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Alessandro Baratta Criminologia crítica e crítica ao direito penal (resumo)

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Alessandro Baratta 
Alessandro Baratta (Roma, 6 de outubro de 1933 — Saarbrücken, 25 de maio de 2002) 
foi um filósofo, sociólogo e jurista italiano de grande influência nas décadas de 1970 a 1990 nos 
campos da filosofia do direito e sociologia jurídica, contribuindo principalmente com críticas ao 
sistema penal e à criminologia tradicional. 
É considerado um dos percursores da corrente da criminologia crítica, além de ter 
impulsionado a teoria abolicionista e o garantismo penal – direito penal mínimo. 
A criminologia crítica é um movimento heterogêneo do pensamento criminológico 
contemporâneo que busca a construção de uma teoria materialista do conceito de desvio, sendo 
influenciada por instrumentos e hipóteses elaboradas no âmbito marxista. Seus estudos se 
colocam no campo de investigação desenvolvido pela sociologia liberal contemporânea. 
A criminalidade, inserida na criminologia tradicional, seria uma qualidade atribuída a 
indivíduos ou grupos por meio de processos de definições. O processo de criminalização teria 
caráter seletivo dos bens protegidos e dos indivíduos estigmatizados, tendo como função a 
conservação e reprodução das relações de desigualdade na sociedade. Desse, modo, rompe-se 
com o mito da igualdade no sistema penal. 
Nesse sentido, a criminologia crítica propõe alteração do foco no processo de 
criminalização do autor para as condições objetivas, estruturais e funcionais da própria 
sociedade. Coloca como verdadeira conduta criminosa a disfuncionalidade das estruturas 
sociais, as condutas das minorias privilegiadas e dominadoras em detrimento dos dominados. 
Em consequência, defende uma política criminal alternativa, com garantias jurídicas e respeito 
aos direitos humanos, no qual consiste em uma ampla política de descriminalização e, a longo 
prazo, a superação do cárcere e do direito penal. 
Alessandro Baratta, ao desenvolver a teoria da criminologia crítica, altera a percepção 
dos conceitos de criminalidade e do sistema punitivo, abarcando-os em uma visão 
macrossociológica do sistema capitalista tardio. 
Sua teoria teve repercussão a nível global, com destaque para 
a Alemanha, Itália, Espanha e América Latina. 
Biografia 
Foi protagonista em âmbito internacional no diálogo entre criminólogos, penalistas e 
criminólogos críticos. Teve uma importância decisiva para o desenvolvimento da Criminologia 
crítica europeia, latino-americana e brasileira. Na Europa, Baratta se destacou na Alemanha, 
fazendo parte do processo de recepção do labeling approach em torno da 
organização Arbeistskreiss Junger Kriminologen (AJK), cujo órgão oficial de divulgação era a 
revista Kriminologishes, fundados em 1969. Na Itália, teve papel central na fundação e 
desenvolvimento da Escola de Bolonha de Direito penal e Criminologia. Na América 
Latina participou da fundação e desenvolvimento do grupo de Criminologia comparada da 
Universidade de Zulia, em 1974, Macaibo, Venezuela, em conjunto com o Centro de 
Criminologia da Universidade de Montreal. No Brasil, diversos centros de estudos e atores 
mantiveram contato e parceria com Baratta, como a Sociedade Brasileira de Vitimologia, o 
Instituto Carioca de Criminologia (dirigido por Nilo Batista), o Instituto Brasileiro de Ciências 
Criminais, de São Paulo, entre outros. Foi professor visitante, no ano de 1995, no Curso de Pós-
Graduação em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis. 
Assim, Alessandro Baratta foi figura fundamental e polo irradiador de uma nova 
criminologia por meio da manutenção do diálogo e de parcerias de recepção e desenvolvimento 
crítico, simultaneamente, tanto nos países centrais como nos periféricos. Foi “um processo sem 
colonizados nem colonizadores pontuais; um processo dialógico e aberto [permitindo a 
demarcação] (...) de identidades e diferenças regionais e contextuais". 
Estudos e pesquisa 
Formou-se em Filosofia do direito na Università degli Studi di Roma (La Sapienza), 
apresentando em 1957 uma tese sobre o pensamento jurídico de Gustav Radbruch – “Il pensiero 
filosófico-giuridico di Gustav Radbruch” (O pensamento filosófico-jurídico de Gustav Radbruch). 
Doutorou-se na mesma área de estudos também nesta universidade. Estudou Ciências Jurídicas 
e Filosofia sob a orientação de Widar Cesarini Sforza, Emilio Betti, Tulio Ascarelli e Carlo Antoni. 
Embora num primeiro momento Baratta tenha pensado em trocar sua publicação, seu primeiro 
trabalho não foi impresso como tal, mas seus principais resultados foram publicados dois anos 
depois, no artigo “Relativismus und Naturrecht im Denken Gustav Radbruch” (Relativismo e 
Direito Natural em Gustav Radbruch). 
Pouco tempo depois, em 1959, fez sua estreia na Filosofia do Direito apresentando seu 
importante trabalho intitulado “Natura del fato e diritto naturale” (Natureza do fato e direito 
natural), trazendo grandes contribuições que atualmente são extremamente úteis na 
reconstrução dos debates acerca do tema naquela época. 
Seu primeiro livro foi publicado em 1963, intitulado “Antinomie giuridiche e conflitti di 
conscienza” (Antinomias jurídicas e conflito de consciência). É uma contribuição crítica à 
Filosofia do Direito Penal que em verdade foi uma contribuição à história da cultura jurídica, 
sendo dedicado a uma exposição das doutrinas penalistas alemãs do início do século XIX até o 
ano de 1933. 
Seu segundo ensaio, complementar ao primeiro, é intitulado “Positivismo giuridico e 
scienza del diritto penale” (Positivismo jurídico e ciência do direito penal) e foi publicado em 
1966, analisando a história do pensamento penal vigente na mesma época do trabalho anterior, 
com a intenção de pôr em dúvida a responsabilidade do positivismo jurídico na degeneração 
autoritária da organização jurídica alemã. 
Em 1968, Baratta publica dois estudos – “Ricerche su ‘essere’ e ‘dover essere’ 
nell’esperienza normativa e nella scienza del diritto” (Pesquisa sobre ‘ser’ e ‘dever ser’ na 
experiência normativa e na ciência do direito), o qual representa sua tentativa de se aproximar 
criticamente da Escola Italiana Analítica e “Natura del fatto e giustizia materiale” (Natureza do 
fato e justiça material), o qual completava sua pesquisa acerca do assunto. 
No curso dos anos 70 e 80, modificando seus interesses sobre Filosofia e Sociologia do 
Direito, Baratta trata do desenvolvimento de uma análise do desvio social e do processo de 
criminalização feita a partir do ponto de vista da classe operária, pensamento que representa a 
Criminologia Crítica. Baratta sugeriu, com base em uma política criminal radicalmente alternativa, 
um direito penal mínimo, capaz de promover um processo abrangente e gradual de 
descriminalização. Sua tese fundamental acerca do assunto é intitulada “Criminologia crítica e 
crítica do direito penal”, de 1982, tendo ainda publicado diversos artigos sobre o tema. 
No curso dos anos 90, Baratta percebeu que o movimento havia entrado em crise, e 
intentou redescobrir a questão a partir do enfoque nos direitos humanos e reinseri-lo 
progressivamente em um discurso filosófico mais amplo, abarcando as necessidades e o 
desenvolvimento humano. 
No contexto do fim dos anos 90 e início dos anos 2000, Baratta levanta a teoria de um 
Estado mestiço e de uma sociedade andrógina, desenvolvendo a ideia de um novo direito para a 
infância, oferece alguns elementos para um novo constitucionalismo internacional e ainda 
avança na ideia de uma nova aliança entre o homem e a natureza. 
Carreira 
Em 1969 torna-se professor na Università degli Studi di Camerino. Nos anos setenta, 
tornou-se e foi por muito tempo professor de Filosofia do Direito na Albert-Ludwigs-Universität, 
de Friburgo e na Georg-August Universität de Göttingen, Alemanha. Tambémfoi direitor 
do Institut für Rechts- und Sozialphilosophie da Universität des Saarlandes. Teve magistério nas 
cátedras de Filosofia do direito, Doutrina do Estado e Direito Constitucional na Universidade de 
Camerino, na Itálica. Foi docente em filosofia do direito em universidades italianas, como 
na Università Degli Studi di Lecce, atualmente denominada Università del Salento. 
Juntamente com Franco Bricola, fundou a revista “La questione criminale” (A questão 
criminal), que se torna uma das revistas jurídicas mais propagadas na Itália. Em 1983, a 
iniciativa editorial é renovada, tornando-se “Dei Delitti e delle Pene” (Dos delitos e das penas), 
figurando na posição de diretor. Depois de sua morte, a revista recuperou parte de seu nome 
original, tornando-se “Studi sulla questione criminale: nuova série di dei delitti e delle pene” 
(Estudo sobre a questão criminal: nova série dos delitos e das penas), sob a direção dos 
discípulos de Baratta: Dario Melossi, Giuseppe Mosconi, Massimo Pavarini e Tamar Pitch. A 
redação da revista, coordenada por Stanislaus Rinaldi, reúne uma alavanca mais jovem dos 
criminalistas críticos e sociólogos do direito penal italiano como Alessando De Giorgi, Alvise 
Sbraccia, Monia Giovannetti, Giuseppe Campesi, Stefania Crocitti, Vincenzo Scalia, Francesca 
Vianello.Foi coordenador de diversos projetos de investigação na Alemanha, na Itália e também 
na América Central. 
