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FERNANDES, MUNHOZ, SILVA Evolução histórica predimensional dos Direitos Humanos

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1 
 
 
 
 
Evolução Histórica Predimensional dos Direitos Humanos 
 
 
Thais Fernandes 1 
Tatiane Munhoz 2 
Daisy Rafaela da Silva 3 
 
Resumo 
O presente artigo visa discorrer sobre a temática dos direitos humanos, 
destituindo-a de aspectos que a tornem mero ramo do Direito. Pretendeu-se alocá-la em 
patamar mais próximo à filosofia sobretudo por seu conteúdo e função. A pesquisa visa 
ainda abordar a trajetória dos direitos humanos em momentos anteriores ao Iluminismo 
do século XVIII. Notadamente, as gerações/dimensões dos direitos fundamentais, 
emolduradas com maior precisão a partir da Independência Americana e da Revolução 
Francesa, são temas bastante difundidos no meio acadêmico. No entanto, a presente 
pesquisa se propõe a abordar justamente os aspectos históricos anteriores a esses 
períodos. Teve-se o intuito de demonstrar como as nuances do pensamento humano, ao 
longo da história desde a era Axial até o Iluminismo, foram capazes de preparar e 
impulsionar a deflagração das Revoluções Liberais. 
 
Palavras-Chave: Direitos Humanos – Filosofia – Revoluções Liberais – Dimensão. 
 
 
 
Abstract 
 
1 Advogada. Graduada em direito pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo U.E Lorena. Pós-Graduanda em 
Direito e Processo Civil pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo U.E Lorena. 
<thaisfernandes1234@gmail.com> 
2 Graduanda em direito pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo U.E Lorena. <sun_munhoz@hotmail.com> 
3 Doutora em Direito. Mestre em Direitos Difusos e Coletivos. Professora e Pesquisadora do Programa de Mestrado 
em Direito do Centro UNISAL-Lorena.SP. Coordenadora do Grupo de Pesquisa "Direitos Humanos" cadastrado 
junto ao CNPq. Integra o Observatório de Violências nas Escolas em parceria UNISAL-UNESCO. Coordena o 
Núcleo de Direitos Humanos na Unidade de Lorena do Centro UNISAL. Graduanda em Filosofia pelo UNISAL.. 
<daisyrafa1@hotmail.com> 
2 
 
This article aims to discuss the issue of human rights, depriving it of aspects that 
make it a mere part of the science of law. It was intended to allocate human rights in 
closer to the philosophy level, especially for its content and function. The research aims 
to address the trajectory of human rights prior to the eighteenth century – 
Enlightenment. Notably, generations/dimensions of fundamental rights, analyzed from 
the American Independence and the French Revolution, are issues fairly widespread in 
academia. However, this research aims to address precisely these aspects to the previous 
periods, in order to demonstrate how the nuances of human thought in the history, from 
the Axial era to the Enlightenment, were able to prepare and boost the outbreak those 
that still influence the conduct of our history: the Liberal Revolutions. 
 
KEYWORDS: Human rights – Philosophy – Liberal Revolution – Dimension 
 
1 Considerações Iniciais 
 
A essência dos Direitos Humanos é 
o direito a ter direitos. 
Hannah Arendt 
 
O estudo dos direitos humanos requer de início entendimento de conceitos e 
reflexões, sem os quais a compreensão do tema estaria prejudicada. Os desafios do 
tema, as principais correntes teóricas e os conflitos terminológicos serão expostos a 
seguir de modo a contribuir para a completa fruição do assunto. 
Superadas tais preliminares, iniciar-se-á o estudo dos marcos histórico-sociais 
que contribuíram para a cumulação dos direitos fundamentais, almejando com isso 
proporcionar ao leitor uma leitura leve e bem pontuada sobre direitos humanos. Passa-se 
à exposição. 
 
2 Dos Desafios de Compreender Direitos Humanos 
“Tudo é água”.4 Foi com essa proposição que Tales de Mileto (sec. VII a.C) 
inaugurou o pensamento filosófico. Embora se trate de uma frase simplória e 
sabidamente incorreta, dela se pode extrair importante reflexão. A filosofia nasce da 
 
4 SOUZA, José de Cavalcante. Os Pré-Socráticos - Vida e Obra. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 
1996. 
3 
 
unidade de conhecimento, resistindo a fragmentações do saber. Para Tales – 
matemático, astrônomo e comerciante –, por de trás da aparente diversificidade das 
coisas, repousa uma unidade elementar essencial de tudo. Tudo é uma coisa só. Para ele, 
a água. 
Na Idade Moderna com o advento da Revolução Científica no século XVI, a 
tendência do saber universal dividiu espaço com uma proeminente Ciência Natural.5 O 
Movimento Renascentista relegou os dogmas religiosos e filosóficos até então 
existentes à sabatina dos testes e da experimentação.6 Nascia a Ciência Moderna,7 
adepta dos fenômenos ponderáveis. Como consequência, os ensinamentos não 
comprovados de modo científico não mais deveriam ser as únicas e incontestáveis bases 
do conhecimento humano,8 independente de qual autoridade os havia proclamado. 
Se por um lado a filosofia nasce da unidade – “tudo é uma coisa só” –, a 
ciência nasce da diversidade, da fragmentação e da complexidade do saber. A partir dela 
tornou-se impossível refrear a cultura do conhecimento compartimentado. E qual é a 
pertinência disso com Direitos Humanos? É o que se passa a expor. 
Direitos Humanos. Binômio simples e de fácil leitura. Discorrer sobre ele, no 
entanto, é um desafio tanto para quem o escreve como para quem o lê. Ensiná-lo 
significa adentrar em campos que ultrapassam as leis positivas dentro de um sistema 
jurídico.9 Entendê-lo e aplicá-lo satisfatoriamente sugere habilidade individual diversa 
da simples capacidade cognitiva. 
Sob essa perspectiva, a depuração moral do pesquisador é requerida de modo a 
levá-lo a um entendimento mais humanístico e menos científico/compartimentado. 
Direitos Humanos não é só mais um ramo da ciência do direito. Antes disso, sua 
interdisciplinaridade o faz mais intimo da unidade do saber sem divisões como a 
filosofia, em que o sujeito a refletir busca tanto a universalidade do conhecimento como 
o refinamento individual e social.10 
Entender como se encaixou cada tijolo dessa construção inacabada advinda da 
positivação dos Direitos Humanos implica conhecer matérias desconhecidas do mundo 
 
5 KOIRÉ, Alexandre. Galileu e Platão. Lisboa: Gradiva, [1943 e 1948], p. 11. 
6 KOIRÉ, Op cit, p.14. 
7 VAN DOREN, Charles. Uma Breve História do Conhecimento. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2012, p.222. 
8 KOIRÉ, Op cit, p.15. 
9 TAVAREZ, Celma. Educação em Direitos Humanos: Fundamentos Teórico – Metodológicos – O Desafio da 
Formação dos Educadores numa Perspectiva Interdisciplinar. [2010], p. 487. 
10 PIAGET, Jean. Os Pensadores - Burrhus Frederic Skinner/Jean Piaget. São Paulo: Abril, 1975, p. 197. 
4 
 
jurídico tão imerso ao tecnicismo da subsunção da norma ao fato. “São várias as 
perspectivas que se podem assumir para tratar do tema dos direitos do homem. Indico 
algumas delas: filosófica, histórica, ética, jurídica, política. Cada uma dessas 
perspectivas liga-se a todas as outras [...]”.11 O conhecimento pleno apenas da técnica 
ou de parte desses temas resultaria um saber caduco, impreciso e improdutivo. 
Portanto, caro leitor, para o amplo entendimento sobre direitos humanos, é 
sugerido um leve desapego das técnicas jurídicas e a adesão ao modo filosófico de 
ensino, em que o todo é uno. Único caminho capaz de levá-lo à sabedoria reflexiva e 
altruísta. 
 
