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4 DIREITO À SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

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4 - DIREITO À SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
4.1 - NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. 
Como se vê, o dispositivo acima transcrito estabelece que os principais direitos da criança e do adolescente são dever da família, da sociedade e do Estado. Portanto, não se trata de um papel que cabe exclusivamente ao Poder Público. 
Há uma divisão de responsabilidade deste com a família e a sociedade. Assim, cabe aos pais cuidarem de seus filhos e, também, à sociedade zelar pelas crianças e adolescentes. Comunidades de bairros, condomínios, escolas, igrejas, ONG's não só podem, como devem também participar do processo de formação e instrução das crianças e adolescentes.
E quais seriam os principais direitos? Estão elencados no próprio artigo: vida, saúde, alimentação, educação, lazer, profissionalização, cultura, dignidade, respeito, liberdade e convivência familiar e comunitária. 
Perceba-se que se tratam de direitos elementares, podendo ser considerados integrados ao rol de direitos fundamentais da Constituição (TÍTULO II da CF), muitos deles, aliás, idênticos aos que constam no mencionado Título da Constituição. Perceba-se, também, que há uma íntima relação entre eles. Por exemplo, não se pode conceber a existência de vida sem saúde ou de saúde sem alimentação. 
No fim do artigo, coloca-se a preocupação de deixar as crianças e adolescentes a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Aqui se indica que, além de dar à criança e ao adolescente vida, saúde, alimentação e demais direitos, é preciso protegê-las de alguns males eventualmente causados pela família ou pelo próprio meio no qual a mesma está inserida. Assim, situações de castigos domésticos, sejam eles físicos (as surras) ou morais, e de uso da criança ou adolescente para a prática de crimes configuram-se como situações que devem ser tratadas com rigor pelas autoridades competentes.
§ 1º O Estado promoverá programas de assistência integral à saúde da criança, do adolescente e do jovem, admitida a participação de entidades não governamentais, mediante políticas específicas e obedecendo aos seguintes preceitos: 
I - aplicação de percentual dos recursos públicos destinados à saúde na assistência materno-infantil;
II - criação de programas de prevenção e atendimento especializado para as pessoas portadoras de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente e do jovem portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de obstáculos arquitetônicos e de todas as formas de discriminação.
O artigo acima transcrito fala em "assistência integral" à saúde da criança e do adolescente. Ou seja, assistência a toda e qualquer necessidade que a estas venham a precisar. É sabido que um dos princípios do SUS é a integralidade, sendo essa assistência integral às necessidades da criança e adolescente uma consequência óbvia deste princípio. 
Outra informação que merece ênfase é a de possibilidade de participação de entidades não governamentais nesse processo de promoção da saúde da criança e do adolescente. Isso não significa uma substituição do papel do Estado, e sim soma de esforços com a agentes da sociedade para promover a saúde da criança e do adolescente. 
O inciso I ressalta que deve haver percentual de investimento em assistência materno-infantil. Trata-se de um investimento especial na saúde do recém-nascido que, em virtude de estar nos seus primeiros dias de vida, é mais vulnerável a doenças. Ele tem uma imunidade mais baixa e precisa de atenção dobrada.
O inciso II revela o direito ao "atendimento especializado para as pessoas portadoras de deficiência física, sensorial ou mental". Ora, se é verdade que a criança e o adolescente precisam de cuidados especiais, mais ainda se estamos falando de criança e adolescente portador de necessidades especiais. Assim, é importante a criação de centros de referência na atenção a esse público e, também, se buscar a integração dessas pessoas na sociedade, dando a elas oportunidade de, futuramente, obter atribuições e empregos compatíveis com suas deficiências.
§ 2º A lei disporá sobre normas de construção dos logradouros e dos edifícios de uso público e de fabricação de veículos de transporte coletivo, a fim de garantir acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência.
Não basta a criação de centros de referência no tratamento e atenção a crianças e adolescentes com necessidades especiais, sendo também importante e necessário que a cidade seja acolhedora para eles. Ou seja, ruas, avenidas, calçadas, passarelas e demais logradouros públicos devem acessíveis e permitam o trânsito dessas pessoas. Sem essa providência, crianças, adolescentes e indivíduos de outras faixas etárias terão de ficar recolhidos em suas casas, sem poder transitar pela cidade, sozinhos ou com acompanhantes. 
