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";• 
?gor. ALA!LSON 
f 
- Cu ~SO D£ £TIC A 
DlKElTD : zo 3 
' 
., 
' . 
ETICA E RESPONSABILIADE: 
Hans Jonas e as desafios de 
uma nova etica 
Jelson Roberto de Oliveira 
Nasctdo em 1903 na Alemanha, n fil6sofo JUdeu Hans 
Jonas frequentou desde 1921 as aulas de l\la11 in Hetdegget 11<1 
Untverstdade de Ftetburg n quem acompanha, em 1924. a 
Marburg, ctdade na qual conhcce Rudolr 13ulunann, um dos 
mats innuentcs teologos do seculo XX Em tot no desses Jots 
no mes, Jonas clabora sua tese sobre a gnosc no cnsr iantsmo 
prtmttivo, mas em 1934 e obngado a migtat para os Estados 
Untdos po t ca usa da ascensao do naztsmo ao poder na 
Alemanha Em tetras none-a mettcanas, sc dedtca aos estudos 
de btologta t' publtLa, em 1966, 0 fJI'/1/CifJIOI'Ida . j undcllllt'mos para 
111110 h1olog'a ate que, em 1979, publtca a obra gela qua l sena 
- .-
t~ uodta I m..<~nte.. O...P...!J!.!i'J!'~) responscz!!_llu!!!!.f.e.....£.!121LO_ 
de uma etica para a Clvtlwzrcio tecnologlca.- \-
~ --· -
~Os estudos de btOiogta levaram :!.on~s a aproximar o que 
se costuma pensar d~ forma separada a auvidade mental e os 
- ----de~~.~-2.t.:~11 iSn10S v.1vos; as formas orgamcas e as esptrituais. o 
scr humano e a natureza, a busca pelo sentido da vida e o 
conhectmenro crentifico; J ciencia e a etica. Partt ndo de um 
desacordo em relac;:ao a tcse que remonta ao fil6s0fo fr~nces _ 
- -- --· -Rene Descartes. Jonas tcnta aprox1mar o que c ttdo como pr6prto 
------- - ---· - ·----
188 Jelson Roberto de Oliveira 
do homem , a atividade racional (nas palavras de Descartes: res 
cogirans, cois; pen;-nt.e) , daquilo que e CQ.n~iQ_er~O 110 ~as._o 
empirico (res extens_a,_ c~ta exten~ ...... Q§_£9_pos). Se~undo Hans 
Jonas, essa divrsao, cuja influencia se desdobra em toda a era 
---~ -------------------------------moderna , leva a suposi~ao de que a natureza (es exren 1 ste 
--=----por sr mesma como algo a se_r medi o e _Eesado, calculado 
'---7~atematic~memee e~o materialmente. Uma "visao 
exclusiva" (que exclui) do homem em rela<;:ao a natureza lhe 
fornece certa sensa<;:ao de privilegio ante outras formas de vida e 
faz com que as ciencias da natureza ignorem as dimensocs 
"interiores'' e avaliem mal o proprio fen6meno da vida como 
urn todo, por meio da distin~ao entre "animado" e "manimado" 
~l~cada _ap~oas p.elit_ via do gue e material , nada mais 
seria , segugdg . .LOll..t!_S..!. do que u.!!l~-~jsao limitada e uma rna 
compreensao do misterio do que e vivo, aquila gue traz desde 
·- - -- ·---, .... --sc:~pre pen~ro dU!_'' um horizonte de ' transcendencia"'.'~ 
Atraves de uma analise critica e uma fenomenologra, o 
fil6sofo se expressa em especula~oes que ten tam compreender o 
fen6meno da vida em sua plenitude. A sua analise conduz a 
afirrna~s ciencias (e, em e= 
tecnico-aenrwZ<U.__E!arrarcta'S'"llOs ulti mos seculos~or estai"!m 
----------baseadas nesse du_ajism_g ll)~ja e.es.girito e pomrem foroeci.Q_o_ 
ao homem urn poder ilimitado sabre a natureza, tern levado a 
. ---· - -· ·-··- - ···----------
ren.ov_gQ.~~~!..Ye~ig_9s~ s. con~~~ncias , -~x r gi n do, 
portantQ, ~-rrL.l1~:_spo_nsavel de ~~~~- ~,;_ 
Assim, vemos de que forma o pensamento de R ans Jonas, 
de uma tentativa de explorar o fen6meno da vida de iorma 
complexa e integral (o que implica a supera<;:ao de murtos 
dualismos) chega a uma critica a ciencia enquanto poder sabre a 
natureza e, consequentemente, a uma admoesta~ao etica que cobra 
uma postura responsavel no seu uso. Isso porque, segundo o fil6sofo, 
fttca e responsabtltdade 189 
a na tu reza pi apresen ta (ele escre\e rsso nos anos 1970, niin 
esque~a mos!), em forma de da no e preJurzo, srnais de uma crrse 
que coloca em xcque aquele que e 0 prr ncrpro euco fu ndamental 
a cxistencra e a promo~ao da proprra vr da 0 "pnnci pro vrdt~" 
leva entao ao "prlllcrprn responsabrhdade" Ja no prefacro de seu 
lrvro Hans Jonas (2006, p 2 1) resume a 5ua r nten~ao "A tese de 
pa rttda deste livro e que a promcssa da tecnologia moderna se 
conven eu em ameac;a, ou esta se assocro u aquela de for m.t 
rndrssoluvel. " Uma amea~a que, para o aut or, nao e apenas um.t 
amea~a fisica, mas urn ultimata moral e civilizar6ri o. 
