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Otero (2004) Ensaio Comportamental

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Ensaio Comportamental
Ve r a R e g in a L ig n e l l i O t e r o
O Ensaio Comportamental é um procedimento utilizado em práticas de intervenção, em diferentes situações, para ensinar comportamentos por meio de treinamentos. Ele também pode ser chamado de treinamento de papéis ou role-play.É uma técnica inspirada nos procedimentos desenvol-vidos por Moreno (1946/1955), criador do Psicodrama. Os trabalhos de Wolpe (1949/1958) e Wolpe e Lazarus (1966) também fundamentam o desenvolvimento do Ensaio Com-portamental. Esses autores lidavam com comportamentos complexos, como os apresentados por pacientes fóbicos. As técnicas propostas por eles visavam à aprendizagem de novos padrões de comportamentos que deveriam ser emi-tidos diante dos estímulos que anteriormente provocavam reações de medo. Wolpe acreditava na importância das con-seqüências ambientais para a aquisição de novos compor-tamentos assim como na possibilidade de se ensinar o cliente a resolver problemas no contexto terapêutico.Outra contribuição à formulação da técnica foi dada por Salter (1949). Ele enfatizava a importância da aquisição de comportamentos chamados assertivos nos processos tera-pêuticos em geral e não apenas nos comportamentos pa-tológicos. Ele propôs um conjunto de técnicas que visavam levar à expressão de emoções, opiniões etc.Nessa mesma época (1949), Skinner sistematizou suas análises para a compreensão das leis que regem os com-portamentos. Os conhecimentos produzidos pelas pesquisas com sujeitos animais e humanos, ao lado dos estudos sobre os procedimentos e resultados das intervenções terapêuticas, deram um novo rumo às práticas clínicas, a partir de então, fundamentadas em dados de pesquisas.
206 ■ Terapia Comportamental
Dentre outras, essas contribuições levaram à formulação de procedimentos extremamente úteis para ajudar as pessoas a resolverem seus problemas.Ensaio Comportamental é uma das técnicas originadas desses conhecimentos e utilizadas na prática clínica. Nesta, freqüentemente, depara-se com pessoas que apresentam vários tipos de dificuldades de interação social e que, em decorrência disso, vivem muitas situações problemáticas. Elas possuem déficits em seus reper-tórios comportamentais e, em função deles, desenvolvem, dentre outras coisas, uma intensa ansiedade que as conduz aos estados de sofrimento e as impedem de ter uma vida semelhante à da maioria das pessoas. Isolam-se em seus mundos, privando-se de convivências que lhes seriam queridas ou têm interações desas-trosas que comprometem seus relacionamentos.Elas têm dificuldades para expressar suas opiniões, vontades, sentimentos ou fazer solicitações; não conseguem se aproximar de determinadas pessoas (patrões, chefes, familiares, professores, paqueras etc.) ou lhes dirigir a palavra; não vão a determinados lugares (restaurantes, lojas, casas de pessoas etc.); não desempenham algumas funções e papéis sociais (solicitar informações, abrir conta em banco, procurar emprego, propor namoro etc.).Essas pessoas sofrem porque não conseguem dizer o que querem ou sentem. Têm suas vidas limitadas pelos déficits em seus repertórios comportamentais que, às vezes, são inadequados ou inexistentes.O Ensaio Comportamental é um procedimento por meio do qual se instalam ou se aperfeiçoam habilidades interpessoais que ajudam o cliente a melhorar sua qualidade de vida. É uma das principais técnicas utilizadas para o desenvolvimento da assertividade.A assertividade é entendida como um conjunto de habilidades de interação social que permitem a expressão de vontades, de opiniões ou de sentimentos. Diz-se que um comportamento é assertivo quando ele pode ser categorizado como apro-priado, adaptativo ou socialmente aceito.O comportamento assertivo, segundo Rimm e Masters (1983), é:
1. Interpessoal e envolve a expressão genuína, honesta e relativamente direta de pensamentos e sentimentos;2. Socialmente apropriado de acordo com a comunidade em que está inserido;3. Aquele que, quando emitido, leva em consideração os sentimentos e o bem- estar dos outros;4. Diferente de comportamento agressivo pois não é socialmente repreensível, não é coercivo e não desconsidera os direitos das outras pessoas.
