxtra-humann c dn luturo, comll rcqu1sttos da nova CIICa da rcsponsJbtlldadc. Sugestoes de filmes HISTORI A das coisas Documentano Narrado por Ann1c Ll'onurd 2007 I DVD (2 I mrn) UMA VERDADE tnconvenren tc Documen1<ino Duec;ao Davi:- Guggenhclm Produc;ao LaUI 1e Davtd, Lawrence Bender c S..:on Z Burns . [S I ] · Paramount , 2007 I DVD (96 mm) NTSC son , color, 4 •,, pol Sugestoes de leitura LOVELOCK, J A vlllgclll(tl dL" Gt.Jw Rto de Janetro lntrinseca. 2006 OLIVE IRA, J, UORGES, W £uu1 dr Gaia. fnsatos de elica socioambtcnt,tl Sao P,llllo Paulus, 2008
Compartilhar