Se dedicou muito a viajar para se encontrar com outras pessoas com quem pôde refletir 
e ensinar temas de seu interesse. Se identificou muito com a América Latina, onde deixou vários 
discípulos, participou como assessor para diversas reformas legislativas sobre menores 
infratores e sistema penitenciário, assim como inspirou a formação do Círculo de Estudos Sobre 
Criminologia Crítica da América Latina em 1985. 
Na América Latina, a Criminologia de Baratta encontrou terreno particularmente fértil e 
suas estadias a partir da metade dos anos setenta são inúmeras. Em torno da metade dos anos 
setenta, sem deixar de ensinar Filosofia do Direito e Teoria Geral do Direito, deslocou cada vez 
mais seus interesses teóricos sobre a Sociologia do Direito e em particular a Sociologia Jurídico-
Penal, chegando a desenvolver junto a Detlef Krauss e outros a “Criminologia Crítica”, com a 
qual hoje costuma ser identificado. 
Teoria Criminológica 
Sociologia jurídica, sociologia jurídico-penal e sociologia 
criminal 
Antes de tudo é necessário diferenciar esses três campos de estudo. 
A sociologia jurídica relaciona-se diretamente às estruturas normativas sociais e às 
condições e efeitos das normas jurídicas. Tem como objeto de estudo tanto a relação entre 
mecanismos de ordenação do direito e da comunidade quanto à relação entre o direito e outros 
setores da ordem social. 
A sociologia jurídico-penal estuda os comportamentos representativos da reação social 
(institucional e não institucional) frente a uma conduta desviante, os fatores que condicionam a 
reação e seus efeitos e as implicações funcionais da reação na estrutura social. 
Já a sociologia criminal estuda o comportamento desviante que tenha relevância penal, 
sua gênese e sua função dentro da estrutura social. 
A sociologia jurídico-penal e a sociologia criminal se sobrepõem necessariamente no que 
diz respeito ao desvio e a reação social (institucional ou não) – seus pontos de encontro. 
Microssociologia e macrossociologia 
São dois tipos de perspectivas utilizadas no momento de se realizar uma análise. 
A macrossociologia tem um discurso universalista, especulativo e apriorístico. 
A microssociologia tem um discurso construído com base em dados empíricos, 
metodologias experimentadas, acompanhados por uma função critica em face de ideologias e da 
realidade social que se estuda. 
A “nova criminologia” de Baratta tenta unir essas duas perspectivas, adotando a 
microssociologia quanto ao objeto e a macrossociologia quanto à estrutura socioeconômica, 
tendo como foco o fenômeno do desvio. Ela também tem a tarefa fundamental de realizar a 
critica da realidade social, além de ser tributária a toda uma tradição clássica de pensamento 
sociológico que foi evoluindo, e sobre o qual Baratta tece suas críticas. 
Crítica ao direito penal 
Escola liberal clássica (séculos XVIII e XIX) 
São os pioneiros da moderna criminologia, recebendo grande influencia da filosofia 
política liberal clássica, como por exemplo, os conceitos de pacto social, Estado de direito, 
divisão de poderes e o princípio utilitarista da máxima felicidade do maior número. 
Foram os responsáveis pela construção da ciência penal por meio de formulações 
pragmáticas. Diferenciam-se e substituem a pratica penal do Antigo Regime por uma política 
criminal inspirada em princípios. 
O delito é seu objeto de estudo enquanto violação de direito e ente juridicamente 
qualificado. Em sua concepção, ele surge como uma livre vontade do indivíduo de acordo com a 
ideia de responsabilidade moral. O fato do delito é abstraído do seu contexto ontológico e da 
totalidade social e natural em que o delinquente se insere (“objetividade do delito”). O 
delinquente não é visto como diferente do sujeito considerado normal. 
Direito penal e pena seriam os mecanismos da defesa social, isto é, os instrumentos 
legais para defender a sociedade do crime (dano social) de acordo com a necessidade e a 
utilidade da pena. 
Destacam-se autores como Cesare Beccaria e Francesco Carrara. Este último defendia 
que a função da pena seria a defesa social e que o fim da pena não era a retribuição, mas a 
eliminação do perigo social. A reeducação do condenado seria apenas um resultado acessório e 
desejável, mas não essencial. 
Criminologia positivista (séculos XIX e XX) 
Corresponde a primeira fase do desenvolvimento da criminologia enquanto disciplina 
autônoma. Foi influenciada pela filosofia e sociologia do positivismo-naturalismo. 
Estuda as causas e os fatores da criminalidade enquanto paradigma etiológico a partir de 
características biológicas e psicológicas, portanto, tem como base um rígido determinismo 
(negação do livre arbítrio). Entende o fenômeno criminal como um dado ontológico pré-
constituído à reação social e ao direito penal. Tem a pretensão de individualizar “sinais” 
antropológicos de criminalidade, ou seja, individualizar as causas e os fatores que determinariam 
o comportamento criminoso e, por consequência, a individualização de medidas adequadas para 
intervir sobre o sujeito (correcionalismo). Portanto, afirma que há diferenças entre sujeitos 
“criminosos” e “normais”. 
O conceito de delito, inicialmente, era o de um ente natural determinado por causas 
biológicas. Depois ele foi ampliado para fatores antropológicos, fatores físicos e fatores sociais. 
A responsabilidade moral é substituída pela responsabilidade “social” e a pena é reafirmada 
como meio de defesa social. 
Destacam-se a “Escola social” na Alemanha, de Franz von Liszt, a “Escola positivista” na 
Itália e o autor Cesare Lombroso. 
Criminologia contemporânea (dos anos 30 em diante) 
Busca superar as teorias patológicas da criminalidade, o determinismo e a consideração 
de que o delinquente seria um indivíduo diferente. 
A ideologia da defesa social 
Tanto na Escola liberal clássica quanto na Criminologia positivista verifica-se a presença 
da ideologia da defesa social como o nó teórico e político fundamental do sistema científico 
penal. 
Seu conteúdo passou a ser incorporado pela filosofia dominante na ciência jurídica, pelos 
representantes do aparato penal penitenciário e também pelo homem comum. Em virtude da sua 
aceitação acrítica, surge a sensação de que se está do lado justo e a favor de uma ciência e 
práxis penal racional.A defesa social pode ser traduzida em diversos princípios que fundaram a ciência e a 
dogmática penal: princípio da legitimidade, princípio do bem e do mal, princípio da culpabilidade, 
princípio da finalidade ou da prevenção, princípio da igualdade e princípio do interesse social e 
do delito natural. Entre eles, destaca-se o princípio da culpabilidade, relativo ao aspecto interior 
do delinquente, o qual adquire um significado moral-normativo traduzido em desvalor e 
condenação moral, para Escola clássica, e em fatores sociopsicológicos reveladores da 
periculosidade social, para a Criminologia positivista. 
O princípio do interesse social e do delito natural fundamenta-se na premissa de que o 
direito penal defende interesses comuns a todos os cidadãos. Para Baratta, essa concepção é 
egoísta, vez que pressupõe que os tipos penais consistem em violações aos interesses próprios 
de toda a coletividade, em uma perspectiva aistórica, além de supor homogeneidade dos valores 
e dos interesses protegidos pelo direito penal. Desse modo, a ideologia da defesa social 
representa um notável atraso em relação às teorias sociológicas da criminalidade - cujo olhar 
critico e avançado sobre a ciência penal busca a superação deste conceito. 
Teorias sociológicas contemporâneas sobre a criminalidade 
As teorias sociológicas contemporâneas sobre a criminalidade estão inseridas, 
basicamente, no campo da sociologia criminal burguesa, também denominadas teorias “liberais”, 
que, por sua vez, são distintas tanto das teorias da criminologia critica cuja inspiração é, em 
parte, marxista, quanto das teorias liberais clássicas dos séculos passados. 
Caracterizam-se por serem racionalistas, reformistas e progressistas, pertencentes ao 
pensamento burguês contemporâneo. São responsáveis por combater cada um dos princípios 
oriundos da ideia de defesa social, como se verá nos tópicos seguintes. 
Têm em comum a critica sobre o conceito de defesa social, defendendo que essa 
ideologia corresponde a uma “concepção abstrata e aistórica de sociedade, entendida como uma 
totalidade de valores”, isto é, a um ideal de sociedade. 
Por outro lado, falham ao não promover o diálogo entre seus conceitos e o contexto 
histórico, econômico e social especifico, não os situando pontualmente. Assim, as teorias 
“liberais” contemporâneas também acabaram se revelando universalizantes e aistóricas. 
Teorias psicanalíticas da criminalidade e da sociedade punitiva como negação do 
Princípio da legitimidade 
 Princípio da legitimidade: o Estado, enquanto expressão da sociedade e de seus 
valores, tem legitimidade para reprimir a criminalidade através de mecanismos oficiais de 
controle social. 