Comportando-se assertivamente, a pessoa sai de um estado de sofrimento e de ansiedade, passando a ter uma sensação de conforto e de bem-estar. Ela tem maior probabilidade de obter recompensas sociais significativas.Para desenvolver assertividade uma pessoa poderá passar por um treinamento assertivOy o qual inclui vários procedimentos para aumentar ou aprimorar suas habilidades de interações sociais. Dentre esses procedimentos, tem-se o Ensaio Comportamental que é o objeto de interesse deste capítulo.
Ensaio Comportamental ■ 207
CONCEITO
Ensaio Comportamental é uma técnica de intervenção que visa ao aprimora-mento do repertório comportamental já existente ou à instalação de novos com-portamentos. É um tipo de representação teatral na qual simulam-se situações reais da vida da pessoa nas quais ela apresenta algum grau de dificuldade. No En-saio Comportamental, terapeuta e cliente representam seqüências de interações sociais já vividas ou a serem enfrentadas futuramente pela pessoa. O terapeuta pode desempenhar o papel do próprio cliente ou de outra pessoa significativa no contexto e, quando isso ocorre, diz-se que ele está dando um modelo. Esse proce-dimento pode ser repetido várias vezes com alternância dos papéis representados por cada um. Isso é chamado de inversão de papéis.O Ensaio Comportamental pode ser empregado em uma grande variedade de problemas clínicos em atendimentos individuais ou de grupo ou em terapia de casal ou familiar. Pode ser usado com crianças, adolescentes ou adultos.O Ensaio Comportamental também é realizado em contextos institucionais como escolas (treinamentos de professores, funcionários ou alunos etc.), empresas (treinamento de diferentes funções ou papéis) ou em igrejas, penitenciárias etc.
PROCEDIMENTO
Para utilização da técnica de Ensaio Comportamental as situações a serem trabalhadas devem contemplar os seguintes passos:
1. Obter uma boa descrição da situação-problema que deverá conter refe-rências precisas sobre:• O QUE ocorreu, não ocorreu ou deveria ocorrer na situação;• QUEM emitiu (ou não) o comportamento, estava ou estará presente na situação;• COMO foi ou como deverá ser a interação;• QUANDO foi ou quando deverá ser a interação;• ONDE foi ou deverá ser a interação.É necessário que a descrição contenha inform ações sobre os com -portamentos verbais orais e não verbais. Por meio de perguntas e reforçamento diferencial de respostas, o terapeuta modela, no cliente, o comportamento de relatar a situação a ser trabalhada. Nesse processo, o cliente identifica os com-ponentes internos e externos de sua dificuldade e, ao mesmo tempo, aprimora seu repertório comportamental.2. Decompor uma seqüência comportamental em partes de maneira queseja possível:• Trabalhar apenas um comportamento-problema por vez;• Começar sempre por situações avaliadas como fáceis pelo e para o cliente;• Limitar-se ao problema exposto naquele momento;• Simular interações breves que durem, no máximo, 3 minutos.
208 ■ Terapia Comportamental
3. Dar instruções ou modelos de desempenho:• Descrever, claramente, quais elementos compõem aquela cadeia de comportamentos;• Descrever, claramente, como deve ser a interação;• Encenar os comportamentos a serem reproduzidos pelo cliente enquanto ele observa ou interage na cena.4. Representar a cena:• Estimular o cliente para que ele siga as instruções dadas ou reproduza as cenas por ele observadas.5. Dar dicas sobre o desempenho:• Durante ou após a representação o terapeuta deve sinalizar para o cliente como foi o seu desempenho.6. Inverter papéis:• Quando necessário, podem ocorrer trocas de papéis entre o cliente e o terapeuta com o objetivo de aprimorar o desempenho.7. Reapresentar:• As cenas podem ser repetidas quantas vezes forem necessárias. O tera-peuta deve avaliar constantemente se as repetições estão sendopositivas para o cliente naquela situação, evitando desgastes desnecessários.8. Reavaliar o desempenho:• Após a reapresentação da cena, o desempenho deve ser novamente avaliado.9. Programar a generalização:• Para que o Ensaio Comportamental possa atingir seus objetivos, é ne-cessário que se programem situações nas quais as aquisições compor-tamentais são colocadas em prática.10. Avaliar o desempenho na situação real na sessão seguinte:• Ajudar o cliente a auto-avaliar seu desempenho na situação real, salien-tando que o mais importante é o fato dele ter tentado, não se foi bem ou malsucedido.