3 Direitos Humanos E Direitos Fundamentais: Teoria Jusnaturalista E Positivista 
Inicialmente, faz-se necessário a superação do conflito das diversas 
nomenclaturas usadas para versar sobre direitos inerentes ao homem. Direitos dos 
homens, direitos naturais, direitos humanos, direitos fundamentais,entre outras 
expressões são frequentemente usadas sem nenhum rigor aparente. 
Lembra o professor de Direito Internacional da Universidade de São Paulo, 
André de Carvalho Ramos, 12 que a Constituição Federal de 1988 contribui para a falta 
de padronização, já que usa indiscriminadamente os termos: direitos humanos, direitos e 
garantias fundamentais, direitos e liberdades fundamentais, direitos e liberdades 
constitucionais, direitos e garantias fundamentais, direitos fundamentais da pessoa 
humana, direitos da pessoa humana, direitos e garantias individuais e direitos humanos. 
Apesar disso, vê-se crescente a tendência de solidificar as duas principais 
nomenclaturas para que se chegue ao consenso de que Direitos Humanos – ou direitos 
do homem – são direitos de todas as pessoas, tendo abrangência universal e atemporal, 
sem vínculo territorial. Sua proteção possui carácter supranacional, devendo ser, 
portanto, tutelados por normas de direito internacional público. 
Já Direitos Fundamentais têm abrangência reduzida, porquanto se traduzem na 
positivação dos Direitos Humanos em determinados ordenamentos jurídicos. Sua 
proteção se dá pela Constituição de cada estado, possuindo características de normas 
internas a um determinado sistema jurídico. 
 
11 BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: ELSEVIER, 1992, p.47. 
12 RAMOS, André de C. Teoria Geral dos Direitos Humanos na Ordem Internacional. São Paulo: Saraiva, 2012 
p. 25. 
5 
 
José Joaquim Gomes Canotilho13 elucida tal ensinamento, dizendo que 
“direitos do homem são direitos válidos para todos os povos e em todos os tempos [...] 
arrancariam da própria natureza humana e daí o seu carácter inviolável, intemporal e 
universal”. Já Direitos Fundamentais, ainda segundo o autor, seriam “os direitos do 
homem, jurídico-institucionalmente garantidos e limitados espaço-temporalmente [...] 
seriam os direitos objetivamente vigentes numa ordem jurídica concreta”.14 
Sendo universal, atemporal e não territorial, segundo a doutrina jusnaturalista, 
os Direitos Humanos existem no mundo ser, pois se consubstanciam em direitos 
naturais inerentes à condição humana. 
O aspecto jusnatural dos Direitos Humanos não é pacífico entre os 
doutrinadores. Por ele, os direitos humanos são anteriores e superiores ao direito 
positivo. “São Tomás de Aquino pode ser considerado um dos próceres da chamada 
corrente de Direito natural de inspiração divina. Para o teólogo, a lex humana deve 
obedecer a lex naturalis, que era fruto da razão divina, mas perceptível aos homens”.15 
Já para os positivistas, foram as revoluções sociais que concretizaram e 
positivaram os Direitos Humanos, que se traduziram nos direitos fundamentais de cada 
Estado. Segundo eles, tais direitos expressam conquistas populares ocorridas em face da 
imperatividade dos Estados, cujo amadurecimento moral e institucional se deu – e ainda 
se dá – ao longo da história. 
Para Bobbio,16 os direitos humanos são históricos e adstritos à determinada 
época. Segundo ele, “por mais fundamentais que sejam, são direitos históricos [...] 
caracterizadas por lutas em defesa de novas liberdades contra velhos poderes, e nascidos 
de modo gradual, não todos de uma vez e nem de uma vez por todas”. 
Independente da prevalência da teoria naturalista ou positivista, ainda há um 
longo caminho para se atingir a plenitude moral das sociedades principalmente quando 
se pensa na efetivação de tais direitos. Contudo, considerando a inquietação que a falta 
deles já faz, tal fenômeno pode ser considerado um indicador positivo comparado à 
complacência demonstrada nas mesmas condições em tempos atrás. 
Analogicamente, é como se a sociedade mundial fosse uma pedra bruta a ser 
lapidada, vindo a se tornar a cada revolução mais polida e civilizada. Tal lapidação é 
 
13 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional. Coimbra: Almedina, 1993, p.469. 
14 CANOTILHO, Op cit, 1993, p.469. 
15 RAMOS, Op cit, 2012, p. 31. 
16 BOBBIO, Op cit, 1992, p.5. 
6 
 
melhor percebida e didaticamente ensinada com base nas chamadas Dimensões de 
Direitos, expressão dotada de progressividade e expansividade. 
 
4 Da Terminologia: Dimensão e Geração de Direitos 
A teoria das gerações de direitos, bastante utilizada por Bobbio e Bonavides, 
“foi lançada pelo jurista francês de origem checa, Karel Vasak, que, em Conferência 
proferida no Instituto Internacional de Direitos Humanos no ano de 1979, classificou os 
direitos humanos em três gerações, cada uma com características próprias”.17 
 
Para Bobbio, [...] os direitos humanos se afirmaram 
historicamente em quatro gerações: 1ª Geração: Direitos 
Individuais – pressupõem a igualdade formal perante a lei e 
consideram o sujeito abstratamente; 2ª Geração: Direitos 
Coletivos – os direitos sociais, nos quais o sujeito de direito é 
visto no contexto social [...] 3ª Geração: Direitos dos Povos ou 
os Direitos de Solidariedade: os direitos transindividuais, 
também chamados direitos coletivos e difusos [...] 4ª Geração: 
Direitos de Manipulação Genética, relacionados à biotecnologia 
e bioengenharia, tratam de questões sobre a vida e a morte e 
requerem uma discussão ética prévia.18 
 
 Sobre o termo, há de se destacar mais um embate terminológico. A palavra 
dimensão tem obtido a preferência dos pesquisadores na concorrência com o termo 
geração. Isso porque, segundo a doutrina, o termo geração abarca a ideia de substituição 
de uma pela outra, o que induz a inverdades, haja vista a expansão dos direitos 
fundamentais e não mera substituição. 
Para o jurista Cançado Trindade,19 “O fenômeno que hoje testemunhamos não 
é o de sucessão, mas antes, de uma expansão, cumulação e fortalecimento dos direitos 
humanos consagrados”. Superado o conflito terminológico, inicia-se o estudo das 
dimensões de direitos fundamentais. 
 