Ha dois pontos rmportantes quan ta a rsso, que devem SL'r 
ressaltados. Pnmerro· nao se sa be sc as prevrsoes catastr6ficas s.ubJ e 
...---...._._ ·---
a crise ambientallevarao a extins:ao da vida, como ~!gu ns cre.DJISlf.!S 
defendem, mas etas rndrcam a urgencia de que deterllJ..i nado .JCIIn 
d~r precrsa motTer para gue a vrda como _um rqdo_g_r~_os::.rvel.-, 
S~o: a crrse ambrental J<i esta levando a _ex trnc;ao de mrlh~·s 
de espec ies vrvas na te rra, no a r e nos mares, e qualq uer 
l~eocu_m~saQ que I eve em coma apenas a vrda hu maiianao passarrc1 
de mais urn tipo ~e antropocentnsmo sena pqssiv!_!~ o homem 
se "sal'l!asse" ainda que_asdemai$formas de_ vida 9~s~arec;am ou 
rnes_!!l.Q.sejam red uzrd <ts calam llosamenter--'t 
E por rsso que llans Jonas recusana as teses de certn 
ecologrsmo vulgare mesmo de novas formas de antropocenttrsmo 
praticadas em nossa socredade egocenrnca (pensa em si) e hedonrsta 
(busca o pr6prro prazer) para ele a vrda deve ser pensada em sua 
magnrtude, como urn fen6meno grand iose e che10 de mrsterros 
que ultrapassa a forma material e as nossas pr6prras condrc;ocs 
epistemol6grcas de compreensao. Salvar a vrda e salva-la em sua 
tntegridade essencia l: nao s6 o "desuno do homem " e a sua 
"sobrevrvencta fisica , mas tambem a rntegridade de sua essencia" 
(JONAS, 2006, p. 2 1) deve ser buscada. Esse e o novo e mars 
I 
II I 
190 Jelson Roberto de Oliveira 
urgente requisito da etica. E ele nasce da capacidade que temos de 
transformar a " previsao do perigo" numa "heuristica do rnedo": 
com a antevisao da destrui~ao poderemos pensar as condt~oes 
para que ela seja evitada. Sabemos que hoje a natureza se apresenta 
em suas catastrofes e fl age los que atingem a vida como u m todo· 
como estrago e como lesao fatal , essas calamidades ex igem que a 
etica, entendida como a ciencia do bern e do mal , estabe le~a os 
limites da ac;:ao humana nao apenas no amb ito da "ctdad e" 
(enquanto artefato da civiliza~ao humana), mas no do minio da 
" natureza". 
Os limites das eticas tradicionais 
Para Hans Jonas, a natureza (esfera extra-humana.da.Yida) 
--tambem deve ser pensada corno.espaco eticoja que nela ~-!!l~ni_tude 
d~ ~~~o hu~n~ t~'!!.~.eitog leva a consequencias danosas. Se o 
pensamento etico se efetiva como uma pergunta sobre a condi~ao 
hu mana e pelos fundamentos de sua a~ao entre os demais seres 
vivos, entao o alcance da interven~ao deve sempre ser gu iado por 
urn principia basico, o principia do respeito e da responsabilidade. 