PRINCÍPIOS UTILIZADOS
No Ensaio Comportamental são utilizados alguns princípios e procedimentos de aprendizagem, às vezes isoladamente, às vezes concomitantemente:
Instrução
É a descrição mais detalhada possível do que e de como deve ser uma interação ou um comportamento. Ela é necessária e está presente no emprego de todos os outros princípios e procedimentos utilizados no Ensaio Comportamental.Em alguns casos e situações, as instruções são suficientes para ajudar alguém a enfrentar o seu problema. Isso ocorre sempre que uma pessoa apresenta os comportamentos que são pré-requisitos para a vivência ou representação da si-tuação proposta.
Ensaio Comportamental ■ 209
Exemplos de instrução:“Ande até a porta, bata, espere-o aparecer e pergunte se o havia chamado.”“Olhe para a pessoa durante toda a conversa.”“Fale com a amiga dela para descobrir qual tipo de filme ela gosta. Telefone para convidá-la para ir ao cinema com você. Lembre-se de levar em conta qual será o dia de folga dela.”
Modelação
É a demonstração de uma possibilidade de interação. Utiliza-se do princípio de aprendizagem vicariante, segundo o qual uma pessoa pode aprender um deter-minado comportamento pela observação do desempenho de outra.Essa observação pode ocorrer dentro da sala de atendimento, na situação natural (loja, bar, escritório etc.) ou ao se assistir a filmes com ou sem a presença do terapeuta.O cliente observa a atuação de alguma outra pessoa e depois deve imitá-la. O terapeuta comenta seu desempenho, reforçando os aspectos positivos; oferece dicas para o aprimoramento e sugere a repetição da observação ou da representação sempre que necessário, até que ambos considerem que os objetivos foram atingidos.O procedimento de modelação permite decompor a seqüência de comportamen-tos em partes. Assim se enfatiza os componentes não verbais, como contato visual, gestos, postura corporal, expressão facial e os aspectos paralingüísticos, ou seja, entonação da voz, fluência verbal, latência da resposta, precisão do vocabulário etc.A modelação é especialmente útil quando uma pessoa apresenta um desem-penho inadequado ou não consegue interagir em um determinado contexto.Vale salientar que o uso de modelos do próprio terapeuta, da observação de situações reais ou de personagens de filmes, é uma maneira mais eficaz de se en-sinar comportamentos novos do que o uso de instruções.A seguir, tem-se o exemplo de um Ensaio Comportamental realizado com um rapaz de 23 anos, cursando educação física, extremamente tímido e que deveria demonstrar uma aula de judô para seus colegas de classe.Antes do treinamento, ele identificou e descreveu quais eram os elementos importantes que precisaria transmitir aos colegas e quais eram as suas dificuldades: falar com um tom de voz audível por todos e olhar para os colegas enquanto dava as instruções da aula.A terapeuta dá o modelo ao cliente:
Terapeuta: “Bem gente, todo mundo se lembrou que tem que tirar relógio, pulseira, corrente, brinco, para fazer aula de judô?” (pausa) “Todo mundo tá com a faixa?” (terapeuta olhando para o cliente o tempo todo).Cliente: “Não pode brinco, relógio, corrente. Tem que tirar tudo.” (olhando para o chão e eventualmente para o terapeuta e falando baixo).Terapeuta: “Olha, já melhorou desde o momento em que você me contou sobre a situação pela primeira vez. Veja o que você acha: ‘Pessoal, pra fazer aula de judô tem que tirar relógio, pulseira, corrente, brinco. Todo mundo tirou? Todos colocaram a faixa?'”