Podem ser dividas entre Teorias psicanalíticas da criminalidade e Teorias psicanalíticas 
da sociedade punitiva. As primeiras tentam explicar o comportamento delituoso a partir da teoria 
freudiana da neurose, ou seja, trata-se de uma explicação etiológica do comportamento 
criminoso. E afirma que com o comportamento delituoso o indivíduo supera o sentimento de 
culpa e tem a tendência a confessar, o que representaria a negação do conceito de culpabilidade 
e, portanto, do princípio da culpabilidade. As segundas têm foco na pena de acordo com uma 
“interpretação funcional da reação punitiva”. Destacam o efeito catártico da pena em razão da 
identificação da sociedade com o delinquente. 
Apresenta a concepção retributiva e a concepção punitiva da pena, a qual não passaria 
de uma racionalização de fenômenos psicológicos do inconsciente humano. Assim, colocam em 
duvida o princípio da legitimidade e a própria legitimidade do direito penal. 
No entanto, as teorias psicanalíticas da criminalidade revelaram-se insuficientes, pois 
não conseguiram superar os limites da criminologia tradicional, apresentando-se até mesmo de 
maneira semelhante às teorias de orientação positivista. Basicamente porque não foram capazes 
dar à sua analise um significado dentro de um contexto historicizante necessário das relações 
socioeconômicas, mantendo, de certa forma, a visão aistórica e universalizante com que são 
interpretados conceitos meramente subjetivos e psicológicos tanto do comportamento criminoso 
como da reação punitiva. 
Teoria estrutural-funcionalista do desvio e da anomia como negação ao Princípio 
do bem e do mal 
 Princípio do bem e do mal: o delito é um dano social e o delinquente um elemento 
negativo e disfuncional do sistema. Assim, delito está para o mal, enquanto a sociedade está 
para o bem. 
São efetivamente a primeira alternativa às teorias positivistas naturalistas de orientação 
biopsicológica e antropológica. É nesse sentido que o princípio do bem e do mal, pautado pela 
disfuncionalidade do delinquente, é contrariado. 
Postulam que o desvio é um fenômeno normal de qualquer organização social, portanto, 
inevitável, e que somente na situação de anomia ele seria prejudicial para a existência e 
desenvolvimento da sociedade. Na verdade, o desvio seria um fator necessário e útil para o 
equilíbrio e o desenvolvimento da sociedade, dentro de sua perspectiva funcional. 
Anomia corresponde a um estado de desorganização e desproporção entre normas e fins 
culturais de tal forma que todo sistema de regras de conduta perca seu valor na medida em que 
um novo ainda não foi constituído. 
Durkheim é um dos autores que se destaca. Para ele, “O delito faz parte, enquanto 
elemento funcional, da fisiologia e não da patologia da vida social. Somente suas formas 
anormais [...] podem ser consideradas patológicas”. Além disso, o delito seria o responsável por 
provocar e estimula a reação social, fortalecendo laços coletivos de solidariedade, tornando 
possível a transformação e a renovação social. O delito também teria um papel no 
desenvolvimento moral de uma sociedade: ele seria responsável pela antecipação da moral 
futura. 
Robert Merton é outro autor que se destaca. De acordo com seu modelo funcionalista, o 
desvio é o fruto de uma contradição entre estrutura social e cultural. A desproporção entre fins 
culturalmente validos e os meios institucionais legítimos que estão à disposição de cada 
indivíduo de forma desigual na sociedade, de acordo com sua camada social, pode ser a origem 
do comportamento delituoso. Assim, o indivíduos podem se portar de maneira conformista ou 
desviante, de tal forma que aqueles que pertencem a um estrato social inferior estão mais 
propensos ao comportamento desviante. 
Contudo, Baratta critica a concepção de Merton trazendo para a discussão os crimes de 
colarinho branco, isto é, aqueles cometidos por indivíduos das camadas sociais mais abastadas 
e que dificilmente são pegos e punidos. Este tipo de crime contraria a teoria de Merton, a qual 
também se revela superficial e insuficiente para explicar e analisar o fenômeno da criminalidade. 
Seu erro também foi a falta de nexo com estruturas dos processos de produção e de circulação 
do capital, assim como a falta de uma perspectiva social critica, o que acaba propiciando a 
legitimação e consolidação da criminalidade como própria do comportamento das camadas 
pobres da sociedade, reforçando a imagem tradicional de delito. 
Teoria das subculturas criminais e a negação do Princípio de culpabilidade 
“Princípio de culpabilidade: o delito é a expressão de uma atitude interior reprovável, 
porque contraria aos valores e às normas, presentes na sociedade antes mesmo de serem 
sancionadas pelo legislador”[6] 
Percebe-se uma relação de compatibilidade e de integração entre a teoria funcionalista e 
a teoria das subculturas criminais a partir do conceito de distribuição social das chances, isto é, 
oportunidades de acesso aos meios legítimos para alcançar os fins culturais. Assim, as 
subculturascriminais se desenvolveriam no âmbito de grupos marginalizados e minorias 
desfavorecidas que tentam se adaptar dentro da sociedade frente as possibilidades legitimas 
reduzidas de que dispõem, desenvolvendo, portanto, normas e modelos de conduta próprios 
considerados desviantes em relação ao padrão oficial. As subculturas surgiriam, então, como 
uma forma de exprimir e justificar a própria frustração social de adaptação aos standards da 
cultura oficial a partir de mecanismos de aprendizagem e de diferenciação dos contatos. 
Esta teoria consegue tratar a questão dos crimes de colarinho branco com maior 
propriedade pois eles seriam, em sua concepção, uma forma de delinquência sistemática como 
qualquer outra e que, portanto, pode ser aprendida. Assim, tornar-se criminoso seria 
determinado pelo grau de frequência e de intensidade das relações que se tem com esse tipo de 
comportamento[7] (“teoria das associações diferenciais” de Edwin H. Sutherland). 
A teoria das subculturas criminais se opõe ao princípio da culpabilidade uma vez que 
nega que o delito seja uma ação contrária aos valores e as normas sociais gerais. Na verdade, 
os valores e normas sociais positivados no direito penal são aqueles referentes a um grupo 
social especifico: o dos legisladores, da magistratura, da policia, das instituições penitenciárias. 
Assim, o direito penal é fruto de uma seleção e não de regras e valores aceitos de forma 
unânime pela sociedade, já que não existe um único sistema de valores, mas vários sistemas 
concorrentes ao institucionalizado pelo direito e pela moral “oficiais”. 
Nesse sentido, ambas as teorias – funcionalista e das subculturas – contribuíram para a 
relativização dos valores e regras previstos no direito penal, negando a suposta existência de um 
mínimo ético - de uma responsabilidade ética individual -presentes na sociedade antes mesmo 
de serem sancionadas pelo legislador, como consta no princípio da culpabilidade. 
 Uma correção da teoria das subculturas criminais: a teoria das técnicas de 
neutralização 
A teoria das subculturas foi corrigida pela chamada teoria das técnicas de neutralização, 
isto é, por meio da racionalização e da justificação do comportamento desviante aprendido 
consegue-se neutralizar, de certo modo, os valores e as normais sociais “oficiais” que, apesar de 
tudo, o delinquente adere, ainda que parcialmente. 
Ainda assim, a teoria das subculturas herdou um paradigma etiológico das teorias 
estrutural-funcionalista. Ambas erraram ao aceitar acriticamente a condição de criminalidade 
sem questionar as condições de desigualdade econômica e cultural e o significado histórico do 
fenômeno da criminalidade. 
Essas teorias restringem sua analise ao nível sociopsicológico das aprendizagens e das 
reações de grupo, apenas pontuando de maneira muito vaga e descritiva as condições 
econômicas em que as subculturas estão inseridas. Trata-se de uma teoria de médio alcance, 
limitada a um quadro socioeconômico estrutural do qual parte e permanece, ficando presa dentro 
de seus próprios limites e contexto explicativo. Parece aceitar tais condições como limite ao 
mesmo tempo em que universaliza o fenômeno do delito e a reação punitiva. 
As teorias do “Labeling Approach”, ou teorias da “reação social”, como negação 
do Princípio da finalidade ou da prevenção 
 Princípio da finalidade ou da prevenção: a pena tem a função de retribuir, 
ressocializar e prevenir o crime, de modo a criar uma contramotivação ao comportamento 
criminoso. 
O que distingue a nova sociologia criminal, onde as teorias do labeling approach estão 
inscritas, da criminologia tradicional é a sua abordagem critica em relação a definição de 
“criminalidade” e de “criminoso” que, em sua perspectiva, são construídos em torno do conceito 
de processos de criminalização. Eles não são fixados como ponto de partida da análise 
enquanto realidade dada, mas são considerados dentro de uma realidade social que se constrói 
mediante processos de interação, ou seja, “uma realidade social que não se coloca como pré-
constituída”. Em razão dessa concepção, o labeling approach é considerado um momento de 
ruptura dentro das ciências criminais, ainda que a teoria ainda pertença a criminologia etiológica. 
As teorias do labeling approach têm como foco central o problema da definição de delito 
a partir de questionamentos como: quem é definido como desviante, quem define e como se 
define o que é desvio, quais são os efeitos dessa definição para o desviante, etc. Assim, o status 
social de delinquente que lhe é imputado pressupõe a reação de instâncias oficiais e de agentes 
de controle social responsáveis pelo processo de criminalização, etiquetamento e estigmatização 
do indivíduo. 