 
5 Do Estudo Histórico-Cronológico dos Direitos Fundamentais 
 
17 RAMOS, Op cit, 2012, p. 48. 
18 OLIVEIRA, Samuel Antonio Merbach de. ROBERTO BOBBIO: teoria política e direitos humanos. Rev. Filos., v. 
19, n. 25, p. 361-372, jul./dez. 2007, p. 364. 
19 TRINDADE, Cançado in: DIÓGENES JÚNIOR, José Eliaci Nogueira. Gerações ou dimensões dos 
direitos fundamentais? [2014]. 
7 
 
Adentrando ao estudo das dimensões de direitos propriamente ditas, estudar-se-á 
inicialmente os precedentes históricos da Idade Antiga e Idade Média antes da análise 
das revoluções liberais, que desencadearam o surgimento da Primeira Dimensão de 
Direitos Fundamentais 
 
6 Evolução Histórica Predimensional dos Direitos Humanos 
Segundo Alexandre de Moraes, “O Código de Hammurabi (1690 a.C.) talvez 
seja a primeira codificação a consagrar um rol de direitos comuns a todos os homens 
[...] prevendo, igualmente, a supremacia das leis em relação aos governantes”.20 
Fábio Konder Comparato, citando o filósofo Karl Jaspers, explica que a 
história da humanidade ocorrida entre os séculos VIII a II a.C – Período Axial – serviu 
como uma espécie de eixo histórico da humanidade. É nesse período que “as 
explicações mitológicas anteriores são abandonadas” 21 e o homem passa a dar atenção 
a si mesmo, ousando testar sua racionalidade. Segundo ele, “no século V a. C., tanto na 
Ásia quanto na Grécia (o "Século de Péricles"), nasce a filosofia, com a substituição, 
[...] do saber mitológico [...] pelo saber lógico da razão. O indivíduo ousa exercer a sua 
faculdade de crítica racional da realidade”.22 
A colocação do homem no centro de todos os problemas e soluções fora 
fundamental para o pensamento filosófico acerca da existência e/ouprecedência 
humana em sociedade. Tal indagação foi a semente do ideal de igualdade, desenvolvida 
há quase 25 séculos mais tarde.23 
 
[...] é a partir do período axial que, pela primeira vez [...] o 
ser humano passa a ser considerado, em sua igualdade 
essencial, como ser dotado de liberdade e razão, não obstante as 
múltiplas diferenças de sexo, raça, religião ou costumes sociais. 
Lançavam-se, assim, os fundamentos intelectuais para a 
compreensão da pessoa humana e para a afirmação da 
existência de direitos universais [...] Mas foram necessários 
vinte e cinco séculos para que a primeira organização 
internacional a englobar a quase totalidade dos povos da Terra 
proclamasse, na abertura de uma Declaração Universal de 
 
20 MORAES, Alexandre de. Direitos Humanos Fundamentais. São Paulo: Atlas, 2008, p. 13. 
21 COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2003, 
passim. 
22 COMPARATO, Op cit, 2003, passim. 
23 COMPARATO, Op cit, 2003, passim. 
8 
 
Direitos Humanos, em que "todos os homens nascem livres e 
iguais em dignidade e direitos". (grifo nosso) 
 
O surgimento das leis escritas e não escritas nas antigas civilizações contribuiu 
positiva e negativamente para o desenvolvimento dos Direitos Humanos. Se por um 
lado a lei escrita suscitava a ideia de regras e consequentemente de limitação de poder. 
Por outro, a lei não escrita funcionava como uma espécie de vala residual, a ser ali 
dispensada toda teoria mitológica, religiosa e discriminatória que justificasse o 
tratamento diferenciado dos povos. 
 
Para os atenienses, a lei escrita é o grande antídoto contra o 
arbítrio governamental, pois, como escreveu Eurípides na peça 
‘As Suplicantes’ (versos 434-437), "uma vez escritas as leis, o 
fraco e o rico gozam de um direito igual; o fraco pode responder 
ao insulto do forte, e o pequeno, caso esteja com a razão, vencer 
o grande". [...] Mas, ao lado da lei escrita [...] havia também 
[...] a lei não escrita [...] de noção ambígua, podendo ora 
designar o costume juridicamente relevante, ora as leis 
universais, originalmente de cunho religioso, [...] É neste último 
sentido que na expressão "leis não escritas" é usada [...] o 
acréscimo do adjetivo "divinas".24 (grifo nosso) 
 
Sobre tratamento diferenciado, outro marco da antiguidade relevante para os 
direitos humanos, precisamente o de igualdade, fora a suplantação do judaísmo pelo 
cristianismo. A ideia de um povo privilegiado fora questionada pelo valor de igualdade 
proclamado por Cristo. “A partir da pregação de Paulo de Tarso, [...] passou a ser 
superada a ideia de que o Deus único e transcendente havia privilegiado um povo entre 
todos, escolhendo-o como seu único e definitivo herdeiro”. 25 
 
Mas essa igualdade universal dos filhos de Deus só valia, 
efetivamente, no plano sobrenatural, pois o cristianismo 
continuou admitindo, durante muitos séculos, a legitimidade da 
escravidão, a inferioridade natural da mulher em relação ao 
homem, bem como a dos povos americanos, africanos e 
asiáticos colonizados, em relação aos colonizadores europeus. 
 
A idade Média foi paradoxal para os direitos humanos. Se por um lado, a 
filosofia de Santo Agostinho e São Thomás de Aquino lançaram as bases da limitação 
do poder pelo crivo de um direito natural supremo, portanto contrário a um poder 
 
24 COMPARATO, Op cit, 2003, passim. 
25 COMPARATO, Op cit, 2003, passim. 
9 
 
absoluto. Por outro, “delineia-se uma clara tendência, em toda a Europa Ocidental, no 
sentido da centralização do poder, tanto na sociedade civil quanto na eclesiástica.” 26 
Ao longo desse período, a Carta Magna de 1215 é considerada um marco na 
evolução dos Direitos Humanos. Em meio a conflitos com a Igreja e falta de prestígio 
com seus governados, o rei João Sem-Terra, ao consagrar direitos subjetivos, declara 
implicitamente uma autolimitação de poder. 
 