210 ■ Terapia Comportamental
Cliente: “Gente, para o judô não se pode usar: relógio, pulseira, corrente, brinco, anel. Nada no corpo sem ser a roupa. Tem que estar com a faixa.”Terapeuta: “Ótimo, melhorou muito. Você olhou para mim enquanto falava. Agora vamos trabalhar o tom de voz e o contato visual durante todo o tempo em que você estiver falando. Desse jeito, falando alto para todos ouvirem.”Cliente: “Gente, pra fazer judô, tem que...” (cliente repete as instruções de ma-neira adequada).
Modelagem por Aproximações Sucessivas
É um procedimento no qual se reforçam positiva e diferencialmente desem-penhos cada vez mais próximos do comportamento ou interação final desejada, indicando-se quais são os passos seguintes a serem alcançados.Na modelagem por aproximações sucessivas, decompõem-se os elos de uma cadeia comportamental e programa-se qual a seqüência a ser trabalhada. Esse procedimento contém instruções e pode ser utilizado concomitantemente com a modelação.No atendimento de um garoto de 6 anos, que tinha outros dois irmãos menores e cujas queixas principais eram de agressividade, desobediência e briga com os irmãos, programou-se uma seqüência de objetivos a serem atingidos:
• Aprender a esperar;• Identificar e nomear sentimentos;• Colocar-se no lugar do outro;• Aprender comportamentos adequados para enfrentar sentimentos de frustração;• Identificar as regras que controlavam o comportamento dele.
O exemplo abaixo ocorreu numa situação na qual a terapeuta e a criança brincavam com um posto de gasolina, sendo que a criança iniciou a brincadeira desempenhando o papel de usuário.
Terapeuta: “Bom dia, posso ajudá-lo? O que você deseja?”Criança: “Eu quero gasolina.”Terapeuta: “Espere só um momento, eu vou atender o telefone e já, já eu ponho gasolina.”Criança (gritando): “Eu quero agora. Burra. Chata.”Terapeuta (ignora, finge atender o telefone e volta): “Quanto você quer de gasolina?”Criança: “Eu não quero nada. Você é chata.”Terapeuta: “Eu estou vendo que você está com raiva. Parece que você não percebeu que eu tinha que atender o telefone!”Criança: “Eu vi, mas eu não gosto.”Terapeuta: “Acho que acontece sempre isso com você.”Criança: “É.”
Ensaio Comportamental ■ 211
Terapeuta: “E é gostoso?”Criança: “Não.”Terapeuta: “Olha, vamos ver se tem um outro jeito de fazer? Vamos fazer de conta que você é o moço do posto, tudo igualzinho aconteceu antes e você vai me fazer esperar.”(Criança fica parada e não atende à sugestão.)Terapeuta: “Vamos, faça de conta que você é o moço do posto!”(Criança olha para terapeuta e recomeça a brincadeira.)Criança: “O que você quer?”Terapeuta: “Gasolina... Ih, parece que o telefone está tocando. Deve ser pra
A.voce.Criança: “Pera aí, já volto” (faz que atende e volta).Terapeuta: “Você pode pôr 20 reais?”Criança: “Eu posso.”Terapeuta: “Obrigada. Então, o que você está sentindo?”Criança: “Nada.”Terapeuta: “E a raiva?”Criança: “Não estou com raiva.”Terapeuta: “Você viu que eu esperei? Eu também não estou com raiva. Na sua casa acontece muito isso, de você ficar com raiva?”Criança: “É.”Terapeuta: “Sabe, acho que você não se lembra que a outra pessoa tem outras coisas pra fazer além das suas. Vamos pegar o caminhão? Agora você é o motorista outra vez, já consegue esperar e já sabe que, às vezes, a gente precisa esperar.” Criança: “Eu quero gasolina.”Terapeuta: “Só um momento. Vou ver quem está me chamando.”(Terapeuta sai de perto e simula uma conversa com outra pessoa, enquanto criança espera adequadamente.)Terapeuta: “Desculpe moço, quanto você quer de gasolina?”Criança: “20 reais.”Terapeuta: “Está pronto. Que legal, foi muito jóia você ter esperado. Você falou direitinho, sem gritar. Jóia, jóia. Antes parece que você achava que não podia ou não sabia esperar. Quando alguém não pode nos atender na hora, não é que não goste da gente, é porque precisa fazer alguma outra coisa. Como é que você pode tentar fazer na sua casa,quando você pede alguma coisa para alguém?”Criança: “Esperar.”Terapeuta: “Que legal, no nosso próximo encontro você me contará se conseguiu esperar sem gritar e sem xingar, lá na sua casa.”