Para lidar com isso, o labeling approach aponta para duas direções: uma voltada ao 
estudo da formação da “identidade” do criminoso a partir do conceito de desvio secundário 
(responsável pela aplicação da etiqueta de criminoso). A outra voltada a definição de desvio 
como qualidade atribuída a comportamentos e indivíduos, o que, por consequência, também 
gera a discussão sobre a distribuição do poder de definição, isto é, quais agentes sociais detém 
o poder de definir e qualificar o que é crime. Assim, existe a dimensão da definição e a dimensão 
do poder, ambas constitutivas do paradigma do controle. 
Os processos de definição não se limitam àqueles oriundos das instâncias oficiais de 
controle social, mas abrangem também os processos de definição do senso comum, isto é, não 
oficiais, que se realizam antes mesmo da intervenção das instâncias oficiais. Ao lado das normas 
sociais gerais (normas jurídicas e éticas, por exemplo) existem normas/praticas interpretativas do 
senso comum responsáveis pelo processo de qualificação do que é ou não um comportamento 
desviante e de atribuição de responsabilidade moral ao criminoso. E, para desencadear tal 
reação social, o comportamento desviante deve ser capaz de perturbar e infringir aquilo que se 
entende como habitual, ou seja, deve gerar indignação moral, embaraço, irritação. Daí se conclui 
que “o simples desvio objetivo em relação a um modelo, a uma norma, não é suficiente” para 
que o indivíduo seja etiquetado como criminoso. Dessa forma, cometer um ato desviante não é 
condição para ser etiquetado como criminoso. A diferença entre os criminosos e os não 
criminosos é justamente o etiquetamento. 
Os efeitos da punição e da reação social são responsáveis por estigmatizar o indivíduo 
qualificado como desviante, o qual tem a tendência a permanecer no papel social a que foi 
introduzido pela estigmatização. Isso coloca em duvida o princípio da finalidade ou da prevenção 
quanto a suposta função de ressocialização e reeducação da pena. Na verdade, os efeitos da 
reação social e da intervenção do sistema penal determinam a formação e consolidação da 
identidade desviante do sujeito (estigma) e o seu ingresso na carreira criminosa. 
Essas teorias, por outro lado, também se revelam teorias de médio alcance, uma vez que 
reduzem sua análise aos efeitos das definições legais e dos mecanismos de 
estigmatização/etiquetamento e de controle social. A análise das relações sociais e econômicas, 
que são a chave para o desenvolvimento da questão criminal, é desenvolvida de maneira 
insuficiente, superficial, sem adentrar no nível da lógica material. Portanto, trata-se também de 
uma teoria limitada ao seu próprio contexto explicativo. 
A recepção alemã do “Labeling approach” e a negação do Princípio de igualdade 
 Princípio da igualdade: a lei penal é igual para todos, portanto é aplicada de 
modo igual aos agentes criminosos. A criminalidade é o comportamento dessa minoria 
desviante.
[7]
 
Diversos autores alemães tiveramcontato com as teorias do labeling approach, como é o 
caso do próprio Baratta, e passaram a contribuir modificando-as, corrigindo e adicionando novas 
perspectivas. 
Adotar a perspectiva macrossociológica foi fundamental para analisar a lógica das 
relações de poder e da desigual distribuição de bens e de oportunidades entre os diversos 
grupos sociais. A criminalidade aqui é entendida não como um comportamento, mas como um 
“bem negativo”, o oposto de um privilégio, e como tal, é submetida a mecanismos de distribuição 
análogos àqueles dos bens positivos e dos privilégios
[8]. Por isso que há um “processo de 
filtragem” da população criminal, o qual se concentra em torno dos estereótipos da criminalidade, 
isto é, das classes inferiores mais prejudicadas pela lógica funcional e material do capitalismo, 
mediante a influencia e orientação dos órgãos e instituições oficiais responsáveis pela produção 
e manutenção de tal realidade. É nesse sentido que é possível entender os crimes de colarinho 
branco, cujos atores pertencem a uma camada social economicamente e socialmente 
privilegiada e que, por isso, estão praticamente imunes aos processos de criminalização e 
estigmatização. 
Portanto, o conceito de criminalidade é corrigido ao apontar que não se trata de um 
comportamento restrito a uma minoria, mas sim um comportamento difundido e presente em 
todos os estratos sociais. É por esse motivo que o princípio da igualdade também é posto em 
cheque, uma vez que essa atribuição de status por parte daqueles que detém o poder de criar e 
aplicar a lei penal, mediante mecanismos seletivos, nada mais é do que o reflexo de uma 
estrutura e funcionamento da estratificação social e da desigual distribuição dos meios de 
produção e de oportunidades. 
Contudo, a critica de Baratta persiste: esta teoria tem a pretensão de analisar as 
condições da realidade e da estrutura socioeconômica presentes no fenômeno do controle 
social, no entanto, seu conteúdo é vazio, meramente teórico e descritivo. Trata-se, novamente, 
de uma teoria de médio alcance em que falta a indicação de caminhos objetivos e estratégicos 
para a transformação da estrutura lógica e material presente. 
Teoria do conflito acerca da criminalidade 
Baseadas na sociologia do conflito, com as obras de Dahrendorf e Coser, as teorias da 
conflitualidade negam o princípio do interesse social e do delito natural afirmando que os 
interesses tutelados na elaboração e aplicação do direito penal são os interesses dos grupos que 
têm o poder de influir sobre os processos de criminalização. Nesse sentido, a criminalidade e o 
direito penal têm natureza política, uma vez que são realidades criadas através dos processos 
de criminalização. Desenvolve-se em um horizonte macrossociológico possibilitado por meio da 
sociologia do conflito, que critica o modelo estrutural-funcionalista (ênfase na estabilização e 
conservação do sistema). Segundo esta sociologia, é preciso entender o conflito não como um 
desvio de um sistema equilibrado, mas como algo normal em todas as sociedades, já que estas 
não se encontram unidas por consenso, mas por coação. Este modelo sociológico é formado, 
pois, por mudança, conflito e domínio. Os conflitos surgem não pela disputa nas relações 
materiais, e sim como resultado de uma relação política de domínio. Para Dahrendorf a relação 
de domínio cria o conflito, que cria uma mudança social. Em um sentido formal, seria a base do 
domínio que estaria em disputa dentro do conflito social. O ponto de partida do conflito seria a 
esfera política, sendo o conflito consequência das relações políticas de domínio. Para Coser, o 
conflito é funcional, posto que gera a mudança social e também porque contribui para a 
integração e conservação do grupo social. O poder seria um dos objetos de conflito, dentre 
outros bens. Temos, pois, como elementos principais da criminologia do conflito: precedência do 
processo de criminalização sobre o comportamento criminoso; relação entre comportamento 
criminoso e interesses e atividades dos grupos sociais em conflito e caráter político de todo o 
fenômeno criminal. 
Baratta assevera que esta análise, em certo sentido, considera somente os elementos 
que agem no momento de formação da lei, desconsiderando a (não menos importante) 
seletividade no momento de sua aplicação. Apresenta, além disso, caráter conformista, tomando 
por iguais mudanças de estrutura e mudanças de governo. Em terceiro lugar, as teorias de 
Dahrendorf e Coser mantêm o modelo de equilíbrio, uma vez que o conflito é uma integração 
deste. Há, na verdade, uma integração entre conflito e equilíbrio. 
As variáveis consideradas nessa teoria são: o grau de organização, o grau de 
refinamento e o grau de interiorização das normas (consenso). Assim, “a questão criminal acaba 
por assemelhar-se a uma partida de xadrez entre jogadores mais ou menos “refinados”, com 
lances mais ou menos “realistas”. Esta teoria não vai além de uma descrição simples de que o 
sistema penal é seletivo. Não enxerga a relação entre o processo de criminalização e o processo 
de acumulação, com consequente formação de zonas de desocupação e subocupação. O papel 
do Estado e do direito na determinação do conflito faz com que este seja institucionalizado. 
Deste modo, a parcela da sociedade cujas lutas não encontraram mediação política 
permanecem encobertas. 
A criminologia liberal e sua superação 
As teorias analisadas acima pertencem à corrente da criminologia liberal e foram 
especialmente importantes por substituir uma compreensão biopsicológica do crime (da 
criminologia tradicional, positivista) pela análise de diversos outros fatores, tais como: o caráter 
funcional da criminalidade, sua dependência de mecanismos de socialização e a seletividade do 
sistema penal e a estigmatização de indivíduos. Todas combateram apenas algumas das facetas 
da problemática do delito natural; a criminologia crítica surge, pois, para combatê-la por inteiro e 
se dirige, principalmente, para a refutação da tese da universalidade do delito. 
As teorias liberais descortinaram que as políticas criminais adotadas correspondem às 
exigências do capital monopolista e possuem as seguintes características: máximo controle 
sobre os desvios disfuncionais ao sistema de acumulação capitalista (daí a ênfase nos crimes 
patrimoniais) combinado à mínima transformação do sistema e imunização dos comportamentos 
danosos socialmente ilícitos que exprimem apenas contradições dos grupos hegemônicos (como 
os delitos econômicos concorrenciais, por exemplo). Assim, verifica-se o atraso da dogmática 
penal em face do desenvolvimento da sociologia criminal. Isso, em parte, se deve ao fato de que 
o papel dos juristas perde relevo no atual sistema de controle social do desvio. Isso porque se 
enfatizam mecanismos de controle não penais (sanções administrativas; assistência social 
considerada em seu âmbito de controle etc) e também não jurídicos (a propaganda, o mass 
media e a publicidade, que tem o papel de regular as atitudes e as ideias). 