O ra, no passado, segundo Hans Jonas, esse pensamento 
es ta va limitado a dois ~ntes: o princip ia da 
inviolabilidad e da natureza e a dimensao limitada do poder 
humano sabre ela. Ambos sao fatores interligados que li mita rao 
o horizonte da etica ocidental a te o seculo XX. 
Quanto ~~o, o exe nti u · de 
comprova o fato de _qu_eA.,~t~~~iderada urn "campo 
neutro" sobre o qual o homem, com a for9a da re fl exao, do 
-· -·--- -· -
discurso e da tecnica agia segundo as suas necessidades. acreditando 
.. . .-.. ·· - ··· -- ·-··--·· --
que as suas a~oes "deixam inalterada a na LUreza abrangente desses 
.. . . .. ··-··- _ ___ ... -~- .. -_... -
Etlco e responsabtftdade 191 
dominios e nao prejudicam suas for~as geradoras" (JONAS, 2006, 
p. 32) 0 homem se via como u m ser pequeno e inofensivo ante o 
tmenso poder da natu reza e, pot tsso, o uso de sua liberdade e 
vo ntade nao e ncont rava nen hu m limlle, ja q ue qualqucr 
empreendtmento de sua pane nao trana nenhum tmpacw 
co nstderavel sobre a tmenstdao da terra, do mar e das demats 
esf'eras natura is Real mente, afi rma Jo nas. a nugament e " .1-; 
mferenctasJo homem na natureza, tal como ele pr6pno a:o. vta , 
eram essenctalmente superfietats e tmpotentes para prejudtcat um 
equtlibtto firmemente assemado" (JONAS, 2006, p. 32) 
Essa confian~a Jevou o homem a cnar a "ctdade" como 
artefa to de suas proprias maos. como uma forma de 
autopreservac;ao e autoconserva~ao ante as lor~as hostts da 
na tut eza. Como a ma iot das obras huma nas, a cidade, ao 
contrimo da natureza, se apresenta como vtOiavel, urn espa<;o 
capaz de se deteriorar e desencaminha r. Por isso, logo foi prcciso 
inventa r a cttca, como um a fo rma de garantir as condic;oes 
min imas de sobrevivencia dentro do ambiente arti fi cial da ctdade: 
as no rmas mara is tinham como intu ito garanti r a convivenCJa 
dentro do ambllo lim itado da cidade. Porra nto, a etica era vista 
nesse es pa~o ct rcunsc rito e nele era pensada a responsabi lidade 
huma na, porq ue se acreditava que s6 ele poderia ser atingido ou 
a lterado pelas a~oes do homem . Q uanta a natureza, malgrado 
a i n terven~ao e a inventividade humana, e la "cuidava de si 
mesma", o u seja, nao precisa ria de q ua lquer norma etica que 
limitasse 0 agir humano, ja que 0 poder tecntco, limitado a 
real iza~ao das necess idades, s6 a afetava de fo rm a superfictal 
Assim, essas duas crenc;as (a inviola bilidade da natureza 
e a di me nsao limi tada do poder hu mano) fo ram as bases de 
todas as eltcas a te o presente, segundo Hans Jo nas. Segundo ele, 
essas eticas apresentam c inco caracterisricas comuns : I) todo o 
.· 
I 
192 Jetson Roberto de Oliveira 
mundo extra-humano era cons1derado neutro, ja que "a a tua~ao 
sabre objetos nao humanos nao formava urn dominio eticamente 
s ignificative" (JONAS , 2006, p. 35) ; 2) toda et ica era 
antropocentrica, porque pensava as rela~oes de urn homem com 
outro homem; 3) o homem era cons1derado constante do ponto 
de vista de sua essencia, ou seja, ele nao era pensado como obJeto 
da tecnica "reconfiguradora"; 4) o bern e o mal de uma ac;ao 
eram medidos do ponto de vista imediato, do ponto de vista do 
tempo e do espa~o (tratava-se de uma et1ca do aqui e do agora), 
5) todas as maximas dessa etica revelam esse "confinamento ao 
circulo imediato da a~ao" (JONAS, 2006, p. 36). 