O sentido inovador do documento consistiu, justamente, no fato 
de a declaração régia reconhecer que os direitos [...] existiam 
independentemente do consentimento do monarca, e não podiam 
[...] ser modificados por ele. Aí está a pedra angular para a 
construção da democracia moderna: o poder dos governantes 
passa a ser limitado, não apenas por normas superiores, 
fundadas no costume ou na religião, mas também por direitos 
subjetivos dos governados. Se no início do século XIII os 
governados ainda não constituíam [...] o povo [...] eles tendiam a 
sê-lo [...]. Aliás, a declaração [...] segundo a qual o rei e seus 
descendentes garantiriam para sempre [...] as liberdades, [...] 
representou o primeiro passo para [...] o status libertatis, 
independentemente de qualquer outra condição pessoal. 27 
 
O declínio do feudalismo abriu espaço para a ascensão do absolutismo, que se 
caracterizava pela “a predominância de um dos suseranos sobre os outros, ou seja, teve 
início o movimento gerador de um primus inter pares, que vinha a ser o rei. [...]”.28 O 
novo modelo de estado significou uma barreira para os direitos humanos, que seria 
superada por novas leis e declarações de direitos. 
A Lei do Habeas Corpus de 1679, proferida pelos ingleses, auxiliou na 
construção dos direitos do homem. Além da garantia contra prisões estatais arbitrárias, 
passavam a ser protegida a lesão ou a simples ameaça do direito de ir e vir, uma 
novidade para a época. Segundo Comparato, a Inglaterra, adepta das garantias 
processuais, nesse ponto divergia da França, afeta a declarações de direitos. “O direito 
inglês [...] foi criado [...] pelas práticas do foro: advogados [...] e juízes. Na Europa 
Continental, diversamente, os sistemas jurídicos [...] foram criações intelectuais de 
jurisconsultos e professores”.29 
 
26 COMPARATO, Op cit, 2003, passim. 
27 COMPARATO, Op cit, 2003, passim. 
28 COMPARATO, Op cit, 2003, passim. 
29 COMPARATO, Op cit, 2003, passim. 
10 
 
Dez anos mais tarde, após a acusação dos ingleses de traição por manter 
relações com os franceses, o rei inglês Jaime II foge para França, deixando sua filha, 
Maria de Stuart – futura Maria II –, com a incumbência de ocupar o trono com o 
Príncipe Guilherme Orange. O parlamento, porém, em meio ao caos na sucessão 
monárquica, ao casal impõe uma condição: declarar o Bill Of Rights (carta de direitos). 
A imposição parlamentar aos futuros reis representou um assaz exemplo de separação 
de poderes.30 
O Bill Of Rights de 1689 trouxe avanços e retrocessos para a humanidade. Ao 
mesmo tempo em que ela reforçava o princípio da legalidade e a vedação de penas 
cruéis, também negava a liberdade religiosa e instituía uma religião oficial na Inglaterra, 
sob o argumento de que: 
 
[...] é incompatível com a segurança e bem-estar deste reino 
protestante ser governado por um príncipe papista ou por 
um rei ou rainha casada com um papista [...] que fique 
estabelecido que quaisquer pessoas que participem ou 
comunguem da Sé e Igreja de Roma ou professem a religião 
papista [...] sejam excluídos e se tornem para sempre 
incapazes de herdar, possuir ou ocupar o trono deste reino. 31 
(grifo nosso) 
 
Na França, os textos de Voltaire clamavam justamente por tolerância e 
liberdade religiosa. Argumentava que inúmeros dissidentes franceses, dispostos a 
retornar ao país, assim não o faziam ante a falta de “proteção da lei natural, a validade 
de seus casamentos, a certidão reconhecida de seus filhos, o direito de herdar [...]”. Para 
Voltaire, “não se trata de reconhecer privilégios imensos, [...] mas de deixar viver um 
povo pacífico”.32 
Por essa razão, no século XVIII, tentando se desvencilhar dasamarras do poder 
absoluto, a Europa assistiu à eclosão de pensamentos inovadores. Rousseau, 
Montesquieu, Voltaire incendiaram o movimento literário, implantando esperanças de 
liberdade para uma população bastante desgostosa com os rumos do estado. 
 
30 COMPARATO, Op cit, 2003, passim. 
31 MORAES, Op cit, 2008, p. 13. 
32 VOLTAIRE. Tratado Sobre Tolerância – A propósito da morte de Jean Calas, publicado em 1763. São Paulo: 
Martins Fontes, 2000, p. 30. 
11 
 
Para os direitos humanos, considerando a Carta Magna de 1215, a Lei de 
Habeas Corpus de 1679, o Bill of Rights de 1689, nada tinha sido tão marcante e 
revolucionário como mais tarde viriam a ser as Revoluções Liberais. 
 
7 Primeira Dimensão De Direitos 
A crescente racionalidade humana do período axial, a filosofia de amor e 
igualdade de Cristo, o direito natural de Santo Agostinho e Thomas de Aquino, tudo 
isso serviu de fundação para a grande renovação da consciência humana ocorrida com a 
Revolução Francesa e a Independência dos EUA. 
Naquele momento, o absolutismo e o colonialismo vigoravam no mundo. Os 
territórios existentes ou faziam parte da metrópole de uma monarquia absolutista ou 
desta eram colônias. Destacavam-se a ausência de liberdades públicas subjetivas e a 
manifesta desigualdade social, referente aos privilégios das classes favorecidas em 
contraste com as desfavorecidas. Na França: 
 
Em 1789, 28 milhões de franceses [...] vivem sob a monarquia. 
[...]. A França é uma nação “organizada”: a sociedade está 
dividida em classes – clero, nobreza e Terceiro Estado –, sendo 
as duas primeiras privilegiadas [...]. A necessidade de reformas 
[...] é percebida por todos, de diferentes formas e em graus 
variáveis. As ideias fervilham, embora o verdadeiro pensamento 
do Iluminismo esteja difundido somente em um círculo estreito 
de leitores. [...] qualquer veleidade reformista se choca contra 
graves oposições, sobretudo dos privilegiados; porém, 
paradoxalmente, é a contestação lançada por estes que vai servir 
de estopim à Revolução.33 
 
Na América do Norte, as treze colônias inglesas apresentavam profundo 
desgaste em suas relações com a Inglaterra. A ausência de liberdade também 
incomodava. 
 
A 16 de dezembro de 1773, no porto de Boston, um grupo de 
cinquenta cidadãos disfarçados de índios subiu durante a noite a 
bordo dos navios da Companhia das índias e lançou à água toda 
a carga. [...] O governo inglês decidiu responder a esse desafio 
com firmeza exemplar: cinco decretos arruinaram o comércio de 
Boston e reduziram a zero as liberdades em Massachusetts. 
Londres queria que isso servisse de exemplo, mas tudo o que 
conseguiu foi precipitar o nascimento de solidariedade 
 
33 BLUCHE, Frédéric; RIALS, Stéphane; TULARD, Jean. Revolução Francesa. São Paulo: L&PM Pocket, 2009, p.3 
12 
 
continental. As outras colônias colocaram-se ao lado de 
Massachusetts. 34 (grifo nosso) 
 
A Independência Americana e a Revolução Francesa destacaram-se na luta 
contra o absolutismo. Guardada as particularidades de cada momento, tanto o terceiro 
estado francês – burgueses e camponeses –, quanto os colonos ingleses na América 
nutriam em comum a vontade de diminuir a intervenção do estado nas relações 
particulares. 
A Declaração de Independência dos EUA35 de 1776, a Constituição 
Americana36 de 1787 e a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão37 de 1789 
trazem em seus textos o retrato do desejo de liberdade. 
 