§ 3º O direito a proteção especial abrangerá os seguintes aspectos:
I - idade mínima de quatorze anos para admissão ao trabalho, observado o disposto no art. 7º, XXXIII;
A criança e o adolescente devem ter tempo destinado ao estudo e ao lazer. Trabalho, obrigações e compromissos financeiros não combinam com esta fase da vida, que é o de formar um indivíduo para a sociedade e permitir sua convivência com amigos de sua idade. O momento do trabalho e dos compromissos chegará depois. Portanto, não se admite o exercício de trabalho pela criança ou adolescente. Só se admite, por exceção, o exercício de trabalho ao adolescente a partir dos 14 anos, na condição de "menor aprendiz". É uma exceção à regra e, mesmo assim, há uma especificidade desse tipo de trabalho, não sendo exigido do menor o mesmo que do trabalhador comum. 
VII - programas de prevenção e atendimento especializado à criança, ao adolescente e ao jovem dependente de entorpecentes e drogas afins.
Muito se diz que a AIDS e o CÂNCER foram o mal do século XX. Pode-se dizer que, no século XXI, além da ansiedade e da depressão, transtornos psicológicos associados ao estilo de vida da sociedade contemporânea, as drogas são os grandes vilões. Significativo percentual dos adultos dependentes de hoje iniciaram o uso de drogas quando ainda eram adolescentes. Portanto, tratar a criança ou o adolescente desde o início do ingresso nesse mundo é de suma importância para evitar a auto-destruição desse indivíduo.
4.2 - NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:
a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;
b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública;
c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas;
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.
A alínea "a" estabelece a prioridade de proteção e socorro à criança e ao adolescente e prevê que tal prioridade existe em quaisquer circunstâncias. Assim, em casos de tragédias naturais como seca, enchentes e deslizamentos de terra ou tragédias fruto de ação humana como tiroteio com vítimas em uma determinada localidade, há prioridade de atendimento às vítimas que são menores de idade.Isso não significa, obviamente, negação de atendimento a adultos. De forma alguma. Apenas significa a primazia de atendimento a menores.
A alínea "b" trata da precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública. Quer dizer que os menores devem ter prioridade de atendimento em Cartórios, Delegacias, postos de saúde, hospitais etc.
Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.
O Estado precisa garantir não só a proteção da vida da criança e do adolescente. É preciso oferecer atendimento de saúde e em outras áreas igualmente importantes para o desenvolvimento sadio e harmonioso. Assim, é de suma importância também os cuidados com saneamento básico, tratamento da água, acesso à educação, criação de espaços de lazer etc. 
Art. 9º O poder público, as instituições e os empregadores propiciarão condições adequadas ao aleitamento materno, inclusive aos filhos de mães submetidas a medida privativa de liberdade.
O leite materno é o principal alimento do bebê nos 06 primeiros meses de vida. Este alimento garante a ele os principais nutrientes necessários ao começo do seu desenvolvimento. Especialistas sustentam que o aleitamento materno regular reduz significativamente a chance de a criança adquirir futuramente certas doenças. Cabe ao Estado e às empresas em geral propiciar as condições adequadas ao aleitamento materno no mencionado período. 
Em decorrência dessa necessidade do bebê, é que existe a chamada licença-maternidade, que, no serviço público, é de 06 meses e na iniciativa privada de 04 meses, podendo, contudo, ser concedido benefícios fiscais às empresas que prorrogarem de 120 para 180 dias a licença de suas empregadas.
Deve ser estendido esse direito ao alimento materno às mulheres que cumprem pena. O bebê certamente não tem culpa dos erros praticados por quem lhe gerou, não podendo o Estado puní-lo. A mulher que cumpre pena poderá estar com seu filho no período da amamentação, sendo conveniente que fique em espaço próprio do presídio nesse período. 
Art. 11. É assegurado atendimento integral à saúde da criança e do adolescente, por intermédio do Sistema Único de Saúde, garantido o acesso universal e igualitário às ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde.      
§ 1º A criança e o adolescente portadores de deficiência receberão atendimento especializado.