Seria esse atraso do direito penal em relação às ciências sociais recuperável? A tese do 
autor é de que não. Não é possível reconstruir um modelo de ciência penal fundado no caráter 
auxiliar das ciências sociais. A ciência jurídica formal não tem condições de superar sua própria 
ideologia – de essência conservadora. Assim, Baratta sustenta que a relação entre ciência social 
e o discurso dos juristas não deve ser vista como interação entre duas ciências, mas entre 
ciência e técnica. A técnica jurídica consistiria na elaboração de instrumentos legislativos, 
interpretativos e dogmáticos em vista de ações político-criminais. Isto não significa a redução do 
jurista a técnico da sociedade.Será cientista, e não técnico, na medida em que seu saber 
científico estará calcado nas ciências sociais. Assim, a compreensão das ciências sociais poderá 
sustentar sua obra de técnico. 
Que tipo de ciência social pode assumir esse papel crítico e reconstrutivo? Uma ciência 
comprometida com a transformação da realidade, no sentido de resolução das contradições que 
constituem a lógica do modo capitalista de produção. Assim, o interesse pela transformação 
deve guiar a ciência na construção das próprias hipóteses e dos próprios instrumentos 
conceituais, desenvolvendo a consciência das contradições materiais. Para o autor: “isto significa 
que, em uma ciência dialeticamente comprometida no movimento de transformação da 
realidade, o ponto de partida, o interesse prático por este movimento, e o ponto de chegada, a 
práxis transformadora, estão situados não só na mente dos operadores científicos, mas 
principalmente nos grupos sociais portadores do interesse e da força necessária para a 
transformação emancipadora”. Isto porque na atual fase capitalista, o interesse das classes 
subalternas é o ponto de vista a partir do qual se coloca uma teoria social comprometida. 
Teoria funcionalista sistêmica 
Baratta estende sua crítica à teoria funcionalista sistêmica de Günther Jakobs, a qual 
parte da teoria dos sistemas sociais de Niklas Luhmann. Jakobs sustenta que a pena não possui 
a função de prevenir delitos (prevenção negativa), mas sim de garantir a vigência da norma 
(prevenção positiva). Desta maneira, a norma é colocada como centro dos interesses, fato que 
acaba por excluir a tutela de bens jurídicos, visto que, independentemente do bem jurídico 
violado, a violação resultará sempre em uma lesão à própria norma. 
Na visão crítica de Baratta, neste sistema a pena obedece uma função de prevenção-
integração, pois sua função primária é exercitar o reconhecimento da norma e a fidelidade ao 
Direito pelos membros da sociedade. Tal processo acarreta uma despersonalização do 
indivíduo, uma vez que deixa de ser o centro dos interesses do sistema penal. Para Baratta, a 
teoria de Jakobs funda uma nova ideologia para fundamentar e legitimar a pena, sem levar em 
consideração a repercussão dos efeitos negativos que esta provoca ao infrator, não trazendo a 
possibilidade de solução dos conflitos através de alternativas mais funcionais do que a pena. 
Processo Penal 
Sendo o Direito uma espécie de linguagem técnica científica, este apresenta uma 
estrutura altamente especializada que corresponde às suas operações práticas. O Direito faz 
uma construção dos comportamentos dos indivíduos em linguagem jurídica. Esta construção traz 
artificialidade abstração ao mundo jurídico, uma vez que este reconstrói os fatos da realidade e 
os significados dos fatos, provocando um distanciamento entre abstrato e concreto. Isto se 
evidencia no processo penal, no qual se trata do conflito e se inserem personagens como o juiz e 
o representante do Ministério Público. 
Para Baratta, os conflitos privados tornam-se interesse público, não há qualquer 
possibilidade de conciliação entre vítima e acusado e a aplicação da pena acaba com qualquer 
possibilidade de reparação e recuperação do acusado. No processo penal, o conhecimento dos 
conflitos se reduz ao conhecimento de seus sintomas visíveis, e tais conflitos não são resolvidos, 
apenas reprimidos. 
No entanto, deve ser mantida a prática na qual se isola uma ação voluntária do acusado 
e se concentra nela a aplicação da pena. Isto porque é uma técnica indispensável para a 
limitação da responsabilidade penal. Entretanto, neste processo, o jurista e o juiz devem estar 
conscientes da distância que existe entre o modo de interpretação do conflito e a realidade dos 
fatos, agregando uma interpretação acerca do contexto no qual se deu o fato e das condições 
sociais do acusado. Baratta chama isto de “opção crítica”, na qual se desenvolve uma 
consciência adequada sobre a distância entre abstrato e concreto. O juiz ainda precisa fugir de 
preconceitos e estereótipos derivados do senso comum. 
Política criminal e segurança 
Anteriormente a política criminal tinha por finalidade o controle do crime, ou seja, reduzir 
o número de infrações penais. Hoje, engloba também o controle das consequências do crime e 
sua prevenção. Este conceito possui grande dificuldade de definição teórica na medida em que 
pode variar muito seu campo de atuação conforme seu grau de elaboração. 
A ideologia penal, aqui num sentido negativo, como um “programa de ação penal”, coloca 
obstáculos ao conhecimento das implicações reais das políticas e à criação de políticas 
alternativas na medida em que se baseia em clichês e ao invés de criticar legitima a realidade 
social. A Crítica ideológica e participação da sociedade civil são pressupostos necessários para 
a transformação da política de controle de infrações delitivas e da criminalização. Grande 
exemplo disso foi o Direito Penal da América do Sul nos anos 70 e 80 que, com base numa ideia 
de defesa da segurança nacional, se tornou um direito penal do inimigo, além da criação de um 
direito penal paralelo, sanguinário, que era verdadeira forma de realizar terrorismo de Estado. 
A própria ideia de segurança engloba apenas determinados delitos (contra a vida e 
patrimônio principalmente) e são esses que causam o medo da criminalidade. Resulta numa 
divisão social dos respeitáveis (as vítimas) e perigosos (os pobres, delinquentes), As agressões 
às mulheres no ambiente doméstico, a limitação de direitos econômicos que sofre o grupo dos 
perigosos não entra no cálculo da segurança pública (assim como corrupção, delitos ecológicos, 
econômicos, etc.). Em matéria de política, tanto criminal quanto pública, o conceito de segurança 
deve ser encarado de maneira objetiva (ter seus direitos assegurados) e não subjetiva (sentir-se 
seguro). A segurança é um bem público e não privado o que quer dizer que não há um direito a 
segurança e sim a segurança dos direitos. 
As políticas públicas atuais têm como finalidade a satisfação do grupo das “vítimas”, isto 
é, a redução da criminalidade que subtrai seus direitos, e como objeto a ação dos “perigosos”. 
Garantem-se direitos à classe delinquente somente com a intenção de que estas não se rebelem 
por meio da criminalidade e, consequentemente, restrinjam os direitos da classe vítima. 
Além disso, se observa hoje um aumento da ideia de eficientismo penal criando o direito 
penal da emergência. A crise do sistema econômico social e dos partidos do sistema 
representativo levaram a uma pretensão de abandono da subsidiaridade e virada para a primeira 
forma de resolução de qualquer problema social. Deseja-se uma resposta mais punitiva e mais 
rápida para os conflitos sociais e para isso exige-se uma mitigação do garantismo. Em nome da 
segurança subjetiva se diminui a segurança objetiva e a busca incansável desta primeira ignora 
o fato de que o Direito Penal é incapaz de resolver os conflitos de maneira real e que a 
fragmentação dos interesses que devem ser defendidos e a seletividade repressiva fazem com 
que o sistema cumpra sua função em, no máximo, 5% dos casos. 
Sistema penal e violência institucional 
Todo o indivíduo é portador de necessidades reais, este entendido como potencialidades 
de existência e qualidade de vida, os quais correspondem a um determinado grau de 
desenvolvimento da capacidade de produção econômica e cultural. 
A verdadeira violência seria a repressão das necessidades reais. Como elas estão 
asseguradas através dos direitos humanos no ordenamento jurídico, é certo afirmar que a 
violência seria a violação desses direitos. No direito penal, entretanto, a violência que ele propõe 
combater é uma construção social,sendo a violência criminal uma parcela das demais violências 
existentes, como a estrutural, a individual, internacional, etc. 
Ademais, o sistema penal provou-se incapaz de garantir a segurança já que a pena, 
principal instrumento de prevenção da criminalidade, falha completamente em sua função 
preventiva negativa geral e positiva especial e este só intervém sobre os efeitos, sobre os 
resultados e não sobre as causas do conflito social; atua contra pessoas e não contra situações 
e, através da culpabilidade, diz que as pessoas não são dependentes da situação social em que 
estão inseridas; tem atuação reativa e não preventiva. Não apaga a ofensa, funciona 
simbolicamente como forma de vingança e protege mais que às vitimas a validade da norma. A 
pena seria uma repressão aos direitos humanos, sendo notório a sua aplicação aos grupos 
marginalizados desde o primeiro contato com a polícia. 
Desse modo, entende-se o sistema punitivo como um sistema de violência institucional, 
cuja lógica de imunidade/criminalização é um reflexo da desigualdade nas relações de 
propriedade e poder. 
Criminalidade 
O conceito de criminalidade é resultado do processo subjetivo de definições e atribuições 
valorativo e da esfera material da realidade. Este último dá ensejo a três questões, condições 
estruturais do processo, o referente material e os seus efeitos na reprodução lógica da 
sociedade. Destaque para o referente material ou comportamento socialmente negativo que 
consiste na ameaça a satisfação de necessidades reais dos seres humanos. 