O Ensaio Comportamental é uma técnica bastante eficiente e utilizada também no atendimento de casais, pois permite trabalhar os comportamentos interativos que ocorrem durante as sessões conjuntas. Geralmente, nesses atendimentos temos pessoas com relacionamentos desgastados e comprometidos dos pontos de vista interacional e emocional.O Ensaio Comportamental aparece como um instrumento pelo qual se revelam, na presença do terapeuta, os comportamentos encobertos que levam à construção
212 ■ Terapia Comportamental
de auto-regras que comprometem os casamentos porque elas produzem sofri-mentos gerados pelas distorções de realidade. É uma técnica que permite lidar com esses comportamentos de forma objetiva. Os casais tiram a atenção das topografias e identificam as classes de respostas que controlam seus compor-tamentos interativos.Na seqüência de diálogos a seguir pode-se identificar a utilização dos proce-dimentos de instrução, de modelação e de modelagem.Trata-se de um casal, ela com 31 e ele com 33 anos, juntos há 9 anos e com grande dificuldade de comunicação. Brigas e trocas de acusações são a principal forma de relacionamento entre eles.
Terapeuta: “Gostaria que vocês tentassem reproduzir, com a maior fidelidade possível, como foi a discussão de ontem à noite.”Marido: “Eu já falei que ela quer acabar com a minha vida. Eu não venço tra-balhar e ela só gasta. Ela faz isso pra me agredir.”Esposa: “Deixa eu falar, não é nada disso..Terapeuta: “Maria, o que você está sentindo nesse momento?”Esposa (faz uma pausa antes de falar): “Medo, tristeza, raiva.Terapeuta: “Como você se sente em casa quando vocês brigam?”Esposa: “Do mesmo jeito.”Terapeuta: “Você diz isso para ele?”Esposa: “Não, não dá. Só quando a raiva vai crescendo e já virou briga.” Terapeuta: “É importante que se identifique o que se sente e se diga para não se misturar os sentimentos. Tente dizer pra ele. José, tente ouvir, pensar no que a Maria vai lhe dizer e perceber o que você sente... ”Esposa: “Eu fico triste quando você não acredita em mim.”Terapeuta: “E você José? O que você sente?”Marido: “Em casa, raiva. Aqui, não sei.”Terapeuta: “O que você gostaria de dizer para ele?”Esposa: “Eu queria que ele me deixasse falar. Que ele acreditasse em mim.” Terapeuta: “Como você pode dizer isso para ele? Diga.”Esposa: “Eu quero que você acredite em mim, eu não gasto pra te agredir... ” Marido: “Como se eu não te conhecesse!”Terapeuta: “Tente escutá-la. Maria, fale olhando pra ele.”Esposa: “Eu compro porque eu gosto. Eu compro escondido porque você só me critica e me acusa... Eu também sei que você fica me comparando com sua mãe. Eu não gosto.”Terapeuta: “Pense. Você acha que ela está dizendo a verdade?”Marido (faz uma pausa antes de falar): “Pode ser. Eu sei que ela fica triste. Eu também.”Terapeuta: “Diga pra ela.”Marido: “Eu não gosto que você compre escondido. Faz uma coisa e diz que não fez.”Terapeuta: “Como você se sente?”Marido: “Traído, não posso confiar nela. Vou ficando com raiva.”Terapeuta: “Diga pra ela. Tente falar olhando pra ela.”