§ 2º Incumbe ao poder público fornecer gratuitamente àqueles que necessitarem os medicamentos, próteses e outros recursos relativos ao tratamento, habilitação ou reabilitação.
A condição de deficiente físico da criança e do adolescente requer um atendimento especializado. Daí a previsão do § 1° do art. 11. Isso implica na existência de aparelhos específicos e profissionais habilitados a tratar da deficiência em si ou de problemas relacionados à deficiência física do menor.
Medicamentos, próteses e outros recursos relativos ao cuidado com o deficiente físico serão fornecidos gratuitamente. Assim, a título de exemplo, próteses de braços ou pernas devem ser fornecidas àqueles que necessitem.
Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde deverão proporcionar condições para a permanência em tempo integral de um dos pais ou responsável, nos casos de internação de criança ou adolescente. 
A presença de um dos pais ou responsável é muito importante para a recuperação do menor. Daí se garante a permanência em tempo integral de um dos pais ou do responsável (avô, avó, tio) na unidade onde o mesmo esteja internado. Salvo impossibilidade total de contato do paciente com o meio externo, tal presença deve ser garantida.
Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de castigo físico, de tratamento cruel ou degradante e de maus-tratos contra criança ou adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva localidade, sem prejuízo de outras providências legais.
A violência física ou moral contra a criança e o adolescente devem ser fortemente reprimidas. Tais atos, além de provocarem dor, marcas e cicatrizes (no caso dos castigos físicos) prejudicam o desenvolvimento pleno e saudável do menor. Vizinhos e comunidade em geral podem e devem denunciar tais fatos ao Conselho Tutelar e demais autoridades, impedindo o prosseguimento da violência.
Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá programas de assistência médica e odontológica para a prevenção das enfermidades que ordinariamente afetam a população infantil, e campanhas de educação sanitária para pais, educadores e alunos.
Há doenças e enfermidades que costumam afetar mais a crianças e adolescentes do que as demais camadas da população. Atento a isso, o legislador estabeleceu que o SUS deve promover programas de assistência médica e odontológica para a prevenção desses males. Diarreia, catapora, piolho são alguns exemplos. Campanhas de informação sobre essas doenças, a forma de tratá-las e evitá-las deverão ser realizadas pelo país, instruindo pais e educadores sobre a forma de lidar com o tema e orientar seus filhos e alunos.
Art. 79. As revistas e publicações destinadas ao público infanto-juvenil não poderão conter ilustrações, fotografias, legendas, crônicas ou anúncios de bebidas alcoólicas, tabaco, armas e munições, e deverão respeitar os valores éticos e sociais da pessoa e da família. 
O menor de idade, pelo fato de ainda estar passando por um processo de formação de sua personalidade e valores, é facilmente influenciável pelos meios de comunicação. Assim, para evitar que o jovem use ou seja um futuro consumidor exagerado de bebidas alcoólicas e cigarro é que se estabelece a vedação de que revistas e publicações destinadas ao público infanto-juvenil contenham propagandas alusivas a tais produtos.
Outra proibição é à alusão a armas e munições. Aí fica evidente a busca de construir uma sociedade pacífica, em que os conflitos sejam resolvidos sempre no diálogo, sem o recurso a armas de fogo. O objetivo é educar o menor, futuro adulto, para a cultura da paz.
Art. 81. É proibida a venda à criança ou ao adolescente de:
I - armas, munições e explosivos;
II - bebidas alcoólicas;
III - produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica ainda que por utilização indevida;
As bebidas alcoólicas, se consumidas de forma comedida e ocasional, tendem a não causar sérios problemas de saúde às pessoas adultas. Ocorre que crianças e adolescentes não têm a mesma resistência ao álcool, sendo, para elas, um produto que causa alterações corpóreas diferenciadas e muito mais fortes. Por conta disso é que se proíbe a venda de bebidas alcoólicas aos menores de idade.
Além de bebidas alcoólicas, é proibida a venda de produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica. Da mesma forma que foi dito acerca da maior resistência dos adultos aos efeitos do álcool, diga-se aqui. Os adultos têm uma constituição física e psíquica mais forte, sendo que determinados produtos não podem ser liberados para uso de menores de idade.

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