34 RÉMOND, René. História dos Estados Unidos. São Paulo: Martins Fontes, 1989, p. 18. 
35 Declaração da Independência dos Estados Unidos da América – 1776: Consideramos estas verdades [...] que todos 
os homens são criados iguais, sendo-lhes conferidos pelo seu Criador certos Direitos inalienáveis, entre os quais se 
contam a Vida, a Liberdade e a busca da Felicidade. Que para garantir estes Direitos, são instituídos Governos entre 
os Homens [...] Que sempre que qualquer Forma de Governo se torne destruidora de tais propósitos, o Povo tem 
Direito [...] a instituir um novo Governo, [...]. É verdade que a sensatez aconselha que não se substituam Governos 
[...] Mas quando um extenso rol de abusos e usurpações, invariavelmente com um mesmo objetivo, evidencia a 
intenção de o enfraquecer, sob um Despotismo absoluto, é seu direito, é seu dever, destituir tal Governo [...] Tal 
tem sido o paciente sofrimento destas Colónias [...] que as obriga a alterar os seus anteriores Sistemas de Governo. 
A história do atual Rei da Grã-Bretanha é uma história de sucessivas injúrias e usurpações, todas com o objetivo 
último de estabelecer um regime absoluto de Tirania sobre estes Estados. [...] Assim sendo, nós, Representantes dos 
ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, [...] declaramos solenemente que estas Colónias Unidas são e devem ser por 
direito ESTADOS LIVRES E INDEPENDENTES [...]. 
36 Constituição Americana – 1787: Nós, o Povo dos Estados Unidos, a fim de [...] garantir para nós e para os nossos 
descendentes os benefícios da Liberdade, promulgamos [...] esta Constituição [...] Bill Of Rights: I - O Congresso 
não legislará no sentido de estabelecer uma religião, ou proibindo o livre exercício dos cultos; ou cerceando a 
liberdade de palavra, ou de imprensa [...] II – [...] o direito do povo de possuir e usar armas não poderá ser 
impedido. III - Nenhum soldado poderá, em tempo de paz, instalar-se em um imóvel sem autorização do 
proprietário [...] IV - O direito do povo à inviolabilidade de suas pessoas, casas, papéis e haveres contra busca e 
apreensão arbitrárias não poderá ser infringido; [...] V - Ninguém será detido para responder por crime capital, ou 
outro crime infamante, salvo por denúncia ou acusação perante um Grande Júri [...] ninguém poderá pelo mesmo 
crime ser duas vezes ameaçado em sua vida ou saúde; nem ser obrigado em qualquer processo criminal a servir de 
testemunha contra si mesmo; nem ser privado da vida, liberdade, ou bens, sem processo legal; nem a propriedade 
privada poderá ser expropriada para uso público, sem justa indenização. VI - Em todos os processos criminais, o 
acusado terá direito a um julgamento rápido e público, por um júri imparcial [...] de ser informado sobre a natureza 
e a causa da acusação; de ser acareado com as testemunhas de acusação; de fazer comparecer por meios legais 
testemunhas da defesa, e de ser defendido por um advogado. [...] VIII - Não poderão ser exigidas fianças 
exageradas, nem impostas multas excessivas ou penas cruéis ou incomuns. [...] 
37 Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão – França – 1789: Os representantes do povo francês, [...] tendo 
em vista que a ignorância, o esquecimento ou o desprezo dos direitos do homem [...] resolveram declarar 
solenemente os direitos naturais, inalienáveis e sagrados do homem [...] Em razão disto, a Assembleia Nacional 
reconhece e declara [...] os seguintes direitos do homem e do cidadão: Art.1º. Os homens nascem e são livres e 
iguais em direitos. As distinções sociais só podem fundamentar-se na utilidade comum. Art. 2º. A finalidade de 
toda associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem. Esses direitos são a 
liberdade, a propriedade a segurança e a resistência à opressão. [...] Art. 4º. A liberdade consiste em poder fazer 
tudo que não prejudique o próximo. [...] Art. 5º. [...] Tudo que não é vedado pela lei não pode ser obstado e 
ninguém pode ser constrangido a fazer o que ela não ordene. Art. 6º. A lei é a expressão da vontade geral. [...] 
Todos os cidadãos são iguais a seus olhos e igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e empregos 
públicos, segundo a sua capacidade e sem outra distinção que não seja a das suas virtudese dos seus talentos [...]. 
Art. 7º. Ninguém pode ser acusado, preso ou detido senão nos casos determinados pela lei e de acordo com as 
formas por esta prescritas. [...] Art. 8º. [...] ninguém pode ser punido senão por força de uma lei estabelecida e 
promulgada antes do delito e legalmente aplicada. Art. 9º. Todo acusado é considerado inocente até ser declarado 
culpado [...] Art. 10º. Ninguém pode ser molestado por suas opiniões, incluindo opiniões religiosas, [...]. Art. 
11º. A livre comunicação das ideias e das opiniões é um dos mais preciosos direitos do homem. Todo cidadão pode, 
13 
 
A primeira dimensão de direitos surgiu justamente da cisão do homem com o 
absolutismo. Com as teorias constitucionalistas, o poder pela autoridade dava lugar a 
um conjunto de direitos e deveres pré-definidos que serviriam de base tanto para 
orientar como para limitar o poder governamental. A essas regras deu-se o nome de 
Constituição; fator determinante na transformação do Estado Absoluto para o Estado de 
Direito. 
A Constituição Americana, segundo o professor americano Akhil Reed 
Amar,38 é um marco histórico para a humanidade, pois é a partir do direito discutido e 
promulgado na América que os outros estados passaram a implementar, com mais 
clareza, as ideias de limitação do poder, tripartição de poder e garantia de direitos, 
sendo estes, portanto, os três maiores fenômenos do constitucionalismo. 
Adentrando na discussão sobre qual das revoluções fora mais impactante para a 
história, Norberto Bobbio lembra que a Declaração dos Direitos do Homem e do 
Cidadão editada na França foi posterior à declaração de independência norte-americana. 
“Uma indiscutível verdade. Mas foram os princípios de 1789 que constituíram, durante 
um século ou mais, a fonte ininterrupta de inspiração ideal para os povos que lutavam 
por sua liberdade”.39 Para Comparato “[...] enquanto os norte-americanos mostraram-se 
mais interessados em firmar sua independência [...] do que em estimular igual 
movimento em outras colônias [...], os franceses consideraram-se investidos de uma 
missão universal de libertação dos povos.” 40 
Por todo o descontentamento popular em relação ao poder absoluto, as 
conquistas da primeira dimensão dos direitos fundamentais visavam garantir as 
liberdades individuais e a abstenção estatal na relação privada. Bonavides explica que 
“os direitos da primeira geração são os direitos de liberdade [...] os direitos civis e 
políticos [...] têm por titular o indivíduo, são oponíveis ao Estado [...]; enfim são direitos 
de resistência e oposição perante o Estado”.41 
Segundo a doutrina Tratado de Direito Constitucional, coordenada 
conjuntamente por Gilmar Mendes, Ives Gandra Martins e Carlos Valder do 
 