Ensaio Comportamental ■ 213
Marido: “Eu quero que você me fale a verdade.”Esposa: “Eu gostaria muito que você chegasse mais cedo em casa, perguntasse como foi o meu dia, o que aconteceu.”Terapeuta: “Como você se sente quando isso não ocorre?”Esposa: “Abandonada, ignorada, desvalorizada.”Terapeuta: “O que você faz com isso, com estes sentimentos?”Esposa: “Nada. Vou deixando virar raiva, meio que virar vingança. Eu sei que ele pode gastar. Eu gasto. Além de gostar de comprar, eu me vingo.”Terapeuta: “O que você acha disso, José?”Marido: “É verdade, ela me pede pra chegar cedo em casa e eu só trabalho. Eu sempre quero ganhar mais dinheiro. Chego em casa exausto. Não quero nemconversar.”Terapeuta: “Há quanto tempo vocês não fazem um programa gostoso juntos?” Esposa: “Até já me esqueci.”Terapeuta: “Vocês se esqueceram dos prazeres? Nem perceberam que o comprar e o impedir de comprar têm outra função no relacionamento de vocês. Servem de punição mútua e tem sido a maneira mais freqüente de relacionamento entre vocês. Gostaria de sugerir para vocês, como tarefa de casa, que tentassem propor um ao outro e fizessem acontecer algo que o outro goste de fazer em conjunto.”
Resumidamente, o Ensaio Comportamental se mostra como uma técnica ex-tremamente útil para a instalação e aprimoramento de habilidades de interações sociais, as quais ajudam as pessoas a se tornarem assertivas. É um instrumento coadjuvante nos processos terapêuticos e de aprendizagem, em diferentes tipos de instituições, podendo ser utilizado em situações para se avaliar quais pessoas irão se tornar mais hábeis, social e emocionalmente.Sua utilização também é uma opção relevante para o ensino, por exemplo, de pessoas portadoras de problemas médicos, como hipertensão arterial, cardiopatias, diabetes, a manejarem sentimentos como a raiva (Larkin e Zayfert,1996). Também se emprega como uma técnica para auxiliar e promover o desenvolvimento do repertório comportamental de pessoas com necessidades especiais e déficits em diferentes áreas.Ensaio Comportamental, portanto, é um procedimento essencial e eficaz no desenvolvimento de comportamentos assertivos, na identificação de sentimentos e na aprendizagem da maneira adequada de exprimi-los. Também é eficiente na aquisição do comportamento de observar a si e aos outros com quem se interage. Só deve ser utilizado, a exemplo de qualquer outra técnica, após o estabelecimento de um bom vínculo (terapêutico ou não) e do domínio dos princípios nela envolvidos.
R e f e r ê n c ia s
CABALLO,V. E. Manual de técnicas de terapia e modificação de Comportamento. São Paulo: Livraria Santos Editora, 1996.
LARKIN, K. T., ZAYFERT, C. Anger manegement training with mild essential hypertensive patients. Journal of Behavioral Medicine, 19:415-433, 1996.
214 ■ Terapia Comportamental
MORENO, J. L. Psychodrama, v.1. In: RIMM, D. C.,
MASTERS, J. C. Terapia Comportamental: Técnicas e Resultados 
Experimentais. São Paulo: Ed. Manole, 1983.
RIMM, D. C., MASTERS, J. C. Terapia Comportamental: Técnicas e Resultados Experimentais. São Paulo: Ed. Manole, 1983.
ROJAS-BERMUDES, J. G. Introdução ao Psicodrama. São Paulo: Editora Metre Jou, 1977.
SALTER, A. Conditioned reflex therapy. In: RIMM, D. C., MASTERS, J. C. Terapia Comportamen­tal: Técnicas e Resultados Experimentais. São Paulo: Ed. Manole, 1949.
SKINNER, B. F. Ciência e Comportamento Humano. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 1953.
WOLPE, J. Psychoterapy by reciprocal Inhibition. Stanford; Univertsity Press, 1958.
WOLPE, J. A prática da terapia Comportamental. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1976.
WOLPE, J., LAZARUS, A. A. Behavior Therapy techniques: A guide to The treatment of neuroses. New York: Pergamon Press, 1966.

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