Os efeitos latentes da criminalidade, em sentido comum, devem ser analisados sobre o 
prisma de sua relação com os demais problemas sociais. A primeira função é a demanegement, 
que se subdivide em relação de parcialidade e relação de substituição. 
A primeira consiste no fato de que o processo de criminalização seleciona, dentro de 
uma gama de problemas com o mesmo referente material, aqueles aos quais será aplicada a 
etiqueta da criminalidade. Esse processo seletivo de referentes materiais como criminalidade 
tem o efeito ideológico de alienar a consciência comum aos demais problemas sociais, deixando 
de fora da opinião pública a maior parte das violências, que não são abarcadas pela violência 
criminal, exercidas por homens a outros homens e do Estado sobre os indivíduos. A segunda 
seria a influência que a criminalidade desempenha na hierarquia de gravidade dos problemas 
sociais. A partir de uma construção social, a criminalidade estaria em um posto relativamente 
alto na escala subjetiva dos problemas sociais, o que permite às elites detentoras do poder 
distrair os demais grupos dos problemas sociais, que poderiam ameaçar colocar em crise o 
equilíbrio que as possibilitam permanecerem em seus postos, junto com seus privilégios. 
A segunda função seria a de legitimação, fracionada em função de conservação e 
reprodução da estrutura material e em função de estabilização social. Na função de conservação 
e reprodução, o estereótipo de criminoso seria o reflexo da imagem do sujeito pertencente às 
camadas marginalizadas, a criminalidade tem um papel importante no mecanismo de produção 
das relações sociais de desigualdade. A função de estabilização social parte de dois efeitos da 
pena: a estigmatização do desviado, ao “etiquetá-lo” como delinquente, reforçando o consenso 
dos grupos, tidos como “homens corretos”, no poder, e também do distanciamento sócia aos 
indivíduos, vítimas do sistema, reduzindo a solidariedade entre os sujeitos criminalizados e 
aqueles que não são atingidos pelo processo de criminalização. Esse dois efeitos podem ser 
considerados como um contribuição importante para o isolamento de uma parte da população e 
concentram neles toda a negatividade da sociedade, reforçando a estrutura ideológica que divide 
as classes subalternas ao instituir um limite artificial entre cidadãos conforme e grupos 
marginalizados. 
Cárcere e marginalidade social 
Baratta acredita que a própria estrutura do cárcere impossibilita que este sirva de 
estímulo à reeducação e reintegração social. Nesse sentido, as inovações legislativas não 
parecem destinadas a transformar de fato a natureza das instituições carcerárias. O cárcere não 
reeduca e nem poderia reeducar porque: 
 Educação pressupõe individualidade e respeito ao indivíduo. No cárcere, toda 
individualidade é aniquilada: há padrões de vestuário, de linguagem e comportamento. A 
vida no cárcere tem caráter repressivo e uniformizador. 
 Há um processo de aculturação, i.e, desadaptação à vida em liberdade, pois há 
diminuição da força de vontade e perda do senso de autorresponsabilidade e formação de 
imagem ilusória da realidade do mundo externo; e um processo de aculturação, ou seja, de 
assunção dos valores do cárcere, baseados na educação para ser criminoso (exemplo do 
poder das facções na moldagem comportamental) e para ser bom preso (adaptação às 
normas internas, tanto as formais quanto informais, do cárcere). Aliás, é nesse último 
aspecto que consiste o objetivo da instituição: formar bons presos. Nesse jogo não há lugar 
para efetiva reeducação. Quando iniciativas nesse sentido são tomadas, favorecem a 
formação de processos de conformismo e oportunismo. 
A relação entre preso e sociedade é aquela entre quem exclui e quem é excluído e não 
se pode ao mesmo excluir e incluir.“ A verdadeira reeducação deveria começar pela sociedade, 
antes que pelo condenado: antes de querer modificar os excluídos, é preciso modificar a 
sociedade excludente, atingindo, assim, a raiz do mecanismo de exclusão”. 
Embora seja notadamente abolicionista, o autor reconhece que há alguns avanços na 
novo modelo de cárcere implantados na Itália e Alemanha, quais sejam: 
 Trabalho carcerário equiparado ao trabalho desenvolvido fora do cárcere; 
 Abertura à presença externa no cárcere (embora ainda em fase de engatinhar). 
Seriam esses dois elementos indícios de uma transformação no sistema? Em primeiro 
lugar, temos que considerar que, embora o momento de elaboração da lei seja distinto do 
momento de sua aplicação, estes não são totalmente separáveis. Desse modo, o jurista deve se 
ater a eficácia da aplicação da norma. Assim, desencontros entre teoria e prática não devem ser 
vistos como infortúnios eventuais, mas talvez como algo querido pelo próprio sistema. Em 
segundo lugar, os estudos sobre criminalidade tem deixado importantes aspectos de lado, isso 
porque têm sido baseados em três elementos: participação em uma subcultura diferente em 
relação à dos outros grupos sociais; definição dominante desta diferença cultural na sociedade e 
a correspondente reação social em relação ao grupo respectivo; consciência do sujeito da 
própria posição marginal e auto-identificação com os papéis correspondentes. 
Por conseguinte, a análise se concentra no momento de distribuição da renda e do 
status, deixando de fora as raízes econômicas de tal distribuição e sua ligação com o tipo de 
produção, como se os estratos fossem elásticos e permitissem a reinserção dos criminosos. Nas 
palavras de Baratta: “a marginalização criminal revela o caráter impuro da acumulação 
capitalista, que implica necessariamente os mecanismos econômicos e políticos do parasitismo e 
da renda. A esperança de socializar, através do trabalho de setores de marginalização criminal, 
se choca com a lógica da acumulação capitalista, que tem necessidade de manter em pé setores 
marginais do sistema e mecanismos de renda e parasitismo.” 
Valendo-se dos trabalhos de Rusche, Kirchheimer e Foucault (excluídas as 
peculiaridades de cada um), consolida duas teses centrais a respeito da história da prisão: 
 para definir a realidade do cárcere é preciso ter em conta sua real funçãocumprida no seio da sociedade e 
 para que a análise i seja possível, devemos nos atentar para os tipos 
determinados de sociedade em que o cárcere apareceu e se desenvolveu como instituição 
penal. 
Nesse relance histórico, os juristas têm se voltado a um enfoque idealista, ao invés de 
um materialista-histórico. É assim que surgem as teorias dos fins da pena como retribuição ou 
intimidação. Todavia, para avaliar a verdadeira natureza dos interesses em jogo, não podemos 
nos esquecer dos elementos estruturais característicos do atual desenvolvimento do sistema 
tardio-capitalista. Assim se entende que, para esse sistema, há maior exigência de disciplina e 
repressão, com fins de conter a massa marginalizada. Nesse sentido, a imagem de uma crise de 
ordem pública transmitida pelos veículos midiáticos esconde uma estratégia capitalista que tende 
a produzir uma deterioração do Estado de Direito e formar condições para uma gestão autoritária 
do processo produtivo e da própria sociedade. 
A passagem para a criminologia crítica 
Por meio das teorias conflituais e do labelling approach tem lugar a passagem da 
criminologia liberal para a criminologia crítica. Embora não seja homogênea, a criminologia 
crítica apresenta como traço principal a construção de uma teoria materialista do desvio e da 
criminalização. A base teórica marxista se combina com vasto trabalho de observação empírica, 
a fim de que a criminologia se construa a partir do ponto de vista das classes subalternas. 
Contrapondo o enfoque biopsicológico ao macrossociológico, esta criminologia analisa a 
realidade comportamental do desvio a partir do contexto histórico em que este se insere. Isso 
permite a apreciação da relação funcional ou disfuncional do desvio com as estruturas sociais e 
com o desenvolvimento das relações de produção e de distribuição. 
Na visão da criminologia crítica, a criminalidade é um status atribuído a certos indivíduos, 
mediante dupla seleção: dos bens protegidos penalmente e do comportamento ofensivo destes 
bens e dos indivíduos estigmatizados. 
O direito penal, por sua vez, é concebido como dinâmico e apresenta três fases: o de 
produção das normas, o de aplicação das normas e o de execução da pena ou da medida de 
segurança. A análise empírica destes três momentos permitiu que houvesse a desmistificação 
do direito penal como direito igual: 
 O direito penal não defende todos e somente os bens essenciais, nos quais estão 
igualmente interessados todos os cidadãos, e quando pune as ofensas aos bens essenciais 
o faz com intensidade desigual e de modo fragmentário; 
 A lei penal não é igual para todos, o status de criminoso é distribuído de modo 
desigual pelos indivíduos 
 O grau efetivo de tutela e a distribuição do status de criminoso é independente da 
danosidade social das ações e da gravidade das infrações à lei, no sentido de que estas não 
constituem a variável principal da reação criminalizador e da sua intensidade. 
Com isso, “a crítica se dirige, portanto, ao mito do direito penal como direito igual por 
excelência. Ela mostra que o direito penal não é menos desigual do que os outros ramos do 
direito burguês, e que, contrariamente a toda aparência, é o direito desigual por excelência”. 
Criminologia crítica e política criminal alternativa 
As principais tarefas da criminologia crítica são construir uma teoria materialista do 
desvio, dos comportamentos socialmente negativos e da criminalização, e elaborar as linhas de 
uma política criminal alternativa, uma política das classes subalternas no setor do desvio. 