Assim, OS adagios eticos demonstram OS l1mites da e11ca 
tradicional e a sua insuficiencia para a conjuntura do mundo 
contemponineo. Hans Jonas aponta, por exemplo, os limnes de 
imperatives como: "ama o teu proximo como a ti mesmo", "faze 
aos outros o que gostarias que eles fizessem a ti" , "instrUJ teu 
filho no caminho da verdade", "almeja a excelencia por meio 
do desenvolvimento e da realizac;ao das melhores possibilidades 
de tua existencia", entre outros exemplos. Em todos esses 
exemplos, destaca Jonas (2006, p. 36) , "aquele que age e o 'outro· 
de seu agir sao participes de urn presente co mum " 0 holizonte 
dessas afirma~oes sao os homens contempodineos (nao ha 
pensamento sabre o futuro) e o espa~o e o Iugar no qual eles se 
encontram . Criticando as afirma~Oes do fil6 sofo al emao 
Emmanuel Kant (1724-1804) , Jonas assinala que esse 11 po de 
teoria desmereceu a relevancia do conhec imento cognn• vo 
fornecido pelas ciencias: ninguem pode ser julgado se nao souber 
medir o alcance das consequencias de suas a~oes. Hoje, ao 
contnirio, com as informa~oes disponibilizadas pelo 
conhecimento cientifico a respeito dessas consequencias, a etica 
nao pode fechar os olhos, de forma irresponsavel , para essas 
[Ilea e responwbl!tdade 193 
mfo1 mac;oes Ao contra rio, roda etJca atual, dll'erentc dn qul' f'ni 
fc11o no passt~do, de,·e to1 naJ JmprcscJndl\·el n reconhct 1111entn 
desse .1ahe1 dtls a>nll'tflthmas fo 1 nec1do pe l as CICilCJas em geral 
Aqullo que em Kan t se chama de JmpeJ<ltlvo categt.)JJL'O t' 
es1a exp1esso na f1ase "c.IIJ de tal modo I.}UL' Ill tambem po-;s.l ~ 
qucn.>1 que 1u,1 max 1m a se 101 ne le1 gera I". apa Jl'Ce .1 11 ans Jnn.1s 
como algo lllsuficJcnteJa que es1a reduz1do a urn upn de e.\t'Jt 1un 
de pode1 ava l1ado Jc fo1 ma 1ngenu a, sc m que sc Jcnh.t 
conhec1 men I o das vcrdade1ras consequcncJas do seu exe1uuo 
Os desafios de uma nova etica 
Esse dJagn<)sttco faz com que Hans .Jonas esboce as JHlvc~s 
d1mensoes da 1esponsab!IJdade que estao l 1gada~ .1 Jlll\.1 
d11nensao do pode1 de 1 nte rven~ao humana sobre a natLIICl.t 
As ant tgas pt escru;oes a 111da de vern ser segu1das no a mbno d.t 
"c1dade", mas elasJ<i nan basta m para que a v1da se.1a g<uan11da . 
0 n0\ 0 sabe1 lecno-c1ent ifico, com todas as suas info1 mac,.·{k's t' 
111SlllJ mentos de descJJt;ao e ca lculo da na ILII cza. ob1 1g<1 ;1 t'lJC.l 
a penSa J 0 t'XC'ICICIO dessc poder piHa aJCm do ambitO llllJ'il 
huma no Ja que o pouer humano ho.1 e equ1vale ao pode1 n.Jltll '<ll 
(basta medu c1 capac1dade de 1mpacto de tecn1 cas us,tdas pelo 
homem, tomo a bomba at6mJCa, ou mesrno as dema1s fo1mas 
de gerar;.io de energ1a- so pra CJtaJ um cxemplo) a no\a et1ca 
prec1sa se alarga r pa1a abranger esses novos territ6nos ate onde 
chega o poder humano. Em outras palavras: como se desenvolveu 
0 poder e preCJSO desenvolver ta mbem a etica, ja que uma COISJ 
extge necessa riamente a outra (o poder ex ige etica porque o seu 
exercicio deve ser reno com responsabi lidade). 