portanto, falar, escrever, imprimir livremente [...]. Art. 15º. A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente 
público pela sua administração. Art. 16.º A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos nem 
estabelecida a separação dos poderes não tem Constituição. Art. 17.º Como a propriedade é um direito inviolável e 
sagrado, ninguém dela pode ser privado, [...]. 
38 COURSERA. MOOC Constitutional Law by Akhil Reed Amar, Professor da YALE University, 2014. 
39 BOBBIO, Op cit, 1992, p. 118. 
40 COMPARATO, Op cit, 2003, passim. 
41 BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 564. 
14 
 
Nascimento, os direitos da primeira dimensão foram “declarados a partir da Revolução 
Francesa, como ínsitos ao cidadão, supondo o respeito e a abstenção do Estado (direitos 
negativos ou de defesa): vida, liberdade, igualdade e propriedade (maior 
essencialidade)”.42 
Fica claro, portanto, que da opressão estatal nasce o desejo de liberdade e 
resistência das garras do Estado que até aquele momento era interventor e dominante 
das relações. Após a Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, o grito 
de alforria foi exteriorizado a plenos pulmões e o Estado relegado a condição de gestor 
mínimo das funções públicas. 
O liberalismo extremo como requerido foi enfim implementado, dando forma 
ao chamado Estado Liberal positivado por Constituições Liberais. Entretanto, tudo o 
que é demais extrapola, e o excesso de liberdade, tido como solução, tornou-se um 
problema a ser corrigido por uma nova dimensão de direitos. 
 
8 Segunda Dimensão De Direitos 
O liberalismo exacerbado – fruto das revoluções liberais – deu às sociedades 
modernas uma nova acepção de Estado: menos interventor e menos participativo nas 
relações pessoais. Diante dessa abstenção, as relações privadas eram reguladas pelas 
próprias pessoas, que eram vistas e tratadas de modo igual pela lei. No entanto, 
 
[...] essa isonomia cedo revelou-se uma pomposa inutilidade 
para a legião crescente de trabalhadores, compelidos a se 
empregarem nas empresas capitalistas. Patrões e operários eram 
considerados, pela majestade da lei, como contratantes 
perfeitamente iguais em direitos, com inteira liberdade para 
estipular o salário e as demais condições de trabalho. [...] a lei 
assegurava imparcialmente a todos ricos e pobres, jovens e 
anciãos, homens e mulheres, a possibilidade jurídica de 
prover livremente à sua subsistência e enfrentar as 
adversidades da vida [...]. 43 (grifo nosso) 
 
A Revolução Industrial iniciada ao final do século XVIII fomentou o 
crescimento das relações trabalhistas, originando desigualdade social e o crescente 
empobrecimento do proletariado. Logo a liberdade conquistada na primeira dimensão 
de direitos mostrou-se prejudicial, já que com ela a exploração de trabalho estava 
 
42 MARTINS, Ives Gandra; MENDES, Gilmar; e NASCIMENTO, Carlos Valder. Tradado de Direito Constitucional. 
São Paulo: Saraiva, 2012, p. 444. 
43 COMPARATO, Op cit, 2003, passim. 
15 
 
praticamente legalizada, haja vista o tratamento formalmente igual conferido tanto a 
empregados como empregadores. 
Descobriu-se que a liberdade individual no conduzir das relações interpessoais 
pressupunha outro direito fundamental, que até aquele momento não havia sido 
proclamado, a igualdade material, que teria o condão de remediar o tratamento tirânico 
das classes patronais manifestamente favorecidas nas contratações de trabalho com as 
classes de proletariado desfavorecidas economicamente. A célebre frase de Aristóteles 
já assim resumia: “tratar os iguais de maneira igual e os desiguais de maneira 
desigual”44 na busca de uma justiça social. 
Os direitos de segunda dimensão são denominados direitos sociais, pois visam 
a uma sociedade ao mesmo tempo plural e justa, tendo como titular o indivíduo ou 
grupos de indivíduos, analisados não mais em sua igualdade formal perante a lei, mas 
ao contrário em suas diferenças sociais, individuais e econômicas. Nas palavras de 
Comparato, “O titular desses direitos, com efeito, não é o ser humano abstrato, com o 
qual o capitalismo sempre conviveu maravilhosamente. É o conjunto dos grupos sociais 
esmagados pela miséria, a doença, a fome e a marginalização.” 45 
Segundo Bobbio, “através do reconhecimento dos direitos sociais, surgiram - 
ao lado do homem abstrato ou genérico [...] novos personagens como sujeitos de direito, 
[...] a mulher e a criança, o velho e o muito velho, o doente e o demente, etc.” 46 Diante 
dessas diferenças, o Estado, antes relegado à abstenção, deveria agora intervir para 
equilibrar tais desigualdades, visando não mais à liberdade e à igualdade em seu aspecto 
formal, mas, sobretudo, à acepção material da expressão. Acrescenta Bobbio, que “o 
reconhecimento dosdireitos sociais suscita [...] uma intervenção ativa do Estado, que 
não é requerida pela proteção dos direitos de liberdade [...].” 47 E daí nasce uma 
contradição: 
Enquanto os direitos de liberdade nascem contra o 
superpoder do Estado - e, portanto, com o objetivo de limitar o 
poder -, os direitos sociais exigem, para sua realização prática, 
ou seja, para a passagem da declaração puramente verbal à sua 
proteção efetiva, precisamente o contrário, isto é, a ampliação 
dos poderes do Estado. 48 
 
44 ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Trad. Pietro Nasseti. São Paulo: Martin Claret, 2004. 
45 COMPARATO, Op cit, 2003, passim. 
46 BOBBIO, Op cit, 1992, p. 66. 
47 BOBBIO, Op cit, 1992, p. 66. 
48 BOBBIO, Op cit, 1992, p. 67. 
16 
 
 
Ao contrário da primeira dimensão de direitos, segundo Ingo Wolfgang Sarlet, 
"não se cuida mais, portanto, de liberdade do e perante o Estado, e sim de liberdade por 
intermédio do Estado...”. 49 
Do reconhecimento das mazelas do liberalismo desmedido, nasce então o 
Estado Social, com mais atribuições e mais participativo na busca da efetivação dos 
direitos do homem. 
 