O autor defende que a criminologia deve se construir a partir do ponto de vista das 
classes subalternas. Para isso, elenca quatro alternativas: 
Necessidade de interpretação separada dos fenômenos de comportamento socialmente 
negativo que se encontram nas classes subalternas do que se encontram nas classes 
dominantes (como criminalidade econômica, grande criminalidade organizada). Diferencia-se 
política penal (poder repressivo do Estado) de política criminal (transformação social e 
institucional). Uma política criminal alternativa escolhe esse segundo viés. Como as contradições 
internas do capitalismo são estruturais, não basta uma política meramente reformista ou 
humanitária. 
É preciso dirigir os mecanismos de repressão institucional para o confronto da 
criminalidade econômica. Com isso, devemos ter o cuidado de evitar cair em uma mera 
expansão do direito penal; é preciso também obra radical e corajosa de despenalização de 
inumeráveis setores que enchem os códigos (como o aborto, delitos contra a moralidade etc). 
Isso com fins a se aliviar a pressão negativa sobre as classes subalternas. Essa despenalização 
levaria, também, à adoção de sanções não estigmatizantes, abrindo espaço para maior 
aceitação social do desvio. 
Abolição da instituição carcerária 
Há diversas etapas para aproximação deste objetivo: alargamento do sistema de 
medidas alternativas, ampliação das formas de suspensão condicional da pena e da liberdade 
condicional, introdução de formas de execução da pena detentiva em regime de semi-liberdade, 
extensão dos regimes das permissões. Em especial, deve haver uma abertura do cárcere para a 
sociedade, mediante a colaboração das entidades locais e, sobretudo, dos presos e de suas 
associações com as organizações do movimento operário, com fins a minimizar as 
consequências que tem o cárcere sobre a divisão de classes. Reeducar, assim, significa 
consciência e ação política dentro do movimento de classe, ao invés de uma expiação da culpa. 
É preciso atenção para a função da opinião pública e dos processos ideológicos e 
psicológicos que sustentam e legitimam o direito penal desigual. Isso porque a opinião pública é 
portadora da ideologia dominante, que perpetua a imagem fictícia da igualdade. Transmitem a 
imagem de alarme social que, em certos momentos de crise do sistema de poder, são 
manipulados pelas forças políticas interessadas em campanhas de “lei e ordem”, obscurecendo 
a consciência de classe e produzindo a falsa representação de solidariedade que unifica todos 
os cidadãos na luta de um “inimigo interno” comum. 
De todo exposto, resta claro que a função última de uma política criminal alternativa seria 
a própria superação do direito penal. Isto, claro, significa a superação da pena, antes de ser a 
superação do direito que regula seu exercício. De outro modo, dar-se-ia margem a 
arbitrariedades e supressões de garantias fundamentais. Isto também não significa negar a 
exigência de medidas alternativas de controle; contudo, há que se evitar a repressão autoritária. 
Esta é importante no regime capitalista, pois, como foi dito, procura uniformizar comportamentos. 
Em um regime socialista, as exigências de repressão diminuem, pois as desigualdades 
diminuem. Para Baratta, substituir o direito penal por qualquer coisa melhor somente poderá 
ocorrer quando substituirmos a sociedade por uma sociedade melhor. 
Princípio geral de prevenção e controle social 
A criminologia crítica parte do pressuposto que a criminalidade atual é uma qualidade 
atribuída a sujeitos por meio de processos de definições. Entretanto, os seus defensores 
reconhecem a necessidade de estratégias de controle social justa e eficaz frente a verdadeiras 
situações de “referente material”, mas eles propõem um controle alternativo.: 
 Controle baseado em estratégia global, abarcando todas as formas de violência. 
 Controle baseado nos princípios da igualdade e legalidade 
 Controle eficaz e não simbólico, com três consequências: deve se dirigir as 
causas do conflito, ter por objeto as situações e não negar formas de compensação e de 
restituição das vítimas quando possível. 
 Controlesocial ativo. Correspondendo a um princípio geral de prevenção. 
O princípio geral de prevenção, modo de contenção da violência, seria uma estratégia de 
controle por vias democráticas, o que significa a inserção dos portadores de necessidades reais 
na produção e articulação dos seus próprios direitos, satisfações de suas necessidades e de 
defesa autônomas daqueles que atuam efetivamente em seu favor. O exercício público seria, 
então, a expressão da vontade popular e dos interesses gerais. 
Direito penal mínimo 
O princípio do direito penal mínimo seria uma política alternativa, a curto e médio prazo, 
em relação à questão dos requisitos mínimos para alcançar a concretude dos direitos humanos 
na lei penal. O conceito histórico social dos direitos humanos é considerado uma ferramenta 
adequada para a estratégia da máxima contenção da violência punitiva, tendo como função 
negativa limitar a intervenção penal e como positiva, constituir-se como possível objeto de tutela 
do direito penal. 
Os princípios que se articulam com a ideia da mínima intervenção penal são agrupados 
entre os princípios intrassistemáticos (ponto de vista interno), que indicam requisitos para a 
introdução e manutenção de figuras delitivas na lei, e princípios extrassistemáticos (ponto de 
vista externo), que se referem a critérios políticos e metodológicos para a descriminalização e 
construção dos conflitos e problemas sociais. 
Os princípios intrassistemáticos são divididos em: 
 Princípios de limitação formal 
 Princípio da reserva da lei ou princípio da legalidade em sentido 
estrito: ao falar de função punitiva e de sistema penal, identificamos esses conceitos 
com a área de aplicação do D. Penal. Mas, se adotarmos uma definição sociológica da 
pena, como repressão das necessidades reais fundamentais geralmente reconhecidas 
como direitos de uma sociedade, podemos dar-nos conta de que boa parte da função 
punitiva se realiza fora do direito (torturas, excesso não ações ilegais da polícia, etc.). O 
primeiro elemento de um programa de limitação formal da violência punitiva consiste, 
então, em restringi-la ao âmbito e sob o controle da lei. 
 Princípio da taxatividade: tal princípio exclui a aplicação analógica da lei 
penal. Isso impõe uma técnica legislativa que permita a maior objetividade no processo 
de concretização judicial de figuras delitivas, e a limitação das cláusulas gerais e dos 
elementos típicos normativos por meio de reenvios a valorações sociais e a normas cuja 
existência e cujo conteúdo sejam empiricamente comprováveis. 
 Princípio da irretroatividade: tal princípio exclui a aplicação de penas, 
ou de qualquer condição que agrave a situação do imputado, que não tenha sido 
prevista pela lei com anterioridade ao fato. Sua função é a de assegurar a previsibilidade 
das consequências jurídicas negativas do comportamento individual. 
 O princípio do primado da lei penal substancial: tal princípio tem o 
propósito de assegurar a extensão das garantias contidas no princípio da legalidade à 
situação do indivíduo em cada um dos subsistemas em que pode ser subdividido o 
sistema penal. As limitações dos direitos do indivíduo, em cada um dos subsistemas da 
administração da justiça penal, não podem superar as restrições previstas taxativamente 
pela lei penal para os delitos de que pode ser suspeito. Tal princípio exclui a introdução, 
de fato ou de direito, de medidas restritivas dos direitos do indivíduo, no regramento e na 
prática dos órgãos da polícia, do processo e da execução, que não sejam estritamente 
necessárias aos fins da correta e segura aplicação da lei penal substancial. 
 O princípio da representação popular: impõe o respeito dos requisitos 
mínimos do Estado de direito no que concerne a representatividade da assembleia 
legislativa e ao seu funcionamento regular (participação popular na formação da vontade 
legislativa mediante eleições livres e secretas e a livre organização dos partidos e dos 
movimentos políticos). 
 Princípios de limitação funcional 
 Princípio da resposta não contingente: propõe que a lei penal não 
pode ser uma resposta imediata da natureza administrativa, como é na prática. Os 
problemas que se devem enfrentar têm que estar suficientemente decantados antes da 
resposta penal. Trata-se de uma proliferação descontrolada e não planejada de normas 
penais que somente constituem elementos secundários e complementares no âmbito 
das leis penais. 
 Princípio da proporcionalidade abstrata: somente graves violações aos 
direitos humanos podem ser objetos de sanções penais. As penas devem ser 
proporcionais ao dano causado pela violação. 
 Princípio da idoneidade: tal princípio assinala outras condições que 
reduzem o espaço reservado a lei penal. Ele obriga o legislador a realizar um atento 
estudo dos efeitos socialmente úteis que cabe esperar da pena: só subsistem as 
condições para sua introdução se aparece provado algum efeito útil na relação das 
situações em que se pressupõe uma grave ameaça aos direitos humanos. 
 Princípio da subsidiariedade: uma pena pode ser aplicada somente se 
provar-se que não existem modos não penais de intervenção aptos para responder a 
situações nas quais se acham ameaçados os direitos humanos. A resposta penal não 
deve ser só idônea, mas também resposta de menor custo social. 