194 Jelson Roberto de 0/tvetra 
0 crescimento do poder e resultado, outrossim , do 
cresctmento do saber: as informa«;:oes hoje disponibilizadas pelas 
varias cienctas da vida, de maneira especial a ecologia, alteraram 
no homem o calibre e a extensao do poder, mas, sobretudo, o 
conhecimento das consequencias (maleficas e beneficas) do seu 
exercicio E~mulo de conbecjmeiJ!9 moslra tres coisaSJlOvas~ 
pnmetro, que a O_!!tureza, ao contrano do que se__pensavano p~ ~ --·--•- •- I 
e vulneravel e ja sofre ~ formq_i.rreversivel e cumulativa as danos 
._____ ..---- _I 
produzidos pela a«;:ao tm ruden~_9.Q.. homem~~~!ldo, que a nova 
ettca ~£...£~~ster ~~ss~. saber, . .!I!a~ao contra rio, deve 
aproveitar dessas mforma«;:oes para mensurar a condi~ao global da 
vtda eo ru~ro d~;-da .especie ~m!lE~; t;rc~~Lgue e EEe<:i_so 
pensar num novo "dtreito m_or?_!_ e!"~erio da natureza" (JONAS, 
2006. p 41 ), vislumbrando-a nao mais como alga inerte e mativo, 
mas como um bern confiado ao homem e, como tal , capaz de 
tmpor a ele exigencias mora is. A consequencia dessas afirma~oes e 
que a nova etica precisa levar em conta o bern de todos (nao so o 
humano) e de todos os tempos (nao s6 do presente). 
Asstm, a nova etica esta erguida sabre dais pontos principats: 
pnmeiro, sabre um indeferimento da superioridade da racionalidade 
tecnica humana sabre as demais seres vivos, o que significa uma 
recusa da superioridade do homo faber (homem que faz) CUJO 
enrustasmo incoerente subjuga o homo sapiens (homem que pensa), 
segundo, urna supressao da fronteira entre a "cidade" au o Estado 
(o mundo da polis) e a "natureza", ja que uma e outra esUi.o 
confundidas no mundo contemporaneo, ja que "o natural foi 
tragado pela esfera do artificial" (JONAS, 2006, p. 44). Do ptimeito 
caso nasce a necessidade de refletir sobre a tecnica como uma 
voca~ao humana, mas despi-la desse infinito impulso e desse ccgo 
triunfo. Da segunda nega~ao advem a exigencia de que a etica 
pense a conserva~ao do mundo fisico de forma a garanrir a existenCia 
Ettca c responsabtltdade 195 
da propria vtda no futuro. F nao ha outra cxtgencttl m.lts gril\l', 
urgente e unpel!osa para a ettca do que <l vtda 
Pot !SSO, 0 novo tmpCl<Hl \'0 ei!CO esbo~.ld n J101 Han.; Jnnas 
Sera lladu ztdO l'Ol max tmas que JeVil lll em COn ta CSSciS tHl\ tiS 
dtmensoes da r e l a~·;to ent re sabet, potler e res ponsabtl tdade ·,qa 
de modo a que os efet tos da IUJ .H,:.'in se (am u)mpal!Vt'l' U)tll .t 
per ma nencra tle uma .Jutenttca vtda humana sobre a Tetta" <Ht 
"aja de moJ o a que OS erer tos O<l lUil a~ao niio SCja t11 de'ittlllt\'()~ 
para a possibtltJadede uma 1.11 \ td.1' (JON,\S, 2006, p •17) . 
entte nuuas fo tmula~<)es desse upo 
Retomando a t clar;ao ant tga (J<i pt esente em At rst t"Ht'ks) 
entt e e trca e poltttca, ll<tns Jonas sa be que essa nova cttta <lclqlttn• 
uma dtmens<io publrc<l e cx tge um J po lruc,t puhltc.t que -;t• 
sobreponha ;1 a~ao pt ivada Se n.ts ettcas ll'adtc!Oilats l) clllll)t 
tdentrficara ret to tndtvtd ua ltsmo e amropotenll tsmo. n.1 llll\"tt 
ett ca e le acl(l na o prin ci pt o d rl po lill ca cn mo espt~c;n de 
transror ma<;ao, .1 a que "o novo rmperauvo clamtt po t mttta 
coerencta nao a do ato constgo mesmo, mas a dos seus ckltos 
final S para il CO ilt ltlU!dade da <lll Vtdade huma na no rutul()" 
(JONAS, 2006, p. 49). Dada a gra nd10s idade do podcr e a 
magnllude da nova ex tgencta euca , nan basta ma rs <l .~~,1o 
pnvada para a mudan <;a das condutas. m;1s se entra .1gma na 
area das poliucas publtcas e das legrslar;oes gerats que dl't'lll 
cumpnmento c eretivrdade aos novos tmpe rat rvos 
Mas isso e real mente novo? 