O início do século XX trouxe diplomas constitucionais 
fortemente marcados pelas preocupações sociais, como se 
percebe por seus principais textos: Constituição mexicana de 
31-1-1917, Constituição de Weimar de 11-8-1919, Declaração 
Soviética dos Direitos do Povo Trabalhador e Explorado de 
17-1-1918, seguida pela primeira Constituição Soviética (Lei 
Fundamental) de 10-7-1918 e Carta do Trabalho, editada pelo 
Estado Fascista italiano em 21-4-1927. 50 (grifo nosso) 
 
Para Comparato, “O reconhecimento dos direitos humanos de caráter 
econômico e social foi o principal benefício que a humanidade reconheceu do 
movimento socialista, iniciado na primeira metade do século XIX.” 51 
 
[...] Os direitos humanos de proteção do trabalhador são, 
portanto, fundamentalmente anticapitalistas, e, por isso mesmo, 
só puderam prosperar a partir do momento histórico em que os 
donos do capital foram obrigados a se compor com os 
trabalhadores. 52 
 
Os direitos de segunda dimensão são o resultado do embate entre o 
capitalismo– fruto da revolução industrial – versus o socialismo – produto do 
pensamento marxista. Apesar do hegemonia capitalista após a guerra fria, com o fim da 
segunda guerra mundial, a sociedade global enfim percebeu os prejuízos do liberalismo 
extremo. 
 
Além desse relevante fator social, também havia um 
especialíssimo fator econômico que afiançava a tese de urgentes 
 
49 SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais. 8ª Edição, Porto Alegre: Livraria do Advogado 
Ed., 2007, p. 57. 
50 MORAES, Op cit, 2008, p. 18. 
51 COMPARATO, Op cit, 2003, passim. 
52 COMPARATO, Op cit, 2003, passim. 
17 
 
mudanças estruturais no perfil do Estado: a ampla liberdade do 
mercado havia produzido imbatíveis monopólios e fortes 
oligopólios, ambos extremamente nocivos à livre concorrência – 
o coração do capitalismo. Sob essa lente, a intervenção estatal, 
quanto aos que detinham o poder (e o dinheiro!), era muito mais 
que uma opção estratégica; era uma questão de vida ou morte.53 
 
Os direitos sociais da segunda dimensão ainda hoje padecem de plena 
efetivação. A maior participação estatal, ao mesmo tempo que implica poder, implica 
responsabilidade. E é sobre essa efetividade que se tem buscado lançar fundamentos 
para a construção de um novo Estado Social do Bem-Estar, voltado à justiça social e 
distributiva. 
Apesar da distância que separam a teoria da prática dos direitos fundamentais, 
já lançados estão os pensamentos jurídicos e filosóficos da terceira dimensão de 
direitos, iniciando novos desafios. 
 
9 O Início das Construções Teóricas da Terceira e da Quarta Dimensão de Direitos 
Sobre os direitos de terceira dimensão, Pedro Lenza explica que a partir da 2º 
guerra, “Novos problemas e preocupações mundiais surgem, tais como [...] 
preservacionismo ambiental e as dificuldades para proteção dos consumidores, [...]. O 
ser humano é inserido em uma coletividade e passa a ter direitos de solidariedade.” 54 
Para Paulo Bonavides “A consciência de um mundo dividido entre nações 
desenvolvidas e subdesenvolvidas [...] deu lugar [...] a uma outra noção de direitos 
fundamentais, [...]. Trata-se daquela que se assenta sobre a fraternidade.” 55 
“Os direitos da 3a dimensão são direitos transindividuais que transcendem os 
interesses do indivíduo e passam a se preocupar com a proteção do gênero humano, com 
altíssimo teor de humanismo e universalidade.” 56 
As atrocidades ao gênero humano, ocorridas após as duas guerras mundiais, 
colocaram as sociedades mundiais diante da necessidade de tutela, não de uma pessoa 
em seus anseios de liberdade e igualdade, mas sobretudo de preservação e proteção de 
toda espécie. 
 
53 MARANHÃO, Ney. A afirmação histórica dos direitos fundamentais. A questão das dimensões ou gerações de 
direitos. Jus Navigandi. 
54 LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 16º Ed. São Paulo: SARAIVA, 2012, p. 960. 
55 BONAVIDES, Op cit, 2004, p. 569. 
56 LENZA, Op cit, 2012, p. 960. 
18 
 
Calcula-se que 60 milhões de pessoas foram mortas durante 
a 2ª Guerra Mundial, a maior parte delas civis, ou seja, seis 
vezes mais do que no conflito do começo do século, em que as 
vítimas, em sua quase totalidade, eram militares. [...] a qualidade 
ou característica essencial das duas guerras mundiais foi bem 
distinta. A de 1914-1918 desenrolou-se [...] na linha clássica das 
conflagrações [...], pelas quais os Estados procuravam alcançar 
conquistas territoriais, sem escravizar ou aniquilar os povos 
inimigos. A 2ª Guerra Mundial, diferentemente, foi deflagrada 
com base em proclamados projetos de subjugação de povos 
considerados inferiores, [...] o ato final da tragédia - o 
lançamento da bomba atômica em Hiroshima e Nagasaki, [...] 
soou como um prenúncio de apocalipse: o homem acabara de 
adquirir o poder de destruir toda a vida na face da Terra. As 
consciências se abriram, enfim, para o fato de que a 
sobrevivência da humanidade exigia a colaboração de todos 
os povos, na reorganização das relações internacionais com 
base no respeito incondicional à dignidade humana.57 
 
A título de exemplo, “o direito ao desenvolvimento, o direito ao meio 
ambiente, direito de propriedade sobre o patrimônio comum da humanidade, direito de 
comunicação” 58, e direto do consumidor compõe o rol exemplificativo dos direitos de 
terceira dimensão. 
Para esses direitos, não há que se falar única e exclusivamente dos titulares 
como elementos de uma relação jurídica perfeita aos moldes clássicos. Para os direitos 
de terceira dimensão difundiu-se a ideia de universalidade de interesses, em que todos 
são ao mesmo tempo titulares e devedores de uma prestação. A fruição saudável do 
meio ambiente e da relação equitativa de consumo são exemplos dessa realidade, pois 
ao mesmo tempo em que a pessoa tem esses direitos, para isso também deve concorrer. 
Guardadas as distinções entre direitos difusos, coletivos e homogêneos 
individuais 59, usadas majoritariamente nas relações de consumo, mas que também são 
exportados para todo o sistema jurídico, pode-se dizer que os direitos transindividuais a 
todos são dirigidos, sem distinção. 
 