 Princípio da proporcionalidade: existem casos muito evidentes nos 
quais a introdução de medidas penais produz problemas novos e mais graves que 
aqueles que a pena pretende resolver. A violência penal pode agravar e reproduzir os 
conflitos nas áreas específicas em que ela intervém. O problema do custo social da 
intervenção penal tem também grande importância se se consideram os efeitos 
desiguais da pena sobre os condenados e sobre o seu âmbito familiar e social, efeitos 
estes que dependem igualmente do diferente status social de ditos condenados. Tal 
princípio como guia da lei penal deve também ter em conta a sua aplicabilidade e 
sujeitos provenientes de diversos estratos sociais. Dele deriva a exigência de introduzir 
critérios dirigidos a compensar e a limitar as desigualdades dos efeitos da pena nos 
condenados e em seu ambiente social. Nesse sentido, esse princípio imprime aos 
critérios programáticos que devem guiar o juiz na discricionariedade que lhe é atribuída, 
na aplicação da pena e na concessão de atenuantes e de benefícios, numa direção 
oposta àquela que, na prática atual, assumem as decisões judiciais quando estão 
orientadas por valorações como a da prognose da criminalidade, as quais, como é 
sabido, aumentam as desvantagens dos indivíduos pertencentes aos estratos sociais 
mais baixos. 
 Princípio de implementação administrativa da lei: a justiça penal se 
apresenta como uma organização que somente pode funcionar seletivamente, isto é, 
dirigindo as sanções contra uma parte mínima de seis potenciais clientes. O desigual 
funcionamento da justiça encontra, pois, a discrepância entre os recursos 
administrativos e o programa legislativo, uma causa estrutural. Se não se quer aceitar 
essa cifra obscura de criminalidade e a realização da função punitiva por meio de bodes 
expiatórios, resultam somente duas possibilidades: adequar os recursos aos programas 
de ação legislativos, ou redimensionar os programas de ação sobre a base dos recursos 
disponíveis no e para o sistema. A primeira alternativa deve ser excluída claramente. 
Permanecendo, pois, a possibilidade que consiste na adequação dos programas aos 
recursos existentes. A aplicação correta do princípio da implementação administrativa da 
lei bastaria por si mesmo para reduzir drasticamente ao mínimo a área de intervenção 
da lei penal. 
 Princípio do respeito pelas autonomiasculturais: tem-se o problema 
da “colonização” do “mundo da vida” de grupos sociais diferentes, por parte do sistema, 
e que existe uma diferente percepção da realidade, das normas e dos valores sociais, 
parcialmente condicionada por parte dos grupos dominantes e de sua cultura 
hegemônica. Deriva um ulterior limite funcional da lei penal, que pode ser enunciado 
como a falta de uma condição necessária para a criminalização de certos 
comportamentos, quando esses podem ser considerados como normais em subculturas 
bem delimitadas. Esse limite é consequência do princípio da mínima intervenção penal, 
o qual, desse ponto vista, inscreve-se em uma concepção da sociedade não somente 
igualitária, senão também antitotalitarista, concepção na qual se concede ao desvio o 
máximo espaço compatível com as exigências da ordem nas relações sociais. 
 Princípio do primado da vítima: o sistema penal tutela interesses gerais 
que vão além dos da vítima. Tem se denominado de “privatização dos conflitos” um 
caminho para o qual se pode orientar com êxito uma estratégia de descriminalização 
que abarque boa parte dos conflitos sobre os quais incide a lei penal. Substituir, em 
parte, o direito punitivo pelo restitutivo de maneira quem possam estar em condições de 
restabelecer o contato perturbado pelo delito (indenização é um exemplo, por exemplo), 
para, assim, lograr diminuir os custos sociais da pena. 
 Princípios de limitação pessoal ou de limitação da responsabilidade penal 
 Princípio da imputação pessoal ou princípio da personalidade: o 
princípio da imputação pessoal se refere as pessoas físicas e exclui, por isso mesmo, 
toda forma de responsabilidade de pessoas jurídicas e de entes morais. Impondo esse 
limite ao sistema penal, renuncia-se a defesa diante das violações, inclusive graves, dos 
direitos humanos, que derivam de ações de complexos organizados. 
 Princípio da responsabilidade pelo fato: enunciando esse princípio se 
afasta toda forma de direito penal do autor e se mantém somente o direito penal do ato. 
Tal princípio se estende a todo o direito penal concebido em sentido amplo, incluindo o 
direito penal do menor e o regime de medidas de segurança para os adultos. A 
consequência perversa que se apresenta é que, com respeito às garantias jurídicas que 
todos do sistema penal têm, são precisamente os menores e os adultos não imputáveis 
os sujeitos com menos garantias, por serem considerados como pessoas menos 
responsáveis e não responsáveis, enquanto que o regime de internação a que são 
submetidos apresenta os mesmos, senão maiores, efeitos repressivos e estigmatizantes 
que as medidas privativas de liberdade, às quais são submetidos os adultos imputáveis. 
Além do mais, a atual discussão, psiquiatra e psicologicamente, indica que os 
fundamentos sobre os quais se constroem os dogmáticos conceitos de autor imputável, 
inimputável e semi-imputável sofre uma profunda crise. Impõe-se, então, uma nova 
tarefa de redefinir um conceito de responsabilidade penal útil. Construir um conceito 
unitário de responsabilidade que reserve a incapacidade penal de direito aos sujeitos de 
idade inferior à mínima não pode significar estender o âmbito da aplicação da lei penal a 
comportamentos que integrem figuras delitivas, porém que não podem ser consideradas 
como atos cometidos com capacidade de entender seu sentido social. Significa, ao 
contrário, coloca-los em um sistema primitivo paralelo destinado aos sujeitos que 
apresentam transtornos psíquicos. Trata-se, pois, de substituir o atual sistema punitivo 
paralelo, mediante a extensão a eles da disciplina jurídica normal, elaborada segundo 
concepções modernas e progressistas, fora de qualquer implicação com o poder punitivo 
do Estado, e com o mais amplo respeito pelas nossas pessoas e as máximas garantias 
para seus direitos. Os “manicômios criminais” são instituições verdadeiramente 
anacrônicas e ainda mais repressivas e destrutivas que o próprio cárcere. Da mesma 
maneira deve ser eliminado o sistema punitivo paralelo para os menores. A eles aplicar-
se-á a disciplina jurídica normal que deve regular, de acordo com os mais modernos 
princípios pedagógicos e, no marco do maior respeito à pessoa do menor, os seus 
direitos e o sistema de educação pública e de assistência aos menores. 
 Princípio da exigibilidade social do comportamento conforme a 
lei: indica-se a exigência de definir, em um amplo plano rigorosamente técnico-jurídico, 
os requisitos normativos apropriados para regular a verificação judicial daquela condição 
ulterior para a atribuição da responsabilidade penal que corresponde, na dogmática do 
delito, ao conceito de culpabilidade. Em uma construção dogmática, baseada no 
contexto situacional da ação, mas que em um “elemento interior”, tão dificilmente 
operacional, como demonstra a experiência teórico-prática, teriam que definir-se as 
seguintes séries de requisitos normativos: 
 Causas de não-exigibilidade social do comportamento, conforme a lei e 
os critérios para a sua verificação em relação ao contexto situacional da ação e aos 
papéis sociais ou institucionais cobertos pelo sujeito na situação problemática. 
 Critérios de avaliação do espaço de alternativas comportamentais à 
disposição do sujeito na situação problemática em que se levou a cabo a ação. 
Os princípios extrassistemáticos, por sua vez, são subdivididos em: 
 Princípios extrassistemáticos de descriminação 
 Princípio da não-intervenção útil: indica que a alternativa a 
criminalização nem sempre é representada por outra forma de controle social. Um 
princípio geral de política alternativa é aquele que designa o mais amplo espaço de 
liberdade a diversidade, no que seja compatível com as exigências mínimas de uma 
ordem justa, conduzindo a uma sociedade igualitária e livre e emancipando os indivíduos 
e grupos. 
 Princípio da privatização dos conflitos: Trata-se da estratégia de 
“reapropriação dos conflitos”, que considera as possibilidades de substituir parcialmente 
a intervenção penal por meio de formas de direito restitutivo e acordos entre as partes 
no marco das instancias públicas e comunitárias de reconciliação. 
 Princípio da politização dos conflitos: esse princípio toma em 
consideração uma característica fundamental do sistema penal: seu modo de intervir nos 
conflitos. O sistema penal geralmente reprime conflitos e propicia sua construção no 
âmbito técnico que os priva de suas reais conotações políticas. Imaginem-se âmbitos 
maiores como da corrupção administrativa. Trata-se, antes de tudo, de restituir aos 
conflitos a dimensão política que lhes é própria e, sem segundo lugar, de considerar, 
como alternativa para o seu tratamento penal, formas de intervenção institucional 
confiáveis não somente aos órgãos administrativos, senão, também e sobretudo, 
àqueles pertencentes à representação política, assegurando, desse modo, a 
participação e o controle popular na gestão das contradições mais relevantes do sistema 
político. 
 Princípio da preservação das garantias formais: tal princípio exige 
que, em caso de deslocamento dos conflitos fora do campo da intervenção penal para 
outras áreas de controle social institucional ou comunitário, a posição dos sujeitos não 
seja reconduzida a um regime de menores garantias em relação aquele fortemente 
previsto pelo direito penal. 
 Princípios metodológicos da construção alternativa dos conflitos e dos 
problemas sociais 
 Princípio da subtração metodológica dos conceitos de criminalidade 
e de pena: tal princípio propõe o uso de um experimento metodológico: a subtração 
hipotética de determinados conceitos de um arsenal preestabelecido, ou a suspensão de 
sua validez. Recomenda-se aos atores

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