Hans .f,,n, c;, no fina l do prime11 o capttu lo de scu ltvro, 
no qual, c ·L vtu ate aqut , es tao a penas esbo<,:.tdas .t<; 
ptemtssas gl' tdlS e como que 0 pano Je fun do da 11 0\il elttd 
I 
. 
196 Jelson Roberco de Ollvetra 
da res ponsa btl ida d e (q u e se ra tra tada n os capit u los 
subsequcn tes), pensa cn ttca mente sobre as eucas antigas na 
sua pretensao de ta mbem se defi ni rem como "eucas do futuro'' 
Sao tr es os modelos analisados pelo autor· a ctica re!:gtosa 
que gu ra a vida terrena pe lo ideal de felicidade a lem-mundo, 
aquela do previdente legislador e estadista que busca o bern 
comum tambem no fu turo; e as polit tcas da u topia, en tre as 
quc.1is se destaca o marxrsmo. 
Quanto a pri metra forma de etica do fu turo (de tipo 
reltgtnso), Jonas ava lia que ela posrul a o futu ro como um "Iugar 
absoluto, aci ma do presente", tendo como grande mconveniente 
a redu~ao desse presente a uma "mera prepara~ao" (JONAS, 
2006, p. 5 1) em re la~ao ao futu ro. Essa forma de agir gut ada por 
u rn sentido religioso, qualificaria o ind ividuo a alcan~ar esse 
futu ro esperado, o que faz dela nao mais do que uma etica da 
simultaneidade e da imediati cidade, ja que o futuro so existe em 
fu n~ao do presente, no qual, conforme a medida da autoperfe t~ao 
a lca n~ada, ja se pode adia nta r o gozo da "recompensa eterna", 
a qual, alem de tudo, nao passa de uma aposta cheia de riscos. 
Sua in tui~ao tern sempre em vista o presentee nao o futuro 
Qua nta ao segundo tt po de e t ica do futu ro, aque la 
represe ntada pelo estad isra ou legtslador, Jonas tambem afirma 
que ela nao passa de uma etica temporal, ja que o es fo r~o desses 
homens e "cri ar uma estrutu ra politica vtavel, e a prova da 
viabi ltdade esta na dura~ao, a mais malterada passive!, do que 
foi criado" (JONAS, 2006, p. 53). Em out ras palavras, o ideal de 
todo estadista e legislador e garanrir no futuro as benesses do 
presente. 0 melhor de agora seria o melhor para o fu turo e, 
assim , nao e 0 futuro que conta, mas 0 presente. 0 futu ro como 
desejado pelos estadistas e aquele que perpetue no futuro aquila 
que foi justificado como melhor no tempo presente. 
"1 
t11ca P tesponsabtltdade 197 
Po1 fim, o teH.elln 11po de dtca do luturo tamhem ni'to 
passa11<1 de algo mullo ltmrt,ldo, atnda que traga algum det.1lhes 
que ,, drfcrcnuam dns outms Jots trpos a utopia mode111J 
Segundo Jonas (2006. p 54), essa ettca da utopra prcssupoe uma 
idettl de escatologrc1 que nao extstta no passadn 0 aqut en ,Jgota 
nas eticas utoptLas, "e sobrepuJado pela expectativa do lim , mas 
nao e tncumbtdo de sua Jealtza~ao at tva" 0 problema c; que, 
muitas vczes, algun~ tndtviduos ou grupos soctats tom.ll'am em 
suas pr6pnas maos ll rcaltza<,:ao Jesse fim. sempte em fun<,:iio de 
uma mem alit ma<;"ao do seu poder no presente Somentc com a 
ascensao moderna dt1 tdew de pmgresso (a qual remont<t as tdcias 
de Francts Bacon e. mats rccentememe, a Augusto Cnmtl' ou 
mesmo l legel) o homem come~ou a se dat cnnra de 4ue ··n 
presentee uma etapa pteparatona para o futuro" (JONAS, :::'006 
p 55) A liloso fic~ da htst6tta mat xrsta e apresentada como aquela 
que consegutu, linalmen te, pensar o fu turo cnquanto tal, um 
tempo que nao sera usuf't UJdo por aqueles que o pensam· "/\ 