57 COMPARATO, Op cit, 2003, passim. 
58 LENZA, Op cit, 2012, p. 960. 
59 Código de Defesa do Consumidor, art. 81 “Parágrafo único - A defesa coletiva será exercida quando se 
tratar de: I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos [...], os transindividuais, de naturezaindivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato; II - 
interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, [...], os transindividuais, de natureza indivisível, de 
que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma 
relação jurídica base; III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os 
decorrentes de origem comum. 
19 
 
 As construções teóricas, a positivação e a efetivação dos direitos fundamentais 
não são atividades que obedecem a uma sucessão perfeita. Há uma clara imbricação 
dessas fases que se amoldam às novas necessidades globais. A falta de efetividade de 
uma dimensão de direitos em nada impede o início da construção teórico-acadêmica de 
outros e novos direitos fundamentas. “Ao lado dos direitos sociais, [...] de direitos de 2º 
geração, emergiram hoje os chamados direitos de 3º geração e [...] já se apresentam 
novas exigências que só poderiam chamar-se de direitos de 4º geração...”. 60 
Segundo Bobbio, os direitos de quarta dimensão surgem a partir de novas 
exigências, “referentes aos efeitos cada vez mais traumáticos da pesquisa biológica, que 
permitirá manipulações do patrimônio genético de cada indivíduo.” 61 
Diferentemente, para Paulo Bonavides os direitos dessa dimensão tem 
conotação politica, precisamente, refere-se àqueles advindos da globalização do 
neoliberalismo. 
 
A globalização política [...] introduz os direitos da quarta 
geração [...]. São Direitos de quarta geração o direito à 
democracia, o direito à informação e o direito ao pluralismo. [...] 
A democracia positivada enquanto direito de quarta geração há 
de ser [...] uma democracia direta. Materialmente possível 
graças aos avanços da tecnologia de comunicação, e 
legitimamente sustentável graças à informação correta [...] há de 
ser também uma democracia isenta já das contaminações da 
mídia manipuladora, já do hermetismo de exclusão, de índole 
autocrática e unitarista, familiar aos monopólios do poder. 62 
 
Discorrer sobre os direitos de terceira e quarta geração não suscita facilidades 
haja vista o alto teor de idealização em contraste com a baixa realidade da efetividade 
desses direitos. “O que dizer dos direitos de terceira e de quarta geração? A única coisa 
que até agora se pode dizer é que são expressão de aspirações ideais, às quais o nome de 
"direitos" serve unicamente para atribuir um título de nobreza.” 63 Bobbio é bastante 
crítico ao falar da efetividade desses direitos, em suas palavras “uma coisa é proclamar 
esse direito, outra é desfrutá-lo efetivamente”. 64 
 
 
60 LENZA, Op cit, 2012, p. 960. 
61 BOBBIO, Op cit, 1992, p. 5 – 6. 
62 BONAVIDES, Op cit, 2004, p. 571. 
63 BOBBIO, Op cit, 1992, p. 9. 
64 BOBBIO, Op cit, 1992, p. 9. 
20 
 
[...] a linguagem dos direitos tem indubitavelmente uma 
grande função prática, que é emprestar uma força particular às 
reivindicações dos movimentos que demandam para si e para os 
outros a satisfação de novos carecimentos materiais e morais; 
mas ela se toma enganadora se obscurecer ou ocultar a diferença 
entre o direito reivindicado e o direito reconhecido e protegido. 
Não se poderia explicar a contradição entre a literatura que faz a 
apologia da era dos direitos e aquela que denuncia a massa dos 
"sem-direitos". Mas os direitos de que fala a primeira são 
somente os proclamados nas instituições internacionais e nos 
congressos, enquanto os direitos de que fala a segunda são 
aqueles que a esmagadora maioria da humanidade não possui de 
fato (ainda que sejam solene e repetidamente proclamados). 65 
 
Como se percebe, a plena efetivação de uma dimensão de direitos não é 
condição para o surgimento das novas, de modo que hoje não há definição pacífica 
acerca de quais seriam ao certo os direitos de terceira e quarta dimensões. 
Apesar disso, a história mundial dos povos e de suas lutas por direitos 
fundamentais continua em aberto. Aos operadores do direito, no que toca aos direitos 
humanos, não cabe somente análises acadêmicas, realizadas sob a ótica de meros 
expectadores passivos. Além dessa postura, a intervenção e principalmente atuação da 
comunidade jurídico-científica apresentam-se como verdadeiras ferramentas na busca 
de melhores comportamentos sociais, sempre tendo em vista a afirmação e efetivação 
dos direitos humanos. 
 
Considerações Finais 
A história da humanidade, em seus aspectos institucional, legislativo, social 
entre outros, é claramente uma construção ético-moral em andamento. A positivação 
dos direitos humanos – independente das teorias jusnaturalista ou positivista – está em 
constante aprimoramento. Não se nega os diferentes graus de civilidade entre as 
sociedades antigas em comparação com as atuais, por maior que seja ainda o caminho a 
se percorrer. 
A aceitação, a positivação e a gradual efetivação dos direitos humanos são 
provas de uma sociedade global em constante movimento. Dia a dia, vê-se a história 
contada em tempo real, onde os ideais que se quis misturam-se com novas metas. 
 
65 BOBBIO, Op cit, 1992, p. 9. 
21 
 
Resta demonstrado neste artigo que o início da construção das bases dos 
direitos humanos se deu na era axial (séc. VIII a.C), período em que o homem, ao testar 
sua racionalidade frente aos problemas, se questiona acerca da igualdade dos seres. 
Além disso, com os primeiros códigos jurídicos, as leis escritas não só tiveram 
a função de prescrever regras de comportamento, como a de impor limites a todos, 
vistos sob um ideal proeminente de igualdade. Igualdade esta que, na Roma Antiga, é 
fortemente intensificada e difundida pelos ensinamentos e pregações de Cristo e seus 
seguidores, suplantando inclusive a ideia judaica de um povo escolhido e privilegiado. 
Na Idade Média, Santo Agostinho e São Thomas de Aquino, ao 
fundamentarem as teorias do direito natural, impõem limites divinos aos poderes 
estatais, concorrendo para a positivação dos direitos humanos na futuridade. 
Todas essas passagens prepararam as hastes para o surgimento das declarações 
e cartas de direitos, como a Carta Magna de 1215; a Lei de Habeas Corpus de 1679; o 
Bill of Rights de 1689. 
A Independência Norte-Americana e, principalmente, a Revolução Francesa – 
bem como as declarações decorrentes desses marcos – tiveram o condão de “furar” o 
dique da ignorância e do tratamento desigual conferido à pessoa humana ao longo dos 
séculos. Não obstante tal barreira mostrar bases ainda firmes, é a partir desses eventos 
que se pôde perceber um fluxo gradativo na afirmação, na positivação e na efetivação 
de novos direitos e garantias do homem. 
A história mundial dos povos e de suas lutas por direitos fundamentais 
continua em aberto. Aos operadores do direito, no que toca aos direitos humanos, não 
cabem somente análises acadêmicas, realizadas sob a ótica de meros expectadores 
passivos. Além dessa postura, a intervenção e principalmente a atuação da comunidade 
jurídico-científica apresentam-se como verdadeiras ferramentas na busca de 
comportamentos sociais adequados, tendo em vista sempre a plena efetivação dos 
direitos humanos. 
 
22 
 
Referências 
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	4 Da Terminologia: Dimensão e Geração de Direitos
	6 Evolução Histórica Predimensional dos Direitos Humanos
	7 Primeira Dimensão De Direitos
	8 Segunda Dimensão De Direitos
	Considerações Finais
	Referências

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