ob11ga~ao para com n ptescnte p1ovem de Ia, e nao do bcm-cst.lt 
ou do mal-esta1 tie seu muntlo contemporaneo" Essa "et1ca da 
esca tologta tevolucronatra" ve a si mesma, afirma llans Jonas, 
como algo ttilnsllonn. uma ponte para o futuro 
1\ L:OI1dUSciO e, l'lltClO, que I.'X!Stl' Jc.l uma CIICil do luturn, tal 
como se apresema a ettca utopKa marxtsta , com a qual Hans Jonas 
se sente tdentrftcado, cmbora aponte dtscrepancws que a dtst.tnctc 
da ettca POl cle formulada como antr-escato16gica (do grego t•sdrclfOS, 
que Significa "final") C antJUtOptCa 0 futuro para Jonas nan C lll11 
"tempo final " e multo menos um "tempo ideal", mas e stmplc.,mentc 
Ul11 tempO futuro no qua( a Vtda a111da pOSSa existir e para 0 qua( C 
prects~ fot mular uma etica de previsao e de responsabilidade 
Por isso, no final do pnmeiro capitulo de seu livro, o autor 
trata das tecntcas que criam no homem a ideia de futuro como 
I 
202 Jelson Roberto de Oliveira 
consegue mais enquadni-las. [ ... ]De certo que as antigas prescri~oes 
da etica 'do proximo' - as prescri~oes da justi~a. da misericordia, 
da honradez, etc. - ainda sao va lidas, em sua 1mediaticidade 
intima, para a esfera mais proxima, quotidiana , da intera~ao 
humana . Mas essa estera toma-se ensombrecida pelo crescenre 
dominio do fazer coletivo, no qual ator, a~ao e efeito nao sao 
mais os mesmos da esfera proxima. lsso impoe a ctica, pela 
enormidade de suas for~as, uma nova dimensao, nunca antes 
sonhada, de responsabilidade" (JONAS, 2006, p. 39). 
8~ferencias 
JONAS, H. 0 prinCijno vida. Fundamenros para uma btologia fil os6fica 
TradUI;:ao de Carlos Almetda Peretra . Petr6polts· Vozes, 2004 
___ . 0 pr111cipio responsablfidadc. Ensaio de uma etica para a 
civiliza~ao tecnol6gtca . Tradu~ao de Marijane Lisboa e Lm: Barros 
Montez. Rio de Janeiro: Contraponto; PUC-Rio, 2006. 
-
Questoes para reflexao e debate 
-
I . Para Hans Jonas, a for~a do poder tecno-ciemifico se alargou 
imensamente a panir da modernidade. Em que setores da vida 
humana podemos detecrar esse aumento do poder do homcm sobre 
a natureza? De exemplos c comente as principats consequenctas 
desse novo poder. 
2 . A natureza se mostra vulneravel ante esse poder. Voce concorda que cia 
tcnha, segundo as palavras do autor, urn "dtielto moral proprio"? Como 
"bern a n6s confiado" sera que a natureza esra meramente a nosso servt~o 
I 
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Et1co e responsobihdode 203 
C'u cia cxigc o rcconhcltmemo de "fins em s1" pcHa alem da esfeta humana.., 
De que forma esse dircllo proprio da nanucza podena ser garanudo pclo 
ser humano7 
3 Para o .1u1or, o novo 1mperauvo cuco devctta scr "AJa de ll1•1do a 
que os efe11os da tua .u;ao ~CJ<I111 wmp.tlivets com a permanent:ta dL 
uma au1en11ca v1da humana sobrc ,1 Terra" r:xpltque comn ek l hcga 
a esse lmpctali\O c.1 panu JJ unallsc Jo .lrnhito cxtra-humann c dn 
luturo, comll rcqu1sttos da nova CIICa da rcsponsJbtlldadc. 
Sugestoes de filmes 
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Sugestoes de leitura 
LOVELOCK, J A vlllgclll(tl dL" Gt.Jw Rto de Janetro lntrinseca. 2006 
OLIVE IRA, J, UORGES, W £uu1 dr Gaia. fnsatos de elica 
socioambtcnt,tl Sao P,llllo Paulus, 2008

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